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Página 31 de 57 Se é necessário investigar e garantir DFs nós não podemos privar o delegado de polícia ou o MP de tomar medidas à partir de critérios mais ou menos superficiais de cognição. Esses critérios são dois basicamente, indícios de autoria e prova da materialidade. So que isso só é suficiente para a percepção criminal desses dois atores. Isso não é suficiente por ex. pra condenação. É disso que falo, sobre sumariedade de cognição e de cognição profunda. Essa cognição profunda que cabe ao juiz fazer não pode ser baseada em indícios de autoria e prova de materialidade. Se houver prova da materialidade, e não prova mas tão somente indícios de autoria ele não poderá julgar com base nisso. Ele precisará de outros elementos probatórios que lhe garanta o mínimo de certeza, pois havendo qq dúvida decorre o dever de absolver o réu. Pq é uma conseqüência do princípio da presunção de inocência, in dubio pro reo. O juiz precisa ter certeza. Mas essa certeza não necessariamente corresponde a verdade. Como já falei a verdade não é exigida para uma condenação, embora possa ao final a decisão do juiz acabar por corresponder a verdade. O juiz pode ter certeza da sua decisão à partir dos elementos probatórios existentes nos autos e julgar tranquilamente, e ir pra casa dormir sem o peso na consciência de ter condenado um inocente ou ter absolvido um culpado Alguém sugeriu chamar de verdade técnica. O professor disse que poderíamos, só que no momento em que se usa muitos qualificativos pra algo, esse qualificativo não serve. Tem receio de ficar qualificando. E se a verdade técnica não corresponder a verdade? Entendem? É que não existe meia verdade. A mentira, aquilo que é falso até que é ponderável. O que é verdadeiro não. Uma coisa ou é verdade ou não é, ou é verdadeira ou é falsa. Se dissermos que existe verdade técnica, seria possível objetar essa afirmação com a pergunta “então pq existe revisão criminal” Pra desconstituir por ex. a própria coisa julgada quando o réu é condenado e depois se descobre que ele é inocente. Houve uma verdade técnica que não correspondeu a verdade. Dei esse ex. pelo simples fato de não ser possível haver revisão criminal pro societate. O MP não pode mesmo se ele foi absolvido, se depois percebeu que é culpado, nada feito. Transitou em julgado os efeitos da coisa julgado não são desconstituídos, ao contrario da condenação. Mas é uma idéia que dá pra se compreender, falar em verdade técnica... Existem nesse processo de busca da verdade, diversos limites, inclusive constitucionais. Um deles é um dos mais importantes, o veremos posteriormente, que é a proibição de obtenção de provas por meios ilícitos. Outros, o sigilo profissional, direito de não produzir provas contra si mesmo, etc. Existem alguns conceitos que nesse tema são extremamente relevantes, sem os quais não conseguiremos chegar até o final desta matéria. Os alunos deste período que fizeram o case perceberam como são importantes, termos técnicos que surgiram no debate provenientes da discussão sobre busca e apreensão. Não podemos usá-los como uma coisa ou outra, como tanto faz. Antes de falarmos desses termos preciso estabelecer uma tríplice concepção de provas que a própria doutrina e o próprio legislador utiliza freqüentemente. Vcs certamente já ouviram diversas concepções sem ter se dado conta disso. Prova testemunhal, pericial, provas suficientes da autoria, veja que a concepção de provas ai já é outra, as partes produzem as provas já é uma outra concepção. De tal forma que a doutrina acabou por classificar essa concepção de provas de três formas. Atividade probatória Ou seja, atividade desenvolvida pelos atores processuais, pelas partes como regra. E para alguns doutrinadores, excepcionalmente produzidas pelo próprio juiz. Meio de prova Ou seja, como um mecanismo ou um meio pelo qual se leva ao processo uma fonte de prova ou um elemento de prova, a ex. da prova testemunhal e pericial. Resultado probatório Sao convencimentos que os meios de provas geram no juiz e nas partes. Ou seja, os elementos de prova valorados pelo juiz. E o resultado dessa valoração é chamado de resultado probatório. É o que se fala por ex. quando existe uma condenação ou um absolvição e se diz que houve provas suficientes no processo de que aquele cidadão é o autor do fato ou que não existiram provas suficientes para condená-lo. Quando nós falamos isso nós estamos nos referindo a uma terceira concepção de prova que é exatamente prova como resultado probatório. Página 32 de 57 Vamos a algumas distinções. *Fonte de prova É tudo o que é idôneo a fornecer elementos de prova ou convicção para a decisão do juiz. Entenda-se pessoa ou coisa apta a fornecer elementos de prova, como a testemunha que é uma fonte de prova e pode fornecer o meio de prova chamado depoimento. Um instrumento do crime pode ser uma fonte de prova, embora nós utilizemos a expressão “prova” dizemos “esta é a prova do crime”, mas via de regra o instrumento do crime é fonte de prova e o resultado da perícia o laudo é que será considerado a prova. A arma, o corpo tecnicamente são fontes de prova e o laudo da perícia é que são as provas. Deles podem ser extraídos alguns elementos de prova a serem levados ao processo. As fontes de prova são, como regra, anteriores ao processo, por razoes também lógicas. Isso pq eles são mais ou menos contemporâneas a prática do fato criminoso, e se o processo é sempre posterior a prática do fato criminoso, logo, as fontes de prova são sempre anteriores ao processo. *Meios de prova São aqueles pelos quais é possível se levar ao processo fontes de prova ou elementos de prova. Ex. depoimento da testemunha, perícia do instrumento de crime. Como regra os meios de prova precisam ser produzidos em contraditório processual. À exceção do que é produzido na fase pré processual, que é irrepetível, como produção antecipada de provas e perícias em geral, esses meios de prova devem necessariamente ser produzidos no contraditório. Para dar às partes e à defesa a oportunidade de contraditar aquela produção de provas. Nos casos em que existe produção antecipada de prova e perícias em geral na fase pré processual, esse contraditório será apenas diferido / postergado / retardado. Ou seja, o resultado desse meio de prova, o próprio elemento de prova que é submetido a contraditório posterior, o laudo, aquele depoimento de alguém que já morreu, a carta e assim sucessivamente, serão submetidos a contraditório posterior. OBS.: Nada no processo possui caráter absoluto. Nem a confissão. Todas as provas possuem valor relativo, toda e qq prova inclusive a pericial, independente do momento em que ela é produzida. Não é a produção em contraditório que dá a prova um valor relativo ou absoluto. Todas possuem caráter relativo. Isso pq o sistema de apreciação de provas adotado no Brasil é o sistema da livre apreciação das provas ou do livre convencimento motivado. Portanto o juiz livremente vai apreciar essa prova e a única exigência que seria feita é de fundamentação, mas todas seriam relativas. Uma outra OBS. sobre isso. Existe um entendimento doutrinário e jurisprudencial de proibição de condenação com base exclusivamente nos elementos probatórios produzidos na fase de investigação. O juiz não pode, segundo esta doutrina e jurisprudência que são predominantes, condenar com base exclusivamente nas provas produzidas na fase de investigação. Alias houve uma mudança no CPP, e agora há previsão legal para isso, era a maioria da doutrina e jurisprudência e passou a partir da lei 11.690/2008 a ter previsão legal. Também por esta razão possui caráter relativo. CPP Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provascautelares, não repetíveis e antecipadas. (Alterado pela Lei 11.690/2008). Vejam, mesmo no dispositivo legal ele faz a ressalva das provas que eu mencionei, então em tese teria caráter absoluto só não possui esse caráter pq realmente nenhuma prova em nenhum momento do processo possui caráter absoluto. Elemento de prova Página 33 de 57 É considerado pela doutrina como o dado bruto que é levado ao processo antes de ser apreciado / valorado pelo juiz. Resultado probatório é o oposto, é exatamente o resultado dessa valoração. Aqui é o dado bruto, não valorado pelo juiz. Depoimento As palavras contidas no depoimento de uma testemunha, antes de serem apreciadas pelo juiz seria considerado elemento de prova. Aquilo que é produzido na fase preliminar / investigação / inquérito. É considerado pela doutrina em geral apenas como elementos de prova. E mesmo durante o processo. Somente após a valoração é que nós teremos o resultado probatório. Vejam que é uma distinção meramente doutrinária, pra dizer que antes de apreciada pelo juiz nós temos elementos de prova e após a apreciação nós já teremos o resultado probatório, que seria inclusive o último conceito. Que já é a apreciação do juiz sobre aqueles elementos de prova. A importância da distinção entre: Fonte de Prova X Meio de Prova. São os dois conceitos talvez mais significativos para o nosso debate. Na palestra que houve aqui na UNDB do Juiz Fausto sobre a atuação do juiz. Ele diversas vezes defendeu aqui a atuação ativa do juiz no processo penal. Dizendo inclusive que se as parte não buscam a verdade cabe ao juiz buscá-la. Esta é a importância prática dessa distinção. Existe uma corrente doutrinária - que eu diria que é mais radical criticamente nesse sentido, encabeçada pelo Aury e outros – que dizem que em nenhum momento é autorizado ao juiz buscar provas, atuar em busca de provas. Sob pena de estar comprometida a sua imparcialidade. De outro lado há uma outra doutrina que é mais tradicional porem menos conservadora nesse sentido, criticamente, que é exatamente a doutrina que o Juiz Fausto defende. Diz que, ao contrário, cabe ao juiz atuar de forma absolutamente ativa na omissão das partes. Desde que sirva para a formação de sua convicção. O CPP permite isso em diversos dispositivos, 155 e 156 por ex. CPP Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. A primeira parte deste dispositivo nós iremos analisar em outro momento, exatamente quando formos falar em ônus da prova no processo penal. O que nos importa agora é a segunda parte, este dispositivo autoriza o juiz a agir de oficio em algumas circunstâncias. Tem várias... Existe uma terceira doutrina, que a que eu entendo atualmente que seja a mais correta, defendida por Badaró por ex. que é o entendimento que é mais equilibrado mais intermediária, entre não poder nada e poder tudo. Ele diz que precisamos fazer a distinção entre fonte de prova e meios de prova, e aqui reside a importância dessa distinção. É exatamente na distinção que nós vamos compatibilizar a atuação do juiz no processo penal considerando o sistema acusatório e não o sistema inquisitório. É somente com essa distinção que isso vai ser possível. Isso quer dizer que... Relembrando os conceitos de fonte e meio de prova. Segundo Badaró e segundo esta doutrina o que não é permitido ao juiz é determinar de oficio o encontro de uma fonte de prova, isso é vedado ao juiz. Porem, se a fonte de prova já for conhecida ai ele pode sim de oficio determinar a produção dos meios de prova. Sem ferir a sua imparcialidade. Página 34 de 57 Ex. o processo começa, não se conhece uma testemunha x, as partes fizeram a relação de testemunhas e o juiz descobre em algum momento que tem uma testemunha fundamental, ocular, e ele de oficio faz o que as partes não fizeram, resolve chamá-la para depor. Essa testemunha é considerada fonte de prova, e no caso é uma fonte de prova desconhecida. Isso é vedado ao juiz, não poderia ele chamá-la. Pq ai ele estaria sendo imparcial, no momento em que ele faz isso, mesmo que para formar sua convicção é inerente ao sistema acusatório no Brasil, especialmente através do princípio da presunção de inocência, é inerente que as partes produzam as provas. Mais que isso, que exclusivamente a acusação produza as provas suficientes que possam condenar o réu. O ônus da prova cabe não a quem alega como diz o 156, mas exclusivamente a acusação. Isso pq favorece o réu a dúvida. Portanto não cabe ao juiz atuar de forma ativa a ponto de sanar a ausência de uma prova agindo de oficio, sem que aqueles incumbidos de fazê-lo tenham se omitido. Agora, se já era conhecida aquela fonte de prova – se já houve busca e apreensão, se já houve interceptação telefônica, se aquela testemunha já era conhecida e só não foi arrolada no processo – ai sim o juiz poderá determinar a sua ouvida / oitiva, produzindo o meio de prova chamado testemunhal pq a fonte de prova já era conhecida. Ele não poderia chamar ao processo a chamada “testemunha do juízo”, que era desconhecida, mas poderá determinar a sua oitiva se já fosse do conhecimento das partes a sua existência. Daí a importância dessa distinção. No caso do próprio juiz determinar a busca e apreensão, ele não estaria colhendo uma fonte de prova? Na verdade é mais do que isso. A busca e apreensão, tecnicamente, é considerada um meio de obtenção de prova. So que mais do que isso, seria outro problema. Atualmente as previsões que existem, como no caso do crime organizado, a jurisprudência já não tem nem aceitado essa produção direta realizada pelo juiz. Nós temos diverso casos no Maranhão, alguns bem conhecidos como o da CPI do Crime Organizado e de todos os processos criminais envolvendo inclusive delegados de policia, deputados, enfim... STJ anulou completamente. Pq teve produção de meios de prova e busca de fonte de prova (busca e apreensão) realizada diretamente pelo juiz. Isso pq existe permissivo legal. Nesse caso eu entendo que ele não poderia realmente produzi-las. Outra distinção importante é entre: Meios de Prova X Meios de Obtenção de Prova Meio de prova, eu já disse o que é. Vejam que ele está apto a fornecer elementos de convicção ao juiz. Um depoimento, um laudo pericial, enfim fornece elementos de convicção ao juiz de forma direta. O meio de obtenção de prova, parece auto explicativo, seria tautológico até a explicação. É exatamente o meio que permite a obtenção ou de um elemento de prova ou de um meio de prova ou ainda de uma fonte de prova. Ex. a busca e apreensão. Vejam que ela não é meio de prova, contudo numa busca e apreensão vc pode encontrar um elemento de prova, uma fonte de prova... Como um computador – que será periciado e irá se encontrar vídeos, enfim, uma série de coisas; uma carta, uma gravação – por isso que a busca a apreensão é considerado tecnicamente como um meio de obtenção de prova. Outro ex. de meio de obtenção de prova, interceptação telefônica. Então parece absolutamente fácil de se compreender a distinção entre uma coisa e outra. Vejam que como regra somente de forma indireta os meios de obtenção de prova irão fornecer os elementos de convicção para o juiz. Não acontece de forma direta. Esse meio de obtenção de prova possibilitará ao juiz a obtenção de fontes ou de meios de prova, que somente após a oitiva ou pericia é que poderão fornecer elementos de convicção ao juiz. Por isso que é de forma indireta. Ex. numa quebra de sigilo bancário, o juiz olha aquilo, manda para uma perícia contábile o laudo contábil é que será elemento ou meio de prova que fornecerá convicção para o juiz. Enquanto não, nada feito. Ex.2 encontrou uma arma, ficou sabendo uma testemunha que viu, ele então terá que determinar a oitiva dessa testemunha e assim sucessivamente. Então meio de obtenção de prova fornecem elementos de convicção apenas indiretamente. Alem disso esses meios de obtenção de prova como regra, provocam uma restrição a direitos fundamentais do imputado normalmente relacionados ao direito de liberdade e a sua intimidade e privacidade. Vejam que todos esses exemplos que dei de meio de obtenção de prova estão relacionados ou a inviolabilidade do domicilio, ou da correspondência, da sua privacidade, etc. Página 35 de 57 O CPP estabeleceu em local próprio diversos meios de prova. Se vcs observarem tem escrito de forma taxativa, meios de prova. E nós vamos ver que nem todos pelos conceitos que estabelecemos são considerados meios de prova. O que nos leva a concluir que no CPP o legislador foi atécnico ao dispor de diversos meios de prova. Alguns que estão ai não são meios de prova, são em verdade meios de obtenção de prova. Como ta no próprio CPP a partir do art. 240. Mas tudo foi disciplinado como sendo a mesma coisa. CPP Art. 240 - A busca será domiciliar ou pessoal. Os meios de prova estabelecidos no CPP. CPP Primeiro o exame de corpo de delito e perícias em geral. Arts. 158 a 184. Confissão. Arts. 197 a 200. Perguntas ao ofendido, nada mais é do que a oitiva da vítima, arts. 201. Prova testemunhal, 202 a 225. Reconhecimento de pessoas ou coisas 226 a 228. Acareação 229 e 230. Documentos 231 a 238. Indícios, 239. Busca e apreensão 240 a 250. Essa classificação tem sido bastante criticada pela doutrina. As críticas mais relevantes são as seguintes: Primeiro em relação ao interrogatório. Desde a CF 88 passou a ser entendido não só como meio de prova mas principalmente como meio de defesa. Vcs certamente estudaram o princípio da ampla defesa e viram que essa ampla defesa pode ser técnica e a chamada auto defesa. E essa auto defesa se da tanto de forma técnica, quando o réu tiver formação jurídica, quanto se da através principalmente do interrogatório, que é a chamada auto defesa ativa. Se ele ficar em silêncio exercendo seu direito de ampla defesa também, o que é a chamada auto defesa passiva. Então o interrogatório hoje é considerado muito mais um meio de defesa do que um meio de prova. Embora o CPP o estabeleça apenas como meio de prova. A busca e apreensão. Como nós mencionamos está ai como um meio de prova, mas já falamos que tecnicamente não se trata de meio de prova mas sim de meio de obtenção de prova. Este rol do CPP não é taxativo. Vcs certamente já estudaram em processo civil o art. 332 que fala da possibilidade de provas. CPC Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.
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