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disciplina, a AD deve rejeitar a ideia de pretexto, pois esta supõe uma secundarização da análise em função de fins ou objetos supostamente mais nobres. À Teoria Literária a AD deve bastante... Esta disciplina tem grande influência nas práticas de leitura e interpretação de textos em ambiente escolar, sendo praticamente, hoje em dia, no Brasil, a responsável quase isolada pelas práticas analíticas voltadas para o texto e para o discurso com as quais os usuários leigos da língua têm contato durante a infância e a adolescência. O estudo dos textos literários historicamente desenvolveu importantes conceitos hoje apropriados pela Análise do Discurso, como gênero, intertextualidade e posicionamento. É clara, no entanto, a diferença entre as duas disciplinas em diversos aspectos. Em primeiro lugar, a apreensão da AD pretende-se muito mais abrangente, podendo inclusive tomar o próprio discurso da Teoria Literária e seu objeto como objetos de análise. No entanto, e este é o segundo lugar, a abordagem discursiva, mesmo a de textos literários, não será estética. Ou seja, sem pretender substituir e sem que o aspecto estético seja negligenciado, o texto literário não será examinado com o objetivo de apreender sua literariedade, não será julgado em suas qualidades artísticas através de conceitos como “belo” ou “bom gosto”, mas como uma enunciação (como tantas outras) que funciona ligada a uma instituição discursiva específica. Por outro lado, a Análise do Discurso é uma disciplina preocupada com a formulação de uma teoria geral da linguagem, uma vez que a prática de leitura que realiza pressupõe um modo de conceber o processo que tornou possíveis os textos de que se ocupa. E aí, por esse aspecto, a Análise do Discurso é também uma teoria do discurso, o que a aproxima das disciplinas científicas voltadas para a compreensão teórica da linguagem, como a Linguística e a Semiótica. Sem entrar na questão do modo como compreendem a linguagem e o discurso, podemos afirmar que a AD comunga com esses campos de saber no sentido não abrir mão de princípios universais de cientificidade tais como a busca da universalidade, a validação prática de suas descobertas, crenças e criações, a investigação metódica, etc. Diferentemente dessas disciplinas, porém, na medida em que a AD pretende, mais do que propor modelos de análise, verificar os condicionamentos sócio-históricos da produção linguística concreta, ou ainda, investigar os nexos que condicionam as formas linguísticas, ela esclarece e contribui para a emancipação crítica do falante-ouvinte. Além do mais, a AD não separa o produto do processo de produção. Para ela, a exterioridade é constitutiva do texto, isto é, o falante (escritor), o ouvinte (leitor) e o contexto social e histórico no qual estão inseridos, bem como as próprias formulações linguísticas fixadas na memória discursiva, são levados em conta na sua prática. Dessa forma, ela procura evitar tanto o distanciamento presente nas ciências, quanto o pragmatismo inerente ao senso comum, procurando descrever, explicitar e problematizar a discursividade. Diante desta, o procedimento da AD é, portanto, de reflexão crítica, pois procura problematizar continuamente as evidências e explicitar seu caráter político-ideológico (ORLANDI, 1987). Note-se que a AD não se pretende colocar como uma alternativa para a Linguística e a Semiótica - ciências positivas que pretendem descrever e explicar a linguagem verbal humana, mas como proposta crítica que pretende problematizar as formas de reflexão estabelecidas (ORLANDI, op. cit.). LINGUÍSTICA Linguística: Setor das Ciências Humanas cujo objetivo é descrever e explicar cientificamente as línguas naturais humanas, tanto do ponto de vista dos sistemas subjacentes (mentais ou sociais) quanto do ponto de vista dos processos históricos que conduzem à mudança desses sistemas. Pode 5
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