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Negritude e Cultura Africana



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pais haviam dobrado pela força até o chão, pensáveis, quando se reerguessem, 
que leríeis a adoração em seus olhos? [SARTRE, Jean Paul. Reflexões sobre o 
Racismo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960, p.105].
A Negritude pretendeu redescobrir a história e as culturas da África, buscando-as 
igualmente por onde se deu a diáspora negra sob o escravismo. A Negritude bebeu 
ideologicamente no legado do Pan-africanismo e do marxismo, podendo parecer esta 
enumeração redundante, pois o próprio Pan-africanismo já se impregnara de marxismo. Mas 
o caráter da Negritude ganha também matizes eidéticos e estéticos quando em 1939 
Sehghor preconizava que:
a "emoção é negra, tanto quanto a razão é branca", e ainda: "o ritmo é a força 
ordenadora que define o estilo negro".
Ao contrário do entendimento de outros autores, pensamos ser este delineamento 
ontológico um enriquecimento do conceito de Negritude. Nada impedia que a luta negra 
marcada pelas contradições sociais também uma definição da essência procurada, capaz 
de exprimir culturalmente a Negritude. Por outro viés, o da análise crítica e política, Césaire 
em 1950 proclamará a "inaudita traição da etnologia ocidental", salientando a 
"desumanização progressiva em virtude da qual de futuro não haverá, não pode haver agora, 
senão a violência, a corrupção e a barbárie na ordem do dia da burguesia". Fiel a si mesmo e 
a sua origem negra, coerente com os princípios da Negritude, aos noventa anos de idade 
Césaire reafirma: "A cultura é tudo o que o homem inventou para tornar o mundo vivível e 
a morte afrontável." . Suas palavras sintetizam a compreensão e a consciência que os 
africanos têm da função de sua cultura relativamente aos indivíduos e suas etnias.
A CULTURA É TUDO O QUE O HOMEM INVENTOU PARA TORNAR O 
MUNDO VIVÍVEL E A MORTE AFRONTÁVEL
[Entrevista a Maryse Conde in Revista de Cultura # 53. Fortaleza, /São Paulo – 
Setembro/Outubro de 2006 www.revista.agulha.nom.br/ag53cesaire.htm [16]].
Evidentemente temos dois pontos de vista, cada qual a revelar pontos mais do que 
indispensáveis à compreensão da Negritude. Mas tendo em vista o peso de Senghor como 
estadista (por haver sido presidente do Senegal com marcante influência no continente 
africano); a larga produção teórica de sua autoria; e o acolhimento político, literário e 
acadêmico que lhe deram as instituições ocidentais, tudo isso facilitou a aceitação do matiz 
ecumênico e dialógico da tendência da Negritude por ele representada.
Da aproximação com o marxismo beneficiou-se este movimento, pois seria mais difícil, 
se não de todo impossível, lutar contra a assimilação de modelos externos e a alienação
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