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PRÁTICA DE ENSINO E ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM EDUCAÇÃO INFANTIL PRÁTICA DE ENSINO E ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM EDUCAÇÃO INFANTIL N244 Nascimento, Cristiane Bomfim Cruz do Prática de ensino e estágio supervisionado : educação infantil [livro eletrônico] / Cristiane Bomfim Cruz do Nascimento. – Rio de Janeiro: UVA, 2019. 12 MB. ISBN 978-85-5459-079-6 1. Prática de ensino. 2. Professores - Formação. 3. Programas de estágio. 4. Supervisão escolar. I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. CDD – 371.3 Copyright © UVA 2019 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. AUTORIA DO CONTEÚDO Cristiane Bomfim Cruz do Nascimento REVISÃO Janaina Senna Lydianna Lima PROJETO GRÁFICO UVA DIAGRAMAÇÃO UVA Bibliotecária Katia Cavalheiro CRB 7 - 4826. Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UVA. SUMÁRIO Apresentação Autor 6 8 Aspectos fundantes da educação infantil e a linguagem da infância 37 • Aspectos fundantes da Educação Infantil: identidade, linguagem e sexualidade • O corpo e o movimento infantil na relação com as artes • A ludicidade como eixo central da ação com a criança de 0 a 5 anos UNIDADE 2 9 • Práxis Pedagógica: atuação docente • Proposta pedagógica da Educação Infantil a partir do eixo cuidar/ educar/brincar • O professor pesquisador e a estética pedagógica A práxis pedagógica na Educação Infantil UNIDADE 1 SUMÁRIO Reconstrução da Prática 83 • Modelos pedagógicos como amarras ou como possibilidades de reflexão • Família e escola: uma relação de cumplicidade • Construção de projeto e planejamento de aula UNIDADE 4 61 • Currículo, planejamento e projeto político-pedagógico – PPP • Organizando o espaço, o tempo e a aprendizagem na Educação Infantil • Alternativas pedagógicas e avaliação (portfólio) — o trabalho com projetos e as múltiplas linguagens Cotidiano da educação infantil UNIDADE 3 6 Olá, estudante! A partir deste momento estaremos conectados neste ambiente de aula da disciplina Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em Educação Infantil. Esta disciplina foi organizada de forma a possibilitar que você reflita sobre a relação teórico-prática essencial para a atuação do professor em sala de aula. Dessa forma, os objetivos instrucionais estão voltados para a construção de competências e habilidades que levem a uma formação crítica da prática pedagógica com a primeira infância. Na Unidade 1 será abordada a práxis pedagógica, ou seja, a ação pedagógica do professor que ocorre em uma relação intrínseca entre a teoria e a prática. Será analisado o eixo educar-cuidar-brincar que conduz a proposta pedagógica para a Educação Infantil e a estética pedagógica que possibilita a construção do professor investigador. A Unidade 2 apresentará as características da primeira infância e seus aspectos fundantes: identidade, linguagem e sexualidade, além das possibilidades de expressão dessa criança por intermédio do corpo, da arte e da ludicidade. A seguir, na Unidade 3, o cotidiano da Educação Infantil será tratado a partir de uma reflexão a respeito do currículo, do planejamento, do PPP e da avaliação, assim como das relações entre o espaço, o tempo e a aprendizagem. A Unidade 4 trará uma proposta de reconstrução da prática, identificando as possibilidades de atuação a partir dos modelos pedagógicos, na relação família e escola e na orientação para a construção de projetos e planejamentos de aula. APRESENTAÇÃO 7 A relevância desta disciplina está na reflexão crítica sobre o cotidiano da Educação Infantil, a partir do fato de que esta é considerada a primeira etapa da educação básica e possibilita a construção de conhecimentos específicos próprios da primeira infância, que serão fundamentais na constituição dos alunos, tendo em vista que repensar a atuação dos educadores na Educação Infantil à luz das teorias e das construções políticas da área é comprometer-se com uma educação de qualidade. Será muito bom caminhar com você na construção desses conhecimentos e, desde já, você está convidado para investigar, em quatro unidades de estudo, as possibilidades de integração teórico-prática no universo da Educação Infantil. Aproveite para interagir com sua turma e tutor. Bons estudos! 8 CRISTIANE BOMFIM CRUZ DO NASCIMENTO Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela Universidade Veiga de Almeida – UVA- -RJ. Especialista em Educação Infantil pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-Rio. Graduada em Pedagogia pela UVA e em Psicomotricidade pelo Centro Universitário IBMR (RJ). Professora no curso de Pedagogia da Faculdade São Judas Tadeu – FSJT-RJ. Pro- fessora-tutora do curso de Pedagogia EAD da UVA. Professora-autora das disciplinas Es- tágio Supervisionado e Prática de Ensino em Educação Infantil/Metodologias de Ensino da Educação Infantil, da graduação EAD em Pedagogia da UVA-RJ. Sua experiência também abrange regência em turmas da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental. Áreas de atuação: Educação, Educação Infantil, Corpo e Movimento, Arte e Educação. AUTOR C. Lattes http://lattes.cnpq.br/4872246255796702 A práxis pedagógica na Educação Infantil UNIDADE 1 10 Esta primeira unidade foi organizada de forma a possibilitar que você reflita sobre a relação teórico-prática fundamental para a atuação do professor em sala de aula. Dessa forma, os objetivos instrucionais estão voltados para a construção de competências e habilidades que levem a uma formação crítica da prática pedagógica com a primeira infância. INTRODUÇÃO Nesta unidade, você será capaz de: • Analisar a práxis pedagógica específica da Educação Infantil no contexto atual brasileiro. OBJETIVO 11 Práxis Pedagógica: atuação docente Neste tópico, começaremos a nossa trajetória pela disciplina refletindo sobre a relação teoria/prática. A atuação do professor na Educação Infantil foi, durante muito tempo, con- fundida com as funções maternas, tanto pelos pais quanto pelos próprios educadores, principalmente na creche (0 a 3 anos). Formar esses profissionais ainda é um desafio, principalmente no que tange a definir as competências e habilidades necessárias para essa atuação. Para refletir Seria suficiente gostar de trabalhar com crianças e saber trocar bem uma fralda? Propor brincadeiras para distração e pronto, assim o tempo passaria? Com a democratização do ensino, aumentou o número de fracassos escolares, um número cada vez maior de alunos frequentava a escola, mas não aprendia a ler e a escrever. Como solução para o problema, um grupo de educadores começou a considerar a Educação Infantil como o espaço adequado para preparar as crianças para as séries iniciais, valorizando técnicas de treinamento de aprendizagem voltadas para o alcance da prontidão para a alfabetização. A esse fenômeno chamamos de escolarização da infância, é a entrada das crianças em uma escolarização precoce, dentro dos moldes da escola moderna. Se essas são as funções do educador na Educação Infantil, realmente a formação acadêmica é desnecessária, basta contratar uma babá com habilidade para lidar com grupo ou uma recreadora. 12 A teoria émuito bonita, mas na prática a realidade é bem diferente. Para verdadeiramente compreendermos a função do estágio, precisamos desmistificar essa questão. Todo professor, ao atuar em sala de aula, escolhe uma forma de lidar com as crianças, com o conhecimento, com o processo de ensino/aprendizagem, seja por imitação de outros professores ou por embasar-se teoricamente e, conscientemente, escolher uma atuação que contenha a contribuição de seus estudos. Fonte: kdobolodecarne.blogspot.com.br A charge de Tonnucci exemplifica bem a questão. A professora estudou a teoria piagetiana e procura aplicá-la com o seu aluno. Será que a partir da atuação dessa professora podemos concluir que é impossível aplicar a teoria na prática? A professora verdadeiramente compreendeu a proposta que deveria fazer e a ideia de trabalhar com a construção de hipóteses? Ao assistirmos a cenas como essa no cotidiano escolar, nem sempre paramos para refletir. Criticamos apenas de forma negativa a atuação da professora, sem contribuir com o seu crescimento ou, simplesmente, concluímos que é impossível usar as teorias que aprendemos na prática. Para quem trabalha em escola, uma das frases mais comuns é: http://kdobolodecarne.blogspot.com.br/2013/01/pedagogia-interativa-com-francesco.html 13 Atitude investigativa Ir para o estágio é estar preparado para descobrir algo novo a cada dia. Cada situação que acontece, desde um pequeno diálogo entre as crianças ou uma situação clássica da rotina escolar, todas são dignas de serem analisadas e repensadas a partir das teorias sobre a área educacional. Vejamos um exemplo: Exemplo Márcio, um ano, está brincando na brinquedoteca. Lucas, também um ano, chega e quer pegar o chocalho de Márcio. Márcio reage imediatamente com uma mordida na mão do coleguinha, que começa a chorar. A professora da turma, rapidamente, pega Lucas no colo para acalmá-lo, enquanto repreende duramente Márcio pela atitude. 14 Essa é uma situação clássica de mordida na creche; tanto pais quanto professores e funcionários da escola estão mais do que acostumados com esse tipo de acontecimento. Entretanto, a atitude de Márcio pode ser vista sob várias concepções teóricas, como agressividade ou como expressão infantil. Assim como a atitude da professora: repreender ou não? Pegar no colo, deixar chorar ou abaixar para falar com a criança? Toda atitude vai depender de como a professora encara teoricamente essa situação ou de suas experiências ao observar outros professores em situação parecida. Importante O que é práxis afinal? A práxis é a dimensão criativa da atuação docente. A consciência dessa práxis é construída na singularidade da atuação de cada docente, a partir das reações que ele tem a cada situação e da tomada de decisão para resolvê-las. Essa tomada de decisão é que será permeada pelos saberes construídos pelo professor, em suas experiências teóricas e práticas. Para Caldeira e Zaidan (2013), dentro da perspectiva histórico-crítica, as ações práticas mecânicas e repetitivas são tão importantes quanto as ações criativas, que surgem a partir da problematização das situações cotidianas. Essa atuação reflexiva-crítica que está para além da instrumentalização técnica é refletida na capacidade de investigar a própria ação pedagógica, ou seja, tornar-se um professor pesquisador. Práxis pedagógica “[...] a práxis é, na verdade, atividade teórico-prática; ou seja, tem um lado ideal, teórico, e um lado material, propriamente prático, com a particularidade de que só parcialmente, por um processo de abstração, podemos separar, isolar um do outro.” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1977, p. 241 apud CALDEIRA; ZAIDAN, 2013, p. 20) 15 Para refletir Maitê, um ano e seis meses, continua, após dois meses de adaptação, tendo a necessidade de ficar no colo da educadora, encostando o rosto no lençol de casal de sua mãe, que fica dobrado no ombro dela, para se acalmar, toda vez que sente saudade da mãe. Como tirar esse objeto que não pertence ao ambiente escolar e acaba por manter o apego exagerado da criança com a mãe, respeitando o tempo de adaptação da criança ao novo trazido pela escola? A relação teoria/prática na Educação Infantil implica uma especificidade que fica no limite do intuitivo, do senso comum. De acordo com Ausubel, precisamos de conceitos “subsunçores” para dar suporte aos novos conhecimentos. Com relação à educação da infância são oferecidos poucos ou nenhum conceito dessa natureza na formação dos educadores. A imitação de outros educadores acaba sendo a base da formação prática dos professores da Educação Infantil, sem ser permeada por reflexão. Apesar de exigida, a criatividade dos professores fica restrita a um cotidiano ritualizado e cheio de crenças rotineiras, incapaz de qualquer flexibilidade. Subsunçor => Conceito relevante preexistente na estrutura cognitiva do sujeito, que funciona como âncora permitindo a assimilação de novas informações ao cérebro. Conceito trabalhado por Ausubel em sua teoria para explicar a Aprendizagem Significativa. Importante O trabalho com os pequenos exige uma série de cuidados com aspectos que passam despercebidos em outros níveis de ensino. Para que a aprendizagem significativa realmente ocorra na Educação Infantil, é importante que o professor se questione a todo momento, em cada ação, por menor que possa parecer. Porque toda e qualquer relação com a criança é importante para o desenvolvimento integral dela. 16 Vamos ver nas próximas aulas alguns dos pontos teóricos que não podem ser deixados de lado na atuação no campo de estágio. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre as diferentes concepções para estágio e docência. 17 Proposta pedagógica da Educação Infantil a partir do eixo cuidar/educar/brincar Neste tópico, vamos identificar o eixo que percorre a proposta da Educação Infantil como um nível de ensino específico, que possui características próprias que o diferem dos outros níveis de ensino. Fato que não o desqualifica, ao contrário, deixa a tarefa de educar ainda mais complexa. É comum considerarem o professor da Educação Infantil menos importante dentre os professores de conteúdos específicos, fato que ainda se reflete na diferença entre os salários. Pensar a educação de crianças pequenas implica exercer algumas funções muito próximas da função materna, porque elas exigem, muitas vezes, cuidado físico. A cena descrita abaixo é do filme Um tira no jardim de infância, com o ator Arnold Schwarzenegger, e exemplifica bem essa questão: O detetive John Kimble se infiltra numa escola de Jardim de Infância para capturar um traficante pai de um dos alunos. Numa primeira investi- da, resolve questionar as crianças sobre quem nasceu na cidade e quem vem de fora. Obviamente as crianças não entendem a pergunta e não conseguem responder satisfatoriamente. O detetive começa a ficar irri- tado quando, de repente, uma das alunas levanta e o chama sinalizando que quer fazer xixi. Kimble fica desconcertado e corre para pedir ajuda de outra professora, pois sente-se incapaz de resolver a questão. Para refletir “Nossa história nos mostra que existe uma dupla imagem do adulto que lida com crianças na instituição. A primeira imagem é a do ‘adulto maternal’, aquele que apenas ‘cuida’ de crianças de 0 a 3 anos, do qual não se exigiu, por muito tempo, formação adequada. A outra imagem é a da profissional ‘professora’, formada para ‘ensinar’ as crianças de 4 a 6 anos. Podemos dizer também que as concepções de criança e de Educação Infantil são as grandes estruturadoras da ação dos profissionais da Educação Infantil, pois de acordo com a maneira como concebem a criança é que eles planejam e desenvolvem o trabalho com ela.” (AZEVEDO, 2007, p. 174) 18 MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre cuidar, educar e brincar. A discussão sobre a atuação na EducaçãoInfantil e sobre as diferentes funções exerci- das, assim como suas responsabilidades, não começou agora. É um embate de mais de cem anos, no qual caminhamos de uma visão assistencialista, focada no cuidado, para uma visão de desenvolvimento integral do sujeito. Será somente na década de 1990 que a articulação entre o cuidar e o educar nas práticas educativas com as crianças pequenas irá se concretizar na Política Nacional de Educação Infantil (2006), que enfatiza que “a edu- cação infantil deve pautar-se pela indissociabilidade entre o cuidado e a educação” (p. 17). LINHA DO TEMPO “Educar e cuidar, duas ações separadas na origem dos serviços de atenção à criança pequena, tornam-se, aos poucos, duas faces de um ato único de zelo pelo desenvolvimento integral da criança. Cuidar e educar se realizam num gesto indissociável de atenção integral. Cuidando, se educa. Educando, se cuida. Impossível um sem o outro.” (DIDONET, 2011, p. 13) 1875 Criação de Creches e Jardins de Infância Creches (caráter assistencial) = filhos das mulheres trabalhadoras, crianças desamparadas, órfãs ou abandonadas. Jardins de Infância (caráter educacional) = crianças das classes abastadas, classe média e alta. 1879 Reforma Leôncio de Carvalho Determinou que todos os distritos tivessem um Jardim de Infância, porém não foi colocado em prática, ficou como letra morta. 19 1880 Criação do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Brasil Iniciativa privada do médico pediatra e higienista Arthur Moncorvo Filho. Instituto com a concepção médico-social e higienista, voltado para as crianças da classe pobre com a intenção de engajar as classes média e alta. 1919 Fundação do Departamento da Criança no Brasil Também criado pelo Dr. Arthur Moncorvo Filho, para realizar e divulgar estudos sobre a situação da criança, realizar congressos, velar pela aplicação das leis de amparo à criança e fomentar iniciativas que levassem ao desenvolvimento infantil. 1922 I Congresso de Proteção à Infância Dentre suas recomendações estava a abolição da “roda dos expostos”. 1933 Congresso Nacional de Proteção à Infância Sinalização de Anísio Teixeira para a premissa de ultrapassar a visão da criança pré- escolar somente sob seu aspecto físico e de saúde, considerando fundamental focar o viés educacional, que implica uma concepção de desenvolvimento englobando a formação de habilidades mentais e de socialização. 1940 Criação do Departamento Nacional da Criança (DNCr) Responsabilidade do governo federal, no âmbito do Ministério da Educação e da Saúde Pública (Mesp). Função coincidente com a do Departamento da Criança, de Moncorvo Filho, que funcionou até 1938. 1946 Objetivo da Legião Brasileira de Assistência (LBA) Volta-se para a maternidade e para a infância. 1952 Publicação pelo DNCr Ainda sob o Mesp, o órgão publicou livreto orientando o uso de materiais apropriados para a educação de crianças pequenas em creches, muito semelhantes aos de hoje. 20 1953 Departamento Nacional da Criança (DNCr) Passa para o âmbito do Ministério da Educação e da Cultura (MEC), e é criado o Comitê Nacional Brasileiro da Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar (Omep), instituição pioneira na difusão da necessidade e da importância da educação pré-escolar no país e da urgência na tomada de decisão política pela criança. 1968 I Encontro Interamericano de Proteção ao Pré-Escolar Realizado no Rio de Janeiro, envolveu o DNCr, a Omep, a LBA, a Funabem, a Secretaria de Educação do então estado da Guanabara e o UNICEF. 1969 Departamento de Segurança e Higiene do Trabalho Passou a ser o órgão responsável pelas normas de instalação de creches em locais de trabalho ou criadas por meio de convênios, e também responsável pela fiscalização desses estabelecimentos. Portanto, viu-se mais um Ministério — o do Trabalho — a exercer um papel na atenção integral à criança. 1977 Projeto Casulo LBA começa a incluir a educação em seu aspecto assistencial de atendimento à infância. 1967 DNCr lança o plano de assistência ao pré-escolar para crianças até dois anos Criação de escolas maternais e jardins de infância como instituições auxiliares da família na educação de seus filhos pequenos. Foco no Desenvolvimento Integral. 1979 Aprovado o novo Código de Menores (Lei nº 6.697/1979) Em substituição ao de 1924, que havia consolidado todas as leis existentes a respeito da assistência e da proteção à infância. Manteve a perspectiva que reconhece não a criança-pessoa, mas o menor pobre, marginalizado, delinquente, infrator — portanto, assunto da segurança pública —, ou o menor abandonado, fragilizado pelo descaso, pela desnutrição, pela precária atenção familiar, logo objeto de assistência e caridade. 21 1980 Omep realizou um congresso em Brasília com o tema “A Criança Precisa de Atenção” Foco foi o atendimento integral e integrado do nascimento aos seis anos. Marco na tomada de decisão política no país em relação à educação pré-escolar. 1988 Promulgação da nova Constituição federal 1981 O Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) Ao qual a LBA estava vinculada, editou um pequeno livro de orientação prática, o Vamos fazer uma creche, no qual explicitava as ações educacionais a serem desenvolvidas. As creches da assistência social passaram a ter, se não na prática efetiva, pelo menos na concepção e na orientação metodológica, a função “guardiã” e a função “pedagógica”. 1990 Aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Faz uma revolução conceitual e cria os mecanismos operacionais para a implementação dos direitos da criança no Brasil (substitui o Código de Menores, Lei nº 6.697/1979). 1993 Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) Estabelece um conjunto de mudanças na política de assistência social, em coerência com o princípio constitucional de que a assistência é um direito do cidadão e um dever do Estado e se destina a quem dela necessitar. Ela preconiza o atendimento na perspectiva da proteção integral (oposta ao assistencialismo). 1996 Nova LDB (Lei nº 9.394/1996) Representa um marco nessa discussão: confirma o que foi anunciado na Constituição de 1988, a Educação Infantil como direito da criança, dever do Estado e como parte integrante do sistema educacional, ampliando o conceito de Educação Básica e trazendo outras implicações para o trabalho pedagógico com as crianças pequenas. 1998 Aprovação dos RCNEI (Referenciais Curriculares para a Educação Infantil) Educação Infantil com objetivos educacionais explícitos, com propostas pedagógicas, a partir das quais começaram a seguir parâmetros e normas, trabalhando em prol da educação e do processo ensino-aprendizagem, possibilitando aos alunos o acesso ao conhecimento e ao pleno desenvolvimento, deixando, assim, de ter um cunho apenas assistencialista. 22 2001 PNE (Plano Nacional de Educação) 2006 Parâmetros nacionais de qualidade para a Educação Infantil e parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de Educação Infantil 2010 DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) 2005 PNEI, Política Nacional de Educação Infantil Pelo direito das crianças de zero a seis anos à educação. Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil (Proinfantil). Entretanto, o que significa essa indissociabilidade? Esse é o ponto que tem gerado muitas discussões na área, algo que parece muito simples e lógico, mas que na prática ainda gera muitos questionamentos. Quando começamos a trabalhar com bebês, já acreditávamos que tudo o que fazíamos com eles era importante; o cuidar e o educar estavam unidos pelas ações das crianças e dos educadores. Quando trocavam as fraldas, tocavam-se, choravam, brincavam com os pés. Quando se ali- mentavam, tocavam nos alimentos, juntavam pequenos grãos de arroz com os dedinhos em forma de pinça e observavam o movimento dos líquidos na mamadeira. Ao dormir, emitiam sons ou se aninhavam nos seus “cheirinhos”. Saber que essasações contêm em si mesmas aspectos do cuidado e da educação é tarefa fundamental dos formadores em educação, dos Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e as Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil As Diretrizes Operacionais tratam, especificamente, da transição e da integração das creches à educação. Fixam normas relativas à vinculação das instituições de educação infantil aos respectivos sistemas de ensino, às propostas pedagógicas, à formação dos professores para essas instituições e a espaços e materiais pedagógicos, considerando sempre a globalidade do educar e cuidar. 23 coordenadores pedagógicos, dos diretores. As escolas de formação de educadores infantis precisam começar a trabalhar com as questões pontuais dessa ideia: o cuidar e o educar são elementos de uma mesma vertente — com a qual compactuamos — de que o trabalho com bebês precisa ser encarado como ação efetiva de intervenção pedagógica im- pregnada de conhecimentos básicos que permitam ao educador estabe- lecer junto às crianças práticas educativas que colaborem com seu ple- no desenvolvimento. (RAMOS; PORTO ALEGRE, 2003, p. 29 apud NONO, 2010, p. 133) Vejam que o embate cuidar/educar constitui o caráter pedagógico da Educação Infantil, dessa forma, não cabe a preocupação em diferenciar o cuidado, como função principal da creche e da pré-escola, da educação formal, como função do Ensino Fundamental. Com as crianças de zero a cinco anos, o educador precisa estar ciente de que ao cuidar está educando. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 24) deixa claro que “[...] cuidar de uma criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas”. Assim, a simples ação de cuidar, associada ao cuidado materno, que, por muito tempo, foi considerado algo intuitivo de toda mulher, mostra-se como uma função extremamente complexa e que por isso exige uma formação muito mais apurada. Saiba mais O Referencial Curricular Nacional para a Educação infantil (RCNEI) compõe a série de documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais elaborados pelo Ministério da Educação e do Desporto. Sua proposta apresenta uma reflexão sobre a atuação nesse nível de ensino de forma a abranger os objetivos, conteúdos e orientações didáticas, sem desrespeitar os estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira. O RCNEI é composto por três volumes: introdução; formação pessoal e social; conhecimento de mundo. 24 Criança se nasce, charge de Francesco Tonucci, presente no livro Com os olhos de criança. Fonte: paraalmdocuidar-educaoinfantil.blogspot.com.br. Desenvolver o sujeito integralmente implica valorizá-lo e ajudá-lo a desenvolver suas capacidades cognitivas, afetivas e motoras em uma relação de cuidado, considerada um ato em relação ao outro e a si mesmo, de forma a reconhecer a criança enquanto sujeito capaz de aprender. Para tanto, é preciso olhar para sua singularidade, o cuidado precisa ser dado a cada um, não é apenas o ato de alimentar, mas o que implica socialmente essa alimentação, fato que não será vivenciado em uma ação que considere a criança como apenas mais um no grupo, como evidencia a charge de Tonucci acima. CAPACIDADE AFETIVA CAPACIDADE COGNITIVA CAPACID ADE MOTO RA http://paraalmdocuidar-educaoinfantil.blogspot.com.br/2012/05/francesco-tonucci.html 25 O que é educar, afinal? Conforme o RCNEI (1998): Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpes- soal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e co- nhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéti- cas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis. (BRASIL, 1998, p. 23) Para refletir Refletindo a partir de tudo o que foi exposto até o momento, cabe perguntar: de que forma a brincadeira entra nesse processo? Por que o título desta aula coloca o brincar como eixo do trabalho pedagógico da Educação Infantil? De acordo com o RCNEI (1998), a criança tem uma linguagem específica para estabelecer o vínculo com o mundo real: a brincadeira, que faz uso do simbólico, pois acontece no plano da imaginação. Isso significa que a criança articula a imaginação e a imitação da realidade de forma singular, já que depende da apropriação que faz da realidade imediata, ressignificando-a. A brincadeira, portanto, não reflete a realidade imediata, sendo uma imitação transformada. 26 Ao brincar, a criança coloca em jogo todas as suas experiências, tudo o que viu, ouviu, sentiu e viveu. Quanto maior for a diversidade de experiências oferecidas à criança, maiores serão as suas possibilidades de exploração do imaginário. Ela experimentará assim papéis sociais diversos, reconhecendo modelos de comportamento social e padrões culturais. Para brincar é preciso que as crianças tenham certa independência para escolher seus companheiros e os papéis que irão assumir no interior de um determinado tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem unicamente da vontade de quem brinca. Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imaginativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem acionar seus pensamentos para a resolução de problemas que lhe são importantes e significativos. Propiciando a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual as crianças podem experimentar o mundo e internalizar uma compreensão particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos (BRASIL, 1998, p. 29). Importante 27 Por meio da brincadeira, o professor pode ampliar os conhecimentos da criança, oferecendo-lhe materiais, espaços e tempo para que possa explorar junto com as outras crianças o mundo no qual estão inseridos. É também um momento de excelência para observar o desenvolvimento da criança, tanto individualmente quanto em grupo nas relações que estabelece com os colegas e com os objetos que utiliza na brincadeira. Exemplo Carol, três anos, está brincando no cantinho das bonecas. Coloca sua boneca preferida na cadeira de alimentação e diz: — Espere aí, Fernandinha, vou fazer o seu papá. Vai até o fogãozinho e prepara a comida para a boneca, mexendo nas panelinhas, volta até a boneca com uma panela e uma colher: Vamos, Fernandinha, você tem que papar tudo pra ficar forte! 28 A professora da turma entra na brincadeira: — Nossa, que papá gostoso! Carol responde: — É, mas a Fernandinha não quer comer, olha como está fazendo! Virando o rosto e fechando a boca — e imita o gesto que diz que a boneca está fazendo. — E agora? Ela vai ficar fraquinha... — diz a professora. — Pois é — confirma Carol, com cara de desalento. No exemplo acima, Carol está usando a brincadeira para elaborar suas vivências com relação à alimentação. As reações que transpõe para a boneca podem ser dela mesma ou de um amigo. Também é preciso levar em conta que pode ser a expressão do seu desejo. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre a brincadeira na Educação Infantil. 29 O professor pesquisador e a estética pedagógica Neste tópico, vamos tratar do olhar que nos constitui enquanto sujeitos. Olhar que, primeiramente, é o materno e que depois vai sendo substituído por outros olhares. Temos como proposta inquietar você quanto ao seu olhar diante do aluno que é colocado em suas mãos, seja ele de que idade for. Rubem Alves (2002, p. 37) é muito claro quanto ao que pensa sobre o olhar do professor: “Professor: trate de prestar atenção no seu olhar. Ele é mais importante queseus planos de aula. O olhar tem o poder para despertar e para intimidar a inteligência.” E lembra que ao aprender a andar a criança não depende de ensinamentos ou modelos da mãe de como se anda, precisa do olhar dela, olhar que a sustenta, ampara e estimula. O apoio físico fica restrito ao simples amparo para evitar a queda. O olhar da mãe transparece seu desejo de ver a criança andar. Olhar que constitui o sujeito 30 Espera-se que o educador caminhe junto e estimule o sujeito a descobrir suas possibilidades. Ação que só se torna possível quando esse educador está sensibilizado para suas próprias descobertas. Fonte: verinhaalfabetizacao.blogspot.com.br. Para refletir Como observar as crianças sem ser um intruso em seu mundo? Rita Ribes Pereira, em 2012, sugere que usemos três aspectos próprios da pesquisa: o pensar, o conviver e o escrever, para lidar de forma teórica com a alteridade no campo de pesquisa. Esses três aspectos são indissociáveis e acontecem sem hierarquia ou linearidade. São instrumentos para guiar a ação do professor, que se torna pesquisador, pois será a partir da reflexão sobre sua prática que encontrará os caminhos necessários para auxiliar a criança em seu desenvolvimento integral. Na convivência, conquista-se a criança; é brincando com ela que entramos em seu mundo. Com o registro de tudo o que acontece no campo de estágio: diálogos, interações, brincadeiras, atividades, cuidados... Como se fosse um “diário de bordo”, colhemos material para refletir e nos damos a chance do distanciamento necessário do objeto de pesquisa para a análise. http://verinhaalfabetizacao.blogspot.com.br/2011/06/charges-de-francesco-tonucci.html 31 Relação de alteridade: relação com o outro que se constitui nas interações com as pessoas e com a cultura. Parte da concepção de ser humano enquanto ser social que interage e interdepende do outro. Saiba mais PENSAR CONVIVER “O abismo entre as gerações revela nossa solidão cultivada na insensibilidade com que facilmente descartamos o ‘outro’ de dentro de nós. A questão do olhar torna-se fundamental para retomarmos o tema da alteridade: o olhar convoca nossa dimensão ética na relação com o outro (AMORIM, 1997). Ao reconhecer a diferença no ‘outro’, recuperamos a dignidade de nos reconhecermos nos nossos limites, nas nossas faltas, na nossa incompletude permanente, enfim, em tudo isso que é essencial e verdadeiramente humano e, ao mesmo tempo, inefável.” (PEREIRA; SOUZA, 2003, p. 39). Importante ESCREVER 32 Dica Construa um “Caderno de Campo”, personalize a capa e traga-o com você o tempo todo. Comece a criar o hábito de escrever tudo o que observa no estágio, seja o diálogo entre duas crianças que tenha chamado a sua atenção, seja a atitude de algum funcionário, seja uma tarefa proposta pela professora da turma ou alguma atividade que você tenha realizado no ambiente escolar. Você vai perceber que, conforme a escrita das situações for virando um hábito, a vontade de registrar virá mesmo quando estiver fora do ambiente do estágio, vai lembrar das situações no ônibus, no carro, no cinema... enfim... faça da reflexão um exercício diário. Tire foto da capa e de alguns registros do seu caderno e poste no Fórum Introdutório, partilhe com seus colegas e com o seu tutor suas experiências. Coloque-as em discussão, transforme as situações observadas e vividas por você em situações-problema e veja como seus colegas podem pensar junto com você. Então? Qual foi a sua primeira observação no campo de estágio? O que mais chamou a sua atenção? SEJA CURIOSO SURPREENDA-SE 33 NA PRÁTICA Duas educadoras compunham a situação, com um grupo de 15 crianças de dois a três anos. O ritmo de umas e de outras era bem diferenciado. Enquanto as educadoras, automática e rapidamente, desempenhavam as tarefas de despir, lavar, secar e vestir uma criança após a outra, as crianças eram submetidas a um contínuo e longo tempo de espera. De iní- cio, permaneciam em penicos encostadas à parede. Quando chegava sua vez, eram pegas, esfregadas, enxaguadas e dei- xadas, ainda pingando, no estrado, para esperar a vez de se- rem vestidas e penteadas pela outra educadora. Terminada essa rotina, as crianças ficavam à espera da rotina seguinte, sendo repreendidas se não ficassem quietas e silenciosas. Pouca ou nenhuma oportunidade era propiciada a elas de ter alguma autonomia na situação, desfrutar o prazer da água no corpo, interagindo e brincando umas com as outras. A organização dessa situação de cuidado estava claramente educando as crianças a serem submissas e passivas, sem iniciativa e autonomia. (ROSSETTI-FERREIRA, 2003, p. 10) O banho na escola, além de ter um viés de cuidado, essencial no trato com crianças pequenas, tem um caráter educativo que precisa ser levado em conta, visando ao desenvolvimento integral das crianças. Nesse sentido, é correto afirmar que cada situação de cuidado deve ser vista como uma oportunidade para observar as particularidades de cada criança, de forma a oferecer-lhe momentos de atenção individual. Assim, apesar do contexto coletivo da escola, as particularidades das crianças precisam ser vistas e os momentos de cuidado são essenciais para conhecermos as crianças. O educar nessas situações de cuidado aparece na intencionalidade educativa, que está para além de nomeações de partes do corpo ou compreensão dos hábitos de higiene. 34 Resumo da Unidade 1 Nesta unidade, trilhamos um caminho pela práxis pedagógica da Educação Infantil, pro- curando ressaltar os principais pontos para uma atuação docente de acordo com as necessidades dessa etapa de ensino. Primeiramente, destacamos a importância de uma prática permeada pela teoria para tirar o professor de uma atuação intuitiva, construindo uma atuação criativa cheia de atitude investigativa. Em seguida, trouxemos o eixo con- dutor da proposta pedagógica na Educação Infantil: educar, cuidar e brincar, acentuando a passagem de uma visão assistencialista da educação da infância para a educação do sujeito integral. Na última aula, propomos a sensibilização do olhar a partir do estudo da estética pedagógica na construção do professor pesquisador. O conceito abordado nesta unidade refere-se à práxis pedagógica, considerando-a como a integração entre a teoria e a prática na ação do professor. Esse contexto con- templa um olhar diferenciado para o cuidar e o educar, em uma atitude investigativa do processo de desenvolvimento e aprendizagem. CONCEITO 35 Referências ALVES, R. Por uma educação romântica. Campinas: Papirus, 2002. AZEVEDO, H. H. O. Implicações teórico-práticas do binômio cuidar-educar na formação de professores de educação infantil. Olhar de professor. Ponta Grossa, v. 10, n. 2, p. 159-179, 2007. 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A criança percebe o meio à sua volta a partir do seu próprio corpo; essa é a sua primeira referência para suas construções cog- nitivas e perceptivas. As artes propiciam diversas possibilidades expressivas e sensitivas que permitem que a criança tenha uma comunicação mais autêntica com o meio externo. INTRODUÇÃO OBJETIVO Nesta unidade, você será capaz de: • Relacionar os aspectos fundantes da Educação Infantil com a linguagem própria da infância. 39 Aspectos fundantes da Educação Infantil: identidade, linguagem e sexualidade Para iniciar esta aula, vamos refletir juntos? O que são aspectos fundantes? Por que a eleição da identidade, da linguagem e da sexualidade é fundamental para esse nível de ensino? Respondendo à primeira questão, podemos pensar que os aspectos fundantes são aqueles que estarão na base, mas que, muito mais do que base, serão os alicerces da construção em torno dos quais o sujeito se constituirá. Portanto, são aspectos que fundam o sujeito, que o estabilizam no terreno da vida. Pensemos em pilares que irão sustentar o sujeito e acompanhá-lo pelo resto da vida, como ilustrado na imagem abaixo. 40 Agora que você já sabe o que são aspectos fundantes, vamos compreender melhor esses pilares e também entender a resposta da segunda pergunta lançada no início da aula. Vamos lá? Identidade Compreendendo a criança como produto e produtora de cultura, considerando-a como um sujeito histórico-social, podemos entender o porquê do primeiro pilar: Identidade. O que me caracteriza? O que me diferencia do outro? A identidade é um conceito do qual faz parte a ideia de distinção, de uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, de modos de agir e de pensar e da histó- ria pessoal. Sua construção é gradativa e se dá por meio de interações sociais estabelecidas pela criança, nas quais ela, alternadamente, imita e se funde com o outro para diferenciar-se dele em seguida, muitas vezes utilizando-se da oposição. (BRASIL, 1998b, p. 13) Dessa forma, podemos perceber que, inicialmente, o sujeito confunde-se com quem cuida dele; ao nascer a criança está em um processo fusional com a mãe e, aos poucos, vai descobrindo o próprio corpo e diferenciando-o do corpo da mãe. Saiba mais Processo fusional é o estado no qual o sujeito é um com a mãe, não faz diferença entre o seu corpo e o corpo da mãe. O corpo desta é uma extensão do seu próprio corpo. A criança, ao chegar à creche, está em pleno processo de diferenciação, porém ainda será nas interações com o cuidador/educador que esse processo se complementará. do outro. 41 Cada cultura traz um conjunto de valores e crenças próprios, que são passados de geração para geração, por meio da linguagem, inclusive na forma de lidar com a criança. Por exemplo, em determinadas tribos africanas, as mães voltam ao trabalho na lavoura com os bebês presos em suas costas, e será nesse contato intenso, sentindo os movimentos do corpo da mãe, que o bebê irá percebendo as limitações entre o seu corpo e o corpo do outro. Saiba mais Diálogo Tônico, você sabe o que é? É a comunicação entre o tônus muscular do cuidador e o tônus muscular da criança, é a primeira e mais intensa forma de comunicação. Tônus muscular é o estado de contração mínima da musculatura para a sustentação da estrutura óssea do sujeito. Ao relacionar-se com o meio, o tônus fica mais enrijecido ou mais relaxado de acordo com as situações de interação. Dessa forma, é importante ressaltar que cada cultura terá um jeito de lidar com os seus bebês. Além de ser uma questão cultural, é uma questão histórica, pois irá variar de acordo com os conhecimentos que aquele grupo social vai adquirindo. Ao relatar o cotidiano da criança livre no Brasil entre a Colônia e o Império, Mary Del Priore (2008) descreve os cuidados com o recém-nascido de uma forma que exemplifica o que estamos querendo dizer: Os primeiros cuidados com o recém-nascido eram ancilares. Seu corpinho molengo era banhado em Curiosidade 42 A separação da criança do outro se dá a partir da percepção das diferenças, sua percepção dos contrastes é a mais acirrada: contração/descontração, alegria/tristeza, quente/ frio, grande/pequeno, frente/trás. As oposições são as primeiras a serem percebidas pela criança. Por isso, é tão importante trabalharmos com a diversidade. Em relação às semelhanças, a construção de grupos por afinidade é realizada posteriormente à construção das diferenças; descobrimos o que é igual a partir do diferente. Na construção da identidade, nós nos descobrimoscomo únicos no grupo e conquistamos autonomia na execução de pequenas tarefas ao aprendermos a lidar com nós mesmos e com o outro. líquidos espirituosos, como vinho ou cachaça, limpo com manteiga e outras substâncias oleaginosas e firmemente enfaixado. A cabeça era modelada e o umbigo recebia óleo de rícino misturado à pimenta com fins de cicatrização. Coroando os primeiros cuidados, era fundamental o uso da estopa: “cataplasma confeccionado com a mistura de um ovo com vinho”, aplicado a uma estopa que por sua vez era presa por um lencinho à cabecinha do pequeno para “fortificá- la”. As mães indígenas preferiam banhar-se no rio com seus rebentos. As africanas costumavam esmagar o narizinho de seus pequenos, dando-lhes uma forma que lhes parecia mais estética. Os descendentes de nagôs eram enrolados em panos embebidos numa infusão de folhas, já sorvida pela parturiente. (PRIORE, 2008, p. 86) 43 Sexualidade Dessa diferenciação faz parte a questão de gênero. Será a partir das diferenças e das identificações que o sujeito se descobre menino ou menina. Porém, esse é apenas um aspecto da sexualidade. Freud, em 1905, no texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, constata a presença da sexualidade na infância. Ao contrário do que muitos imaginam, Freud não está se referindo à sexualidade genital, mas à condição de a criança ter um corpo sensível ao prazer/desprazer. Considera que a primeira curiosidade da criança expressa em palavras tem a ver com o desejo de descobrir de onde veio, o questionamento sobre a sua origem, o seu nascimento, é o que rege suas empreitadas curiosas sobre o mundo. Sua relação com o conhecimento tem como ponto de partida o desejo de saber sobre si. Linguagem É na linguagem que o sujeito faz essas descobertas. Ela é responsável por favorecer o processo de diferenciação do outro, inicialmente na linguagem do toque e, posteriormente, por meio da linguagem oral. A linguagem enquanto instrumento de socialização propicia a comunicação e a expressão dos sujeitos, a transmissão cultural. Indica a pertença social de cada sujeito e instiga a imaginação infantil para a descoberta de outros mundos, de outras realidades. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 2 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre sexualidade na infância. 44 Será por meio da pele, das sensações, dos prazeres e desprazeres, da sua sexualidade, que a criança irá descobrir o mundo e dar asas a sua imaginação, explorando a linguagem na construção de sua identidade. Vamos ler o texto a seguir que trata dessa questão? Pela pele experimentamos as sensações de ca- lor, frio, dor, prazer. A pele é a raiz cobrindo o cor- po inteiro. O corpo, que vive intensamente a pele, é raiz, caule, folha, flor e fruto. O corpo é inteiro e por isso mesmo ouve, fala, se cala, sente sabo- res e dessabores, mostra e revela. (TIRIBA, 2001, p. 16) Fonte: www.themaeducando.blogspot.com.br. Estamos tratando a linguagem enquanto capacidade de simbolização do sujeito, de falar o mundo, expressando-se e comunicando-se, linguagem enquanto característica tipicamente humana. Seja verbal ou não verbal, a linguagem é intrínseca às relações humanas, interiormente, em nosso pensamento, na relação do sujeito com ele mesmo, ou externamente, ao lidar com o outro. Como eixo teórico propomos pensar a linguagem com os autores Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin e Lev Vygotsky, que vão refletir sobre o Homem como ser social, ativo e produtor de sentido, para o qual a linguagem possibilita repensar o tempo, em sua dimensão histórica, ressignificando o presente, o passado e o futuro, por meio da dimensão expressiva desta. Segundo Kramer (1993, p. 102), os três autores veem a linguagem como expressão, fazem críticas ao formalismo, dão ênfase ao riso, às lágrimas, à imaginação criadora, ao sentimento, percebendo a linguagem além do signo arbitrário, negando-a enquanto meio e forma cristalizada. Todos eles buscam uma interação viva com a língua, trazem a emoção, o movimento da linguagem na história, percebem e perseguem a linguagem como experiência criativa ininterrupta. (CORSINO, 2001, p. 5) http://themaeducando.blogspot.com.br/2012/09/a-pele-limite-entre-eu-e-o-mundo-charge.html 45 O corpo e o movimento infantil na relação com as artes Na aula anterior, pudemos compreender a importância dos aspectos fundantes e a valorização do corpo nesse processo. Nesta aula, vamos refletir um pouco sobre o movimento e as artes na educação infantil. Vamos iniciar a aula com esta emblemática: O que isso quer dizer? O movimento para o ser humano está para além do motor, cada mínimo gesto é significado pelo outro e vai, aos poucos, sendo internalizado, ganhando significado para o sujeito. Henri Wallon (1975), em sua obra, afirma que o ser humano é organicamente social, ou seja, para que se desenvolva integralmente, necessita do outro, fato que o diferencia dos outros animais. Mais especificamente, Wallon trata da afetividade humana, considerando como afeto a ação de um sujeito sobre o outro. Assim, afetividade consiste em quanto eu afeto o outro com a minha ação e o quanto sou afetado por ele. Portanto, o movimento humano é forma de expressão e tem por base as alterações de tônus muscular. Cada sujeito tem tônus próprio; alguns mais tensos, outros mais relaxados. Além disso, o tônus varia de acordo com as situações pelas quais o sujeito passa. Em uma situação de luta/fuga, todo o tônus fica mais enrijecido, pronto para lutar ou correr. Da mesma forma, ao estar deitado na praia tomando sol, o sujeito está totalmente relaxado. O diálogo tônico nos acompanha em todas as situações relacionais, pois existe uma conversa entre a tonicidade dos sujeitos; a comunicação humana passa pelo corpo. O movimento humano é recheado de gestos, de significados. 46 Cada emoção provoca uma expressão facial e corporal em você, assim como nas crianças, além de gerar uma reação no outro. A linguagem corporal nos acompanha por toda a vida, porém é mais intensa na infância. Colocar o corpo em movimento é algo extremamente natural para a criança, a descoberta de si passa pela descoberta do próprio corpo em movimento, é agindo no mundo que a criança o descobre. A imobilidade exigida pela escola moderna fere essa essência infantil. Precisamos compreender que a modernidade exigiu um comportamento controlado, voltado para a mecanização do homem, já que a indústria precisava de mão de obra obediente, especializada e silenciosa, pois o único foco era uma produção mais eficiente. A escola respondeu a esse modelo, produzindo ambientes controladores, que se especializaram em controlar os corpos dos alunos. [...] a ordenação por fileira, no século XVII. Começa a definir a grande forma de repartição dos indivíduos na ordem escolar: filas de alunos nas salas, nos corredores, nos pátios; [...] determinando lugares individuais (a organização de um espaço serial) tornou possível o controle de cada um e o trabalho simultâneo de todos. Organizou uma nova economia do tempo e da aprendizagem. Fez funcionar o espaço como uma máqui- na de ensinar, mas também de vigiar, de hierarquizar, de recompensar. (FOUCAULT, 1987, p. 126) Sendo a criança livre em sua expressão e precisando se movimentar para descobrir o mundo, nada mais natural que a escola se reinvente, começando pela disposição de seu espaço. Uma sala de aula da Educação Infantil precisa acolher o movimento — na verdade, propiciá-lo, conforme as imagens a seguir demonstram.. 47 Assim, propomos algumas questões para que possamos refletir: Como explorar a movimentação infantil em sala de aula, trabalhando os conteúdos próprios para essa faixa etária na busca pelo desenvolvimento integral da criança? É necessário usar a Educação Infantil como espaço de preparação para o aprendizado que será proposto no Ensino Fundamental? É preciso treinar habilidades como a coordenação motora fina para facilitar a aprendizagemda escrita na alfabetização? Para refletir Ainda se percebe, em alguns espaços da Educação Infantil, a ansiedade dos educadores em oferecer aos alunos a base para que não tenham dificuldades para aprender a ler, escrever e contar no ingresso do Ensino Fundamental. Preocupação natural e saudável, mas que precisa ser coerente com as descobertas sobre o desenvolvimento infantil. O treino de habilidades motoras foi, durante muito tempo, usado como forma de facilitar o aprendizado da leitura e da escrita; já que uma das principais características do ser humano é a adaptação, esse acaba por parecer um caminho frutuoso. Entretanto, as crianças que não construíram determinados conceitos na primeira infância não respondem bem ao treinamento de habilidades. A ideia de treinamento ganhou força teórica na década de 1970, com a concepção de privação cultural e com os programas compensatórios que foram criados a partir dela. 48 Saiba mais Privação Cultural: ideologia vinda dos Estados Unidos, que considerava a não adaptação dos alunos das classes pobres ao ensino escolar como consequência da falta de cultura, já que esses alunos não tinham acesso à cultura dominante. Esses exemplos são para nos fazer refletir sobre o que realmente precisamos trabalhar na Educação Infantil. Existem conceitos próprios das construções cognitivas dessa faixa etária, não precisamos querer repetir o que será feito no Ensino Fundamental, buscando antecipar conteúdos que serão próprios das etapas posteriores. Quando os educadores ficam presos aos conteúdos do Ensino Fundamental, sem conhecê-los profundamente, não compreendem os reais alicerces que esses conhecimentos exigem. Como exemplos do questionamento às ideias que conduziram para o treinamento de habilidades, podemos destacar que a coordenação motora fina sempre foi a grande vilã. Entretanto, como uma criança capaz de confeccionar uma pipa, tarefa que exige grande habilidade motora fina, não tem a tão sonhada coordenação motora fina para a escrita? Porque o ato de escrever está muito além da simples habilidade motora. Muitos aspectos estão relacionados com esse aprendizado, principalmente a simbolização. Portanto, restringir a aprendizagem da leitura e da escrita à coordenação motora fina é esvaziar a linguagem escrita. Da mesma forma, como uma criança capaz de lidar com o dinheiro, fazendo compras e recebendo o troco, pode não ter raciocínio matemático? Ela não está conseguindo compreender a simbolização necessária para registrar graficamente as contas que realiza mentalmente, mas já construiu o raciocínio matemático. Importante Para aprofundar essa reflexão, vamos continuar com o exemplo da construção da coordenação motora fina, que precisa ser explorada, e bem explorada, na Educação Infantil, porém a construção desse aspecto psicomotor passa pela exploração constante de todos os aspectos psicomotores, ou seja, do corpo em movimento. 49 Os pontos abaixo são conteúdos da Educação Infantil e precisam ser trabalhados para que a organização do espaço gráfico seja bem construída: As imagens a seguir ilustram, na prática, o trabalho desses conteúdos: Explorar esses aspectos psicomotores não significa estimular a repetição mecânica em jogos de competição, muito pelo contrário, é necessário buscar o jogo corporal no qual será valorizada a qualidade do movimento e a expressão corporal. Portanto, o que importa é a expressão de sentimentos: medo, inveja, raiva, paixão, alegria, tristeza; o uso da força, da intensidade e da destreza, investindo no desenvolvimento da personalidade, das habilidades, do potencial criativo, da função lúdica, no uso desse corpo como instrumento de comunicação com o mundo exterior. Experimentar variações de tônus Equilíbrio Movimentos amplos e finos Organização temporal e espacial Organização temporal e espacial Descoberta das dominâncias laterais Lateralidade Percepções 50 Pensando a expressividade infantil como material a ser explorado pelos educadores nas salas de aula, é fundamental considerar a arte como uma possibilidade expressiva, na qual a criança comunica suas elaborações de sensações, sentimentos e percepções. Assim como a expressão corporal, a arte é uma linguagem privilegiada na infância e que precisa ser vivenciada na escola. Considerar a criança enquanto sujeito sócio-histórico implica considerá-la ativa em seu processo de construção do conhecimento. Desde o ventre da mãe essa criança é falada, um lugar no mundo a espera ao nascer, seus pais lhe dão um nome e cuidam dela de acordo com a cultura na qual estão inseridos. Essa criança vai sendo produzida pela cultura, vai recebendo informações de comportamentos e valores próprios de cada grupo social, ao mesmo tempo que interage constantemente com esses grupos, retornando ao mundo exterior suas impressões. Nesse contexto é que se considera que a criança chega à escola trazendo uma bagagem cultural que será ampliada em uma permanente troca com o meio que a cerca, produzindo cultura desde a mais tenra infância. Assim, o ato criador necessita de exploração constante do ambiente para enriquecimento da bagagem cultural do sujeito. Cada atividade oferecida à criança é tomada por ela como possibilidade de descoberta, e esse movimento a leva a registrar de forma representativa o que vivencia. Ouvir histórias é uma das principais atividades para estimular a imaginação. A expressão infantil é, pois, a mobilização para o exterior de manifesta- ções interiorizadas e que formam um repertório constituído de elemen- tos cognitivos e afetivos. Assim, desde bem pequenas as crianças vão desenvolvendo uma linguagem própria, traduzida em imagens em sig- nos e símbolos carregados de significação subjetiva e social, como, por exemplo, os rabiscos das pequeninas que são extensões de seus gestos primordiais. Esta dimensão particularíssima da linguagem da criança é que a faz reconhecida e respeitada. (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 86) 51 Leia o fragmento a seguir: “[...] a prática artística é vivenciada pelas crianças pequenas como uma atividade lúdica, onde ‘o fazer’ se identifica com ‘o brincar’, o imaginar com a experiência da linguagem ou da representação” (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 123). Será suficiente oferecer para a criança giz de cera todos os dias para colorir um desenho já impresso ou para desenhar livremente? Ela estará experimentando todas as possibilidades de representação artística dessa forma? Para refletir MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre a brincadeira na Educação Infantil. 52 A ludicidade como eixo central da ação com a criança de 0 a 5 anos Parece um tanto óbvio pensar que o trabalho com crianças de zero a cinco anos deve ter como eixo o brincar. Por que, então, não é dado ao brincar o seu verdadeiro lugar na Educação Infantil? Muitos professores ficam preocupados em trabalhar conteúdos próprios do Ensino Fundamental, querendo garantir o aprendizado da leitura e da escrita, porém acabam esquecendo que existem conteúdos próprios para a Educação Infantil que estão de acordo com o desenvolvimento da criança. Esses conteúdos trabalharão os conceitos necessários para que a criança construa de forma saudável seu conhecimento. Entretanto, o mais importante não são os conteúdos, mas a forma como a criança aprende. Até os cinco anos de idade, seu aprendizado se dá por meio da brincadeira, é na brincadeira que a criança aprende o sentido das coisas dando significado a elas. É o momento auge para a apreensão de signos sociais e culturais. Tirar o tempo e espaço da brincadeira da Educação Infantil é estabelecer uma barreira na comunicação com a criança, é impedir que ela construa seu conhecimento. A sala de aula da Educação Infantil é espaço de brincadeira, é na atividade lúdica que a criança aprende! 53 A autonomia, a criatividade e a imaginação são vivenciadas com intensidade no ato de brincar, nele são desenvolvidosos sentimentos, as percepções e as fantasias das crianças. Brincar na infância é o meio pelo qual a criança vai organizando suas experiências, descobrindo e recriando seus pensamentos e sentimentos a respeito do mundo, das coisas e das pessoas com as quais convive. Por isso, quanto mais intensa e variável for a brincadeira e o jogo, mais elementos oferecem para o desenvolvimento mental e emocional infan- til. (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 123) A ação de brincar, para Vygotsky (2002), “[...] cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança”. Ao imitar as ações do adulto a criança parece mais velha e até fala algumas palavras ou expressões que não usaria em seu dia a dia. Saiba mais Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) Conceito cunhado por Vygotsky, em que este determina que, no processo de aprendizagem do sujeito, existe um Nível de Desenvolvimento Real (NDR), aquilo que o sujeito já sabe fazer sozinho, e um Nível de Desenvolvimento Potencial (NDP), aquilo que o sujeito ainda não consegue fazer sozinho, mas com ajuda. Essa ajuda acontece justamente na ZDP, a mediação possibilita o alcance do Nível de Desenvolvimento Potencial. Para aprofundar esse conceito, leia o Capítulo 6, Interação entre aprendizado e desenvolvimento (p. 103-119), do livro A formação social da mente (VYGOTSKY, 2002), indicado nas referências. NDR NDP ZDP 54 Observe a imagem a seguir: Preciso ir buscar minha filha na escola! Será nessa clássica brincadeira de imitação da mãe que a menina vai descobrindo as funções sociais de mãe e mulher. Tratando a questão da brincadeira pelo viés da mediação na ZDP, amplia-se a importância de favorecer momentos de brincadeira. Assim, surge mais um questionamento, sobre o qual precisamos refletir: Que tipos de brincadeiras devo propiciar ao meu aluno, orientadas ou livres? Para refletir Durante muito tempo, acreditou-se que a brincadeira livre na escola só poderia acontecer em momentos de recreação no pátio ou para passar o tempo. Ainda hoje, quando uma professora é vista brincando com os seus alunos, costuma ser criticada, considera-se que não tem conteúdo para trabalhar com os seus alunos e que por isso está brincando. 55 Você pode saber mais sobre a importância da brincadeira na infância no texto: PORTO, C. L. Brinquedo e brincadeira na brinquedoteca. In: KRAMER, S.; LEITE, M. I. (org.). Infância e produção cultural. 8. ed. Campinas: Papirus, 2015. Dica Observe a imagem a seguir: Na brincadeira livre, não é o adulto quem traz a proposta, a criação das regras da brincadeira fica por conta das próprias crianças, o adulto precisa assumir uma postura de disponibilidade para ser incluído na brincadeira, deixando-se conduzir. A ação educativa estará nas contribuições que o educador dará para a brincadeira. No exemplo acima, essa contribuição está na pergunta: “Tem de hortelã?”. Dessa forma, a professora mostra aos alunos que existem vários tipos de chá. Parece algo muito simples, mas será nessa simplicidade que a criança vai ampliar suas relações com o mundo. Exatamente esse estigma é que precisa ser quebrado. Se todos os professores brincassem mais com os seus alunos, menos dificuldades enfrentariam na sua escolaridade. Você quer mais chá? Sim, por favor! Tem de hortelã? 56 A intencionalidade na ação com a criança, tendo plena consciência do momento de aprendizagem de seus alunos, é que propiciará a estes um momento rico em trocas na brincadeira. As atividades orientadas e os jogos com regras precisam ser intercalados com as brincadeiras livres. Cada tipo de proposta tem sua importância, a criança precisa experimentar as mais variadas formas de brincar para elaborar cada vez mais hipóteses sobre o mundo que a rodeia. Importante MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 2 e veja o conteúdo complementar indicado pelo professor sobre brincadeira e desenvolvimento cognitivo. 57 NA PRÁTICA Será que, de uma maneira geral, nossas escolas ainda estão aprisionadas a uma visão que relaciona movimento à bagun- ça, à confusão, à dispersão? (TIRIBA, 2001, p. 19) Lívia é professora de uma turma de Educação Infantil, suas crianças têm 5 anos. Para trabalhar o projeto sobre animais, propôs um trabalho diversificado na sua sala de aula. Dividiu a turma em três grupos: • Pintura livre sobre seu animal preferido. • Manuseio de livros sobre o tema, escolhendo um para desenhar livremente. • Jogo sobre animais: sorteia uma imagem e imita para os colegas adivinharem. A prática pedagógica de Lívia não tem sido bem vista por alguns professores da escola, que consideram que ela não controla o seu grupo de crianças. Entretanto, de acordo com Léa Tiriba (2001), no trecho acima, podemos considerar que Lívia não está preocupada em treinar movimentos nem em controlar os corpos das crianças. Em sua proposta, a professora permite a livre expressão motora de seus alunos, mediando as situações de aprendizagem. 58 Resumo da Unidade 2 Nesta unidade, procuramos construir quem é o sujeito aprendiz da Educação Infantil, delineando suas especificidades. Inicialmente, você estudou os aspectos fundantes da Educação Infantil: a constituição da identidade, a partir da diferenciação no grupo; e os processos de construção da sexualidade e da linguagem, que são constituintes do ser humano e que se edificam concomitantemente com a identidade, em uma relação de reciprocidade constante. Em seguida, aprendeu a expressividade infantil, nas duas for- mas essenciais de comunicação da criança: a corporeidade e as artes, que precisam ser exploradas exaustivamente pelos educadores. Por último, estudou, com mais detalhes, a brincadeira, de forma a reconhecer a importância desta como principal veículo de ação com a criança, portanto crucial no planejamento do professor. E viu que é necessário ter espaço no plano de aula para o brincar, tanto livre quanto orientado. CONCEITO Alguns conceitos importantes abordados nesta unidade foram: identidade, linguagem e sexualidade; expressividade infantil: corpo e artes; ludicidade e produção cultural; brincadeira e aprendizagem. 59 Referências BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Brasília: MEC/SEF, 1998a. v. 1. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_ vol1.pdf. Acesso em: 15 maio 2016. . Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Brasília: MEC/SEF, 1998b. v. 2. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2. pdf. Acesso em: 15 maio 2016. . Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da edu- cação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http:// planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.html. Acesso em: 15 maio 2016. CORSINO, P. (org.). Linguagens e sentidos. Salto para o Futuro. Brasília, ago. 2001. 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Curitiba: Intersa- beres, 2013. (Série Pesquisa e Prática Profissional em Pedagogia). TIRIBA, L. (org.). O corpo na escola. Salto para o Futuro. Brasília, ano 18, 4 abr. 2001. Disponível em: https://cdnbi.tvescola.org.br/contents/document/publicationsSeries/ 181924Corponaescola.pdf. Acesso em: 5 nov. 2018. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psico- lógicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. WALLON. H. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Estampa, 1975. https://cdnbi.tvescola.org.br/contents/document/publicationsSeries/181924Corponaescola.pdf https://cdnbi.tvescola.org.br/contents/document/publicationsSeries/181924Corponaescola.pdf Cotidiano da educação infantil UNIDADE 3 62 Esta unidade pretende atrelar o planejamento e a avaliação com a singularidade da Educação Infantil. Assim, os objetivos da unidade voltam-se para a organização do espaço, do tempo e da aprendizagem de acordo com as necessidades dessa etapa de ensino, de forma a propor a elaboração de propostas viáveis, possíveis de serem postas em prática de modo eficaz e coerente. INTRODUÇÃO OBJETIVO Nesta unidade, você será capaz de: • Operacionalizar o trabalho pedagógico de acordo com a singularidade da Educação Infantil. 63 Currículo, planejamento e projeto político- pedagógico – PPP Nesta primeira aula, vamos refletir sobre o Planejamento, aspecto fundamental do trabalho do professor, que indica a intencionalidade de sua ação, nas relações que estabelece com o Currículo e com o PPP. Vários aspectos precisam ser considerados ao realizar um planejamento, dentre eles, podemos destacar a adequação aos documentos oficiais que regem a educação brasileira. A Nova LDB (Lei nº 9.394/1996), atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seus princípios, norteia a importância da construção de um PPP de forma democrática, que contemple as metas e os meios pelos quais a escola pretenda conduzir seus trabalhos. Considerando que o PPP é a primeira etapa de planejamento da escola, iniciamos com uma questão: Você sabe como a construção do PPP influencia o currículo da escola? Considerando que toda proposta pedagógica expressa um projeto político e cultural, a partir de uma abordagem crítica da cultura com Sonia Kramer (1997), vários aspectos precisam ser considerados ao se construir o PPP, inclusive uma nova relação com os conteúdos precisa ser estabelecida. No Brasil, temos documentos oficiais, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI, 2010) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), que orientam sobre: • Os conteúdos básicos a serem trabalhados em cada etapa do ensino. • A forma como esses conteúdos serão trabalhados. • Como serão interligados dependerá da proposta pedagógica de cada escola. Essa contextualização precisa contemplar uma série de variáveis específicas de cada realidade escolar, além da realidade social, cultural e histórica de cada sociedade na qual a instituição esteja inserida. Um fator que tem influenciado bastante as construções de propostas pedagógicas escolares é a nova relação do sujeito com o conhecimento na contemporaneidade. 64 Atualmente, o sujeito não precisa da escola para ter acesso às informações; a web é muito mais eficiente. Ao mesmo tempo, esse mesmo sujeito é bombardeado por uma quantidade infinita de informações de forma extremamente superficial, muitas vezes sem condições de discernimento sobre o uso delas. Nesse ponto, a função da escola se reconstrói, deixando o lugar de transmissão para ocupar o lugar de construção conjunta, na mediação entre o aluno e o conhecimento. Como uma das etapas da Educação Básica, a Educação Infantil faz parte de um todo, e seu trabalho precisa estar em sintonia com as outras etapas. Assim, sem perder suas peculiaridades, o planejamento da Educação Infantil deve estar adequado ao PPP da escola. A origem da Educação Infantil como um auxílio à família no cuidado e na educação das crianças permite uma maior flexibilidade ao pensarmos o currículo. Entretanto, as concepções compensatórias da década de 1970 quase minaram essa flexibilidade, transformando esse nível de ensino em uma preparação para o Ensino Fundamental. Saiba mais Concepções compensatórias da década de 1970: baseadas na ideologia da privação cultural, na qual as dificuldades dos alunos eram justificadas pela “falta de cultura” das crianças que precisavam ser compensadas pela antecipação dos conteúdos. 65 Observe a tirinha abaixo: Fonte: inovareduca.blogspot.com Ainda hoje, percebemos, em alguns educadores, alunos e familiares, a ideia trazida por Mafalda na tirinha: a escola responsável por transmitir saberes que serão absorvidos pela criança de acordo com a capacidade dela de recebê-los. Por que repensar o currículo na Educação Infantil de acordo com a sua identidade enquanto etapa de ensino, sem estar vinculada ao Ensino Fundamental como etapa preparatória? A Educação Infantil é o segmento com maior liberdade para pensar um currículo diferenciado, pois toda a construção que tem sido proposta nos documentos oficiais para esse segmento contempla uma proposta de integração entre conteúdos de áreas diversas. Dessa forma, a partir da compreensão das características da infância, pode- se repensar o processo educativo mais adequado para as crianças dessa faixa etária, trazendo os conteúdos relevantes de acordo com cada PPP. Embasando essa discussão, a nova LDB nº 9.394/1996 propõe o desenvolvimento integral como finalidade da Educação Infantil. Leia o trecho da nova LDB a seguir: Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) http:// http://inovareduca.blogspot.com/2012/06/avaliacao-da-aprendizagem-aprender.html#.W-3mwThKjIU 66 O PPP precisa ser pensado em conjunto com todos os atores envolvidos na comunidade escolar: pais e responsáveis; professores; funcionários; alunos. É importante que o Projeto contemple todos os pontos de vista refletidos em uma decisão comum. Será a partir do envolvimento de todos que cada um poderá tomar para si a responsabilidade pelo alcance dos objetivos ali estabelecidos. Da mesma forma, o planejamento da Educação Infantil, enquanto segmento escolar, precisará refletir o que foi pensado como meta no PPP. anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, comple- mentando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996, grifo nosso) A partir dessa proposta mais abrangente, os conteúdos selecionados não precisam estar ligados somente ao aspecto cognitivo, sendo essencial que contemplem os demais aspectos do desenvolvimento infantil. Assim, nesse nível de ensino, os conteúdos “[...] abrangem, para além de fatos, conceitos e princípios, também os conhecimentos relacionados a procedimentos, atitudes, valores e normas como objetos de aprendizagem” (BRASIL, 1998a, p. 49). O RCNEI (BRASIL, 1998), primeiro documento oriundo do MEC que orienta a construção curricular de forma nacional para esse nível de ensino, defende os conteúdos como instrumentos pelos
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