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UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO Lynda Wayne do Nascimento Magalhães Márcia Martins de Oliveira Tamara Siqueira Tavares de Góes A IMPORTÂNCIA DE JOGOS, CONTOS E BRINCADEIRAS PARA ALFABETIZAR, LETRAR E CONTAR Apresentação do Projeto Integrador – vídeo: https://youtu.be/FiPTow00NhQ Cabreúva – SP 2019 https://youtu.be/FiPTow00NhQ UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO A IMPORTÂNCIA DE JOGOS, CONTOS E BRINCADEIRAS PARA ALFABETIZAR, LETRAR E CONTAR COMO EXPLORAR O UNIVERSO LÚDICO PARA ENSINAR Relatório Técnico - Científico apresentado na disciplina de Projeto Integrador para o curso de Licenciatura em Pedagogia da Fundação Universidade Virtual do Estado de São Paulo – UNIVESP Tutor: Thiago Figueira Boim Cabreúva – SP 2019 MAGALHÃES, Lynda Wayne do Nascimento; OLIVEIRA, Márcia Martins de; DURÃES, GÓES, Tamara Siqueira Tavares de. A importância de Jogos, contos e brincadeiras para alfabetizar, letrar e contar – COMO EXPLORAR O UNIVERSO LÚDICO PARA ENSINAR. Relatório Técnico-Científico (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Tutor: Thiago Figueira Boim. Polo Cabreúva-SP, 2019 RESUMO O presente trabalho tem por finalidade abordar a importância da ludicidade na educação infantil, os estudos destacam a influência do brincar e como a ação lúdica estimula a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo das crianças. Visa também identificar e especificar as definições de infância, o desenvolvimento infantil em si, analisar os referenciais e as diretrizes nacionais voltadas para essa fase, brincadeiras, jogos e contos. As referências teóricas feitas neste trabalho foram precedentes para os resultados obtidos. Buscamos conceitos em torno do brincar que justificasse sua importância para as crianças no seu desenvolvimento, levando-as a se aprimorar diversas capacidades do âmbito cognitivo, motor, emocional e social, bem como se apropriar da linguagem, da contação e da língua escrita através de brincadeiras utilizadas com intencionalidade pedagógica. E por fim, as ações lúdicas empregadas como finalidade do processo de construção desses conhecimentos. PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil; Desenvolvimento; Ludicidade; Linguagem; Alfabetização; MAGALHÃES, Lynda Wayne do Nascimento; OLIVEIRA, Márcia Martins de; GÓES, Tamara Siqueira Tavares de. A importância de Jogos, contos e brincadeiras para alfabetizar, letrar e contar – COMO EXPLORAR O UNIVERSO LÚDICO PARA ENSINAR. Relatório Técnico-Científico (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Tutor: Thiago Figueira Boim. Polo Cabreúva-SP, 2019 ABSTRACT The purpose of this work is to address the importance of playfulness in early childhood education, studies highlight the influence of play and how the playful action stimulates the learning and cognitive development of children. It also seeks to identify and specify the definitions of childhood, and how they develop, analyze the referential and national guidelines which determine the use of play, games, and children's storytelling during this school phase.The theoretical references made in this work were precedents for the results obtained. We seek concepts about play that justify their importance to the child during their development process, leading them to improve various capacities of the cognitive, motor, emotional and social scope, as well as appropriating the language, of the contation and written language through pranks used with pedagogical intentionality. Finally, the ludic actions employed as the purpose of the process of constructing this knowledge. KEYWORDS: Early childhood education; Development; Playfulness; Language; Lista de Figuras Figura 01 – Crachás com nomes.................................................42 Figura 02 – Brincadeira Montada.................................................42 Figura 03 - Brincadeira Montada..................................................42 Figura 04 - Brincadeira Montada..................................................42 Figura 05 – Modelo da Atividade Escrita......................................43 Figura 06 – Atividade Alice...........................................................44 Figura 07 – Atividade Arthur.........................................................45 Figura 08 – Atividade Davi...........................................................46 Figura 09 – Atividade Letícia........................................................47 Figura 10 – Atividade Lívia...........................................................48 Figura 11 – Atividade Maria Clara................................................49 Figura 12 – Atividade Melissa......................................................50 Figura 13 – Atividade Miguel........................................................51 Figura 14 – Atividade Murilo.........................................................52 Figura 15 – Atividade Olívia..........................................................53 Figura 16 – Atividade Stella..........................................................54 Figura 17 – Atividade Thales........................................................55 Figura 18 – Atividade Theodoro....................................................56 Sumário INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: CONCEITO DE INFÂNCIA .......................... 8 1.1– Infância na atualidade ................................................................................ 11 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: OS TEÓRICOS DA INFÂNCIA ........... 12 3 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: LEGISLAÇÃO E DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO INFANTIL ....................................................................................... 18 3.1 – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) ....... 20 3.2- Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) ..... 21 4 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: RESPONSABILIDADE DOCENTE NA PRIMEIRA INFÂNCIA .......................................................................................... 22 4.1 – A importância da Formação Docente ...................................................... 24 5 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO AMBIENTE ESCOLAR: Só brincadeiras? ......................................................... 25 5.1 – Desenvolvimento Infantil: Cognição, Afeto, Gestos .............................. 29 6 – ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ............................................................ 35 6.1 - Uma breve reflexão sobre alfabetização do Brasil .................................. 35 6.2 - Diferentes Linguagens ............................................................................... 36 6.3 - A comparação de linguagem entre Piaget e Vigotsky ............................ 37 6.4 - Brincadeiras ............................................................................................... 38 6.5 - Desenhos .................................................................................................... 38 6.6 - Escrita ......................................................................................................... 39 6.7 - Implicações Pedagógicas .......................................................................... 40 7 - APLICAÇÃO DAS DISCIPLINAS ESTUDADAS: PROPOSTA PEDAGÓGICA DE BRINCAR ....................................................................................................... 41 MATERIAIS E MÉTODOS DE PESQUISA .......................................................... 57 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA:..................................... 61 7 INTRODUÇÃO A intenção deste trabalho, é iniciar nossos conhecimentos práticos docentes, acerca de um dos primeiros aspectos que tange à educação, que trata do ingresso da criança na Educação Infantil, à partir da ideia de que a primeira sociedade a qual a criança está inserida é a família e a segunda, a que se tornará porta para o mundo, é a escola; Juntamente a essa nova relação, nos é mister abordar a definição de infância, o desenvolvimento nessa fase: cognitivos, motor/sensoriais, emocionais e afetivos e sócio-interacionais e quais são os seus impactos na sociedade, através da interação escolar. Ainda na trilha da infância discorreremos sobre a importância da ludicidade - do brincar e da brincadeira - no desenvolvimento das relações, na observação e aplicação de brincadeiras com esse enfoque. PROBLEMA: Como explorar o universo lúdico no ambiente escolar, para estabelecer uma relação entre sentido e ensino-aprendizagem para o desenvolvimento infantil, através das brincadeiras? Esse trabalho visa identificar, através dos conteúdos e disciplinas desse semestre, como os professores da Educação Infantil, podem se instrumentalizar de teorias, técnicas e práxis de sucesso, para que se estabeleça uma relação afetiva, acolhedora e educativa com as crianças e suas famílias na primeira experiência escolar dos pequeninos, utilizando o cuidar e o brincar com intencionalidade pedagógica a fim de se obter sucesso no desenvolvimento humano dessa fase. OBJETIVO: O objetivo do presente trabalho foi inicialmente observar crianças até 6 anos e, considerar práticas de convívio social, a afetividade, o brincar, o cuidar e o educar e entender “como eles aprendem”, nos seguintes aspectos: - Relembrar a definição de infância; - Relembrar o conceito de Desenvolvimento Infantil em seus desdobramentos: 8 Cognitivo, Motor, Sensorial, Emocional, Afetivo e Social; - Relembrar legislação e diretrizes voltadas à Educação Infantil; - Articular a importância e a responsabilidade docente na Educação Infantil e seu impacto na sociedade; - Vincular a ludicidade de brincar e cantar no auxílio para ensinar; - Propor jogo que estimule a criança a aprender a ler, escrever e contar e desenvolver um senso crítico, ou seja, pensar sobre o que estão fazendo. JUSTIFICATIVA: Na vida agitada da atualidade, com pais ou responsáveis legais trabalhadores em tempo integral, as crianças passam no mínimo 5 horas na escola em companhia dos professores, tornando imperioso ajustar assim a lente do olhar desse profissional de forma mais atenta e contínua, sobre o comportamento, desenvolvimento e evolução infantil que lhe seja característico à idade. Em muitos casos, devido essa longa permanência da criança na escola, acabam sendo os professores, a mais valiosa referência na construção humana desses indivíduos. A partir de um currículo reelaborado, ou melhor, adaptado, o professor poderá calcar muitas das propostas pedagógicas focadas ao tema das relações humanas, de empatia e respeito, priorizando a boa convivência e o respeito mútuos, através da linguagem lúdica e subjetiva. 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: CONCEITO DE INFÂNCIA Ao considerar infância e o lugar social que a criança ocupa na sociedade é importante analisar as diferentes mudanças que ocorreram e destacar que a visão de criança é algo que foi historicamente construído ao longo dos anos. Cada época irá proferir um discurso e defender seus ideais e expectativas em relação às crianças. A intenção, então, é revelar as transformações do sentimento de infância presente em determinados momentos da história, para, a partir do conceito 9 histórico, analisar a experiência da criança em seus contatos iniciais com o mundo contemporâneo que a influência. Segundo Neto e Silva (2007) a palavra infância refere-se a Enfant o qual significa "aquele que não fala", nesse processo de construção da infância na sociedade, notamos que a figura da criança era vista como aquele que não tem um espaço na sociedade, sem valor e sendo moldado pelo adulto de acordo com suas determinações. Ainda nesse contexto observamos que segundo Paula (2005) antes "a criança inexistia ou ficava adstrita a escassos momentos". (p.1). Não existia no sentido que a criança não era encarada como criança no modo como ela é hoje e até mesmo sendo isolada do meio em que vivia. Ariès (1979) fala que "na sociedade medieval a criança a partir do momento em que passava a agir sem solicitude de sua mãe, ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes". (p.156). Ou seja, as crianças eram tratadas como adultos em tamanho menor e até mesmo não havia acomodação ou vestimenta especial para elas. Uma outra característica é que na sociedade europeia medieval as crianças não eram retratadas em quadros e quando isso ocorriam elas estavam representadas em roupas semelhantes de adultos. Não existia uma definição clara entre o que era adequado para crianças e o que seria específico para vivência dos adultos. A ausência de privacidade e de segredos faziam com que as crianças participassem da vida como se fossem adultos. Essa falta de consciência da Idade Média é descrita por Ariès: Na sociedade medieval o sentimento de infância, não existia – o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde a consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia (ARIÈS, 1979 p. 156). A concepção de infância tem uma estreita ligação com à cultura e a sociedade que vivemos, sendo assim, Ariès (1979) diz que "a 'aparição' da infância se dá a partir do século XVI e XVII na Europa, quando o mercantilismo, altera o sentimento e as relações frente à infância, modificado conforme a própria estrutura social". (p.14). Uma vez que há transformações na estrutura social começa a se 10 mudar também o conceito de infância, e a própria percepção da família; porque até então não se sabia o que representava ser criança. Com o passar do tempo e em cada época se criava um sentimento, um modo de perceber a infância, e foi o que ocorreu ao fim da Idade Média e após, uma busca para entender quem era a criança, e em que lugar colocá-la na sociedade. Em épocas mais atuais observamos um reconhecimento que segundo Paula: Com o estabelecimento de uma nova ordem política, social e econômica, impulsionada por diversos fatores, dentre os quais o capitalismo industrial, o neoliberalismo e suas consequências (migrações, surgimento da família nuclear e burguesa, adstrição da criança à família e ideia de escola), ocorreram transformações que influenciaram a organização da estrutura familiar e, consequentemente a vida das crianças. (Paula, 2005 p.1). A criança é vista como um sujeito despreparado para tal sociedade, e desta forma surge a questão de escolarizar as crianças, prepará-la para o futuro. Aos poucos cresce o pensamento de como inserir as crianças nessa mudança social. Em consequência no século XVIII começaram a serem reconhecidas em suas particularidades, obtendo determinações específica e adequada para idade, ocupando assim um espaço maior. Portanto a concepção de infância muda conforme a sociedade passa a ver a criança como indivíduo que pertence ao meio social, inserido em sua cultura com o seu próprio modo de entender o mundo. Nascia assim a concepção de infância. No decorrer dos anos vemos que houve uma variação da percepção de infância e para Fernandes e Kuhlmann Júnior (2004) “a infância seria um conceito, umarepresentação, um tipo ideal a caracterizar elementos comuns a diferentes crianças” (p. 28). Para os Referenciais curriculares (1998) "a concepção de criança é uma noção historicamente construída e consequentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época". (p.21). Sendo assim, a infância muda com o tempo e com as transformações dos diferentes contextos sociais, porém, nos resta ainda saber, o que seria infância nos tempos contemporâneos? 11 1.1– Infância na atualidade Desde 1959, a ONU (Organização Das Nações Unidas), aprovou a "Declaração Universal dos Direitos Da Criança" que visa incluir os direitos a igualdade, alimentação e escolaridade gratuita para todos, ou seja, com isso a criança passou a ocupar seu lugar na sociedade. Mas se analisarmos essa questão, ainda há muitas crianças fora da escola, principalmente as que vivem em classes mais pobres, pois, infelizmente muitas delas ajudam no sustento da família, deixando assim de lado sua educação. Quando falamos sobre o conceito de infância na atualidade, podemos destacar que a globalização trouxe várias mudanças graduais, ou seja, aos poucos brinquedos como: carrinhos ou bonecas ficaram mais acessíveis, mas com o tempo foram deixados de lado, dando espaço para os aparelhos eletrônicos e em seguida a internet. Podemos destacar que em nosso país a influência da mídia está cada vez mais poderosa, em virtude do sistema precário da educação, pois ao invés de ajudar no ensino, ela garante a distração das crianças, possibilitando-as a obter acesso ao que quiserem. Observa-se que as crianças de hoje passam a se comportar e se vestir de modo adulto, assim como eram as do século XVIII, por isso os pais devem se atentar a isso, não deixando que seus filhos percam a infância. É claro que hoje a tecnologia ajuda de um modo geral, porém deve se tomar muito cuidado com isso, pois tanto pode ser bom, como também trazer o mal para uma família, se não souberem fazer uso de um modo correto. A escola como intermédio família-criança tem um papel fundamental na valorização da infância, pois sabe-se que é direito de toda criança aprender e ela tem como principal papel educar e ajudar na inserção do cidadão na sociedade. Ou seja, a educação para as crianças deve promover a integração entre os diversos aspectos que as norteiam, como o aspecto físico, emocional, cognitivo, entre outros. 12 A partir do momento em que a escola passa a proporcionar um trabalho onde a criança tem seu espaço, participa das atividades escolares fazendo escolhas, ela passa a proporcionar que esta se torne criadora de uma cultura própria. Nesta perspectiva, a escola passa a ressignificar seu trabalho, e isto ao estabelecer que este tenha a opinião delas, e a visão de mundo que elas têm em sua “interpretação infantil”. Este é um trabalho que, como diz Jobim e Souza (1994) et al. Andrade (2007), “faz-se uma ruptura com a representação desqualificadora de que a criança é alguém incompleto, alguém que constitui em um vir a ser no futuro”. Pois segundo estes autores ressaltam “a criança não se constitui no amanhã; ela é hoje, no seu presente, um ser que participa da construção da história e da cultura de seu tempo”. (p.4). Portanto, a educação da criança, pode ser destacada como um trabalho conjunto entre família-escola, pois é através dos dois que a criança formará base para o seu desenvolvimento. Ou seja, não basta somente a escola estar fazendo seu papel, se a família por outro lado não estar participando, devem ter sempre em mente de que todos têm o direito a educação e a criança desde bem cedo passa a aprender o que é ser cidadão e valorizar seu espaço na sociedade. 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: OS TEÓRICOS DA INFÂNCIA Destacamos aqui, alguns teóricos da infância, que defendiam a afetividade, o diálogo, a liberdade de desenvolvimento e expressão, os estímulos ao desenvolvimento dos sentidos, a educação transformadora, e a aprendizagem e desenvolvimento infantil. Aspectos os quais se cruzam com a intenção de abordar Educação Infantil, a ludicidade em forma de jogos, contos e cantos para estímulo à aprendizagem. João Amós Comênio (1592 – 1657), pai da didática moderna, destacam-se em sua época o respeito aos estágios da educação infantil no seu processo de 13 aprendizagem e construção do conhecimento através das experiências da observação e da ação, uma educação sem punição e sim diálogo. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), seguidor do protestantismo e das ideias de Rousseau. Antecipando as concepções da Escola Nova, Pestalozzi pregou que a função principal do ensino é levar as crianças a desenvolverem habilidades naturais e inatas. Considerou que o ato de educar “deveria ocorrer em um ambiente o mais natural possível, num clima de disciplina estrita, mas amorosa, e pôr em ação o que a criança já possui dentro de si, contribuindo para o desenvolvimento do caráter infantil”. Seu projeto educativo tinha também, a “intuição” como fundamento básico para se atingir o conhecimento. Assim sendo, sua educação se fundamenta na percepção, no desenvolvimento dos sentidos da criança e o ensino deveria priorizar a utilização de objetos, não de palavras. Friedrich Fröebel (1782 – 1852), educador alemão, considerado o primeiro educador a enfatizar o brinquedo, a atividade lúdica e o apreender do significado da família nas relações humanas. Sua teoria salientou a importância do desenho e das atividades que envolvessem movimentos e ritmos. Inspirado pelo amor as crianças e a natureza, sua ideia de atividade e liberdade reformularam a educação, embora seja conhecida apenas como fundador dos jardins da infância ou por sua metodologia de educação infantil. Apesar de ter trabalhado com Pestalozzi, de forma independente e crítica, formalizou seus próprios princípios educacionais enfocando o período da infância, insistindo para que as necessidades infantis fossem plenamente desenvolvidas. Ao abrir o primeiro jardim de infância, as crianças poderiam se expressar por meio de diferentes atividades envolvendo percepção sensorial, linguagem oral associada a natureza e à vida e dos brinquedos. Paralelamente dedicou-se a fundação de outros jardins, à formação de professores e elaboração de métodos e equipamentos pedagógicos. Henry Paul H. Wallon foi um filósofo, médico, psicólogo e político francês. ( 1879 - 1962, Paris) em sua concepção, toda atividade da criança é lúdica. Para a 14 criança de um ano o ato de andar é uma atividade-fim, que se exerce por si mesma, diferente do adulto que anda para algo. Este ato de andar, parar, cair, levantar, normal de uma criança desta idade, é uma atividade lúdica, criando a sua própria ludicidade sobre esta ação. Podemos dizer que toda a atividade motora é lúdica, pois a própria incontinência motora infantil transmite para nós adultos, uma certa alegria, bastando observar os gestos que as crianças fazem quando estão comendo, sendo gestos de expressão emocional: alegria, tristeza, excitação, etc. Cabe ao adulto respeitar a ludicidade da motricidade infantil. A ludicidade também está presente no uso da linguagem, marcado pelo ritmo e a rima, sendo um grande estímulo poético: “Na chácara do Chico Bolacha, o que se procura nunca acha.” Para Kishimoto (2000), a brincadeira passa por uma evolução interligada aos aspectos do desenvolvimento infantil. O recém-nascido brinca com suas possibilidades sensoriais nascentes; brinca de gorjear, de olhar; as suas reações não passam de brincadeiras funcionais, criando uma sensação agradável. A criança busca recuperar estas sensações, tornando-se intenção, criando um círculo intenção – ato – efeito. Este círculo gera grande importância na atividade livre, estimulando cada vez mais a criança em buscado novo. O mesmo processo lúdico se repete várias vezes no desenvolvimento infantil. O grafismo é outro exemplo do gesto em relação à intenção: “A criança de três a quatro anos dirá que ainda não sabe o que está desenhando, porque ainda não acabou... o gesto-prazer, lúdico, transforma-se em gesto-trabalho, meio para realizar um designo”. (Kishimoto, 2000 p. 116). Para Wallon, em educação é importante introduzir a cada nova atividade o lúdico, ou seja, a primeira etapa da atividade tem que ser em forma de brincadeira. Brincar livremente, manusear, antes de dar um caráter instrumental. Com a linguagem, ocorre o mesmo processo, utilizando a melodia. Brincar com linguagem, com o gesto, para posteriormente usá-los intencionalmente. 15 Entre um e três anos, a criança tem “fome de espaço explorável” para permitir os avanços da autonomia motora. Brincar de andar, pular, subir, descer, pôr, tirar, empilhar, derrubar, etc., não tendo limites para o espaço. É necessário educar a criança para brincar no espaço adequado, o “espaço brincável”. No estágio personalista, segundo a teoria de Wallon, a criança brinca de dançar, brinca de pintar, brinca de ouvir histórias sobre si mesma. Nesta fase, brincar se aproxima com fazer arte e, segundo Kishimoto (2000), reforça a ideia de arte como forma do adulto expressar o lúdico, mantendo a liberdade, antes reprimida. Educar, neste período é sugestivo, conciliar com a própria natureza artística como música, pintura, escultura, dança, poesia, narrativa, teatro, etc. Maria Montessori (1870 – 1952), médica psiquiatra iniciou seus estudos e trabalho com crianças com deficiência mental em uma clínica psiquiatra de Roma. Contrapondo-se aos métodos tradicionais que não respeitavam as necessidades e processo evolutivo do desenvolvimento da criança, a pedagogia montessoriana se insere no movimento Escola Nova, ocupando papel de destaque devido as técnicas aplicadas na educação infantil e primeiras séries do ensino formal. Montessori defendia que a função da educação é favorecer o progresso infantil de acordo com os aspectos biológicos de cada criança. Em sua concepção, como os estímulos externos formam o espírito infantil, eles precisam ser determinados. Dessa forma além de propor que, em sala de aula, a criança fosse livre para agir sobre os objetos sujeito a sua ação, desenvolveu jogos e outros materiais didáticos que passaram a ter um papel predominante no trabalho educativo. Esses materiais tinham a função de estimular e desenvolver a criança numa busca detalhada do conteúdo a ser trabalhado, prevendo exercícios destinados a evolução das diversas funções psicológicas. Criou instrumentos elaborados para educação motora, e para educação dos sentidos e da inteligência. Celestin Freinet (1896 – 1966), foi um dos educadores que renovou as práticas pedagógicas de seu tempo. Crítico da escola tradicional, não poupou a escola tradicional se mostrando contra o autoritarismo do sistema educacional 16 tradicional, expresso nas regras rígidas, no conteúdo arbitrário, fragmentado disfarçado em relação social e ao progresso da ciência. Sua corrente pedagógica partia do respeito mútuo entre professor e aluno, a ordem e a disciplina em sala de aula se estabeleciam naturalmente. Suas técnicas: “o jornal escolar, correspondência interescolar, desenho livre, a livre expressão, as aulas-passeio, o livro da vida”, têm como objetivo favorecer o desenvolvimento de métodos naturais da linguagem, da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais num contexto de atividades significativas. Desse modo, possibilita às crianças sentirem-se sujeitos do processo de aprendizagem e a partir do seu interesse estabelecer condições da apropriação do conhecimento. Jean Piaget (1896 – 1980), biólogo e psicólogo, foi o formulador da teoria do desenvolvimento da inteligência humana e é hoje considerado como o mais importante teórico da área cognitiva. Piaget não propôs um método de ensino, a partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos e de outras crianças, elaborou uma teoria do conhecimento e desenvolveu investigações cujos resultados são utilizados por psicólogos e pedagogos. Em suas pesquisas, concebeu a criança como ser dinâmico, que a todo o momento interage com a realidade, utilização de objetos e pessoas. Criador da “epistemologia genética”, Piaget mostra que todas as crianças passam por estágios estáveis de estruturação de pensamento, procurou investigar como se dava à construção do conhecimento no campo social, afetivo, fisiológico e cognitivo. Fazendo uma investigação em suas obras literárias constataremos que Piaget desenvolveu longos estudos e pesquisas nos mais diversos campos do saber, contribuindo com um valioso legado de informações e conhecimento a respeito da gênese e desenvolvimento e aprendizagem infantil. Lev Semenovich Vygotsky (1896 – 1934), habilitado em direito, filosofia, medicina e psicologia, foi professor de pedagogia. Vygotsky traz a ideia do ser 17 humano como “fruto” do contexto histórico e cita a pedagogia como sendo a ciência básica para o estudo do desenvolvimento humano por se tratar de uma síntese das disciplinas que estudam a criança integrando os aspectos biológico, psicológico e antropológico do desenvolvimento. É importante ressaltar que a principal preocupação de Vygotsky não foi elaborar uma teoria do desenvolvimento infantil, mas de compreender desenvolvimento psicológico do ser humano. Utilizando-se dos pressupostos elaborados por Marx e Engels, Vygotsky buscou compreender o homem sempre como agente produtor de conhecimento de acordo as interações sociais. Vygotsky destaca-se também pelas contribuições de sua teoria com relação ao desenvolvimento e aprendizagem do homem, ao apresentar as “zonas de desenvolvimento”. Para Vygotsky desenvolvimento e aprendizagem são processos interativos, ou seja, ao aprender em um contexto social específico o indivíduo está se desenvolvendo. Partindo dessa concepção ele afirma que “o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam” (VYGOTSKY, 2007, p. 100). Diante de tantos teóricos e suas contribuições no processo histórico e evolutivo da educação na infância, conclui-se que os estudos com relação à educação, metodologias, recursos didáticos e pedagógicos não se esgotam apenas nestes teóricos. Porém vale ressalta que cada um deles diante de seus estudos e pesquisas procurou compreender o período da infância e dar suas contribuições no campo da Educação Infantil. Paulo Freire (1921 – 1997), nasceu em Recife e faleceu em São Paulo. Foi um renomado educador brasileiro conhecido mundialmente pela visão que defendia uma educação de transformação, onde objetivo da escola é ensinar o aluno a ler o mundo. Também ficou conhecido pela alfabetização dos adultos, aplicado pela primeira vez na região de Angicos (RN) em 1963, onde uma região que era marcada por trabalhadores rurais, pedreiros, domestica, que acreditavam na importância de aprender a ler para “mudar a vida”. 18 Mikhail Mikhailovich Bakhtin; (1895 - 1975, Moscou) foi um filósofo e pensador russo, teórico da cultura européia e das artes. Dedicou a vida à definição de noções, conceitos e categorias de análise da linguagem. Uns dos aspectos inovadores por qual ficou conhecido, foi enxergar a linguagem como um constante processo de interação mediado pelo diálogo. "A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical, não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam", escreveu o filósofo. A linguagem só existe em função do uso (quem fala ou escreve) e de interlocutores(quem lê ou escuta) e fazem dela a comunicação. Nessa relação dialógica entre locutor e interlocutor no meio social, em que o verbal e o não-verbal influenciam de maneira determinante a construção dos enunciados, outro dado ganhou contornos de tese: a interação por meio da linguagem se dá num contexto em que todos participam em condição de igualdade. Aquele que enuncia seleciona palavras apropriadas para formular uma mensagem compreensível para seus destinatários. Por outro lado, o interlocutor interpreta e responde com postura ativa àquele enunciado, internamente (por meio de seus pensamentos) ou externamente (por meio de um novo enunciado oral ou escrito). 3 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: LEGISLAÇÃO E DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO INFANTIL A concepção educação infantil no Brasil teve suas mudanças baseadas na inserção social da criança no contexto político e econômico do país. Foi com esse intuito de atender essas crianças que apareceram os primeiros estabelecimentos nomeados de creches e pré-escolas com a intenção de atender as crianças pequenas de 0 a 5 anos, contudo essa nova concepção de educação infantil estava voltada ao assistencialismo, pois eram atendimento direcionado às famílias de baixa renda, ou seja, aos pais que não tinham com quem deixar seus filhos. 19 Essas instituições começaram a serem vista de forma discriminada pela sociedade, e acabaram se transformando em depósito de crianças. Cartaxo (2011, p. 37) elucida que a educação infantil é taxada como caráter assistencialista e que esse tipo de atendimento passa ser visto como um favor as famílias menos abastadas. Somente no fim da década de 90 com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990 e com as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), em 1996, é que as leis foram sendo revistas, juntamente com a elaboração de vários documentos é que a educação infantil passou a ser vista mais em caráter educacional e com isso houve mais qualidade no atendimento à criança. O direito a essa educação nas creches está prevista no inciso IV da CF/88 no artigo 2008, onde diz que: “ - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;”, porém é correto afirmar que infelizmente nem todos os pais que trabalham e necessitam desse apoio da escola pública conseguem uma vaga para seus filhos numa creche, mas é correto deixar claro que é um direito assegurado pela principal Lei do país que é Constituição Federal, a criança tem direito a educação desde seus primeiros anos de vida. Cartaxo (2011, p.47) destaca que tanto no campo de pesquisa como no legislativo a educação infantil passa a ser vista sob um novo prisma com a redemocratização e implementação de inovações políticas educacionais. A Constituição Federal de 1988 reconhece o direito da criança de ser atendida em creches e pré-escolas, mas enfatizando o atendimento para o campo educacional e não assistencialista, antes da CF/88 não havia nenhuma lei que assegurava o direito das crianças com menos de 7 anos a ter educação, nenhuma outra Constituição se preocupou com a importância da educação nos primeiros 6 anos de vida da criança, fase essa de importância para o desenvolvimento da inteligência e personalidade do indivíduo. No art.227, capitulo VII- Da Família, Da Criança, da Constituição Federal, encontramos a seguinte afirmação: É dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a 20 convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Brasil, 1988). O aprender a criança é uma experiência significativa que integra o que ela já conhece com o que é novo. Entendo que é uma construção social a qual envolve a criança como um todo, no contexto educativo. Isso fica claro na própria redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013 em seu Art. 29 onde diz que “ A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.” Com isso fica claro a importância da educação desde cedo e nessa fase que será estimulada boa parte da formação pessoal da criança, em convívio social, e as formas com que o professor, os pais, entre outros, vão abordar e incentivar no desenvolvimento da criança o aprender de uma forma sadia com brincadeiras transforma o jeito com que a criança irá se desenvolver. Portanto, ao relacionar-se com o adulto, a criança exerce variadas funções, tais como companheirismo, colaboração, mediação, intervenção, observação e tantas outras, tendo em vista o papel que o adulto tem no brincar. 3.1 – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) Com o passar do tempo o Brasil ganhou novos projetos relacionados a educação, saindo da vertente da Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases, chegando assim a ser criado documentos para atender a determinação do ministério da Educação, indo em valor ao que está mencionado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), cria-se a RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil). A RCNEI foi elaborada por vários profissionais especializados em crianças que buscaram por meio de vários debates, para criar um guia de cunho educacional para os professores e profissionais que atuam com crianças de zero a seis anos. 21 Essa proposta e considerado um avanço na educação infantil ao buscar soluções educativas para a superação, nas fases que se integra da creche e, a pré- escolas. O RCNEI é composto por três volumes, o primeiro trata da Introdução, trazendo reflexões sobre creches e pré-escolas, infância, educação e profissionalização, além do referencial teórico que sustenta a obra, o segundo volume trata da formação pessoal e social da criança diz respeito aos processos de construção da identidade e autonomia, e por fim o terceiro volume traz seis documentos, relacionado ao: movimento, música, artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e matemática. Esses volumes surgem para ajudar na construção de propostas educativas que respondam às demandas das crianças e seus familiares nas diferentes regiões do Brasil. 3.2- Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) As Diretrizes Curriculares Nacionais são um conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos na Educação Básica que servem para orientam as escolas na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas, tendo sua origem na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. Em 1998 e criado a DCNEI estabelece o que deve ser ensinado, e no ano de 2009 com a RESOLUÇÃO Nº 5, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009, ocorreu uma nítida mudança em relação a colocar a criança em foco e serviram como um uma fundamentação teórica para a base, esse documento traz a importância do aluno ter acesso ao conhecimento cultural, científico, e contato com a natureza, também e colocado em evidencia a importância da interação e na brincadeira como eixos estruturantes do currículo, além de considerar os princípios éticos, políticos e estéticos que deveriam nortear a produção do conhecimento nas escolas infantis, ajudando assim no desenvolvimento desde cedo das crianças para o convívio em sociedade. 22 Essa resolução deixa clara a importância que o aluno tenha acesso aos conhecimentos escolares, porém, preservando o modo de a criança aprender, deixando evidente a importância do cuidar e educar a maneira como isso será realizadopor parte dos profissionais da área. 4 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: RESPONSABILIDADE DOCENTE NA PRIMEIRA INFÂNCIA O ser humano é a única criatura que nasce com forte dependência do adulto em seus cuidados por mais tempo, na infância, do que às demais criaturas, devido à complexidade de seu desenvolvimento físico e cognitivo. O bebê quando nasce carece de cuidados extremos de alimentação, higiene, aquecimento, abrigo, mas acima de tudo acolhimento e carinho por parte de sua família. E essa necessidade segue ao longo de sua existência, analisaremos aqui o momento em que a criança sai de seu meio social primário, a família, para ingressar na sociedade de educação escolar. Os professores da creche e da educação infantil serão como uma extensão familiar, sendo esses tutores responsáveis por seus cuidados integrais, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade, na sua permanência na instituição escolar, pelo menos nos primeiros 5 anos. Tais cuidados, os chamados cuidados integrais, contemplam o cuidar e o educar, pois as crianças não possuem autonomia por um período de sua infância e é com o auxílio da escola que ela começa a ser desenvolvida. A escola nesse período infantil, de 0 a 5 anos, tem função de abrir as portas para a interação humana; e ao cuidar e educar a professora proporciona: interação entre as crianças e o objeto e entre as crianças com outras crianças e, através de situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada, contribui com o desenvolvimento delas. E para que os profissionais da educação – os professores - possam atuar de forma eficiente na pedagogia da infância, é mister que se preparem através de sólida formação inicial e de forma continuada buscando aperfeiçoar-se cada vez 23 mais, pois além de complexa a pedagogia da infância é dinâmica e mutável. O mundo muda e a pedagogia muda, acompanhando as tendências humanas e sociais. Vimos que grandes mudanças vêm ocorrendo ao longo da história da humanidade, o reconhecimento da infância e suas características e necessidades e o reconhecimento da criança como um ser social e de direito (sujeito de direito), dotando-a do amparo de ordenamentos legais e políticas públicas. Os professores de Educação Infantil são sujeitos essenciais para o desenvolvimento de uma educação de qualidade, aplicando seus conhecimentos para educar e cuidar. O cuidado e a educação estão intrinsecamente relacionados ao ser humano, à existência humana. A educação é um fenômeno próprio dos seres humanos e, como ação humana, é prática social, expressão de certa concepção, uma visão de mundo. Além do cuidar outra forma de ensinar as crianças é através das brincadeiras, pois é pela ludicidade que a criança consegue compreender o mundo que a cerca, pois se utilizadas com intencionalidade pedagógica abrirá as perspectivas: social, histórica e cultural. É pelo brincar que as crianças compreendem o mundo e conseguem se expressar. "Toda criança que brinca se comporta como um poeta, pelo fato de criar um mundo só seu, ou, mais exatamente, por transpor as coisas do mundo em que vive para um universo novo em acordo com suas conveniências." Sigmund Freud, 1973 O brincar e os jogos tem função séria na educação infantil, pois é através dela que a criança consegue organizar o caos de muitas informações recebidas ao mesmo tempo, é na brincadeira que ela organiza, classifica, reflete e imita, de maneira também subjetiva, como afirma Brougère, 1998. “... o jogo deixa menos marcas que a linguagem, e há os que pensam que ele só pode ser associado à subjetividade de um indivíduo que obedece ao princípio do prazer. Trata-se de fato de um ato social que produz uma cultura (um conjunto de significações) específica e, ao mesmo tempo, é produzido por uma cultura. “ No entanto a criança não nasce sabendo brincar, como afirma Brougère, “a brincadeira não é inata. Mesmo que tenha elementos naturais, ela sempre é o 24 resultado de uma construção social. É algo que se aprende e se estrutura...” Logo, a criança aprende a partir de estímulos e brincadeiras desde a mais tenra idade, sendo a figura do professor perante atividades lúdicas a de estimulador, interventor, incentivador e avaliador. Pois ele será a figura a qual a criança será inspirada e tomada muitas vezes como paradigma. 4.1 – A importância da Formação Docente Um dos grandes desafios da área docente, é formar professores para a Educação Infantil, o que exige conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento e aprendizagem das crianças e sobre as condições adequadas de organização do trabalho nas creches e pré-escolas. O curso de Pedagogia surgiu em 1938, com a vocação de formar educadores, filósofos da educação, planejadores, pesquisadores em educação e para formar professores das escolas normais. A vocação não era para formar alfabetizadores somente. E desde então a Pedagogia vem se atualizando com o passar dos tempos e atualmente a formação do professor enseja que seja robusta, uma formação na qual o professor tenha clareza das metodologias, de como pensa a sala de aula, de como organizam o plano de trabalho, o plano de ensino para assim conduzir a um processo de aprendizagem de que garanta o mínimo de compreensão dos conteúdos que as crianças estão se apropriando e assim aprendendo. A importância da formação do professor, principalmente nos anos iniciais deve considerar o conjunto das disciplinas elementares, que fomentam o entendimento de qual é a dinâmica do processo de ensino e aprendizagem. A dialogia é a principal forma de se aplicar o processo de ensino e aprendizagem, pois é através do diálogo que se negocia um saber significativo com os sujeitos (alunos), considerando a múltiplas culturas, a comunidade a qual a escola está inserida e o cenário atual. 25 Tudo muda, o mundo, as crianças, a sociedade, a tecnologia e para isso a Pedagogia, na pessoa do professor, precisa se aperfeiçoar de modo que possa acompanhar essa tendência de frenética mudança, não podendo mais ficar aprisionado na instituição de antigamente que não dialoga com o mundo, com a linguagem e com a tecnologia de nossa sociedade. Entretanto não é tarefa isolada do professor, pois está associado a instituição, então juntos professor e escola tem a função de educar e acima de tudo fazer uma pedagogia do futuro, uma escola do futuro, como diz Libâneo: “ Seja falando de escola do presente, seja falando de escola do futuro, na minha maneira de ver a escola tem uma função que é específica dela, que é ensinar. E hoje ensinar significa ajudar os alunos a desenvolverem suas capacidades intelectuais, sua capacidade reflexiva”...”A escola precisa manter essa característica de ensinar, o bom professor é aquele que consegue organizar os seus conteúdos, levando em conta as características dos alunos. Os professores hoje, não podem desconhecer que os alunos vêm a escola com uma variedade muito grande de saberes que ele encontra fora da escola. A escola hoje não tem o monopólio do saber, então uma escola do futuro é uma escola, que ensina, mas é uma escola em que os professores saibam muito bem organizar o conteúdo, tendo em vista as características individuais, sociais, culturais que os alunos trazem à sala de aula.”” 5 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO AMBIENTE ESCOLAR: Só brincadeiras? A criança, na escola, amplia seus interesses além do mundo infantil e dos objetos, expande as possibilidades de relações sociais, estabelece interações mais diversificadas com os adultos, compreende, gradativamente, as ações e as várias formas de atividades humanas: trabalho, lazer, produção cultural e científica. O jogo, a brincadeira, o desenho e formas diferentes formas de artes nessa etapa, são formas de expressão e apropriaçãodo mundo das relações, das atividades e dos papéis dos adultos. A criança, por intermédio das atividades lúdicas, atua, mesmo que simbolicamente, nas diferentes esferas humanas, reelaborando sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes (BISSOLI, 2005). Contudo é comum a concepção que atribui à brincadeira, jogos e artes a finalidade de ser “passatempo”, “desgaste de energia excedente”, quando, para a criança, brincar é algo essencial para suas aprendizagens e desenvolvimento. 26 Vygotsky (2001), ao analisar a relação entre o brinquedo e a escrita na prática escolar, ressalta que o primeiro pode ser visto como um componente da pré-história da escrita, considerando que a apropriação deste complexo código requer um nível elevado de desenvolvimento da capacidade simbólica. Para esse teórico, a diferença entre uma criança de três e outra de seis anos, nas situações lúdicas, está, principalmente, no modo pelo qual empregam as várias formas de representação, tornando-se cada vez mais complexas. Uma contribuição importante, portanto, da brincadeira, reside no aspecto de que, quanto mais a criança brinca, mais ela desenvolve a sua capacidade simbólica, e esta favorece a aprendizagem de códigos sociais mais complexos, neste caso específico, a escrita (LURIA, 1988). Até que a criança desenvolva a linguagem, é por meio das brincadeiras que ela se expressa (sentimentos e pensamentos). Ao brincar ela interage com o grupo e com o meio, ampliando assim sua autoimagem positiva e constituindo sua personalidade. Friedmann (1996) afirmou, ao dizer que, a afetividade é uma constante no processo de construção do conhecimento e é ela que, na verdade, irá influenciar o caminho da criança na escolha dos seus objetivos. Enquanto brinca, a criança está consciente de que está representando um objeto, situação ou fato, mas, ao mesmo tempo, está inconsciente de que esteja representando algo que lhe escapa por estar fora do campo de sua consciência no momento. A brincadeira simbólica, como as demais manifestações simbólicas, dá à criança condições de aprender a lidar com suas emoções e afetos. Para Piaget (1976), a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Ele afirma: "O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as 27 realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil". (Piaget 1976, p.160). A proposta de usar o Brincar e as Artes nas séries iniciais, especificamente na idade de 2 a 3 anos enfatizada aqui, desde cedo possibilita que os alunos desenvolvam habilidades corporais participando de atividades culturais, tais como jogos, esportes, músicas e danças, tendo como finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções. O desenho é uma forma bastante importante de expressão infantil e sua representação de mundo, segundo Rosa Iavalberg, ‘‘O desenho como linguagem da criança é um virtual humano que pode se desenvolver ou não a depender das experiências de aprendizagem positivas ou negativas do desenhista. “Um bloqueio para desenhar pode ser fruto de orientação equivocada em casa ou nas escolas, que não observa a lógica das ações dos desenhistas e de cada desenhista singular, didática que traz problemas à aprendizagem e ao avanço no desenho da criança.” A criança, por meio de seus desenhos, exibe indícios de sua realidade, trazendo à tona desejos interiores, emoções e sentimentos vividos por ela. Muitas delas expressam algo voltado para as experiências e as vivências do seu mundo. Por isso, o professor deve sempre incentivá-las a desenhar por meio de desafios que despertem sua curiosidade. Essa visão da autora nos remete à ideia de que as crianças possuem maneiras e ferramentas próprias de se expressar, buscam em suas observações ideias para apresentar suas manifestações artísticas. O desenho é uma forma de a criança comunicar e expressar seus sentimentos, tendo em vista ainda não poder expô-los pela linguagem oral e escrita. Assim, a arte na idade infantil, mais do que um entretenimento, é um entendimento significativo da criança, consigo mesma, é a seleção daqueles aspectos em que ela vive com os quais ela se identifica. O desenho da criança é importante não apenas no processo criativo, mas também no campo da comunicação, podendo ser tão importante quanto à linguagem verbal. É necessário olhar o desenho além do ato de brincar e passar a ver como um meio de comunicação. A maneira particular em que as crianças 28 observam o mundo e as coisas ao seu redor, é por vezes tão intensa que os adultos na maioria das vezes não podem compreender, por essa razão é necessário capacitar profissionais que sejam devidamente qualificados para assim decifrar as mensagens feitas por elas. Tendo em vista que a arte proporciona à criança uma vasta gama de possibilidades, sendo muito importante para o seu contínuo processo de crescimento perceptual e emocional. O desenho é indispensável para o desenvolvimento da criança, pois ela projeta no papel o seu esquema corporal, representando seus impulsos, seus desejos, suas emoções e seus sentimentos. Iavelberg (2013, p. 35) afirma: “As crianças de educação infantil agem com vigor ao desenhar. Experimentam movimentos e matérias oferecidos sem medo, fazendo-os variar por intermédio de suas ações”. Com base nessa afirmação podemos dizer que, a criança trabalha de modo concentrado em seu desenho, pois, desde cedo é influenciada em um contexto social. E é a partir dele, que elas vão construindo suas ideias sobre o que é o desenho e para que serve esse desenhar. É tamanha importância do desenho no processo de ambientar a criança em seu meio social, por contribuir de forma significativa e quantitativa no ou seu desenvolvimento cognitivo, bem como proporcionar interação com os demais indivíduos. Nesse momento criança percebe e corresponde a sociedade em que está inserida por meio de suas produções artísticas. O desenho lhe permite registrar muito dos conceitos que não podem ser realizados por outra forma de comunicação. Ainda quando pequenas tudo parecem ser objetos que lhe permitam realizar suas expressões, eles rabiscam o que têm à disposição, livros, paredes, aplicativos de computadores, celulares e até mesmo na areia. Desenhar é, sobretudo, uma diversão, uma brincadeira, um ato intuitivo. De acordo com Iavelberg “expressiva, livre e natural da infância”. (2013, p. 15). Essa importância do por que, nunca devemos corrigir as expressões naturais enquanto a criança estiver contente com criação. Pelo contrário, este se torna o momento ideal para encorajá-las e incentivá-las cada vez mais em se expressar pelos seus desenhos, fazendo com que entendam que são livres para expor com as ideias e 29 pensamentos obtidos da realidade e fantasia. Este processo promove e incentiva a progressão criativa das crianças a partir da vivência na qual estão inseridas. Bem como expressar seus gostos e seus olhares do ambiente social a qual estão inseridos, a fim fazer deles “criadores, inventores futuros e personalidade nova” (IAVELBERG, 2013, p. 19). A escola renovada defende que as crianças não precisam de orientação, não dando margem para o ensino tecnicista e repetitivo da escola tradicional. Em sua pesquisa, Iavelberg (2003) conclui que a criança na construçãode desenhos passa por quatro momentos conceituais, que estão baseados tanto pelas possibilidades do desenvolvimento estrutural intelectual ao qual a criança se encontra, criança, diretamente influenciados pelo ambiente escolar e social. Estes momentos são chamados: ação, imaginação, apropriação e proposição. No momento da ação, é caracterizado principalmente por pontos e traços desordenados. O desenho de imaginação é caracterizado em dois tempos, simbolismo desarticulado, e simbolismo articulado. Após surge o desenho de apropriação, é a fase em que a criança começa se interessar em fazer um desenho mais real possível daquilo que observa caracterizado pelas cópias interesse de mostrar sua individualidade e marcas e estilos próprios em seus desenhos. Deste modo Iavelberg (2003) alega que o período do ensino fundamental não é o tempo de bloqueio criativo, pois é a criança quem expressa seus interesses. É necessário levar em conta que o desenho é uma atividade do imaginário. A criança se apropria de conteúdos apresentados na forma de signos gráficos e reapresenta através da criação de novos significados. 5.1 – Desenvolvimento Infantil: Cognição, Afeto, Gestos Pensar na importância da brincadeira para o desenvolvimento cognitivo da criança na infância é uma reflexão construtiva no âmbito social e educacional, pois ultimamente as crianças não brincam tanto como antigamente. Atualmente, a criança não tem tido tempo para aproveitar sua fase infantil tanto em casa como na escola, porque muitos adultos não têm certo conhecimento sobre o papel do 30 brincar, que não é apenas um passatempo. Inserir a criança em situações lúdica é importante para o seu desenvolvimento. A criança desenvolve-se principalmente pelas experiências as quais são expostas quando pequenas. Essas experiências da realidade são essenciais para que se obtenham uma visão mais ampla do mundo em que vive, para que se alcance uma relação satisfatória na infância, adquirindo novas descobertas. É por meio das brincadeiras que a criança principalmente desenvolve sua cognição, como: memória, o raciocínio, a criatividade, coordenação motora e intelectual, pois ela aprende brincando. Segundo Piaget não é possível falar sobre desenvolvimento cognitivo sem abordar o tema cognição, que está diretamente ligado a um conjunto de habilidades cerebrais/mentais, tais como; pensamento, raciocínio, abstração, memória, que são necessários para aquisição do conhecimento sobre as coisas que ocorrem no mundo. Os processos cognitivos são adquiridos de forma gradual desde o nascimento do sujeito, por este motivo relacionam-se diretamente no processo de aprendizagem. Um não ocorre sem o outro. Piaget (1982) explica que o indivíduo desde o nascimento constrói o seu conhecimento. Sua teoria nos faz pensar que as pessoas em modo geral tem uma capacidade de aprender de forma contínua desde as primeiras horas de vida. Em sua teoria os primeiros anos de vida de uma criança são essenciais e determinantes para um bom ou mau desenvolvimento cognitivo e social, estas experiências serão marcantes por toda a sua vida que refletiram no adulto que irá se tornar. A classificação do desenvolvimento cognitivo nos vários estágios aponta para o fato de que todos os indivíduos passam por várias mudanças previsíveis e ordenadas, ou seja, todos os indivíduos vivenciam todos os estágios do desenvolvimento cognitivo na mesma sequência, contudo, o início e o término dos estágios variam de indivíduo para indivíduo – devido às especificidades de cada um de ordem biológica ou ambiental. Cada estágio se desenvolve a partir do que foi construído nos estágios anteriores. A ordem ou sequência em que as crianças passam por cada etapa é sempre a mesma, variando apenas o ritmo de cada uma quando adquire suas novas habilidades. 31 A teoria de Piaget (1982), acerca do desenvolvimento da criança divide-se, basicamente, em quatro estágios, que ele próprio chama de fases de transição: - Sensório motor (0 – 2 anos), - Pré-operatório (2 - 7 anos), - Operações concretas (7 – 12 anos) e - O estágio das operações formais (a partir dos 11 ou 12 anos). A cognição humana se dá a partir da integração entre o corpo, a mente e o ambiente no qual a criança está inserida, isto é, o cérebro recebe e adere às informações do ambiente e as transmite através do corpo. É assim que ocorre com a linguagem, na qual primeiro ocorrem às emoções, posteriormente passam pela linguagem falada e finalmente chegam à linguagem escrita, ou seja, o processo de cognição é evolutivo. A educação infantil deve compreender o processo cognitivo evolutivo em que a criança passa, pois é um momento marcante em que ela precisa de afeto, o ambiente escolar deve ser estimulante e transmitir segurança e tranquilidade para que ela passe de forma saudável por esta fase, sentindo-se acolhida e protegida. Este é um momento em que a afetividade é fundamental, pois será um período de profundas mudanças e transformações físicas e sociais em que ela será que se adaptar. Ela ingressará em uma nova etapa de sua vida ficando fora do conforto de sua casa e seus familiares, começando a criar novos laços no espaço escolar. Ou seja, seu desenvolvimento ainda está conectado com o seu lado afetivo, ela teme sua relação com as novas crianças professores e funcionários que passaram a fazer parte de seu convívio diariamente. A afetividade é um estimulante natural para o desenvolvimento do saber e da autonomia, é por meio de suas relações que a criança passará a estabelecer suas conexões sociais, por este motivo deve ser respeitada na instituição escolar. Neste momento seu caráter estará em formação, passando a expressar sentimentos e emoções, que fazem parte de todo seu desenvolvimento moral e intelectual. Por esta razão, a relação entre professor e o aluno não pode ser neutra, a afetividade precisa estar presente 32 na formação desse vínculo quê visão uma relação de respeito para a obtenção de bons resultados no processo de ensino e aprendizagem. Ao professor cabe a tarefa de ser mediador no contexto da realidade escolar para que consiga exercer com êxito sua função de educar e consiga alcançar cada aluno, independente de sua necessidade e cultura. A afetividade, assim como a inteligência, não aparece pronta nem permanece imutável. Ambas evoluem ao longo do desenvolvimento: são construídas e se modificam de um período a outro, pois à medida que o indivíduo se desenvolve, as necessidades afetivas se tornam cognitivas (ALMEIDA, 1999, p.50). É realmente desafiador ao professor alcançar essa evolução, pois para tanto é necessário enxergar o aluno em sua individualidade, visto que ambos vivem em meios diferentes e precisam entender o contexto em que cada um está inserido. Torna-se importante conceder meios para que de fato a interação entre professor e aluno se torne um vínculo afetivo para o desenvolvimento da criança no processo de ensino-aprendizagem. O desenvolvimento do lado afetivo da criança depende de como as situações lhe serão abordadas no ambiente escolar, é preciso mostrar que ela está sendo vista, trabalhar com atividades que despertem sua atenção e, principalmente, dar oportunidade e autonomia para que a criança expresse seus sentimentos, sempre lembrando que uma criança é diferente da outra. Logo, devem-se levar em conta essas diferenças e se preciso for criar estratégias para acolher cada uma delas especificamente, mostrando-lhes que as diferenças existem e ensinando-as a respeitar a necessidade de cada um. Tão necessário quanto a questão do planejamento escolar, é imprescritível que nas instituições de educação infantil, sejam implementadas situações que ofereçam interação entre crianças e adultos, proporcionando a esses alunos a ampliação no seu campo de visão e percepção entre si mesmas e aosoutros se diferenciando, e fazendo prevalecer sua identidade. Isto é, proporcionar a partir do trabalho educativo a construção da autonomia, autocuidado, que as crianças relacionam-se 33 reciprocamente com o meio, e que tenham respeito às diferenças que nos constituem como seres humanos. Estudando corpo gestos e movimentos; com o corpo as crianças exploram o mundo, o espaço e os objetos de seu entorno; nesta relação se expressam, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro e sobre o universo cultural e social. Portanto, devem ser utilizadas as diferentes linguagens, como: a música, teatro e as brincadeiras de faz de conta. Explorando e vivenciando um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, nos diferentes espaços e de diferentes formas. Assim tornam-se conscientes de sua corporeidade. É muito comum percebermos em contexto escolar, que visando garantir uma atmosfera de ordem e harmonia, algumas práticas educativas procurem simplesmente suprimir o movimento, impondo às crianças de diferentes idades, rígidas restrições posturais. Pensar no movimento humano é muito mais do que simplesmente pensar no deslocamento do corpo sobre o espaço. Compreender essa questão nos permite entender a linguagem em que as crianças agem sobre ou meio físico e atuam sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por suas ações expressivas. É dever das instituições de educação infantil fornecer um ambiente social e espaço adequado devidamente seguro para que as crianças possam explorar e fortalecer suas habilidades e motricidade. Toda aula ser devidamente elaborada com intuito da criança se sentir segura e protegida para explorar novos ambientes, se aventurando em novas descobertas, sendo desafiada e incentivadas para arriscar e vencer novos desafios nunca vistos ou nunca explorados. São aulas planejadas, que fujam do cotidiano, que fazem com os alunos usem suas habilidades já adquiridas e que busquem novas cognições para aquisição de novos conhecimentos. É a partir do movimento que a criança amplia o uso significativo de gestos e posturas corporais, que expressa sentimentos e ações. Ao observar toda importância de um ambiente devidamente planejado ao movimento das crianças 34 principalmente para as escolas atendem crianças de 0 a 05 anos o movimento e a ludicidade são fatores que atuam conjuntamente na sua educação. Por esta questão, o educador precisa ter um olhar diferenciado sempre levando em consideração as necessidades do universo infantil, é um momento de reflexões sobre as diversas práticas pedagógicas disponíveis que abordam as necessidades e funções atribuídas aos movimentos. Ainda para muitos professores alguns gestos ou mudanças repentinas de movimentos são muitas das vezes vistos com maus olhos, remetendo a imagem de desordem e indisciplina. Há também alguns educadores, que acreditam que algumas práticas sociais baseadas em repetições constantes sejam essenciais para o desenvolvimento dos alunos. Nesta percepção, Wallon (1975, apud, MALUF 1999), diz que as instituições, de uma maneira geral, persistem em imobilizar as crianças em uma carteira ou mesa, restringindo a fluidez das emoções e do pensamento, imprescindíveis para o desenvolvimento completo da pessoa. As instituições escolares, por sua vez devem assegurar às crianças jogos e brincadeiras que lhe permitam progressão continuada para com seus movimentos e equilíbrio. Os jogos são grandes aliados em sala de aula, por eles as crianças aprendem regras, a lidar com a questão da competição e trabalho em equipe, Você tirou válidos para formação de sua identidade dentro do contexto social. Ainda quando pequenas, o movimento para as crianças assume um papel importante, que significa muito mais do que movimentar partes do corpo ou deslocar-se no espaço; O movimento é a forma mais comum de comunicação, elas conseguem expressar por meio dele, sentimentos e frustrações. Por vezes se comunicam através de gestos e das mímicas faciais, e a todo instante usam fortemente o corpo para suas interações. É perigoso me entender esse modo de comunicação como bagunça e desordem, quando isso ocorre, todo potencial da criança de se expressar livremente através de várias dimensões é desvalorizado e o oprimido. Nessa perspectiva o RCNEI (1998, p.19), aponta que: [...] um grupo disciplinado não é aquele em que todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo em que os 35 vários elementos se encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. É fácil observar como o movimento é importante na vida de uma criança, exemplo quando uma criança aprende a andar ou subir um degrau é comum ela ficar repetindo o mesmo gesto a toda instante por diversas vezes ao longo do dia, sem uma finalidade específica. Na verdade, esse simples gesto de repetição está se conectando e amadurecendo seu sistema nervoso proporcionando o aperfeiçoamento dessa nova habilidade adquirida tornando-se cada vez mais seguro e estável, desdobrando-se nos atos de correr, pular e suas variantes; a criança dessa idade é aquela que não pára, mexe em tudo, explora, e pesquisa. O movimento como visto de fora e principalmente como quesito essencial para conhecimento do mundo quando vivenciado ajuda a criança adquirir novas habilidades através de seu corpo, de sua percepção e sensações. Por estar ligado a aspectos afetivo e relacional, o contato da criança com o adulto, com o ambiente físico e com outras crianças, dá condições para que ela se desenvolva favoravelmente em seu ambiente. O corpo, portanto, é uma forma da criança expressar a sua individualidade, e conhecer-se a si mesma e perceber as coisas que a cerca. 6 – ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 6.1 - Uma breve reflexão sobre alfabetização do Brasil Durante muito tempo, pensamos que alfabetização era somente aquele que sabia escrever. De um modo geral, muitas pessoas pensam assim. Porém, nos dias de hoje, isso não é mais suficiente. Na verdade, apensas saber ler e escrever (ou seja, decodificar) não é o suficiente para alguém ser considerado alfabetizado. De acordo com o IBGE (2007), a Unesco considera alfabetizada a pessoa capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece. Embora não esteja convencionado o que é um bilhete simples, essa definição nos remete a certeza de que, na sociedade contemporânea, para essa pessoa saiba ler, escrever e interpretar, ou seja, que compreenda o que lê. Que possa opinar 36 sobre o assunto, que possa utilizar a linguagem escrita como forma de comunicação para viver melhor. As práticas educativas devem ser organizadas de modos a garantir, progressivamente, que os alunos sejam capazes de: - Compreender o sentido nas mensagens orais e escritas - Ler textos dos gêneros - Utilizar a linguagem oral - Participar de diferentes situações de comunicação oral - Produzir textos escritos - Escrever textos dos gêneros previstos para o ciclo - Considerar a necessidade das várias versões Para que estes objetivos sejam alcançados temos que ter uma visão do que venha a ser alfabetização. Temos que mudar as práticas das escolas e as ações dos professores. “a alfabetização é mais do que o simples domínio mecânico de técnicas de escrever e ler. É o domínio dessas técnicas, em termos conscientes. É entender que se lê e escrever o que se entende. É comunicar-se graficamente. ” Freire (1967, pag. 111) 6.2 - Diferentes Linguagens A linguagem para que serve? Quantos tipos existem? Vamos para algumas definições que encontramos: Dicionário Houaiss (2001, p. 1.763) “ qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais, etc.” Dicionário Michaelis (2010), “conjunto de sinais falados (glótica), escritos (gráfica) ou gesticulados (mimica),de que se serve o homem para exprimir suas ideias e sentimentos [...] qualquer meio que sirva para exprimir sensações ou ideias. ” 37 Então, linguagem é a forma que usamos para comunicar nossas ideias e, justamente por isso, ela pode se manifestar de muitas formas. Podemos nos comunicar de várias maneiras: por meio da linguagem oral, da linguagem não verbal, da linguagem escrita e, ainda, por meio da linguagem musical, entre outras. 6.3 - A comparação de linguagem entre Piaget e Vigotsky Para Piaget o pensamento, o raciocínio, as estruturas lógicas é que fazem com que o sujeito seja capaz ou não de compreender a linguagem que vem do exterior. A linguagem é importante, mas não é o suficiente para fazer evoluir a construção do conhecimento. Para Vigotsky pensamento e linguagem caminham juntos na interiorização do mundo exterior. O outro é fundamental para a construção da consciência. E este papel é exercido pela linguagem. “A história da escrita na criança começa muito antes que o professor coloque pela primeira vez um lápis em sua mão e lhe ensine um modo de traçar as letras. Se não conhecemos a pré-história da escrita das crianças, não podemos compreender como a criança é capaz de dominar esse complexo de comportamento cultural.” Vygotsky á partir do questionamento de como a criança aprende e se expressa, quando começa tudo isso, no seu conceito da pré–história da alfabetização, situando-nos que a língua escrita parte da linguagem e seus 3 grandes eixos: pelas brincadeiras que se faz com gestos, pelos desenhos que se faz com gestos ou com figuras ou imagens e por fim a escrita que se faz com signos ou com símbolos. A criança vai evoluindo, por diferentes caminhos e de forma não linear e vive grandes revoluções qualitativas de amadurecimento da compreensão do sistema de representações. Esse grande amadurecimento começa muito antes da criança entrar na escola, por várias formas de como a criança elabora os sistemas de simbologia e representação. 38 6.4 - Brincadeiras “Para a criança tudo, pode ser tudo” Vygotsky Os gestos dão sentido à representação e incorporam funções substitutivas, por isso vemos algumas vezes uma criança dando sentido à algum objeto, como por exemplo, uma bolacha comem um pouco e dizem: “Olha tia, é um carro e de fato a utilizam por gestos como um carro”. 6.5 - Desenhos A criança através de sua impressão entre papel e giz de cera, executa um gesto e sai um desenho aleatório e aí ela denomina o que esse desenho representa, algumas vezes esse desenho pode mudar quando perguntado posteriormente, do que se trata. Já há outras situações em que ela antecipa e diz previamente o que irá desenhar, executa o desenho à sua maneira e se perguntada depois, a mesma definição continua expressa. Em outro momento, em desenhar a figura humana, ela pode representar o que ela sente em relação à pessoa ou uma característica a qual lhe salta aos olhos, e os desenhos ao longo da jornada vão ficando mais elaborados, como por exemplo: - Desenho Radiográfico: é quando uma criança desenha o que se pode ver e o que não se pode, como por exemplo a parte submersa do casco de um navio, mostrando como a criança vai aprofundando seu sistema de representação a ponto de desenhar o que não se pode ver. - Escrita Topográfica: fase em que a criança distribui registros, rabiscos como manchas, linhas no “espaço do papel” “sem relação com o conteúdo das sentenças faladas, produzindo o que Luria chama de ‘marcas topográficas’: “[...] essas marcas ainda não são signos, mas fornecem pistas rudimentares que poderão auxiliar na recuperação da informação” (OLIVEIRA, 2010, p. 73). 39 Na fase topográfica da escrita as crianças começam a fazer relação da escrita com as sentenças faladas. Assim, para as frases curtas são registradas marcas curtas, frases longas identificadas por marcas longas. As marcas realizadas pela criança no papel são os primeiros rudimentos que mais tarde se tornarão a escrita (LURIA, 1988). - Escrita Pictórica/Pictográfica: Nessa fase o desenho ocupa o lugar da palavra e alguns elementos gráficos passam a ser incorporados nos registros da criança. Nesta fase a criança começa a utilizar outras marcas para representar a sua escrita. Passa a desenhar dizendo que está escrevendo e os desenhos passam a serem signos mediadores e representam determinado conteúdo, ou algo que a criança diz que escreveu. “O desenho transforma-se, passando de simples representação para um meio, e o intelecto adquire um instrumento novo e poderoso na forma da primeira escrita diferenciada” (LURIA, 1988, p. 166). - Escrita Ideográfica: É um sistema utilizado desde a antiguidade, onde símbolos e desenhos representam ideias, como por exemplo: placas de trânsito, placas informativas de locais como escadas, hidrantes, etc. Não é considerado como uma escrita em si, embora seja muito utilizada. 6.6 - Escrita Para Vygotsky, de fato o desenho passa a ter um peso de escrita é na fase da Escrita Topográfica, momento o qual a criança marca (desenha), em pontos espaciais específicos do papel, e essa marca passar a ter um sentido, uma função que a permite recuperar ou recordar de uma frase dita ou de uma história contada. Essas marcas no papel podem instrumentalizar a criança no resgate da memória. Escrita simbólica – ou fase simbólica, é quando a criança tem noção de que as letras são usadas para expressar a fala, e o processo de elaboração mental dá sentido á ideia que se deseja expressar. Assim, a criança procura usar as letras que sabe, escrevendo da esquerda para a direita e todas as vezes em que lhe questionarem o que está escrito, será sempre a mesma coisa. 40 Assim, a partir da escrita topográfica, as crianças vão sofisticando a forma como elas representam as coisas, o mundo, de forma a organizar e sofisticar a forma como elas querem representar seus pensamentos e a suposta escrita. 6.7 - Implicações Pedagógicas - Escola como locus de socialização do universo simbólico: O papel da escola já na Educação Infantil é explorar essas formas de representação, pois brincar é um reforço poderoso ao sistema de representação; - Criar o sentido do ler e escrever para fomentar o desejo de conhecer e usar a língua: Ao explorar as formas de representação você incentiva ao indivíduo a ter o desejo de aprender; - Aprendizagem como processo natural dada pela relação da língua na esfera social (“não se deve impor a escrita, mas cultivá-la”): Criar situações onde a escrita vai surgindo naturalmente a partir de propósitos e contextos significativos para as crianças, carregada de sentido; - Práticas contextualizadas, significativas e lúdicas: Ensinar a criança a ler, já na Educação Infantil é brincar, é usar sistemas de representação, é fazer com que ela perceba a complexidade da língua e seus usos; - Explorar o desenho e a brincadeira como mecanismos de representação simbólica: Se os desenhos pelos gestos, pelo figurativo, se as brincadeiras pelos gestos é antecessor da língua, é preciso que se fomente isso; - Repensar os modos de comunicação, ensino, aprendizagem e convivência na escola: A convivência na escola atualmente é mais ativa, as crianças são mais dinâmicas, então é a partir de situações lúdicas, situações problemas e de situações interativas que tudo vai ganhando sentido e - Repensar a própria concepção de língua escrita: Como um sistema simbólico complexo, que exige do sujeito um esforço cognitivo, pois além de ajudar a se comunicar ajuda também a organizar o pensamento. 41 7 - APLICAÇÃO DAS DISCIPLINAS ESTUDADAS: PROPOSTA PEDAGÓGICA DE BRINCAR Para a aplicação de nossa proposta pedagógica de brincadeira com foco em alfabetização, muitas ideias surgiram, algumas complexas e mirabolantes e, após discussões do grupo sobre a viabilidade, mas acima
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