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GEOGRAFIA REGIONAL I CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Geografia Regional I – Prof.ª Ms. Camila Barbosa e Prof. Ms. Luiz Henrique Pereira Meu nome é Camila Barbosa. Sou graduada em Geografia pela Universidade Estadual Paulista – Unesp/Rio Claro-SP e mestre em Geografia, com área de concentração em Organização do Espaço, pela mesma universidade. Atualmente, desenvolvo pesquisas voltadas ao Planejamento Urbano e à Análise Ambiental. E-mail: barbosa_unesp@yahoo.com.br Olá! Meu nome é Luiz Henrique Pereira, sou graduado e mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista – Unesp/Rio Claro-SP e possuo experiência na área de Geociências, com ênfase em Geografia Física. Desenvolvo pesquisas relacionadas ao Manejo de Bacias Hidrográficas, Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento e Cartografia. E-mail: e_luizh@yahoo.com.br Os autores agradecem a colaboração do Prof. Victor Hugo Junqueira, pelas suas contribuições aos temas desenvolvidos, bem como pela revisão técnica dos conteúdos abordados. Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação GEOGRAFIA REGIONAL I Camila Barbosa Luiz Henrique Pereira Victor Hugo Junqueira (revisor técnico) Batatais Claretiano 2015 Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação © Ação Educacional Claretiana, 2014 – Batatais (SP) Versão: dez./2015 910 B196g Barbosa, Camila Geografia regional I / Camila Barbosa, Luiz Henrique Pereira – Batatais, SP : Claretiano, 2015. 160 p. ISBN: 978-85-8377-412-9 1. Regionalização. 2. Organização do espaço mundial. 3. Globalização. 4. Transformações espaciais. 5. Europa. 6. América Anglo-Saxônica. 7. Oceania. I. Pereira, Luiz Henrique. II. Geografia regional I. CDD 910 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Patrícia Alves Veronez Montera Raquel Baptista Meneses Frata Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Eduardo Henrique Marinheiro Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Juliana Biggi Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rafael Antonio Morotti Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br SUMÁRIO CADERnO DE REfERênCIA DE COntEúDO 1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................7 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .....................................................................................................................9 3 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ................................................................................................................18 UNIDADE 1 – REGIONALIzAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL: FUNDAMENTOS TEóRICOS E HISTóRICOS 1 OBJETIVOS ..................................................................................................................................................19 2 CONTEúDOS ................................................................................................................................................19 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ..........................................................................................20 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ..........................................................................................................................20 5 FUNDAMENTOS DA ANáLISE REGIONAL NO DISCURSO GEOGRáFICO ..................................................22 6 DIFERENTES FORMAS DE REGIONALIzAÇÃO ............................................................................................23 7 REGIONALIzAÇÕES GLOBAIS E ORIGEM DA DIVISÃO NORTE-SUL ..........................................................26 8 O SUBDESENVOLVIMENTO ........................................................................................................................31 9 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ...................................................................................................................36 10 CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................................................37 11 E-REFERêNCIAS ...........................................................................................................................................37 12 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ................................................................................................................38 UNIDADE 2 – REGIONALIzAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL NO CONTExTO DA GLOBALIzAÇÃO 1 OBJETIVOS ...................................................................................................................................................39 2 CONTEúDOS ...............................................................................................................................................39 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .........................................................................................40 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ..........................................................................................................................40 5 GLOBALIzAÇÃO E ESPAÇO MUNDIAL ATUAL ............................................................................................42 6 DESIGUALDADES DE UM MUNDO GLOBALIzADO ...................................................................................50 7 POSSIBILIDADES DE REGIONALIzAÇÃO .....................................................................................................56 8 A qUANTIFICAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ............................................................................................59 9 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ...................................................................................................................62 10 CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................................................62 11 E-REFERêNCIAS ...........................................................................................................................................62 12 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ...............................................................................................................63 UNIDADE 3 – EUROPA 1 OBJETIVOS ...................................................................................................................................................65 2 CONTEúDOS ................................................................................................................................................653 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ..........................................................................................65 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ..........................................................................................................................66 5 EUROPA: CARACTERIzAÇÃO NATURAL E TERRITORIAL ...........................................................................66 6 ALEMANHA ..................................................................................................................................................81 7 REINO UNIDO ..............................................................................................................................................91 8 ITáLIA ...........................................................................................................................................................100 9 FRANÇA ........................................................................................................................................................110 10 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ..................................................................................................................119 11 CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................................................119 12 E-REFERêNCIAS ...........................................................................................................................................120 13 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ...............................................................................................................122 14 REFERêNCIA VIDEOGRáFICA .....................................................................................................................122 UNIDADE 4 – AMÉRICA ANGLO-SAxôNICA 1 OBJETIVOS ...................................................................................................................................................123 2 CONTEúDOS ................................................................................................................................................123 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ..........................................................................................123 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ..........................................................................................................................124 5 ESTADOS UNIDOS ........................................................................................................................................124 6 CANADá .......................................................................................................................................................135 7 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ...................................................................................................................145 8 CONSIDERAÇÕES .........................................................................................................................................145 9 E-REFERêNCIAS ...........................................................................................................................................145 10 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ...............................................................................................................146 11 REFERêNCIA VIDEOGRáFICA .....................................................................................................................146 UNIDADE 5 – OCEANIA 1 OBJETIVOS ...................................................................................................................................................147 2 CONTEúDOS ................................................................................................................................................147 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ..........................................................................................147 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ..........................................................................................................................148 5 OCEANIA: ASPECTOS NATURAIS E TERRITORAIS ......................................................................................148 6 AUSTRáLIA ...................................................................................................................................................149 7 qUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ...................................................................................................................158 8 CONSIDERAÇÕES .........................................................................................................................................159 9 E-REFERêNCIAS ...........................................................................................................................................159 10 REFERêNCIA BIBLIOGRáFICA ...................................................................................................................159 11 REFERêNCIA VIDEOGRáFICA .....................................................................................................................159 CRC Caderno de Referência de Conteúdo Conteúdo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Regionalização e organização do espaço mundial. Globalização e transformações espaciais. Aspectos físicos, econômicos e populacionais da Europa, América Anglo-Saxônica e Oceania. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. IntRODUÇÃO Como sabemos, a Geografia é uma área do conhecimento que possui, como outras ciên- cias, inúmeras particularidades. Uma delas é a capacidade de integrar informações de diversas naturezas, como as físicas e as sociais, e apresentar as formas e funcionalidades do espaço que resultam dessa interação. Logo, pode-se dizer que um dos objetivos da Geografia é compreen- der a organização espacial. É muito importante que estudemos esta obra a partir dessa ideia inicial. De nada adianta enfatizar os aspectos populacionais, físicos e sociais das áreas continentais: Europa, América Anglo-Saxônica e Oceania se não for para justificar e compreender a atual estrutura do espaço geográfico em sua totalidade e relações. Devemos pensar na Geografia dessa forma, diminuindo a distância entre a Geografia aca- dêmica e a Geografia tradicionalmente transmitida em sala de aula. A Geografia escolar ainda apresenta algumas dificuldades para se libertar da forma tradicional da descrição exaustiva dos atributos espaciais. No entanto, somos os responsáveis por isso e podemos atribuir essa difi- culdade à nossa própria falta de compreensão sobre o objeto de estudo da ciência geográfica. Para cumprir o objetivo de buscar elementos que contribuam para a explicação da organi- zação do espaço, precisamos inicialmente definir alguns conceitos fundamentais: © Geografia Regional I 8 1) Unidade e totalidade. 2) Região e regionalização. 3) Globalização. 4) Organização do espaço mundial. Para compreender o mundo, é comum dividi-lo em regiões que, embora sejam unidades espaciais simplistas e genéricas, são parcelas coerentes que nos ajudam a entender a totalidade na qual se inserem. Para Roberto Lobato Corrêa (2000), um dos estudiosos dedicados à inves- tigação do conceito de região, a Geografia tem suas raízes na busca e na compreensão da dife- renciação de regiões, países e continentes de acordo com as relações entre os homens e entre eles e a natureza. O autor pontua que, se a superfície da Terra fosse homogênea e não houvesse diferenciação de áreas, a Geografia não teria surgido. A Geografia escolar tradicionalmente se utiliza da regionalização em diversas escalas para estudar o mundo. É de extrema relevância, portanto, que compreendamos as diferenças entre as inúmeras formas de regionalização e tentemos desvendar um pouco as ideologias que justi- ficam essas formas.As divisões podem se basear em critérios políticos, naturais, culturais ou econômicos. Além disso, as diversas regionalizações instituídas no mundo retratam as necessidades sociais de uma época específica e podem se tornar obsoletas perante novas relações de poder. Ou seja, as transformações socioeconômicas e históricas tendem a condicionar novas formas e limites das regiões. Ao longo deste estudo, trataremos de algumas dessas diferentes formas de regionalização e os contextos históricos nos quais elas foram formuladas, bem como os fatores que contribuí- ram para a sua superação nos estudos geográficos. Porém, a estrutura desta obra está assentada na regionalização por áreas continentais, dado o seu caráter didático, menos sujeito a alterações conjunturais, e a sua permanência nas formas de exposição nos livros didáticos, destinados à Educação Básica. Assim, nesta obra, abordaremos as condições econômicas, sociais e populacionais da Eu- ropa, América Anglo-Saxônica e Oceania. É importante salientar que esta divisão não impede e nem pode ser entendida como um empecilho ao estabelecimento de vínculos entre as áreas continentais; para exemplificar, não é possível tratar das condições econômicas da áfrica sem relacionar ao imperialismo europeu, ou das características populacionais da América Latina desvinculada da colonização europeia. Portanto, é necessário estarmos atentos às relações que se estabelecem entre as áreas na pers- pectiva de entender o espaço geográfico em sua totalidade. Considerando essas premissas, na Unidade 1 desta obra, partiremos de uma discussão epistemológica sobre os fundamentos geográficos da análise regional e alguns pressupostos da teoria sistêmica que permitirão uma leitura integrada das informações geográficas disponíveis, no sentido de compreender as formas de regionalização no século 20 e as possibilidades de re- gionalização do espaço mundial com a emergência da globalização. Lembre-se de que não existe Geografia sem História: o espaço geográfico é um produto social definido pela atividade produtiva e pelas ideias que, ao longo do tempo, se materializam sobre a superfície do planeta. Essa temática será abordada na Unidade 2, que apresenta o his- tórico do processo de globalização como um dos grandes eventos responsáveis pela divisão socioespacial do mundo. 9© Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano - Centro Universitário Considerou-se que o fenômeno da globalização atua sobre o espaço herdado de tempos passados, remodelando-o em razão das novas necessidades. Uma nova Geografia foi tecida pe- los fluxos globais de mercadorias, capitais e informações. É nesse contexto que inserimos os aspectos econômicos dos países e descrevemos alguns indicadores de desenvolvimento. Veremos que do espaço globalizado contemporâneo emergiram as novas potências eco- nômicas, as quais se reorganizaram com novas relações e mudanças dos focos tradicionais de poder. Na Unidade 3, iniciaremos o estudo das áreas continentais pela Europa, destacando suas ca- racterísticas físicas, econômicas e populacionais, para em seguida, apresentar alguns dados mais pormenorizados gerais de quatro importantes países para as relações geopolíticas na atualidade: Reino Unido, Itália, França e Alemanha. Na Unidade 4, estudaremos a América Anglo-Saxônica, destacando os aspectos populacio- nais, físicos e econômicos dos Estados Unidos da América e do Canadá. Nesta unidade, enfo- caremos as condições econômicas que favoreceram o poderio dos Estados Unidos nas relações internacionais. Por fim, na Unidade 5, apresentaremos as características gerais da Oceania, para em segui- da trazer informações mais específicas sobre a Austrália, principal país deste continente. Esperamos ter, no final das unidades, condições teórico-metodológicas e informações es- pecíficas dos países suficientes para que seja possível estabelecer diversas relações e apresentar uma leitura da organização do espaço geográfico dessas áreas continentais. 2. ORIEntAÇÕES PARA EStUDO Abordagem Geral Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estudado nesta obra. Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural, para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi- lidade social. No decorrer desta obra, estudaremos os aspectos físicos, populacionais e econômicos da Europa, América Anglo-Saxônica e Oceania, tema relativamente simples e já conhecido de nos- sos tempos de escola, abordado como questões políticas mundiais, especialmente a partir da década de 1990. Contudo, temos o desafio de atribuir a esse assunto um caráter que faça jus ao status de conteúdo de um curso de nível superior. Ora, o que diferencia a Geografia escolar da Geografia acadêmica? De modo simplista, pode-se dizer que a diferença está nos níveis de conhecimento com que cada uma aborda seus temas de interesse. Nas escolas, devemos simplificar os temas científicos para que o conhecimento concebido na academia seja transmitido conforme as po- tencialidades características de cada etapa do desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Assim, esperamos que os alunos adquiram as condições necessárias para construir seu próprio conhe- cimento. Em outros termos, enquanto na academia se constrói o conhecimento que sintetiza- mos como geográfico, cabe à Geografia apropriar-se desse conhecimento, adequá-lo, divulgá-lo e transmiti-lo com fidelidade. © Geografia Regional I 10 De modo geral, observa-se que a disciplina de Geografia, nas escolas, na tentativa de transmitir seu conteúdo de maneira mais simples, equivoca-se ao omitir os “processos”, apre- sentar somente as “formas”, normalmente caracterizadas como informações massivas, como, por exemplo, a distribuição dos relevos e rios e as características climáticas para a análise dos aspectos físicos; a composição etária, as etnias como elementos dos aspectos populacionais; índices de IDH e outros indicadores de desenvolvimento econômico e social, deixando de lado os fatores que antecedem e que conduzem a essa configuração final. Diante dessa ideia, nosso intuito para este estudo é ir além da observação direta e simples dos dados geográficos descritivos de cada país, e apresentá-los de forma que o aluno tenha con- dições de construir conhecimento que justifique a organização espacial, evitando que ela seja simplesmente “imposta”. Devemos sempre desejar ir além, o que é muito necessário para a aprendizagem da ciên- cia geográfica. Assim, não podemos aceitar uma realidade baseada em descrições sem antes indagar os dados e informações que nos são apresentados. A pergunta que nos cabe no momento, portanto, é: como construir um conhecimento que vá além de números, dados e descrições? Para que devemos compreender mais do que nos é apresentado? Devemos buscar a resposta dessas perguntas no próprio objetivo e objeto de estudo da Geografia. Sucintamente, podemos considerar que um ponto comum entre as inúmeras definições da ciência geográfica é de que seu objeto de estudo é o espaço geográfico, e seu objetivo prin- cipal é compreender a organização espacial. Sabemos que a Geografia ministrada no Ensino Fundamental e Médio ainda é essencial- mente descritiva e decorativa, totalmente díspar do conhecimento geográfico desenvolvido e ensinado na Academia. Não podemos negar que o que está sendo apresentado nas escolas atende ao objeto de estudo da Geografia. Ou seja, estudamos massivamente as descrições dos países considerando seus territórios. Os espaços geográficos são segmentados em aspectos físicos e naturais para facilitar a didática, buscando a melhor relação possível entre ensino e aprendizagem. E o objetivode estudo da Geografia? Podemos dizer que a escola, em sua forma tradicio- nal de lecionar essa ciência, provoca o esclarecimento acerca da organização espacial? Pode- mos construir um conhecimento que ultrapasse as descrições quando buscamos compreender o espaço e sua organização e devemos ter a compreensão desses dois pontos fundamentais para que a Geografia cumpra adequadamente e com êxito seu papel social. Assim, em grande parte das escolas e disciplinas dos cursos de Geografia, ainda é comum observar o ranço da geografia descritiva. Vale ressaltar que conhecer os detalhes do nosso pla- neta é extremamente importante, e, para isso, a descrição de áreas é inevitável. Essas noções e descrições nos dão bagagem, cultura e conteúdo, mas restringem-se ao senso comum. É neces- sário esforçarmo-nos para ir além da descrição, que consigamos relacionar cada item descrito e encontrar suas inter-relações, que expressam a organização espacial. Dessa forma, entendemos que resumir um estudo geográfico à simples apresentação dos aspectos segmentados (geomorfologia, climatologia, população etc.) dos países é negar a pró- pria conceituação do objetivo e do objeto de estudo da nossa ciência. Oferecemos, assim, neste estudo, o desafio da leitura integrada dos aspectos menciona- dos e da leitura geográfica do espaço, para analisar e esclarecer a organização espacial do globo a partir das áreas continentais. 11© Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano - Centro Universitário Outra questão importante que discutiremos nesta obra, mesmo que implicitamente, é o que nos é colocado como realidade. Por exemplo, apresentam-nos extensa tabela quantitativa do IDH dos países que compõem o planeta Terra. Esse ranking é responsável por direcionar as estratégias econômicas e sociais adotadas pelos agentes políticos mundiais. Devemos aceitar seus valores sem questionar os métodos pelos quais foram elaborados? quem organizou esse estudo? qual é a ideia de desenvolvimento que esse grupo tem? que realidade é essa que estão nos apresentando? É importante perceber a diferença entre uma tabela qualquer de dados numéricos sociais e as informações que antecedem esses números. Os índices finais apresentados são dinâmicos no tempo, no entanto, a compreensão dos fatores históricos que condicionam tais números são registros perenes, que permitirão explicar os motivos que levaram cada país a ser representado por esses números. O que queremos dizer aqui é que não somente é importante saber que determinado país apresenta o maior índice de desenvolvimento econômico, como também entender como a in- tegração dos aspectos físicos, econômicos e sociais de seu território ofereceu condições para que ele assuma tal condição de destaque no cenário mundial e como isso ocorreu ao longo do tempo. Diante do exposto, resumimos o propósito que norteia os estudos desta obra: mais im- portante que aprender sobre o espaço geográfico de cada área continental de forma isolada é compreender como se dá sua organização. Para compreender os países em sua totalidade, é importante observá-los como a expres- são de um longo tempo de ações humanas sobre o espaço natural. Portanto, devemos analisar elementos naturais, antrópicos e a história que levou a tal configuração, buscando compreender as relações entre cada um desses elementos. Sabemos que o atual período de globalização é caracterizado pelo elevado fluxo de merca- dorias e pela mobilidade das indústrias e empresas transnacionais. Portanto, os condicionantes naturais e territoriais, determinantes para o desenvolvimento econômico de uma nação no pe- ríodo neocolonial, tornam-se secundários. No entanto, as características naturais, como clima, relevo e localização, condicionam uma estrutura cultural que contribui para alavancar ou res- tringir o desenvolvimento econômico de um país. Para facilitar a compreensão deste estudo, é importante que você se familiarize com al- gumas ideias e conceitos que norteiam as discussões. Dessa forma, indicaremos, a seguir, os principais tópicos abordados ao longo das unidades. A Unidade 1 tem um forte caráter teórico. Sua leitura deve ser atenta, pois apresenta con- teúdo denso e, de certa forma, filosófico, o que forçará sua reflexão em cada parágrafo. Nesta unidade, o objetivo é desenvolver os conceitos de região e regionalização, bem como apresentar sua evolução ao longo da história do pensamento geográfico. Esse tema será respaldado pela apresentação dos dados históricos, incluindo fatos econômicos e políticos que conduziram a diferentes processos de regionalização do mundo. A partir daqui, podemos nos perguntar qual é a necessidade de ir tão longe apenas para descrever os aspectos físicos, populacionais e econômicos das áreas continentais? © Geografia Regional I 12 Façamos a analogia. quando selecionamos uma parcela qualquer da superfície terrestre como uma unidade espacial de análise, como é o caso de uma região, podemos dizer que uma das possibilidades viáveis para compreender o espaço e sua organização é o reconhecimento de suas particularidades. Portanto, a regionalização do mundo foi um processo que fragmentou as áreas continentais para que fossem compreendidas. Essas premissas vinculam-se ao princípio da totalidade, segundo o qual a percepção do todo se dá a partir da compreensão da relação entre as partes. Podemos, assim, trabalhar em diferentes escalas de análise e conceber uma organização espacial em cada nível. Podemos con- siderar a Terra uma unidade e os continentes como suas partes constituintes se avançarmos o nível hierárquico; também podemos considerar os continentes como uma totalidade, e os agen- tes modeladores do relevo como suas partes. Veremos esse conceito apresentado em diversas ciências e, antes que se crie uma con- fusão em nossa cabeça, cabe ressaltar que os princípios mencionados não são restritos aos estudos geográficos. São, na verdade, intrínsecos a uma concepção de inúmeras disciplinas e, portanto, pertinentes à ciência de forma geral. Concluindo a unidade, inicia-se a apresentação dos fatos históricos que originaram as di- ferentes regionalizações no século 20, para entender como a globalização transforma as formas de regionalização e as possibilidades de compreensão do espaço geográfico mundial. Na Unidade 2, continuaremos a abordar o processo de globalização, identificando os as- pectos econômicos, sociais e políticos mais significativos que contribuíram para a organização do espaço mundial e as relações entre os países. Nesse sentido, recorremos à análise histórica para entender como se processaram essas transformações, cujas bases estão na queda do muro de Berlim, em 1989, e no fim do ciclo da Guerra Fria, que contribuíram para reunificação alemã e desagregação da União Soviética. Tais acontecimentos, junto com a completa integração da China nos fluxos internacionais de mercadorias e investimentos, diluíram a fronteira que separava as economias estatizadas da economia mundial de mercado. A partir disso, a contribuição do desenvolvimento técnico, cien- tífico e informacional fez crescer a desigualdade social, uma vez que se acentuou a acumulação de capitais. Tais acontecimentos geraram uma nova discussão geográfica, geopolítica e histórica: a globalização. Novamente, é importante que você questione a necessidade de recorrer à História para compreender a divisão regional. Lembre-se de que as divisões são dinâmicas no tempo e no espaço, e o caminhar da História pode determinar novos polos de poder. Supondo que tais mudanças ocorressem em poucos anos, estaríamos preparados para justificá-las. Além disso, a compreensão de como ocorreu as divisões nos fornece inclusive condições de predizer os novos e futuros cenários. Sem dúvida, é um grande exercício geopolítico, em que a informação é es- sencial para seu êxito. A leitura da Unidade 2 configura-se num grande exercício de atenção, pois o texto apre- senta ideias sequenciais e é fundamental entender cadatrecho para dar prosseguimento ao conteúdo. quando discutimos em Geografia as críticas ao discurso da globalização enquanto unifica- ção do mundo, é imprescindível considerar as obras de Milton Santos. Seus trabalhos dividem opiniões por ele não ser geógrafo de formação. Porém, de fato, ele é um autor de bastante ex- pressividade nessa temática. 13© Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano - Centro Universitário Em seu livro Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal, o autor aponta que a globalização é perversa e não leva à integração das nações, pois, por se colo- car a favor da acumulação do capital, contribui para que as desigualdades intrínsecas ao sistema capitalista atinjam escalas globais. De acordo com Santos (2008, p. 38-39): Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da in- formação. [...] as novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por enquanto) são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a possibilidade de controle. É neste mundo globalizado que nos aprofundaremos um pouco mais na Unidade 2. Dis- cutiremos os aspectos inerentes ao atual estágio de globalização e, para tanto, buscaremos nos aprofundar em temas já apresentados na Unidade 1, além de enfatizar discussões como o de- senvolvimento técnico, científico e informacional atual, os blocos econômicos, o papel do Esta- do e das fronteiras nacionais e as desigualdades socioespaciais em escala mundial. Com o entendimento dos condicionantes da organização do espaço mundial, podemos discutir os aspectos centrais de cada grande região com segurança. O arcabouço teórico-meto- dológico construído ao longo de nosso material nos fornecerá as condições necessárias para que se cumpra a ideia geral deste estudo. Nas Unidades 3, 4 e 5, abordaremos, respectivamente, as características gerais da Europa, América Anglo-Saxônica e Oceania. Em cada uma dessas unidades, apresentaremos informa- ções mais detalhadas sobre alguns países dessas áreas, como forma de aprofundar o conheci- mento sobre os aspectos físicos, econômicos e populacionais. Assim, na Unidade 3, trataremos da geografia da Alemanha, Reino Unido, Itália e França, países representativos do poderio econômico europeu na atualidade, mas que em seu interior carregam grandes desigualdades. Na Unidade 4, analisaremos a América Anglo-Saxônica, que se diferencia pela formação histórica e aspectos econômicos e socais da América Latina e abriga a maior potência econômi- ca, política, militar e cultural do mundo desde a Segunda Guerra Mundial: os Estados Unidos e o seu principal parceiro comercial, o Canadá. Ao estudarmos esses dois países, veremos como a relação entre os aspectos naturais se relacionam (mas, não determinam) aos sociais, seja na produção agrícola, seja na ocupação humana. Para finalizar, na Unidade 5, estudaremos a Oceania e o seu principal país, a Austrália, ob- jetivando por meio de uma leitura integrada de diversas informações, entender a organização do espaço em sua totalidade e complexidade. Pretendemos, assim, oferecer as ferramentas para que você efetue uma leitura do espaço geográfico segundo uma visão integrada e relacional, capaz de sugerir explicações para a orga- nização espacial. Bons estudos! © Geografia Regional I 14 Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições concei- tuais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co- nhecimento dos temas tratados. 1) Crescimento vegetativo ou natural: é a diferença entre a taxa de natalidade e de mor- talidade. Dessa forma, é possível obter as seguintes classificações: positivo = nasci- mentos > mortes; negativo = nascimentos < mortes; nulo = nascimentos = mortes. 2) Espaço total: segundo Ab'Saber (1998, p. 30), é definido como “[...] o arranjo e o perfil adquiridos por uma determinada área em função da organização que lhe foi imposta ao longo dos tempos. Neste sentido pressupõe um entendimento – na conjuntura do presente – de todas as implantações cumulativas realizadas por ações, construções e atividades antrópicas”. 3) Estrutura etária da população: é a classificação da população de acordo com a idade. A estrutura etária da população de um país tem efeito nas questões socioeconômicas. Países com populações jovens (alta porcentagem na faixa etária dos 15 anos) preci- sam de atenção e investimento em escolas e atividades de lazer, enquanto países com populações em que o topo da pirâmide é mais largo (alta porcentagem, acima de 65 anos), direcionam as atenções para a saúde. 4) Expectativa de vida: é a estimativa da média de anos que um habitante do país es- pera viver. Esse conceito pode ser aplicado em um nível mais particular, como a um município ou bairro, por exemplo. Mesmo assim, é um indicador comum de desen- volvimento. 5) Globalização: designa um fenômeno de abertura das economias mundiais (a maioria delas) e de suas respectivas fronteiras, favorecendo as trocas internacionais de mer- cadorias, a integração social e política. Além do incremento da circulação de capital, destaca-se o elevado e acelerado fluxo de conhecimento e informação, proporcionado pelo desenvolvimento dos transportes e das comunicações. Assim, as inovações tec- nológicas, especialmente na área da informática, são as grandes responsáveis por via- bilizar a difusão de informações entre as empresas e instituições financeiras, ligando os mercados do mundo. Vale ressaltar que alguns autores consideram a globalização a fase mais avançada do capitalismo. 6) Índice de Gini: o índice (ou coeficiente) de Gini é uma medida de concentração ou desigualdade desenvolvida em 1912 pelo estatístico italiano Corrado Gini e publicada no documento Variabilità e mutabilità (variabilidade e mutabilidade). Denuncia a de- sigualdade na renda domiciliar per capita. O índice pode variar de 0, em caso de desi- gualdade nula, a 1, em caso de desigualdade máxima – quando apenas um indivíduo concentra toda a renda da sociedade. 7) PIB per capita: é o resultado do PIB dividido pela população. 8) População economicamente ativa – PEA: intimamente vinculada à estrutura etária de uma população, ela compreende o potencial disponível de mão de obra com que o setor produtivo pode contar. Se analisado em longo prazo, esse índice representa a capacidade de crescimento econômico “autossuficiente” em termos de mão de obra, num intervalo de tempo definido. Inclui pessoas consideradas “ativas” no mercado de trabalho, representado por todas aquelas com a idade de dez anos ou mais, que estavam procurando ocupação ou trabalhando na semana de referência da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE). 9) Populoso: relativo à população absoluta. 10) Povoado: relativo à densidade demográfica – ou população relativa. 11) Primeiro mundo: são países que, depois da Segunda Revolução Industrial, dispunham de parque industrial complexo, formado pelos setores de produção de bens de capital e bens de consumo duráveis. Engloba na Europa, na América e no Pacífico os aliados políticos dos Estados Unidos – líder político do Oriente/Oeste. 15© Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano - Centro Universitário 12) Produto Interno Bruto (PIB): representa a soma (em valores monetários) dos bens e serviços finais produzidos em determinada região durante o períodoem questão (geralmente um ano). 13) Relação centro-periferia: teoria desenvolvida em 1981 por Raul Prebisch, que atesta que o sistema internacional se divide em dois núcleos: um pequeno núcleo de países desenvolvidos e uma massa periférica que gravita em torno desse núcleo, acompanhan- do seu ciclo econômico. Deve-se ressaltar que os países da periferia não podem ser tratados como um todo homogêneo. É preciso respeitar suas especificidades, o que requer uma análise de suas individualidades. 14) Segundo Mundo: inicialmente, o termo foi atribuído na época da Guerra Fria e aplica- va-se à União Soviética e aos países inseridos em sua zona de influência no Leste Eu- ropeu. Tinha como característica principal de crescimento a acelerada modernização a partir da economia planificada e da detenção dos meios de produção pelo estado. Posteriormente, cientistas políticos e historiadores direcionaram o emprego deste ter- mo para designar os países em desenvolvimento e emergentes, independentemente do perfil de seu sistema econômico. 15) Setores da economia: o grupo de pessoas que conduzem a economia de um país pode ser dividido em três setores da economia: o primário, o secundário e o terciário: a) setor primário: envolve atividades ligadas ao meio rural, como agricultura, pecuá- ria, extrativismo vegetal e pesca; b) setor secundário: envolve as atividades industriais; c) setor terciário: envolve as atividades do comércio, prestação de serviços, funcio- nalismo público etc. 16) Subdesenvolvimento: conceito elaborado depois da Segunda Guerra Mundial que classifica os países com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), ou países de Terceiro Mundo. 17) taxa de fecundidade: corresponde ao número médio de filhos nascidos vivos por cada mulher até o final do seu período reprodutivo. Este período costuma começar aos 15 anos, o que faz com que, em países do Terceiro Mundo em que já existem mães abaixo dessa idade, essa taxa possa ser subestimada. 18) taxa de migração: representa a diferença entre o número de pessoas que entram e saem de um país durante o ano, dividido por mil habitantes. Um excesso de pessoas que entram no país é denominado imigração líquida (por exemplo, 3,56 migrantes/mil habitantes); um excesso de pessoas deixando o país corresponde à emigração líquida (por exemplo, -9,26 migrantes/mil habitantes). A taxa líquida de migração indica a contribuição das migrações para o nível global de mudança da população. Ela não dis- tingue migrantes econômicos, refugiados e outros tipos de migrantes e também não identifica os imigrantes e migrantes em situação irregular. 19) taxa de mortalidade: importante dado demográfico que exprime relação entre o nú- mero de óbitos e a população total de uma área geográfica ao longo de um ano. Pode ser interpretado como um importante indicador social, mas pode ser mais significati- vo quando considera parcelas da sociedade, como a taxa de mortalidade infantil. 20) taxa de mortalidade infantil: número de óbitos de menores de um ano de idade, por mil nascidos vivos, na população de determinado espaço geográfico no ano conside- rado. 21) taxa de natalidade: o número de nascimentos ocorridos em um ano, dividido pela população absoluta. 22) terceiro Mundo: cunhado no período da Guerra Fria, designava os países de econo- mia calcada na produção de bens primários e agrominerais, ausentes de um setor in- dustrial expressivo. Algumas características dos países do Terceiro Mundo são a fraca urbanização, a concentração populacional no campo, grande crescimento vegetativo e índices altos de pobreza. © Geografia Regional I 16 23) transição demográfica: este conceito foi proposto em 1929 pelo norte-americano Warren Thompson, que pressupôs as modificações que acontecem nas populações que passaram de um período de altas taxas de natalidade e mortalidade para a situa- ção oposta (taxas baixas). De forma abrangente, ela indica o processo de diminuição de taxas de mortalidade e natalidade, sendo que a primeira diminui mais rápido que a segunda, ocasionando um período de aumento do crescimento vegetativo e, por- tanto, de grande acréscimo populacional. Warren Thompson ainda especificou quatro fases de transição: pré-moderna, moderna, industrial madura e pós-industrial. Esquema dos Conceitos-chave O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos mais importantes deste es- tudo. Globalização Diferentes formas e possibilidades de regionalização EUROPA AMÉRICA ANGLO‐ SAXÔNICA Diferenças físicas e territoriais Desigualdades econômicas e sociais OCEANIA E ANTÁRTIDA Integração aos fluxos internacionais de reprodução do capital Desenvolvimento geográfico desigual ESPAÇO MUNDIAL Divisão internacional do trabalho Exclusão de espaços e pessoas Figura 1 Esquema dos conceitos-chave – Geografia Regional I. 17© Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano - Centro Universitário Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os con- teúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dis- sertativas. Responder, discutir e comentar essas questões pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma ma- neira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliografias complementares. figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte integrante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustrativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos estudados, pois relacio- nar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) O estudo desta obra convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como pro- cesso de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você obser- va, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma forma- ção conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Co- teje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são im- portantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses pro- cedimentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é parti- cipar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborarcom seus colegas e tutores. © Geografia Regional I 18 Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este estudo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. 3. REfERênCIAS BIBLIOGRÁfICAS AB’SáBER, A. N. Bases conceituais e papel do conhecimento na previsão de impactos. In: MÜLLER PLANTENBERG, C.; AB’SáBER, A. N. (Orgs). Previsão de impactos: o estudo de impacto ambiental no leste, oeste e sul, experiências no Brasil, na Rússia e na Alemanha. São Paulo: Edusp, 1998. CORRêA, R. L. Região e organização espacial. São Paulo: ática, 2000. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 16. ed. São Paulo: Record, 2008. 1 Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 1. OBJEtIVOS • Entender os fundamentos teóricos da análise regional aplicada ao estudo do espaço geográfico. • Conhecer conceitos geográficos fundamentais para subsidiar a compreensão da regio- nalização mundial. • Identificar as diferentes formas de regionalização do espaço mundial. • Compreender a construção das teorias geográficas relacionadas ao subdesenvolvimento. • Entender a regionalização do espaço mundial no contexto das transformações econô- micas e políticas do século 20. 2. COntEúDOS • Análise regional. • Os conceitos de região e regionalização ao longo da história do pensamento geográfico. • Diferentes concepções de regionalização nos estudos geográficos. • Teorias do subdesenvolvimento. • Desenvolvimento geográfico desigual. • As regionalizações do espaço mundial no século 20. © Geografia Regional I 20 3. ORIEntAÇÕES PARA O EStUDO DA UnIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a se- guir: 1) Antes de iniciarmos os estudos desta unidade, atente aos objetivos indicados. Você notará que nossa preocupação principal será oferecer informações de forte caráter reflexivo. 2) Tenha em mente que a diferenciação entre áreas não é resultado de fatores isolados. A combinação diferenciada de múltiplos e complexos processos naturais, econômicos, políticos e sociais é o que orienta a particularidade da organização espacial em deter- minado momento histórico. Nesse sentido, a escala geográfica tem papel fundamen- tal, pois a combinação desses elementos pode assumir diferentes formas, de acordo com a unidade de análise: local, nacional ou global. 3) É importante que você saiba que uma expressão muito utilizada quando estudamos os países denominados “subdesenvolvidos” é “Terceiro Mundo”. Segundo Fernandez (1996, p. 5), ela apareceu pela primeira vez em 14 de agosto de 1952. De acordo com a autora: [...] surgiu num artigo da revista francesa L’ Observateur, intitulado, ‘Trois mondes, une planète’ (Três Mundos, um só planeta), escrito pelo demógrafo francês Alfred Sauvy: ‘O que é o terceiro estado? Tudo. O que foi ele até agora na ordem política? Nada. O que pode ele? Tornar-se alguma coisa dentro dessa ordem. [...] Este Terceiro Mundo, ignorado explorado, desprezado como o terceiro estado, também pode ser alguma coisa’. [...] Nascida assim, como um trocadilho jornalístico, lembrando as reivindica- ções formuladas pelo terceiro estado às vésperas da Revolução francesa de 1789 a expressão foi aos poucos abrindo caminho. 4) Para aprofundar o seu conhecimento sobre a aplicação do termo “subdesenvolvimen- to” na Educação Básica, faça uma consulta aos livros didáticos de Geografia escritos nas últimas décadas do século 20 e no início do século 21 e analise a importância e as mudanças na utilização do termo. 4. IntRODUÇÃO À UnIDADE Antes de iniciarmos nosso estudo, pense por um instante na imagem do mundo e nas diversas relações que se desenvolvem e interagem em seu espaço. que relações e limites terri- toriais aparecem em sua construção mental? Como você os desenharia? Dedique-se por alguns minutos a esse exercício. Se possível, faça anotações ou esboce um desenho e reflita sobre o “seu mundo”. quem ou quais informações condicionaram seu modo de pensar e ver o mundo? Observe a Figura 1. Ela transmite uma ideia de mundo dinâmico que temos hoje, espaços interligados por fluxos e redes virtuais de informações, capital, poder, entre outros. A imagem foi elaborada por um funcionário do Facebook, mostrando as conexões entre os usuários da rede social. Claretiano - Centro Universitário 21© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos Figura 1 Espaço de fluxos. Representação de um planeta interligado pela dinâmica de informações sociais (Facebook – 500 milhões de usuários em dezembro de 2010). Atividades simples, mas muito relevantes na ciência e na licenciatura (na verdade, em qualquer atividade profissional), são a autoavaliação e a autocrítica de nossas ideias, posições e postura diante dos problemas, sempre que estivermos na privilegiada condição de “formadores de opinião”. Sociólogos e antropólogos compartilham o argumento de que o indivíduo é fruto do ambiente em que vive, ou seja, absorvemos ao longo de nosso desenvolvimento um olhar social para o mundo, tendencioso à cultura que nos rodeia. Ainda mantemos a tradição grega de julgar como bárbaro tudo aquilo que não pertence à nossa cultura. Somos bombardeados por princípios, costumes, culturas, ideias e informações inevita- velmente subjugadas a um ponto de vista social, e isso obviamente se refletirá no modo que vemos o “nosso mundo” e na maneira que julgamos o “mundo dos outros”! No entanto, quando compreendemos os fatores que condicionam a nossa visão de mundo, temos a possibilidade do crescimento pessoal. Provavelmente, todos que visualizam mentalmente o mapa do mundo recorrem à divisão entre porções de terras e águas e, sobre essa divisão, surgem localizações e limites de alguns países, blocos de poder, regiões econômicas, culturais ou naturais, relações mercantis e sociais. Mas de onde vem sua construção mental do mundo? O que se relaciona com os aspectos naturais, o que é histórico ou socialmente construído? Uma das questões-chave desta obra é a compreensão do espaço mundial. No decorrer de nosso estudo, lançaremos mão de uma gama de conceitos e teorias geográficas capazes de nos ajudar a construir e reconstruir mentalmente nosso mapa do mundo! Dessa forma, vale ressaltar que um dos objetivos aqui propostos é fornecer os elementos necessários para enriquecer nossa leitura geográfica do mundo atual, a fim de que entendamos um pouco de sua dinâmica, bem como avancemos na discussão de alguns conceitos geográficos essenciais para compreender a organização do espaço. Acreditamos que tais reflexões são es- senciais para a construção do saber geográfico. Para compreender o mundo, é comum dividi-lo em regiões que, embora sejam unidades espaciais simplistas e genéricas, são parcelas coerentes que nos ajudam a entender uma totali- dade. © Geografia Regional I 22 De acordo com Roberto Lobato Corrêa (2000), um dos estudiosos dedicados à investiga- ção do conceito de região, a Geografia tem suas raízes na busca e na compreensão da diferen- ciação de lugares, regiões, países e continentes, resultantes das relações humanas e naturais. O autor destaca que se a superfície da Terra fosse homogênea e não houvesse diferença entre as áreas, a Geografia não teria surgido. Portanto, região é um conceito-chave que devemos ter bem definido antes de partir para a compreensão geográfica do espaço mundial. A Geografia escolar tradicionalmente utiliza a regionalização em diversas escalas para es- tudar o mundo. Portanto, é de extrema relevância que nós, professores e futuros professores, compreendamos as diferenças entre as inúmeras formas de regionalização, e tentemos desven- dar um pouco de suas ideologias. As divisões podem se basear em critérios políticos, naturais, culturais ou econômicos. Além disso, as diversas regionalizações do mundo retratam as necessidades sociais de épocas específicas. Logo, podem tornar-se obsoletas perante novas relaçõesde poder. Ou seja, as trans- formações socioeconômicas e o desenvolver da História tendem a condicionar novas formas e limites das regiões. Por uma perspectiva mais específica, acrescentamos alguns elementos espaciais aos fatos históricos, como o meio físico, que justificam ações políticas e sociais e nos permitem afirmar que, para cada época histórica, houve distintas regionalizações do mundo, sempre prevalecen- do aquela mais condizente com o pensamento geográfico dominante. Dessa forma, buscaremos oferecer condições teóricas para a compreensão dos conceitos de região e regionalização e como eles podem ajudar a compreender o espaço mundial, quais são as regionalizações do mundo mais aceitas e, por fim, refletir qual seria a melhor forma de regionalizar o mundo atualmente. 5. fUnDAMEntOS DA AnÁLISE REGIOnAL nO DISCURSO GEOGRÁfICO O processo de diferenciação de áreas não é um problema novo para a Geografia; ao con- trário, ele constitui um dos pilares sobre os quais se construiu o discurso geográfico. Desde a sua gênese, a Geografia tem, na diferenciação regional, um dos fundamentos metodológicos para a compreensão do espaço geográfico. Não foram raros os geógrafos que fizeram da diferenciação de áreas, fundamentados em distintas bases teóricas, objeto e método da ciência geográfica. Haesbaert (1999) reconhece em Vidal de La Blache, Carl Sauer e Richard Hartshorne a “paternidade” da região na Geografia. Nessa lista, certamente poderíamos incluir o geógrafo alemão Alfred Hettner. Segundo Gomes (1995), Hettner foi o maior defensor de uma geografia regional, como síntese do trabalho geográfico. Entretanto, os conceitos de Hettner sobre a diferenciação de áreas adquiriram maior projeção por meio dos escritos de Hartshorne. O livro The Nature of Geography, publicado em 1939, é um marco epistemológico para a Geografia, pois nele Hartshorne divulga amplamente os princípios da diferenciação de áreas, já utilizados por Hettner. De acordo com Gomes (1995, p. 59): Neste livro Hartshorne tenta demonstrar que desde Kant, passando por Humboldt e Ritter, a geografia teria se caracterizado por ser o estudo das diferenças regionais. Este é, pois, o traço distintivo que marca a natureza da geografia e a ele devemos nos ater. O método regional, ou seja, o ponto de vista de pro- curar na distribuição dos fenômenos a caracterização das unidades regionais, é a particularidade que identifica e diferencia a geografia das demais ciências. Claretiano - Centro Universitário 23© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos Os princípios de Hartshorne, ainda que não consensuais no debate acadêmico, contribuí- ram para a afirmação de algumas categorias de análise, tais como: a semelhança, a similaridade, a diferença, a identidade, o contraste e a variação, que, em seu entrelaçamento, conferiram ao método geográfico uma especificidade (MOREIRA, 2008). Esses princípios orientaram grande parte dos trabalhos geográficos, especialmente as mo- nografias regionais, alicerçadas nos métodos empiricista e descritivo. Todavia, a partir da segun- da metade do século 20, com as mudanças na ordem internacional e no pensamento geográfico, período que caracterizou a própria crise da Geografia Clássica, a noção de “região” passou a receber críticas e novos significados. Uma das principais críticas referia-se à utilização da perspectiva regional-descritiva e à cen- tralidade em fatos excepcionais, que “[...] se limitava à descrição, sem procurar estabelecer rela- ções, análises e correlações entre os fatos” (GOMES, 1995, p. 62). Era, portanto, necessário uma reconceituação de “região” pela Geografia. Nesse processo, Gomes (1995, p. 63) explica que “[...] a região passa a ser um meio e não mais um produto”; dessa forma, o método regional que apresentava um fim em si mesmo é substituído pela análise regional. Ainda segundo Gomes (1995, p. 63): Nessa abordagem a região é uma classe de área, fruto de uma classificação geral que divide o espaço, segundo critérios ou variáveis arbitrários que possuem justificativa no julgamento de sua relevância para uma certa explicação. A partir de então, diferentes correntes teóricas utilizaram a análise regional com diversas fi- nalidades, dentre elas, a Geografia quantitativa, aplicando métodos estatísticos para compreen- der a funcionalidade do espaço geográfico; a Geografia Crítica, utilizando a análise regional, mas inserindo um novo conteúdo, no qual se entendia a diferenciação do espaço como produto da divisão social e territorial do trabalho, gestadas a partir das contradições do capitalismo. Além disso, tivemos a inserção de novos temas de estudo, tais como a questão da identidade regional e dos movimentos regionalistas pela Geografia Humanista. Em síntese, a regionalização tornou-se um processo-chave para a Geografia, apesar das suas diferenças históricas e da base teórica e metodológica utilizada para entender a realidade (DUARTE, 1980). Para Corrêa (2000), todos esses conceitos podem ser utilizados pelos geógrafos porque são meios para se conhecer a realidade, quer num aspecto espacial específico, quer numa di- mensão totalizante. No próximo tópico, são apresentadas diferentes noções de regionalização. Acompanhe. 6. DIfEREntES fORMAS DE REGIOnALIzAÇÃO Segundo Duarte (1980) e Gomes (1995), os processos de regionalização podem ser classi- ficados em: 1) Diferenciação de áreas. 2) Classificação. 3) Instrumento de ação. 4) Processo. 5) Identificação do espaço vivido. © Geografia Regional I 24 É importante considerar que os diferentes conceitos coexistem no tempo (e algumas vezes até no espaço) e também que cada uma das noções de regionalização se identificam com uma corrente do pensamento geográfico. Portanto, para melhor compreendê-las, é importante ter- mos clara a evolução do pensamento geográfico. A seguir, vejamos sobre cada uma das diferentes noções de regionalização. Região como diferenciação de áreas Essa abordagem está ligada à noção tradicional de paisagem geográfica e de síntese re- gional. Autores como Vidal de La Blache, na França, Hettner, na Alemanha, e Herberson, na Grã-Bretanha, produziram inúmeros estudos monográficos regionais com base na descrição (de- nominada método regional) entre o final do século 19 e as três primeiras décadas do século 20. Regionalizar sob a perspectiva dessa abordagem é identificar diferentes escalas caracteri- zadas por diferentes paisagens na superfície terrestre. Max Sorre (1957) explicita a relação entre regionalização e paisagem ao definir região como área ou extensão da paisagem geográfica. Metodologicamente, o conceito de regionalização nesta abordagem consiste em subdividir um espaço maior em subespaços, ou seja, regiões complexas, com alta coesão dos elementos que a definem. Inicialmente, prevaleceram trabalhos que enfatizavam o conceito de região natural sob a perspectiva do determinismo geográfico, em que predominava a ideia de que o ambiente natu- ral se impõe à orientação e desenvolvimento da sociedade. Contrariando tal postura, desenvolveram-se trabalhos sob a perspectiva possibilista, se- gundo a qual a natureza pode influenciar e moldar gêneros de vida, mas é sempre a sociedade – seu nível de cultura, educação e civilização – que tem a responsabilidade da escolha. Nesse contexto, a região é definida como resultado da intervenção humana em determi- nado ambiente, podendo identificar os traços distintivos responsáveis pela unidade regional, que podem ser o clima, a morfologia, ou qualquer outro elemento (GOMES, 1995). Duarte (1980) afirma que considerar a regionalização apenas uma diferenciação de área implica considerar o espaço total como a somatória das partes (ou seja, das regiões). No en- tanto, o princípio da diferenciação de áreas não é substituído pelas posteriores concepções de região, ele está sempre presente, podendo ser considerado objetivo final da própria Geografia. Região como classificação Essa abordagem conceitualse desenvolveu com o movimento das técnicas quantitativas e as teorias de postura neopositivistas difundidas a partir da década de 1960. Duas características a definem: a analogia entre regionalização e os princípios de classificação e a utilização de mé- todos quantitativos na metodologia operacional. Para Grigg (1974), um dos primeiros estudiosos a sistematizar essa concepção, o propó- sito da classificação é o de dar ordem aos objetos estudados, sistematizar informações, fazer generalizações indutivas, conferindo a ela uma precisão científica que não existia nos estudos regionais tradicionais. Destacam-se dois conceitos para definir os meios de regionalização: • Sintética: na qual os indivíduos semelhantes são agrupados em classes. • Analítica: na qual a divisão das áreas é feita a partir de métodos dedutivos, em que as características definidas a priori vão orientar o processo. Claretiano - Centro Universitário 25© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos A definição dos atributos, então, dependerá dos propósitos da regionalização. Dessa forma, há regiões homogêneas agrícolas, regiões funcionais urbanas, regiões admi- nistrativas etc. A região pode ser conceituada como classe de área, o espaço é visto como uma totalidade, e as hierarquias regionais são consideradas escalas em que se verifica mudança na acurácia da classificação. Sob o ponto de vista do método de investigação, essa é uma aborda- gem analítico-formal (DUARTE, 1980). Regionalização como instrumento de ação As décadas de 1950 e 1960 foram marcadas pelas teorias econômicas de desenvolvimento regional e de regionalização, que se preocupavam com as desigualdades espaciais do desenvol- vimento econômico. Nesse período, o planejamento regional destaca-se, enquanto as estraté- gias para a política de desenvolvimento econômico e os estudos geográficos foram estimulados pela ideologia desenvolvimentista. A regionalização passou a ser considerada um instrumento de ação e tornou-se um estudo interdisciplinar. O papel do geógrafo, então, seria fundamental, mas não exclusivo. O conceito de região passou a se referir a qualquer unidade espacial definida segundo atributos homogêneos ou funcionais selecionados e conforme o propósito da regionalização; porém, destaca-se como sinônimo de espaço econômico. A região funcional é a região polariza- da. Identifica-se com a teoria dos polos de desenvolvimento e expressa relações entre áreas, por meio de fluxos e movimentos. A região homogênea encerra-se como a área na qual se identificam semelhanças essen- ciais de algumas características ou variedade econômica, em que se podem ter tantas regiões quantas forem as características selecionadas. Ou seja, configura-se como econômica e centra- da em um polo de desenvolvimento. O espaço total não é considerado uma unidade. qualquer espaço, independentemente de sua escala e de sua organização político-institucional, precisava ser dividido em subespaços ou regiões, que, por sua vez, seriam submetidos a estratégias de desenvolvimento. Essa abordagem foi bastante criticada por enfatizar o pragmatismo em detrimento das contribuições teóricas e conceituais (DUARTE, 1980). Regionalização como processo A partir da análise geográfica das desigualdades regionais do desenvolvimento econômico nos países do Terceiro Mundo, constatou-se que as diferenças regionais resultavam de proces- sos sociais e econômicos que ocorriam em determinado espaço nacional e eram reflexos de relações ocorridas em nível internacional. Essas constatações determinaram a revisão das abor- dagens teórico-metodológicas vigentes na temática regional (DUARTE, 1980). Gomes (1995) afirma que a corrente geográfica denominada geografia radical ou crítica, desenvolvida a partir da década de 1970, argumentava que a diferenciação do espaço se deve à divisão territorial do trabalho e ao processo de acumulação capitalista que produz e distingue espacialmente possuidores de despossuídos. Sob este enfoque, as regiões passam a ser consideradas unidades espaciais em diferentes níveis de desenvolvimento ou modernização, que se relacionam entre si, dentro de uma organi- cidade global. As relações entre as regiões que expressam o estado do processo de desenvolvi- mento se destacam como os elementos mais importantes na regionalização. © Geografia Regional I 26 Ao contrário das abordagens anteriores, esta privilegia mais as relações entre espaços regionais do que entre espaços de uma região e seu centro. As regiões apresentam funções específicas na funcionalidade total do espaço. A teoria sistêmica contribuiu nessa abordagem epistemológica. Sob o enfoque sistêmico, o conceito de região era como um subsistema, e o espaço total era o sistema regional. Essa concepção foi um avanço teórico-metodológico nos conceitos anteriores, especial- mente por conceituar a totalidade espacial e as relações das regiões entre si e com o todo. Mais do que um método para identificar regiões, a regionalização passa a ser conceituada como processo de sua formação. Regionalização como identificação do espaço vivido Em meados da década de 1970, observou-se a ascensão da corrente humanista da Geo- grafia (Geografia da Percepção), que buscou revalorizar a dimensão regional por meio de alguns elementos como consciência regional, sentimento de pertencimento, mentalidades regionais. Os defensores desse pensamento retomaram a dimensão regional como espaço vivido. Nesse sentido, a região existe como um quadro de referência na consciência das sociedades e estabe- lece um código social comum que tem uma base territorial bem definida. Dessa forma, a regionalização e a análise regional a partir de critérios externos ao cotidia- no e cultura da sociedade são descartadas, e considera-se que, para compreender a região, é preciso vivenciá-la. Portanto, a regionalização deve se basear em descrições detalhadas, obtidas mediante um contato direto e prolongado com a realidade (GOMES, 1995). De acordo com Fremont (apud GOMES, 1995, p. 69-70): A região é concebida como uma realidade auto evidente, fisicamente construída, seus limites são, pois, permanentes e definem um quadro de referência fixo percebido muito mais pelo sentimento, de iden- tidade e de pertencimento, do que pela lógica. Trata-se de uma dimensão espacial das especificidades sociais em uma totalidade espaço- social (GOMES, 1995). Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006) afirmam que a regionalização pode ser concebida como um recorte espacial coerente dentro de determinados princípios ou características, ou como um espaço determinado por processos sociais específicos, especialmente os regionalis- mos (políticos) e as identidades culturais (regionais). Com base nessa afirmação, se você retomar a leitura das concepções de regionalização, perceberá que há um grupo que se caracteriza pela concepção de regionalização enquanto dis- tinção de áreas, classificação ou instrumento de ação. No outro grupo estão as concepções de regionalização enquanto processo e identificação do espaço vivido. Em resumo, no primeiro grupo, prevalece o princípio de regionalizar para compreender e, no segundo, o princípio de compreender para regionalizar. 7. REgionAlizAçõEs gloBAis E oRigEM DA Divisão noRTE-sul Agora que já vimos um pouco sobre os conceitos região e regionalização, buscaremos compreender as principais propostas de regionalizações do planeta. Claretiano - Centro Universitário 27© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos Continentes fisiográficos A regionalização mais conhecida é a separação do mundo em continentes, que se baseia em critérios naturais e foi feita a partir da distinção entre porções de água e terra. A definição dos limites dessa regionalização tem por critério os processos geológicos de milhões de anos, que configuraram os conhecidos continentes fisiográficos: América, Eurásia, áfrica e Oceania. Como sabemos, há centenas de milhões de anos,todos os continentes formavam um só bloco, denominado Pangeia (do grego pan = toda e geo = terra). Com o movimento das placas tectônicas, a Pangeia dividiu-se em duas partes: Gondwana e Laurásia. Posteriormente, essas partes foram fragmentadas até atingir a distribuição atual. É sob a perspectiva da Geografia Tradicional (positivista), carregada, ora de um empiris- mo mais descritivo, ora de uma lógica determinística pautada na sobrevalorização do ambiente físico e natural, que a regionalização por continentes foi enfatizada (HAERBAERT; PORTO-GON- ÇALVES, 2006). Nessa proposta de regionalização, a estabilidade dos limites é uma das principais carac- terísticas, uma vez que suas alterações não são imperceptíveis dentro da vivência de tempo do homem. Mas, como para toda regra há exceção, o homem, na tentativa de superar os limites impostos pela natureza, buscou também alterar os limites dos continentes, na maioria das ve- zes, com fins econômicos. Nesse contexto, destaca-se a construção do Canal de Suez, em 1869, interligando o Medi- terrâneo ao Mar Vermelho e ao Oceano Índico. Isso representou, nas palavras de Magnoli (1997, p. 10): “[...] a capacidade humana de refazer o desenho dos continentes e das rotas marítimas”. Podemos citar, também, o Canal do Panamá (Figura 2), inaugurado em 1914, que liga o Oceano Pacífico ao Atlântico, e a recente construção de ilhas artificiais em Dubai (Figura 3), nos Emirados árabes Unidos, que atrai turistas do mundo todo. Figura 2 Dubai. Figura 3 Canal do Panamá. Esta regionalização, como já dissemos, é a que estrutura este estudo. Nesse sentido, é ne- cessário apontar que, apesar de reconhecermos seus limites e os ranços positivistas ainda pre- © Geografia Regional I 28 sentes nesta forma de regionalização, que inclusive perpassam para os livros didáticos distribuí- dos para a Educação Básica em todo o país, a proposta não é se ater à descrição dos elementos físicos, econômicos e populacionais de cada área, mas, utilizando-se deles, analisá-los em uma perspectiva crítica, objetivando entender o espaço geográfico enquanto totalidade. Nesse sentido, o conceito de "espaço total" formulado pelo professor Ab'Sáber mostra- nos a importância de entender que a estrutura espacial é feita por ações humanas sobre um es- paço herdado da natureza. Esse conceito, apresentado pelo geógrafo em 1998, é definido como: [...] o arranjo e o perfil adquiridos por uma determinada área em função da organização que lhe foi imposta ao longo dos tempos. Neste sentido pressupõe um entendimento – na conjuntura do presen- te – de todas as implantações cumulativas realizadas por ações, construções e atividades antrópicas (AB'SáBER, 1998, p. 30). Assim, se os limites naturais do globo terrestre não são suficientes para compreender o espaço mundial, eles também não devem ser ignorados. Da mesma forma, são importantes as faixas climáticas, os biomas, os solos, o relevo, a hidrografia e outros elementos e características do meio físico e natural. O que podemos concluir com a avaliação do conceito de espaço total é que, para ser com- preendido em sua totalidade, o espaço mundial deve ser analisado mediante uma visão integra- da desses elementos (atributos físicos e naturais) e sua interação com os elementos antrópicos. Regionalizações políticas e econômicas Ainda com relação ao conceito de espaço total, vamos enfatizar os aspectos relacionados ao que Christofoletti (1999) denomina “ações, construções e atividades antrópicas”, ou seja, a atuação humana sobre o meio natural. Nessa perspectiva, para compreender o espaço mundial, a cultura, a política e a economia são elementos indispensáveis, uma vez que, ao mesmo tempo em que determinam as formas da relação sociedade e natureza, são construções decorrentes dessa relação. Considerando o espaço mundial, enfatizaremos a perspectiva política e econômica, aspectos inseparáveis de uma única realidade, responsáveis por sua configuração em diferentes tempos históricos. É importante, então, compreender a divisão do mundo em Estados-Nações, uma invenção histórica europeia generalizada para o mundo devido ao colonialismo e ao imperialismo. Sua origem foi na Europa renascentista, quando as monarquias absolutas empreenderam a centra- lização do poder político, destruindo os particularismos feudais. As terras do reino, submetidas aos poderes locais, passaram ao domínio dos monarcas, as fronteiras políticas tornaram-se mais precisas, as sedes dos poderes fixaram-se em capitais permanentes. Inventou-se, assim, a “so- berania”, que pode ser definida como o “[...] exercício do poder político sobre um espaço geo- gráfico delimitado por fronteiras” (MAGNOLI, 1997, p. 39-40). A estreita relação entre o surgimento do Estado-Nação e o desenvolvimento do conceito de região é também destacada por Gomes (1995). Para ele, tal conceito tem implicações funda- doras no campo das discussões políticas, da dinâmica do Estado, da organização da cultura e do estatuto da diversidade espacial. Além disso, considera que o debate sobre a região (ou seus correlatos como nação) possui um componente espacial, ou seja, o viés na discussão desses temas, da política, da cultura e das atividades econômicas está relacionado especificamente às projeções no espaço das noções de autonomia, soberania, direitos etc. Claretiano - Centro Universitário 29© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos Gomes (1995) fala de nação como correlato de região, o que significa que os limites das nações são, em origem, limites regionais. Tão marcante foi essa relação que, em qualquer re- gionalização do mundo, o Estado-Nação é um dos principais pontos de partida (HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006). A regionalização do espaço mundial pela perspectiva política e econômica normalmente está vinculada: à ordem internacional; ao equilíbrio instável dos países e grupos; à disputa (ou cooperação) entre as grandes potências mundiais características de um certo período histórico. Para compreender a oscilação na ordem internacional, retomemos o século 20: a Inglater- ra, grande potência mundial na ordem monopolar da segunda metade do século 18, viveu seu declínio no fim do século 19, o que fez com que se multiplicassem os embates pela hegemonia mundial. A partir de então, vigorou uma ordem mundial multipolar, ou seja, com base em vários polos ou centros de poder que disputavam a hegemonia internacional. Foi um período marcado por acirradas disputas territoriais, mercados e recursos na áfrica, ásia e Europa, propiciando um clima pré-guerra. Nesse período, inúmeros pensadores dedicaram-se a tarefa de compreender o equilíbrio das forças no espaço mundial e as condições que levariam determinado Estado-Nação à situa- ção de grande potência. Segundo esses estudiosos, o fundamental para a época era a quantida- de de recursos – mercados, povos (mão de obra e soldados), solos agriculturáveis, minérios. A expansão territorial e o controle dos espaços configuravam-se, portanto, como formas capazes de fortalecer e tornar hegemônico um Estado (VESENTINI, 2005). A Figura 4 traz um mapa que representa a ordem internacional no fim desse período, que terminou com a Segunda Guerra Mundial. Ele retrata as conquistas territoriais das potências mundiais do mundo multipolar, ou seja, indica a distribuição territorial do domínio europeu, materializado em suas colônias. Figura 4 Mundo multipolar – 1945. No fim da Grande Guerra, as potências europeias estavam arrasadas e, consequentemen- te, seus impérios na ásia e na áfrica. O Japão, igualmente arrasado, perdeu as áreas que havia © Geografia Regional I 30 conquistado no Extremo Oriente. Duas novas potências mundiais – Estados Unidos e União So- viética – destacaram-se no cenário mundial e dividiram o mundo entre si. Foi a época da bipo- laridade, que durou cerca de 45 anos (desde o fim da Segunda Guerra até meados de 1991). O período foi marcado pela disputa entre
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