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Aderson Soares de Andrade Júnior Ronaldo Souza Resende Magna Soelma Beserra de Moura Vinícius Bof Bufon 99 Introdução o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar (Saccharum otticinarum L.), com uma previsão de área cultivada destinada à atividade sucroalcooleira, na safra 2014/2015, de aproximadamente 9,13 milhões de hectares. Os maiores estados produtores são: São Paulo, com 51,7% da área cultivada (4.696,3 mil hectares); Goiás, com 9,3% (878,27 mil hectares); Minas Gerais, com 8,9% (788,88 mil hectares); Mato Grosso do Sul, com 7,4% (712,39 mil hectares); Paraná, com 6,7% (644,65 mil hectares); Alagoas, com 4,7% (390,40 mil hectares); e Pernambuco, com 3,2% (277,74 mil hec- tares). Essessete estados são responsáveis por 91,9% da produção nacional. Os demais estados produtores possuem áreas menores, com representa- ções abaixo de 3,0% do total (ACOMPANHAMENTO ..., 2014). A produtividade média de colmos obtida na atual temporada da safra 2014/2015, no entanto, apresentou uma queda em relação à safra anterior, com um decréscimo de 1,6% na média geral, passando de 74,769 Mg ha' para 73,569 Mg ha'. Essa queda concentra-se na região Centro-Sul (2,6%), reflexo das condições climáticas de falta de chuvas nas fases de rebrota e desenvolvimento da cultura. Por outro lado, na região Nordeste, hou- ve crescimento no rendimento da cultura de 6,3% em relação à safra 2013/2014, consequência da recuperação da produtividade dos canaviais que foram severamente prejudicados por uma das maiores secas da região (ACOMPANHAMENTO ..., 2014). Segundo Souza et aI. (1999), períodos de estresse hídrico no solo são um dos fatores responsáveis pela elevada variabilidade dos índices de produtividade da região Nordeste em relação aos das regiões Sul e Sudeste. O risco de deficit hídrico para a cultura da cana-de-açúcar também varia conforme a capacidade de retenção de água de cada solo, sendo o de textura arenosa o que apresenta maior risco em todos os locais e todas as épocas de plantio (VIANNA; SENTELHAS, 2014). 100 Parte 4 A adoção da prática da irrigação pelos produtores, notada mente, nas áreas de baixa e irregular oferta pluviométrica (Meio-Norte, Zona da Mata e Tabuleiros Costeiros do Nordeste, sul da Bahia e norte do Espírito Santo, oeste de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro), e até mesmo nas áreas tradicionais de cultivo (São Paulo e Paraná), pode permitir maior estabilidade produtiva da cultura, com reflexos positivos no setor sucroalcooleiro do País. No Paraná, e em algumas regiões dos estados do Mato Grosso do Sul e de São Paulo, a oferta hídrica total e sua boa distribuição ao longo do ano implicam em menores respostas da produtividade da cana-de-açúcar à irrigação. Nessas regiões, a viabilidade depende mais da frequência de anos atípicos, com deficit hídrico mais acentuado, e do impacto do deficit dos anos secos na longevidade das soqueiras seguintes. Para que a adoção da irrigação promova, porém, os efeitos desejados quanto à redução do deficit hídrico no solo, ela precisa ser efetuada com base nos preceitos técnicos mínimos da prática da irrigação, tais como sele- ção de cultivares mais eficientes quanto ao uso da água, escolha do método de irrigação mais indicado para cada condição de cultivo, conhecimento da exigência hídrica da cultura em cada fase de desenvolvimento, bem como emprego de um manejo racional de água e/ou de nutrientes aplicados via água (fertirrigação). Métodos de irrigação A irrigação de cana-de-açúcar é efetivada principalmente sob duas modalidades: a) irrigação plena, em que se busca atender de forma contí- nua toda ou parte da demanda hídrica da cultura não atendida pela preci- pitação; e b) irrigação suplementar ou de "salvação'; em que a aplicação é efetuada em épocas específicas, visando mitigar o efeito do deficit hídrico na fase inicial de desenvolvimento da cultura. Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 101 o censo agropecuário de 2006 (lBGE, 2006) registra que, de um total de 192,8 mil estabelecimentos pesquisados que colheram cana, apenas 10,8 mil utilizaram irrigação (5,6%). O censo relacionou esse número de es- tabelecimentos a uma área de 1,7 milhão de hectares, o que correspondeu a 30,6% da área total colhida naquele ano, que foi de 5,6 milhões de hecta- res. Portanto, é de supor-se que os dados de área apontados no censo não correspondem à irrigação plena da cana, uma vez que a área total irrigada no Brasil é estimada em 5,3 milhões de hectares. Embora a área de cana atendida com irrigação plena tenha apresen- tado um crescimento considerável nos últimos 10 anos, ainda predomina na cultura a irrigação suplementar, consistindo na aplicação de duas a três lâminas (geralmente de 50 mm a 60 mm, cada) em épocas de pré-germina- ção, 30 dias após o plantio (DAP) e de 60 DAP a 80 DAP,se aplicada à terceira lâmina. Mesmo sendo prática corrente, o fato é que, para muitas condições, esse manejo resulta em uma elevada proporção de água não aproveitada pela cultura, uma vez que tal lâmina excede significativamente a capacida- de de armazenamento de água do ?olo na profundidade considerada para a fase de cultivo, na qual ela é aplicada. Fatores condicionantes e definição na escolha do método Em termos clássicos, na engenharia de irrigação, procura-se responder a três questões básicas: quanto, quando e como irrigar? A terceira questão significa escolher o método e/ou sistema de irrigação que melhor se adapte às condições do ambiente, da cultura e do irrigante. As condições ambientais principalmente relacionadas nessa escolha se referem ao tipo de solo, à dis- ponibilidade e qualidade da água e aos fatores climáticos. No tocante ao tipo de cultivo a ser irrigado, aspectos como porte e espaçamento das plantas, sucessão de cultivos, além de características fenológicas específicas, devem 102 Parte 4 ser considerados na seleção do método/sistema de irrigação. O nível de tec- nificação do irrigante é um fator que deve ser considerado, devendo-se evitar sistemas de irrigação de alta complexidade de operacionalização aplicados a usuário com baixo nível de adoção de tecnologias. Método de superfície A irrigação por superfície constitui no mais antigo modo utilizado pela humanidade na irrigação dos seus cultivos. Os principais sistemas as- sociados a esse método são a irrigação por sulcos, por inundação e por fai- xas. A necessidade de sistematização do terreno faz com que sua utilização esteja mais apropriada a terrenos com relevos mais planos, o que resulta em menores volumes de movimentação de terra e, consequentemente, menores custos de implantação do sistema. Nesse método, o fato de o solo ser o elemento condutor da água faz com que sua textura e estrutura sejam fator determinante: solos de textura arenosa não são apropriados, no sentido de reduzir as perdas de água por percolação profunda e reduzir a uniformidade de aplicação de água (maior diferença de lâmina aplicada en- tre a porção da parcela de irrigação que recebe a menor e a maior lâmina). Embora normalmente associados às características de baixa eficiência de distribuição e aplicação de água, esses sistemas, quando bem dimensio- nados e operados, podem apresentar níveis de eficiência compatíveis aos métodos mais modernos. Em cana-de-açúcar, o principal sistema utilizado é o de sulcos, sendo normalmente associado ao plantio em fileira dupla. Métodos pressurizados Sistemas por aspersão A irrigação por aspersão constitui o método predominantemente utilizado na cana-de-açúcar. Características como a facilidade de operação, Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 103 o bom controle da lâmina que se quer aplicar e o menor custo de operação e manutenção ajudam a explicar seu grande uso na cultura. Nesse método, os sistemas de irrigação denominados autopropelido (carretel enrolador), pivô-central e lateral móvel são os mais utilizados, com predomínio do pri- meiro. No caso do carretel enrolador,a sua área irrigável está relacionada com as características do aspersor utilizado (raio de alcance) e pelo comprimento da mangueira, a qual pode alcançar até 400 m, com diâmetro normalmente variando de 100 mm a 140 mm. A área irrigável por dia pelo equipamento é definida em função das características citadas acima mais a velocidade de deslocamento do aspersor e a vazão do aspersor, que, em conjunto com o espaçamento do caminhamento, determinam a lâmina aplicada. Nesse sistema são utilizados aspersores popularmente denominados canhões hidráulicos, com vazão variando entre 80 m' h' e 150 m' h' e espaça- mentos recomendados de 70 m a 90 m. A velocidade de deslocamento pode ser parametrizada eletronicamente no equipamento em função da lâmina que se deseja aplicar, sendo que a lâmina aplicada em uma dada velocidade é função da vazão e espaçamento .do aspersor. De modo geral, a velocidade de recolhimento da mangueira pode variar de 0,3 ma 20 m por minuto. Nesse equipamento, além da pressão utilizada para o funcionamento do aspersor, se faz necessário uma pressão adicional, sendo que parte dessa pressão adi- cional é utilizada no acionamento da turbina responsável pelo movimento giratório do carretel enrolador (60% a 70%) e parte para compensar a perda de carga na mangueira de polietileno (30% a 40%). O uso mais comum do carretel enrolador é na irrigação suplementar da cana, às vezes chamada irrigação de salvação (Figura 1A). Na região Nordeste, o equipamento é comumente utilizado para aplicar uma lâmina de 60 mm, duas a três vezes no início de ciclo da cana plantada no verão, garantindo o seu desenvolvimento inicial, até a chegada do período chuvo- so. Em muitas situações a aplicação dessa lâmina ultrapassa a capacidade de armazenamento do solo na camada de domínio das raízes nessa fase do Parte 4 104 ciclo, O que deve favorecer perdas por percolação, reduzindo a eficiê~cia ~a .. - O equipamento é também largamente utilizado para aplicação Irngaçao.. .1 3 h -1 de vinhaça, sendo essa aplicação da ordem de 70 m 3 ha a 80 ma. a> "O c: 3la>o:: s :J o (/) o "Oroc: oo:: Figura 1. Carretel enrolador (A) e lateral móvel (8) irrigando cana-de-açúcar. O sistema lateral móvel apresenta-se estruturalmente idênt.ico ao pivô-central. No sistema pivô-central, o ponto inicial da linha de e~lssores de água é fixo e localizado no centro da área irrigada (de formato CIrcular), enquanto, no sistema lateral móvel, o ponto inicial se desloca, no campo juntamente com a linha de emissores, perpendicular à fonte de agua, o que faz com que a área irrigada assuma formato retangular ou quadrado. No sistema lateral móvel, o conjunto motor-bomba pode ser mon- tado em carreta móvel e com sucção direta em canal ou permanecer estacionário, sendo a alimentação da linha de emissores efetuada por ~an- gueira flexível de polietileno, com diâmetro de 4" a 6'; de tamanho vanavel, acoplada a uma adutora pressurizada composta de hidrantes espaçad~s com distância equivalente a duas vezes o comprimento da mangueira ,. . da é f - da intensidade de(Figura 1B). Nesse sistema, a lâmina aplica a e em unçao . aplicação média e do perfil de molhamento estacionário (largura da faixa molhada) dos seus emissores. ., t I o sistema Em razão da semelhança estrutural com o pivo-cen ra , d . d mo pivô linear.lateral móvel é comumente erroneamente enomma o co Capítulo 3 105Irrigação em cana-de-açúcar Sistemas localizados Os métodos de irrigação localizados se caracterizam por umedecer apenas uma parte da superfície do solo sob cultivo, sendo a água aplicada diretamente sobre o local de maior uso (a área maior de influência do sistema radicular da planta). O efeito direto dessa localização é a redução da superfí- cie de evaporação, fazendo com que esse método seja referenciado dentre os demais como o que apresenta maior eficiência de aplicação de água. Os sistemas de irrigação são a microaspersão, a exsudação e o gote- jamento. Por apresentar emissores de água com orifícios de pequenos diâ- metros, nos métodos localizados, a filtragem da água se faz necessária no sentido de reduzir o potencial de entupimento dos emissores (Figura 2A). No entanto, dependendo da qualidade da água em termos físicos, químicos e biológicos, apenas a filtragem pode não ser suficiente, exigindo a adoção de tratamentos específicos, lavagem frequente das linhas de emissores (Figura 2B), além de monitoramento contínuo. O sistema de gotejamento enterrado é o predominantemente utili- zado, em razão de maior adaptação às características do cultivo da cana- -de-açúcar. A irrigação por gotejamento subsuperficial (GSS) é uma varia- ção da irrigação por gotejamento e pode ser definida como a aplicação de Figura 2. Central de filtragem (A) e finais de linha em gotejamento subsuper- ficial em cana-de-açúcar (8). 106 Parte 4 água abaixo da superfície do solo, por emissores com vazão geralmente na mesma faixa da irrigação por gotejamento superficial. A profundidade de instalação dos emissores bem como o espaçamento entre linhas laterais são definidos em função do tipo de solo, da cultura a ser plantada e das práticas de cultivo utilizadas na área; de modo geral, as profundidades utilizadas variam de 0,2 m a 0,3 m. Esse método de irrigação apresenta diversas vantagens em relação à irrigação por gotejamento convencional, como: a) possibilidade de apli- cação de fertilizantes de baixa mobilidade no solo, uma vez que eles são colocados diretamente no ponto de absorção pelas raízes; b) as manguei- ras de polietileno não estarão expostas à luz do sol e a ciclos de aqueci- mento/resfriamento, aumentando a vida-útil do material; c) não interfere nos tratos culturais que envolvam circulação de máquinas, fator este muito importante, por exemplo, na cultura da cana-de-açúcar, além de eliminar o problema de cortes de mangueiras por ocasião das capinas; e d) a redução de proliferação de doenças fúngicas e de ervas daninhas, uma vez que a superfície do solo estará seca. No gotejamento enterrado, além das causas de entupimento de origem física (partículas de solo), química (principalmente precipitados de cálcio e ferro) e biológica (filmes biológicos de fungos e bactérias), o intrusio- namento de raízes no orifício de saída de água dos emissores, causando seu entupimento, pode se tornar o principal problema relacionado ao sistema. Encontra-se frequentemente na literatura referência ao fato de que apenas com o correto manejo da irrigação é possível evitar o processo da intrusão das raízes nos gotejadores enterrados (CAMP et aI., 2000). Parte- -se do princípio de que, proporcionando um regime de umidade do solo adequado, as raízes não precisarão adentrar os gotejadores em busca da água remanescente no seu interior. A ideia é que o manejo da irrigação pode influenciar a probabilidade de ocorrer intrusão de raízes, dado que interfere no ambiente imediatamente adjacente ao emissor; isso porque Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 107 a irrigação de alta frequência, que mantém o solo em volta d . ,. , o emissor sempre proxrrno a saturação, pode inibir o crescimento radicular nessa área p~ra algumas ~'antas: De modo contrário, o deficit de umidade do solo, seja por manejo deficiente da irrigação ou algumas vezes imposto b' . d com o o. jetivo e controle da frutificação, da qualidade na maturação ou do cres- Cimento vegetativo, pode aumentar a intrusão como consequência da alt concentração de raízes na área do emissor. Resultados obtidos por Resende et aI. (2~04, 2012) não evidenciaram uma relação clara entre regime hídrico do solo Imposto pela irrigação e a intrusão de raízes em gotejadores. , Na Tab~'a 1, é apresentado o resultado de medição da vazão de go- t~Jadores apos quatro ciclos de plantio de cana-de-açúcar, submetidos a diferentes níveis de irrigação, aplicados como fração da evapotranspiração de referência (% ETo) e duas profundidades de enterrio do tubogotejador, E~b,ora na,p~ofu~didadede enterrio de 0,35 m o menor nível de irrigação (Iamrna de Irngaçao definida como 45% da ETo medid ' , I a na semana antenor Ta~e~a 1._Vazão média de goteja.dores - Qm (n = 80) em função do manejo da Irngaçao (% da evapotranspiração de referência - ETo) e da profundida- de de instalação do tubogotejador(l). ETo(%) ~ ~ QR(%) 0,35 m 0,25 m 0,35 m 0,25 m 0,35 m 0,25 m 1,26aA 1,46aB l,54aB 1,46aB 1,43 30,5 82 83 80 84 82 1,40aA 1,41aA l,36bA 1,43aA 1,40 34,0 42 32 19 23 29 36 28 38 30 33 74 86 90 85 84 90 135 180 ** ns 111 Médias se uidas ". . os níveis do~at .de le~~a~Igualsmmusculas, entre os níveis do fator profundidade, e maiúsculas, entre Fo. or agua. Nao slgnlficatlvo.**Significativo a 5% de probabilidade, pelo teste F. nte. Resende et aI. (2012). Parte 4 108 à irrigação) resultou em uma menor vazão média, na profundidade de 0,25 m, não ocorreu essa tendência de redução da vazão dos gotejadores provocada por intrusão de raízes face ao manejo da irrigação adotado. Outra causa de entupimento possível é a entrada de partículas de solo dentro dos emissores em virtude da formação de vácuo no momento em que o sistema é desligado (RESENDE,2003). Nesse caso, a prevenção é feita pela colocação de válvulas antivácuo em maior número que o normal- mente utilizado nos métodos localizados superficiais. Como todos os outros métodos, a qualidade do manejo e o constante monitoramento do seu funcionamento, com a instalação de hidrômetros, são de fundamental importância e vai determinar o sucesso ou fracasso do sistema. Demanda hídrica No planejamento e manejo de áreas irrigadas, um alto grau de preci- são da evapotranspiração das culturas evita o desperdício de água e infere sustentabilidade ao sistema de produção, uma vez que possibilita o uso eficiente da água, melhorando sua produtividade nos cultivos. A Food and Agriculture Organization (FAO) recomenda um método para estimativa da evapotranspiração de cultura (ETc) em condições potenciais, com base na evapotranspiração de referência (ETo), que utiliza a equação de Penman- -Monteith (PM) e o coeficiente de cultivo (Kc), que varia com a fase de desenvolvimento da cultura (ALLEN et aI., 1998). Em muitas situações, quando se pretende definir os totais de água a ser utilizada na irrigação em cada fase fenológica da cana-de-açúcar, faz-se uso dos coeficientes de cultivo determinados pela FAO, ao invés de se bus- car valores determinados localmente. Entretanto, principalmente em áreas onde há alta demanda atmosférica e a produção de cana se dá por meio da irrigação, é primordial que se utilizem dados de Kc mais responsivos a Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 109 cada condição de cultivo, compreendendo as condições de cada ambiente de produção, por meio de sua combinação com a evapotranspiração de referência, ajustados para o clima, o solo, o sistema de irrigação, o ciclo, o espaçamento, a variedade entre outros fatores. Para isso, diversos métodos podem ser utilizados para medir ou estimar a evapotranspiração, incluindo abordagens hidrológicas, micro- meteorológicas e fisiológicas (RANA; KATERJI,2000). Estudos mais recentes visando determinar a evapotranspiração e as necessidades hídricas da ca- na-de-açúcar têm sido realizados principalmente no Brasil, na Austrália, na África do Sul e na índia. Salienta-se que determinações em campo da ETc e das necessidades hídricas dos cultivos, principalmente da cana-de-açúcar, apresentam elevado custo, pois, além do instrumental necessário, a cana é uma cultura semiperene, cultivada por mais de 5 anos, em que cada ciclo pode se estender até 1,5 ano. Em função da importância dessa cultura, a determinação da evapotranspiração e da demanda hídrica da cana-de-açú- car tem sido realizada, em geral, no mínimo para os ciclos de cana-planta, primeira e até segunda soca. Em regiões onde a exploração comercial ocorre em condições de se- queiro, o conhecimento da evapotranspiração da cultura da cana-de-açú- car é de grande importância para melhorar o manejo de água, assegurando que o estresse hídrico seja minimizado em fases críticas de crescimento. Por outro lado, quando irrigado, o cultivo deve ser realizado de maneira planejada e sustentável, para potencializar a utilização dos recursos na- turais como a água, de modo a garantir a preservação do meio ambiente com aumento da produção de colmos e sacarose. Esse planejamento deve ser realizado com base em parâmetros científicos que permitam conhecer melhor o comportamento da vegetação e suas interações com o meio ambiente. Isso é possível com a realização de estudos compreendendo o monitoramento micrometeorológico (Figura 3) para determinação dos componentes do balanço de radiação, de energia, a evapotranspiração e a Parte 4 110 disponibilidade de água no solo, que juntos interagem para o dese~volvi- mento fenológico e produtivo das plantas, e estes, por sua vez, no sistema solo-planta-atmosfera. Figura 3. Torre micrometeorológica instalada em uma área de cana-de-açú- car após a colheita, em Juazeiro, BA. Quando se utiliza métodos micrometeorológicos, a determinação da ETc pode ocorrer pela partição da energia disponível (Rn - G) entre calor sensível (H) e latente (}..E), utilizando o método do balanço de energia com base na razão de Bowen (Berb), que se baseia na relação do fluxo-gradiente, e da transferência de massa ou o método das correlações turbulentas ou "Eddy Covariance" (EC). No Brasil, esses métodos têm sido amplamente aplicados para a cana-de-açúcar em diversas regiões de cultivo, tanto tra- dicionais como de expansão: Semiárido (CARMO, 2013; SILVA et aI., 2012a), Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 111 Tabuleiros Costeiros da Paraíba (SABOYA et aI., 2014; SILVA et aI., 2013b), Tabuleiros Costeiros de Alagoas (LYRAet aI., 2012), São Paulo (CABRAL et aI., 2012), Norte Fluminense (LYRA et aI., 2012; SOUZA et aI., 1999). Um levantamento dos dados de coeficiente de cultivo para a cana- -de-açúcar no Brasil é apresentado na Tabela 2. Como pode ser observado, há uma grande variação nos valores do Kc da cana-de-açúcar no Brasil, principalmente na fase inicial de crescimento. Essas diferenças se devem a vários fatores, como condições de cultivo, clima, cultivar, tipo de solo, sistema de irrigação, data de plantio, dentre outros. Tabela 2. Coeficiente de cultivo (Kc) para as fases inicial, média e final da cana-de-açúcar. F t L I Coeficiente de cultivo (Kc) on e oca Inicial Médio Final Silva et aI. (2013a) Litoral da Paraíba, PB 0,18 1,06 0,76 Gonçalves (2010) Paraipaba, CE 0,23 1,03 0,50 Silva et aI. (2012a) Litoral da 0,40 1,31 0,90 Paraíba, PB 0,56 1,43 0,99 Carmo (2013) Juazeiro, BA 0,75 0,87 0,52 0,54 0,83 Silva et aI. (2012b) Juazeiro, BA 0,60 1,10 0,85 Apesar de se apresentar valores de Kc médios para as fases de desen- volvimento da cultura, esses valores são determinados em escalas diárias e, posteriormente, têm suas médias calculadas para os meses ou para as fases fenológicas. O que se observa na Figura 4, para a Fase I, é que os valores de Kc variaram entre 0,64 e 0,71; para a Fase 11, o valor de Kc aumentou para a faixa de 0,85 a 1,0; para a Fase 111, constatou-se que o valor médio de Kc foi, aproximadamente, igual a 1,10; e, para a Fase IV, houve redução nos valores de Kc para 0,85. 114 Parte 4 do local, sendo que o total diário da evapotranspiração da cana alcançou picos de 6,0 mm a 15,0 mm. Esses autores reportaram também que o mé- todo utilizado na determinação da evapotranspiração de referência (ETo) resulta em diferentes valores de Kc. o método do balanço hídrico no solo também tem sido utilizado para determinação da demanda hídrica. Em Rio Largo, Alagoas, Sampaio Neto (2010) observou que, em ciclos de produção da cana-de-açúcar, a pre- cipitação pluvial total foi de 1.806 mm no ciclo de cana-planta, 1.508 mm em cana-soca e 1.913 mm na ressoca, sendo que a evapotranspiração da cultura (ETc) foi de 1.774mm, 1.413 mm e 1.689 mm, respectivamente. Salienta-se que, apesar dos elevados totais pluviométricos, houve períodos dos ciclos de produção em que se verificou deficit hídrico, assim como períodos com oferta superior a demanda. Gava et aI. (2011) também utilizaram o método do balanço hídrico no solo e observaram que, em cultivo de cana-de-açúcar irrigada em São Paulo, a evapotranspiração da cultura totalizou 1.070 mm e 1.083 mm, em 2 anos consecutivos. Atualmente, os métodos micrometeorológicos para medição da evapotranspiração têm-se destacado. Carmo (2013) comparou o uso da metodologia do Balanço de Energia com base na razão de Bowen (Berb) com o método das Correlações Turbulentas (EC) em um cultivo de cana- -soca irrigada por gotejamento subsuperficial no Semiárido de Juazeiro, BA. Esse autor observou que a evapotranspiração da cana pelo método Berb para todo o ciclo do cultivo foi da ordem de 1.478 mm, inferior à demanda atmosférica (1.805 mrn), e também inferior aos 1.687 mm que entraram no sistema por precipitação e irrigação (Figura 6). Do início do ciclo até o final da fase de máximo crescimento, o total acumulado da ETcfoi de 1.186 mm pelo método das correlações turbulentas e de 1.307 mm pelo método da razão de Bowen (CARMO, 2013). Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 115 Ê 2.000.s ~ 1.600 .!!! ;j § 1.200 (J 1'1Is 800 Cl '1'1I ~ 400 1'1Is: c::.J F4 • P+I • ETo • ETc_RB ETc_EC 0;0=---~5~0----~969~--~~--~,-----~----~-- 149 198 248 Dias após o corte (DAC) Figura 6. Lâminas de água: precipita ão + ir( - de referência (ETo) e da cultura (E1i)Ç I I~açao (P+I), evapotranspiração tas (EC) e da razão de Bowen RB c , p~ o metod~ das correl,ações turbulen- -açúcar irrigada por gotejament~ sJb ao o~~~ do cicio de cultivo da cana-de- Fonte:Carmo (2013) supe IClal em Juazeiro, BA. 297 347 ineren~:eà:uC:~:~~to hídri~o da .can~-d.e-açúcar é influenciado por fatores c . çoes amblentals, técnicas agrícolas, período de plantio e ultlvares. Em estudo realizado por Silva et ai (2013 ) . d' . a , a evapotransplração BA a c~na-~e-:çucar irrigada sob- as condições de clima e solo de Juazeiro , e mais lortemente cont I di' ponibilidade d . ro a a pe as condições meteorológicas (dis- c I e energia) do que pelo controle estomático. Os fatores que ontro am a transferência d ' disponibilidade de ' e agua para atmosfera variam em função da cultivadas d t agua do solo, das condições ambientais, das variedades , en re outros Em dec A • d' da cult d . orrencia ISSO, o requerimento hídrico ura a cana-de-açúcar tende a apresentar grandes varia _ ;~~~~ões ~e produção (CARR; KNOX, 2011; DOORENBOS; KASS~~s ~;;~~ et a., 2008; INMAN-BAMBER; SMITH, 2005; PACHECO et aI., 1;83). ' De acordo com Doorenbos e Kassa ( . da cult ' m 1979), o requerImento hídrico ura esta entre 1 500 2 rarn valores d . mm e .500 mm. Pacheco et aI. (1983) observa- e evapotranspiração acum I d1.600 u a a para a cana-de-açúcar entre rnrn e 1 800 mm na P , . d a 1 650 . ,roVInC/a e Matanzas, em Cuba; de 1.420 mm . rnrn, em Porto Rico' 1 936 m . ,. m, na Argentina; porém esses valores 116 Parte 4 tendem a diminuir com o ciclo da cultura (cana-planta, primeira soca e se- gunda soca). Alfonsi et aI. (1987) citam que, nas áreas canavieiras do Brasil, o total de precipitação pluviométrica anual varia de 1.100 mm a 1.500 mm. Apesar do grande número de informações sobre valores de coe- ficientes de cultivo, evapotranspiração e demanda de água da cana-de -açúcar em vários lugares do mundo e nas principais áreas de cultivo do Brasil, ainda pouco se conhece sobre a lâmina d'água total exigida sob as condições irrigadas. Dos principais países produtores, o Brasil é o que tem menor percentual de área com cana irrigada, e, em função da redução da produtividade e da grande variabilidade climática, novas áreas de cultivo estão surgindo, e nestas tem-se destacado o uso da irrigação. Com isso, é primordial se conhecer as relações solo-planta-atmosfera nesses novos am- bientes de produção para que se tenha uso eficiente dos recursos naturais. Manejo de irrigação Em razão da sua característica de metabolismo C4, a cana-de-açúcar é uma gramínea de elevada eficiência fotossintética e de uso de água. De modo geral, a cultura apresenta uma elevada resposta às condições de umidade do solo, desde que também satisfeitas a sua demanda por outras variáveis ambientais, notada mente a luminosidade. Levando-se em conta a não uniformidade do regime anual de preci- pitação, a resposta da cana-de-açúcar à irrigação se torna dependente da magnitude e época de ocorrência do deficit hídrico e das condições climá- ticas prevalecentes nesse período. Nas regiões tradicionais de produção do Sul e Sudeste do País,a época de ocorrência de deficit hídrico está associada ao momento de menor demanda evapotranspirativa e mais baixa tempe- ratura; de modo contrário, na região Nordeste há uma coincidência entre o momento de ocorrência do deficit hídrico com o de maior demanda eva- Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 117 porativa da atmosfera, potencializando o efeito do déficit h'd . I rrco, mas, ao mesmo tempo, aumentando o potencial de resposta da planta à irrigação. Com base nas normais climatológicas do período de 1961 a 1990 f _ id ' or neCi. as pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), pode-se visualizar, n~ ~,gura 7, o período de ocorrência, bem como a magnitude do deficit hidrlco para diferentes regiões de produção de cana, tanto tradicionais como de expansão. Como exemplo, para a safra 2007/2008, o deficit hídri- co de verão (c~nsi_derado apenas como a diferença entre a precipitação e a eva~otransplraçao de referência - ETo) foi de 572 mm, para a região de Corurrpe, e de 747 mm, para a região de Teresina, Piauí. Um componente importante de manejo da irrigação da cana é o co- nhecimento dos coeficientes usados para estabelecer a evapotranspiração ~Tc~at~an~du_va__ ~=-__~ ~ • Excedente • Oefieit • Retirada • Reposiçãog _o ê~ -o••o.E~ E ~o ~~~~--------------~ , Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Mês o Maceió ~~=---------------------~ • Excedente • Oefieit • Retirada • Repcslçâcg ~~~~~----------------~ Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Mês o Dourados ~~=-----~----------------s • Excedente • Déficit • Retirada • ReposiÇ<lo M oo ~.~----------------------~ , Jan. Fev, Mar. Abr. Maio Jun. Jut. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Mês o Teresina ~~~--------------------~ g • Excedente • Oefieit • Retirada • ReposiÇ<lo M _oE o E N -o"o.E ~ E ~o ~~----------------~==--~ , Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Mês Figura 7 Bala hid . . ,. cana d . , nço I nco c/lmatologlco para diferentes áreas de produção de - e-açucaro Fonte: Inmet (2016). 118 Parte 4 d cultivo (ETc) em diferentes estágios do seu desenvolvimento, a partir o fi'da estimativa da evapotranspiração de referência (ETo). Esse coe Clent~, denominado de coeficiente de cultivo (Kc), é normalmente obtido a partir do Boletim FAO-56 (ALLEN et aI., 1998), embora diversos trabalhos venha_m determinando-os para as condições específicas das áreas de produçao tradicionais e de expansão da cana-de-açúcar no País. Os valores rec~~e.n- dados no Boletim da FAO são: 0,40 para a fase de desenvolvimento inicial (Fase 1), 1,25 para a fase de formação da produção (Fase 3) e 0,75 para a fase de maturação (Fase 4). Para a fase de crescimento da cultura (Fase 2), o Kc assume valores intermediários entre as fases 1 e 3. Maiores detalhes quanto à demanda hídrica da cultura são fornecidos no item específico de demanda hídrica. Além de questões de natureza genética, pode-se dizer que, enquan- to na região Sudeste o nível de resposta da cana à irrigação está fortemente relacionado ao efeito da temperatura e energia radiante de inverno, n.a região Nordeste a resposta está mais relacionada à mag~itude d~ ~efiClt hídrico de verão, que pode ser minimizado com a adoçao da praticada irrigação. Ferti rrigação A irrigação e a fertirrigação são técnicas benéficas para a cultura da cana-de-açúcar, pois proporcionam melhor desenvolvimento das.plantas, maior produtividade e um produto de melhor qualidade. O qotejarnento subsuperficial, em termos comparativos, tem-se destacado, notada mente, - - daPor apresentar inúmeras vantagens, tais como reduçao da evaporaçao . f A' moságua, redução de danos mecânicos ao sistema, menor mter eren~la co . tratos culturais, melhor eficiência na aplicação dos fertilizantes dissolvidos na própria água de irrigação ou fertirrigação e aumento da longevidade do canavial. Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 119 O conhecimento do efeito das doses de nutrientes que maximizam a produtividade econõmica da cultura, principalmente o nitrogênio e o potássio, baseia-se na adubação convencional via solo. A fertirrigação, em- bora seja uma técnica com elevado potencial para aumento da eficiência e redução dos custos da adubação, tem sido pouco praticada. Assim, estudos de doses e do fracionamento da aplicação necessitam ser executados nas regiões produtoras de cana. A decisão de investir em irrigação de cana conduz à necessidade de usufruir a possibilidade de aplicação de nutrientes se utilizando desse sistema, ou seja, fertirrigar. E aqui, mais uma vez, os aspectos de manejo da fertirrigação se sobrepõem como desafio aos de sistemas de injeção de fertilizantes. Questões como doses, qualidade e compatibilidade de fertilizantes, além do nível de fracionamento, perdas e potencial de con- taminação precisam ser reavaliadas em relação à aplicação convencional. Como são intrinsecamente ligados, a eficiência do manejo da irrigação afe- ta diretamente a eficiência da fertilização. A literatura é abundante quanto à nutrição e fertilização convencional via solo da cana-de-açúcar. Porém, o mesmo não ocorre com relação à fertirrigação, por ser técnica de utilização mais recente. Ademais, a condição de condução da cultura sem despalha a fogo adiciona novos elementos que redundarão esforços de P&D (público e privado) e do setor produtivo no sentido de ajustes da técnica para a nova condição de cultivo. Na Figura 8 é apresentada a resposta da cana à fertirrigação com do- ses variadas de nitrogênio e potássio visando estabelecer, para diferentes níveis de irrigação, a combinação desses fatores que maximizam a produ- ção de cana no Estado de Alagoas (RESENDE et aI., 2013). Trabalhos com propósito idêntico estão sendo conduzidos no Piauí (ANDRADE JÚNIOR et aI., 2012) e em Pernambuco. No caso da região Meio-Norte, Andrade Junior et aI. (2012) conduzi- ram ensaio na Usina Comvap - Açúcar e Álcool Ltda., situada em União, PI, 120 140 135 130 125 120 115 110 105 100 n.<Õ\) " t><\) '!) "J'l,-\)r:::, "J~'O\\) to 'V1'\\) 4,9 'l,-'l,-\)\\) ~~" " ,,<õ\) <;) ) "b< \),,'V \)\) '\ a.\) " <õ\) 'l,-\) Parte 4 .125 .120 .115 .110 .105 Figura 8. Resposta da cana à fertirrigação combinada com N e KP na varie- dade RB 927515, no Estado de Alagoas, com a variedade RB 867515, ciclo de primeira soca, para definir os níveis óti- mos de irrigação, nitrogênio e potássio em cana-de-açúcar, aplicados por gotejamento subsuperficial, para a máxima produção de colmos, açúcar e álcool. Os níveis de N, KP e irrigação aplicados durante o ciclo de cultivo estão descritos na Tabela 3. Os valores de produtividade de colmos foram elevados (média de 150,5 Mg ha'). o que indica o potencial de aplicação da técnica da fertirrigação na cultura da cana-de-açúcar, Essa média é 49% superior à produtividade alcançada com o tratamento testemunha, de 101 Mg ha'. que também foi elevada, tendo sido favorecida pelo adequado suprimento hídrico do solo proporcionado pela precipitação (1.601,4 mrn) durante o Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 121 lU C •....' lU ('I") r-... ('I") a r-:. u a ,~ ('1")' ~ 00 LI)' LJ'\ U'> r-, ~ <:t co N N lU ~ N I ~ Q) oo -O ~ I lU LrI- C a ~... lU a a ~ a a o u <:t- .....:- 0\ o~ rri LJ'\ ~ lU <:t -o co ~ ('I") r-, l:J ~ ~' O ?i ,~ o 00 u M O a a a a a ~o c o o o o LJ'\ o-o Vl -o co a N r-, r', O -O iJ<' lU O ,~ ~ ~' o, ~lU '" r-, a LI) r-, Q) LJ'\ ",' o LI)' ",' ~ Vl LI) <:t N 0'1 -o '" O N ('I") ('I") 'o +-' c Vl -O) '::; ~ Q) ~ •.... O) o, a ~ -c O co' a a a o <:t' 00 LJ'\ .'" '::::t::. N r-, <:t r-, r-, <.r ~ Q) '6. VI -o c Q) ~ õ z c. a a a a a '" Q) o o > -O Ó Ó LJ'\ O) r-, a ('I") -o r-, '" Vl -c Q) m Vl c O c -O O) Q) 0\ ~ O O) LI) a a a c. O o 0\ N' <:t' LJ'\ E 'IU N U'< --- ~ 0'1 r-, r-, ::> lU co <:t <:t LI) -o o 01 O E ';:: O o •.... N u VI lU o Q) •.... :Q -O '-+- a a a c lU a Vl Vl IÕ 00 Ó N \t: O) lU lU a a ~ ~ -c C C -o co q '"'! ~ E ci. o <lU lU .'" --J > <.r E tO '" M s: :~ O c lU U ::::I O) Qi lU E -c .Q c <li VI•... 'Qj ~ Vl V'I .~ ~ ~ z Parte 4 122 ciclo de cultivo (Figura 9), bem como pela moderada fertilidade natural do solo da área experimental. Em comparação à média histórica da usina (70 Mg ha'). a produtividade média de colmos da cana foi 115% superior. Produtividades elevadas de colmos sob condição irrigada, em comparação ao cultivo de sequeiro, também foram obtidas em diferentes ambientes de produção por Carvalho et aI. (2009), Dalri e Cruz (2008), Dalri et alo (2008), Dantas Neto et aI. (2006) e Farias et alo(2008). 150 125 Ê 100 .s o InI \.» 75s.ã. ·ü CI)•.. Q.. 50 25 o+-~+--L~~.-L-r-~.-~~~~~ Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. 2008 2009 Data Figura 9. Distribuição da precipitação durante o período experimental, na usina Comvap, na safra 2008/2009. Houve interação significativa (p < 0,05) entre os níveis de irrigação, de N e KP aplicados no ensaio, o que indicou a necessidade da geração de superfícies de resposta para a avaliação do efeito integrado da aplicação dos níveis de irrigação, de N e KP na produtividade de colmos, açúcar e álcool. Para tanto, fixaram-se as lâminas de irrigação para a avaliação con- junta dos níveis de N e KP (Tabela 2). Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 123 Houve incremento na produção de colmos à medida que se au- mentou a aplicação de N e KP, até a aplicação do nível médio de água (971,0 mm). A aplicação da lâmina total igual a 767,5 mm proporcionou produtividade de colmos máxima de 149,4 Mg ha', com os níveis ótimos de 92,2 kg ha' de N e de 100,5 kg ha' de KP (Tabela 4). Tabela 4. Níveis de N e de KP para otimização da produção de colmos (TCH), açúcar (TAH) e álcool (VAH), em função da lâmina total aplicada (chu- va mais irrigação) (W, rnrn), na usina Comvap, na safra 2008/2009. W (mm) N KP TCH TAH VAH (kg ha') (kg ha') (Mg ha') (Mg ha') (m3ha-') 767,5 92,2 113,3 113,3 120,0 160,0 160,0 114,2 90,0 90,0 20,0 100,5 133,0 133,0 120,0 133,0 133,0 60,1 60,0 60,0 149,4 17,7 12,7 170,1 971,0 22,5 16,0 207,4 1.154,0 25,3 Dalri e Cruz (2008) trabalharam com fertirrigação por gotejamento subsuperficial, em Nitossolo Vermelho transição Latossolo, textura média argilosa, com a variedade RB 72454, ciclo de primeira soca. Esses autores obtiveram produtividade de colmos da ordem de 142,2 Mg ha', aplicando 60 kg ha' de N e 60 kg ha' de K20. No entanto, esses valores de N e KP foram inferiores aos alcançados no presente trabalho, em virtude do nível mais elevado de fertilidade natural do solo. Elevando-se a disponibilidade de água no solo proporcionada pela lâmina total igual a 971,0 mm, a produtividade de colmos elevou-se para 124 Parte 4 170,1 Mg ha', com a aplicação de 121,3 kg ha' de N e de 103,8 kg ha' de KP (Tabela 2). Resultados semelhantes foram obtidos por Dalri e Cruz (2008), quando alcançaram produtividade de colmos de 171,2 Mg ha', com a aplicação de 120 kg ha' de N e de 120 kg ha' de KP via fertirrigação por gotejamento subsuperficial, na variedade RB 72454, ciclo de primeira soca. Os níveis ótimos de nutrientes para o alcance das produtividades máximas de colmos aumentaram como acréscimo da aplicação da lâmina de irrigação. Esse comportamento justifica-se à medida que a fertirrigação torna-se mais eficiente com o aumento da disponibilidade de água no solo, principalmente com relação aos nutrientes com elevada solubilidade, como o nitrogênio e o potássio (DALRI et al., 2008). Quando se manteve, porém, a disponibilidade de água no solo ele- vada com a aplicação da lâmina total de 1.1?4,0 mm, os níveis ótimos de N (114,2 kg ha') e de KP (60,1 kg ha') (Tabela 2) apresentaram redução de 6,2% e 72,7%, em comparação ao nível de média disponibilidade (971,0 rnm), mesmo ocorrendo incremento na produtividade de colmos (207,4 Mg ha'). Isso pode ser resultante da lixiviação de N e K com a aplicação da maior lâmi- na de irrigação, principalmente de K, o qual é aplicado em maior proporção a partir da metade até o final do ciclo de produção (DALRI; CRUZ, 2008). Houve incremento na produtividade de açúcar e de álcool à medida que se aumentou a aplicação de N, notadamente, e de KP até a aplicação do nível médio de irrigação (971,0 mm), de modo análogo ao que ocorreu com a produtividade de colmos. É importante ressaltar que a produtivida- de de açúcar e de álcool está estritamente relacionada à produtividade de colmos e à qualidade tecnológica do caldo obtido, principalmente quanto aos valores de porcentagem de açúcar bruto. Ao se considerar a mesma disponibilidade de água no solo, os ní- veis ótimos de N e KP, que proporcionaram as máximas produtividades de açúcar e de álcool, foram superiores aos que possibilitaram a máxima produtividade de colmos. Isso ocorreu porque, sob baixa (767,5 mm) e Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 125 média (971 mm) disponibilidade de água no solo, a qualidade tecnológica do caldo foi superior com a aplicação de doses maiores de N e KP, uma vez que a lixiviação desses nutrientes, provavelmente, foi reduzida sob essa condição hídrica no solo. Com a elevação da disponibilidade de água no solo, ocasionada com a aplicação da maior lâmina de irrigação, é possível que o processo de lixiviação desses nutrientes tenha sido maior, o que re- duziu a sua contribuição para a qualidade tecnológica do caldo. Ressalta-se que o potássio tem papel fundamental na qualidade tec- nológica do caldo, sobretudo no que diz respeito ao conteúdo de açúcares totais (UCHÔA et al., 2009). Portanto, nessa condição hídrica, o pequeno acréscimo ocorrido na produtividade de açúcar e álcool, em comparação à obtida com a lâmina W3, foi resultante mais do maior volume de produção de colmos do que da qualidade tecnológica do caldo (CARVALHO et al., 2009). Avaliação de cultivares sob regime irrigado Os estudos têm demonstrado resposta positiva, em termos de pro- dução de açúcar e álcool, de alguns genótipos de cana-de-açúcar, os quais, em sua totalidade, são oriundos de programas de melhoramento voltados à obtenção de variedades destinadas ao cultivo de sequeiro. Nesse sentido, é muito importante a execução de estudos visando à expressão do poten- cial produtivo de cultivares em diferentes regimes hídricos, nos distintos ambientes de produção. Em ensaio executado na região Meio-Norte, nas condições de solo e clima de Teresina, PI, avaliou-se a produtividade de colmos, açúcar e álcool de dez variedades comerciais de cana-de-açúcar, em ciclo de cana-planta, submetidas a três regimes hídricos (50%, 100% e 150% da ETo), aplicados por gotejamento subsuperficial, no período dos 90 aos 150 dias após o plantio (Tabela 5). 126 Parte 4 Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 127 I ltI Antes da imposição dos níveis de estresse hídrico no solo, foi apli- c ltI u r-, N N ~ \O r-, N N N ~ cada uma lâmina de irrigação uniforme de 118,1 mm. Durante a fase de Q) " r-....- 1'1'1 ~- -.:i à LJ'1 00 lI')- "-c N VI imposição dos níveis de estresse hídrico em função da aplicação diferen- ltI 'u N ciada da irrigação com base na ETo, foram impostos os seguintes totais de •... Q) r- r--, o ~o r-, N co "'!. ~ "'!. r-.... E N ~- ~- 00 0'1- 00 00 ~ v1 M lâminas de irrigação: Wl = 134,2 mm; W3 = 268,4 mm; e W5 = 402,6 mm. o -<, N N N N N N N U r- VI r- Computando-se a precipitação ocorrida na fase de aplicação dos tratamen- Q) o -c N ltI ltI r-, li"!. ~ li') li') ~ ~ ~ \O tos (303,4 rnm), esses totais foram iguais a: Wl = 437,6 mm; W3 = 571,8 mm; -c •... 00 "..•... 0'1- -.:i à " 0\ 0\ N Q) ltI 0'1 co li') \O ~ (V') r-, co li') o e W5 = 706 mm. Mesmo com a ocorrência de chuvas na fase de aplicação .;:: VI N N ltI ltI > c dos tratamentos, como elas foram registradas logo no início da imposição N ã:Q) -c eU o N co dos regimes hídricos avaliados, razoável diferenciação nos níveis de dis- N \O N r-, 0'1 co N Q) c -D 0'1- -.:i N- 0\ 00 à M M à-c I VI ponibilidade de água no solo foi conseguida, conforme será demonstrado Q)•... ~ ~ com o monitoramento do conteúdo de água no solo (Figura 10). o E (V') \O r-, o "'l. ~_ co (V') Q) N \0- à r-....- -.:i 0\ 0\ ~- A umidade do solo foi medida com base na técnica da capacitância, o r-, li') u N N N N N :r: '1tI a:: utilizando uma sonda FDR (Diviner"), a qual foi inserida em tubos de acesso Q) -VI :r: o r-, (V') 0'1 co N o ~ 0'1 ~ (V') instalados aleatoriamente na área. As profundidades de medição foram: é -c " co- r-....- 0\ v1 0'1- M " à ltI 'u r-, li') li') (V') ~ 0'1 (V') li') co (V') 0,10 m, 0,20 m, 0,30 m, 0,40 m e 0,50 m. As leituras da umidade foram efe- N N•... C ltI Q) U •... tuadas com frequência diária (Figura 10). '::::l Q) U"~ ltI -c o o 0'1 li') ~ "t Sob condição de reduzida disponibilidade de água no solo (50% ETo), I VI v1 M à v1 00 N- -.:i -.:i o u u as variedades que mais se destacaram quanto à produtividade de colmos t: .;:: :2 VI ..c (TCH), açúcar (TAH) e álcool (VAH) foram: RB867515 (TCH = 203,5 Mg ha': o E VI Q) q co N co N \O r-.... co o E 0'1- M N v1 r-....- 0\ 0\ v1 TAH = 25,8 Mg ha': e VAH = 18,5 m3 ha'), RB92579 (TCH = 167,4 Mg ha': u N N N Q) 01 TAH = 22,2 Mg ha': e VAH = 15,9 rn" ha') e RB931011 (TCH = 160,2 Mg ha': Q)-c •... Q) ltI TAH = 21,0 Mg ha': e VAH = 15,0 rn' ha') (Tabela 5). -c VI N o o ~ li') co ltI ltI ~ co \O -c -c à ~- 0\ -: M à M -D ~- .:;; '';:; \O (V') ~ \O o ~ li') li') (V') Em condição de média disponibilidade de água no solo (100% ETo), Q) ~ N '';:; E::::l as variedades que mais se destacaram quanto à produtividade de colmos -c .o o ::::l•... VIo... •... (TCH), açúcar (TAH) e álcool (VAH) foram: RB931011 (TCH = 258,3 Mg ha': ltI oLI\ u li') 0'1 ~ N '::::l ~ (V') o 0'1 ~ N ~ ~ ~ TAH = 26,6 Mg ha': e VAH = 19,2 rn' ha'), RB92579 (TCH = 215,2 Mg ha': lU U" o li') ~ r-, li') o li') N Qi ltI ~ ~ r-, li') r-, (V') ~ ~ o Jl I (V') (V') co N \O \O 0'1 N 0'1 TAH = 27,3 Mg ha': e VAH = 19,6 m3 ha') e RB867515 (TCH = 199,0 Mg ha': Q) 0'1 0'1 0'1 0'1 co co r-, r-, ~{J. -c co co co co co co o... co I o:: o:: a: o:: o:: o:: V') o:: > TAH = 25,4 Mg ha': e VAH = 18,2 m3 ha') (Tabela 5). 128 Parte 4 Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 129 35 -10em -20em Em condição de elevada disponibilidade de água no solo (150% ETo), T1 - 50% ETo as variedades que mais se destacaram quanto à produtividade de colmos~ 30 -30em -40em ~ (TCH), açúcar (TAH) e álcool (VAH) foram: RB867515 (TCH = 258,3 Mg ha':o 25 -SOem Õ VI 20 TAH = 28,8 Mg ha': e VAH = 20,7 m3 ha'), VAT90212 (TCH = 202,6 Mg ha':o 1::J Q) 15 TAH = 23,7 Mg ha': e VAH = 17,1 m3 ha') e RB962962 (TCH = 198,7 Mg ha':1::J CII 1::J 10 TAH = 24,7 Mg ha': e VAH = 17,7 m3 ha') (Tabela 5),'E :J 5 o Por outro lado, a variedade com menor produtividade de colmos, o o o o o ~ ~ ~ ~ ~ N N N N N N ~ ~ -e--'~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ N (O -c-,~ -e--' ~ ~ ~ ~ ~ açúcar e álcool, sob condição de estresse hídrico no solo, foi a RB98710M -c-, tõ (O - ;:::: (O - - - ;:::: N (O ~ (O ~~ ~ ~ ~ L!) N~ N (") ~ ~ N N ~ ~ N N Data (TCH = 119,0 Mg ha': TAH = 13,8 Mg ha': e VAH = 10,0 m3 ha'), indicando 40 -10em -20em que ela apresenta baixa tolerância ao estresse hídrico, enquanto a cultivar T2 - 100% ETo 35 -30em -40em RB92579 foia que expressou menor potencial produtivo sob condição dec 30 solo de elevada disponibilidade de água no solo (TCH = 144,5 Mg ha-1;TAHo -50em Õ 25 VI = 18,2 Mg ha': e VAH = 14,6 rn' ha') (Tabela 5), indicando que essa cultivaro 201::J Q) 15 não tolera solos que estejam demasiadamente úmidos,1::J CII 1::J 10'E :J 5 o Produtividade sob regime irrigado o o o o o ~ ~ ~ ~ ~ N N N N N N ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ -e-- ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ N (O ~- ;:::: - (O - - - ;:::: N (O (O ~M ~ tõ (O ;;; ~ ~ L!) N N~ ~ N ~ ~ N N ~ ~ N Trabalhos de pesquisa em várias regiões produtoras do mundo Data 40 (BAHADAR et aI., 2000) e do Brasil, com algumas variedades de cana-de -10em -20em 35 T3 - 150% ETo -açúcar, têm demonstrado o efeito da irrigação no aumento da produtivi- ~ -30em -40em ~ 30 dade, tanto de colmo como de açúcar e álcool. No Brasil, foram conduzidoso Õ 25 alguns estudos recentes com o objetivo de avaliar a técnica da irrigaçãoVI o 201::J cultura da cana-de-açúcar em diferentes ambientes de produçãoQ) na 1::J 15 CII (ANDRADE JÚNIOR et aI., 2009; CARVALHO et aI., 2009; DALRI; CRUZ, 2002;1::J 10'E :J 5 DALRI et aI., 2008; DANTAS NETO et aI., 2006; FARIASet aI., 2008; GAVA et aI., o 2011; OLIVEIRA et aI., 2008),o o o o o ~ ~ ~ ~ ~ N N N N N N -e-- ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ N (O ~ M - tõ (O ;:::: - (O - - - ;:::: N (O - (O ~~ ;;; ~ ~ L!) N ~~ ~ N ~ ~ N N ~ ~ N N No caso específico da região Meio-Norte, estudos conduzidos por Data Figura 10. Variação do conteúdo de água no solo obtido com a aplicação Andrade Júnior et aI. (2009) demonstraram a viabilidade técnica da irriga- ção por gotejamento subsuperficial em cana-de-açúcar nas condições dediferenciada das lâminas de irrigação durante a fase de imposição dos níveis de estresse hídrico no solo. solo e clima de União e Teresina, PI. Na Figura 11, é apresentada a curva de 130 Parte 4 produção de cana-de-açúcar, variedade RB-867515, conduzida nas safras 2007/2008, 2008/2009 e 2009/2010, em função de diferentes níveis de irrigação localizada subsuperficial, tendo sido esses níveis calculados como percentuais de reposição de 0% (WO - sem irrigação), 45% (W1), 90% (W2), 135% (W3) e 180% (W4) da ETo, nas condições edafoclimáticas de Coruripe, Alagoas (RESENDE,2013). 150 140 130-'(li s: 120 CI ~ 110J: o I- 100 90 80 2007/2008 -wo -W1 -W2 -W3 -W4 2008/2009 2009/2010 Safra Figura 11. Curva de produção de cana, variedade RB-867515, para três ci- cios de plantio, sob diferentes níveis de irrigação correspondentes a 0% (WO - sem irrigação), 45% (W1), 90% (W2), 135% (W3) e 180% (W4) da ETo, Foi observado que o manejo da irrigação com base em 135% da ETofoi o que proporcionou os maiores níveis de produtividade ao longo de três ci- cios de cultivo. O incremento médio de produtividade em relação ao plantio conduzido sem irrigação foi de aproximadamente 14%. Um incremento de 16% e 11% em relação à cana não irrigada foi obtido com irrigação de cana por Carretero (1982), para os ciclos de cana-planta e primeira soca, respecti- vamente. Por outro lado, na região de Botucatu, Dalri e Cruz (2002) obteve incremento de produção de colmos de 45%, em relação à cana não irrigada. Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 131 O incremento de produtividade física da cana (toneladas de cana por hectare - TCH), em função da irrigação, tem sido amplamente observado. Já o efeito nas características qualitativas do caldo não tem sido observado com a mesma frequência. De modo geral, o uso da irrigação não tem redun- dado em alterações estatisticamente significativas de variáveis qualitativas do caldo, como POl do caldo, °Brix, açúcar total recuperável (ATR), entre outros. Os ganhos de produtividade de açúcar ou álcool têm sido mais diretamente relacionados aos ganhos em TCH que a essas variáveis. Uma questão relacionada à irrigação de cana-de-açúcar se refere à via- bilidade econõmica dessa técnica, principalmente em regiões de produção do País de maiores latitudes, em função das características de clima acima mencionadas. Para as condições da região norte do Estado de São Paulo, Matioli (1998) demonstrou a viabilidade econômica do uso da irrigação, para a cana colhida nos meses de maio ajulho, quando considerando os benéficos diretos e indiretos proporcionados do seu uso. Na região Nordeste, Santos (2005) concluiu que existe viabilidade econômica, também considerando os benefícios diretos e indiretos, para a irrigação suplementar de cana plantada no mês de janeiro e inviabilidade para a cana plantada em março. Além do nível de resposta da planta em função das condições am- bientais prevalecentes, a viabilidade econômica da irrigação, em termos de benefícios diretos, é determinada principalmente pelos fatores preço de venda da cana (ou açúcar ou álcool, em R$ por unidade do produto), custo da irrigação (R$ rnrn'), custo de produção da cana (R$ ha'). A partir da obtenção da função de produção para o fator água e dos dados de re- ceita e custo mencionados, pode-se estabelecer a lâmina de irrigação que maximiza a renda líquida em função de diferentes níveis de preço da cana e do custo operacional da irrigação. De modo geral, quanto menor o valor dos itens de custo e maior o valor dos itens de receita, mais próximos ficam os valores da lâmina que maximiza a produção e da lâmina que maximiza a renda líquida. 132 Parte 4 Osbenefícios diretos e indiretos do uso da irrigação em cana-de-açú- car, em base racional, certamente resultam na viabilidade dessa técnica tanto para asáreasde expansão como para grande parte das áreastradicio- nais.Vale lembrar que a cultura é, historicamente, 50% a -55% destinada à produção de açúcar e, portanto, significativamente alimentar. Apesar disso, a prática da irrigação da cana-de-açúcar vem recebendo críticas em função de se estar utilizando recurso hídrico para produção de biocombustível. O esforço de P&D deve focar métodos e, principalmente, estratégias de manejo da irrigação, além dos estudos de demanda hídrica para diferen- tes ambientes de produção, visando minimizar a quantidade do recurso (água) por quantidade do produto (cana,açúcar,álcool). Além disso, há um esforço de investimento do setor canavieiro em estrutura de reservação hídrica própria, reduzindo o impacto sobre os corpos hídricos. Taisesforços possibilitarão estabelecer, de forma mais abrangente, a viabilidade técnica e econômica da irrigação na cana-de-açúcar. A produção de cana-de-açúcar irrigada no Cerrado A produção de cana-de-açúcar tem expandido das regiões tradi- cionais de São Paulo e do Nordeste para as regiões do Cerrado, principal- mente em áreas desse bioma localizadas no oeste de São Paulo, triângulo e noroeste mineiro, sudoeste, sul e centro-norte goianos, e do Cerrado nos estados do Piauí,Maranhão e oeste baiano). Contudo, as condições de solo e clima no bioma Cerrado são menos favoráveis e mais desafiadoras para a produção de cana-de-açúcar do que nas áreas tradicionais de produção (HERNANDESet alo,2014). Durante aproximadamente 6 meses de período seco do Cerrado, a cana-de-açúcar é exposta a severo estressehídrico, que resulta em redução da produtividade e longevidade do canavial, e compromete sua exploração sustentável. Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 133 A irrigação tem sido uma das principais estratégias com potencial de incrementar a eficiência de uso da água e sustentabilidade da produção de cana-de-açúcar no Cerrado. Contudo, muito pouco é conhecido sobre o real potencial de produtividade de biomassa e respectiva eficiência de uso da água da cana-de-açúcar quando submetida a diferentes regimes hídricos no Cerrado. Essetipo de informação é crucial para a parametriza- ção de modelos de crescimento e desenvolvimento da cana-de-açúcar e para dar suporte a tomada de decisão quanto às estratégias que devem ser utilizadas no gerenciamento da irrigação e gestão dos recursos hídricos. Comparada às outras tecnologias disponíveis no momento, a irriga- ção apresenta o maior potencial para, mesmoem curto prazo, oferecer o maior impacto positivo na produção, produtividade, qualidade e, conse- quentemente, sustentabilidade do sistema de produção da cana-de-açúcar no Cerrado e no Brasil. Na Figura 12, é apresentado o balanço hídrico de três ensaios de campo realizados pela Embrapa Cerrados no Estado de Goiás,evidencian- do o deficit hídrico acentuado que desafia os produtores da região quando não dispõem de irrigação. Apesar de ser considerada de sequeiro, como de costume na região para plantio de inverno, essacana recebeu irrigação de 40 mm um mês antes do plantio, por ocasião do preparo de solo, e mais 60 mm imediatamente após o plantio. Apesar da boa disponibilidade de chuva na região, a concentração da precipitação em poucos meses do ano implica em baixa precipitação efetiva, que resulta em um balanço hídrico mais desfavorável do que em outras regiões com precipitação total anual semelhante, mas com melhor distribuição. Evidencia-se também que, o menor tempo em campo das variedades precoces em relação às variedades médias e tardias, resulta em menor deficit hídrico acumulado total e relativo, uma vez que asvarie- dades médias e tardias, em ciclo de cana-planta com plantio de inverno, permanecem no campo por, praticamente, dois períodos de estiagem, 134 Parte 4 Cana precoce (2012/2013) 400 • Chuva total (mm) • Chuva efetiva (mm) • Déficit hidrico (mm) -100 300 Ê 200.s. ~ 100 'e 'C\l O..J -200 900 mm Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez Jan. Fev. Mar. Abr. Maio 2012 2013 Cana média (2012/2013) 400 • Chuva total (mm) • Chuva efetiva (mm) • Deficit hidrieo (mm) ~ 100 'e 'C\l..J 300 Ê 200.s. o -100 -200 1.180 mm Maio Jun. Jul. Ago. Se!. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio 2012 2013 Cana tardia (2012/2013) 400 • Chuva total (mm) • Chuva efetiva (mm) • Deflctt hidrieo (mm) -100 580mm 300 Ê 200.s. ~ 100 'e O 'C\l..J 1.160 mm -200 1.300 mm Maio Jun. Jul. Ago. Se!. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio 2012 2013 Fig.u~a~2. Chuva total, _efetiva e balanço hídrico para ciclo de cana-planta de ~~I~~. es de maturaçao precoce, média e tardia, no Município de Goiané- Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 135 enquanto as variedades precoces são colhidas no início do segundo pe- ríodo de estiagem. Nos mesmos três ensaios supracitados, além do tratamento de sequeiro, havia tratamentos de irrigação correspondentes ao suprimento de 25%, 50%, 75%, 100% e 125% da demanda de irrigação, para um sistema de irrigação tipo pivô central, com emissores Lepa, e com frequência de irrigação variável, oscilando entre 5 e 15 dias, dependendo da demanda evapotranspirométrica. A Figura 13 apresenta para esses três experimentos e diferentes regimes hídri- cos os totais de precipitação efetiva e irrigação durante o ciclo de cana-planta. Ê 1.800 .s. 1.600 iV 1.400 Õ I-o 1.200 I'C\l It» C\l 1.000Cl.;: I.: 800 Q) IC\l 600>••oS! 400Q) o 200'C\lt»s O'0. o 25 50 75 100 1251 o 25 50 75 100 1251 o 25 50 75 100 1251'u Q)•.. Precoce Média TardiaQ. Figura 13. Precipitação efetiva e irrigações totais para o ciclo de cana-planta em três ensaios plantados, respectivamente, com variedades de maturação precoce, média e tardia, em Goianésia, GO. A maior duração do ciclo de cana-planta para canas tardias compara- da à de canas médias, e dessas em relação às canas precoces, resultou em maior demanda por irrigação nas tardias, com totais de irrigação que al- cançaram até aproximadamente 500 mm, 900 mm e 1.100 mm (Figura 13). Esses são bons exemplos de que a demanda hídrica, para produção de cana-de-açúcar, também é dependente da época de plantio e do tamanho do ciclo e época de corte. 136 Parte 4 Nota-se que, apesar de receberem até 125% da demanda de irrigação, em virtude da baixa frequência de irrigação comum para os equipamentos do tipo aspersão pivô central, houve redução da evapotranspiração potencial da cultura (Figura 14). A quantificação das reduções é mostrada na Figura 15. Em razão do estresse hídrico, a redução da evapotranspiração potencial da cultura chegou próximo de 60% para as canas tardias de sequeiro. Para a cana precoce, mesmo sob regime hídrico mais abundante, tal redução che- gou próximo a 25%, evidenciando que, sob frequência baixa de irrigação, é praticamente impossível satisfazer plenamente a demanda potencial da cul- tura, característica essa que há décadas é utilizada para defender a irrigação em baixos volumes e alta frequência realizada por sistemas localizados. 1.600 Ê 1.400.s iii 1.200e o 1.000 'CIl~ CIl 800•.. 'Q. I/) 600c CIl•.. 400Õc. CIl 200>w o o 25 50 75 100 1251 o 25 Precoce 50 75 100 125/ o 25 Média 50 75 100 125 i Tardia Figura 14. Evapotranspiração real da cultura para o ciclo de cana-planta em três experimentos plantados, respectivamente, com variedades de matura- ção precoce, média e tardia, em Goianésia, GO. Resposta da cana irrigada no Cerrado No Brasil, como já mencionado, as produtividades médias de cinco cor- tes estão próximas ou inferiores a 80 toneladas por hectare. A produtividade de cana-planta, na média, é inferior a 105 toneladas por hectare, apesar de a cana-de-açúcar ser considerada uma espécie rústica com grande tolerância Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 137 1.200 • • 100 90 ,g~ 80 .~?j 0.- 70 ~ E CIl ::::I 60 -E ~ 50 g. ~ >"1:1 40 4) iii CIl._ 30 ~ g ItO .! 20 g'g, 10 -g ~O+-~~~~'-~~~~.-~~-.~r-~~~~~.-~O o 25 50 75 100 1251 o 25 50 75 100 1251 o 25 50 75 100 125 Precoce I Média I Tardia Soma de redução Elpe Média de redução Ele o 'CIl f'Ê1.000 .- E ~E 800 ••• ::::Iõ~ g. i3 600 > CIl4)"1:1 .g:§ 400 o g IB,S -6 g, 200 ~ Figura 15. Redução da evapotranspiração potencial da cultura em mm (bar- ras azuis) e em porcentagem (barras marrons) para o ciclo de cana-planta em três experimentos plantados, respectivamente, com variedades de matu- ração precoce, média e tardia, em Goianésia, GO . à seca. Entretanto, a verdade a respeito da robusteza da cana-de-açúcar não pode desfazer outra verdade que diz respeito a sua característica de planta (4, com grande potencial de conversão de água em nutrientes, em biomassa. Ou seja, a capacidade da cana-de-açúcar de sobreviver em ambientes hostis não cancela suas habilidades de responder substancialmente a ambientes com elevada oferta de água, radiação e nutrientes. Nos últimos anos, experiências de elevadas produtividades de ca- na-de-açúcar irrigadas por pivô central, em áreas de alta fertilidade, têm sido reportadas. Em uma área no noroeste goiano, um fornecedor da usina Bevap alcançou produtividades próximas a 200 toneladas por hectare. Experiências semelhantes também foram reportadas para algumas áreas da usina Jalles Machado e usina Otávio Lage, no Município de Goianésia, GO. Em ensaios exploratórios com cana irrigada em Planaltina, DF, Bufon et aI. (2013) também reportaram produtividades de cana de ano próximas a 200 toneladas por hectare. Em três experimentos, em área comercial na usi- na Jalles Machado, Santos et aI. (2014) reportaram produtividades médias 138 Parte 4 próximas a 260 toneladas por hectare para uma determinada variedade de maturação tardia. Nas Figuras 16, 17 e 18 são apresentados valores de produtividade de colmas e açúcar de variedades de ciclo precoce, médio e tardio, respec- tivamente, apresentados por Santos et aI. (2014) nas três experiências cita- das no tópico anterior, na usina Jalles Machado, em Goiás. Foram obtidos valores elevados de produtividade de colmas e açúcar, até mesmo para condições de sequeiro. Nessas áreas, além de um tratamento fitossanitário mais cuidadoso, também se garantiu uma disponibilidade de nutrientes no solo que não fosse, em nenhuma hipótese, restritiva ao crescimento e desenvolvimento da cultura. De forma geral, a única variável que limitou a produtividade dessas lavouras foi a disponibilidade de água. Em condições de sequeiro, as produtividades de colmas e açúcar re- duziram-se à medida que se avançava ao longo da safra. Esse é um grande paradigmano setor sucroenergético - as produtividades caem do início para o final da safra. Contudo, o que esses resultados também nos mostram 280 45 ~_ 260 • Produtividade colmas 40 - ~ ~o ~ ~ 220 • Produtividade açúcar 35 ~ :g 200 30 .~ .É 180 - 8 160 25 :? ~ 1~ ~ Q) 120 20 Q) ~ 100 15 ~ i M i 'S 60 10 'S ~ ~ ~05 •..0 t W ~ O~~-'~JL,-~~-'~JL,-~~-'~JL~~~-'~JL'-~O o 25 50 75 1251 o 25 50 75 1251 o 25 50 75 1251 o CTC17 CTC18 CTC9 1 25 50 75 125 RB 6928 Figura 16. Curva de resposta de produtividade de colmas e açúcar para va- riedades de maturação precoce, em ciclo de cana-planta, cultivadas na usina Jalles Machado em Goianésia, GO. Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 139 é que, na verdade, produtividades para sistemas irrigados aumentaram ao invés de caírem ao longo da safra. Isso representa uma grande quebra de paradigma - sob sistema de produção irrigado, as produtividades podem aumentar à medida que se caminha durante a safra. o 25 50 75 1251 o 25 50 75 1251 o 25 50 75 125[ o CTC4 IAC 91 1099 IAC 95 5000 1 Figura 17. Curva de resposta de produtividade de colmos e açúcar para va- riedades de maturação média, em ciclo de cana-planta, cultivadas na usina Jalles Machado em Goianésia, GO. 280- 260 ns 240s: ~ 220 lJl 200o E 180 Õ 160o Q) 140~ Q) 120~ 100ns~ 80's~ 60~~ 40o... 20~ o 45 40 -ç .s::. 35 ~... ns 30 o.~ \,» 25 ns Q)~ 20 Q)~ 15 ns~ :;E 10 'S~ 5 o...c, 75'125 o 25 50 RB 86 7151 • Produtividade colmas • Produtividade açúcar • Produtividade colmas 45 • 40 'ÇProdutividade açúcar ~ 280 ~ns 260 s: 240 - 220 35 ~ :g 200 :;; E 180 30 .g "8 160 25 :? ~ 1~ ~ Q) 120 20 Q) ~ 100 15 ~ i M i 'S 60 10 'S '8 40 5 ~ t w ~O~~-'~JL,-~~-'~JL'-~~-'~JL,,~~~~~,,~O o 25 50 75 125[ o 25 50 75 1251 o 25 50 75 1251 o 25 50 75 125 CT15 I IACSP 942101 I RB 92579 1 SP 860042 Figura 18. Curva de resposta de produtividade de colmas e açúcar para va- riedades de maturação tardia, em ciclo de cana-planta, cultivadas na usina Jalles Machado em Goianésia, GO. 140 Parte 4 Uma questão muito importante para o manejo em sistema irrigado de produção é o processo de maturação da cana. Sabe-se que, quando bem nutrida e com disponibilidade hídrica satisfatória, a cana-de-açúcar tende a estender o período de crescimento, quando comparada ao cultivo submetido a estresse hídrico, ou qualquer outro tipo de estresse biótico ou abiótico. Isso não significa, no entanto, que cana-de-açúcar irrigada é aguada, ou que não produz ATR. Quando o gerenciamento de irrigação é realizado com critérios técnicos bem definidos, e a irrigação é utilizada para controlar o processo de maturação, podem-se obter níveis de concentração de açúcar no colmo iguais ou mesmo superiores aos obtidos em condições de sequeiro. Isso pode ser visto claramente comparando-se as curvas de resposta de produ- tividade de açúcar e colmos nas Figuras 16, 17 e 18. Note que a inclinação dessas curvas é muito semelhante, ou seja, o nível de ATR atingido sob condições de sequeiro ou irrigado foi muito semelhante. Em alguns casos específicos, as condições operacionais não permiti- ram que uma determinada variedade chegasse ao pico de maturação nas condições de satisfação hídrica mais favorável. Contudo, as diferenças em ATR entre os tratamentos de sequeiro e irrigado, por serem proporcional- mente muito inferiores aos avanços alcançados nas produtividades, não tiveram nenhuma influência nas curvas de resposta de produtividade de açúcar. Em resumo, o que determinou a produtividade de açúcar por hec- tare foi o TCH e não o ATR. E o que mais importa no processo é a produtivi- dade de açúcar. É a verticalização desse número que muda drasticamente a sustentabilidade e competividade no setor. As curvas de resposta de produtividade de colmos e açúcar, apre- sentadas nas Figuras 16, 17 e 18, são apresentadas, novamente, na Figura 19. Elas foram intencionalmente plotadas em conjunto, sem os valores de produtividade, para que algumas questões importantes sejam compreen- didas. Cada linha representa a responsividade de uma determinada varie- Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 141 -----------------,.,.,.,.,.. ------------------- .,. ......• - .... ----- ............ .----------------------...... - .-------.,.,.... .•..---- ",,- .- '#/*- ••••," ..-..- -",,-.,,' ,""...... ..- ------:--~~:-.--------- "" Satisfação da evapotranspiração potencial (%) Figura 19. Perfil de responsividade de diferentes variedades de cana-de-açú- car quando submetidas a diferentes níveis de satisfação da evapotra~splra- ção potencial, por meio de irrigação. Curvas baseadas em dad~s r~a.ls para ciclo de cana-planta, cultivadas na usina Jalles Machado em GOlanesla, GO. dade de cana-de-açúcar ao incremento da satisfação da evapotranspiração potencial da cultura. Primeiro, observa-se que, para determinado ambiente de produção, quanto mais inclinada for a curva de resposta, mais responsiva é a varieda- de à adição de irrigação. Uma segunda observação importante pode ser feita quando com- paramos as linhas de mesma cor. Observe, por exemplo, as duas linhas ver- melhas, ou as quatro linhas verdes. Perceba que a forma e inclinação delas são semelhantes, ou seja, elas possuem o mesmo grau de responsividade à adição de irrigação. O que muda então entre essas variedades? A diferença é que elas possuem potencial genético intrinsecamente diferentes umas das outras. Assim, apesar de possuírem o mesmo grau de responsividade à água, algumas delas partem de um nível de produtividade mais elevado, 142 Parte 4 já nas condições de sequeiro. Resumidamente, a responsividade à irrigação pode ser semelhante entre essas variedades, mas o potencial produtivo de cada uma delas é substancialmente diferente. Outra observação importante pode ser feita quando comparamos a curva de resposta à irrigação das três variedades representadas pelas linhas sólidas de cor diferente (vermelha, verde e azul). Observe que, quando sub- metidas a estresse hídrico severo, as variedades não se diferenciam muito em potencial produtivo. Contudo, quando o estresse hídrico é reduzido, as melhores variedades conseguem imprimir seu potencial genético e se dife- renciarem substancialmente de outros materiais. Em suma, o estresse hídrico nivela as variedades por baixo, ao passo que a boa satisfação da demanda hídrica permite que os melhores materiais expressem todo seu potencial. Observa-se também que as variedades mais responsivas à irrigação, ou seja, aquelas com curva de resposta mais inclinada, não são, neces- sariamente, as que atingem maior produtividade. A responsividade da variedade representada pela linha azul sólida, por exemplo, é superior à responsividade da linha verde de traços longos (mais ao alto do gráfico). Isso significa que a primeira é mais responsiva, ou ainda, a que melhor aproveitou a água a ela oferecida, mas possui menor potencial produtivo que a segunda variedade. Uma última observação importante é perceber que, para o ambiente de produção onde esses dados foram coletados, todas as variedades foram responsivas à irrigação, ou seja, todas elas aumentaram sua produtividade em comparação com o ambiente de sequeiro. É isso que acontece quando a cana-de-açúcar é submetida a estresse hídrico severo. Qualquer varieda- de agradece e responde à adição de água. Dessa forma, para a gestão racional dos recursos hídricos e da irri- gação não importa saber somente se uma dada variedade é responsiva ou não à irrigação. Importa também saber quanto e sob que condições hídricas cada variedade responde em termos de produtividade de colmo e açúcar. Capítulo 3 Irrigação em cana-de-açúcar 143 É essa resposta quantitativa das diferentes variedades de cana-de-açúcar sob diferentes regimes hídricos, diferentes condições de solo e práticas de manejo que permitirão um planejamento estratégico racional e sustentável da produção irrigada de cana-de-açúcar. Uma forma de sintetizar essa análise é por meio de um número co- nhecido como eficiência de usoda água (EUA), que significa a quantidade de produção atingida para cada unidade de água utilizada pela cultura. Sob essa ótica, não basta que a cultura aumente a produtividade quando mais água é oferecida, importa que ela retorne o máximo possível de produtivi- dade para cada gota ou metro cúbico de água que se aplique na lavoura. É com base na eficiência de uso de água de cada estratégia de irrigação que se pode inferir sobre a viabilidade ou não dessas estratégias de irrigação. Considerações finais Desde que adotada com base em critérios técnicos adequados e com bom manejo de água e nutrientes, a irrigação da cana-de-açúcar tende a ser uma prática vantajosa para os produtores, notada mente, nas regiões onde os períodos de deficit hídrico no solo comprometem o adequado desenvolvimento e produção da cultura. É fundamental, contudo, que os estudos e as pesquisas sejam esti- mulados nos temas de manejo de irrigação e cultivares mais responsivas e eficientes quanto ao uso da água, notadamente, em razão das especificida- des de solo e clima das diferentes regiões produtoras do País. Outro aspecto importante diz respeito à definição de estratégias econômicas para o manejo de irrigação da cana-de-açúcar, levando em consideração o custo da água e o preço dos produtos (açúcar e álcool). Para tanto, é primordial que sejam desenvolvidas funções de resposta água-cul- tura definidas nas condições locais das áreas de produção. 144 Parte 4 Assume caráter igualmente importante a estimativa regional, ou até mesmo em nível local, de usina, do volume total de água (verde, azul e cinza) utilizado para a produção de um quilo de biomassa, um quilo de açúcar ou litro de álcool, a chamada pegada hídrica. A pegada hídrica tam- bém fornece bases para melhor avaliar-se a sustentabilidade ambiental da adoção da irrigação na cana-de-açúcar. Referências ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA [DE] CANA-DE-AÇÚCAR: safra 2014/15: segundo levantamento, Brasília, DF, v. 1, n. 2, ago. 2014. 31 p. 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