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2021 Título: Fundamentos Básicos em Geriatria Editor: Guilherme Melo Projeto gráfico: Bruno Brum Revisor: Bernardo Machado Diagramação: caixadedesign.com Capa: Mateus Machado Conselho Editorial: Caio Vinicius Menezes Nunes, Itaciara Larroza Nunes, Paulo Costa Lima, Sandra de Quadros Uzêda, Silvio José Albergaria da Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP) S729f Souza, Jonas Gordilho (org). Fundamentos Básicos em Geriatria / Organizadores: Jonas Gordilho Souza e Débora Fontenele Alves.– 1. ed.– Salvador, BA : Editora Sanar, 2021. 512 p.; 16x23 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-65-89822-12-7. 1. Fundamentos Básicos. 2. Geriatria. 3. Medicina. I. Título. II. Assunto. III. Souza, Jonas Gordilho. IV. Alves, Débora Fontenele. CDD 618.97 CDU 616-053.9 ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO 1. Outros ramos da medicina: Geriatria. 2. Geriatria. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA SOUZA, Jonas Gordilho; ALVES, Débora Fontenele (org.). Fundamentos Básicos em Geriatria. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2021. Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846 Editora Sanar Ltda. Rua Alceu Amoroso Lima, 172 Caminho das Árvores Edf. Salvador Office e Pool, 3º andar. CEP: 41820-770 – Salvador/BA Telefone: 0800 337 6262 sanarsaude.com atendimento@sanar.com COORDENADORES Jonas Gordilho Souza Foto Jonas_Grayscale.jpg Médico geriatra titulado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), professor do Departamento de Medicina Interna e Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia - FMUFBA. Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Débora Fontenele Alves Foto Débora_Grayscale.jpg Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2017-2023). Presidente da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMG GES), no ano de 2019. AUTORES Adriano Cesar Gordilho Médico geriatra titulado pela SBGG/AMB. Especialista em Gerontologia e Geriatria pela PUC/Porto Alegre. Ex-presidente da SBGG nacional Biênio 2002-2004. Alini Maria Orathes Ponte Silva Médica geriatra com área de atuação em Medicina Paliativa. Pós-graduação em Medicina da Família e Comunidade pela Irmandade da Santa Casa de São Paulo (2007). Pós-graduação em Geriatria pela Universidade de São Paulo - USP (2009). Pós-graduação em Medicina Paliativa pela SBGG/AMB (2017). Médica assistente em Medicina Paliativa no Hospital Universitário Edgard Santos (HC/UFBA) Ana Rebeca Sousa de Freitas Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2018.2- 2024). Membro da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES), no período 2018-2020. Integrante da Liga Interdisciplinar de Saúde Digital (LISD), desde 2019. Andressa Maria Guedes Lemos Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2018-2023). Tesoureira da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES), no ano de 2019. Atila Coelho Botelho Ponte Médico formado pela Universidade de Fortaleza, em 2015, com residência médica em Clínica Médica pelo hospital geral dr. Waldemar Alcântara concluída em 2019, atualmente Residente de Geriatria no Hospital Geral Dr. César Cals pela Universidade de Fortaleza. Cândido Rodrigues Maia Neto Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2018-2023). Membro da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES). Christiane Machado Santana Médica Geriatra especialista pela SBGG. Professora de Geriatria da Faculdade de Medicina da UFBA. Médica Geriatra do Serviço Médico Universitário Rubens Brasil - UFBA. Débora Fontenele Alves Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2017-2023). Monitora de Princípios de Farmacologia e Farmacologia de órgãos e sistemas pelo Programa de Iniciação à Docência (PID), vinculado a Pró Reitoria de Graduação, no ano de 2019; Monitora de Endocrinologia clínica e pelo PID, vinculado a Pró Reitoria de Graduação no ano de 2020. Presidente da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES), no ano de 2019, diretora de marketing da AMGGES em 2020. Edmilson Correia Timbó Médico Graduado pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas). Pós- Graduado em Saúde da Família Lato-Sensu. Possui especialização em Geriatria pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Francisca Thalía Magalhães Rodrigues Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2017-2023). Monitora de Imunologia Básica pelo Programa de Iniciação à Docência (PID), vinculado à Pró Reitoria de Graduação no ano de 2020. Secretária da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES), no ano de 2019, e Vice-presidente da AMGGES em 2020. Gabriel Costa dos Reis Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2017-2022). Membro da Sociedade Científica de Neurociências de Sobral (2018-2020). Monitor de Semiologia Médica pelo Programa de Iniciação à Docência (PID), vinculado a Pró Reitoria de Graduação, no ano de 2019; Monitor de Fisiologia Médica pelo PID, vinculado a Pró Reitoria de Graduação no ano de 2020. Estagiário da Emergência Adulto pelo Programa de Integração Ensino Serviço (PIES) da Santa Casa de Misericórdia de Sobral no ano de 2021. Gustavo Pessoa Pinto Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2017-2022). Monitor de Atenção Básica à Saúde pelo Programa de Iniciação à Docência (PID), vinculado a Pró Reitoria de Graduação, no ano de 2019; Diretor de Pesquisa da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES), no ano de 2019. Presidente da AMGGES em 2020. Hiroki Shinkai Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Pará. Especialista em Geriatria pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Médico de Família e Comunidade pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará. Professor Assistente na Universidade Federal do Ceará. Professor Adjunto na UNINTA. Ianna Lacerda Sampaio Braga Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (2003). Residência em clínica médica no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) (2006) e Residência em Geriatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) (2009). Titulada pela Associação Médica Brasileira (AMB) em Terapia Intensiva (2012) e Cuidados Paliativos (2016). Doutora em Biotecnologia pela UNIFOR (2018). Médica do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) e coordenadora da Geriatria/Cuidados Paliativos. Professor Assistente na Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Ithaan Barboza da Silva Médico formado pela Universidade Federal do Maranhão (2012-2017). Residência em Clínica Médica pelo Hospital Geral de Fortaleza (2018- 2020). Residente de Geriatria pela Universidade de Fortaleza (2020-2022). Ivna Vasconcelos de Oliveira Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2019-2025). Tesoureira da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES), no ano de 2020. Integrante da Liga de Medicina de Família e Comunidade de Sobral (LIMFACS), por meio da qual realiza estágio voluntário em Centros de Saúde da Família (CSF), desde 2020. Tesoureira do Projeto Interdisciplinar de Abordagem a Sexualidade e Gênero (PIASG), desde 2020. Integrante do corpo docente do projeto Espaço Novo Acadêmico, desde 2019. Izabelle Fraga Gomes Acadêmica de Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia-FMB/UFBA (2017-2023). Bacharela em Saúde pelo Instituto de Humanidades, Artes & Ciências Professor Milton Santos (IHAC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) (2017). Integrante do Projeto de Extensão chamado AbraSUS da FMB/UFBA, desde 2019. Membro e atual diretora de extensão da Liga Acadêmica de Gastroenterologia e Hepatologia da Bahia, desde 2020. Jonas Gordilho Souza Médico geriatra titulado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e GerontologiaSBGG. Residência Médica em Geriatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Doutorado em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professor adjunto do Departamento de Medicina Interna e Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia – FMUFBA. Vice-presidente da SBGG seccional Bahia biênio 2021-2022. Josecy Maria de Souza Peixoto Médica geriatra titulada pela SBGG/AMB. Graduação em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (1989). Mestrado em Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (2006). Doutorado em Medicina e Saúde Humana pela EBMSP (2018). Professora assistente da Fundação Bahiana para Desenvolvimento das Ciências e Universidade de Salvador (UNIFACS). Coordenadora da Residência Médica em Geriatria e Gerontologia das Obras Sociais Irmã Dulce. Juliana Borges Casqueiro Fernandes Graduada em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia (FMB-UFBA). Residência Médica em Geriatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médica Geriatra titulado pela SBGG/AMB. Supervisora da Residência de Clínica Médica do Hospital Ana Nery (HAN). Diretora Científica da SBGG seccional Bahia, 2021- 2022. Juliana de Araújo Melo Fortes Graduada em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia (FMB-UFBA). Residência Médica em Geriatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médica Geriatra titulada pela SBGG/AMB. Supervisora da Residência de Clínica Médica do Hospital Ana Nery (HAN). Juliana Rodrigues Teixeira Geriatria pela Universidade Federal do Ceará- UFC, pós graduação em Cuidados Paliativos pela Unifor, mestranda em Saúde Coletiva pela Universidade de Fortaleza (Unifor), preceptora da Unifor, membra da equipe de Cuidados Paliativos. Leonardo Brandão de Oliva Médico geriatra titulado pela SBGG/AMB. Residência Médica em Geriatria pela Escola Paulista de Medicina / UNIFESP. Residência Médica em Clínica Médica pela Casa de Saúde Santa Marcelina-SP. Graduado pela Universidade Federal da Bahia. Presidente da SBGG-BA biênios 2016-18 e 2018-20. Lílian Barbosa Ramos Nutricionista pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Nutrição Humana aplicada pela Universidade de São Paulo (USP). Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Professora Associada da Escola de Nutrição da UFBA, especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Coordenadora do Centro de Estudos e Intervenção na Área do Envelhecimento (Ceiae) da UFBA. Lucas Khun Pereira Prado Médico geriatra titulado pela SBGG/AMB. Residência Médica em Geriatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Mestrado em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP). Professor assistente da Universidade de Salvador (UNIFACS). Preceptor da Residência de Geriatria das Obras Sociais de Irmã Dulce. Presidente da SBGG secional Bahia biênio 2021-2022. Luisa Castro Souza Médica geriatra titulado pela SBGG/AMB. Residência Médica em Geriatria nas Obras Sociais Irmã Dulce (2018 – 2020). Residência médica em Clínica Médica pelo Hospital Português da Bahia (2016 – 2018). Graduada em Medicina pela Faculdade de Tecnologia e Ciências em 2014. Madeleine Sales de Alencar Médica formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC)- 2014. Residência em Clínica Médica pelo Hospital Geral de Fortaleza- 2017. Residência em Geriatria pelo Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC)- 2019. Pós- graduação em Cuidados Paliativos e Bioética pela Universidade de Fortaleza- 2021. Mestranda em Fisioterapia e Funcionalidade pela Universidade Federal do Ceará- em curso. Professora do curso de Medicina da Universidade Christus. Manuela Oliveira de Cerqueira Magalhães Médica geriatra titulado pela SBGG/AMB. Residência Médica em Clínica Médica e em Geriatria nas Obras Sociais Irmã Dulce. Mestrado em Medicina e Saúde pela UFBA (2006). Doutorado em Saúde Pública com área de concentração em Epidemiologia pelo ISC-UFBA (2018). Professora assistente de geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Médica preceptora da Residência Médica em Geriatria e Gerontologia das Obras Sociais Irmã Dulce. Maria das Graças d’Araujo Senna Assistente Social Graduada pela Universidade Católica do Salvador – 1987. Titulada como Especialista em Gerontologia Social pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - 1993. Pós-Graduada em Gerontologia Social pela Faculdade Olga Mettig. Pós-Graduada em Saúde Mental pela UFBA. Professora da Pós graduação em Gerontologia da Universidade Católica do Salvador - UCsal. Professora da Pós graduação em Gerontologia do Instituto de Desenvolvimento Educacional – IDE. Idealizadora e Coordenadora da Faculdade Livre da Maturidade/São Bento desde 2007. Fundadora e Membro da ANG/Bahia – Associação Nacional de Gerontologia da Bahia e Vice-Diretora Técnico-científica. Sócia fundadora e professora do Curso de Formação para Cuidador de Pessoa Idosa, da GR Consultoria gerontológica desde 2017. Marina Filgueiras Gordilho Caldas Fisioterapeuta pela Universidade Católica de Salvador-Ucsal. Especialista em Reabilitação Gerontológica pela UNIFESP. Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer regional Bahia (ABRAz-Ba). Secretaria adjunto da SBGG-BA. Coordenadora técnica do Instituto Longevitat. Márlon Juliano Romero Aliberti Médico geriatra titulado pela SBGG/AMB. Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professor da Disciplina de Geriatria do Departamento de Clínica Médica da FMUSP. Professor de Epidemiologia do Programa de Pós-graduação do Hospital Sírio-Libanês São Paulo. Olivia Carla Bonfim Boaventura Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela USP e pela SBEM. Titulada pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e especialista em DENSITOMETRIA ÓSSEA. Profa. Assistente da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) e da UNIFACS, Salvador-BA. Preceptora da Residência de Clínica Médica do Hospital São Rafael, Rede D'Or, Salvador-BA. Patrick Gonçalves de Oliveira Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Ceará - campus Sobral (2019-2025). Membro do Núcleo de Pesquisa em Avaliação Neurocognitva e Comportamental (Neurocog), desde 2020. Diretor de marketing da Liga Acadêmica de Cirurgia Plástica de Sobral (LACIPS) no ano de 2019. Secretário da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES), desde 2020. Secretário do Projeto Interdisciplinar de Abordagem a Sexualidade e Gênero (PIASG), desde 2020. Priscila Pinheiro Silvestre Nogueira Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (2008), especialização em Saúde da Família pela Universidade Federal do Ceará (2011). Residência em Clínica Médica pela Universidade Federal do Ceará (2012) e Residência em Geriatria pela Universidade de Fortaleza(2019). Rafael de Sousa Bezerra Pinheiro Médico pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Residência em Clínica Médica no Hospital Geral César Cals (HGCC). Residência em Geriatria pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Sileno de Queiroz Fortes Filho Médico geriatra titulado pela SBGG/AMB. Residência Médica em Geriatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Doutorado em Ciências do Aparelho Locomotor pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da Universidade do Estado do Amazonas. Simone Lessa Metzger Médica geriatra titulado pela SBGG/AMB. Residência Médica em Geriatria pelas Obras Sociais Irmã Dulce. Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital Sagrada Família. Professora assistente da Universidade Salvador. Professora auxiliar na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Preceptora da Residência Médica de Geriatria nas Obras Sociais Irmã Dulce. Graduaçãoem Medicina pela Universidade Federal da Bahia. Thayná Araújo Freire Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (2014-2019). Residente de Clínica Medica pela UFC/Santa Casa de Misericórdia de Sobral (2020-2022). Thays Araújo Freire Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (2014-2019). Residente de Clínica Medica pela UFC/Santa Casa de Misericórdia de Sobral (2020-2022). Wallena Cavalcante Brito Médica formada pela Universidade Federal do Ceará - campus Sobral em 2015. Residência de Clínica Médica pela Universidade Federal do Ceará - Santa Casa de Misericórdia de Sobral 2017-2019. Residência de Geriatria pela Universidade de Fortaleza 2019-2021. Sumário Capítulo 1 Abordagem do idoso: Avaliação Geriátrica Ampla Caso clínico Introdução e epidemiologia Histórico da Geriatria Avaliação Geriátrica Ampla Evidências do uso da AGA Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 2 Síndrome de fragilidade no idoso Caso clínico Definição Fenótipo de fragilidade Escala de Rockwood Epidemiologia Fisiopatologia Quadro clínico e abordagem diagnóstica Tratamento Medidas não farmacológicas Tratamento medicamentoso Prognóstico Considerações finais Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 3 Polifarmácia e princípios da prescrição medicamentosa no idoso Caso clínico Introdução Epidemiologia Idosos e o metabolismo dos fármacos Absorção Distribuição Metabolismo Excreção Adesão ao tratamento Reações adversas a medicamentos Uso inadequado de medicações Princípios gerais da prescrição e desprescrição Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 4 Iatrogenia Caso clínico Definição Epidemiologia Fatores de Risco Classificação Distanásia Prevenção Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 5 Doença de Alzheimer e outras síndromes demenciais Caso clínico Introdução e epidemiologia Fisiopatologia Quadro clínico Abordagem diagnóstica História clínica Testes para rastreio diagnóstico Testes laboratoriais Neuroimagem Punção lombar Biópsia Tratamento Prevenção Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 6 Delirium Caso clínico Definição Epidemiologia Fisiopatologia Fatores de risco Quadro clínico Abordagem diagnóstica Prevenção Tratamento Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Versão em português do Confusion Assessment Method (CAM)8 Referências bibliográficas Capítulo 7 Depressão Introdução e epidemiologia Fisiopatologia Quadro clínico Abordagem diagnóstica Peculiaridades no diagnóstico da depressão no idoso Tratamento Medidas não farmacológicas Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 8 Transtornos do movimento Caso clínico Doença de Parkinson Breve histórico e epidemiologia Fisiopatologia Quadro clínico Abordagem diagnóstica Diagnóstico diferencial Tratamento não farmacológico Tratamento farmacológico Terapias cirúrgicas para doença de Parkinson Prognóstico Tremor essencial Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 9 Instabilidade postural e quedas Caso clínico Definição Epidemiologia Classificação Fatores de Risco Abordagem diagnóstica Prevenção e tratamento Consequências Conclusões Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 10 Síndrome da imobilização Caso clínico Introdução Definição Epidemiologia Etiologia Quadro clínico e abordagem diagnóstica Complicações da síndrome de imobilização Manejo clínico Prevenção Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 11 Incontinência urinária Caso clínico Definição Epidemiologia Fisiopatologia Quadro clínico Abordagem diagnóstica Diário de micção Questionários validados Exame Físico Teste de esforço Exames laboratoriais e de imagem Exames urodinâmicos Tratamento não farmacológico Tratamento farmacológico Dispositivos e cirurgia Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 12 Abordagem social no paciente idoso Caso clínico Introdução Políticas Públicas voltadas ao idoso Relações familiares Insuficiência familiar Institucionalização do idoso Condições sociais Violência contra o idoso Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 13 Distúrbios do sono em idosos Caso clínico Introdução Fisiologia do sono Insônia Síndrome da Apneia/Hipopneia Obstrutiva do Sono Síndrome das Pernas Inquietas Transtorno comportamental do sono REM Sono e comorbidades Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 14 Exames de rastreamento no paciente idoso Caso clínico Introdução Rastreio de doenças não oncológicas Rastreio de doenças oncológicas Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 15 Abordagem do idoso em cuidados paliativos Caso clínico Introdução e conceitos Princípios fundamentais dos cuidados paliativos Conhecendo o paciente geriátrico Principais condições clínicas Indicações de cuidados paliativos Aspectos éticos em cuidados paliativos Diretivas Antecipadas de Vontade (DAV) Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 16 Hipertensão arterial em idosos Caso clínico Definição e epidemiologia Fisiopatologia Quadro clínico Abordagem diagnóstica Tratamento Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 17 Diabetes no idoso Caso clínico Introdução e epidemiologia Fisiopatologia Quadro clínico e exame físico Abordagem diagnóstica Metas glicêmicas no idoso Fatores associados à hipoglicemia Tratamento não farmacológico Tratamento farmacológico Acompanhamento Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 18 Osteoporose Caso clínico Definição Epidemiologia Fisiopatologia Fatores importantes ao crescimento ósseo Quadro clínico e abordagem diagnóstica Tratamento Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas Capítulo 19 Manejo da perda de peso no idoso Caso clínico Definição Epidemiologia Fisiopatologia Etiologia Abordagem diagnóstica História Exame clínico Exame laboratorial Tratamento Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referência bibliográficas Capítulo 20 Manejo da anemia no idoso Caso clínico Definição Epidemiologia Etiologia Fisiopatologia e classificação Quadro clínico Abordagem diagnóstica Tratamento Prognóstico Comentários sobre o caso clínico Referências bibliográficas PREFÁCIO Este projeto trata-se de uma iniciativa da Academia de Medicina Geriátrica e Gerontologia de Sobral (AMGGES) em parceria com a Sanar e diversos colaboradores. Ele surgiu com o objetivo de fornecer um material didático de qualidade para aqueles que buscam aprimorar seus conhecimentos básicos em geriatria, focando nas particularidades do idoso. Cada tema apresentado foi embasado em casos clínicos fictícios de forma a facilitar o entendimento do leitor, permitindo uma maior proximidade com a rotina do atendimento dos pacientes nessa faixa etária. Durante o desenvolvimento do livro, pudemos contar com a participação de diversos profissionais com ampla experiência clínica e acadêmica nas áreas de geriatria e gerontologia, que, em parceria com os alunos da liga colaboraram com a escrita e revisão de cada capítulo. Portanto, com esse processo, buscamos escrever um livro que possa abranger tanto os estudantes quanto médicos, trazendo uma visão atualizada e prática das rotinas no atendimento ao idoso. Coordenadores Jonas Gordilho Souza e Débora Fontenele Alves 1. ABORDAGEM DO IDOSO: AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA CASO CLÍNICO MCV, sexo feminino, 76 anos, viúva, natural e procedente de Sobral/CE, mora com a irmã, Isabela, 73 anos. Foi conduzida ao departamento de Emergência após ter escorregado no banheiro durante a madrugada. Após a admissão hospitalar, uma fratura de colo de fêmur foi identificada, sendo indicada para a intervenção cirúrgica, de onde, posteriormente, seguiria para a enfermaria, na qual receberia os cuidados de reabilitação.Isabela relatou que a paciente era independente em suas atividades, controlava seus remédios e o dinheiro, ia à missa todos os domingos e saía para conversar com os amigos na praça diariamente. Há cinco dias começou a ingerir “remédio para dormir”, por conta própria, pois não conseguia dormir à noite, desde o falecimento do marido, há dois meses. Dado o exposto, responda: A. A paciente se beneficiaria da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) antes do procedimento cirúrgico? Por quê? B. Se sim, quais profissionais estão habilitados para conduzir a AGA neste caso? INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA O envelhecimento populacional é um fenômeno que tem sido observado mundialmente, em meio a uma redução das taxas de mortalidade e natalidade.8 44 Em 2050, estima-se que o número global de pessoas idosas alcançará 2,1 bilhões. Dados epidemiológicos da Organização das Nações Unidas (ONU) também demonstram que a população com 60 anos ou mais cresce a uma taxa de 3% ao ano, mais rápido que os grupos etários jovens.45 No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que, em 2060, 25% dos habitantes terão 65 anos ou mais, o equivalente a 58,2 milhões de indivíduos. Apesar desse processo de transição demográfica ocorrer universalmente, não é homogêneo, uma vez que sofre influência dos ambientes habitados e das circunstâncias sociais vivenciadas.7 46 51 Diante do aumento global no número de idosos, alguns conceitos precisam ser esclarecidos, a fim de não considerar toda alteração associada ao envelhecimento como algo patológico. Enquanto senescência se refere a um processo fisiológico, que envolve alterações no organismo de um indivíduo — cabelos brancos e pele enrugada, por exemplo —, senilidade compreende processos patológicos que interferem na qualidade de vida e capacidade funcional, ou seja, na independência para realizar atividades diárias (AVDs).13 A autonomia é um outro conceito importante de ser descrito, que está relacionado à capacidade do indivíduo de tomar suas decisões e gerenciar sua vida (cognição). Tendo em vista a heterogeneidade observada entre os idosos, instrumentos destinados para avaliá-los de forma individualizada tornam-se necessários, permitindo assim um atendimento multidimensional e integral. Nesse contexto, a AGA é uma ferramenta fundamental para guiar os processos de diagnóstico e formulação de planos de cuidado.7 HISTÓRICO DA GERIATRIA No início do século XX, o norte-americano Ignatz L. Nascher foi um dos primeiros autores a sugerir uma abordagem médica focada no paciente idoso, recebendo o nome de Geriatria, pela junção das palavras gregas geronto (idoso) e iatro (médico/medicina). No entanto, foi apenas na década de 1930 que a especialidade passou a ganhar visibilidade, quando, no Reino Unido, Marjory Warren elaborou um plano de cuidados e reabilitação individualizado para os pacientes crônicos do Hospital West Middlesex. Antes, esses idosos eram vistos como pacientes enfermos, sem previsão de melhora. No entanto, após a intervenção proposta, muitos deles puderam ser reabilitados e alguns receberam alta para o domicílio. A partir de então, ficou clara a importância de uma abordagem multidisciplinar, individualizada, servindo como pilar para o desenvolvimento da AGA.17 28 41 AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA A AGA é um processo diagnóstico, frequentemente multidisciplinar e sempre multidimensional, cujo objetivo é traçar um plano de cuidados e assistência ao idoso a médio e longo prazo. Inicialmente, são coletados dados sociodemográficos e, em seguida, outros domínios importantes são avaliados, como capacidade funcional, cognição, humor, estado nutricional, equilíbrio, marcha, suporte social, visão e audição. Em diversos serviços, o processo de avaliação multidimensional se dá por um time, que pode ser composto por médico (geriatra), enfermeira, assistente social e outros profissionais — entre eles terapeutas ocupacionais, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, educadores físicos, nutricionistas e dentistas.16 Avaliação da Funcionalidade: A capacidade funcional diz respeito ao potencial que os idosos têm para atuar independentemente em suas vidas. Uma vez que a senilidade é um processo que pode culminar com perda funcional, um dos principais objetivos da abordagem geriátrica é preservar ou reduzir essa perda de independência.23 Existem diversas escalas sugeridas para a avaliação de AVDs. No entanto, as mais comumente utilizadas nos serviços de atendimento ao idoso são as escalas de Lawton e Katz, para avaliação de atividades instrumentais e básicas de vida diária, respectivamente.38 39 Quadro 1. Escala de Avaliação Funcional de Atividades Básicas de Vida Diária (Katz). ATIVIDADE INDEPENDENTE Sim Não 1. Banho Não recebe ajuda ou somente recebe ajuda para uma parte do corpo 2. Vestir-se Pega as roupas e se veste sem nenhuma ajuda, exceto para amarrar os sapatos 3. Higiene pessoal Vai ao banheiro, usa o banheiro, veste-se e retorna sem nenhuma ajuda (pode usar andador ou bengala) 4. Transferênci a Consegue deitar na cama, sentar na cadeira e levantar sem ajuda (pode usar andador ou bengala) 5. Continência Controla completamente urina e fezes 6. Alimentação Come sem ajuda (exceto ajuda para cortar carne ou passar manteiga no pão) Escore: 6 pontos (independência para AVDs); 4 pontos (dependência parcial para AVDs); 2 pontos (dependência importante). Adaptado de Katz et al., 1970.35 Quadro 2. Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária (Lawton e Brody). 1. O(a) Sr.(a) consegue usar o telefone? Sem ajuda 3 Com ajuda 2 Não consegue 1 2. O(a) Sr.(a) consegue ir a locais distantes, usando algum transporte sem necessidade de planejamentos especiais? Sem ajuda 3 Com ajuda 2 Não consegue 1 3. O(a) Sr.(a) consegue fazer compras? Sem ajuda 3 Com ajuda 2 Não consegue 1 4. O(a) Sr.(a) consegue preparar suas próprias refeições? Sem ajuda 3 Com ajuda 2 Não consegue 1 5. O(a) Sr.(a) consegue arrumar a casa? Sem ajuda 3 Com ajuda 2 Não consegue 1 6. O(a) Sr.(a) consegue fazer os trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos? Sem ajuda 3 Com ajuda 2 Não consegue 1 7. O(a) Sr.(a) consegue tomar os seus remédios na dose certa e no horário correto? Sem ajuda 3 Com ajuda 2 Não consegue 1 8. O(a) Sr.(a) consegue cuidar de suas finanças? Sem ajuda 3 Com ajuda 2 Não consegue 1 Escore: 9 pontos (totalmente dependente); 10 a 15 pontos (dependência grave); 16 a 20 pontos (dependência moderada); 21 a 25 pontos (dependência leve); 25 a 27 pontos (independência). Adaptado de Lawton et al., 1969.8 Avaliação da Cognição Cognição é definida como o processo que permite aquisição de conhecimento. Entre seus componentes estão inclusos a atenção, raciocínio, memória, juízo, abstração, linguagem, pensamento, percepção, associação.4 47 Existem diversos instrumentos que auxiliam no rastreamento de alterações cognitivas em idosos. A seguir, serão destacados os mais utilizados na rotina diária, a exemplo do miniexame do estado mental (MEEM), Montreal Cognitive Assessment (MoCA) a fluência verbal e teste do desenho do relógio. MEEM É um dos testes de triagem cognitiva mais utilizados mundialmente. Ele avalia diversas funções: orientação temporal, orientação espacial, memória imediata, atenção e cálculo, memória de evocação e linguagem. É importante, no entanto, que os resultados sejam avaliados de forma crítica, levando em consideração a escolaridade de cada indivíduo, além da relação entre os domínios afetados e a provável etiologia da demência. Existem diferentes pontos de corte, corrigidos para o nível educacional, sugeridos na literatura, a exemplo da classificação de Brucki et al. (2003): analfabetos (20); escolaridade de 1 a 4 anos (25); escolaridade de 5 a 8 anos (26,5); escolaridade de 9 a 11 anos (28); escolaridade superior a 11 anos (29) — (Quadro 3).11 Quadro 3. Miniexame do Estado Mental. Orientação temporal (Qual é o... ?) 1. Ano 2. Mês 3. Dia do mês 4. Diada semana 5. Hora 5 pontos Orientação espacial (Onde estamos?) 1. Local específico 2. Local genérico 3. Bairro ou rua próxima 4. Cidade 5. Estado 5 pontos Memória imediata Nomear 3 objetos e pedir para o paciente repetir: “carro, vaso, tijolo”. 3 pontos Atenção e cálculo Pedir para o paciente diminuir 7 de 100 (até 5x). Alternativa: soletrar a palavra mundo na ordem inversa. 5 pontos Memória de evocação Repetir os 3 objetos nomeados antes. 3 pontos Linguagem Mostrar um relógio e uma caneta e pedir para nomear 2 pontos Repetir “nem aqui, nem lá”. 1 ponto Seguir o comando de 3 estágios: “pegue este papel com a mão direita, dobre-o ao meio e coloque-o no chão. 3 pontos Ler, executar a ordem: Feche os olhos. 1 ponto Escrever uma frase. 1 ponto Copiar o desenho 1 ponto Adaptado de Folstein et al., 1975, e Brucki et al., 2003.10 26 MOCA: Trata-se de uma ferramenta de rastreio cognitivo, que se destaca pela sua sensibilidade em identificar indivíduos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e estágios iniciais da demência, uma vez que avalia funções como memória, orientação, planejamento, linguagem, praxia e função visuoespacial. Neste teste, um escore acima de 26 é considerado normal. Sua aplicabilidade, no entanto, é mais limitada em indivíduos de baixa escolaridade, como uma grande parte dos idosos em nosso país (Figura 1).27 Figura 1. Montreal Cognitive Assessment. Adaptado de Rosas et al., 2007.53 Fluência verbal: Esse teste é de fácil aplicação, em especial nos indivíduos com baixa escolaridade. Ele avalia a função executiva, a linguagem e a memória semântica, envolvendo a capacidade de gerar o máximo de palavras em 1 minuto. Existem diversas formas de aplicação, entre elas a semântica e a fonêmica. A primeira é relacionada à geração de palavras pertencentes a certa classe semântica, por exemplo à categoria “animal”. Já a fonêmica se dá pela evocação de palavras que começam com certa letra, por exemplo, a F. Para analfabetos, o ponto de corte é 9, já para indivíduos com mais de 8 anos de escolaridade, o ponto de corte é 13. 10, 52 Teste do relógio Trata-se de uma ferramenta de fácil e rápida aplicação, que consiste em solicitar que o paciente desenhe um relógio com números e ponteiros, marcando determinado horário como 11 horas e 10 minutos. No entanto, em alguns pacientes, o seu uso pode ser mais limitado, uma vez que o desempenho no teste depende do grau de escolaridade. Tendo em vista essa limitação, recomenda-se realizar o teste naqueles com escolaridade superior a quatro anos. Além da utilização como ferramenta diagnóstica, o teste do relógio também pode ser útil para acompanhamento da evolução do quadro demencial. Atualmente, existem diversas pontuações sugeridas na literatura, sendo a de Sunderland et al. (1989), uma das mais utilizadas — Quadro 4.3 62 Quadro 4. Pontuação sugerida para o teste do relógio. Avaliação do desenho 10 a 6: Desenho do relógio e números corretos. 10 Ponteiros na posição correta. 9 Distúrbio leve nos ponteiros. 8 Distúrbios mais intensos nos ponteiros. 7 Ponteiros completamente errados. 6 Uso inapropriado dos ponteiros. 5 a 1: Desenho do relógio e números incorretos. 5 Números em ordem inversa ou concentrados em alguma parte do relógio. 4 Distorção da sequência numérica, falta números ou estão fora dos limites do relógio. 3 Números e mostrador não estão relacionados. Não há ponteiros. 2 Aparenta ter entendido as instruções, mas o desenho tem vaga semelhança com um relógio. 1 Não tentou ou não conseguiu representar um relógio. Adaptado de Sunderland T et al., 1989 e Mendes-santos L et al., 2015.42 62 Avaliação do Humor O humor, ou estado de ânimo, é definido como o tônus afetivo do indivíduo, seu estado basal em um determinado momento. Alterações no humor de idosos, por vezes, passam despercebidas por cuidadores, médicos e familiares, levando a um risco de desfechos negativos. Portanto, é crucial que a equipe de saúde realize uma busca ativa desses sintomas, que podem inclusive estar mascarados em queixas somáticas.15 Um instrumento amplamente utilizado e de fácil aplicação é o Geriatric Depression Scale (GDS). Trata-se de um questionário com respostas dicotômicas com 30 questões associadas ao estado de humor, com um ponto de corte de 10 pontos para o diagnóstico de depressão. Existem também versões reduzidas de 15 e 4 itens com pontos de corte de 5 e 1 respectivamente. Essas versões permitem uma aplicação em menor tempo, o que facilita seu uso na prática diária. O GDS também é uma excelente ferramenta para o monitoramento da resposta ao tratamento medicamentoso.2 No Quadro 5 está demonstrada a escala na versão de 15 itens. Quadro 5. Escala de Depressão Geriátrica, versão 15 itens. Você está basicamente satisfeito com sua vida? 0 1 Sim Não Você deixou muitos de seus interesses e atividades? 1 0 Sim Não Você sente que sua vida está vazia? 1 0 Sim Não Você se aborrece com frequência? 1 0 Sim Não Você se sente de bom humor a maior parte do tempo? 0 1 Sim Não Você tem medo de que algum mal vá lhe acontecer? 1 0 Sim Não Você se sente feliz a maior parte do 0 1 tempo? Sim Não Você sente que sua situação não tem saída? 1 0 Sim Não Você prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? 1 0 Sim Não Você se sente com mais problemas de memória do que a maioria? 1 0 Sim Não Você acha maravilhoso estar vivo? 0 1 Sim Não Você se sente um inútil nas atuais circunstâncias? 1 0 Sim Não Você se sente cheio de energia? 0 1 Sim Não Você acha que sua situação é sem esperança? 1 0 Sim Não Você sente que a maioria das pessoas está melhor do que você? 1 0 Sim Não Total Adaptado de Almeida e Almeida, 1999.2 Avaliação do Risco Nutricional Os idosos compõem um grupo de vulnerabilidade nutricional. A desnutrição, por sua vez, está associada a mortalidade, redução da qualidade de vida e susceptibilidade imunológica a diversas infecções. Investidas para prover uma nutrição adequada a esse grupo encontram alguns problemas, como: dificuldade de definir suas necessidades nutricionais, diminuição da massa corpórea e o declínio energético/metabólico.64 Dentro da abordagem interdisciplinar da AGA, destacamos a importância do nutricionista que, junto com a equipe de saúde, pode utilizar instrumentos que estimem o risco nutricional e auxiliem no plano de intervenção. A medida do Índice de Massa Corpórea (IMC) e a avaliação da circunferência da panturrilha < 31 cm podem ser utilizadas para estimar o estado nutricional e avaliar sarcopenia, por exemplo.7 Desde 1992, a Nutrition Screening Initiative determina que o IMC que o idoso obeso tem é o IMC ≥ 27 Kg/m2.48 Durante a aplicação da AGA é importante realizar um inquérito nutricional, no qual paciente ou acompanhante são questionados sobre histórico alimentar recordatório.64 Além disso, existem ferramentas de rastreio, como a Mini Avaliação Nutricional (MAN), instrumento que tem o objetivo de avaliação do risco nutricional, por meio de um questionário padronizado, composto de duas partes (triagem e avaliação global) — Quadro 6. De acordo com o teste, todos os indivíduos com uma pontuação menor que 11 na triagem devem ser submetidos à segunda parte do questionário, e aqueles com escore abaixo de 14 são considerados desnutridos. 30, 31 Quadro 6. Mini Avaliação Nutricional. TRIAGEM A. O consumo de alimentos diminuiu nos últimos 3 meses devido à perda de apetite, problemas digestivos, E. Problemas neuropsicológicos: 0 = demência ou depressão grave 1 = demência leve dificuldades para mastigar ou deglutir? 0 = diminuição severa da ingesta. 1 = diminuição moderada da ingesta. 2 = sem diminuição da ingesta. 2 = sem problemas psicológicos B. Perda de peso nos últimos 2 meses: 0 = superior a três quilos. 1 = não sabe informar. 2 = entre um e três quilos. 3 = sem perda de peso. F. Índice de massa corpórea (IMC = peso [kg]/estatura [m]2): 0 = IMC < 19. 1 = 19 ≤ IMC < 21.2 = 21 ≤ IMC < 23. 3 = IMC ≥ 23. C. Mobilidade: 0 = restrito ao leito ou à cadeira de rodas. 1 = deambula, mas não é capaz de sair de casa sem ajuda. 2 = deambula normalmente e é capaz de sair de casa sem ajuda. G. Vive independente e não está asilado ou hospitalizado? 0 = não. 1 = sim. D. Passou por algum estresse psicológico ou doença aguda nos últimos três meses? 0 = sim. 2 = não. Escore de triagem (máximo de 14 pontos) ≥12 = normal; desnecessário continuar a avaliação. ≤11 = possibilidade de desnutrição; continuar a avaliação. AVALIAÇÃO GLOBAL H. Utiliza mais de 3 medicamentos por dia? 0= sim. 1= não. M. Quantos copos de líquidos (água, suco, café, chá, leite) o paciente consome por dia? 0,0 = menos de três copos 0,5 = três a cinco copos 1,0 = mais de cinco copos I. Lesões de pele ou escaras? 0 = sim. 1 = não. N. Modo de se alimentar 0 = não é capaz de se alimentar sozinho 1 = alimenta-se sozinho, porém com dificuldade 2 = alimenta-se sozinho sem dificuldade J. Quantas refeições faz por dia? 0 = uma refeição. 1 = duas refeições. 2 = três refeições ou mais. O. O paciente acredita ter algum problema nutricional? 0 = acredita estar desnutrido 1 = não sabe dizer 2 = acredita não ter problema nutricional K. O paciente consome: P. Em comparação a outras pessoas da mesma Pelo menos uma porção diária de leite ou derivados (queijo, iogurte)? ( ) Sim ( ) Não Duas ou mais porções semanais de legumes ou ovos? ( ) Sim ( ) Não Carne, peixe ou aves todos os dias? ( ) Sim ( ) Não idade, como o paciente considera a sua própria saúde? 0,0 = pior 0,5 = não sabe responder 1,0 = igual 2,0 = melhor 0,0 = nenhuma ou uma resposta «sim». 0,5 = duas respostas «sim». 1,0 = três respostas «sim». Q. Circunferência do braço (CB) em cm: 0,0 = CB < 21. 0,5 = 21 ≤ CB ≤ 22. 1,0 = CB > 22. L. O paciente consome duas ou mais porções diárias de frutas ou vegetais? 0 = não. 1 = sim. R. Circunferência da panturrilha (CP) em cm: 0 = CP < 31. 1 = CP ≥ 31. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL: < 17 = DESNUTRIDO. 17 A 23,5 = RISCO DE DESNUTRIÇÃO. ≥ 23,5 = NUTRIDO. Adaptado de Guigoz et al., 1994.30 AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO E MARCHA No idoso, podem existir fatores intrínsecos que culminam com alteração da marcha e equilíbrio, levando a uma maior propensão ao risco de quedas. É importante que isso seja prevenido, uma vez que pode gerar inúmeras consequências, como fraturas, dependência e redução da qualidade de vida. Nesse contexto, dentro da AGA, existem diversas formas para avaliar esse risco.34 Inicialmente, em toda consulta, o paciente precisa ser questionado ativamente sobre o histórico de quedas, uma vez que isso pode ser um sinal de alarme para futuros eventos. Existem também alguns testes de fácil aplicabilidade que podem ser realizados, como a avaliação da velocidade de marcha e o teste do Get Up and Go. No teste do Get Up and Go o paciente deve se levantar de uma cadeira reta e com um encosto (apoio de aproximadamente 46 cm de altura e braços de 65 cm de altura), caminhar por 3 metros e voltar após girar 180°, retornando para a mesma posição inicial, sentado. Um escore final qualitativo pode ser obtido com uma escala que vai de 1 (normal) a 5 (severamente anormal).40 Outra forma de avaliação do teste é calcular o tempo necessário para o deslocamento, aqui descrito como o Timed Up and Go. Existem também outros testes validados para a avaliação da marcha e equilíbrio, como a escala de Tinetti, que serão descritos com mais detalhes posteriormente, em outro capítulo desta edição. AVALIAÇÃO SENSORIAL A deficiência auditiva/visual, comumente, é desvalorizada pela maioria dos cuidadores e pelos próprios idosos, sendo associada a perdas naturais do envelhecimento. Entretanto, esses deficits podem culminar em dificuldade para execução de atividades diárias básicas, além de interferir na comunicação, fundamental para a vida em comunidade.60 Cabe ao geriatra rastrear alterações visuais e auditivas e, caso seja identificado deficiências, encaminhar para um especialista. VISÃO No idoso, a perda da acuidade visual tem sido associada a risco de quedas, perda de capacidade funcional, isolamento e depressão. Existem, no entanto, possíveis maneiras do médico generalista rastrear essa perda. Inicialmente, deve ser realizada uma avaliação subjetiva, através da anamnese, escutando as queixas do idoso a respeito de dificuldade para enxergar. O médico também pode usar estratégias como perguntar ativamente se tem problemas em atividades cotidianas — como assistir televisão — ou dificuldade para enxergar quando alguém o cumprimenta de longe.7 Uma ferramenta amplamente usada para triagem é o teste de Snellen, que é realizado com o paciente situado a uma distância de cinco metros de um quadro contendo letras do alfabeto. Cada olho é testado separadamente, com ou sem o uso de lentes corretivas. De acordo com o teste, as seguintes pontuações definem alterações: 0,1 - 20/200 (cegueira); 0,5 - 20/40 (perda visual importante); 0,8 (demanda investigação complementar com oftalmologista). O uso alternativo de símbolos como a figura “E” é importante no contexto da avaliação de pacientes de baixa escolaridade, já que costumam ter dificuldades em identificar as letras do alfabeto.33 AUDIÇÃO A perda da audição também está envolvida com a funcionalidade do idoso, podendo contribuir inclusive para um maior isolamento social, depressão e alteração cognitiva. É necessário questionar o paciente sobre dificuldades para escutar, se certificar de estar em um ambiente sem ruídos, falar de forma clara e simples, além de fazer testes objetivos, como o teste do sussurro, que se configura como um bom método de triagem para detecção de presbiacusia.7,36 Para a realização do teste, o avaliador deve se colocar fora do campo visual do participante, a uma distância de 0,6 metros, com o braço estendido tocando em seu ombro. Após a oclusão do ouvido contralateral, são sussurrados uma combinação de três números e letras intercalados. Para aqueles incapazes de repeti-los corretamente, a avaliação deve ser repetida com a utilização de outros três números e outras letras. Em caso de alteração no teste, é necessário avaliar o conduto auditivo, em busca de obstruções, como o cerume e, caso permaneça alterado, o idoso deve ser encaminhado para o otorrinolaringologista.60 63 MULTIMORBIDADES, COMORBIDADES E FERRAMENTAS PROGNÓSTICAS O termo multimorbidade é usado para definir a ocorrência de duas ou mais doenças crônicas em um mesmo indivíduo, ao passo que comorbidade se refere a efeitos somados de outras doenças sobre uma principal. A multimorbidade é comum na população idosa, mas não deve ser um estigma da idade, como propagado. É crucial que o médico atendente valorize as queixas trazidas, pois negligenciar os sintomas apresentados passa a mensagem para o paciente idoso de que todas as alterações são fisiológicas, pertencentes à idade, o que, em muitas das situações, não é verdade.21 Existem diversos instrumentos para avaliação das comorbidades e prognóstico, como o índice de comorbidade de Charlson12, que avalia o risco de mortalidade em um ano, baseado na presença de 19 condições clínicas, com diferentes pesos. Outro instrumento muito utilizado é o Cumulative Illness Rating Scale - Geriatric (CIRS-G), que permite uma estimativa de prognóstico com base em uma pontuação composta de acordo com a gravidade do problema em cada sistema orgânico.50 Apesar da ampla utilização de tais ferramentas, o seu uso ainda é discutido, uma vez que foram desenvolvidos em amostras específicas, o que dificulta a aplicação em populações com características diferentes. Baseado nesse racional, Suemoto61 e Cols desenvolveram um modelo preditivo de mortalidade em dez anos com base em dados obtidos em cinco estudos longitudinais populacionais, inclusive estudos brasileiros. Tal ferramenta se tornou bastante útil na prática clínica, uma vez que leva em consideração a heterogeneidade das populações. Para se obter a pontuação, deve-seinserir diversos dados clínicos em um modelo que calcula a porcentagem de indivíduos com as mesmas características que irão morrer em 10 anos, fornecendo um importante dado para tomadas de decisões na prática do geriatra.9 POLIFARMÁCIA E MEDICAÇÕES POTENCIALMENTE INAPROPRIADAS Polifarmácia pode ser definida como o uso de cinco ou mais medicamentos, ou como a prescrição de um número de medicamentos maior do que o clinicamente indicado.32 43 Tendo em vista a magnitude desse problema entre os idosos, a AGS vem publicando periodicamente os critérios, como os de Beers, que sistematizam três grupos de medicações: 1) drogas potencialmente inapropriadas e classes que devem ser evitadas em idosos; 2) drogas potencialmente inapropriadas e classes que devem ser evitadas em idosos com determinadas doenças, e sintomas que possam ser exacerbados pela droga; 3) drogas que devem ser usadas com cuidado em idosos.24 No Brasil, recentemente foi publicado um consenso brasileiro de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos, para auxiliar médicos a avaliarem os medicamentos utilizados por idosos e propiciar escolhas mais apropriadas e com menos efeitos colaterais.49 Com base nesses critérios, é recomendado que o geriatra, durante a consulta, revise todas as medicações utilizadas e indicações para o uso, de forma a buscar as opções mais seguras e adequadas. Um detalhamento maior ao tema será dado no capítulo de princípios de prescrição medicamentosa e polifarmácia. SUPORTE SOCIAL O apoio social é definido como grupo de pessoas com as quais o indivíduo tem algum vínculo. Ele constitui um elemento importante para a manutenção do bem-estar do indivíduo idoso, tendo impacto positivo sobre a aderência às condutas terapêuticas, funcionalidade e diminuição da mortalidade. Para que o médico possa entender toda rede social do indivíduo, é necessário que, durante a consulta, o paciente seja questionado a respeito das pessoas que moram na mesma residência, presença de familiares ou vizinhos que possam dar qualquer tipo de suporte. Muitas vezes nos deparamos com idosos de baixa escolaridade, alteração cognitiva, limitações de comunicação ou motoras, sozinhos em consulta. Isso traz diversas dificuldades, uma vez que pacientes com tais características necessitam de uma rede de apoio.6 18 Em busca de um instrumento capaz de avaliar o apoio social em todas as suas dimensões, Sherbourne CD et al., 1991, desenvolveram o Medical Outcomes Study (MOS), um questionário que avalia cinco aspectos do suporte social — ajuda física, suporte afetivo, emocional, informativo e interação social — por meio de 19 perguntas, com respostas graduadas que variam de 1 (nunca) a 5 (sempre). O escore final fornece um valor entre 0 e 95, sendo que não há ponto de corte proposto na literatura. Tal instrumento também já foi validado no Brasil por Griep et al., 2005, o que permite seu uso em nossa população.22 29 56 Uma outra ferramenta utilizada é o APGAR da família e dos amigos, que representa o seguinte acrônimo da língua inglesa: A, adaptation (adaptação); P, partnership (companherismo); G, growth (desenvolvimento); A, affection (afetividade); R, resolve (capacidade resolutiva). Esse instrumento está demonstrado no Quadro 7.57 58 59 Quadro 7. APGAR da família e dos amigos. Está satisfeito e pode contar com seus familiares (amigos) para resolver seus problemas? 1. Raramente 2. Ocasionalmente 3. Frequentemente Está satisfeito com a forma com que seus familiares (amigos) conversam e compartilham os problemas com você? 1. Raramente 2. Ocasionalmente 3. Frequentemente Está satisfeito com a forma com que seus familiares/amigos acatam e apoiam suas vontades e decisões? 1. Raramente 2. Ocasionalmente 3. Frequentemente Está satisfeito com a forma com que seus familiares/amigos expressam afeição e respondem às suas emoções, como raiva, sentimento de culpa, medo, afeto? 1. Raramente 2. Ocasionalmente 3. Frequentemente Está satisfeito com a forma com que você e seus familiares/amigos compartilham o tempo juntos? 1. Raramente 2. Ocasionalmente 3. Frequentemente Escore: < 3 pontos, acentuada disfunção nas relações familiares e de amizade; 4 a 6 pontos, moderada disfunção nas relações familiares e de amizade; > 6 pontos, disfunção leve ou ausente. Adaptado de Smilkstein et al., 1978.58 EVIDÊNCIAS DO USO DA AGA As evidências atuais têm demonstrado benefícios com o uso da AGA em diversos cenários. Idosos no contexto de internação hospitalar parecem ser aqueles que mais se beneficiam. Em uma revisão da Cochrane, o uso da AGA em pacientes admitidos no hospital esteve associado a um menor tempo de internação hospitalar.19 20 Outro estudo avaliou idosos internados por fratura de fêmur e o impacto do apoio do geriatra, sendo concluído que houve uma redução do tempo de internação hospitalar.5 Em pacientes hospitalizados, a aplicação da AGA foi associada a uma menor perda de independência para AVDs, menor taxa de institucionalização, menor custo na hospitalização, além de reduzir as taxas de readmissão em 30 dias. Importante pontuar que houve aumento da satisfação entre os pacientes, familiares, médicos e enfermeiras com a abordagem. 14 25 37 Já no ambiente ambulatorial, apesar de evidências menos robustas, o uso da AGA parece diminuir o número de internações e teve impacto positivo na sobrevida dos pacientes após dois anos de seguimento.19 20 O benefício foi semelhante com idosos frágeis da comunidade, levando a uma redução da taxa de admissão hospitalar e o risco de readmissão naqueles que receberam alta.54 A evidência mais escassa sobre os benefícios do uso da AGA no ambiente ambulatorial talvez esteja ligado ao fato de ter sido estudada com populações mais heterogêneas, em diferentes ambientes. Parece existir um menor benefício nos indivíduos em extremos de saúde e doença, sendo indicada, principalmente para os idosos com síndromes geriátricas, multimorbidades e utilização mais frequente dos serviços de saúde, risco de fragilização e perda de capacidade funcional.19 20 Um ponto negativo da AGA é o tempo necessário para a sua aplicação, que normalmente dura de uma a duas horas. Visando facilitar sua aplicabilidade, Marlon et al. desenvolveram uma avaliação geriátrica compacta de 10 minutos, que demonstrou boa acurácia diagnóstica, podendo ser uma alternativa à AGA tradicional, principalmente no contexto de limitação de tempo.1 Concluindo, a AGA evoluiu muito desde sua criação. Constantemente, novos estudos são publicados tentando mensurar os impactos da AGA na saúde da população idosa, o que já foi corroborado por outras publicações. Selecionando corretamente os pacientes que se beneficiam, planejando as condutas individuais junto a uma equipe interdisciplinar, os impactos positivos poderão ser maiores. A. A paciente se beneficiaria da Avaliação Geriátrica Ampla antes do procedimento cirúrgico? Por quê? RESPOSTA: Margarida é uma candidata que se beneficiaria do uso da AGA. Isso porque estamos lidando com uma paciente que sofrerá uma queda brusca na sua funcionalidade, às custas de uma fratura de fêmur. Ademais, precisará ser internada para cuidados de reabilitação pós- cirúrgicos. É sabido que um longo período de hospitalização e imobilização aumenta os riscos de desfechos negativos para pacientes, como óbito, perda de funcionalidade e imobilidade. Isto posto, é conhecido que estudos mostram a eficácia da utilização da avaliação multidimensional no contexto hospitalar, reduzindo o tempo de internação e diminuindo a mortalidade. B. Se sim, quais profissionais estão habilitados para conduzir a AGA neste caso? RESPOSTA: Para um melhor cuidado no caso descrito, é imprescindível a elaboração de um plano terapêutico de reabilitação, envolvendo diversos profissionais, compondo um grupo multidisciplinar. Este pode conter o médico, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, assistente social entre outros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Aliberti MJR. Avaliação geriátrica compacta de 10 minutos: desenvolvimentoe validação de um instrumento de rastreio multidimensional breve para idosos. São Paulo. Tese. [Doutorado em Ciências Médicas] - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2018. Acessado 04 de fevereiro de 2021. 2. Almeida Osvaldo P., Almeida Shirley a. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de Depressão em Geriatria (GDS) versão reduzida. Arq. Neuro-Psiquiatr. 1999; 57(2B): 421-426. 3. Atalaia-Silva Kelly Cristina, Lourenço Roberto Alves. Tradução, adaptação e validação de construto do Teste do Relógio aplicado entre idosos no Brasil. Rev. 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O que agora é muito perceptível é que a paciente está cada vez mais restrita, com dificuldade para andar e com menos força, passando a depender de muito mais ajuda de terceiros para realizar atividades básicas da vida diária. Há dois meses, necessitou ser internada para tratamento de uma infecção urinária complicada e, após sete dias restrita ao leito, teve alta hospitalar e foi percebido que agora ela está com muito mais dificuldades em relação à capacidade funcional. Em relação ao peso, mantém IMC de obesidade grau 1, apesar da perda nos últimos meses. Foi orientada a procurar um geriatra, que a encaminhou para outros profissionais, como nutricionista e fisioterapeuta. A. Em relação a esse caso, pode-se suspeitar que essa paciente é frágil? Por quê? B. Quais são as consequências que a fragilidade pode trazer a essa paciente? C. Mesmo considerando a condição de obesidade, perder peso poderá piorar a mobilidade devido à fraqueza muscular. Como você justificaria essa afirmação? D. Quais seriam as melhores estratégias de abordagem diagnóstica e terapêutica nesse caso, na intenção de minimizar as consequências da fragilidade? DEFINIÇÃO A fragilidade constitui um quadro sindrômico que se apresenta, em geral, em pacientes com mais de 65 anos, levando a uma condição de vulnerabilidade que interfere, sobremaneira, na autonomia e na qualidade de vida da pessoa idosa. É uma condição multifatorial, no qual mudanças fisiológicas e relacionadas à senilidade, em diferentes sistemas, levam a alterações homeostáticas significativas a ponto de interferir no equilíbrio do organismo.4 Entre os sistemas e fatores envolvidos na fragilidade, pode-se destacar o envelhecimento celular, alterações no sistema osteomuscular, com destaque para a sarcopenia, no sistema endócrino e no sistema imunológico, resultando em uma apresentação fenotípica considerada característica.25 O idoso considerado frágil vivencia a diminuição gradativa e mais acentuada de suas reservas fisiológicas, quando comparado a um indivíduo não frágil, com aumento do risco de perda da capacidade funcional, além de outros desfechos adversos, como será visto adiante. Há um comprometimento da força muscular, do desempenho locomotor, dificuldade no enfrentamento dos diversos insultos orgânicos aos quais o idoso é suscetível e, com frequência, o comprometimento cognitivo, entre outros aspectos. Conforme proposto por Fried et al., a fragilidade pode ser reconhecida clinicamente por características que compõem um conjunto de sinais e sintomas, conhecidos como o “modelo do fenótipo da fragilidade”. Essas características representam, de alguma maneira, a tradução clínica da vulnerabilidade do indivíduo, cujo organismo reage de forma desproporcional aos estressores aos quais é exposto. O modelo do fenótipo surgiu em 2001, quando Linda Fried e colegas analisaram numa população de idosos, prospectivamente, a relação existente entre determinadas características clínicas hipoteticamente representativas da fragilidade e desfechos, como a incidência de doença, hospitalizações, quedas, perda da capacidade funcional e morte. Os resultados corroboraram a hipótese e os indivíduos com dois ou mais, dentre os cinco sinais propostos (considerados frágeis), apresentaram maior prevalência dos desfechos analisados. Fried e colegas embasaram, desde então, o conceito de fragilidade a partir de uma rede complexa e interligada, descrita como ciclo da fragilidade, exposto na Figura 1 e que será detalhado ao longo deste capítulo.13 A Figura 1 traz o modelo conceitual proposto por Linda Fried, que mostra a fragilidade como uma complexa rede sistêmica de desequilíbrio homeostático. Figura 1. Ciclo da Fragilidade, conforme proposto por Fried et al. 2001 Adaptado de Fried e colegas, 2001.13 Um outro modelo surgiu em 2005, quando Rockwood e colegas, também a partir da análise prospectiva de uma dada população emestudo, propõem um outro olhar sobre a compreensão da fragilidade enquanto quadro sindrômico. Nesse estudo, os autores representam a fragilidade não a partir de determinados sinais e sintomas, mas de um conjunto composto por “deficit” que, acumulados, graduariam a vulnerabilidade compreendida no conceito de fragilidade. Quanto maior a soma dos deficit, maior a chance e o grau de fragilidade. Foi classificado como deficit toda e qualquer condição adversa e prevalente em indivíduos idosos e que, consequentemente, seria capaz de levar a perdas e prejuízos à saúde. Esse modelo ficou conhecido como Índice de Fragilidade por Acúmulo de Deficits e veio complementar a proposta de Linda Fried no modelo do fenótipo.24 A seguir, os critérios diagnósticos de cada modelo. FENÓTIPO DE FRAGILIDADE O modelo do fenótipo é representado por cinco características clínicas, que podem ser facilmente identificadas. O paciente será considerado frágil caso sejam identificados três ou mais dos cinco critérios. Se um ou dois dos sinais estiverem presentes, o indivíduo será classificado como pré-frágil.13 Quadro 1. Critérios de fragilidade de Linda Fried (modelo do fenótipo). Perda de peso: não desejada, equivalente a pelo menos 5% do peso corporal ou superior a 4,5 kg no último ano. Sensação de exaustão: relatada pelo próprio paciente. Para mensurar essa queixa, usa-se a escala CES-D. Diminuição da velocidade da marcha: apresentada pela redução de 20% na velocidade de deambulação. A marcha deve ser cronometrada numa determinada distância e a velocidade deverá ser corrigida pelo sexo e altura. Baixo nível de atividade física: estimada pela quantidade de Kcals perdidas semanalmente pelo paciente por meio de atividade física cotidiana ou por meio de exercícios. Redução da força: avalia a força do paciente através da preensão palmar, medida pelo dinamômetro e que deve guardar proporção com o Índice de Massa Corpórea (IMC). Adaptado de Fried et al., 2001.13 ESCALA DE ROCKWOOD O índice de fragilidade por acúmulo de deficit é representado por uma ferramenta em que o paciente é classificado de acordo com o conjunto de deficit que ele apresenta, que basicamente se traduz em funcionalidade. Foram elencadas nove categorias, baseadas no quadro clínico do paciente, em que ele pode ser classificado entre robusto (saudável e não frágil) e em condição de fragilidade terminal, cujo prognóstico traduz a proximidade com a morte.24 Quadro 2. Escala Clínica de Fragilidade (Clinical Frailty Scale). Robusto: indivíduo com um estado geral condizente com sua idade e que se apresenta ativo em relação a suas atividades cotidianas e pratica exercícios regularmente. Saudável: não tem doenças ativas. Porém, não é tão ativo quanto o paciente robusto e pratica exercícios esporadicamente. Controlado: possui comorbidades que estão controladas e tem a prática de atividade física restrita a caminhadas. Vulnerável: possui quadro clínico sintomático, apresenta lentificação da caminhada e cansa em ocasiões do cotidiano. Fragilidade leve: necessita da monitorização de um cuidador em relação a medidas cotidianas, como uso de medicamentos controlados e a deambulação. Fragilidade moderada: necessita dos cuidados de uma outra pessoa para realizar atividades que impõem um maior esforço, como subir escadas, ou até mesmo para deambular, além de requerer cuidados durante o período do sono noturno. Fragilidade severa: significativa limitação da capacidade física e também cognitiva, requerendo ampla ajuda de um cuidador. Nesse caso não há estimativa de morte em curto período de tempo (seis meses). Fragilidade muito severa: diz respeito a uma proximidade maior com a morte, podendo ser ela ocasionada por uma doença adquirida neste momento. Fragilidade terminal: é quando o fim da vida é iminente, em um período de tempo inferior a seis meses. Adaptado de Rockwood et al., 2005.24 Na verdade, o conceito de fragilidade ainda é algo em construção e cada vez mais aproxima-se da ideia de que quanto mais ampla a abordagem ao paciente, maior a precisão diagnóstica. O desafio está em desenvolver um instrumento que seja facilmente aplicável na prática clínica. EPIDEMIOLOGIA Com a transição do perfil populacional nas últimas décadas, a percentagem de indivíduos idosos e muito idosos tem aumentado significativamente. No início do século XX, cerca de 4,1% da população mundial era idosa e apenas 3,2% tinham mais de 85 anos. Na metade do século, cerca de 8% da população era idosa, evoluindo para 12,6% no início do século XXI.12 Essas mudanças demográficas e epidemiológicas refletem, respectivamente, a maior proporção relativa de idosos e o aumento da expectativa de vida. Esses fenômenos se devem à redução da natalidade (levando a menos nascimentos e menor proporção de jovens) e aos avanços em indicadores sociais, junto aos progressos na ciência e na medicina, permitindo maior sobrevida e mais longevidade. Ressalta-se que, nesse cenário, é menor a prevalência de doenças infectocontagiosas em detrimento do aumento das doenças crônicas degenerativas, configurando um quadro no sistema de saúde em que as demandas são tanto maiores quanto contínuas. E é nesse contexto que a síndrome de fragilidade tem apresentado uma importância epidemiológica significativa, atrelado ao avanço da expectativa de vida e ao aumento da prevalência de comorbidades nos indivíduos idosos. Mais recentemente, muito vem sendo estudado sobre síndrome de fragilidade e sua relação com desfechos como quedas, declínio funcional, hospitalização, institucionalização e morte; e os estudos mostram que idosos frágeis têm piores resultados frente a eventos estressores relacionados ao envelhecimento. A prevalência de fragilidade cresce com a idade, de acordo com os dados obtidos do Cardiovascular Health Study que deu origem aos critérios do fenótipo, corroborado com os trabalhos subsequentes.13 Um outro dado importante é que a maioria dos indivíduos pré-frágeis evolui para a condição de fragilidade, ao passo que é rara a conversão de frágil para não frágil. Idosos institucionalizados são mais frágeis, se comparados a idosos da comunidade. Em relação às diferenças quanto a sexo, a fragilidade predomina em mulheres, de acordo com os estudos que analisaram essa variável. Isso deve-se possivelmente ao fato de que mulheres têm menos massa magra, menos força muscular e mais sarcopenia associada a maior risco nutricional. Por outro lado, a mortalidade é maior entre os homens.15 Em 2009, foram analisados dados de um estudo realizado em 10 países europeus, com uma amostragem de 18.227 pessoas, com idades superiores a 50 anos. Entre os idosos com mais de 65 anos, cerca de 42,3% dos entrevistados atendiam a um ou dois critérios de Fried para a fragilidade, sendo classificados como pré-frágeis. Cerca de 17% atendiam a mais de três critérios, sendo classificados como frágeis; entre esses, 21% eram do sexo feminino e 11,9% eram do sexo masculino.18 Em 2012, foi publicada uma revisão sistemática sobre a prevalência de fragilidade em que 21 estudos foram analisados, num total de 61.500 idosos da comunidade. A prevalência variou entre 4% e 59%. No entanto, não foi verificada uniformidade nos parâmetros diagnósticos utilizados, o que explica essa grande variação.6 FISIOPATOLOGIA A síndrome de fragilidade tem fisiopatologia complexa e resulta da perda da homeostase do organismo ao longo do tempo em que o paciente se expõe a fatores de desgaste orgânico, psíquico e social. O estado de fragilidade leva o indivíduo a apresentar uma resposta desproporcional aos estresses aos quais é submetido, gerando um ciclo no qual um fator de exposição leva a outro. Diferentes sistemas estão sabidamente envolvidos no quadro sindrômico, principalmente o osteomuscular, endócrino, imunológico e nervoso.25 A seguir, serão detalhadas as alterações presentes em cada um deles. Sistema muscular A sarcopenia é compreendida como o elemento-chave e principal desencadeante da fragilidade. Ela é definida como diminuição
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