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1 EXTRATIVISMO ILEGAL DE MINÉRIO NA AMAZÔNIA RESUMO A mineração em Terras Indígenas (Tis) não é permitida por lei, diante disso este trabalho investiga o extrativismo ilegal de minério em Terras Indígenas Yanomamis (TIY), por isso o objetivo geral consiste em compreender os impactos da exploração ilegal de cassiterita em terras indígenas de Boa Vista – Roraima, Amazônia brasileira. Menciona-se que os objetivos específicos são: relatar aspectos sociais e políticos da extração da cassiterita na Amazonia, e seu impacto na territorialidade em terras indígenas; Entender como corrida pelo ouro negro em Terras Indígenas Yanomami (TIY) ameaça os direitos fundamentais devido a exploração ilegal de recursos minerais; e Analisar como mercado global e a rede de financiamento da extração da cassiterita apoia a exploração ilegal de recursos minerais da Amazonia. A metodologia empregada na pesquisa é descritiva, e foram realizadas busca documentou e na literatura em revistas cientificas e foram analisados normativas legais que travam sobre extração de minério e direito dos povos indígenas. Dados da DNPM, FUNAI, IBRAM, IPEA, MPI, ONU e a USGS contribuíram para construção desse estudo. Os achados dessa pesquisa demostram que a extração ilegal da cassiterita na Amazonia afeta diretamente os habitantes desse território. Contudo, quando a mineração ocorre em comunidades ribeirinhas e nos povos originários os estragos são ainda mais preocupantes porque tem impacto na sua cultura e modo de vida, que deve ser conservada, e também no bioma que deveria ser preservado pelas suas riquezas naturais. Conclui-se que existe uma alta demanda no merco pela cassiterita, especialmente pelo pouco reserva desse minério no mundo, então quando a pouca oferta sobre valor do produto tende a ser alto, e essa valorização da cassiterita aumenta a cobiça dos empresários e, consequentemente, a exploração ilegal da cassiterita. Essa atividade ilícita culmina na morte de toda a fauna e flora existentes que são irreversíveis. Os destinos mais comuns da cassiterita ilegal extraída é a TIY, em Roraima, por isso imprescindível realizar ações que mitiguem atividades ilegais que são irreversíveis ao meio ambiente. Palavras-chave: Terras Indígenas; Proteção da População Tradicional; Mineração Ilegal. ABSTRACT Mining in Indigenous Lands (Tis) is not permitted by law, therefore this work investigates illegal ore extraction in Yanomami Indigenous Lands (TIY), so the general objective is to understand the impacts of illegal exploitation of cassiterite in indigenous lands from Boa Vista – Roraima, Brazilian Amazon. It is mentioned that the specific objectives are: reporting social and political aspects of cassiterite extraction in Amazonia, and its impact on territoriality in indigenous lands; Understanding how the race for black gold in Yanomami Indigenous Lands (TIY) threatens fundamental rights due to the illegal exploitation of mineral resources; and Analyze how the global market and the cassiterite extraction financing network support the illegal exploitation of mineral resources in the Amazon. The methodology used in the research is descriptive, and a documented search was carried out in the literature in scientific journals and 2 legal regulations governing mineral extraction and the rights of indigenous peoples were analyzed. Data from DNPM, FUNAI, IBRAM, IPEA, MPI, UN and USGS contributed to the construction of this study. The findings of this research demonstrate that the illegal extraction of cassiterite in Amazonia directly affects the inhabitants of this territory. However, when mining occurs in riverside communities and indigenous peoples, the damage is even more worrying because it has an impact on their culture and way of life, which must be preserved, and also on the biome, which should be preserved for its natural riches. It is concluded that there is a high demand in the market for cassiterite, especially due to the limited reserves of this ore in the world, so when there is little supply the value of the product tends to be high, and this appreciation of cassiterite increases the greed of businesspeople and, consequently, the illegal exploitation of cassiterite. This illicit activity culminates in the death of all existing fauna and flora, which is irreversible. The most common destination for illegally extracted cassiterite is TIY, in Roraima, which is why it is essential to carry out actions that mitigate illegal activities that are irreversible to the environment. Keywords: Indigenous Lands; Protection of the Traditional Population; Illegal Mining. 1. INTRODUÇÃO A pandemia de COVID-19 foi marcada por erros e fazer várias vítimas em todo o Brasil. Além do mais, afetou a economia brasileira nesse período, o que culminou em uma recessão e estagnação econômica. Como meio de mitigar os efeitos econômicos da pandemia, o Brasil estabeleceu políticas restritivas para atenuar os impactos econômicos e, consequentemente, a disseminação do vírus. Uma medida adota foi o fechamento dos serviços não considerados essenciais, como indústrias e escolas (DE CASTRO et al. 2022). No entanto, devido as divergências políticas nas esferas estaduais, municipais e federais, essas medidas tiveram efeitos divergentes nos diferentes setores econômicas do país. Assim, a mineração foi considerada uma das atividades econômicas essenciais durante a pandemia de COVID-19. Devido ao seu valo no mercado, a cassiterita é um mineral que é uma ameaça aos Yanomami, pois seu local de assentamento existe alta concentração de cassiterita. Diante dessa realidade, verifica-se que existe uma alta procura na atualidade, mas o interesse do estanho, metal extraído da cassiterita, não surgiu agora, ocorre desde meados de 1950, pois o mineral possui demanda no mercado nacional e internacional. O território de Roraima, concentra um alto teor de minério em relação a outros Estados brasileiros, tornando-o mais visado para extração de mineral, principalmente pela alta concentração de cassiterita. 3 Em Roraima existem importantes reservas minerais em abundância ricas em cassiterita, alvo de cobiça das grandes mineradoras, estimuladas pela crescente demanda global por esse mineral. Mas, com o alto interesse pela cassiterita em Roraima, os povos originários tornam-se uma população vulnerário devido à falta de fiscalização e proteção das Terras Indígenas dos Yanomamis (TIY). Todavia, as atividades a proteção dos direitos dos povos indígenas é uma questão crucial para a justiça social, sendo está a justificativa para essa pesquisa. Diante desse contexto, surge o problema concreto de compreender os impactos da exploração ilegal de minérios em TIs na Amazônia brasileira, bem como identificar as principais lacunas na legislação e regulamentação que permitem a ocorrência dessa atividade ilegal. A falta de controle e fiscalização, aliada à demanda global por minerais valiosos, neste caso a cassiterita, tem levado à destruição do meio ambiente, à contaminação de recursos hídricos por substâncias tóxicas, ao desmatamento e à vulnerabilidade das comunidades locais e dos povos indígenas. Dado o exposto, surge o questionamento: Quais são os impactos resultantes da exploração ilegal de cassiterita em terras indígenas de Boa Vista – Roraima, na Amazônia brasileira? Essa questão busca compreender os efeitos dessa prática ilegal, a fim de contribuir para a conscientização e o debate sobre a importância de políticas mais efetivas de proteção ambiental, regulamentação adequada e respeito aos direitos dos povos indígenas, visando à preservação da Amazônia e ao bem-estar das comunidades afetadas. Objetivo geral consiste em compreender os impactos da exploração ilegal de cassiterita em terras indígenas de Boa Vista – Roraima, Amazônia brasileira. Menciona-se que os objetivos específicos são: relatar aspectos sociais e políticosda extração da cassiterita na Amazonia, e seu impacto na territorialidade em terras indígenas; Entender como corrida pelo ouro negro em Terras Indígenas Yanomami (TIY) ameaça os direitos fundamentais devido a exploração ilegal de recursos minerais; e Analisar como mercado global e a rede de financiamento da extração da cassiterita apoia a exploração ilegal de recursos minerais da Amazonia. A pesquisa possui um objetivo descritivo, pois visa descrever os impactos da exploração ilegal de cassiterita em TIs de Boa Vista – Roraima, na Amazônia brasileira. Sendo assim, foram utilizados métodos históricos, comparativos e dedutivo para analisar dados e informações relevantes. A análise de conteúdo foi empregada 4 para analisar qualitativas, visando identificar padrões e tendências nos impactos da mineração ilegal em TIY. Esse trabalho está estruturado em três capítulos. O capítulo I aborda sobre a extração da cassiterita na Amazônia: o caso de Roraima. O capítulo II descreve a corrida pelo ouro negro em terra indígena Yanomami. Já o capítulo III denota sobre o mercado global e redes de financiamento da extração da cassiterita na Amazônia. 5 2. CAPÍTULO I - CAPITALISMO DE FRONTEIRA E A EXTRAÇÃO DA CASSITERITA NA AMAZÔNIA A cassiterita, e extraída o estanho, que é um metal usado para produzir ligas como as folhas de flandres, úteis devido à sua maleabilidade e pela capacidade de evitar corrosão e ferrugem. O metal está presente em diferentes produtos do dia a dia, como lata de alimentos, carro, na produção de vidros, em celulares e outros produtos. Barros et al. (2019) explica que a cassiterita, pelos seus diferentes usos, tem sido alvo de cobiça dos mineradores. Então, a grande demanda gera a exploração ilegal de áreas onde são registados cassiterita gerando sérias consequências socioeconômicas e ambientais. A presença da mineração ilegal de cassiterita em TIs da Amazônia Legal revela a extensão desse problema, destacando a importância de uma análise aprofundada para compreender suas raízes e buscar soluções efetivas. Na Amazônia é observado grande atividade extrativista da cassiterita, pois no comercio nacional e internacional existe interesse do estanho. Todavia, o processo de mineração desse minério oferece ao meio ambiente riscos tóxicos, nessa linha Azedo et al. (2021) cita que a grilagem da cassiterita ocorre através da liberação de chumbo (Pb) nos ecossistemas aquáticos, devido ao processo de refinamento. A liberação do Pb em ambientes aquáticos expõe as pessoas contaminação por metal, que incluem atrasos de desenvolvimento, dor abdominal, alterações neurológicas e irritabilidade. Mas, o bioma, também é contaminado devido ao processo de extração da cassiterita. No entanto, a mineração de cassiterita à base de mercúrio libera quantidades significativas deste metal tóxico no meio ambiente e provocam inúmeras degradações socioambientais, resultando na contaminação generalizada de peixes e animais utilizados como fontes de alimento proteico dos habitantes da região. A mineração ilegal de minérios na região Amazônica é uma questão de extrema preocupação, afetando diversos estados que compõem a Amazônia Legal. Estudos revelam que essa prática está presente em praticamente todos os estados da região em especial a região do Norte, comprovando a extensão do problema (SCHMINK, 2004). A mineração ilegal e o desmatamento também aumentam a incidência de doenças entre os povos indígenas na região amazônica, e deixa essas populações mais vulneráveis. Veiga (2001) evidencia que um dos minérios mais explorados de forma ilegal é a cassiterita, pois, conforme explorado, o estanho que extraído da 6 cassiterita, é muito usado na indústria. Diante da sua alta demanda no mercado global e nacional impulsiona a exploração desse minério em larga escala. No entanto, a exploração da cassiterita à base de mercúrio em TIs amazônicas é ilegal e gera impactos socioambientais, como a contaminação dos recursos hídricos e a degradação dos ecossistemas florestais. A extensão da extração mineral ilegal na região Amazônica, especialmente focando na cassiterita, evidencia a necessidade urgente de abordar essa questão de forma efetiva. A atividade ilegal de mineração representa uma ameaça significativa para os ecossistemas amazônicos e para as comunidades locais, que dependem desses recursos naturais para sua subsistência e bem-estar. Além disso, as práticas ilegais de extração mineral acarretam perdas econômicas para o país, como evasão de divisas e ausência de controle sobre a circulação dos minérios (VEIGA, 2001). Na região norte, um dos estados mais afetados é a Roraima como um local particularmente visado para a extração ilegal de cassiterita. Em Roraima, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a extensão das áreas destinadas a população indígenas contempla 46% do território (IPEA, 2023). A exploração de forma ilegal de cassiterita em TIs, como as dos Yanomamis, em Roraima, expõe a vulnerabilidade dos povos tradicionais, no viés ambiental, social e econômico. Porém, os impactos ambientais são os mais debatidos pela complexidade, pois influi na contaminação dos recursos hídricos por mercúrio e o desmatamento, resultando na degradação dos ecossistemas (SILVA, 2018; CARNEIRO, 2002). Além disso, a mineração ilegal compromete os modos de vida tradicionais e a identidade cultural dos povos indígenas, reforçando a importância de uma abordagem sensível e respeitosa. No entanto, Almeida (2015) explana que a luta contra a exploração ilegal de cassiterita enfrenta diversos desafios relacionados à legislação e regulamentação. O fato de a legislação nacional ser complexa, assim como a ausência de regulação efetiva do mercado de mineração e a ausência de requisição do cumprimento das leis colaboram para a perpetuamento da exploração ilegal de cassiterita. Essas descobertas ressaltam os desafios colocados pela ilegalismo da exploração da cassiterita em Roraima para as autoridades brasileiras e as comunidades indígenas que lutam para preservar as florestas e proteger territórios. Então, Martinez Alier (2007), destaca que é papel do Estado, proteger os grupos 7 sociais mais vulnerais, como a população indígena. Por isso, as entidades governamentais devem oferecer instrumentos legais e ferramentas de enfrentamento da exploração ilegal. Portanto, é imprescindível a implementação de políticas e regulamentações mais rigorosas, além do fortalecimento dos mecanismos de controle e fiscalização, visando coibir a exploração ilegal de minérios, proteger os ecossistemas e assegurar a sustentabilidade socioambiental na região Amazônica. 2.1 Capitalismo de fronteira em Roraima As fronteiras, pode ser dita como um limite de território ou como limites políticos, sempre estiveram ligadas ao entendimento do desenvolvimento humano, pois as pessoas migram ou imigram para diferentes lugares buscando oportunidades. Para além disso, os suprimentos e mercadorias usados nas residências, são garantidos pela transposição das fronteiras, que ocorrem por meio de exportação ou importação de produtos (CARDIN, 2018). Diante do entendimento acima exposto cita-se que as fronteiras influenciam economicamente uma região, então quando existe um crescimento do território há uma expansão dos horizontes capitalistas. Sobre isso, Santo (2011), cita-se que o crescimento de capital está sempre ligado a expansão do território, então a falta de possibilidades vem relacionadas a saturação dos espaços a serem explorados. Portanto, a dinâmica espacial do capitalismo amplia-se através dos próprios limites, sendo esses internos e externos. O capitalismo, é crucial em contexto de fronteira, ainda mais para os indivíduos que buscam no ato da fuga a preservação da sobrevivência, ou seja, é uma dimensão da organização social quedeixa evidente os migrantes a diferentes fatores que expõe a situações de vulnerabilidade social e violação de direitos humanos, que inclui fome, falta de moradia, violência e exploração física e sexual e outros (LEMES; LANZA, 2023). Então, observa-se que na sociedade a expansão do capital (ou no capitalismo de fronteira), é impulsionado através da exploração de fronteiras. No entanto, o capitalismo é constituído por meio da produção da natureza, a busca do poder da acumulação de capital, o que significa que o capitalismo pode ser uma força destrutiva 8 da natureza, pois busca recursos naturais para exploração e acumulação de riquezas, como o extrativismo (BARCELOS, 2020). Nesse contexto de exploração de recursos naturais para soma de capital, Roraima com suas diversas riquezas se tornou uma região de grande interesse de exploração. Raposo e Avelino (2020), corroboram essa afirmação, explicando que Roraima está inserido no norte do Brasil, é possui um ordenamento de direitos dos indígenas sobre suas terras de ocupação tradicional, no entanto a expansão capitalista gera contradições, que no caso da fronteira repercute em conflitos. Ou seja, a expansão das práticas capitalistas na fronteira de Roraima gera as mazelas oriundas de um processo opressor de ajuste econômico e territorial. Diante da contextualização apresentada entender que o capitalismo de fronteira em Roraima expõe a população da região, mas principalmente os povos tradicionais, como os Yanomamis, que vivem nessa região a ações de homens que visam a exploração das riquezas naturais desse lugar, que incluem o ouro e a cassiterita. No entanto, essas atividades que visam o aumento de riqueza, que podem ser ditas como soma dos capitais, deixam rastro de exploração e violação dos indígenas, mas deveria ser um lugar de preservação e conservação. 2.2 Extrativismo de fronteira em Roraima As estruturas econômicas e políticas globais funcionam a favor e baseiam-se em modos extrativistas de fronteira. Tal afirmativa é explicado por Neves (2022), pois o autor cita que o extrativismo é apontado como sendo uma alternativa econômica que ocorre por meio da exploração territorial, no entanto é visto também como um projeto civilizatório ameaçador e destruidor de vidas humanas, mas é visto por forçar uma crescente do capitalismo. No entanto, há medida que a expansão da fronteira extrativista minerais crescem, os entornos regionais vêm se transformando radicalmente pela exploração do meio ambiente. Com crescimento humano as fronteiras econômicas se expandiram ao capital, as riquezas amazônicas se tornaram mais valorizadas, no entanto, o desenvolvimento e crescimento humano deu origem forma de exploração dos recursos naturais, como o extrativismo. Os projetos de mineração extrativistas, permitem o crescimento xdo capitalismo de forma ampla, no entanto afetam a negativamente a sociedade, pois desde sua existência, o extrativismo possui camadas de exploração e desapropriação. 9 As cidades na região amazônica passaram por intensas modificações, estritamente relacionadas as frentes pioneiras cuidavam de criar as condições para a sua exploração do extrativismo em novos espaços, portanto abrindo possibilidades de novas fronteira. Essa frente de expansão, cresceram pelas possíveis oportunidades de melhoria das condições de vida pelo simples fato de se ter o acesso à terra, ou seja, estavam ligadas ao aumento de capitalismo (DE OLIVEIRA; FERREIRA, 2020). O Estado de Roraima se insere nesse contexto como local de estratégica de sobrevivência dos indivíduos que buscam refúgio para livrar-se melhores condições de vida, pois o local é recursos naturais abundantes. Nessa linha Bethonico et al. (2023) relatam que a economia extrativista, em Roraima, é um determinante da ocupação da região, pois atraem migrantes de todas as regiões do país para o estado com a promessa de melhoria de condições de vida e facilidades para obter propriedades e bens. No entanto, essa atividade deixa marcas de uma economia violenta e com desníveis econômicos e sociais. Em suma, observa-se que o extrativismo há muito que está ligado aos processos capitalistas e é caracterizado como uma expressão fundamental do capitalismo global, tornando-se amplamente incorporadas em todo o sistema mundial capitalista contemporâneo, moldando estruturas globais, ambientes físicos e relações sociais. 2.3 A extração da cassiterita na Amazônia a partir de meados de 1950 Este trecho aborda a evolução da extração da cassiterita na Amazônia desde meados de 1950, destacando os fatores que impulsionaram esse processo, como demanda global, avanços tecnológicos e impactos socioambientais. Muito embora pequenos depósitos de cassiterita fossem conhecidos no Brasil desde o início do século XX, sua extração e produção em escala comercial começou antes dos anos 1940 e ampliou-se em 1950 em Minas Gerais. Depois, em 1960, se expandiu para o Território de Rondônia e para estado de Goiás. Porém, a extração do minério era feita, majoritariamente, através do garimpo, isto é, da exploração rudimentar das aluviões (PAZ, 2023). Os ricos aluviões estaníferos de Rondônia foram responsáveis pela primeira "corrida garimpeira" da Amazônia, na década de 1960 cerca de 10 mil garimpeiros estiveram envolvidos na produção de cassiterita, número bastante expressivo para a 10 época. No final de década, a garimpagem foi proibida pelo governo federal, passando a produção para a mineração empresarial (SANTOS, 2002). Na Amazonia legal, como é conhecida, iniciou a exploração da cassiterita a partir da construção da rodovia na paisagem rondoniense foi perceptível durante os anos de 1960, mas, sobretudo, a partir da década seguinte. A primeira mudança pôde ser percebida na atividade garimpeira foi a intensificação da migração de garimpeiros para a extração mineral de cassiterita, levando Rondônia ao posto de maior produtor nacional. No ano de 1962 o território seria responsável por 54,72% da produção nacional (RABELLO, 2020). Outro registro de descoberta de cassiterita na região norte foi em 1963 no Estado do Pará, no rio das Tropas, onde iniciou a rudimentar produção do minério de cassiterita. Nesse período, a cassiterita forma encontras na borda sul do Cráton Amazônico, e nos municípios de São Félix do Xingu e Altamira, bacia do rio Xingu, locais que ocorreu uma intensa atividade de exploração da cassiterita nessas regiões (RAMOS, 2008). Em 1970 o estanho, derivado da cassiterita, brasileiro ganhou destaque no mercado global com a aplicação de insumos governamentais para a pesquisa mineral e produção metalúrgica. Assim, nesse mesmo ano, segundo Silva et al. (2018), foi criado o projeto Radar na Amazônia (RADAM), na região norte, mas especificamente nas terras Yanomami, que coletou dados sobre os minerais, solos, vegetação. Nessas pesquisas foram descobertos minérios como, ouro, minerais radioativos e a cassiterita, esse achado deflagrou um avanço de garimpeiros em busca de cassiterita. Por esses exploradores estarem invadido e explorando TIs gerou-se um conflito armado entre indígenas e garimpeiros provocados por roubos de roças e abusos sexuais contra mulheres indígenas. Nos anos entre 1970-1984, uma empresa mineradora foi responsável pela descoberta de 37 novas jazidas de cassiterita, com destaque para Mina de Pitinga, no Estado do Amazonas. As atividades na mina do Pitinga começaram em 1981, devido aos indícios de existência de cassiterita em afluentes do Rio Pitinga, a norte do Amazonas, considerada uma das maiores minas de cassiterita do mundo. Essa realidade culminou na usurpação da área indígena Waimiri Atroari, forçando a retirada dos índios de suas terras, que não receberam qualquer ressarcimento pela atividade (ALCANTARAS, 2023). 11 Diante das problemáticas da exploração desenfreada da cassiterita noBrasil, mas também em territórios indígenas, o Ministério das Minas e Energia (MME) elaborou uma série de medidas para regularizar e regulamentar a atividade de minério, que abrangeu os estados de Rondônia, Mato Grosso e Amazonas, locais com maiores índices de exploração ilegal de cassiterita no país. No estado de Rondônia, no âmbito da exploração de cassiterita, e consequentemente a produção de estanho, criou um Plano Mestre de proteção na Residência de Rondônia, para que técnicos do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) pudessem normalizar a extração de cassiterita na região (REGINATTO, 2019). Conforme explorado, desde a primeira descoberta dos pequenos depósitos de cassiterita no Brasil em 1940, o crescimento da extração de minério aumentou nos anos seguintes. Com isso, surgiu a necessidade de regulamentação das atividades garimpeiras de exploração da cassiterita e outros minerais. No entanto somente 1891 a Constituição Federal Brasileira regularizou a política mineral no Brasil. 2.4 Ilegalismo, conflitualidades socioambientais e territoriais em Terra Indígena Esta seção investiga as questões de ilegalismo na extração de cassiterita, assim como os conflitos socioambientais e territoriais enfrentados, especialmente em terras indígenas. Destaca-se a complexidade dessas dinâmicas e as implicações para as comunidades locais. A invisibilidade da população indígenas é alarmante, essa realidade tornou-se um pouco evidente com a situação de desnutrição e agressão que população Yanomami vem sofrendo devido a exploração das terras dessa população para exploração ilegal da cassiterita nessas áreas de reserva. Peripato (2023), explica que os Yanomami denunciam a invasão de garimpeiros na TIY e a omissão do governo Bolsonaro em solucionar este problema De acordo com a Constituição Federal do Brasil, TIs são territórios demarcados para garantir aos povos indígenas o direito às suas terras, ao seu sustento e à sua organização social. Pela legislação brasileira, os povos indígenas têm o direito originário ao uso exclusivo das terras que tradicionalmente ocupam (DIAS, 2022). As TIs no Brasil são áreas cruciais para a preservação do patrimônio etnocultural humano. Além disso, fornecem uma infinidade de serviços 12 ecossistêmicos, como a regulação do clima e do ciclo hidrológico. Dado que as TIs abrangem mais de 1.160.000 km2, são cruciais para a preservação da biodiversidade. No Brasil, mais da metade de todas as TIs retém 90% da vegetação intocada. Além disso, as TIs amazônicas são consideradas o obstáculo mais importante ao desmatamento e demonstraram contribuir muito mais para a redução das emissões do desmatamento e da degradação florestal (REDD) do que parques ou reservas naturais, porque cobrem três vezes a área e são muitas vezes no caminho imediato da fronteira agrícola em expansão (DALLA CORTE et al., 2012). A região amazônica é atualmente afetada por múltiplas ameaças ambientais, definidas aqui como processos ou atividades degradantes que reduzem a integridade ambiental de uma determinada área. Entre as ameaças ambientais mais importantes para a Amazônia estão o desmatamento, a exploração madeireira, os incêndios, a grilagem ilegal de terras, grandes projetos de infraestrutura (como usinas hidrelétricas e longas rodovias), a exploração mineral, e a expansão da fronteira agrícola (GUEDES, SCHÄFER, LARA, 2020). Em geral, essas ameaças ambientais ao ecossistema amazônico resultam na perda de florestas, perda de habitat para a biodiversidade, erosão do solo, poluição dos rios e aumento da suscetibilidade ao fogo. Dentro das TIs, essas ameaças ambientais afetam direta e indiretamente a subsistência e o bem-estar das pessoas, por exemplo, aumentando a fragmentação florestal, reduzindo a disponibilidade de caça e coleta e secando e poluindo rios (KUJAWA, TONET, 2017). As populações indígenas, apenas de ser um grupo protegidos por lei, sofrem com invisibilidade social que implica estar e estar no mundo, mas não ser visto nem ouvido. Para as comunidades indígenas, tornando invisível a sua existência e as suas condições de vida historicamente torna-os sujeitos de direitos violados. Essas ameaças também colocam em risco a integridade territorial das TIs e a segurança dos povos indígenas, pois a invasão das TIs pode resultar em conflitos territoriais entre os povos indígenas e os invasores. Além disso, a ocupação ilegal e o contato forçado com povos não indígenas externos são frequentemente responsáveis pela propagação de doenças para as quais os povos indígenas não têm imunidade. As ameaças ambientais no entorno das TIs também têm o potencial de afetar a integridade ambiental das TIs (por exemplo, a propagação do fogo) e a saúde e o bem-estar das pessoas (por exemplo, a contaminação por poluentes de mineração decorrentes de atividades de mineração próximas). No Brasil, a lei estabelece zonas 13 de proteção em torno das unidades de conservação (UCs) para protegê-las contra ameaças, mas esta regulamentação não se aplica às TIs (DIAS, 2022). Nesse sentido, é um desafio tentar compreender como a natureza política e ideológica das invisibilidades sociais dos indignas. Assim, a realização da palestra foi fundamental para que os alunos, professores e sociedade tenham o entendimento da população indígenas do Amazonas e a invisibilidade que sofrem. Para tanto, é necessário investigar as invisibilidades sociais dos indígenas para tornar públicos os impactos gerados pela submissão social àqueles que se tornam invisíveis, e assim tornar público para sua realidade e com isso buscar soluções e apoio e políticas públicas efetivas. O desenvolvimento destas políticas inclusivas que contemplavam as necessidades de diferentes sujeitos, incluindo comunidades originárias de diferentes regiões do país, incentivou a articulação de organizações político-étnicas que buscavam respostas do Governo às demandas por uma melhor qualidade de vida. A preocupação política com as particularidades das comunidades indígenas e o desenvolvimento de ações destinadas a promover a sua inclusão na vida cidadã ancorado na igualdade jurídica e social. 14 3. CAPÍTULO II - EXPANSÃO DO CAPITALISTA NO ESTADO DE RORAIMA: A CORRIDA PELO OURO NEGRO EM TERRA INDÍGENA YANOMAMI Antes de iniciar abordando a abordar sobre a corrida pela cassiterita, conhecida como ouro negro, em TIY é necessário entender TI, processo de demarcação, nesse sentido, Alazar, De Oliveira Silva Filho e Martins (2023) citam que, a demarcação dos Tis, ou seja, direitos às terras tradicionalmente foram previstas nas Constituição Federal de 1967, uma vez que, Emenda Constitucional 1969 garantiu aos indígenas a sua posse permanente, bem como reconhecendo o direito ao usufruto exclusivo sobre essas terras. Mas, na CF de 1988, a constituição cidadã como é conhecida, reafirmou a garantia a ocupação as populações tradicionais através do artigo 231. O processo de demarcação a ser seguido pela FUNAI é normatizado pelo Decreto n° 1775/96, no qual dispõe sobre o procedimento administrativo de demarcação das Tis. As TIs, de acordo com a Constituição Federal de 1988 (CFB /88), são áreas protegidas de importância para a manutenção do estilo de vida dos tradicionais amazônicos, com o objetivo de preservação das florestas remanescentes e a garantia do bem-estar dos povos tradicionais amazônicos. A demarcação das TIs é um direito constitucional e visa garantir a autonomia e a proteção dos direitos dos povos indígenas, bem como sua participação ativa na gestão e preservação desses territórios. A FUNAI é responsável pela demarcação de TIs no Brasil, segundo dados coletados de Basta (2023), os Yanomami, Munduruku e Kayapó estão entre as TIs mais afetadas pelo garimpo ilegal na Amazônia Legal Brasileira (ALB) (Figura 1). 15 Figura1 - Localização da área de estudo: Terras Indígenas (TIs) da Amazônia Legal Brasileira (ALB) Fonte: Basta (2023) O mapa, da figura 1, apresenta ALB e as TIs; e as áreas coloridas no mapa evidenciam atividade minerária em 2020 em Tis nessa região. Conforme evidenciado, Yanomami, Munduruku e Kayapó são os povos tradicionais mais afetadas pela mineração ilegal na ALB. Os Yanomamis tiveram grilados 15,6 km2 (representada pela cor azul) do território que são demarcados para seu usufruto exclusivo. Os Yanomamis que estão majoritariamente situados em Roraima ou no Amazonas, região norte do Brasil. Um dos estados mais afetados pela exploração da cassiterita é a Roraima (Figura 2). Esse estado, localizado na região norte do Brasil, e situado no canso superior da Amazonia Legal, abriga TIY, que são alvo frequente dessa atividade ilegal. As TIY são conhecidas por abrigar uma quantidade significativa de pepitas de cassiterita, tornando-as um alvo atraente para garimpeiros ilegais em busca desse minério valioso (BARROS et al., 2019). A Figura 2 apresenta a distribuição das áreas destinadas no Estado de Roraima por situação fundiária. 16 Figura 2 - Distribuição das áreas destinadas no Estado de Roraima por situação fundiária. Fonte: adaptado de IPEA (2023) A Figura 1 apresenta a distribuição das áreas destinadas no Estado de Roraima por situação fundiária. Conforme mapa, 46% das terras pertencem a população indígena, 8,5% são unidades de conservação (exceto área de proteção ambiental), 5,5% são destinados a projeto de assentamento, 5% são imóveis privados, 1% é área militar e 34% são o total de áreas não destinadas ou sem informação de destinação. Com dados das áreas destinadas pertencem a população indígena, ver-se-á que esse estado possui grande parte protegida por demarcação de terras pertencentes a população originarias. Os Yanomamis estão localizados, na região que abrange o Oeste do Estado de Roraima. Paz (2023), explica que a Terra Indígena Yanomami (TIY), é a maior reserva indígena do Brasil, com 9.664.975 hectares (96.650 km²), demarcados e homologados e cerca de 27.000 indígenas. Os Yanomami, formam nações diversas das quais 4 subgrupos são falantes de línguas particulares: o Yanòmami, o Yanomam, o Sanumá e o Ninam (DE SOUZA; DE OLIVEIRA JÚNIOR, 2022). A TIY foi validada por meio do decreto de 25 de maio de 1992, que homologou a demarcação administrativa da Terra Indígena Yanomami, nos Estados de Roraima e Amazonas (BRASIL, 1992). Sua afirmação foi corroborada por documento oficial emitido pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em dezembro de 2016. 17 Esses registros de garimpeiros e áreas indígenas explana que, em Roraima, existem inúmeras garimpeiros irregulares responsáveis pelos deslocamentos, abastecimento e exploração ilegal de cassiterita em TIY. Da atividade garimpeira ilegal nas TIY emerge a abertura de estradas clandestinas, a navegação fluvial se intensifica e tudo isso facilita a atividade garimpeira ilegal. A Figura 3, demostras as áreas Yanomami sob ataque de garimpo ilegal e pista de pouso utilizadas Figura 3 – Áreas Yanomami sob ataque de garimpo ilegal e pista de pouso utilizadas. Fonte: IPEA (2023) A Figura 3, demostras as áreas Yanomami sob ataque de garimpo ilegal e pista de pouso utilizadas. No mapa, as áreas em vermelho são regiões degradas e as pistas de voo clandestinas usadas para o deslocamento dos maquinários utilizados pelo garimpo ilegal, assim como para transportar esses minérios ilegais, são demostradas na figura do avião. Além disso, as pistas clandestinas são infraestruturas essenciais para a mineração ilegal na Amazônia, facilitando o transporte de equipamentos, suprimentos e a exportação do ouro extraído de áreas remotas. No último ano ficou evidente as condições de desumanização e coisificação dos Yanomami devido ao declínio da saúde indígena, que ocorreu especialmente pela COVID-19. No entanto, a crise enfrentada pelo povo indígena Yanomami no Brasil, não ocorreu somente devido a pandemia, mas os Yanomamis enfrentam uma grave 18 crise humanitária, devido à mineração ilegal da cassiterita, que os afetam com desnutrição, exposição ao mercúrio, exploração sexual em troca de alimentos e recursos naturais, deslocamento das suas terras e aumento da mortalidade. A extração ilegal de cassiterita nessas TIs não apenas causa danos ambientais, mas também viola os direitos dos povos indígenas, afetando suas tradições culturais, modos de vida e conexão com a terra. Os resultados apresentados até o momento permitem inferir a exploração das cassiteritas, em Roraima, tem perpetuado práticas predatórias e ilícitas que pressionam a sociobiodiversidade amazônica, pois continuam contribuindo para o constante desmatamento, contaminação de solos e rios e violação de direitos humanos. 3.1 Pandemia e mineração: o boom da cassiterita em Roraima Neste ponto, explora-se a relação entre a pandemia e o aumento da atividade de extração de cassiterita em Roraima. Analisa-se como a conjuntura global e as condições locais influenciaram esse boom, considerando aspectos econômicos e sociais. A expansão da cassiterita em Roraima, em especial na Amazônia Legal, se deu por uma combinação de fatores, como: o agravamento da crise econômica e do desemprego que ocorreu na pandemia de COVID-19; política de incentivo ao garimpo, adotada nos governos Temer (2016-201) e Bolsonaro (2019-2022); problema agravado em Roraima pela crise da imigração venezuelana; e o aumento do preço do ouro e da cassiterita no mercado internacional (IPEA, 2023). Quando fala-se sobre seu papel da presidência no aumento da exploração da cassiterita em Roraima, explica-se que os ex-presidentes do Brasil, Michel Temer e Jair Bolsonaro, atuaram na defesa da legalização do garimpo em áreas proibidas, como territórios indígenas, e implementaram por leis, nos seus respectivos governos, responsáveis por diversas medidas para facilitar o exercício ilegal da atividade. Ao longo do mandato de Jair Bolsonaro, a atividade garimpeira ressurgiu nos debates políticos do Brasil, depois de estar por muito tempo estagnada, devido ao interesse do ex-presidente Bolsonaro demostrar interesse pela atividade econômica mineradora, devido ao seu grande potencial econômico e grande interesse internacional pelo mineiro brasileiro como a cassiterita. No entanto, no período que o Bolsonaro estava na presidência ocorrer a crise global que afetou o mundo, devido ao surgimento da pandemia de COVID-19, que 19 vitimizou várias pessoas. Quando todos estavam preocupados e buscando métodos e cuidados para reduzir o número de vítimas do COVID-19, e até mesmo buscando formas de cura aos vírus. Bolsonaro, trouxe à tona o debate da mineração e a exploração das TIs para exploração de minérios como ouro e a cassiterita (ROCHA; PORTO, 2019). A pandemia de COVID-19 teve um impacto significativo no aumento da exploração da cassiterita em Roraima. Uma vez que, a pandemia influenciou completamente a economia brasileira, afetando todos os setores da sociedade. Por isso buscou-se alternativas para contrabalançar as necessidades da sociedade, bem como as restrições expostas pelo vírus do COVID-19. Um dos setores que ganhou destaque em plena pandemia foi a mineração, pois o presidente do Brasil na época, usou o coronavírus como uma oportunidade desregulação da proteção ao meio ambiente que incluem incentivo a grileiros. Nessa perspectiva, entender que quando todas as atenções estavam voltadas para a pandemia de COVID-19, presidente em exercício, Jair Bolsonaro, voltou-se a desenvolvimento de uma política mineradora. No entendimento de Fernandes (2022), a política mineradora de Bolsonaro, no período da pandemia, pode ser dita como ultraliberal marginal, pois está relacionada a conceder acesso as riquezas minerais dopaís, oferecendo até mesmo concessão aquelas que não estão disponíveis legalmente. Quando, o então presente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, declara que pretendente abrir concessão de exploração de minérios em solo indígena, ricas em cassiterita. Os mineradores demostraram interesse na exploração dessas regiões devido ao alto valor da cassiterita no mercado global. Moares (2020), aponta que em fevereiro de 2020, uma Proposta de Lei (PL) encaminhada ao Congresso Nacional (CN), a PL 191, que tramita na Câmara dos Deputados (CD), regula a exploração e o aproveitamento dos recursos e riquezas minerais em TIs. A formulação do PL não contou com a participação de lideranças ou organizações dos povos originários. Desde a criação da PL mais de projetos foram apresentados com a finalidade de realização de garimpo em áreas proibidas (MORAES, 2020). Cita-se que, mesmo que o presidente em exercício no ano de 2020 ter afirmado publicamente ser a favor da extração de pedras em terras indignar, e tal afirmação ter atiçado ainda mais cobiça dos garimpeiros e mineradores, as atividades de exploração 20 nesses locais de existiam, porém, a verbalização de Bolsonaro fez com que essas atividades se intensificações em regiões como Roraima, onde é registado grade reserva de cassiterita no Brasil. No estudo realizado por Paz (2023) relatou-se que em Roraima há mais de 300 aldeias, onde residem mais de 26 mil indígenas. Com o incentivo e os discursos do presidente em exercício, Jair Bolsonaro, no período pandêmico, favoreceu as atividades de mineração nessa região. Em algumas operações realização em áreas de grilagem foram encontrados vestígios de cassiterita, um dos minerais extraídos ilegalmente do TIY. Além da pandemia e das movimentações políticas que influenciaram a expansão da mineração da cassiterita em Roraima, outra condição local que influenciaram esse boom foi o problema agravado em Roraima pela crise da imigração Venezuelana. A Venezuela está passando por uma das piores crises de direitos humanos de sua história, em decorrência de uma guerra econômica movida contra o país por interesses político-econômicos estrangeiros. De acordo com Silva (2017), as violações massivas dos direitos humanos, bem como as graves crises que a Venezuela vem enfrentando como resultado da escassez de alimentos e remédios, levou ao crescimento exponencial de centenas de milhares de venezuelanos que foram forçados a migrar para outros países, nos últimos anos, como uma estratégia de sobrevivência que lhes permita preservar direitos tais como vida, integridade pessoal, liberdade pessoal, saúde e alimentação, entre outros. Roraima e Amazonas são os Estados brasileiros que fazem fronteira direta com a Venezuela, sendo que a maioria desses imigrantes chega por Roraima, pela cidade de Pacaraima, que se tornou um destino muito acessível para os que decidem deixar seu país. De acordo com Moreira (2018), de Pacaraima muitos se deslocam até a cidade de Boa Vista, capital de Roraima, que também tem se tornado importante ponto de atração de venezuelanos. Essa grande massa de pessoas imigrando para o Brasil, que estavam com como a escassez de recursos básicos, em desemprego, em recessão econômica dentre outros motivos levaram esses imigrantes a busca formas de sustento como mineração em áreas protegidas, como as Terras Yanomamis. Os intensos fluxos imigratórios criaram cidades e municípios e impulsionaram antigos centros urbanos com a descoberta de jazidas de cassiterita em Roraima. 21 O aumento do preço do ouro e da cassiterita no mercado internacional foi outro motivo que influenciou expansão da mineração da cassiterita em Roraima. Nesse viés, Pereira (2023), explica que a exploração do ouro assumiu grande valorização devido do aumento de preço no mercado internacional. Então, as áreas regiões ricas em minérios como ouro e cassiterita tornam-se áreas de vulnerabilizarão, pois incentivam a exploração irregular desses minérios, possibilitando grandes desvios de ouro e da cassiterita. A garimpagem é uma atividade que esgotarem todos os recursos naturais extraídos, deixando um rastro de destruição oriundo da mineração. A escalonada dos preços dos minerais garimpáveis como o ouro e a cassiterita, tanto no mercado nacional e internacional, afetou e intensificou a corrida por esses minerais, por isso os locais que tenham registro do ouro e a cassiterita tornam-se áreas de riscos. Contudo, sabe-se que tem-se registados cassiterita em Roraima, no Amazonas, especificamente em áreas protegidas indígenas, como as TIY. A exploração das TIs na exploração da cassiterita, em Roraima, não afeta somente à perda do território de ocupação dessa população, mas também pela poluição dos rios, desmatamento, redução da disponibilidade de caça e outros recursos florestais importante na manutenção da vida da população indígena Roraima. 3.2 Impactos ambientais da corrida pelo ouro negro Nesta parte, serão analisados os impactos ambientais resultantes da corrida pelo ouro negro na Terra Indígena Yanomami. Fatores como desmatamento, poluição e perda de biodiversidade serão abordados à luz das práticas de mineração na região. A mineração é uma atividade que causa intensos impactos socioambientais, como contaminação do solo e da água, degradação florestal e declínio da biodiversidade. Esses impactos são agravados quando a mineração ocorre em TIs, porque a atividade minerária expõe as pessoas que ali vivem à violência rural, doenças contagiosas, contaminação por mercúrio e perda de meios de subsistência (PORTELLA, 2015). A exploração da cassiterita na Amazonia, em Roraima, especialmente em garimpos em terras Yanomamis, é atividade lucrativa, poluidora e ilícita, classificada como criminosa pela legislação estatal, porque áreas indígenas protegidas não podem ser realizadas exploração de mineiras. A mineração causa intensos impactos 22 socioambientais e ameaça os povos indígenas no Brasil, expondo-os à violência, doenças contagiosas, contaminação por mercúrio e perda de meios de subsistência. A exploração ilegal de cassiterita em TIY, influencia uma série de consequências socioeconômicas e ambientais. Um dos impactos econômicos significativos dessa prática é a evasão de divisas e a ausência de controle sobre a circulação dos minérios. Isso acarreta consequências negativas, como a perda de receitas e a falta de fiscalização adequada, prejudicando a economia local e nacional (MACHADO et al., 2017). A evasão de demarcação de TIs e a ausência de controle sobre a circulação dos minérios tem um impacto direto ao meio ambiente do TIs, pois a corrida pelo ouro negro, afeta diretamente a população indígenas, pois para a comercialização da cassiterita é necessário realizar seu transporte do local de mineração até o comerciante. Nessa etapa os grileiros fazem estradas e pista de pousos em TIs, degradam o bioma da região. Além disso, a falta de regulamentação efetiva e o contrabando mineral resultam em uma circulação irregular do minério, dificultando a obtenção de benefícios econômicos legítimos para o país e as comunidades envolvidas. A exploração ilegal de cassiterita em terras Yanomamis causa danos ambientais significativos. Um dos principais problemas é a contaminação dos recursos hídricos por mercúrio, utilizado no processo de extração mineral. Essa contaminação tem efeitos devastadores no bioma florestal e aquático, por conseguinte afeta comprometendo a saúde dos rios e dos organismos que deles dependem (PELICIONI, 2014). A mineração da cassiterita, e de outros minerais podem ocorrer de forma industrial e a artesanal. A mineração artesanal, no qual utiliza o mercúrio (Hg), é o método mais usadas na exploração ilegal das cassiteritas, mas essa atividade representa um risco para as pessoas que não praticam essa atividade, assim como para omeio ambiente Basta (2023) explica que o mercúrio inorgânico que entra no rio é transformado por microrganismos em Metilmercúrio (MeHg). O MeHg é acumulado nos microrganismos aquáticos, como os peixes que sãos os principais alimentos dos indígenas. A ingestão de água ou peixe contaminado por Hg é a principal fonte de exposição ao MeHg nos humanos. Podendo atingir níveis que causam efeitos nocivos 23 à saúde, afetando o sistema nervoso central, ocasionando alterações cognitivas, motoras, na visão, na pressão arterial e doenças cardíacas. Então, a exploração ilegal tem impactos ambiente e humanos, pois o processo de mineração artesanal da cassiterita, pode ocorrer muito além dos locais de mineração, colocando em risco toda a ALB. Consequentemente, a contaminação por mercúrio também afeta, direta ou indiretamente, a saúde tanto dos povos tradicionais como de outros habitantes da ALB. A busca por novos veios de cassiterita muitas vezes leva ao desmatamento indiscriminado, resultando na perda de áreas florestais importantes para a conservação da biodiversidade e a manutenção dos serviços ecossistêmicos. A figura 3, apresenta os impactos ambientais da ação criminosa na floresta Amazônica, no interior da Terra Indígena Yanomami, às margens do Rio Uraricoera. Figura 4 – Os impactos ambientais da ação criminosa na floresta Amazônica, no interior da Terra Indígena Yanomami, às margens do Rio Uraricoera. Fonte: Ramos (2018) Na imagem acima expõe-se os efeitos da mineração ilegal das Terra Indígena Yanomami, e conforme imagem os impactos ambientais da ação criminosa são devastadores e culminará na morte de toda a fauna e flora existentes. Essas atividades ilegais ao meio ambiente são irreversíveis. Portanto, o garimpo na TIY culminará em danos a toda a população Yanomami e dos membros da sociedade não indígena. A contaminação dos recursos hídricos por mercúrio, utilizado durante o processo de extração mineral, gera consequências devastadoras para a fauna aquática e para a saúde das populações indígenas que dependem desses rios como 24 fonte de alimentação e abastecimento de água potável. Além disso, a prática ilegal de mineração resulta em desmatamento indiscriminado, destruindo os ecossistemas naturais e afetando a biodiversidade única da região (SILVA, 2018). As consequências ambientais, com a mineração da cassiterita se estendem além dos ecossistemas aquáticos e para ambientes terrestres dentro dessas áreas impactadas nas TIs. Tais implicações tem grande impacto nas comunidades indígenas, que possuem uma relação intrínseca com seus territórios e dependem deles para sua subsistência e preservação cultural, sofrem com a desvalorização de seus modos de vida tradicionais e a perda de suas terras com a garimpagem ilegal do seu TIs, torna esta região altamente vulnerável. 3.3 Conflitos socioeconômicos e culturais entre Yanomami e garimpeiros Esta seção explora os conflitos socioeconômicos e culturais que emergem entre as comunidades Yanomami e os garimpeiros. Questões relacionadas à preservação cultural e direitos indígenas serão discutidas à medida que a corrida pelo ouro negro impacta a vida dessas comunidades. As TIY desempenham um papel de extrema importância tanto do ponto de vista socioambiental quanto cultural. Essas terras, situadas na região amazônica, são habitat de comunidades indígenas tradicionais que dependem diretamente dos recursos naturais disponíveis, como rios e florestas, para sua subsistência e preservação de sua cultura milenar. No entanto, a exploração ilegal de cassiterita representa uma grave ameaça para essas terras e seus habitantes (CARNEIRO, 2002). Mais do que simplesmente um problema ambiental, a extração ilegal de cassiterita também coloca em risco a identidade cultural e territorial dos Yanomamis. Nesse sentido, Silva (2018) aponta que a mineração ilegal em TIs traz consigo uma série de impactos negativos que comprometem tanto o equilíbrio ambiental quanto a integridade cultural das comunidades Yanomamis O Estado do Brasil assumiu a obrigação nacional e internacional de proteger o meio ambiente e os direitos humanos dos Yanomamis, no contexto proteção da cultura e tradições, além das necessidades indígenas. O compromisso dos Estados deve tomar medidas que garantam o respeito pelos desejos e decisões dos povos indígenas em questões que lhes dizem sua realidade. 25 As TIs são espaços sagrados que abrigam os conhecimentos tradicionais, práticas espirituais e modos de vida únicos dessas comunidades. A exploração ilegal de minérios nesses territórios não apenas causa danos físicos à paisagem, mas também ameaça a continuidade das práticas culturais indígenas, enfraquecendo a conexão profunda entre os Yanomamis e sua terra ancestral (CARNEIRO, 2002). Os Yanomamis é uma população rica em tradição e consulta, possuindo religião própria, formas de vestimenta, métodos de substância, linguagem e culinária própria, baseada em alimentos locais. Toda a cultura Yanomami está ligada a ambiente que vive, que é no meio floresta, por isso a proteção das TIs fortalece a proteção da cultura e tradição desse povo. As consequências socieis e culturais da exploração ilegal de cassiterita em TIs evidenciam a urgência de ações efetivas para enfrentar esse problema. É necessário fortalecer a fiscalização e o controle das atividades de mineração, garantindo a aplicação das leis e regulamentações existentes (MACHADO et al., 2017; PELICIONI, 2014; COSTA, 2012). A exploração das riquezas naturais dos Yanomamis de forma ilegal impacta somente meio ambiente, mas também a cultura e a economia dessa população. Nesse entendimento, Machado et al. (2017) e Pelicioni (2014) citaram que as consequências socioeconômicas e culturais entre Yanomamis e garimpeiros afetam diretamente a forma social dos indígenas, então é essencial promover o diálogo e a participação das comunidades indígenas afetadas, buscando soluções que considerem seus interesses e direitos, valorizando seus conhecimentos tradicionais e promovendo práticas sustentáveis de mineração. A sociedade e as instituições públicas devem reconhecer e respeitar conhecimentos, culturas e práticas tradicionais indígenas, por isso deve-se contribuir com práticas que contribuam para o desenvolvimento sustentável e a gestão adequada do ambiente. Aponta não só a necessidade de proteger o ambiente, mas também a autodeterminação, a consulta e a reparação em casos de consequências ambientais, económicas, sociais, culturais ou espirituais prejudiciais. As consequências socioeconômicas são tão importantes quanto as ambientais, pois a exploração ilegal de cassiterita em TIs é o prejuízo causado às comunidades locais, pois essas comunidades não restituídas, so tendo prejuízos no seu território, enquanto promessas de desenvolvimento econômico são feitas, na prática, essas 26 áreas são afetadas por impactos negativos, como a degradação ambiental, a perda de recursos naturais e a falta de benefícios socioeconômicos (COSTA, 2012). Diante dessa realidade preocupante, é fundamental adotar medidas efetivas para proteger as TIY e combater a exploração ilegal de cassiterita. Isso requer a implementação rigorosa das leis e regulamentações existentes, fortalecendo a fiscalização e o monitoramento dessas áreas. Além disso, é imprescindível promover um diálogo constante com as comunidades indígenas, envolvendo-as ativamente nas decisões que afetam seus territórios, garantindo o respeito aos seus direitos territoriais e culturais. Somente através de uma abordagem inclusiva e integrada será possível preservar a importância socioambiental e cultural das TIY, assegurando a sustentabilidade e o bem-estar das comunidades indígenas (CARNEIRO, 2002). Somente realizado de forma concreta ações em TIY que visam a preservação do TIs será possível minimizaros impactos negativos, sendo esses cultural e econômico, na buscar por um equilíbrio entre a atividade minerária, a preservação ambiental e o bem-estar das comunidades envolvidas. 3.4 Desafios para a preservação do território Yanomami Aqui, serão discutidos os desafios enfrentados na preservação do TIY diante da exploração da cassiterita. Questões legais, ambientais e sociais serão destacadas, enfocando a necessidade de estratégias de conservação eficazes. Segundo a CFB /88, em seu art. 231: “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Os Yanomamis, tem seus direitos garantidos partir da CFB de 1988, mas possuir garantias legais são oferece aos indígenas a proteção aos seu território, e são diferentes os para a preservação do TIY. A identificação dos desafios existente na preservação do TIY começa pela legislação e regulamentações nacional da atividade de mineração, pois favorecem a prática ilegal da extração e exportação de minérios em TIY. No âmbito infraconstitucional, a Lei nº 6.001/1973 dispões sobre o estatuto do índio, a lei garante a posse de suas terras tradicionalmente ocupadas, garantido o 27 usufruto das suas riquezas naturais e define que a exploração das riquezas do subsolo nas áreas pertencentes aos índios. Neste ponto é importante esclarecer que, até o presente momento, a legislação brasileira não permite este tipo de atividade mineração em áreas indígenas, considerando-a ilegal. A Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre os povos indígenas e tribal, sancionada pelo Brasil, por meio do Decreto nº 5.051/2004, afirma os direitos dos povos indígenas sobre seu território e formas de vida (FEBRAGEO, 2020). Todavia, o decreto nº 5.051/2004 foi revogado, atualmente o que possui vigência é o decreto nº 10.088 de 05 de novembro de 2019, que trata sobre a política nacional dos povos indígenas. A Funai é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro. Criada por meio da Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, vinculada ao Ministério dos Povos Indígenas, que tem por função realizar a proteção do povo originário e administrar a demarcação dos TIs. Essas áreas protegidas são de extrema importância para a manutenção do estilo de vida dos tradicionais amazônicos, visando também a preservação das florestas remanescentes e a garantia do bem-estar dos povos tradicionais amazônicos. Portanto, eles têm um papel crítico contra o desmatamento e outros distúrbios na maior floresta tropical do mundo. Além da criação da FUNAI, do estatuto do índio, e a política nacional dos povos indígenas. A legislação nacional, pois outras normais como o Código de Mineração Brasileiro (Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967) e Lei de Crimes Ambientais (lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998), bem como outras normativas a visam e garante a proteção do meio ambiente e da população tradicional. Apesar de o Brasil possuir em seu arcabouço jurídico uma estrutura normativa que dizia respeito da proteção dos indígenas, TIs, dos crimes ambientais, da mineração e outras normativas. No entanto, os regulamentos revelam-se complexo e com pouca efetividade. Então, verifica-se que o principal desafio para a proteção e preservação do TIY está na própria legislação brasileira, que por mais que existem diferentes normas legais que afirmar a proteção dos povos Yanomamis, na prática verifica-se um aumento da mineração desses territórios, que deveriam ser protegidos. O setor mineiro deve iniciar as transformações necessárias para minimizar e eventualmente os impactos negativos das suas operações. Cumprindo uma promessa 28 de campanha e o apelo dos povos indígenas do Brasil, o presidente Luís Inacio Lula da Silva, logo após sua nomeação, instalou o inédito Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Em seguida, em 31 de março de 2023, enviou pedido formal de retirada da tramitação do Congresso Nacional do PL 191/2020, o qual foi aprovado em 29 de maio (AGÊNCIA SENADO, 2023). No entanto, muitas vezes as leis do Brasil, que devem garantir a proteção da população tradicional, revelam-se complexa e pouco efetiva quando se trata de regular o mercado de mineração e garantir o cumprimento das leis ambientais e socioambientais. Sobre essa prerrogativa, Almeida (2015) explica que embora o Brasil tenha implementado novos regulamentos para reger as atividades mineiras, falta de fiscalização que prejudica a sua eficácia. Essa falta de regulação efetiva favorece a atuação de grupos ilegais, que se aproveitam das brechas existentes para explorar recursos minerais de forma clandestina e sem o devido controle. Somente através de uma abordagem mais transparente, inclusiva e responsável será possível enfrentar os desafios e buscar soluções para a mineração ilegal em TIY, em Roraima, assim como em outras áreas com TIs. Outro desafio existente na preservação do TIY, ou seja, que contribui para a prática ilegal da extração e exportação de minérios, é o papel repressor do Estado em relação aos grupos sociais que se opõem aos empreendimentos minerários. Nesse sentido, Martinez Alier (2007), cita que os indígenas não conseguem reivindicar pelos seus direitos, pois vivem em áreas isoladas, então suas demandas silenciadas. O que é mais preocupante, são os indígenas que vivem em áreas de afetadas pela mineração ilegal ou região de conflitos com garimpeiros, pois são expostos a exploração aos direitos humanos constantemente. A exploração das TIY, para mineração, é realizada visando os interesses do mercado em detrimento da proteção dos direitos socioambientais. Assim, é necessário um diálogo inclusivo e respeitar os direitos Yanomamis, adotando uma postura repressiva. Diante desse cenário, é necessário um esforço conjunto para identificar e corrigir as lacunas existentes na legislação e nas regulamentações que favorecem a prática ilegal da extração e exportação de minérios. Isso envolve uma revisão e atualização das leis, visando uma maior clareza e efetividade no que diz respeito ao licenciamento ambiental, à fiscalização e ao monitoramento das atividades minerárias. Além disso, é essencial fortalecer mecanismos de participação e consulta das 29 comunidades afetadas, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e que seus direitos sejam respeitados em todas as etapas do processo de tomada de decisão (ALMEIDA, 2015; MARTINEZ ALIER, 2007). Com relação à mineração ilegal em TAY, é imperativo uma aplicação da lei contínua para mitigar as atividades mineradoras que afetam a biodiversidades dos TI. Além disso, as leis sobre o comércio de cassiterita precisam ser fortalecidas para garantir a responsabilização pelo comércio ilegal da cassiterita em Roraima, ou seja, a cadeia de produção da cassiterita precisa ser regulamentada, rastreável e fiscalizada. 30 4. CAPÍTULO III - MERCADO GLOBAL E REDES DE FINANCIAMENTO DA EXTRAÇÃO DA CASSITERITA NA AMAZÔNIA A mineração é uma atividade altamente relevante para a humanidade, e esse é um fato que pode ser observado desde os livros de História à economia atual. De Castro, Peiter e Góes (2020), relatam que o Brasil ocupa posição invejável na produção mundial de matérias-primas de origem mineral, com destaque para minerais como cassiterita, ouro, cobre, minério de ferro r outros, que faz parte de todas as indústrias em algum estágio de suas cadeias produtivas, e sua contribuição para economia do país e inegável Nas últimas duas décadas, os debates e pesquisas sobre os impactos das indústrias mineiras têm apontado os efeitos positivos e a contribuição para o crescimento económico através de atividades mineiras em muitas regiões economicamente pouco desenvolvida.O setor econômico de mineração no Brasil está em relevância mercado global, pois o país é um dos principais produtores do mercado mundial de minério, possuindo uma possuindo uma posição de relevância para a economia nacional e internacional (FELICIANO; GARCIA, 2020). O setor mineiro é então vital para sustentar o bem-estar da população e o funcionamento das economias globais, e os valores que os minérios disponíveis no Brasil entra-se observa ainda mais sua relevância no desenvolvimento econômico do país. Dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), indicam que em 2014 foram US$ 40 bilhões o Valor da Produção Mineral Brasileira e a previsão para 2015 é de US$ 38 bilhões, representando 5% do PIB industrial do Brasil. Este crescimento é impulsionado pelo aumento da demanda por minerais existente em território nacional, e a figura 5 apresenta a participação e posição do Brasil na classificação mundial das principais reservas minerais em exploração. 31 Figura 5 - Participação e posição do Brasil na classificação mundial das principais reservas minerais em exploração Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2022) Todos os minerais metálicos para a produção mineral são economicamente muito estratégicos para a brasileira, e o estanho, que é derivado da cassiterita, encontra-se em quarto lugar de posição das reservas de minerais, que para a macroeconomia do Brasil são cada vez mais significativas. A contribuição das atividades mineiras para o desenvolvimento econômico é uma discussão chave na mineração em todo o mundo, com consequências diretas em diferentes setores da economia como industriais e energético, mas as decisões políticas devem estar na direção ao desenvolvimento sustentável. Na atualidade, o valor da cassiterita, que é o metal retirado do estanho, no comercio internacional traçou uma curva ascendente, que ocorreram por eventos como a pandemia de COVID-19 e guerra na Ucrânia, mas também a oferta limitada de depósitos de minério. A recente alta da procura pela cassiterita, se deve ao estanho, metal extraído desta, utilizado na produção de ligas como as folhas de flandres, famosas e úteis por sua maleabilidade e pela capacidade de evitar corrosão e ferrugem. Por conta dessas propriedades, o metal está em todo lado: nas latas de alimentos, no acabamento de carros, na fabricação de vidros e até na tela dos celulares. Diante ao seu grande valor no comercio internacional e a grande reserva de cassiterita em exploração no Brasil aumenta-se a procurar no território brasileiro, e o comercio internacional interessado nessas riquezas buscam a exploração de forma 32 legal, mas também de forma ilegal em locais onde foram registrados como TIs. O problema não é apenas o aumento da procura da cassiterita, em TIY, mas todo um contexto de exploração em locais que deveram ser protegidos. 4.1 Relações entre o mercado global e a extração de cassiterita Neste trecho, será analisada a interconexão entre o mercado global e a extração de cassiterita na Amazônia. Destaca-se como as demandas do mercado influenciam as práticas de mineração, criando um ciclo que impacta diretamente a região. O modelo capitalista em mundial em curso tende a intensificar a expansão de extração e exportação de commodities em larga escala. Nesse modelo, o Brasil é responsável por 14,3% do minério produzido no planeta, e representa um estoque indispensável de recursos como água, energia, minério e biodiversidade (SIMÕES; ERICSON, 2021). O século XX foi caracterizado por um aumento drástico na extração global de materiais, e esta tendência está longe de mudar no século XXI. Nas últimas décadas, temos assistido a um aumento considerável na procura de determinados metais, como a cassiterita, ferro, manganês, nióbio, níquel e ouro. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), explicam que no Brasil, em 2021, o minério extraído é de 24,15 milhões de toneladas movimentando 1,5 bilhão de reais na economia do país, devido à grande quantidade de produto comercializado de produção comercializada (AGÊNCIA, 2023). Diante dos dados apresentados entende-se que a indústria de mineração desempenha um papel importante na economia global. Araújo (2023) afirmas que as riquezas naturais presentem no Brasil é algo de grande interesse no mercado internacional. O país exporta alumínio, cobre, estanho, ferro, manganês, nióbio, níquel e ouro, que correspondem a 98,6% do valor de toda a produção mineral. Esses metais aparece o estanho, que com certeza é um metal essencial para a economia americana, consequentemente para o mundo. Nos últimos anos, a procura por minérios, como a cassiterita, tornou-se cada vez mais crítica devido à sua escassez no mercado mundial. Silva et al. (2018), afirmar que a produção mundial de estanho, que é um elemento químico retirado 33 principalmente da cassiterita, em 2014 foi de 286.000 tolinadas, e nesse mesmo período a participação do Brasil na produção foi equivalente a 14.700 toneladas. Nos anos seguintes o interesse pela extração de cassiterita existente no Brasil aumentou. Lima (2020), apontou que no ano de 2017 a comercialização de cassiterita rendeu ao Brasil, cerca de 817 milhões de Reais, que representa 0,9% da comercialização brasileira de mineral bruto ou beneficiado. O principal comprador da cassiterita do Brasil é o Estados Unidos da América. Com relação a cassiterita encontradas em território nacional Luz (2023) apud United States Geological Survey (USGS, 2023), citam que em 2021, as reservas mundiais de cassiterita eram de 4,9 milhões de toneladas, sendo 8,9% destas reservas em território brasileiro. Devido à grande existência da cassiterita no Brasil e a alta demanda do mercado global houve um crescimento da exploração do minério do país nos locais onde são encontrados. No entanto, o crescimento econômico através da intensificação do extrativismo nos atuais locais de extração, ou pela expansão das fronteiras de extração da cassiterita, resultando na geração de injustiças ambientais e conflitos de distribuição ecológica. Então, a alta demanda da cassiterita em TIY, e a falta efetiva de meios de fiscalização e punição, incentiva o garimpo ilegal nesses territórios. 4.2 Redes de financiamento da cadeia produtiva da cassiterita Esta seção examina as redes de financiamento envolvidas na cadeia produtiva da cassiterita de forma ilegal. Abordar como esses investimentos em terras indígenas incentivam o processo extração da cassiterita de forma irregular. A Região Amazônica abriga mais da metade dos povos indígenas do Brasil. Desenvolveram um modo de vida tradicional, intrinsecamente marcado pela relação com o meio ambiente, proporcionada pela abundância de recursos naturais, e constitucionalmente estão protegidos. No entanto, toda a política aplicada nos anos de política de Michel Temer e Bolsonaro, possibilitaram a capacidade de organização e financiamento dos garimpos ilegais da cassiterita em TIs, e consequentemente, seu poder de impactar negativamente os recursos naturais, ou seja, facilitaram o plano de aniquilamento ambiental do Executivo Federal (ZOGAHIB; LIMA, 2023). 34 Apesar do governo de Michel Temer e Bolsonaro facilitarem e incentivam a mineração da cassiterita em TIs, o atual governo de Lula está buscando medida para reduzir a rede de financiamento da mineração da cassiterita. A rede de financiamento da cadeia produtiva da cassiterita pelo crime organizado em TIs explicadas por Clement et al. (2022), pois os autores citam que a exploração da cassiterita existiu desde os primeiros registros desse minério em território brasileiro. Mas, na atualidade, esse investimento criminoso na garimpagem ilegal expandiu no governo do presidente Michel Temer, e tornou-se ainda pior na presidência do Jair Bolsonaro, poisambos os governos desmontaram departamento e lei de proteção, que evitam a mineração da carteira e de outros mineiros na Amazônia. O século XXI traz consigo um boom econômico no setor mineral, favorecido pela alta dos preços dos minérios, commodities e outras substâncias derivadas, trazendo grandes oportunidades para empresas ligadas à mineração em todo Brasil, mas abrindo a cobiça de garimpos ilegal em busca de oportunidades financeira. Os financiadores das atividades de garimpo ilegal estão envolvidos diretamente na extração, produção, transporte ou comercialização das cassiteritas, e esses sujeitos podem ser trabalhadores ou agentes econômicos (indivíduos e empresas). Então, ao desmantelar redes criminosas protege-se o capital natural da Amazônia (WAISBICH; HUSEK; SANTOS, 2022). Conforme exposto, a principal fonte de financiamento dos grupos que realizam mineração ilegais são de estruturas criminosas, tanto nacionais como transnacionais, pois são esses os interessados pela minérios extraídos como a cassiterita. O papel no financiamento da mineração ilegal TIY é conhecida pela Polícia Federal, como demonstrado na Operação Warari Koxi (deflagrada em 2015) que revelou o papel central de empresários brasileiros no financiamento da exploração ilícita da cassiterita no TIY (WAISBICH; HUSEK; SANTOS, 2022). A escalada dos investimentos criminosos na garimpagem em TIs é impressionante, pois constantemente são deflagradas operações e desarticulado rede de financiamento de mineração ilegal da cassiterita em TIs. Ministério de justiça e segurança pública (2023), através da polícia federal, articulou em dezembro de 2023, na cidade de Boa Vista, em Roraima (RR), uma operação desarticular um esquema de financiamento e exploração ao garimpo ilegal na TIY. s investigações identificaram à venda de cassiterita extraída ilegalmente da 35 TIY para compradores internacionais, em período de 5 meses no ano de 2021, que faturou mais de R$ 166 milhões de cassiterita. A operação realizada tinha mandado de apreensão e bloqueia mais de R$ 240 milhões dos envolvidos. Esse exemplo é apenas um dos casos que a polícia federal desmontou, pode isso deve-se discutir a mudança de estratégia na atuação do crime organizado nesse mercado, com a busca por controlar a distribuição e comercialização cassiterita, mas também o garimpo desse mineral. Sugere-se o aperfeiçoamento dos métodos de financiamento que combatem a mineração ilegal em TIs, além disso o fortalecimento dos aparelhos jurídicos que realizam a demarcação das TIs, não esquecendo da reestruturação social das comunidades afetadas pela mineração da cassiterita em seu território. Em contrapartida, por conseguinte, também cresceu o debate em torno dos impactos ambientais e sociais que a exploração de minérios provoca tanto para a natureza quanto para o homem, principalmente, quando alcança áreas de propriedade dos povos originários. 4.3 Desafios socioambientais decorrentes da globalização da mineração Aqui, serão discutidos os desafios socioambientais decorrentes da globalização da mineração de cassiterita na Amazônia. Aspectos como desigualdades socioeconômicas, degradação ambiental e impactos nas comunidades locais serão abordados. A extração de recursos naturais é uma atividade essencial para o desenvolvimento econômico. A globalização da mineração expõe o bioma brasileiro, pois o país possui riquezas naturais, e existem demandas mundiais globais pelo mineiro e outros recursos existente no Brasil. A preservação dos ecossistemas é fundamental para garantir a sustentabilidade ambiental (ANDRADE; DA PAIXÃO, 2023). Esta exploração tem causado danos irreparáveis à floresta, como desmatamento poluição da água, poluição atmosférica, erosão do solo, alteração de ecossistemas, entre outros. Além dos danos ambientais, a mineração ilegal também está associada a práticas trabalhistas não conformes, tráfico de armas e drogas e conflitos entre comunidades locais e garimpeiros ilegais. 36 As atividades de mineração são extremamente degradantes ao meio ambiente, pois isso possui um impacto direito no ecossistema explorado como a contaminação do solo, terra e do ar, assim como a vida humana que habitam. Em locais, de preservação como as comunidades indígenas, que estão situadas em locais com grande diversidade de flana e flora, por isso é necessário realizar ações de preservação e conservação dessas áreas (FELICIANO; GARCIA, 2020). A exploração ilegal de cassiterita e outros minerais nas TIY tem sido um desafio constante para as autoridades brasileiras que trabalham para conter essa atividade. Fernandes (2021) elenca que um dos territórios mais afetados pelo garimpo ilegal da cassiterita nas TIY, local que tem visto uma explosão na atividade garimpeira nos últimos anos. A exploração ilegal da cassiterita ou de qualquer outro mineral nas TIY, em Roraima, deixa cicatrizes na floresta, o fluxo de garimpeiros clandestinos para o território é crescente. O TIY é uma região rica em recursos minerais, incluindo ouro e cassiterita. Contudo, a exploração destes recursos ocorre muitas vezes de forma ilegal. Os fatores que levam às atividades ilegais na Amazônia estão relacionados, entre outros, à corrupção, conflitos fundiários, criminalização de defensores ambientais, falta de fiscalização e desmatamento. Oviedo, Dos Santos e De Paula Batista (2020) os desafios socioambientais decorrentes da globalização do minério está na realização de ações que protegem locais de preservação, como as TIs. Como cumprir a obrigações e intensificar as operações relacionadas ao monitoramento e vigilância territorial de TIs, tornar pública sobre o impacto ambiental da garimpagem e garantir a participação pública e principalmente dos indignas nas decisões políticas na mineração das TIs, e sobretudo ter medidas concretas e planejamento de ações e orçamentos que cumpram suas obrigações ambientais e garantam os direitos dos povos indígenas. É necessária uma abordagem holística à extração de recursos para garantir a segurança do abastecimento mineral e para abordar os impactos sociais, culturais e ambientais associados. Esta abordagem deve considerar a interligação das várias partes móveis do ecossistema de recursos, incluindo as diferentes opções para a extração mineral. A extração sustentável e responsável de recursos exigirá tecnologias inovadoras que minimizem os danos e o consumo de recursos, juntamente com uma compreensão sistemática dos desenvolvimentos regulamentares e políticos. 37 A responsabilidade de proteger os TIs ou áreas de preservação do país e do estado brasileiro, no entanto outras entidades possuem interesse dessas áreas como Organização das Nações Unidas (ONU). Chagas (2022) destaca que as normas internacionais afirmam, por meio Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, os direitos dos povos indígenas e a garantia pela proteção do seu território e de sua cultura. Aplicando as premissas no contexto da proteção dos povos indígenas, pode-se concluir que a mineração ocasiona o desmatamento massivo e a degradação florestal, e é uma ameaçam clara dos direitos constituídos dos indígenas. Então, os direitos nacionais e internacionais têm um papel importante na promoção e proteção destes direitos. O cenário nacional e internacional carece de avanços para coibir a utilização permanente da mineração em TIs, essa problemática enseja o desenvolvimento de uma governança com vários centros de direção e decisão pelos participantes imediatos e mediatos de determinado cenário (TUPY et al., 2022). O genocídio no TIY é um exemplo de desumanidade sob lógica capitalista, que também se baseia na mediação do Estado quando cria acesso infraestrutura, promove ou desregula legislação para proteger territórios e até paisagens, como ocorreu intensamente no Brasil. Para identificar e avaliar
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