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Mudanças climáticas e seus impactos na sociedade Prof.ª Ana Carolina Ramos Cordeiro Descrição Introdução dos conceitos de efeito estufa, aquecimento global, economia de baixo carbono e demais fatores que impactam as mudanças climáticas. Propósito O conteúdo sobre mudanças climáticas fornece os conhecimentos essenciais para implementação e avaliação de medidas, ou políticas públicas, em prol do desenvolvimento sustentável. Este material capacitará você a identificar uma série de desafios do mundo contemporâneo e apresentará as principais estratégias para proteger o sistema climático, em favor da sociedade atual e das futuras gerações. Objetivos Módulo 1 Origens das mudanças climáticas e seus impactos Descrever o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Módulo 2 Os acordos climáticos Identificar os principais acordos climáticos. Módulo 3 Desa�os para a sociedade frente às mudanças climáticas Reconhecer os principais desafios para a sociedade frente às mudanças climáticas. Introdução A mudança climática é um tema que ganha cada vez mais espaço nos debates relacionados ao futuro da sociedade, representando um grande desafio para o século XXI. Sabemos que as temperaturas globais vêm aumentando e que esse aumento poderá gerar grandes impactos no planeta, modificando o mundo como conhecemos hoje. Mas, afinal, é possível reverter esse processo? O que ocorrerá com o meio ambiente e a sociedade nas próximas décadas? Para responder a essas questões, apresentaremos neste conteúdo a origem desse debate, apontando os estudos já realizados a respeito do assunto e os acordos climáticos entre as nações, além de seus possíveis impactos na sociedade. 1 - Origens das mudanças climáticas e seus impactos Ao fnal deste módulo, você será capaz de descrever o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Efeito estufa Conceito O efeito estufa é um fenômeno natural e necessário para a preservação da vida na Terra, pois mantém o planeta aquecido e habitável ao permitir que parte da radiação solar refletida de volta para o espaço seja absorvida pelo planeta. É importante que saibamos que, ao atingir a superfície da Terra, grande parte da radiação é refletida como radiação infravermelha, que é capturada por uma camada de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Os GEE são assim conhecidos por exercerem a função do vidro de uma estufa, permitindo a passagem da radiação solar, mesmo que evitem a liberação da radiação infravermelha emitida pela Terra. Portanto, a vida em suas formas atuais depende desse fenômeno! Aumento da concentração de GEE Somada a outros fatores, como o desmatamento e os diferentes métodos de cultivo do solo, a industrialização resultou em um aumento na concentração de GEE na atmosfera. Dessa forma, à medida que as populações e as economias crescem, o mesmo acontece com o nível cumulativo de emissões desses gases. Desde a Revolução Industrial, o homem vem aumentando a concentração de GEE por meio de suas emissões. Segundo Fortin (2017), isso se traduz no aumento contínuo da temperatura global em 1°C desde a era pré-industrial. Existem alguns vínculos científicos básicos já estabelecidos, segundo as Nações Unidas Brasil (2020a): Sua concentração na atmosfera da Terra está diretamente ligada à temperatura média global. GEE mais abundante, o dióxido de carbono (CO2) é produto, em grande proporção, da queima de combustíveis fósseis. Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas Papel É preciso compreender de que maneira podemos controlar ou amenizar os efeitos das mudanças climáticas. Para isso, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O estabelecimento do IPCC foi aprovado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) no mesmo ano. Ele é uma organização dos governos que compõem as Nações Unidas, possuindo atualmente 195 membros. Seu papel é avaliar, de maneira abrangente, objetiva, aberta e transparente, as informações científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes para a compreensão das mudanças climáticas, seus impactos e riscos futuros, bem como as opções para sua mitigação e adaptação. Mitigação Intervenção humana para reduzir as emissões por fontes de gases de efeito estufa e fortalecer as remoções por sumidouros de carbono, como florestas e oceanos. Adaptação Estratégia de resposta de qualquer sistema à mudança do clima no esforço para prevenir-se contra possíveis danos e explorar eventuais oportunidades benéficas. Diferentemente da mitigação, os benefícios resultantes dessa série de ajustes são locais e de curto prazo. Relatório de avaliação Proposta Centenas de especialistas renomados nas diferentes áreas cobertas pelos relatórios do IPCC avaliam os milhares de artigos científicos publicados a cada ano. O objetivo dessa avaliação é fornecer um resumo abrangente do que se sabe sobre os fatores que impulsionam as mudanças climáticas, assim como seus impactos e riscos futuros, apontando ainda formas de se adaptar e mitigar esses impactos. Desde a criação do IPCC, cada relatório de avaliação tem contribuído diretamente para a formulação internacional de políticas climáticas. Estabeleceremos a seguir um histórico sobre os principais relatórios, descrevendo em seguida suas principais características e aplicações. Vamos conhecer os relatórios de avaliação? Veremos a seguir outros relatórios de maneira mais detalhada: 1990 Primeiro Relatório de Avaliação (FAR) Destacou a importância das mudanças climáticas como um desafio com consequências globais e exigiu uma cooperação internacional. O FAR desempenhou ainda um papel decisivo na criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, UNFCC. O UNFCCC é o principal tratado internacional para reduzir o aquecimento global e lidar com as consequências das mudanças climáticas. 1995 Segundo Relatório de Avaliação (SAR) O SAR forneceu material importante para que os governos se preparassem para a adoção do Protocolo de Quioto dois anos depois. 2001 Terceiro Relatório de Avaliação (TAR) Concentrou a atenção nos impactos das mudanças climáticas e na necessidade de adaptação. 2007: Quarto Relatório de Avaliação (AR4) A AR4 lançou as bases para um acordo pós-Quioto, concentrando-se em limitar o aquecimento global a 2oC. Neste mesmo ano, o IPCC e o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, receberam o Prêmio Nobel da Paz em conjunto pelos esforços para desenvolver e disseminar um maior conhecimento sobre as mudanças climáticas provocadas pelo homem, além de estabelecer as bases para as medidas necessárias a fim de combater tal mudança. Um dos pontos que podemos destacar do AR4 é a apresentação dos diferentes GEE. Os dois principais, nesta ordem, são: CO2 Dióxido de carbono (CO2) Entre as origens antrópicas das emissões de dióxido de carbono, destacam-se a combustão de combustíveis fósseis e a mudança no uso da terra (incluindo o desmatamento e o cultivo de áreas antes não exploradas, pois, ao ará-la, o CO2 do solo é liberado). CH4 Metano (CH4) Entre suas origens antrópicas, destacam-se a agricultura (por exemplo, o cultivo de arroz), a criação de gado (a digestão do gado também gera emissões de metano) e, finalmente, os resíduos, cuja decomposição produz, quando deixada ao ar livre, metano. A imagem e tabela a seguir apresentam os principais GEE: Gráfico: Principais GEE. Gás carbônico (CO2) Metano (CH4) Principal fonte antrópica Combustíveis fósseis, desflorestamento Cultivo de arroz inundado, pecuá combustíveis fósseis, queima biomassa Tempo de vida na atmosfera 50-200 anos 10 anos Contribuição relativa ao efeito estufa antrópico 60% 15% Tabela: Principais GEE. Krupa, 1997. Adaptada do AR4, veja a seguir algumas das principais tecnologias e práticas de mitigação das mudanças climáticasem diferentes setores. Vamos conferi-las! Tecnologias e práticas de mitigação disponíveis em 2007 Maior eficiência no fornecimento e na distribuição de energia; Uso da energia nuclear; Fornecimento de energia Uso de fontes de energia renováveis (energia hidrelétrica, solar, eólica, geotérmica e bioenergia); Aplicações iniciais de captura e armazenamento de carbono (CCS). Tecnologias e práticas de mitigação projetadas para serem comercializadas antes de 2030 CCS para instalações de geração de gás, biomassa e eletricidade a carvão; Energia nuclear avançada; Energia renovável avançada, incluindo energia de marés e ondas e energia solar fotovoltaica. Tecnologias e práticas de mitigação disponíveis em 2007 Veículos mais eficientes (com menor consumo de combustível); Veículos híbridos; Veículos a diesel mais limpos; Biocombustíveis; Mudanças modais do transporte rodoviário para os sistemas ferroviário e de transporte público; Transporte não motorizado (ciclismo e caminhada); Melhor planejamento dos transportes. Tecnologias e práticas de mitigação projetadas para serem comercializadas antes de 2030 Biocombustíveis de segunda geração; Aeronaves de maior eficiência; Veículos elétricos e híbridos avançados com baterias com alta capacidade de armazenamento. Transporte Construções residenciais e comerciais Tecnologias e práticas de mitigação disponíveis em 2007 Iluminação eficiente (podendo ampliar a natural); Aparelhos elétricos e dispositivos de aquecimento e refrigeração mais eficientes; Fogões aprimorados. Tecnologias e práticas de mitigação projetadas para serem comercializadas antes de 2030 Construções integradas com tecnologias; Painéis solares nas construções. Tecnologias e práticas de mitigação disponíveis em 2007 Equipamento elétrico mais eficiente; Reciclagem e substituição de materiais. Tecnologias e práticas de mitigação projetadas para serem comercializadas antes de 2030 Eficiência energética avançada; CCS para fabricação de cimento, amônia e ferro. Tecnologias e práticas de mitigação disponíveis em 2007 Melhor gerenciamento das culturas e pastagens para aumentar o armazenamento de carbono no solo; Restauração de terras degradadas; Aprimoramento de técnicas de cultivo de arroz e cuidado com animais e estrume para reduzir as emissões de metano; Culturas energéticas dedicadas para substituir o uso de combustíveis fósseis. Indústria Agricultura Tecnologias e práticas de mitigação projetadas para serem comercializadas antes de 2030 Melhorias no rendimento das culturas. Tecnologias e práticas de mitigação disponíveis em 2007 Reflorestamento; Redução do desmatamento; Uso de produtos florestais para a bioenergia em substituição ao uso de combustíveis fósseis. Tecnologias e práticas de mitigação projetadas para serem comercializadas antes de 2030 Melhoramento das espécies arbóreas para aumentar a produtividade da biomassa e o sequestro de carbono; Tecnologias aprimoradas de sensoriamento remoto para análise do potencial de sequestro de carbono da vegetação ou do solo e mapeamento das mudanças no uso da terra. Tecnologias e práticas de mitigação disponíveis em 2007 Recuperação de metano em aterros sanitários; Incineração de resíduos com recuperação de energia; Compostagem de resíduos orgânicos; Tratamento de águas residuais; Reciclagem e minimização de resíduos. Tecnologias e práticas de mitigação projetadas para serem comercializadas antes de 2030 Para reduzir as emissões de metano dos aterros, pode-se explorar o processo natural de oxidação microbiana do metano por meio de coberturas. Chamadas de Florestas Gestão de resíduos “biocobertas”, elas são muitas vezes compostas por materiais residuais, como os adubos. Importante deixar claro que esses são apenas exemplos, não existe uma ordem preferencial de setores ou de tecnologias. 2013-2014: Quinto Relatório de Avaliação (AR5) O AR5 foi finalizado com base na revisão de milhares de pesquisas científicas, servindo de contribuição científica para o Acordo de Paris. Fornecendo uma análise das alterações no clima, o AR5 conclui que: A mudança climática é real. As atividades humanas são sua principal causa. O relatório fornece ainda uma avaliação abrangente do aumento do nível do mar nas últimas décadas. Além disso, os estudos apresentados também estimam as emissões acumuladas de CO2 desde a época pré- industrial, e fornecem um orçamento dele para futuras emissões. Com isso, o AR5 busca limitar o aquecimento global a menos de 2oC. Cerca de metade desse valor máximo já foi emitido até 2011. Comentário Sabe-se, a partir dos relatórios do IPCC, que, de 1880 a 2012, a temperatura média global aumentou 0,85oC. Além disso, os oceanos se aqueceram, as quantidades de neve e gelo diminuíram e o nível do mar aumentou. De 1901 a 2010, à medida que os oceanos se expandiam devido ao aquecimento e ao derretimento do gelo, a média global do nível do mar subiu 19cm. A extensão do gelo marinho no Ártico vem diminuindo desde a década de 1980. Observe as informações a seguir: Dadas as concentrações atuais e as emissões contínuas de GEE, é provável que o final deste século registre um aumento de 1 a 2oC na temperatura média global acima do nível de 1990 (cerca de 1,5 a 2,5oC superior ao nível pré-industrial). Com isso, os oceanos do mundo se aquecerão e o derretimento do gelo continuará. Há evidências alarmantes de que pontos críticos cruciais podem já ter sido alcançados ou ultrapassados, levando a mudanças irreversíveis nos principais ecossistemas e no sistema climático planetário. Ecossistemas tão diversos quanto o da Floresta Amazônica e a tundra ártica podem estar se aproximando de limiares de mudança dramática. 2018: Relatório Especial do IPCC sobre o Aquecimento Global de 1,5oC (SR15) Em outubro de 2018, o SR15 abordou os impactos do aquecimento global. Sua conclusão foi a seguinte: limitá-lo a 1,5oC exigiria mudanças rápidas, profundas e sem precedentes em todos os aspectos da sociedade. O SR15 constatou que essa limitação poderia garantir uma sociedade mais sustentável e equitativa. Enquanto as estimativas anteriores se concentravam em estipular os danos se as temperaturas médias subissem 2oC, o relatório mostrou que muitos dos impactos adversos das mudanças climáticas já surgirão na marca de 1,5oC. São destacados ainda impactos das mudanças climáticas que poderiam ser evitados ao se limitar o aquecimento global a 1,5oC ao invés de 2oC ou mais. Estima-se que as atividades humanas tenham causado o aumento de aproximadamente 1oC desde a era pré-industrial. Os modelos climáticos projetam diferenças robustas nas características climáticas regionais entre o aquecimento atual e o global de 1,5oC, assim como as existentes entre 1,5oC e 2oC, incluindo as disparidades em relação aos aumentos na temperatura média na maioria das regiões terrestres e oceânicas. Em uma projeção para o ano de 2100, por exemplo, a elevação global do nível do mar seria 10cm mais baixa com um aquecimento global de 1,5oC se comparada com o de 2oC. Já os recifes de corais declinariam de 70% a 90% com o aquecimento de 1,5oC, enquanto praticamente todos seriam perdidos com um aumento de 2oC. O relatório conclui que limitar o aquecimento global a 1,5oC exigiria transições rápidas na terra, na energia, na indústria, nos edifícios, nos transportes e nas cidades. Por fim, o SR15 também destacava que as emissões globais líquidas de dióxido de carbono (CO2) causadas pelo homem precisam, até 2030, cair cerca de 45% em relação aos níveis de 2010, atingindo o “zero líquido” por volta de 2050. Isso significa que quaisquer emissões remanescentes precisariam ser equilibradas pela remoção do CO2 da atmosfera. O SR15 Confira agora mais detalhes sobre o SR15. Atualmente: sexto ciclo de avaliação Ainda em gestação, este ciclo vai preparar: Três relatórios especiais. Um relatório de metodologia. Sexto relatório de avaliação. Relatóriosespeciais Primeiro desses relatórios especiais, o SR15, conforme frisamos, foi solicitado pelos governos participantes do Acordo de Paris. Composição O IPCC é dividido em três grupos de trabalho e uma força-tarefa. Cada um deles lida com: Grupo de trabalho I Base das ciências físicas das mudanças climáticas. Com os grupos de trabalho e a força-tarefa, outros grupos de tarefas podem ser estabelecidos pelo IPCC por um período determinado para considerar um tópico ou uma pergunta específica. Exemplo A decisão tomada na 47ª Sessão do IPCC, em Paris, em março de 2018, estabelece um grupo de tarefas para melhorar o equilíbrio de gênero e abordar questões relacionadas a gênero. Grupo de trabalho II Impactos das mudanças climáticas, a adaptação e a vulnerabilidade. Grupo de trabalho III Mitigação das mudanças climáticas. Força-tarefa Desenvolvimento e refinamento de uma metodologia para o cálculo e o relatório das emissões e remoções nacionais de GEE. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Em 1988, foi aprovada a criação do IPCC pela Assembleia Geral da ONU. Seu principal papel consiste em: A Avaliar as informações relevantes para uma compreensão das mudanças climáticas, assim como dos impactos, riscos futuros e opções de Parabéns! A alternativa A está correta. O IPCC pretende sugerir maneiras de combater problemas climáticos, como o aquecimento global, apontando suas causas, seus efeitos e os riscos que ele pode gerar para a humanidade. Questão 2 Desde sua criação, os relatórios de avaliação do IPCC têm contribuído positivamente para o desenvolvimento sustentável por meio da formulação de políticas climáticas. Sobre o tema, podemos afirmar que: adaptação e mitigação, fornecendo-as, em seguida, aos governos. B Identificar quais estudos sobre os GEE devem ser considerados relevantes pelos governos (federais, estudais ou municipais). C Determinar o papel de cada país no combate às mudanças climáticas nos próximos anos. D Promover encontros e debates para que haja uma visão mais ampla sobre as mudanças climáticas. E Realizar pesquisas de campo sobre o posicionamento ambiental de cada país. A O Terceiro Relatório de Avaliação (TAR), em 2001, teve por foco o debate sobre a extinção de animais silvestres. Parabéns! A alternativa B está correta. O Primeiro Relatório de Avaliação (FAR), de 1990, destacou a relevância dos impactos das mudanças climáticas como um desafio global e ainda teve papel fundamental para a criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. B O Primeiro Relatório de Avaliação (FAR), em 1990, enfatizou a relevância dos impactos das mudanças climáticas como um desafio global com necessidade de cooperação internacional. C O Segundo Relatório de Avaliação (SAR) teve como base de estudo o Protocolo de Quioto de 1997. D O Primeiro Relatório de Avaliação (FAR), em 1990, exigiu uma cooperação apenas dos países subdesenvolvidos. E O Primeiro Relatório de Avaliação (FAR), em 1990, teve como base de estudo os assuntos debatidos na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). 2 - Os acordos climáticos Ao fnal deste módulo, você será capaz de identi�car os principais acordos climáticos. Acordos climáticos Como vimos anteriormente, a criação do IPCC teve um papel fundamental no estudo do clima. A partir de seus relatórios, é possível compreender, de forma abrangente, os fatores que impulsionam as mudanças climáticas. Além de apontar seus impactos e riscos futuros, eles mostravam formas de se adaptar a eles e mitigá-los. Ou seja, os relatórios do IPCC desempenharam um papel decisivo nestes acordos: 1992 Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). 1997 Protocolo de Quioto. Observemos a seguir uma linha do tempo com os principais acordos climáticos: 2015 Acordo de Paris. 1988 Criação do IPCC. 1992 Criação da UNFCC (Rio-92). 1997 Criação do Protocolo de Quioto. 2002 Adesão do Brasil ao Protocolo de Quioto. 2005 Protocolo de Quioto entra em vigor. Para iniciarmos nossos estudos sobre o assunto, falaremos sobre esses acordos e apontaremos os acontecimentos mais relevantes relacionados a eles. Prepare-se! Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima Em 1992, no Rio de Janeiro, foi realizada a Cúpula da Terra, conhecida como Rio-92, que produziu a UNFCCC como primeiro passo no combate à mudança climática. Entretanto, ela só entrou em vigor em 21 de março de 1994. Atualmente, a UNFCCC tem uma adesão quase universal. Os 197 países que a ratificaram são chamados de “partes” da convenção. O objetivo final do tratado é impedir que as ações humanas interfiram, de forma prejudicial e permanente, no sistema climático do planeta. Foram 2015 Acordo de Paris. 2025 Compromisso brasileiro em reduzir 37% das emissões (com base em 2005). 2035 Indicativo brasileiro de reduzir em 43% as emissões (com base em 2005). definidos, dessa forma, compromissos e obrigações para todas as partes. O princípio das responsabilidades comuns – ainda que elas sejam diferenciadas – afirma que as partes devem proteger o sistema climático em benefício das gerações presentes e futuras, tendo como base a equidade e atuando conforme suas respectivas capacidades. Os países desenvolvidos que participam da convenção de 1992 devem tomar a iniciativa no combate à mudança do clima e a seus efeitos, já que eles, tendo em vista as necessidades específicas dos países em desenvolvimento (em especial, os particularmente vulneráveis aos efeitos negativos da mudança do clima), foram a fonte da maior parte das emissões passadas de GEE. Para facilitar a transferência de recursos financeiros aos países em desenvolvimento, a convenção estabeleceu mecanismos operacionais de financiamento, como o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e o Fundo Verde para o Clima (GFC). Protocolo de Quioto Em 11 de dezembro de 1997, foi criado o Protocolo de Quioto, a partir das negociações feitas para fortalecer a resposta global às mudanças climáticas. No entanto, em decorrência de um complexo processo de ratificação, ele só entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005. Hoje, 192 países são considerados partes desse protocolo. Funcionando de maneira complementar à UNFCCC, o Protocolo de Quioto definia metas de redução de emissões para países desenvolvidos, considerados responsáveis históricos pela mudança atual do clima — ainda que, naquela época, apresentassem uma economia em transição para o capitalismo. O Protocolo de Quioto foi ratificado pelo Brasil em 23 de agosto de 2002, tendo sua aprovação interna ocorrido por meio do Decreto Legislativo nº 144/2002. Da lista dos principais emissores de GEE, apenas os Estados Unidos não ratificaram o protocolo, no entanto, ainda assim, têm suas responsabilidades e obrigações definidas pela UNFCCC. Em resumo: o Protocolo de Quioto operacionaliza a UNFCCC, comprometendo os países industrializados a limitar e reduzir as emissões de GEE de acordo com as metas individuais acordadas. A própria convenção pede apenas que esses países: Adotem políticas e medidas de mitigação. Apresentem relatórios periodicamente. O Protocolo de Quioto é baseado nos princípios e nas disposições da convenção, embora seu diferencial esteja na interligação dos países desenvolvidos e no destaque ao princípio mencionado anteriormente de “responsabilidade comum, mas diferenciada”. Afinal, esses países são reconhecidos como os principais responsáveis pelos altos níveis atuais de emissões de GEE na atmosfera. Os países que fazem parte do Protocolo de Quioto devem atingir suas metas, principalmente por meio de medidas nacionais. Ele também estabeleceu um rigoroso sistema de monitoramento, revisão e verificação para garantir a transparência e poder responsabilizar as partes. De acordo com o protocolo, as emissões reais dos países devem sermonitoradas, assim como registros precisos dos negócios realizados precisam ser mantidos. Garantindo o cumprimento de regras por intermédio da natureza legal ou de uma auditoria interna, o sistema de compliance assegura que as partes vão cumprir seus compromissos e as ajuda, caso tenham problemas no processo, a fazer isso. Acordo de Paris Na 21a Conferência das Partes (COP21), em Paris, os membros participantes da UNFCCC chegaram a um acordo significativo para combater as mudanças climáticas, bem como para acelerar e intensificar ações e investimentos necessários para um futuro sustentável de baixo carbono. Assinado por 195 dos países do mundo na COP21, o Acordo Climático de Paris de 2015 merece ser destacado, já que ele constitui um marco da crescente preocupação com as mudanças climáticas. Presidente da França, François Hollande, durante a COP21. Também baseado na UNFCCC, o Acordo de Paris busca empreender esforços para combater as mudanças climáticas e se adaptar a seus efeitos, oferecendo ainda um apoio aos países em desenvolvimento para que façam o mesmo. Com isso, o tratado indicou um novo rumo no esforço global para deter tais mudanças. O objetivo central é fortalecer uma resposta global à ameaça da mudança climática, mantendo a elevação da temperatura global neste século bem abaixo de 2ºC e buscando esforços para limitá-la a 1,5°C. No dia 22 de abril de 2016, 175 países assinaram o Acordo de Paris na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Para que começasse a vigorar, foi necessária a ratificação de, pelo menos, 55 nações responsáveis por 55% das emissões de GEE. O período aberto pelo secretário-geral da ONU para a assinatura oficial do acordo pelos países signatários se encerrou em 21 de abril de 2017. No entanto, em 1º de junho do mesmo ano, os Estados Unidos anunciaram sua saída. O presidente Donald Trump alegou que o Acordo de Paris deixava o país em desvantagem em relação a outras nações. Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) Outra questão-chave na busca pela redução nas emissões de GEE foi estabelecida no Acordo de Paris: a chamada Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que define os compromissos dos países na redução das emissões de GEE. Atenção! As NDCs estão no cerne do Acordo de Paris e da realização desses objetivos a longo prazo, incorporando os esforços de cada país para reduzir as emissões nacionais e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. O Acordo de Paris exige que cada parte prepare, comunique e mantenha sucessivas NDCs. As partes devem adotar medidas domésticas de mitigação para alcançar tais contribuições. Cada plano climático leva em consideração as circunstâncias e capacidades domésticas dos países. No caso brasileiro, após a aprovação pelo Congresso Nacional, o país concluiu, em setembro de 2016, o processo de ratificação do Acordo de Paris. No dia 21 do mesmo mês, o instrumento foi entregue às Nações Unidas. Com isso, as metas brasileiras deixaram de ser pretendidas, tornando-se finalmente compromissos oficiais. Comentário A NDC do Brasil comprometeu-se a fazer com que, até 2025, as emissões de GEE sejam 37% menores que as registradas em 2005. Existe ainda uma contribuição indicativa subsequente para reduzi-las, cinco anos depois, em 43% (também em relação a 2005). Para isso, até 2030, o país terá de: Aumentar a participação de bioenergia sustentável em sua matriz energética em aproximadamente 18%. Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas. Alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética. Relativa ao ano de 2005, a NDC do Brasil projeta uma redução na ordem de: 66%: Em emissões de GEE por unidade do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, intensidade de emissões, em 2025. 75%: Em intensidade de emissões em 2030. O Brasil, portanto, terá de reduzir as emissões de GEE no contexto de um aumento contínuo da população e do PIB, bem como da renda per capita, o que qualifica tais metas como ambiciosas. Quanto ao financiamento, o Acordo de Paris determina que os países desenvolvidos deverão investir 100 bilhões de dólares por ano em medidas de combate à mudança do clima e adaptação nos países em desenvolvimento. Uma novidade no âmbito do apoio financeiro é a possibilidade de financiamento entre países em desenvolvimento. A chamada “cooperação Sul-Sul” amplia a base de financiadores dos projetos. O Acordo de Paris demonstra, portanto, a preocupação em: Formalizar o processo de desenvolvimento de contribuições nacionais. Oferecer requisitos obrigatórios para avaliar e revisar o progresso delas. Esse mecanismo exige que os países atualizem continuamente seus compromissos, permitindo a ampliação de suas ambições e o aumento das metas de redução de emissões, evitando, assim, qualquer retrocesso. A partir do início da vigência do acordo, haverá ciclos de revisão desses objetivos de redução de GEE a cada cinco anos. Contribuição Nacionalmente Determinada Confira agora aspectos importantes sobre a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Tratado ambiental internacional assinado em 1992, a UNFCCC tem como objetivo estabilizar as concentrações de GEE na atmosfera em um nível que impeça uma interferência humana perigosa no sistema climático. Sobre este tratado, é correto afirmar que: A A UFNCCC reconhece que a maior parcela de emissões globais históricas de gases de efeito estufa é originária dos países subdesenvolvidos. B A UFNCCC focou essencialmente em estabelecer mecanismos operacionais de financiamentos aos países desenvolvidos. C A UFNCCC não difere a participação dos países de acordo com suas capacidades e condições socioeconômicas, na proposta por amenização de mudanças climáticas. D A UFNCCC teve a competência de reconhecer que os países desenvolvidos tiveram historicamente maior parcela de responsabilidade sobre as emissões de GEE. Parabéns! A alternativa D está correta. Este tratado foi um dos primeiros a reconhecer que os países desenvolvidos são os que mais emitem GEE. Dessa forma, para estabilizar as concentrações de GEE a nível mundial, é necessário um esforço maior dos países mais ricos. Questão 2 Em 2015, o Acordo de Paris foi aceito por 195 dos países na COP21, assumindo os compromissos de: Parabéns! A alternativa C está correta. O Acordo de Paris teve um papel essencial para o combate as mudanças climáticas, firmando um compromisso entre países para E A UFNCCC não teve condições de identificar quais países contribuíram historicamente para as maiores taxas de emissão de GEE. A promover a cooperação entre nações por meio do livre comércio. B manter a elevação da temperatura global neste século abaixo de 1ºC. C promover medidas para amenizar as mudanças climáticas e intensificar os investimentos necessários para o desenvolvimento sustentável. D promover ações para mitigar a extinção de animais silvestres. E solicitar aos países relatórios periódicos sobre suas emissões de GEE. empreender esforços para aceleração e intensificação de investimentos e medidas em prol do futuro sustentável com baixa emissão de carbono. 3 - Desa�os para a sociedade frente às mudanças climáticas Ao fnal deste módulo, você será capaz de reconhecer os principais desa�os para a sociedade frente às mudanças climáticas. Consequências das mudanças climáticas Como vimos anteriormente, os acordos climáticos são uma maneira de a sociedade se organizar e trabalhar de forma conjunta para diminuir as emissões de GEE e controlar o aumento da temperatura global. Contudo, sabemos que seus impactos não se limitam ao aumento de temperatura, já que uma série de problemas deriva desse aumento. Exemplo Não podemos atribuir todas as tempestades, as inundações ou os períodos de secas como consequências de mudanças climáticas, uma vez que esses eventos já existiam.No entanto, o aumento da frequência desses eventos extremos pode ser lido como um sintoma de um sistema climático em mudança. Por exemplo, já existe conhecimento de que o aumento do nível do mar tem relação com a expansão do oceano, causada pelo aquecimento global e pela aceleração dos degelos nos polos. Conforme aponta Fortin (2017), já estamos observando algumas consequências das mudanças climáticas, mas a maioria delas ocorrerá durante a segunda metade do século XXI. A continuidade das emissões de GEE nos padrões atuais causará mais aquecimento e mudanças em todos os componentes do sistema climático, aumentando a probabilidade de impactos graves, generalizados e irreversíveis para as pessoas e os ecossistemas. Para amenizar as mudanças climáticas, é necessário alcançar reduções substanciais e sustentadas nas emissões de GEE, de modo a gerar um processo de adaptação capaz de limitar os riscos de tais mudanças climáticas. Segundo os cenários de projeção, caso não ocorram mudanças nos padrões atuais, assistiremos a uma elevação da temperatura da superfície ao longo de todo século XXI. É muito provável que: As ondas de calor ocorram com mais frequência e durem por maior tempo. Eventos extremos de precipitação se tornem mais intensos e frequentes em muitas regiões. O oceano continue se aquecendo e se acidi�cando. Dimensões dos impactos das mudanças climáticas As mudanças climáticas ampliarão os riscos existentes e criarão outros para os sistemas naturais e humanos. Eles são desigualmente distribuídos, sendo geralmente maiores para pessoas e comunidades desfavorecidas nos países em desenvolvimento. Em termos de problemas de saúde pública, mudanças climáticas decorrentes de eventos como o aquecimento global, podem impactar a sazonalidade e a transmissão de doenças por vetores, as quais são mais predominantes em países de clima tropical. Além disso, doenças respiratórias podem ser ocasionadas pela piora da qualidade do ar por conta das queimadas. Afinal, elas são mais comuns com o aumento das secas, as quais, por sua vez, levam ao aumento de focos de incêndio. As queimadas são uma das principais fontes de emissões de GEE no Brasil, fazendo com que o país seja um grande poluidor! Dividiremos os impactos ocasionados pela mudança climática em cinco dimensões. Além de descrevê-las, destacaremos, tendo como base o trabalho de Fortin (2017), alguns exemplos de problemas possivelmente ocasionados por essas mudanças no clima. Os impactos tratados serão os seguintes: O nível médio global do mar aumente. Biodiversidade Biodiversidade Diversas espécies não serão capazes de sobreviver às mudanças climáticas. Como resultado, algumas delas entrarão em extinção, já que não suportarão as alterações de temperatura ou o estresse hídrico. Os recifes de corais, que estão ameaçados de extinção. A biodiversidade não indica apenas o número de espécies, mas também a natureza das interações entre elas. Desse modo, torna-se difícil avaliar o impacto das mudanças climáticas sobre as espécies que estão sendo indiretamente afetadas. Estima-se que cerca de 25% das espécies estarão ameaçadas pelas Recursos hídricos Agricultura e segurança alimentar Infraestrutura Migração mudanças climáticas se nada for alterado em nossas taxas de emissão atuais. Recursos hídricos Muitas regiões ao redor do mundo enfrentam problemas de acesso à água potável, a qual não é um recurso universal. As mudanças climáticas tornam o problema de acesso a este e demais recursos hídricos ainda mais evidente, pois reforça as desigualdades como consequência, por exemplo, de um aumento dos períodos de secas em determinadas regiões. Com o aumento da escassez desses recursos, é possível prever um cenário composto por conflitos entre populações e intensos movimentos migratórios. Agricultura e segurança alimentar Os sistemas agrícolas de muitos países enfrentarão dificuldades para se adaptar às mudanças climáticas. Países desenvolvidos localizados em zonas temperadas possuem, em geral, maior capacidade técnica e econômica para acomodar seus sistemas às adversidades provenientes de tais mudanças. Contudo, esse grau de capacitação não é uma realidade comum para os países em desenvolvimento. Consequentemente, existe forte risco de deterioração significativa em seus rendimentos agrícolas, que podem resultar em: Aumento da insegurança alimentar, desnutrição e fome, uma vez que a economia de muitos desses países é fortemente dependente da agricultura. Aumento dos preços de produtos agrícolas, como resultado de prolongados períodos de seca advindos de mudanças de temperatura. Assim, uma parcela ainda maior da população poderá enfrentar dificuldades de acesso a uma cesta alimentar adequada. Infraestrutura É importante destacarmos os eventuais danos à infraestrutura causados por mudanças climáticas. Eventos ambientais extremos, como deslizamentos de terra e enchentes, podem gerar consequências: Imediatas Exemplo: a derrubada de uma ponte. Lentas Exemplo: deformação de trilhos de ferrovias graças ao aumento das temperaturas. Deve-se, portanto, adaptar as infraestruturas às mudanças climáticas. Migração O aumento do nível do mar estimulará deslocamentos massivos de populações de: Lugares ermos Como as ilhas do Pacífico, que correm o risco de desaparecer. Cidades costeiras Como o Rio de Janeiro, que não é capaz de adaptar sua infraestrutura à elevação do nível do mar. Além disso, outros problemas também podem motivar movimentos migratórios, como a falta de acesso à água potável e as dificuldades com a agricultura, levando à perda da segurança alimentar. Desse modo, a adaptação e a mitigação das mudanças climáticas são estratégias interessantes para reduzir e gerenciar os riscos dessas transformações no clima. Reduções substanciais de emissões nas próximas décadas podem: Diminuir os riscos climáticos no século XXI. Aumentar as perspectivas de adaptação. Conduzir ao desenvolvimento sustentável. Migração Confira agora mais detalhes sobre alguns impactos do aquecimento global relacionados à migração. A sociedade e o papel Brasil O desenvolvimento sustentável e a equidade fornecem uma base para avaliar as políticas climáticas. Afinal, as contribuições passadas e futuras dos países para o acúmulo de GEE na atmosfera são diferentes. Além disso, eles também enfrentam desafios e circunstâncias variadas, possuindo capacidades diferentes para lidar com a mitigação e a adaptação. Como já mencionamos anteriormente, a mitigação é uma das estratégias de resposta à mudança do clima por meio da redução de emissões. Seus benefícios são globais e de longo prazo. A redução de emissões de GEE requer uma ação conjunta que, em uma escala nunca vista, precisa envolver: Governo Sociedade civil Indústria de energia Quanto ao Brasil, a contribuição mais efetiva para a mitigação da mudança do clima está relacionada à redução de emissões por desmatamento, atividade responsável por grande parte das emissões no país. Exemplo Podemos citar como iniciativa para mitigação o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, criado em 2004. Observe, a seguir, a contribuição do desmatamento nas emissões de GEE: Categoria 1990 2015 Energia 186.707,20 449.407,50 Indústria 48.211,25 85.653,00 Agricultura 286.995,00 428.904,90 Resíduos 27.595,50 62.695,10 Total de emissões de GEE excluindo LULUCF 549.508,95 1.026.660,50 Tabela: Emissões anuais de GEE para o Brasil por setor em gigagrama (Gg) de CO2 equivalente. Adaptado de UNFCCC, 2020d. No setor de agricultura, a mitigação pode ser alcançada por meio de práticas de plantio direto, evitando a liberação de dióxido de carbono pelo solo. Além disso, uma agricultura menos intensa no uso de fertilizantes nitrogenados, responsáveis por emissões de óxido nitroso, também é uma alternativa para o setor. Curiosidade Em 2017, o setor detransportes foi responsável por 23% da quantidade total de emissões de CO2 em todo o mundo. Sua mitigação de GEE está relacionada não somente à escolha de combustíveis alternativos, como o etanol e o biodiesel, mas também à melhoria da eficiência energética. A eletrificação dos transportes também é uma alternativa que vem ganhando destaque, já que os veículos elétricos podem utilizar a energia elétrica proveniente de fontes renováveis, tendo uma maior eficiência energética. Voltaremos a falar agora sobre a adaptação. Seu conceito está estreitamente vinculado ao de vulnerabilidade, que é o grau de suscetibilidade e incapacidade de um sistema em lidar com os efeitos da mudança do clima. No contexto do Brasil, as medidas de adaptação são normalmente implementadas como uma resposta à ocorrência de eventos extremos (naturais ou não). Listaremos a seguir alguns exemplos de medidas de adaptação: Fortalecimento dos sistemas e órgãos de defesa civil. Conservação de ecossistemas. Gerenciamento de zonas costeiras, vedando o estabelecimento de novas zonas residenciais em áreas sujeitas ao aumento do nível do mar. Gerenciamento de riscos na agricultura e pesquisas com grãos mais resistentes ao aumento da temperatura. Sistemas de vigilância para o avanço de doenças causadas por vetores b � i d l t édi d A mitigação e a adaptação levantam questões de equidade e justiça. Afinal, muitos dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas contribuíram – e ainda contribuem – pouco para as emissões de GEE. O desenho da política climática é influenciado pela maneira como indivíduos e organizações percebem riscos e incertezas, levando-os em consideração. Diferentes métodos de avaliação são realizados a partir de análises econômicas, sociais e éticas para auxiliar na tomada de decisões. A mudança climática tem as características de um problema de ação coletiva em escala global, já que as emissões de qualquer agente (por exemplo, indivíduo, comunidade, empresa, país) afetam outros agentes. A mitigação eficaz não será alcançada se os agentes individuais promoverem os próprios interesses de forma independente. A eficácia na adaptação a essas mudanças climáticas pode ser aprimorada por meio de ações complementares em todos os níveis. Respostas cooperativas, incluindo a cooperação internacional, são necessárias para mitigar efetivamente as emissões de GEE. É o caso dos acordos internacionais que estudamos anteriormente. Comentário Além desses acordos, podemos destacar também o papel da Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável como uma forma de atuação conjunta para mitigar tais efeitos. Afinal, a mudança climática é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável. bene�ciados pelo aumento médio da temperatura, como a dengue. Construção de diques, considerando, segundo o 4º relatório do IPCC, o provável aumento do nível do mar em cerca de 50cm até o �nal do século. Desenvolvimento sustentável Em 2015, todos os 193 estados membros das Nações Unidas concordaram com as diretrizes da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que reúne um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas como desdobramentos desses objetivos. Entre esses objetivos, nota-se a importância da mitigação das mudanças climáticas para a trajetória até o desenvolvimento sustentável, tanto de forma direta, como veremos no ODS 13, quanto de forma indireta, como ocorre, por exemplo, nos ODS 2, 14 e 15. Vejamos então o ODS 13, observando atentamente seus desdobramentos em metas: 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos, tendo como metas: Reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação a riscos relacionados ao clima e às catástrofes naturais em todos os países; Integrar medidas da mudança do clima nas políticas, estratégias e nos planejamentos nacionais; Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e institucional sobre mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce da mudança do clima; Implementar o compromisso assumido pelos países desenvolvidos participantes da UNFCCC para a meta de mobilizar conjuntamente US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020, de todas as fontes, para atender às necessidades dos países em desenvolvimento, no contexto das ações de mitigação significativas e transparência na implementação; e operacionalizar plenamente o Fundo Verde para o Clima por meio de sua capitalização o mais cedo possível; Promover mecanismos para a criação de capacidades para o planejamento relacionado à mudança do clima e à gestão eficaz, nos países menos desenvolvidos, inclusive com foco em mulheres, jovens, comunidades locais e marginalizadas. (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2020c, n. p.) Além do ODS 13, outros objetivos estão relacionados às mudanças climáticas, como estes presentes nas ODS 2, 14 e 15 (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2020b, 2020d, 2020e): 2. Fome Zero e agricultura sustentável “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.” 14. Vida na água “C ã t tá l d d Tais objetivos estão indiretamente relacionados ao combate às mudanças climáticas, já que, como vimos ao longo deste estudo, essas transformações no clima trazem riscos à segurança alimentar e à conservação dos oceanos e da vida terrestre. Logo, combater a mudança climática tem uma relação direta com a busca pelo desenvolvimento sustentável. “Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável”. 15. Vida terrestre “Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra, e deter a perda de biodiversidade”. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os impactos ocasionados pelas mudanças climáticas podem ser divididos em cinco dimensões: biodiversidade, recursos hídricos, agricultura e segurança alimentar, infraestrutura e migração. Com relação à dimensão da agricultura e segurança alimentar, podemos afirmar que: A A preocupação com a segurança alimentar terá destaque nos países em zonas temperadas. B Países desenvolvidos não têm capacidade técnica nem econômica para se adaptar a esse nível de mudanças. Parabéns! A alternativa C está correta. As mudanças climáticas poderão levar ao aumento de períodos de seca, os quais trazem prejuízos para a produção agrícola, que pode não se adaptar às novas temperaturas. Com isso, a segurança alimentar, ou seja, a busca de alimentos de qualidade e quantidade suficiente para todos, é prejudicada. Tais mudanças podem, portanto, prejudicar a segurança alimentar a partir do impacto negativo sobre a agricultura. Questão 2 Sobre o ODS 13, assinale a alternativa que corresponde a um desafio da sociedade frente às mudanças climáticas presente nesse objetivo. C As altas temperaturas poderão causar grandes secas que afetarão a produção agrícola. D Países agroexportadores poderão ter ganhos com a ampliação das mudanças climáticas. E A água não deixará de ser um recurso universal. A Criação de um fundo para que países em desenvolvimento transfiram recursos para os desenvolvidos a fim de combater as transformações climáticas nessas regiões. B Metas de conservação de vida nos oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. C Ações de proteção e uso sustentável dos ecossistemas terrestres. Parabéns! A alternativa D está correta. Os objetivos de desenvolvimento sustentável contidos no ODS13 buscam promover medidas urgentes no combate às mudanças climáticas e seus impactos. Entre suas metas, consta a busca por uma integração das medidas de combate às mudanças climáticas com planejamentos nacionais, estratégicos e políticos. Considerações �nais Ao longo deste estudo, vimos que as mudanças climáticaspodem gerar grandes impactos nas sociedades e no próprio meio ambiente. Grandes esforços, portanto, precisam ser realizados conjuntamente em prol da mitigação das emissões de GEE. A cooperação entre países é necessária, já que o aumento da temperatura global gera impactos em todas as sociedades. A adoção de políticas para minimizar a mudança do clima pode não reverter alguns impactos já ocasionados, como o aumento do nível do mar e da incidência de eventos extremos, mas deve contribuir para a mitigação dos impactos ainda mais profundos que poderão ocorrer ao longo do século XXI. Podcast D Tomar ações para que ocorra integração das medidas de combate às mudanças climáticas com planejamentos nacionais, estratégicos e políticos. E Garantir segurança alimentar e ações para uma agricultura sustentável. Para encerrar, ouça o podcast e conheça um pouco mais sobre o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas e as suas ações. Explore + Para saber mais sobre a mudança climática hoje pelo mundo, pesquise na internet e conheça o Climate Action Tracker (CAT). Trata-se de uma plataforma independente que rastreia a ação climática dos governos, fornecendo uma análise aos formuladores de política. Isso é feito a partir da colaboração de duas organizações: Climate Analytics e New Climate Institute. O CAT quantifica e avalia os compromissos de mitigação das mudanças climáticas e identifica se os países estão no caminho certo para cumpri-los. Referências BARCELLOS, C.; XAVIER, D. R. Mudanças climáticas e os impactos na saúde. Análise de Situação em Clima e Saúde. Observatório Nacional em Clima e Saúde, 2017. BRASIL. Acordo de Paris. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2017. BRASIL. Adaptação à mudança do clima. Consultado na internet em: 31 jul. 2020a. BRASIL. Compromissos estabelecidos na convenção-quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima (UNFCCC). Consultado na internet em: 31 jul. 2020b. BRASIL. Financiamento para mitigação e adaptação em mudança do clima. Consultado na internet em: 31 jul. 2020d. BRASIL. Mitigação da mudança do clima. Consultado na internet em: 31 jul. 2020c. BRASIL. Protocolo de Quioto. Consultado na internet em: 31 jul. 2020e. FORTIN, E. Mobilités électriques et réduction de l’impact environnemental. L’École des Ponts ParisTech et la Fondation d’entreprise du Groupe Renault. Publicado em: 2017. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Mudança climática. Consultado na internet em: 31 jul. 2020. IPCC. Climate change 2007: mitigation. 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