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CIÊNCIA POLíTICA OS PAÍSES DO TERCEIRO MUNDO E SUAS OPÇÕES POLÍTICAS FANNY TABAK ProL da Facu!dade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara O panorama político internacional apresenta, sem dúvida, ao cientista social, neste segundo pás-guerra, um vasto campo para a observação e o estudo de um grande número de fenômenos noves. Isso diz respeito, particular mente, aos estudiosos da ciência política, que ainda hoje se encontra na dtuação de ciência menor, dentre as ciên cias sociais. Aumentam as possibilidades de realização de pesquisas empíricas, dentro de uma ampla multiplicidade de linhas e tendências. _ Podemos mesmo afirmar que jamais na história da humanidade houve um período tão rico de experiências novas no terreno da ação política. Um dêsses fenômenos nevos e significativos é a emer gência de dezenas de nações recentemente libertadas da situação de colônias e sua participação ativa e marcante no cenário mundial, no debate e na solução dos problemas políticos cruciais que o mundo contemporâneo enfrenta. Cada vez mais, êsse conjunto de novas nações, que cons tituem o denominado "Terceiro Mundo", vem-se impondo como fôrça intermediária entre os dois grandes blocos de nações em que hoje se aglutina o mundo: capitalista e socialista. Não é de admirar, por conseguinte, que tais países venham merecendo uma atenção especial de soció logos, economistas e cientistas políticos, nem é de estranhr:r J L·L!;O-~ETE.\\BRO/l 9fi,7 - 26- que existam posições doutrinárias muitas vêzes opostas, na interpretação dos fatos a êles relativcs. Demonstração eloqüente da transformação que so freu o map:1 político do mundo nestas últimas décadas é dada pelo Quadro n.o 1, apresentado abaixo. Num período histórico de apenas quarenta anos, uma únic:1 geração, o J::anorama polítíco sofreu transformações muito profun dss. As colônias, semicolônias e domínios, que em 1919 congregavsm 77,2 % da população do globo terrestre, tiveram essa proporção reduzid'3 para 1,4%, no início de 1964. Tornaram-se soberanos, a partir da década de 20, Est",dcs que abrigam nad3. menes de 42,6% da popuiação tetal do mundo e que ocupam uma superfície que corrE~ p:::nde a 56,4°é, ou seja, m2is da metade da superfíci:: t-=:t=:l do gl::bo. "A "Revolução Africana" emancipou, durante os últi mos 20 anos, cêrca de 200 milhões de homens", afirma Jean Ziégler, sociólogo francês que se vem dedica:1do 20 estudo de problemas do Terceiro Mundo. 1 Exemplo expressivo é o do império col~ nial francês, que na déc=:d3 dê 40 abrangia 12 milhões km2 , espalha dos pela Ásia, África e América, abrigando um total de 70 milhões de pessoas E. que hoje não vai além de 150 mil km2 habit",dos por um milhã~ de sêrES (departamentos e territórios de além-mar). Em pouco mais de dez anos, libertaram-sé da dominação colonisl francesa três países asiáticos (Vietnã, Laos e Cambodge), três na África do Nc rte (Tunísia, Argélia e Marrocos), tornaram-se inde pendentes a África Negra e Madagascar. É preciso observar que desde o término dSi 2.a Guerra Mundial, o número de países que conseguiu emancipação política atingiu a elevada cifra de 63. Isso explica em parte :1 extrema ccmplexidade da tomada de decisões !=O!" parte ce org;miz2ções internacionais, cemo a ONU cu 1) .T ean Ziégler - Sociologie de la nouvelle Afrique - Paris, 1964, pago 11. [IE\ISTA DE CIC'\CIA POLiTíCA <,?U/,lll:O N." 1 r .. I\I',\ 1'<J!Xr.CO D() M\JI',f)() EM l'Jl(J E NO INICIO 111:: 1'1,>"1 I - O mu"do inteiro ....... . I. l'vIundo se, ialic~a P(";10 do 11111Pdo II -- Grande, potê'llcias imperia listas (EUA, Grii-bretnnhn, Akm8nhn Fedeml, Japão, TtnEa) e "llé" c"lôni:l~' '" 111 --- ~rôda~.; as colúnia<.õ, sl'micolô- ni;ls c os cl'OInÍlliT'; ...... . IV .. _- A"tigos l'"í.,(':, c"Jolli"i:; e SI- micololliHis que se tornarntn Estados soberanos f'PÓS 191') (ezclu' ive E<tados ,;ocialis- tas) ................... . Sup~rfí"ie r.~ilhõ('s km" (o' .0 135,3 21,7 100 16,0 113,6 84,0 00.3 44,5 101,5 77,2 FONTE: "Ec()nomie et politique", nov.l1964, pág. 17. 1<)11) Popula,ã() li1ilhô~s IIbs 1 777 138,0 1639 855 1 230 ~() 100 7,8 92,2 48,1 69,2 Iníci" de 19ó4 Sllperfície População .' mililc)l's r' mil!,ões (>' lon:! n hbs ,0 135,:~ !OO 3240 100 35,2 :>6,0 1 134 35,0 100,1 74,0 2 10(í 65,0 14,3 10,6 524,R 16,2 9,:~ (),R <\5,8 1,4 76,} 56,4 1380 42,6 - 28- outras, uma vez qUE: o número de participantes cem àireito não só a voz, mas também a vote, é hoje muito maior do que no início da década de 40. Isso cria alguns problemas cuja solução nem sempre é fácil, principalmente se conside rarmos o esfôrço persistente das grandes potências em conquistar para a sua esfera de influência essas nações novas. A recente crise do Oriente Médio serviu justamen te de exemplo para essa medição de fôrça!!, poderíamos dizer assim, entre os blocos socialista e ocidental. Não foi sem razão que 1960 foi dec1araào o Ano da África, pois assistiu à libertação da maioria dcs novos Esta dos. Êle representa ainda c início de uma busca intensa de novas soluções e de caminhos originais de evolução social (; política, que correspondam às necessid::des espe cíficas de cada um dêsses Estados. Ts.mbém não foi por acaso que se verificou essa ema~ cipação sucessiva de um número tão grande de nações. Ela foi conseqüência de uma série de fatôres, de importância va riável dentro do conjunto, mas que se relacionam direta mente com a pressão exercida p:r Equêles povos contra a dominação da metrópole, muitas vêzes de guerras cruen tas (como foi o caso da Argélia, onde' a luta se estendeu por sete anos, ou dc Vietnã) ou da compreensão, por p:::rt0 da metrópole' colonizadora, de que não lhe restava outro recurso senão concordar com a independência (êsse foi o caso, inúmeras vêzes, para as ex-colônias britânicas, que passaram, aliás, a integrar a Common wealth). Há autores que atribuem à Grã-Bretanha uma política mais inteli gente em relaçãe- a êsse problema, do que' aquela adotada, per exemplo, pelos colonialistas franceses ou belgas. Veja-se, a êsse respeito, o que diz Kwame N'Krumah: "Nenhuma petência imperial jamais concedeu a indep~n dência a uma colônia, a não ser que as fôrças fôssem tais que não houvesse outro caminho possível E.' há muitos casos em que a independência só foi alcançada através de uma guerra de libertação, mas há muitos <:utros em que não houve tal guerra. A própria organização das fôrças de independência dentro da colônia foi suficiente para con- f.'E\'ISTA DE Clt"CIA P:·L:TiC\ - 29- VEncer a potência imperial de que a resistência à inde pendência seria impossível ou que as conseqüências pclí ticas e econômicas de ums guerra colonial excediam qual quer vantagem a ser obtida pela conservação da colônia." 2 A busca de um caminho original de desenvolvimento social e político, os anseios de auto-afirmação, no sentido do exercício efetivo de uma soberania recém-conquistada, a defesa intransigente de soluções específicas, que levem em conta as peculiaridades próprias que decorrem do nível de evolução histórica alcançada por aquêles países - eis aí algumas das características significativas que tornam o estudo das nações novas que constituem o Terceir·: Mundo um foco de atração para numerosos cientistas sociais e políticos. Não é de admirar, pois, que o VI Congresso Mundial de Scciologia, realizado em Evian em setembro de 1966 tenha previste, um grupoE'special de estudo, para o exame dos problemas que afetam as "Nações Novas". E o número de comunicações .spresEntadas para debate é bem um índice do interêsse que tais problemas desper tam. Fato significativo é que não só o €stud: empírico, mas também o esfôrço de elabor2,ção teórica dos novos fenômenos suscitados pela emergência das novas vêm sendo realizados não apenas por especialistas já amadure cidos, em CEntros culturais de renome (éo caso da Fran ça), mas pelos próprios representantes dcs países africanos E' asiáticos, que dão assim uma ccntribuição original e bási ca, pois alicerçeda num conhecimento direto e aprofundado da realidade secial por êles próprios vivida em seus países respectivos. Já -Existe hcje na biblicgrafia universal um número razoável de obras de autoria dos dirigentes políticos d:::s jovens nações (dentro ou fera do govêrno), a tentativa de interpretação teórica ou idEOlógica dos problemas que 2) Kwame N'Krumah - NeocolonÍl3Iismo - último estágio de imperia Esmo, Rio, 1967, Ed. Civilização Bra'ileira, pág, 305, J U, HC1-SETE.'IBRO/l 9t,7 .-.. " uv tais países vêm enfrentando, em sua luta por superar o atré'.SO eccnômic: e social em qUE; se encontram. Exemplc disso são cs trabalhos de Kwame N'Krumô.h, ex-presidente (deposto) da República de Gana; L€Opold Senghor, pre sidente de Senegal; Jchn Kenyatta, presidente do KEnya e muitos outros. Tais obras expõEm, via de regra, as idéias qUé têm norteado a ação política de seus êutores, à frente dos governos de seus países e permitem ter uma visão inte grada, mesrnc que às vêzes superficial, da posição ideoló gica de tais dirigEntes. Fato marcante, dentro do cenário pc1ítico em que se veo desenvolvendo a evolução de t"is países, é a t::ndên cia publicamente manifestada por numerosos dcquelEs dirigentes políticos, no sentido de uma opção de ccráter sccialistê, cu seja, o desejo declarc.do de construir uma so ciedade socislista. Acreditsmos que uma das causas qv.e explicaria semelhantE: fato seria o recrudEscimento da ação do neocolonialismo. o NEOCOLONIALISMO E OS EMPECILHOS AO LIVRE DESENVOLVIMENTO Pela simples razão de que um numeroso grupo de JOVEns nações tenha conquistado a ind~pendência pclítica. issc não significa ainda, como tem demonstrad;: a expe riência histórica dos últimos anos, que tais países já tenham ::; ssegurc.:do um livre desenvc1vimento sacie 1 fê' econômico. Ou que os entraves a tal desenvolvimento, que existiam antericrmEnte à data da proclamação da independência, tenham sido eliminados de uma vez pars sempre. Ao contrário, persistem numuu:os eleme:1tos c;.ue imp~dem aquela evolução livre a ritmos suficientemente acelerados. São tais elementos que ccnstituem, em SEU con junto, c que se conhece hoje como "r~eccoloniali~mo". !:: Eão são poucos os autoró'S que se têm dedicado uL:ima msnt€ a estudar ss manifestsções de tal fenômeno, em suas '.'s6é:das formas - econômicas, sociais e políticas. - ::;1- "O neocolonialismo de hoje repré:senta o imperialis mo no seu estágio final e talvez o mais perigoso - afirma N'Krumah. 3 No passado, era possível converter uma m:ção à qual tivesse sido imposto um r~gime neocdcnial - o Egito do séc. XIX é um eXEmplo - em um território colonial. Hoje, êsse prccessG não é mais viável. Em lugar do cclonialismo, como principd instrumente do capitalis mo, temes hoje o neecolonialismo. A essência do nEccolo nialismo é de que o Estado que a êle está sujeito é teori camente ind!õpêndente e tem tcdes os adornos exteriores da soberania internacional. Na reslidade seu sistema eco nômico e portanto seu sistema político é dirigido do exte rior. Os métodos ~: a fe rma de direção podem tomar vários aspectos. Por exemplo: num caso extremo as tropas de uma potência imperialista podem guarnecer o território de um Estado neocolonial e controlar o seu govêrno. Mais co mumente, no entanto, o contrôle neocolonialista é exercido através de meios econômicos ou monetários." ~ Portanto, o neocolGnialismo não é senão a ccntinua çãe do colonialismo, através de outrcs meios. O elemento nôvc que êle introduz é a substituição do antigo sistema d~· administração direta por um contrôle mais cu menos oculte dos noves governos, nos países recém-libertados.+- É claro que existe uma base objetiva para a existên cia do nEOcolonidismo, afirmam muitos autores. Ela resi de na "desigualdade de fato" que se verifica entre os países altamente desenvolvidos e os países agrários atrasados, cujas fontes' de recursos derivam fund2mentalmente do comércio exterior de produtos primários. Êsse é o caso, ainda hoje, de dezenas de países da Ásia, África e Amé rica Latina. Daí a persistência das "trocas não-equivalentes", de nunciad9s por tantos economistas e apontEdas como uma das causas diretamente respcnsávc::is pelo crescimente eco r..ômico lento dos países subdesenvolvidos. "O ch2mado "comércio invisível" dá aos mor..opólios ccidentais aind3 outro meio de penetr2ção econômica. 3) Op. ciro - If'trcàução. Il·Ui0-SETE.'IBRO /1967 - 32- Mais de 90% do transporte marítimo mundial é contro lado pelas nações imperialistas" - diz ainda N'Krum8h.~ Sem mencionar os acôrdos de cooperação econômica, que dão às ex-metrópoles ou a outros países altamente industrializados o direito à intromissão em finanças inter nas, a protEção aos juros de investimentos privados, a de cidir sôbre come serão empregados os fundos, que se des tinam, quase sempre, à compra de produtos manufatura dcs ~rcduzidos pela nação doadora. Tais condições se aplicam à indústria, ao comércio, à agricultura, navegação e seguros. E a isso se acrescem as cláusulas de natureza política e militar. "A independência nem sempre é a "descolonização" - assim intitula René Dumont, conh~'cido especialista em problemas econômiC'c s dos países subdesenvolvidos, num dos capítulos de seu sugestivo livro L' Afrique noire est mal partie.5 Nas novas condições ds' neocolonialismo as ex-colô nias continuam a servir de fonte de investimentos de capi tais, para as ex-metrópoles ou para outras grandes potên ciss e seu território continua a ser utilizado como base militar ou elo integrante de uma rêde estratégica mais ampla. Além disso, o fato de que se mantenham os laço:; culturais com a ex-metrópole, ·c uso do idoma implantado pelo colonizador, de um sistema de ensino análcgo, 2. for mação universitária ou especializada que continua a pro cessar-SE' na própria metrópole, através de cursos que se destinam à formação dcs quadres administrativos diri gentes - tudo isso determina que se prolongue uma influ ência que lançou raízes profundas, ao longo de decênics de colonizacão direta. Não são poucas as dificuldad€s que daí decorrem, se levarmos em conta que muitos dêsses países ainda hoje enfrentam o problema da instituição de uma língua única, acima da multiplicidade dos dialetcs 4) Op. cit., pág. 286. 5) Paris, 1962, capo VI, pág. 63. I!E\IST.-\ DE Clt"CIA POLiTIC.-\ locais, de superar as diferenças e os antagonismos tribais etc. Essa nova política colonial "tornou-se necessária", na opinião de sociólogo francês Jacqué'S Arnault. "Ela era possível - diz êle - devido à necessidade absoluta que tinham os países ex-coloniais de obter, para o seu desen volvimento, o concurso dos países industrializados; dentre todcs os concursos possív,eis, o da antiga metrópole era, por tôdas as razões apontadas, aquêle teoricamente mais ren tável. Além disso, neste momento, quem apresenta uma procura mais apressada não é o consumidor mais desen volvido, m§ls o outro; é verdade que os países ex-coloniais detêm as reservas mundiais de minérics e de matérias- 1=rimas de que necessitam os países avançados. Mas êstes possuem os meios de pressão."6 Não há dúvida de que para compreender o que acon tece realmente hoje no mundo é preciso conhecer as influ ências e presões econômicas que estão por trás dos acon tecimentos políticos. AS OPÇÕES SOCIALISTAS DOS NOVOS ESTADOS AFRICANOS Um dos fenômenos que vem chamando a atenção de numerosos estudiosos de ciência política nos últimos anos têm sidc as declarações públicas de dirigentes de vários Estados africanos, em favor de uma opção socialista ou, como dizem os sociólogos soviéticos, por exemplo, a esco lha de um caminhe não-capitalista de desé'nvolvimento eccnômico e social. Tal opção está em alguns casos institucionalizadae se e'xpressa de maneira textual na Constituição que rege a organização política do país, como é o caso, entre outros, da Argélia. A "Carta da Argélia", adotada no 1.0 Congres so da Frente de Libertação Nacional (16-21 de abril de 1964) dizem seu 1.0 item: 6) Jacques Arr.ault - Du co/cnialisme au socialisme - Paris, 1966. pég. 218. - 34- "O exame dos problemas existentes leva a pensar que o conjunto deve ser estudado à luz das três teses seguin tés: a) Unidade da política e de instrumento de socia lização; b) Necessidade de melhorar a utilização das POSSI bilidades existentes e de ampliar ao mesmo tempo o po tencial produtivo do país; c) Escolha do modos dt financiamento de desenvol vimento e da manutenção, compatíveis com a opção so cialista.'" Nos itens seguintes está previsto superar o desequi líbrio existente entre o setor sccialista e o capitalista, dando ao primeiro os meios necessários ao seu desenvol vimento harmonioso. Isso deverá conduzir a que o setcr socialista ss· torne "o verdadeiro motor da vida política e econômica do país e a reduzir progressivamente o papel e a influência de setor privado. Numa segunda etapa, de verá ser possível ao setor socialista tomar totalmente em suas mãos as principais alavancas da vida econômica do país. Essa nova etapa deverá ser atingida dentro do mais breve prazo possível. Somente então, aquilo que nós deno minamos unidade da política e do instrumento de sociali zação não se aplicará mais apenas ao setor socialista que se defende dos ataques do setor capitalista, mas à totalidade da vida econômica e política do país". R E buscando pôr em prática essa opção claramente enunciada, o govêrno argelino tomeu a iniciativa da insti tuição do sistema de autogestão para o conjunto do setor agrícola,9 medida essa considerada como a mais impor- 7) "Carta da Argélia" - in Economie et poli tique. nO 130, mai 1965, pág. 15. 8) Idem. 9) É o Decreto de 21-3-1963 que regulamenta a organização e a g~tão das explorações auto geridas. Estas são organizadas em pequenas repúblicas democráticas, nas quais os trabalhadores constituem O "poder legislativo". A Assembléia Geral dêstes elege o Conselho de Trabalhadores, que escolhe o Comitê de Gestão (3 a 11 membros) e seu presidente. O Diretor, nomeado pelo govêrno, é o "poder executivo" (é o representante do Estado na em prêsa). RE\"I~T.~ DE (lf:',C:A POLíTiCA - 35- tante dos seus atos revolucionários. Ela visava impedir a formação de uma nova classe de grandes capitalistas arg~ linos e implantar um setor de "vocação socialista" (deno minação dada pelos próprios dirigentes daquele país) com uma estrutura amplamente coletivizada ou estatizada, ba seado em unidades modernas de produção. Além dessa experiência original no setor agrário (acompanhada, aliás, de uma série de outras medidas que integravam a reforma agrária empreendida naquele país), cumpre assinalar ainda alguns aspectos essenciais das trans formações realizadas no setcr industrial socialista. Em junho de 1965, III a história daquele setor la abrangia três fases: l.a) aquela em que existe uma enor me maioria de oficinas dispersas, marginais, pouco rentá veis, sem estoques nem fundos e cujo material não foi re novado desde 1855; 2.a ) os decretos de marçc de 1963 11 instituem a autogEstão operária e à base das emprêsas va cantes, fica implantado um "setor de vocação socialista", em parte nacionalizado e em parte submetido à autogestão; 3.a ) a indústria de vocação socialista está definitivamente im platada e adquiriu enorme importância entre os diferentes ramos da produção. O setor industrial socialista é dominan te entre as indústrias alimentícias (que respresentam 50~~ da renda criada f:ela indústria) e tem o monopólio da pro dução de alguns prcdutos. Êle é importante nas indústrias de material de construção, madeira, papel, fumo, cortiça. Está solidamente implantado nas indústrias metalúrgicas e mecânicas, onde controla uma quarta parte dos operá rios empregados, na Argélia, dEntro daqueles ramos. Tem uma participação que não é desprezível nas indústrias 10) Cf. Democratie nouveIle, n.o especial dedicado à Argélia, "país re volucionário do Terceiro Mundo". 11) O Decreto de 18-3-1963 define os "bens vacantes": as explorações ou emprêsas que cessaram sua atividade ou que têm uma atividade reduzida, anormal (agrícolas, florestais, industriais, comerciais, financeiras ou minerais). Tal decreto legaliza a ocupação de tais emprêsas pelos operários. Tal decreto legaliza a ocupação de tais emprêsas pelos operários e determina o seu campo de aplicação. ]tl.HI'·5ETE.\\RRO. 191i7 - :16- têxteis e químicas. Excetuandc-se a exploraçãc do petróleo e do gás, êle domina o setor da mineração. No conjunto, o setor industrial socialista emprega mais da metade dos operários e prcduz mais de um têrço da renda industrial da Argélia. No entantc, apesar dessas transformações radicais que se produziram na economia argelina, a dependência econômica do país s~: manifesta ainda pela importação maciça de produtos manufaturados. A Argélia depende dos países altamente industri21izados da Europa, princi palmente da França. E como se vê pelo quadro abaixo. I:: predominam produtos primários: QGA~~TIDADE ARGELINAS (tC:l.. ) Importações: Cereais .......... . 19.9 Laticínios 43,S Açúcar lS-LJ 14.5 Produtcs ào petró!e;) 1 313,') ~.Icf.quinas p apa:el!!'J3 52,') Exportações: Frutas fre~")c2'i - . ~, ) l-J3.'J 1 -f 51,1) Petróleo bruto __ . , ....... _ . , .. , , 12 700,.) PrcdutJs deriv3d0s da pe~_:-,jleJ 031, } 12) in "Democ~at:e nouv~lle". j~nho 1955, pág. 9'3. VALeR (milhões ·1'3 franco,,) 1 g,3 135,4 1 77,~ 1 Ó·'J,O 225,5 4::;3,,) ::07,5 '..l),~ 1 lS~,] 1 302,') 9~,4 - 37- Significativo é o fato assinalado pelo filósofo marxista francês Roger Garaudy.l:1 "O povo argelino escolheu o ca minho do socialismo. E êssé' socialismo, êle o deseja com um caráter especificamente argelino." A insistência sôbre o caráter "islâmico" do caminho argelino para o S'ccialismo tem antes de tudo uma signifi cação nacional, salienta aquêle autor: durante os 130 anos da dominsção cclonial da França na Argélia, o Islão pôde ser utilizado pelo ocupants e servir de justificação para a "colabcração", restringindo seu ensinamento ao da "resig nação". M2S êle adverte que o Islão serviu muitas vêzes como elemento de resistência às tsntativas de desperscna lizé.ção colonial - êle era simultâneamente a crença, a língua e a cultura, que não eram aquelas do ocupante. E muitas vêzes, a luta nacional começou Em nome da reli gião, antes de ser travada em nome da pátria. E Garaudy indaga: "Como então não compreender êsse apêgo comum ao socialismo e àquilo que há de mais i::1timo na consciê::1c1a r!ão só çatriótica mas também reli giosa, daqueles que tiveram de combater durante mais de um século contra a opressão qUE. era indivisivelmente social, nacional e religiosa ?"14 Numa série de artigos publicados pelo periódico .Alger Republicain, durante r:.ovembro E. dezembro de 1963, sob o título geíal "O caminho argelino para o socia lism'c", está expcsta a mEsma idéia de que êsse regime será. construído na Argélia por um "povo profundamente apegado à fé e à civilização islâmica". E para provar que isso não constitui um problema nôvo para o socialismo, apcnta-se c exemplo da Polônia, onde o catolicismo está ennlizado como em poucos países do mundo. Não são poucos os dirigentes de outros jovens Esta dos da África e da -Ásia que declararam publicamente suas 13) Roger Garaudy - "Traits spécifiques de l'option socialiste en AI gécie - in EroTIDmie et politique, n.O 130, rnai 1965. 14) Idem. )ULHO-SETE",BRO/1967 - 38- simpatias por uma edificaçãc socialista. Birmânia, Repú blica Árabe Unida, Gana, Mali, Guiné, Indonésia, Kenya, Senegal, Índia, Tunísia, Tanzania. Uma enquete muito interessante foi realizadaEntre estudantes africanos, sob o patrccínio da revista "Jeune Afrique", nc início de 1962, buscando dEterminar as várias orientações políticas. Divididos em três grupos: I (de es querda), que incluía jovens da Guiné e do Mali; II (do centro) - Costa do Marfim, Daomé, Senegal, Togo, Alto Volta e III (pró-ocidente) - do Camerum, Congo (Braza ville) , Gabon, foi-lhes apresentada a seguinte pergunta: "Qual o sistema econômico que você desej:::riar::ara o seu país ?" Eis o quadro com as percentagens obtid2s para cada uma das opções: GRUPOS A FA':OR DO TOTAL TI I~I S-ocialismo integral (mcdêk so- viético) .. 38('é 57""0 30"'0 38% Sxialismo comunal (modêlo iu- goslavo) .. 3f)C"c 21% 20~o 38% Socialismo liberal (mod210 es- candinavo) .. 20 0 ó 12°10 29c--'c 12% E.conomia liberal .. 7% 5% 7\0 6% "Não sei" .. 5""0 5% 40/0 6% Fonte: "Africa and the Communist World" - Ed. by Zbigniew Brzezniski, S~anford University Press, Califórnia, 1963. pág. 207. É claro nue issc não significa que todos êsses jovens tenham uma representação suficientemente clara, do ponto de vista teórico ou ideológico, do que seja realmente o sccialismo, mas tais tendências servem, de qualquer REVISTA DE CIE:-ICIA POLiTICA - 39- modo, como referência para o estado de espírito que do mina uma parte significativa da nova geração africana, aquela que deverá constituir, presumivelmente, as elites dirigentes. Um outro exemplo digno de menção, quando se examina o problema da opção socialista feita por jovens Estados integrantes do Terceiro Mundo é o da República de Mali. Por ocasião do VI Congr€'sso da União Sudanesa (seção do Rassemblement Démocratique Africain) reali zado em Bamako em setembro de 1962, foram definidas as orientações fundamentais dessa agremiação política.lá Foi ainda em setembro de 1960 que o Congresso Extraordinário daquele partido político optou em favor de uma econcmia socialista planificada. Nos dois anos seguin tes, o Estado maliense instituiu o monopólio da importa ção, em alguns setores, e o monopólio da exportação, o que, na opinião de Idrissa Diarra, secretário político da União Sudanesa, deveria ser "interpretado qualitativa mente come. o equivalente da política de nacionalização dos meios de produção, realizada nos países que haviam atingido o socialismo". E acrescenta: "O papel do comér cio de importação-expcrtação estrangeira, em países recen tem€nte libertados e em vias de desenvolvimento, que não dispõem de meios de produção, é de fato comparável ao papel dos meics de produção privados, nos países indus trializados. O único meio de produção real Em nosso país é a terra, que já pertence quase aos cultivadores, contrà riamente à maioria dos países que chEgaram ao sccialis mo." UI Os dirigentes do Mali afirmam que é preciso conside rar alguns fatôres básicos, ao abordar a questão dai passa gem ao socialismo: 15) Relatório apresentado por Idrissa Diarra, in Recherches Internatio nales, n.o 39-40, 1963 págs. 86-113. 16) Idem. ]LLHO-SETEMBRO/1967 - 40- 1.0 - êles partem dE. uma eccnomia subdesenvol vida, essencialmente agrícola' e pastoril, caracterizada pela ausência de meios de produção além da terra, o pequ€no artesanato e algumas modestas indústrias 'Primárias de transformação; 2.0 - saem de um longo período de dominação co lonial, que dEformou tôda a evolução social e é atre.vés da fração mais privilegiada da sociedade, apoiada numa apro vação popular, que se realiza a passagem ao socialismo; 3.0 - a orientação em favor do socialismo resulta de uma escolha delib~rada. em condições de paz, levando em conta a correlação de fôrças dentre do país, em seguida à independência, também obtida em condições de paz. Visando à concretizaçãc da linha geral de orientação do govêrno maliense. eis algumas das medidas por êle adotadas: a) no setor privado estrangeiro - o Estado detém o mcnopólio de cErtas importações e o das exportações, mas a substituição Jotal dêsse setor só se fará a longo prazo e progressivarr:ente. Hoje, êle ainda desempenha um papel importante; b) no setor privado nacional - o pequeno e médio comércio representa p2fcela significativa, como distribui dor que é dos artigos de primeira necessidade. A sua subs tituição está estreitamente ligada ao desenvolvimento do setor cooperativo de base, ao fortalecimento do papel do Estado, no que se refere ao comércio exterior, à criação de uma rêde estatal de distribuição e de coope rativas de consumo. Isso significa que o comércio priva do só pcderá ir desaparecendo de maneira gradm.l (embo ra o govêrno maliense admita que êsse setor constitui um freio ao avanço socialista). c) no comércio do Estado - cooperativas de con sumo, armazéns do Estado, cooperativas rurais. A impor tação e exportação são da ccmpetência da 80MIEX (80- cieté Malienne d'Importation e d'Exportation); HE\ISTA DE Clt"CIA POLfTICA - 41- d) criação de novos meios de produção - a indus trialização. "O fater determinante dE. nossa libertação eco nômica - afirma Diarra - do .eQ,.uilíbrio de nossa econo mia e de seu desenvolvimento harmonioso exige a fabri cação Em nosse pais de produtos manufaturados. Isso coloca o problema da criação de novos meics de produção, isto é, da industrialização em geral e das prioridades que devem ser dadas a seu modo de desenvolvimento."li Aliás, é preciso observar que o Mali não dispõe de nenhuma indústria de base: a própria indústria de trans formação é pràticamEnte inexistente. Daí a importância do estudo e da pesquisa das fontes de energia e das maté rias-primas e do problema agudo do financiamento. d) cooperativas de produção - é muito importante a contribuição do artesanato para a transformação socia lista do país e sua industrialização progressiva, pelo pêso, que ainda hoje representa dentre da economia nacional. Finalmente, os dirigentE,'s maiienses tomaram uma série de medidas práticas visando à luta contra o analfabe tismo, como meio de conseguir que a juventude rompa com a rotina tradicienal e sE' volte para uma vida nova, adote formas de atividade mais produtiva. No mesmo nível, coloca-se a ação sindical, uma vez que se leva em conta a rE's~onsabilidade crescente des assalariados na direção dos negócios da emprêsa em que trabalham. A autogestão da emprêsa, pelo conjunto dos assalariados, constitui o e bjetivo final da ação sindical. Também no Mali, do mesmo modo que na Argélia, a posição adotada pelo govêrno é a de admitir a compati bilidade da Edificação de uma sociedade socialista, num país de acentuada influência islâmica. "A quase unanimidade de nosso povo é crente e a imensa maioria é mussulmana. Contràriamente ao que se passou em outros países do mundo, a hierarquia religiosa 17) Idrissa Diarra, op. cit., pág. 101. JUI,HO-SETE.\\BRO;I96í - 42- jamais se opôs à nossa evolução política. Ao contrário, ela sempre se confundiu estreitamente com o povo, do qual saiu, cujo modo de vida ela compartilha, bem como as aspirações profundas. Além disse, ela não constitui um poder temporal nem uma hierarquia centraliz.sda, depen dente de outros países. Em tais condições, colocar o pro blema das rdações entre a religião e o socialismo, em nesso país, seria colocar um falso problema ou criá-lo artificial mente."IS Em discurso prenunciado a 22 de setembro de 1963, em comemoração ao 3.° aniversário da indepE'ndência do Mali, o presidente Modibo Keita declarou enfàticamente: "Desde 22 dE' setembro de 1960 que nós dclaramos pe rante o mundo quem somos e o que queremos. Os militantes da União Sudanesa - RDA declararam-se os coveiros do capitalismo no l\tIali. Não haverá na terra maliense, eu vos juro, nem exploradores nem explorados." E ainda: "Optar pelo socialismo é ternar o trabalhador proprietário dos meios de produção, o senhor da produção. Mas a constru ção do socialisme não é coisa fácil. Uma vez realizado o programa mínimo de socialização dos meios de produção,o perigo - que já apresenta vítimas na África - reside na luta contra nós mesmos, iste é, contra os ccmplexos criadl)3 em nós por numerosas décadas de um sistema de desper sonalização do humano.!H9 M2.s há outros dirigentes de Estados africanos, cujas declarações a favor de uma opção secialista não são tão claras ou precisas e em cujos países as transformações dE' estrutura não atingiram a profundidade daquelas que aca bamos de examinar. O presidente da Tanzania, por exemplo, Julius Nu yerere, define seu socialismo com a palavra "niamaa", que significa família, afirmando. que o socialismo existiu há muito tempo na sociedade africana tradicional e trata-se apenas de fazer renascer êsse socialismo "tradicional", de- 18) Idrissa Diana, op. dt., pág. 110. 19) Cf. Recherches lnte'rnationales, n.o 39-40, págs. 271-272. REVISTA DE CI~~CIA POLiTlCA - 43- turpado pelo colcnizador europeu capitalista. Para Nuye rere, o socialismo é a "contribuição do raciocínio que de senvolve nos homens o sentimento de elevada respcnsa bilidade pdo bem-estar de seus concidadãos", é um "mo dêlo de vida em que todos os homens são irmãos, membros de uma grande família".:''1 Existem ainda as várias concepções de socialismo "nacion.al", um de cujos represEntantes mais influentes é Leopold Sengho:-, presidente do Senegal. Também êle de fende um "terceiro caminho", de centro e mesmo de direita, expressão muitas VêZE'S de interêsses das camadas dirigentes, constituídas por representantes da burguesia ns.cional. Senghor propõe "buscar entre o mundo capita lista e o socialista um caminho médio de socialismo demo crático". Êle parte da afirmação de que a sociedade africa na moderna não conhece cls.sses nem antagonismos de classes e é por seu caráter "tradicionalmente socialista". Defende uma scciedade em que sejam defendidos os inte rêss€s de cada um" e "cada um divida a pobreza e a pros peridade".2! Um outro exemplo de "socialismo nacional" é aquêle defendido pelo govêrno hindu. Ainda em janeiro de 1955, Nehru proclamcu como política oficial do govêrno a cri", ção dE' uma "sociedade de modêlo socialista". A base eco nômica da mesma seria a propriedade estátal e coopera.: tiva dos instrumentos e meios de produçãc, a limitação da propriedade territorial E' o desenvolvimento de todos os tipos de cocperação, o que deveria conduzir a uma "redis tribuição das riquezas nacionais", a uma "igualdade" na distribuição da renda nacional e à construção do socialis mo. No entanto, são muito severas as críticas feitas por economistas e sociólogos, de tendência marxista ou não, a êsse tipo de "socialismo". Uma prcva que parece convin- 20) Cf. "Ujamaa: The Basis of Mrican Socialism", in T<mganika Standard, Dar es SaIam, de 26-7-1962, citado por V. Zotov in "Voprocii Filo sofii", n.o 1/966. 21) Cf. Socialist InternationaI InJormation, London, 1964 (vol. XIV, n.o lO, pág. 114). jCLHO-SETEMBRO/1967 - 41- cente é a de que !:.m apenas três anos (1960-19ó3) e11tr: ram no país 140 emprêsas privadas dos Estados Unides. 150 da Alemanhs Federal e 250 da Grã-B.-e:snha. Alé'-.1 ó~sc. foram insignificantes os progressos re2iizados ne q1.2e S'ó refere à promcção de uma reÍorm2 agrária. pois vinte anos após a independênci9, 5CYc da população possuem me t8dc da su:,:erfície cultivada DO país. As opções políticas dos jovens Estados do Terceiro 1Ylundo não são, evidentement~, as mesmas. E se bá algu71s dêles que:: lém d&s prcclamsções públic3.s em favor do sccialismo, já cheger2m a adotar realmente algumas medidas de natureza socialista, há outros que seguem uma pclítica de discriminação racial violenta, como é o caso da África do Sul ou mais encoberta, como acontece com a Rodésia, que em fins de 1965 adotou uma atitude de hostilidade radical em relação à Grã-Bretanha e em favor da mir.oria branca dirigente. Per outro lado, dentro da complexidade do cenano político mundial, t:: 1 como se apresenta nos dias ds hoje, 8.2 G'pções politic2s ;:dotadas num determinsdo momento podem sofrer me dificações bastante profundss e um certo curso evolutivo, ds tendências soclalizantes, digamos sssim, pode ser bruscamente interrompido. Êsse foi o caso, por exemplo, em Gana, com a destituição abrupta do presi dente Kwams N'Krumah. através de um golpe milite f, em fins de 1965. Não são fáceis cs problemas que enfrentem 2S jcvens nações que conquistaram recentemsnte sua independência política. Pelo contrário, se por um lado as condições de avanço técnico e científico permitem atualmentE. um de senvolvimento econômico e social em ritmos muito mais acelerados de que há um século atrás, por outro, os choques políticos E. ideológicos que opõem as gr2.ndes potências, altamente industrializadas, se refletem sôbre as nações f,EViST,\ DE Cltl-õCIA POLfTllA - 45- menos desenvc1vidas e dificultam ou mesmo impedem o seu livre desenvolvimento. Há que considerar ainda as características especí ficas internas de cada um daqueles jovens Estadcs. Fator importante é, sem dúvida alguma, a estrutura de classe que apr€'senta cada um e que poderá explicar, pelo menos em parte, certos aspectos de curso evolutivo seguido pelo país em questão. É sabido que a diferenciação de classes não atingiu ainda, pelo m~nos na maioria dcs Estados africanos, o mesmo nível apresentadc, por exemplo, na América Latina. No Mali, país em que, como .vimos acima, foram realizadas transformações econômico-sociais, bastante profundas, essa diferenciação é das mais fracas e, além disso, o feudalismo não tinha raízes profundas. A burguesia é representada por uma camada pouco numerosa de comerciantes e empresá rios médios. O campesinato está no estágio das relações comunitárias tribais, o que, na opinião de alguns estudio sos, facilita as transformaçc€s econômicas '€-' sociais de caráter não-capitalista. J á no Egito, a situação é muite diferente, a diferen ciação de classes é muito maior e tôdas as classes funda mentais da soci::d"de capitalista já estão delineé.das em maior ou mencr grau. André Weismer,"" sociólogo francês que se tem dedicado ao estudo dos problemas africanos, preocupa-se com as pcssibilidad::s resis que 2presentam êsses países, de superação mais ou menos rápida do atraso secular em que s~' encontrsm. PEra os sociólogos e cientistas políticcs soviétices, "as contradições evidentes qUe aparecem nas concepções do "socialismo nacional" €' as medidas scciais e eccnômicas que as acompanham têm su9. fonte na natureza antagô nica das classes e grupos sociais que estão no pcder na maicria dos jovens Estados soberanos". ~3 22) André \Veismer - L' Afrique, peut-elle partir? - Paris, 1965, 23) fdirovaia Ekonomika i mejdutl&rodnie Otl'l'xhenia, n.O 5, 1963. )LI.Hl1-SETDIHI' ) 19'j1 - 46- Êles acreditam que para explicar a política s~guida p<lr muitos dos jovens Estados africanos e asiáticos, será necessário estudar mais profundamente os interêsses dos grupos sociais intermediários - pequenos proprietários ur banos e rurais, amplas camadas camponesas, intelectualida de, meios militares, funcionalismo - cujos representantes detêm o p<lder. Tais classes e camadas sociais, por sua posi ção intermediária, revelam notória instabilidade em suas posições políticas e ideológicas. Isso explicaria, possivel mente, o fato de que em alguns países o govêrno represen tativo de tais classes intermediárias adote uma linha de de senvolvimento prcgressista e, em outros, se lance a uma reação feroz. De uma ferma ou de outra, acreditamos que a nova exp~riênc1a que estão vivendo os países do Terceiro Mundo, principalmente as jovens nações africanss que buscam rumos diferentes de evolução econômica e social, ofers'ce ao cientista p~lítico uma grande variedade de temas para a pesquisa empírica e a elaboração teóricéi.
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