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Fichamento de Antropologia e Ciência Política Metodologia Filosófica, de Wunenburger & Folscheid Capítulo 1: A leitura dos textos I. Por que ler textos filosóficos? “A necessidade de uma relação direta e constante com os textos pode parecer evidente. Mesmo assim, é preciso compreender a necessidade em questão.” Os escritores, apresentam de maneira concisa, como a necessidade da leitura dos textos contribuem para o êxito no que tange as avaliações. “Desde a aprendizagem da língua materna, a educação se faz retomada de herança. Nesse sentido todo leitor se comporta-se normalmente como vampiro. Se você vier a ser filósofo, será por sua vez vampirizado. Essa é a lei da espécie.” “À primeira vista, os textos dos filósofos afiguram-se de fato como um meio de ‘conhecimento filosófico, uma vez que devemos obrigatoriamente passar por eles para ‘conhecer os filósofos que são Aristóteles, Descartes ou Hegel, ‘conhecer’ os conceitos e o vocabulário da filosofia, ‘conhecer os problemas que foram colocados e as soluções propostas’.” “A história da filosofia é indispensável a todo currículo universitário. Mas para que ela seja praticada de acordo com o espírito da filosofia, é preciso que duas condições fundamentais sejam preenchidas.” “Primeira condição: é preciso que a história da filosofia seja filosófica, o que a impede de contentar-se em ser uma história. Por isso ela tem seu lugar nos departamentos de filosofia e não nos de história, como obra de filósofos e não de puros historiadores.” “Segunda condição: é preciso que o pensamento assimile sua pressa.” “Isso equivale a dizer que a leitura filosófica dos textos não é primeiramente um meio de conhecimento, mas uma iniciação ao pensamento. É preciso conhecer, mas para pensar, e não conhecer por conhecer.” “Vê-se que a leitura dos textos filosóficos cumpre duas missões ao mesmo tempo, que jamais devem ser separadas: não há "conhecimentos" filosóficos sem iniciação filosófica, não há iniciação sem retomada de pensamentos já advindos.” II. Como ler textos filosóficos? “Para ler textos filosóficos, é preciso primeiro dispor deles.” “A passagem pela biblioteca, deve tornar-se um ritual.” “Nenhum dos modos de acesso aos textos anteriormente evocados substitui, no entanto, a posse de livros sempre à disposição, sobre os quais se medita longamente, que se pode rabiscar e anotar à vontade.” “Se você não sabe grego, deve deixar de lado esse quesito? Seria lamentável. Sabendo que, na falta de saber bem o grego, é útil saber um pouco de grego, procure todas as fórmulas de iniciação propostas na Universidade.” “Boa parte dos textos não coloca nenhum problema de escolha: trata-se daqueles cuja leitura é pedida ou recomenda- da pelos professores. Diretamente em contato com seus estudantes, eles sabem melhor que ninguém o que é necessário ler para acompanhar seus cursos, os quais, no começo, são sempre de iniciação.” “Evitaremos também a submissão à ordem cronológica, que pode mostrar-se útil, mas nada tem de necessário. O essencial é começar por autores e obras que realmente iniciem à filosofia e que não sejam de abordagem demasiado difícil.” “Para progredir, há apenas uma regra de ouro: dedicar-se regularmente ao exercício da leitura filosófica, ao menos várias vezes por semana, todos os dias, se possível. No início, é normal avançar muito lentamente. Não convém precipitar-se, querer forçar o obstáculo, sob pena de criar para si mesmo um muro intransponível de dificuldades acumuladas.” “A ‘leitura rápida’ no sentido estrito é uma verdadeira técnica, que se aprende e se cultiva.” “Aplicada aos textos filosóficos, tal leitura é mais ‘seletiva’ que ‘rápida’, mais descontínua que apressada. No entanto, ela supõe adquiridos os princípios básicos de leitura rápida: A ‘apreensão fotográfica das páginas do texto, [...] a substituição de uma progressão palavra por palavra, [...] a aplicação de uma extrema atenção. [...]” “É bom exercitar-se em vários tipos de leituras do texto no qual se está trabalhando. Por exemplo, procurar percorrer rapidamente certas passagens, a fim de se ter uma visão de conjunto. Depois passe à leitura "normal" do mesmo texto, para deter-se nos pontos importantes e praticar, então, uma leitura aprofundada. Mais tarde, volte à leitura rápida por ocasião desta ou daquela necessidade escolar, para deter-se de novo no que é mais importante.” “Tomar notas é indispensável para concretizar seus esforços, fixar ao mesmo tempo sua atenção e as ideias, preparar um exercício escolar, aumentar sua cultura, criar instrumentos de trabalho duradouros que aliviarão os esforços ulteriores e permitirão as revisões.” “A importância capital das fichas pode ser provada a contrário. Basta pensar nessa experiência tão aborrecida quanto corriqueira que é o esquecimento de textos lidos de maneira lenta e penosa, caso não se tenham conservado vestígios escritos do trabalho.” “As fichas são tão pessoais que é impossível fixar normas imperativas. Cada um deve aprender a conhecer-se em todos os seus aspectos para montar fichas que sejam as mais proveitosas.” “Para que uma leitura seja enriquecedora, é preciso igualmente assinalar e classificar os conceitos encontrados, fornecendo seu contexto (autor, livro, referências) e sua função, condições necessárias para que as definições indicadas sejam de natureza filosófica.” “Para a reflexão filosófica, ao contrário, as noções filosóficas jamais devem ser tratadas como entidades isoladas. Um termo filosófico não é um ponto de partida dado de antemão, que impõe seu sentido sem discussão, mas o resultado de um processo racional com seus pressupostos, suas implicações. Em suma, todo termo cumpre uma "função" num movimento de pensamento coerente. Seu sentido decorre dessa situação, e não o inverso. Jamais se parte de um sentido, chega-se a ele. O sentido é um resultado.” Capítulo 2: A explicação do texto I. Os princípios da explicação do texto “A explicação de texto não é um exercício entre outros, mais difícil que os outros, mas o melhor meio de se chegar diretamente ao pensamento dos filósofos.” “A explicação é uma tarefa bem delimitada, portanto estritamente limitada.” “A paráfrase é o pecadilho dos iniciantes, que acreditam agir acertadamente. Eles não dissertam, não comentam, tagarelam.” “Há normalmente um abismo entre a dissertação e a explicação: a primeira trabalha sobre um tema, a segunda sobre um texto. Mas o desvio é clássico. Consiste em apoderar-se do tema do texto ou do que se toma por tala fim de tratá-lo como se faria com um tema ordinário.” “Enquanto a análise consiste em partir da totalidade dotada de sentido para decompô- la em seus elementos, o pontilhismo produz apenas peças isoladas, tratadas como entidades separadas. Como o procedimento é sistemático, nenhuma seleção é feita. O essencial e o não-essencial são postos no mesmo plano. Também aí, o que é pressuposto, subentendido ou implica- do é necessariamente escamoteado, já que não existe sinal positivo que permita apoderar-se dele. Ao final do estudo, o texto está simplesmente desmembrado.” “Em seu princípio, a explicação de texto é a operação mais simples que existe. Consiste, como seu nome indica, em enunciar o que há num texto dado, nem mais nem menos. Explicar é desdobrar, mostrar o que está exposto, pressuposto, implicado, subentendido ou calado por um autor preciso, num lugar bem circunscrito.” “Durante a preparação da explicação, procure respeitar os princípios que seguem, certificando-se de que foram todos empregados no momento da redação definitiva.” “Para abordar um texto, cumpre antes de tudo colocar-se na atitude devida, isto é, em situação de receptividade.” “Contudo, não há com o que se apavorar. Pois resta um trunfo maior: o próprio texto. O texto não é apenas um objeto obscuro, é um guia. Ele é que vale, e somente ele.” “As respostasnão vêm de um só golpe. Se surgem imediatamente, temem-se más respostas.” “Vale para a explicação de texto o mesmo que para a dissertação: não existe plano padrão. O plano é simplesmente a forma que adquire um pensamento preciso ao perseguir um objetivo preciso. Portanto, as partes desse plano devem ser constituídas a partir dos grandes momentos do pensamento do autor.” “Uma vez terminada essa operação de desbravamento, obtém-se a ossatura do texto, que a argumentação do autor concretiza e instrumenta. Estando definido o quadro, passa-se à realização prática da explicação de texto.” II. A realização da explicação do texto “A introdução é uma verdadeira prova dentro da prova. De todos os momentos, é certamente o mais delicado. E sabido, aliás, que certos professores e examinadores acabam preferindo a ausência pura e simples de introdução para não terem de suportar o que se entende geralmente por esse nome. Mas não nos interessaremos aqui por essa metodologia do vazio. Pois, inversamente, uma boa introdução, bem- organizada e conceitualizada, irá dispor o leitor favoravelmente: nesse caso, a introdução serve de imagem em miniatura do trabalho de conjunto.” “A introdução, portanto, deve antes de tudo brilhar por sua sobriedade e sua brevidade.” “Evitemos também desperdiçar nossa munição e queimar nossos últimos cartuchos na introdução. Dito claramente; não demos as respostas, mas aguardemos a conclusão para fazer isso. É preciso sempre aguçar o desejo do leitor ou do ouvinte, sem hesitar em inquietá-lo com problemas que parecem temíveis.” “Passa-se a seguir à explicação detalhada do texto, momento por momento. Para tanto, após a indicação do título da parte que se trabalha, é preciso: Assinalar os termos importantes, [...] assinalar os problemas e questões encontradas, [...] destacar as articulações, [...] explicitar, para introduzir cada novo momento, [...] explicar os exemplos. [...]” “Concluir é uma operação tão delicada quanto perigosa. Geralmente pressionados pelo tempo, somos tentados a escrever qualquer coisa, obedecendo a reflexos escolares longamente experimentados, porém maus conselheiros.” “Aqui, evite tanto escrever de mais como de menos. Ao redigir, mantenha constantemente um olho no texto, em vez de deixá-lo de lado. Esse é o único meio de não derrapar, de reparar um erro ou um esquecimento.” Capítulo 3: Comentário do texto I. O princípio do comentário “Desta vez, não se trata mais apenas de expor o que um autor realmente disse num texto preciso, mas de estabelecer um diálogo com ele, a fim de dar ao texto considerado sua função no interior da obra da qual é extraído e de apreciar seu papel no pensamento filosófico do autor.” “Diferentemente da explicação, que pode ser realizada com brilho sobre um autor que se conhece pouco ou até nem se conhece, o comentário supõe conhecimentos precisos, lentamente adquiridos e bem assimilados. Supõe igualmente um trabalho assíduo sobre os textos dos comentadores.” II. A realização do comentário “O comentário irá assim aferir o nível filosófico de um estudante singular, que terá seguido determinado curso, efetuado determinadas leituras e digerido mais ou menos bem o conjunto. Isso implica muitos fatores particulares para que se possa propor uma metodologia sistemática e universal.” “Não há segredo: não se pode comentar um texto antes de saber do que ele se trata.” “Esboçadas tantas vezes quantas for necessário após a elaboração do plano detalhado, a introdução e a conclusão devem se ajustar às necessidades do comentário tal como foi construído.”
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