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Tema 4 - ciências humanas

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16/04/2024, 09:06 Introdução à História
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03223/index.html?brand=estacio# 1/54
Introdução
à História
Prof.ª Alex Andrade Costa
Descrição
A formação da História como campo da ciência ao longo do tempo e
suas principais bases conceituais e metodológicas.
Propósito
Dominar os conceitos e os métodos da história, bem como conhecer a
sua fundamentação como área do conhecimento, auxilia os
profissionais das Ciências Humanas e da Educação a conseguir analisar
fatos do passado de forma coerente e responsável.
Objetivos
Módulo 1
Mito, memória e tempo: o surgimento
da história
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Debater sobre a natureza da história, a especificidade de seu objeto e
sua metodologia.
Módulo 2
O conhecimento histórico e seus
fundamentos
Analisar as possibilidades da história como forma de conhecimento
crítico.
Módulo 3
O ofício do historiador: métodos,
técnicas e procedimentos
Debater sobre os procedimentos de trabalho do historiador, como os
critérios de seleção de fatos históricos, os recortes cronológicos ou
temáticos e a relação com as fontes.
Perguntas de um trabalhador que lê
Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?
Nos livros estão nomes de reis;
Os reis carregaram as pedras?
E Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem a reconstruía sempre?
Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a construíram?
No dia em que a Muralha da China ficou pronta,
Para onde foram os pedreiros?
Introdução
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Fonte: Bertolt Brecht, 1935.
As múltiplas interrogações a partir do trecho da poesia de Brecht se
somam a outra questão fundamental: o que é a História e qual é
sua utilidade no mundo contemporâneo? Tal pergunta não é
simples de ser respondida, pois a história tem passado, ao longo do
tempo, por sucessivas renovações da sua pesquisa e da escrita,
incluindo cada vez mais uma variedade de problemas, objetos e
fontes.
Nas seções seguintes deste conteúdo, apresentaremos os principais
elementos que levaram a área de História até o estágio em que
conhecemos hoje em dia. Além de seus métodos e conceitos
basilares, veremos sobretudo como se destaca o papel humano na
escrita da história. Trata-se, afinal, do historiador que, como sujeito
do seu tempo, também é por ele influenciado.
Como alertava Brecht, a história centrada nos grandes
acontecimentos e nos heróis já não atende mais à necessidade
demandada no presente. É preciso entender o papel de grupos
subalternizados e periféricos nos diversos processos históricos.
Trabalhadores, prisioneiros, mulheres, sujeitos em situação de
escravidão e toda uma leva de grupos sociais antes ignorados
ganharam espaço e “lugar de fala” graças a historiadores
comprometidos com essa historiografia. Porém, até se chegar a
esse ponto, o caminho foi bastante longo.
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1 - Mito, memória e tempo: o surgimento da história
Ao �nal deste módulo, você será capaz de debater sobre a natureza da história, a
especi�cidade de seu objeto e sua metodologia.
Memória e sociedade
Na mitologia grega, Urano (céu) e Gaia (terra) tiveram doze filhos – entre
eles, Mnemosine (memória), a deusa que opera as engrenagens do
esquecimento e da lembrança. Ela se uniu a Zeus; juntos, geraram as
nove musas.
Entre essas musas, estava Clio (história). Chamada de “a Proclamadora”,
Clio teria como missão divulgar e celebrar as realizações.
Mitologicamente, portanto, a história é filha da memória.
À ausência de memória, dá-se o nome de amnésia. Ela pode surgir por
três motivos:
1. Resultado de implicações de ordem psíquica devido a uma
perturbação mental.
2. Voluntária: criam-se meios para evitar se lembrar do passado,
alterando, por exemplo, uma fonte ou uma narrativa.
3. Involuntária: acontecimentos alheios à vontade humana podem
destruir ou apagar traços do passado (fontes históricas), como a
destruição do patrimônio, a perda de documentos ou a morte de um
depositário da memória.
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Fontes históricas
Segundo o historiador José d’Assunção Barros (2020), fontes históricas são
os diversos resíduos, vestígios, discursos e materiais de vários tipos que,
deixados pelos seres humanos historicamente situados no passado,
chegaram ao tempo presente por meio de caminhos diversos.
Chanuká: Festa das luzes.
Para alguns povos, a memória está conectada à sua história. O povo
judeu é identificado como o “povo de memória” no sentido de que
diversos rituais evocam o passado e são repetidos incessantemente ano
a ano (Festa das Tendas, Festas das Luzes, Purim e Páscoa são alguns
exemplos) não como meras celebrações, e sim como parte da história.
Da mesma forma, o cristianismo, que nasce do judaísmo, também é uma
religião de lembrança: “fazei isso em memória de mim” é o centro da
missa católica que repete o ato de Jesus Cristo na última ceia.
Os livros sagrados de ambas as religiões, a Torá e a Bíblia, são
compilados de histórias contadas e repetidas por milhares de anos antes
de serem transpostas para o papel. Contudo, o objetivo delas é servir de
recordação do processo de salvação dos fiéis das respectivas religiões.
Sociedades africanas também podem ser incluídas entre os povos de
memória. O historiador Amadou Hampaté Bâ, nascido na região que hoje
corresponde ao Mali, na África Saariana, explica a importância da
tradição oral e da memória para o seu povo em particular e para outros
tantos povos africanos, especialmente os do deserto, que, em sua
maioria, são pastores e nômades.
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Amadou Hampaté Bâ
Na tradição desses povos, a fala é um dom divino e é por meio dela que
tradições e saberes, inclusive aqueles relacionados aos ofícios de
sobrevivência cotidiana, como ferreiros, tecelões e trabalhadores de
madeira, eram transmitidos. Guardados na memória, esses saberes eram
transmitidos para as gerações mais novas a partir de processos
iniciáticos (HAMPATÉ BÂ, 2010).
Saiba mais
A história da fundação de Roma está ligada a uma origem mitológica:
dois irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, participaram da fundação da
cidade após terem sido abandonados no rio e salvos por uma loba que
os amamentou, mantendo-os vivos
A memória coletiva se afasta da concepção de memorização mecânica:
“enquanto a reprodução mnemônica
palavra por palavra estaria ligada à
escrita, as sociedades sem escrita [...]
atribuem à memória mais liberdade e
mais possibilidades criativas.”
(LE GOFF, 2003, p.426)
A memória é o vivido no qual tempos históricos e lugares muitas vezes
podem se confundir, sem haver linhas de separação rígidas como as da
história, que estaria mais fortemente marcada pelas divisões do tempo.
A memória coletiva, sendo assim, forma a consciência de um grupo
independentemente dos registros materiais do passado.
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Mas se a memória não é a mesma coisa que história,
o que, afinal, é a história?
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
É difícil escrever sobre isso, e se foi fácil é que você ainda não
entendeu bem. Por isso, passaremos a tratar o que é História,
passo a passo.
História é uma forma de explicar o que aconteceu no passado, embora
não seja a única. Como vimos, a memória também é uma dessas
formas. Outra ainda mais antiga que a história é o mito. Transmitidos de
geração em geração, os mitos serviam como explicação para as coisas
semcomprovação, dados e elucidações. Eles referem-se, em suma, a
acontecimentos difíceis de serem datados.
Lupa Capitolina: loba amamentando Romulo e Remo. Escultura em bronze, século XIII a.C.
Além de sua narrativa não ter demarcação cronológica, os mitos quase
sempre guardam uma lição sobre o que se deve ou não fazer. Mesmo
com o seu declínio, eles ainda continuam presentes em quase todos os
povos não mais como a única explicação do passado, e sim como uma
forma paralela de explicá-la.
Exemplo
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A história da fundação de Roma está ligada a uma origem mitológica:
dois irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, participaram da fundação da
cidade após terem sido abandonados no rio e salvos por uma loba que
os amamentou, mantendo-os vivos
História e sociedade
A História, como forma de explicação, nasce associada a outras
ciências, segundo uma perspectiva que atualmente poderia ser chamada
de multidisciplinar. Como, por exemplo:

Filosofia

Biologia

Matemática

Astronomia
Isso se deve tanto pelo perfil daqueles que primeiramente se propuseram
a registrar os acontecimentos quanto pela abrangência do que era
escrito.
Essa característica foi se perdendo, tornando a História uma área
particular do conhecimento, distinta e – por que não dizer? – distante
das demais. Tal fato somente se alterou no século XX com a renovação
da escrita da história, etapa em que se passou a dialogar com outras
áreas (desde a Antropologia até a Psicologia), incorporando também
novos objetos de pesquisa, questões e métodos interpretativos. Até lá,
porém, o percurso foi bastante longo.
Outras duas características da História permanecerão em sua escrita por
muito tempo. Ela, afinal, nasce com a intenção da busca da “verdade”.
Hecateu de Mileto, no século V a.C., se propôs a “escrever o que acho ser
verdade, porque as lendas dos gregos parecem muitas e risíveis”, aponta
Borges (1981, p. 17).
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Além disso, havia uma preocupação dos primeiros historiadores em
entender as questões do seu tempo sob as lentes da história. Dessa
forma, a palavra “história”, que vem do grego antigo historie, teve
diversas traduções.
a.C.
Atualmente o campo da história tem adotado uma designação AEC e EC -
Antes da Era comum e Era Comum. A tradição usa a referência AC e DC, tem
um viés religioso, que respeitamos, mas não é o centro do debate.
Historie
Heródoto, no século IV a.C. (considerado o primeiro historiador por usar a
palavra “história” no sentido de investigação, e não mais de conto), dedicou-
se a escrever sobre o principal acontecimento do seu tempo: a guerra entre
gregos e persas. Aliás, a grande ruptura entre memória e história está no
fato de que a primeira tem na oralidade seu meio de transmissão, enquanto
a segunda possui na escrita a sua principal estrutura de difusão.
Exemplo
A palavra “história” podia ser traduzida como “testemunha” no sentido
de “aquele que vê”, podendo também significar “procurar saber”,
“informar-se” e ainda um terceiro sentido: o de narração.
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Marc Bloch
Para evitar essa confusão de significados, algumas línguas criaram
palavras diferentes para se adequar aos diferentes significados. Em
inglês, existe uma distinção clara entre history e story (história e conto),
assim como em português, embora a diferença entre história e estória
(no sentido de “conto”) tenha caído em desuso.
A definição mais comum – da qual certamente você já ouviu falar –
sobre História é de que ela é a “ciência do passado". Tal definição é
rejeitada por uma série de historiadores que consideram absurdo existir
uma ciência que se dedique a estudar o que já aconteceu.
O historiador Marc Bloch prefere defini-la como "a ciência dos homens
no tempo" a fim de destacar o caráter humano da ciência e de seu
principal objeto. A História, portanto, é a ciência que, produzida por
pessoas, se detém a investigar a ação humana na sociedade.
Para que serve a história? Certamente você já fez tal pergunta ou já a
perguntou a alguém.
Resposta
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Como apontamos, a resposta mais usual é que a função dela é
“conhecer o passado para entender o presente e preparar o futuro”. Vem
do filósofo romano Cícero, que viveu no século I a.C., a ideia de História
como mestra da vida. Tal frase demonstra que ela tem condições de
criar um repertório de experiências nas pessoas capaz de impedi-las de
repetir os erros do passado.
Trata-se, no entanto, de uma visão equivocada sobre a história, pois a
compreensão do passado não tem o poder de controlar ou impedir que,
no presente, ações e práticas se repitam. Na verdade, o que ocorre
muitas vezes é o oposto: o reavivar de comportamentos e ideologias
consideradas já superados.
Mas o que pode a história nos dizer
sobre a sociedade contemporânea?
Durante a maior parte do passado
humano – na verdade, mesmo na Europa
ocidental, até o século XVIII – supunha-
se que ela pudesse nos dizer como uma
dada sociedade, deveria funcionar. O
passado era o modelo para o presente e
o futuro.
(HOBSBAWM, 1998, p.37)
Afirmar que a história não é mestra da vida não significa, contudo, que
não devemos compreender o presente pelo passado, e sim que podemos
entender o passado pelo presente para perceber que “toda a história é
contemporânea” (LE GOFF, 2003, p. 24).
Isso já nos leva a questionar: o que são o passado e o presente na
História?
Passado e presente
Vimos anteriormente que muitas vezes, de forma equivocada, o passado
é tratado como um modelo (a ser seguido ou evitado) do presente. Do
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mesmo modo, observamos que a História é definida como o campo de
estudo do passado. Mas você já se perguntou o que é o passado?
Segundo o historiador Eric Hobsbawm (2003), o passado é o período
anterior aos acontecimentos dos quais um indivíduo se lembra
diretamente. Quando existe a necessidade de rememorar um fato
acontecido e se recorre a alguém ou a algum tipo de meio (caderno de
memórias, documentos civis, fotografias, anotações etc.), aí surge a
noção de passado.
Foto: Marc Ferrez / WikimediaCommons / Domínio público
Foto: Shutterstock.com
Praia de Copacabana
Exemplo
Todo ser humano tem consciência do passado pelo fato de viver com
pessoas mais velhas que narram fatos cujo indivíduo já não lembrava
ou desconhecia.
Por outro lado, sua abrangência depende de diversas circunstâncias,
como os interesses pessoais e coletivos de quem se propõe a escrever a
história, além dos meios (fontes históricas) disponíveis para tratar desse
passado. Tal situação nos leva a entender que o passado não está
pronto em determinado lugar à espera do historiador para resgatá-lo, e
sim que, a partir de alguns fragmentos disponíveis (fontes históricas), é
possível se aproximar de uma interpretação do passado.
Atenção!
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O historiador nunca poderá reconstituir o passado tal qual ele foi.
Walter Benjamin (1987) explica que articular historicamente o passado
não quer dizer conhecê-lo “como ele de fato foi”. Na verdade, significa
apropriar-se de uma reminiscência tal como ela relampeja.
Como ciência do passado, a História tem a função de não apenas contar
sobre os fatos do passado, mas também de recorrer aos métodos
científicos de pesquisa, de constituir uma análise série e aprofundada
dele. Para isso, ela recorre à dataçãodos fatos e aos testemunhos.
A cronologia é uma categoria importante para a História, pois a história
se dá em determinado tempo que precisa ser bem localizado. Já os
testemunhos do passado são amplos e variados. Falamos rapidamente
deles antes: são as fontes históricas. Como matéria-prima do trabalho
do historiador, essas fontes são minunciosamente interpretadas e
questionadas, estendendo-se muito além de uma repetição do que ela, a
princípio, afirma ou sugere.
O trabalho do historiador é olhar com desconfiança e
com outras perguntas às fontes/testemunhas do
passado. Em síntese, podemos afirmar que o passado é
matéria-prima da história, mas não é a própria história.
Mais à frente, voltaremos a isso. Por ora, é preciso entender que o
passado, em si mesmo, não interessa ao historiador e nem mesmo à
sociedade. Só faz sentido se debruçar sobre o estudo do passado em
articulação com questões contemporâneas.
Por outro lado, embora o passado não possa ser recuperado tal qual ele
foi, todos nós conhecemos alguém que enxerga nele determinada “época
de ouro” da qual o presente teria supostamente nos privado e busca
reintroduzi-lo, desprezando, porém, a compreensão de que, no presente,
as condições nem sempre favorecem o retorno a essa suposta época
virtuosa. A compreensão que as pessoas têm do passado forma a
consciência histórica que se manifesta no plano concreto da vida
humana no instante em que se emite opiniões ou se faz escolhas
políticas, ideológicas, econômicas e pessoais.
Embora a consciência histórica seja uma compreensão do passado, ela
não tem origem apenas na história ensinada e aprendida na escola ou
lida nos livros de história. Ela, afinal, também recebe a influência de
diferentes e múltiplas fontes, desde a moral religiosa e a ética familiar
até os inúmeros mediadores de informações históricas ou de uma
concepção de passado.
Exemplo
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Filmes veiculados pelo cinema, novelas e séries da televisão, assim
como a literatura e até mesmo os memes das redes sociais.
Por receber influências que nem sempre tratam o passado de forma
adequada, podendo inclusive distorcê-lo, a consciência histórica não
demonstra ser crítica a todo momento; pelo contrário, a consciência
sobre o passado pode ser influenciada por ideias equivocadas dele,
levando o indivíduo a exaltar ou a querer retomar práticas e concepções
historicamente superadas. Esse desejo inclui até práticas e pensamentos
que já demonstraram ser inviáveis para a humanidade.
Exemplo
Concepções racistas e xenofóbicas ou ideologias de ordem fascista.
Tempo e cronologia
O tempo configura um elemento fundamental do conhecimento
histórico. Mas o que é o tempo? Há uma sensível dificuldade de se
definir o conceito de tempo, embora a sua passagem possa ser
percebida e registrada em diversas circunstâncias, como as marcas
deixadas na natureza (as estações do ano ou o dia e a noite) e no
próprio corpo humano (o processo de envelhecimento) demonstram.
Nesses exemplos, é possível constatar algo fundamental para se
entender o tempo e, por consequência, a história: o tempo não é algo fixo
e imutável. Pelo contrário: ele evoca a ideia de ciclos e mudanças. Foi
para demarcar esse processo que as sociedades humanas passaram a
marcá-lo das mais diversas formas – entre elas, o calendário.
Para os povos tupi, a passagem de tempo é demarcada pelo conjunto de
elementos da natureza relacionado à sobrevivência, como a época das
chuvas e da seca ou sobre o que plantar e colher em cada um desses
tempos.
Na contemporaneidade, o calendário mais utilizado, o gregoriano, divide
o tempo a partir do movimento de translação da Terra; por conta disso, o
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ano possui 365 dias. Esse calendário é fortemente marcado pelo
cristianismo: primeiramente, por definir uma contagem de eras dividida
entre o tempo antes e depois de Cristo; em segundo lugar, por incluir uma
série de demarcações do tempo a partir das celebrações religiosas,
levando a sociedade a organizar suas vidas nesse contexto. Mesmo
quem não segue as religiões cristãs acaba sendo influenciado por essa
demarcação do tempo.
Gregoriano
Criado por determinação do papa Gregório XIII no século XVI.
Exemplo
Os feriados religiosos que se impõem sobre o calendário civil.
Não raro, muitos povos acabam convivendo com mais de um calendário:
um rege a vida civil, enquanto outro organiza sua vida religiosa ou de
tradição de origem, como é o caso de judeus e dos chineses.
Exemplo
O ano de 2021, no calendário gregoriano, corresponde a 5781 no
calendário judaico e a 4719 no calendário chinês.
O calendário judaico começa a sua contagem no ano da suposta criação
de Adão. Além disso, a contagem de tempo é lunissolar: os meses são
contados a partir dos ciclos lunares; os anos, a partir dos ciclos solares.
Desse modo, os anos podem variar de 12 a 13 meses com 29 ou 30 dias.
Esse calendário tem uma função essencial para demarcar nascimentos,
mortes e outras celebrações judaicas.
Já o calendário chinês é lunissolar, ou seja, é organizado de acordo com
as fases da Lua e a posição do Sol. Por isso, o ano novo chinês tem
início na primeira lua nova.
Outra forma de se demarcar o tempo, além da cronológica, é defini-lo a
partir das experiências humanas na sociedade. Tempos de guerra, a era
das revoluções e a Antiguidade, entre outros, são alguns exemplos nos
quais se pode olhar para o passado e entendê-lo sob o prisma das
experiências humanas.
O tempo histórico, no entanto, se diferencia do cronológico, pois a
marcação de sua passagem não se deve aos movimentos lunares ou
solares, e sim à sucessão de acontecimentos que se dão no plano da
curta, média ou longa duração. Entenda cada um deles.
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Tempo e temporalidades
Quem poderá explicá-lo breve e
facilmente? Quem poderá alcançar sua
noção com o pensamento, a ponto de
dizer sobre ele uma palavra exata? E, no
 Curta duração
Refere-se ao “tempo breve, ao indivíduo, ao evento”.
Está presente na narrativa factual, destacando
sobretudo os eventos políticos e os “heróis”. Em
termos numéricos, esse tempo pode se referir a um
dia e/ou a alguns poucos anos.
 Média duração
Conjuntura de vários anos ou décadas. O que
chama a atenção, por exemplo, não é uma
revolução ou uma guerra (ou uma decisão de um
político), e sim um conjunto de elementos que nos
permite ver o movimento histórico por meio do
crescimento demográfico, do movimento dos
salários ou do volume da produção agrícola ou
industrial.
 Longa duração
Análise que compreende um conjunto mais amplo
de décadas ou séculos, pois a realidade se altera em
uma velocidade muito lenta, quase imperceptível
(BRAUDEL, 2007, p. 44-49).
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entanto, em nossos discursos, que ideia
damos como mais conhecida e mais
familiar que a de tempo? E, quando
falamos a seu respeito, a entendemos,
assim como a entendemos quando dela
ouvimos falar. O que é, portanto, tempo?
Se ninguém me pergunta, eu sei: se eu
quero explicá-lo a quem me pergunta,
não sei.
(AGOSTINHO apud NICOLA, 2005, p. 131)
Analisando o que se estudou até aqui, é importante considerar as três
formas distintas de analisar os acontecimentos no tempo:
Tempo cíclico
Presente em narrativas míticas e religiosas, possui a ideia de eterna
repetição, em que a ação humana terá sempre as mesmas
consequências, ainda que em lugares e povos distintos.
Tempo linear
Contempla a ideia de progresso e mudança. No tempo linear, os
acontecimentos históricos se dão em sequência evolutiva, abarcando de
igualmodo diferentes povos e sociedades.
Múltiplas temporalidades
Implica reconhecer que sociedades, povos e culturas possuem histórias
diferentes que ora podem se cruzar, ora seguem trajetórias próprias,
incluindo a própria ideia de história como processo.
BNCC e o tempo
Assista, no vídeo a seguir, a BNCC e a demanda pela unidade do tempo.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“O que é, efetivamente, o tempo? Quem poderá explicá-lo breve e
facilmente? Quem poderá alcançar sua noção com o pensamento, a
ponto de dizer sobre ele uma palavra exata? E, no entanto, em
nossos discursos, que ideia damos como mais conhecida e mais
familiar que a de tempo? E, quando falamos a seu respeito, a
entendemos, assim como a entendemos quando dela ouvimos falar.
O que é, portanto tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei: se eu
quero explicá-lo a quem me pergunta, não sei. Todavia, com
segurança afirmo saber que se nada passasse, não haveria o
passado: se nada acontecesse, não haveria o futuro, se nada fosse,
não existiria o presente."
Fonte: AGOSTINHO apud NICOLA, 2005. p. 131.
Marque a alternativa correta.
A
Temporalidade é uma categoria definida a partir da
cronologia, não dependendo da intervenção do
historiador.
B
Temo histórico e tempo cronológico são formas
semelhantes de se demarcar os acontecimentos
históricos.
C
Das formas de se analisar os acontecimentos
históricos, as “múltiplas temporalidades” permitem
entender a história como um processo.
D
Os calendários são criações de diferentes povos que
se caracterizam por tomar como referência o
calendário cristão.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
Entender a história como um processo pressupõe considerar que os
acontecimentos não seguem uma linearidade ou uma sequência de
eventos que podem ser previstos. Da mesma forma, não se trata de
uma história que está em constante repetição e cujos
acontecimentos semelhantes têm sempre o mesmo fim. As
“múltiplas temporalidades” influenciam no desenrolar da história,
deixando-a sempre imprevisível.
Questão 2
“É inevitável que nos situemos no continuam de nossa própria
existência, da família e do grupo a que pertencemos. É inevitável
fazer comparações entre o passado e o presente. É essa a finalidade
dos álbuns de fotos de família ou filmes domésticos. Não podemos
deixar de aprender com isso, pois é o que a experiência significa.”
Fonte: HOBSBAWM, 1998, p. 36.
Considerando os conceitos de passado e presente estudados,
marque a alternativa correta.
E
Embora possa haver diferentes formas de se olhar o
passado e registrar os acontecimentos, o tempo
histórico é sempre fixo, imutável.
A
As noções mais atuais de História sustentam a ideia
de que é preciso aprender com o passado para evitar
cometer os erros históricos no presente.
B
A ciência histórica considera que não é possível
reconstituir o passado da maneira com que ele se
deu, mas, pelas fontes, é possível se aproximar de
traços do passado.
C
A consciência histórica é resultado de concepções e
experiências que se obtêm no presente, não havendo
a interferência do passado.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
O passado não pode ser reconstituído na sua integralidade, já que o
historiador nunca terá a condição de conhecer e analisar as
múltiplas experiências que somente aqueles que viveram naquela
época e naquele lugar tiveram. Sobram fragmentos do passado (na
forma de fontes) juntados como um grande quebra-cabeças do qual
algumas peças estarão perdidas para sempre. Desse modo, o
passado chega a nós sempre de forma fragmentada e com lacunas.
2 - O conhecimento histórico e seus fundamentos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as possibilidades da história como forma
de conhecimento crítico.
História e verdade
D
O principal sentido dos estudos históricos é se
debruçar sobre o passado, contando tal qual ele
ocorreu, tomando-o como exemplo para o presente.
E
Tempo histórico, também denominado tempo
cronológico, é a forma pela qual os historiadores
registram os acontecimentos.
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É comum ouvirmos expressões, como, por exemplo, “verdadeira história”
ou “a história mostrará a verdade”. Mas como se define a verdade e de
que forma a história lida com isso?
Para o historiador Carlo Ginzburg (2007), uma afirmação falsa, uma
verdadeira e uma inventada não apresentam, do ponto de vista formal,
nenhuma diferença. O que vai distinguir uma das outra é a intenção de
quem produz a narrativa e a maneira com que usa as fontes: enquanto a
narrativa inventada corresponde ao que é produzido intencionalmente
para ser uma ficção (e assim é reconhecida), a falsa manipula os
testemunhos do passado a fim de querer se passar como verdade.
A ideia de verdade em História está ligada à forma com que a pesquisa
historiográfica é produzida, ou seja, se ela segue os princípios básicos da
ética profissional e dos métodos de pesquisa.
Atenção!
Não existe pesquisa histórica isenta, já que o historiador sempre é
impulsionado pela sua concepção de história, como, por exemplo, o
processo de seleção de fontes e a escolha do objeto da pesquisa e da
maneira como constrói a narrativa. A maior ou menor proximidade que
ele tenha com um objeto não poderá servir como desculpa para ele
negar, esconder ou manipular fontes e conclusões.
Soma-se a tais princípios a necessidade que o historiador tem de
analisar as fontes de sua pesquisa de forma cuidadosa e responsável,
contextualizando-as e cruzando com outras fontes e bibliografias para
evitar uma escrita abusiva da história. Essa escrita pode se manifestar
nas interpretações grosseiras e com distorções a fim de atender, na
maioria das vezes, a interesses ideológicos e políticos.
Durante muito tempo, os historiadores tiveram receio em adotar o
conceito de verdade em suas pesquisas para evitar um caráter
supostamente elitista de domínio do conhecimento ou levar o debate
para um contexto excessivamente filosófico acerca dela. Contudo, nos
últimos 50 anos, o conceito de verdade passou a fazer parte dos debates
historiográficos de uma forma mais aberta por duas razões:
1. Posicionar-se de modo frontalmente contrário à interpretação
histórica da escola metódica.
2. Ampliação do alcance da internet e da popularização das redes
sociais e aplicativos de conversa: é possível ver de maneira
crescente a tentativa de se relativizar a história a partir do
crescimento avassalador de distorções históricas, negacionismos e
revisionismos, que são resultado da propagação de fake news
históricas difundidas por meios diversos.
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Escola metódica
A escola metódica primeiramente buscou dar um caráter científico à história;
para isso, ela usou as fontes históricas, especialmente os documentos de
origem governamental, como narrativas que já apresentavam “a verdade”
sobre o passado. A história, portanto, deveria ser apenas narrada, sem
necessitar de questionamentos ou interpretações, a partir de uma suposta
condição de objetividade e neutralidade do historiador.
Pierre Vidal-Naquet (1988) explicou essa estratégia nos anos 1980,
período no qual ele via ressurgir movimentos fascistas na Europa. Para o
autor, o negacionismo não tenta apagaro passado ou escrever uma
“nova verdade”. Ele, na verdade, precisa do passado para relativizar fatos
e adulterar dados com o propósito de construir uma narrativa enganosa,
pois uma mentira, uma história inventada, é facilmente detectável.
Como alerta Eric Hobsbawm (1998), poucas ideologias intolerantes
foram construídas com base em mentiras ou ficções, isto é, sem
nenhuma evidência. O abuso ideológico mais comum da história são o
anacronismo e a distorção das informações.
O conceito de verdade em história, portanto, não é definitivo, pois a
pesquisa histórica está em constante evolução. A qualquer momento um
documento ou fonte pode desmantelar toda uma suposta verdade,
alterando a interpretação sobre os acontecimentos.
Tal realidade, portanto, indica que a História é uma ciência viva. Embora
lide com subjetividades e interpretações das fontes, isso não quer dizer
que ela seja uma mera opinião.
Anacronismo
Anacronismo é um erro cronológico que se expressa na falta de
alinhamento, consonância ou correspondência com uma época. Ele ocorre
quando pessoas, eventos, palavras, objetos, costumes, sentimentos,
pensamentos ou outras coisas que pertencem a determinada época são
erroneamente retratados em outra.
História e ciência
Você deve se lembrar de que anteriormente vimos que a ideia de história
como reflexão intencionalmente voltada para a reflexão crítica da
memória tem suas raízes fincadas na Antiguidade. Atribui-se a Heródoto
e Tucídides o ponto de partida desse processo de registro.
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Heródoto
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Tucídides
Durante séculos, a escrita da história oscilou entre estilos muito diversos,
desde a hagiografia e a história dos governos/reinos e impérios até um
trânsito com a Filosofia e a Teologia. Contudo, no século XVIII, com o
advento do Iluminismo, a produção historiográfica começou a se
aproximar do que se conhece hoje em dia após passar por uma forte
mudança de caráter teórico e metodológico, culminando com sua
cientificização no século seguinte.
No século XIX, muitas ciências se constituíram – entre elas, a Sociologia,
a Antropologia e a História. A constituição de tais conhecimentos como
campos da ciência se deu a partir do momento que eles passaram a
incorporar procedimentos metodológicos e formas de investigação
específicas, afastando-se do campo da narrativa literária ou filosófica
até então predominante. Até esse momento, a história era escrita a partir
de uma das três grandes correntes:
História de base humanista
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Inspirada em Cícero e Heródoto, ela tinha uma forte inspiração
na retórica e na eloquência da escrita de Tucídides. Constituída
como “mestra da vida” e modelo de comportamento, a história
de base humanista deveria ter uma utilidade prática na vida de
seu leitor.
História erudita
Surgiu como um “novo humanismo”, dando ênfase às
descrições de instituições, costumes, cultos, leis e finanças. Isso
levou a história a abandonar o caráter meramente estatístico
das narrativas de história política.
História filosófica
A busca pela verdade produziu a noção de fato histórico a partir
da crítica, da desconfiança e da triagem de documentos.
Impulsionada pelo Iluminismo, a história filosófica procurou
encontrar nos fatos uma ordem “racional” e uma ideia de
“progresso” na evolução temporal, rejeitando a simples
acumulação de dados, o que caberia à memória.
A principal mudança da história a partir do século XIX foi deixar de ser
considerada uma crônica baseada em testemunhos das gerações
anteriores tomados como verdades inquestionáveis. Com isso, ela
recuperou o sentido originário (grego) de história, conforme citamos
anteriormente, como campo de investigação.
A evolução na escrita da história deu-se com a incorporação de uma
base de caráter metódico-documental também chamada de
historiografia "positivista". De forma equivocada, se confunde a
historiografia positivista com a escrita da história de maneira episódica
(factual) e descritiva (história tradicional).
Contudo, a historiografia positivista é a dos "fatos", isto é, da valorização
dos documentos e da narrativa. Sujeita a um "método", ela pode ser
chamada, por isso, de "escola metódica" (MARTINS, 2010). Dessa forma,
a história também se viu impactada pelo caráter cientificista tanto
alemão quanto francês em ascensão no século XIX, reformulando de vez
a produção historiográfica.
Mas, afinal de contas, a História é uma ciência?
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Resposta
A resposta a essa pergunta ainda é alvo de controvérsias, até mesmo
entre os historiadores da atualidade. Para alguns historiadores, ela é
uma ciência que se distingue das demais por ser, ao mesmo tempo, arte.
A História é ciência ao coletar, achar e investigar, mas também é arte ao
dar forma ao colhido, ao conhecido e ao representá-lo. Enquanto as
outras ciências satisfazem-se com a ideia de mostrar o achado, ela se
interessa em “reconstituir” e analisar o processo nos quais os
acontecimentos se deram.
A História ensinada
Como reconhecimento de seu caráter científico, somente no século XIX a
História passa a ser ensinada como um campo específico do
conhecimento. Antes disso, era ministrada como parte de outras
ciências, como a Filosofia, a Gramática e a Catequização.
No entanto, o contexto de instituição da História como campo de ensino
se deu com o objetivo de colaborar com o processo de formação e
reconhecimento das nações que se organizavam naquele momento. Sua
finalidade era estimular o sentimento de patriotismo.
Já as características da História, segundo Falcon (1997, p. 65), eram:
1. O Estado-nação como tema central tanto da investigação quanto da
narrativa históricas.
2. A crítica erudita das fontes elemento essencial para desenvolver o
método histórico, garantia da cientificidade do conhecimento.
3. Introdução dos conceitos de história como singular coletivo em
conexão com o novo conceito de revolução.
4. A perspectiva historicista aplicada tanto à história-matéria quanto à
disciplina.
O momento de criação da História como disciplina também coincide
com a instituição da escola laica e obrigatória na França, cristalizando
uma ruptura de poderes entre Estado e Igreja, até então a principal
entidade a ofertar e controlar o ensino em várias partes do mundo.
Isso tem a ver com o maior interesse do Estado em controlar a análise e
a narrativa sobre o processo histórico, já que a maior parte das fontes
históricas utilizadas na pesquisa e no ensino daquele tempo era de
caráter governamental, abrindo espaço para que os grupos detentores de
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poder político pudessem direcionar o uso das fontes que a ele
estivessem ligadas.
poder é sempre poder do Estado —
instituições, aparelhos, dirigentes: os
‘acontecimentos’ são sempre eventos
políticos, pois são estes os temas nobres
e dignos da atenção dos historiadores.
(FALCON, 1997, p. 65)
No caso do Brasil, a criação da disciplina de História percorreu diversos
caminhos. Do período colonial até 1759, ela foi controlada
exclusivamente pela Igreja, especialmente por missionários jesuítas e
franciscanos.
A escola primária (ou “escola de primeiras letras”), que perdurou até o
início do século XX, era lugar de aprender a ler, escrever e contar.
A História aparecia de forma tangencial na utilização
de textos da “Constituição do Império” e de outros
sobre a história do Brasil usados nas aulas de leitura e
gramática. Alémdisso, a “história sagrada”, vinculando
moral religiosa e fé, perdurou até o século passado.
Somente em meados do século XX, houve um interesse maior em
incorporar a História como disciplina específica. No entanto, a ênfase era
ensinar a “verdadeira história da civilização”, que se resumia na história
da Europa Ocidental, enquanto a do Brasil ocupava uma posição
secundária.
Com a abolição da escravidão e o advento da República, o mesmo viés
de constituição e formação do sentimento nacionalista registrado nas
nações europeias no século XIX se repetiu no Brasil: despertar o
patriotismo vinculava-se à necessidade de inculcar valores relacionados
à preservação da ordem e da obediência à hierarquia, que pareciam
abalados naquele momento com o fim da escravidão. Nesse sentido, a
escola e o ensino de História seriam importantes mediadores desse
processo de acomodação das tensões de classe e raciais.
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Por outro lado, o fortalecimento do espírito nacionalista pressupõe a
“invenção de tradições”. Para isso, a República definiu e incorporou no
currículo e no calendário escolar os “heróis” nacionais e os marcos
históricos como elementos visíveis de exaltação da pátria.
Tiradentes esquartejado, óleo sobre tela, Pedro Américo, 1893.
A obra Tiradentes esquartejado é um óleo sobre tela de 1893 do pintor
brasileiro Pedro Américo. Trata-se, portanto, de uma alegoria criada pelo
imaginário do pintor mais de cem anos depois do fato histórico. Essa
pintura é um exemplo da criação do herói nacional, fazendo, de forma
bem evidente, uma referência ao Cristo crucificado com cabelos e barbas
longas.
Em um país de formação basicamente cristã, ficava mais fácil construir
heróis associados ao mundo religioso, pois, em tese, eles teriam mais
aceitação no meio da população.
Além disso, o enforcamento seguido de esquartejamento associava
Tiradentes ao martírio tal qual Jesus, que entregou sua vida pelo povo.

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Guerra do Paraguai: qual delas?
Você já ouviu falar em historiografia? São as diversas camadas de
historiadores que investigam um assunto, como o caso da Guerra do
Paraguai. Vamos conhecer essa história.
O fato histórico
O que é um fato histórico? Essa é uma pergunta essencial para se
entender os fundamentos da história. Vejamos: em algum momento da
formação escolar ou mesmo da vida fora da escola, ouvimos falar de
Zumbi, líder do quilombo dos Palmares, morto depois de um ataque ao
quilombo em 1895.
Segundo o senso comum, Zumbi é exaltado como sinônimo de luta e
coragem, embora nem todos os historiadores compreendam a história
dele do mesmo modo. Zumbi pode até não despertar interesse da
mesma maneira em todos eles.
Zumbi dos Palmares
Atenção!
Isso não quer dizer que mesmo o historiador sem grandes interesses
pelo tema desconheça o sujeito histórico que foi Zumbi, assim como o
lugar e o tempo em que esse fato se desenvolveu.
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Voltemos para a pergunta: por que, diante de centenas de outros
quilombos invadidos e destruídos pelas forças de repressão em todo o
Brasil, o de Palmares tem tanto relevo? E por qual motivo, entre tantos
líderes quilombolas capturados e/ou mortos, Zumbi alcançou tamanho
destaque?
A resposta a essas perguntas, além de esclarecer o que constitui um
“fato”, nos ajuda a entender por que História é ciência e arte ao mesmo
tempo. Quem dá o relevo do fato histórico é o historiador que analisa o
acontecimento do passado e todo o contexto em que ele se desenvolveu,
interpretando-o conforme suas expectativas e concepções teórico-
metodológicas.
Entender a grandeza histórica de Palmares e de Zumbi não é algo
simples. Tal esforço depende inteiramente de o historiador selecionar
este viés de análise ao invés daquele.
Essa é a dimensão humana da ciência histórica – e ela tem profunda
relação com as concepções teórico-metodológicas do historiador. Por
conta disso, é impossível haver um conjunto de fatos históricos a existir
independentemente da interpretação do historiador.
Os fatos históricos são cognoscíveis cientificamente,
mas essa exigência deve levar em conta seus
caracteres específicos.
Por um lado, esses fatos são contraditórios como o próprio decorrer da
história. Eles, afinal, são percebidos diferentemente (porque são
ocultados) segundo o tempo, o lugar, a classe ou a ideologia. Por outro,
escapam à experimentação direta por sua natureza passada: eles são
susceptíveis apenas de aproximações progressivas, sempre mais
próximas do real, nunca acabadas nem completas (CHESNEAUX, 1995,
p. 67).
Uma primeira conclusão que podemos tirar daqui é que os fatos
históricos nunca chegam “puros” a nós, pois eles não existem nem
podem existir de forma pura: eles são sempre o resultado de escolhas de
registro do historiador. Sendo então uma ciência tão humana, a primeira
preocupação ao se ler um livro de História não deveria ser com o fato
em si, e sim com quem o escreveu.
Em segundo lugar, é preciso compreender a necessidade do historiador
de usar a imaginação para interpretar e narrar a história, já que, na
maioria das vezes, as fontes históricas são insuficientes para compor a
narrativa daquele tempo.
Atenção!
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Tal insuficiência e estímulo ao uso de imaginação não podem se
manifestar como um sentimento de simpatia, o que pode levar o
historiador a erigir uma narrativa panfletária. Tampouco pode haver o
abuso do imaginário. A ideia, portanto, é existir uma imaginação
controlada e limitada por contextos semelhantes, fontes correlatas, entre
outros fatores.
O terceiro ponto é um reforço ao que já foi dito anteriormente: nós
podemos visualizar o passado e atingir nossa compreensão do passado
somente por meio dos olhos do presente. O fato histórico acaba, assim,
sendo definido muitas vezes em função do seu significado na
atualidade.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“A ‘verdade’ equivale certamente a um ‘juízo verdadeiro’ ou a uma
‘proposição verdadeira’, mas significa também ‘conhecimento
verdadeiro’. É neste sentido que a verdade é um devir: acumulando
as verdades parciais, o conhecimento acumula o saber, tendendo,
num processo infinito, para a verdade total, exaustiva e, nesse
sentido, absoluta.”
Fonte: SCHAFF, 1991, p. 105.
A partir dos estudos do módulo e da afirmação acima, é possível
afirmar que
A
em história, não existe a possibilidade de verdade,
pois o historiador é incapaz de narrar o passado da
forma como aconteceu.
B
a historiografia produz verdades absolutas, pois
utiliza fontes históricas que são fidedignas ao
passado.
C
a verdade em história é resultado de dois fatores
principais: o acesso às fontes históricas e a análise
e interpretação do historiador.
D
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A verdade em história é subjetiva, já que ela depende do acesso às
fontes históricas e do domínio dos métodos de pesquisa por parte
do historiador, o qual também é influenciado pela sua concepção
moral, religiosa, ideológica e política, levando-o a dar ênfase em
alguns aspectos em detrimento de outros. A historiografia sempre
produz uma narrativa parcial, sendo impossível reproduzir a verdade
na sua integralidade; assim, a produção historiográfica é resultado
do própriotempo no qual ela se circunscreve.
Questão 2
A história se constituiu de um processo contínuo de interpretação e
de um diálogo entre o presente e o passado. Desse modo, só é
possível compreender completamente o presente à luz do passado,
sendo necessário esclarecer o que são e como são constituídos os
fatos históricos. Tendo isso em vista, como podemos caracterizar o
“fato histórico”?
todo historiador analisa os fatos históricos com
neutralidade e distanciamento, o que leva à
interpretação verdadeira da história.
E
o anacronismo é um dos principais métodos dos
historiadores para combater a falsificação e as
mentiras da história.
A
Os fatos históricos já existem independentemente
do historiador, constituindo marcas do passado que
são lembradas no presente.
B
O fato histórico pode ser definido como toda a
narrativa do passado e se evidencia pelas datas
celebrativas dos grandes acontecimentos.
C
Os fatos históricos são sempre os mesmos para
todos os historiadores, não necessitando de
interpretações.
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Parabéns! A alternativa D está correta.
Na história, os relatos são mutáveis devido à ênfase que diferentes
historiadores dão aos episódios históricos. Destacar um ou outro
episódio revela a interpretação que se faz dela ao mesmo tempo
que aponta para as escolhas de ordem ideológica, conceitual e até
política que movem seus autores a optarem em dar ênfase a um
fato em detrimento de outro.
3 - O ofício do historiador: métodos, técnicas e
procedimentos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de debater sobre os procedimentos de trabalho do
historiador, como os critérios de seleção de fatos históricos, os recortes cronológicos ou
temáticos e a relação com as fontes.
D
O fato histórico é resultado da interpretação que o
historiador tem do passado e das escolhas que ele
faz ao estudar o acontecimento.
E
Dá-se o nome de fato histórico a todos os
acontecimentos estudados pelo historiador de forma
isenta e neutra.
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As escolas historiográficas
As pesquisas históricas que apresentam em seu bojo um conjunto de
práticas metodológicas e de interpretação com um padrão mínimo de
elementos em comum, seja no que tange aos objetos de pesquisa, aos
problemas ou às fontes utilizadas, são chamadas de escola
historiográfica. A maioria dessas escolas – embora isso não ocorra
necessariamente – nasceu em torno de espaços comuns de debate.
Exemplo
A mesma universidade, país, organização política ou revista de
divulgação acadêmica.
Isso se explica pelo fato de que, nesses espaços comuns, ocorrem
intensos e fecundos debates responsáveis pelo aperfeiçoamento e pela
especialização da escola historiográfica.
Outro fator: se a escola historiográfica, de fato, é escola, se pressupõe
que há quem aprenda com ela. A razão de qualificá-la com esse nome se
deve ao fato de que a produção intelectual de tal abordagem se
multiplicou por, pelo menos, mais uma geração de novos pesquisadores.
Descreveremos a seguir três escolas ou linhas de pensamentos
decorrentes da escola historiográfica:
Estabelecida em fins do século XVIII e tendo perdurado até mais
da metade do XIX, ela foi a responsável pela constituição da
História como disciplina e pela definição da figura do historiador
como o profissional responsável pela pesquisa historiográfica (a
qual, conforme apontamos, já tinha sido ocupação de filósofos,
matemáticos e literatos).
Do ponto de vista metodológico, a Escola Alemã se empenhou
em realizar o método crítico das fontes, algo até então quase
inexistente. Em oposição ao Positivismo, ela foi a responsável
pela criação do historicismo, cuja principal contribuição deixada
para a historiografia contemporânea reside na crítica
documental.
Escola Alemã 
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Esse pensamento também deu uma importante contribuição para
a historiografia a partir do final do século XIX, quando se
introduziu um referencial materialista em contraposição ao
idealista, provocando, com isso, o declínio da história política
tradicional e a ascensão da história econômica ou sociológica
Por vezes, o “materialismo histórico” foi tratado como
“determinismo econômico”. Algumas das principais concepções
do pensamento marxista são: a interpretação econômica da
história, a relação base/superestrutura e a “luta de classes”.
Em oposição à Escola Metódica, surgiu no século XX, na França,
a Escola dos Annales, cujo nome faz referência a uma revista
científica responsável pela publicação de artigos com parâmetros
temáticos e/ou metodológicos comuns. Uma das principais
contribuições dos Annales deixada pelos seus fundadores,
também chamados de “primeira geração dos Annales”, diz
respeito ao diálogo com outras áreas do conhecimento, em
especial das Humanidades, indo da Antropologia até a Psicologia
e da Geografia até a Economia.
Posicionando-se contra o historicismo e a história factual, linear e
supostamente neutra, os Annales lançam a “história-problema”,
na qual a operação historiográfica é regida por um problema
colocado pelo próprio historiador a partir das motivações de sua
época, redefinindo o fato histórico como uma construção do
historiador. O programa dele também demandou a ampliação
das fontes, não se limitando aos arquivos e à história política
tradicional, mas incluindo vestígios e evidências de tipologias
diversas.
Pensamento marxista
Em seus estudos, Marx ensina que o passado não deve ser entendido nos
próprios termos, bem como que as visões de mundo das pessoas
determinam as formas de sua existência social, da mesma forma que essa
existência determina a visão de mundo. Por isso, a análise de uma
Pensamento marxista 
Escola dos Annales 
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sociedade precisa começar pelo modo com o qual as pessoas se adaptam à
natureza e a transformam pelo trabalho, desenvolvendo arranjos sociais.
Exemplo
Obras literárias, imagens iconográficas, diários de pessoas anônimas e
jornais.
A partir dos Annales, a historiografia se redefiniu em diversas
perspectivas de análise, como a história cultural, a micro-história, nova
história política, história social, história das mentalidades e história da
educação, entre outras.
Fontes históricas
Até aqui você já deve ter entendido o que são as fontes históricas, mas,
devido à sua importância para o ofício do historiador, precisamos
aprender um pouco mais sobre elas.
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De modo geral, as fontes históricas podem ser classificadas em:
Voluntária
É a produzida com a intenção de deixar registros para a posteridade,
como a obra de Tucídides sobre a Guerra do Peloponeso, diários de
memórias, cartas e monumentos.
Involuntária
É aquela cujo vestígio foi produzido com objetivos imediatos e sem a
intenção de guardar uma história para tempos posteriores, como é caso
de rituais religiosos, documentos de caráter civil ou criminal e até mesmo
os vestígios arquitetônicos habitacionais e destinados ao lazer.
Além disso, as fontes ainda podem ser classificadas em outras duas
categorias:
 Fontes primárias
São escritas ou criadas dentro do período em que se
está estudando. Se um historiador, por exemplo,
estivesse pesquisando sobre a independência do
brasil, ele poderia usar algumas fontes primárias,
como as correspondências de José Bonifácio, os
documentos sobre a guerra da independência na
Bahia ou mesmo a arquitetura do palácio da Quinta
da Boa Vista, no Rio De Janeiro, incendiado em
2018.Elas constituem, portanto, fontes de “primeira
mão”.
 Fontes secundárias
Sã l d id t i t
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Independência ou morte, por Pedro Américo, óleo sobre tela, 1888. Exposta no Museu Paulista.
Documentos e arquivos
Embora imaginação e criatividade sejam parte do ofício do historiador,
como frisamos neste texto, essas condições devem ser utilizadas de
forma muito controlada, pois a base do trabalho do historiador são as
fontes históricas. Descreveremos, daqui por diante, algumas das
principais categorias de fontes e seus usos.
São aquelas produzidas posteriormente ao
acontecimento ou por alguém que, embora vivesse
na mesma época, não foi testemunha do fato.
Seguindo o exemplo da Independência do Brasil,
podemos considerar que o quadro de Pedro Américo
Independência ou morte, pintado em 1888 (66 anos
após a independência) por alguém que nem era
nascido na época, e o edifício-monumento do
Museu do Ipiranga, em São Paulo, projetado para
conservar a memória e a versão conservadora da
proclamação da Independência, cuja construção
teve início em 1885, são exemplos de fonte
secundária ou de “segunda mão”.
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A história é feita de textos, frisava o historiador francês do século XIX
Fustel de Coulanges. Essa afirmação expressa bem o pensamento
daquela época no qual:
o fetichismo dos fatos do século XIX era
completado e justificado por um
fetichismo de documentos
(CARR, 1982, p. 18)
Conforme destacamos, a historiografia do século XIX interessava-se pela
busca da verdade histórica – e, nesse caso, nada melhor que os
documentos. Exemplos de fontes que supostamente contavam a
verdade do passado, decretos, tratados, registros cíveis, atas,
correspondência oficial, cartas e diários particulares eram usadas de
forma acrítica.
Segundo o senso comum, sempre existe uma tendência de conferir mais
veracidade ao que está escrito, principalmente quando tais textos fazem
parte de instituições religiosas e poderes públicos. Só que documentos,
mesmo aqueles de caráter oficial/governamental, também são
narrativas construídas sobre o passado: eles podem conter adulterações,
esconder ou modificar dados e ser produzidos com o propósito de
enganar.
A documentação não pode ser tomada como registro
“da verdade”, e sim de “uma verdade” ou de uma “parte
da verdade” que se quis registrar.
Cabe ao historiador interpretar as informações da documentação,
preferencialmente cruzando os dados com outras fontes, antes de tirar
qualquer conclusão.
A forma e a condição com que os documentos são arquivados também
devem ser levadas em consideração no momento da pesquisa histórica,
pois podem ser evidências de controle excessivo e manipulação das
informações. Isso é comum em governos ditatoriais e autocráticos que
impõem censura ou sigilo excessivo sobre documentos que deveriam ser
de livre acesso ao público.
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Ao se impedir o acesso, inclusive de pesquisadores, a essa
documentação, a intenção é que partes do passado não sejam
conhecidas. Nesse caso, a escrita da história sempre conservará lacunas
até que o acesso a essa documentação seja liberado. Situação parecida
acontece quando há descuido (intencional ou não) com a preservação
da documentação, levando à perda irreversível de fontes.
O saber histórico é o produto de fontes,
todas elas vindas do passado, e de uma
crítica vinda do historiador, um
especialista que explora seu conteúdo!
Mas não é preciso advertir que o
trabalho do historiador não pode estar
limitado a isso. Nada é uma fonte pela
própria natureza, e é o problema
colocado pelo historiador que,
identificando um traço que fornece uma
resposta, transforma assim um
documento em uma fonte histórica. Os
registros e marcas do passado são
matéria-prima. O historiador, diante
dessa matéria-prima, das fontes, faz
perguntas, coloca problemas. Mas é
preciso inicialmente saber o que essa
fonte dizia antes dos outros, como era
usada para outra coisa, ou seja, é preciso
adquirir conhecimento sobre ela (isso
significa que o historiador já possui
conhecimento da história da época em
que o documento foi produzido) e, a
partir desses dados obtidos, talvez essa
fonte possa fornecer e acrescentar novas
ou algumas informações para a pesquisa.
Cabe ao historiador, dessa forma,
selecionar e delimitar as fontes
adequadas para sua pesquisa.
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(MONIOT apud BITTENCOURT, 2009, p. 328)
As fontes visuais
Com o avançar da “operação historiográfica”, o conceito de “documento”
ou “fontes” se transformou, deixando de entender o “documento” apenas
como “escritos oficiais” capazes de registrar a verdade da história, como
pensavam os historiadores ligados sobretudo à escola metódica
francesa do século XIX. Essa transformação levou a classe a tratar como
fonte histórica tudo aquilo que seja material ou não e que possibilite
reflexões e interpretações sobre o passado.
Por outro lado, as fontes visuais sempre despertaram a atenção do
historiador e do público em geral. Pinturas, quadros, fotografia, produção
cinematográfica e, mais recentemente, charges, HQs e memes de internet
são explorados como fontes históricas para se entender um contexto,
um personagem ou um acontecimento, já que eles configuram registros
e representações do passado com os quais o historiador pode
estabelecer um diálogo investigativo.
As imagens estabelecem uma mediação
entre o mundo do espectador e do
produtor, tendo como referente a
realidade, tal como, no caso do discurso,
o texto é mediador entre o mundo da
leitura e o da escrita. Afinal, palavras e
imagens são formas de representação do
mundo que constituem o imaginário.
(PESAVENTO, 2003, p. 86)
Considerando a diversidade das fontes visuais, o historiador tem de estar
atento para analisar cada uma conforme a própria característica e seus
limites. Ele também precisa considerar os aspectos da época em que
essas fontes foram produzidas e os de seu autor, porém o mais
importante – e que estamos reforçando em todas as fontes aqui
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apresentadas – é entender que as fontes visuais não são o real, e sim
uma representação dele.
O filme (até mesmo o documentário), a fotografia e a pintura precisam
ser analisados sob esse prisma, pois são produzidos a partir de escolhas
de luz, enquadramento e recortes, entre outros itens. Nesse sentido, eles
são o resultado de visões de mundo ou, como já falamos, da
“consciência histórica” de quem produziu ou financiou sua produção.
Por isso, as produções visuais estão cheias de lacunas, silêncios e
intencionalidades.
No contexto da renovação historiográfica do século XX, as imagens
passaram, nos mais diversos formatos, a ser incorporadas à pesquisa
histórica como fonte, embora, em alguns casos, elas ainda sejam
utilizadas como ilustração. A grande diferença entre ambas é que, no
caso da ilustração, o seu caráter é meramente acessório, ocupando o
lugar de representação do passado, enquanto entender as imagens
como fontes significa que elas devem ser problematizadas e
contextualizadas.
É preciso reafirmar ainda que a produção visual, em seus mais diferentes
formatos, se constitui como “representação” do passado, já que eles são
composições criadas para evidenciar uma imagem, favorecendo uma
interpretação anteriormente planejada. Além disso, também é importante
ressaltar que muitas produções visuais, como filmes (tanto os de ficção
como os documentários), por exemplo, não têm compromisso coma
historiografia – e é por esse ângulo que elas devem ser analisadas.
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Vista do Teatro Real de São João no Rio de Janeiro, Brasil.
A memória e a oralidade como
fontes
A história oral se trata do relato de sujeitos históricos acerca da própria
existência. Por conta disso, é possível recorrer tanto à memória quanto
aos documentos, aos objetos e às fotografias, entre outros exemplos, ou
seja, a tudo aquilo que, de alguma maneira, ajude a reavivar a memória e
a compor da narrativa.
A pesquisa histórica com base na história oral depende
de uma cuidadosa metodologia de pesquisa, podendo
ocorrer em entrevista (estruturada ou livre) formal ou
informal, além de ser colhida no formato de
depoimentos.
Ainda como parte da metodologia, ao pesquisador cabe seguir
parâmetros éticos em relação à entrevista e ao entrevistado, já que, em
muitos casos, ele está lidando com temas sensíveis, muitos dos quais
foram experimentados pelo narrador e cuja lembrança pode causar dor,
constrangimento ou raiva.
Como explica o historiador Antonio Montenegro:
A relação entre o entrevistador e o
entrevistado é outro aspecto constitutivo
da produção de um depoimento. A
postura de um entrevistador deve ser de
um parteiro que não conhece a pressa e a
impaciência e está disponível para ouvir
as histórias do entrevistado com o
mesmo cuidado, atenção e respeito,
tenham essas significado ou não para a
pesquisa em tela.
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(MONTENEGRO, 1993, p. 57)
Como toda fonte histórica, a história oral pode conter alterações e
desvios propositais (quando o narrador quer desviar de um assunto e,
com isso, não responde às perguntas ou insiste em conduzir a narrativa
em outra direção) e não propositais (como aqueles decorrentes do
esquecimento ou da confusão mental). Desse modo, é importante
ressaltar que a história ali analisada deriva do olhar e da experiência de
alguém.
A opção de se utilizar da história oral parte de vários pressupostos:
Ausência de outros tipos de fontes.
Reação a explicações genéricas e globalizantes que desprezam o
local e o particular.
Atitude de dar voz aos sujeitos como atores da história.
Podemos reduzir tais pressupostos com as seguintes palavras:
[...] a história oral são as memórias e
recordações das pessoas vivas sobre seu
passado. Como tal, está submetida a
todas as ambiguidades e debilidades da
memória humana; não obstante, nesse
ponto, não é consideravelmente diferente
da história como um todo, a qual, com
frequência, é distorcida, subjetiva e vista
pelo cristal da experiência
contemporânea.
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(SITTON; MEHAFFY; DAVIS JR, 1995, p. 9)
Formas de fazer história
Já pare pensou que história não é uma linha. Logo, se não é uma linha,
podemos nos perguntar: como podemos fazer História? O que faz um
historiador? Vamos pensar sobre essas questões.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“As fontes históricas são as marcas da história. Quando um
indivíduo escreve um texto ou retorce um galho de árvore de modo a
que esse sirva de sinalização aos caminhantes em certa trilha;
quando um povo constrói seus instrumentos e utensílios, mas
também nos momentos em que modifica a paisagem e o meio
ambiente à sua volta – em todos esses momentos, e em muitos
outros, os homens e mulheres deixam vestígios, resíduos ou
registros de suas ações no mundo social e natural.”
Fonte: BARROS, 2020, p. 1.
De acordo com os estudos deste módulo, marque a alternativa
correta.
A
As fontes históricas se concentram em vestígios
materiais deixados pelo ser humano ao longo de sua
vida que servem como referência para se conhecer o
passado.
B
A história somente pode ser escrita e entendida a
partir da pesquisa com as fontes primárias, pois elas
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Parabéns! A alternativa E está correta.
As fontes históricas são classificadas como primárias e
secundárias, considerando-se o tempo em que foram produzidas.
Para a historiografia contemporânea, contudo, ambas são
importantes e se complementam, não havendo uma hierarquização
entre elas.
Questão 2
“As fontes não seriam meros registros repletos de informações a
serem capturadas pelos historiadores, mas também diversificados
discursos a serem decifrados, compreendidos, interpretados. Não
mais seriam apenas uma solução para o problema, mas parte do
próprio problema.”
Fonte: BARROS, 2020, p. 8.
Sobre as fontes documentais, escolha a alternativa correta.
foram produzidas por quem de fato viveu o
acontecimento descrito.
C
Embora haja uma diversidade de fontes, a história
deve sempre privilegiar a pesquisa das fontes
documentais, pois elas são registros oficiais do
passado.
D
Todos os registros escritos são considerados fontes
históricas primárias e voluntárias.
E
As fontes secundárias, embora tenham sido
produzidas posteriormente ao acontecimento
histórico, são importantes para o historiador por
revelarem os interesses e o contexto de sua
produção.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
Tendo seu auge no século XIX, época em que se formou a
historiografia, dois conceitos eram fundamentais: o de verdade e o
de prova. Nesse sentido, os documentos escritos, especialmente os
oficiais, constituíam a matéria-prima fundamental dos historiadores
da “escola metódica” ou “positiva” que buscavam transcrever o que
encontravam na documentação.
A
A documentação de caráter oficial, ou seja, aquela
produzida por instituições públicas e governos,
continua sendo a principal fonte para o historiador.
B
A historiografia da chamada “escola positiva” ou
“escola metódica” privilegiava os documentos
escritos por acreditar que neles se encontrava a
verdade histórica.
C
As fontes escritas precisam ser reproduzidas pelo
historiador em sua pesquisa, evitando fazer
interpretações sobre as circunstâncias em que foi
produzida.
D
O historiador tem de analisar o passado, fazendo um
constante cruzamento com outras fontes, à exceção
das fontes documentais.
E
Ao contrário da memória e da oralidade, as fontes
escritas são mais difíceis de ser manipuladas e, por
isso, podem ser mais fiéis sobre o passado.
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Considerações finais
Verificamos neste conteúdo que a História é, acima de tudo, uma ciência
da interpretação. Interpretar fontes históricas escritas e visuais constitui,
além do ofício do historiador, o grande desafio que todos nós
encontramos cotidianamente nas diferentes ações que desenvolvemos.
Devido ao caráter amplo da história, ela está presente em diferentes
espaços e meios, desde um filme ao qual assistimos até a uma conversa
sobre política e economia. O estudo dela, portanto, não pode mais ser
visto como “lições” sobre o passado que ensinam a sociedade
contemporânea a agir no presente. A importância do passado é ajudar
na compreensão do presente, entendendo que ambos são tempos
diferentes que guardam mudanças e permanências.
Da mesma forma, o caráter “humano” na escrita da história, ou seja, o
fato de que os historiadores não são pessoas neutras e isentas de
subjetividades na pesquisa e na escrita, contribui para se evitar que essa
pesquisa seja vista como uma “recuperação” dopassado e seus
resultados, como uma verdade definitiva, o que não quer dizer que a
história deva ser confundida com meras opiniões dos historiadores.
A História, por ser uma ciência, tem objetividade. No entanto, seu objeto
de estudo é marcadamente subjetivo, englobando o homem em
sociedade e suas mudanças ao longo do tempo (passado e presente).
Podcast
Neste podcast, o Professor Rodrigo Rainha recupera os principais pontos
trabalhados no material. Vamos ouvir!
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Leia este artigo para entender algumas das principais mudanças que a
área da História teve nos últimos tempos, bem como aprofundar alguns
conceitos fundamentais, como o de tempo histórico, e conhecer outros,
como os conceitos de estrutura e ação:
GUARINELLO, N. L. História científica, história contemporânea e história
cotidiana. Revista brasileira de História. v. 24. n. 48. 2004.
Que tal a assistir um filme? Vamos ver duas obras que abordam o
debate sobre a forma de contar a história:
a) Narradores de Javé (2003)
Este filme fala sobre uma cidade que desapareceria por conta de uma
represa, sendo então pensada uma forma de guardar seu registro.
b) Amistad (1997)
Esta película aborda um navio negreiro que viveu um levante dos
escravos e a disputa de narrativa – principalmente histórica – sobre o
direito dos sujeitos que lá estavam.
Referências
BARROS, J. d’A. Fontes históricas: uma introdução à sua definição, à sua
função no trabalho do historiador, e à sua variedade de tipos. Cadernos
do tempo presente. v. 11. n. 2. jul./dez. 2020. p. 3-26.
BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito da história, 1940. Obras
escolhidas, v. 1, 1987.
BITTENCOURT, C. Ensino de História: fundamentos e métodos. São
Paulo: Cortez, 2009.
BORGES, V. P. O que é história?. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.
BRAUDEL, F. História e Ciências Sociais: a longa duração. In: BRAUDEL,
F. Escritos sobre a história. Tradução de J. Guinburg e Tereza Cristina
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CARR, E. H. O historiador e seus fatos. In: Que é história?. 3. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1982.
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história e os historiadores. São. Paulo: Ática, 1995.
FALCON, F. História das ideias. In: CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. (Orgs.).
Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
GINZBURG, C. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
HAMPATÉ BÂ, A. A tradição viva. In: História geral da África I:
metodologia e pré-história da África. 2. ed. Brasília: Unesco, 2010.
HOBSBAWM, E. J. Sobre história: ensaios. São Paulo: Companhia das
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LE GOFF, J. Memória e história. Campinas: Unicamp, 2003.
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historiografia europeia do século XIX. São Paulo: Contexto, 2010.
MONTENEGRO, A. T. História oral: caminhos e descaminhos. Revista
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moderna. São Paulo: Globo, 2005.
PESAVENTO, S. J. História & história cultural. Belo Horizonte: Autêntica,
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SCHAFF, A. História e verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
SITTON, T.; MEHAFFY, G.; DAVIS JR. O. L. História oral: un guía para
professores (y otras personas). México: Fondo de Cultura Económica,
1995.
VIDAL-NAQUET, P. Os assassinos da memória: um Eichmann de papel e
outros ensaios sobre o revisionismo. Campinas: Papirus, 1988.
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