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IFBA - Campus Salvador 2021.2 Curso: Bacharelado em Administração Disciplina: Psicologia Aplicada ao Trabalho (HUM102) Docente: Samir Perez Mortada Discente: xxx ATIVIDADE AVALIATIVA Nº 01 Sato (2003) discorre sobre duas perspectivas da Psicologia: a Psicologia do trabalho e das organizações, e a Saúde do Trabalhador. Enquanto que a primeira se articula com a administração e engenharias e está focada em atender aos problemas e interesses gerenciais, a segunda se relaciona com a Psicologia Social e aborda o mundo do trabalho como foco de estudos e problematização. De acordo com a autora, a imediata associação da Psicologia com a abordagem de Recursos Humanos, característica da primeira perspectiva, em especial aos processos de recrutamento, seleção, treinamento etc. objetivam sumariamente a manutenção da força de trabalho, em inobservância ao contexto social em que o trabalhador está inserido. Enquanto isso, a segunda perspectiva da Psicologia, que considera a Saúde do Trabalhador, engloba não somente os problemas sociais e humanos no trabalho, presentes dentro e fora dos espaços organizacionais, considerando as demandas dos trabalhadores e dos órgãos de representação e objetivando a criação de instrumentos para intervenção na realidade do trabalho a partir de ações de vigilância. Nesse aspecto, Sato (2003) chama a atenção ainda para que não haja confusão desta perspectiva com as iniciativas realizadas pela Saúde Ocupacional/Medicina do Trabalho das empresas, que promovem ações voltadas para Qualidade de Vida no Trabalho, a exemplo da ginástica laboral, alimentação balanceada, entre outras, mas que, de forma velada, buscam apenas garantir os recursos necessários à continuidade da produção. Malvezzi (2000), por sua vez, aborda a Psicologia Organizacional (PO) e a transformação de suas formas de atuação desde o surgimento da administração científica até a globalização. A maneira como a relação homem-trabalho era vista e trabalhada pela Psicologia Organizacional nos primeiros 30 (trinta) anos se assemelha à perspectiva trazida por Sato (2003) da Psicologia do trabalho e das organizações, a partir da qual o trabalhador era analisado de forma individual, descontextualizado da realidade social e política. Neste período, a PO contribuiu significativamente para a formatação e desenvolvimento da forma predominante de trabalho na era industrial, buscando compreender estritamente a fadiga do trabalhador e a organização das tarefas que constituíam o fluxo de produção. A chamada psicometria e a engenharia do desempenho humano no trabalho priorizava as tarefas em detrimento ao trabalhador e contava com a Psicologia à criação de padrões apropriados de ritmo, movimento e capacitação. O autor sinaliza que, a partir dos anos 40, os estudos da PO se expandiram e passaram a considerar o trabalhador como sujeito, como ser cultural e emocional. Contudo, foi nos anos 80, devido à influência dos processos de internacionalização e fusão das empresas, que se passou a exigir dos trabalhadores maior flexibilidade e adaptabilidade às mudanças, transcendendo a relação entre ele e a tarefa. A complexidade do ambiente de trabalho passou a florescer, tornando-se um lugar de instabilidade e incertezas, mas, por outro lado, contribuindo para o surgimento do processo de aprendizagem organizacional em transformação ao conhecimento individual dos períodos anteriores. Data: 10/09/2021 1 Segundo Malvezzi (2000), enquanto que no século XX a PO contribuiu à institucionalização do trabalho sob a forma de emprego, com o advento da globalização nos anos 90 a Psicologia Organizacional vem enfrentando o desafio de compreender a resignificação das relações de trabalho. Na chamada reinstitucionalização do trabalho, o trabalhador passa a ser visto sob o olhar do empreendedorismo ou como um agente econômico reflexivo que deve ser gestor de sua própria carreira, em um ambiente de trabalho no qual a instabilidade tornou-se a rotina e que não é mais delimitado fisicamente pelos muros da empresa ou estação de trabalho. Considerando o trazido pelos autores, consigo identificar em minhas experiências profissionais ambas as perspectivas, da Psicologia do Trabalho e da Saúde do Trabalhador. Por exemplo, entre 2018 e 2019 trabalhei no setor de Recursos Humanos de uma empresa de telecomunicações, período no qual pude acompanhar de perto a rotina de uma colega, Psicóloga, que atuava exclusivamente com Recrutamento, Seleção e Treinamento. Os processos seletivos que ela montava eram bem avaliados pelos participantes e gestores, mas eu sentia nela um certo descontentamento em ter o escopo de trabalho tão restrito e repetitivo, sem perspectiva de ampliação e inovação. Quanto à perspectiva da Saúde do Trabalhador, não me recordo de participar de outras ações que não fossem voltadas a campanhas “padrão”, como Outubro Rosa, Novembro Azul... Na empresa de telecomunicações que mencionei acima, realizamos o primeiro evento sobre a campanha de prevenção ao suicídio (Setembro Amarelo), mas no dia do evento tivemos que “catar” as pessoas nos setores porque alguns gestores, e até diretores, disseram que a equipe não iria participar porque “ninguém aqui quer se matar”. No período em que trabalhei no XXX, de 2011 a 2018 na área de HST - Higiene e Segurança do Trabalho, as ações voltadas a esses aspectos resumiam-se às iniciativas da Saúde Ocupacional. Elaborávamos os programas de SST, a exemplo do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, entre outros, e nesses programas as questões voltadas à saúde mental eram tratadas como fatores ergonômicos, mas sem aprofundamento de tratativas para mitigar ou extinguir o risco. Além disso, na maioria das SIPAT - Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho, tratavam-se de temas mecânicos, a exemplo da segurança das mãos ou trabalho com eletricidade, com algumas ações isoladas de Qualidade de Vida, como consulta com nutricionista, ginástica laboral etc. Em 2019, fui chamada no concurso público da XXX e logo em seguida veio a pandemia da COVID-19, infelizmente. Atuando na Pró-Reitoria de Desenvolvimento de Pessoas, observo algumas ações de Qualidade de Vida em moldes gerais; contudo, neste último ano tem sido promovidas iniciativas mais profundas voltadas para saúde mental nesse cenário de incertezas e tensão que vivemos. Aconteceram também algumas rodas de conversa com a XXXa para compreender as mudança no formato do trabalho desenvolvido, com a possibilidade de implantar o teletrabalho parcial ou total. Enfim, acredito que a partir dessa nova realidade imposta pela pandemia, as empresas passem a considerar o trabalhador em uma visão quase que holística. REFERÊNCIAS MALVEZZI, S. Psicologia Organizacional: da Administração científica à globalização: uma história de desafios. São Paulo: USP, 2000. SATO, L. Psicologia, saúde e trabalho: distintas construções dos objetos “trabalho” e “organizações”. In: Z. A. Trindade, & Â. N. Andrade, Psicologia e saúde: um campo em construção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. p. 167-178. Data: 10/09/2021 2
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