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N_Imunologia Do Basico ao Aplicado - Wilma C N Forte-11

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passando, por isso, despercebida. No caso de recém-nascidos com hipocalcemia de repetição, é necessário aventar-se 
a hipótese diagnóstica de síndrome de DiGeorge. O diagnóstico é sugerido pela linfopenia abaixo de 2.500 células/
mm3 (linfócitos T constituem a maioria dos linfócitos do sangue periférico), ausência de sombra tímica ao raio X de 
tórax e hipocalcemia de difícil tratamento. O diagnóstico é confirmado pela ausência de células CD3+ (linfócitos T). 
O tratamento é o transplante de medula óssea, sendo rara a rejeição nesses casos, por causa da ausência de linfócitos 
T no paciente. Por outro lado, o transplante de medula óssea (como necessário no presente caso) e as transfusões 
de hemoderivados não irradiadas, em pacientes com ausência de linfócitos T, podem levar à reação enxerto versus 
hospedeiro pelos linfócitos imunocompetentes do doador. O tratamento do hipoparatireoidismo faz parte da terapia da 
síndrome. A falta de diagnóstico pode levar à alta hospitalar do recém-nascido, inicialmente sem infecção, retornando 
ao hospital com processos infecciosos graves, que impossibilitam o transplante de medula e culminam com o óbito. 
Muitas vezes, o quadro se manifesta após vacinações com microrganismos atenuados, que são contraindicadas.
Caso 4. Menino de 3 anos, com vitiligo e diabetes melito.
Evolução: Aos 4 anos passou a apresentar hipotireoidismo. O diagnóstico de IPEX foi feito após a observação da 
acentuada redução de linfócitos T CD4+CD25+. 
Discussão: Na IPEX há ausência da tolerância central por falta da proteína intracelular FoxP3 contida em linfócitos 
T reguladores naturais (CD4+CD25+FoxP3+). Na ausência desses linfócitos, deixa de haver apoptose de linfócitos 
autorreativos, resultado na doença autoimune precoce e grave, a IPEX.
Caso 5. O Dia Mundial da Saúde é 7 de abril. Muitas vezes, nessa época é iniciada uma campanha de vacinação 
contra gripe (influenzae virus inativado), e em vários locais, com base em dados epidemiológicos, é dada preferência 
à vacinação para idosos, diferente da vacinação contra A(H1N1), cuja preferência é dada a gestantes, que apresentam 
maior risco.
Evolução: Após a vacina, os idosos passam a ter menos episódios de gripes, embora possam apresentar resfriados 
comuns por Rhinovirus ou por vírus sincicial respiratório, interpretados como processos gripais.
Discussão: As gripes por influenzae virus atingem preferentemente e de forma mais grave os idosos, sendo uma das 
causas a involução tímica com a idade. A consequência é uma menor lise por células T citotóxicas e Th1. Os linfócitos 
T de memória têm meia-vida longa. Entretanto, o virus influenzae da gripe sofre mutações constantes, necessitando de 
linfócitos específicos aos novos determinantes antigênicos apresentados. Por essas razões, os idosos apresentam menor 
defesa contra esses vírus, com sintomatologia importante e frequentes complicações, o que justifica a vacinação.
QUESTÕES
1a – Quais são os órgãos linfoides primários e secundários e quais as funções de tais órgãos?
2a – Como antígenos e linfócitos atingem linfonodos e se encontram nesses órgãos linfoides periféricos?
3a – Quais são as subpopulações de linfócitos da resposta adaptativa?
4a – O que são plasmócitos?
5a – Como células NK podem impedir ou facilitar a presença de doenças autoimunes?
6IMUNOGLOBULINAS
CONCEITO
Imunoglobulinas são glicoproteínas efetoras da imunidade 
humoral, com função de combate a antígenos. Behring e Kita-
sato, em 1890, observaram a proteção para a difteria utilizando 
soro de animais imunizados com toxina diftérica: seria o soro 
antidiftérico rico em anticorpos. Em 1952, Bruton relatou a 
ausência de anticorpos em um menino que apresentava infec-
ções de repetição – depois conhecida como agamaglobuline-
mia de Bruton ou deficiência de Btk (enzima tirosina-quinase 
de Bruton).
As imunoglobulinas são componentes termoestáveis da 
resposta imunológica. Estão presentes no plasma, líquido in-
tersticial, mucosas, cavidades e superfície de linfócitos B, fa-
zendo parte do receptor dessas células. As imunoglobulinas 
são glicoproteínas constituídas por 82% a 96% de polipeptí-
deos e 4% a 18% de carboidratos (Figura 6.1).
As proteínas do soro humano podem ser separadas pela 
eletroforese de proteínas em albumina, a1-globulina, a2- 
-globulina, b-globulina e γ-globulina, conforme apresentem 
maior ou menor capacidade de migração ante cargas elétricas: 
a albumina tem maior poder migratório, enquanto a γ-glo-
bulina apresenta menor migração ante eletrodos positivos. A 
maioria das proteínas efetoras da imunidade com função de 
anticorpo pertence à fração γ-globulina, sendo, por isso, refe-
rida como gamaglobulina, especialmente em hemoderivados 
e fármacos comerciais. Entretanto, um grupo menor dessas 
proteínas efetoras encontra-se na fração b-globulina e uma 
quantidade ainda menor, na fração a2-globulina. Em virtude 
dessa heterogeneidade proteica (não só na fração γ-globulina), 
a Organização Mundial de Saúde recomenda que se fale em 
imunoglobulinas, e não gamaglobulina. Ainda indica o termo 
“imunoglobulina” quando as proteínas efetoras estiverem li-
vres, reservando-se “anticorpo” para o momento em que tais 
proteínas se encontrarem unidas a antígenos. Assim, as imu-
noglobulinas são as proteínas livres e efetoras da imunidade 
e passam a ser denominadas de anticorpos quando unidas a 
antígenos (Figura 6.2).
AQUISIÇÃO DE IMUNOGLOBULINAS
As imunoglobulinas são adquiridas com a filogenia, sendo 
a IgM a primeira imunoglobulina a aparecer. Os invertebrados 
não apresentam imunoglobulinas; a lampreia é o primeiro ser 
a apresentar uma molécula estruturalmente semelhante à IgM, 
Figura 6.1. Imunoglobulinas são glicoproteínas estáveis efetoras da imunidade hu-
moral. Estão presentes no plasma e na superfície de linfócitos B.
IMUNOGLOBULINAS
CONCEITO
• Glicoproteínas efetoras da imunidade humoral 
• Componentes termoestáveis da resposta imunológica 
NATUREZA
• Glicoproteínas 82% a 96% polipeptídeos
 4% a 18% carboidratos
52 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
pois já tem linfócitos T e B; os peixes apresentam IgM; o sapo 
dispõe de duas classes, a IgM e a IgG; o coelho possui IgM, IgG 
e IgA; o ser humano apresenta cinco classes de imunoglobuli-
nas: IgM, IgG, IgA, IgE e IgD. 
A enzima papaína tem a capacidade de cindir a estrutura 
tetrapeptídica em três fragmentos: dois Fab (fragmento de li-
gação ao antígeno – fragment antigen binding) e um Fc (frag-
mento cristalizável – fragment crystalizable). O Fab contém 
toda a cadeia leve e parte da cadeia pesada, enquanto o restan-
te da cadeia pesada está contido no Fc (Figura 6.4). 
NOMENCLATURA DAS IMUNOGLOBULINAS (OMS)
 Albumina 
Eletroforese de proteínas séricas
 Globulinas: α1, α2, β, γ 
Imunoglobulinas: principalmente na fração gamaglobulina (γ), 
mas também na fração β e até na α
• Imunoglobulinas: livres no plasma 
• Anticorpos: unidos a antígenos
Durante o desenvolvimento do sistema imunológico no 
ser humano e no decorrer de um processo infeccioso, a IgM 
também é a primeira a aparecer. O feto tem capacidade de 
síntese de IgM sérica em uma infecção. A IgM é a primeira 
imunoglobulina sintetizada no recém-nascido. Diante de um 
processo infeccioso em qualquer época da vida, a IgM é a pri-
meira imunoglobulina a ser produzida. 
Com o evoluir da idade, a criança passa a sintetizar as de-
mais classes de imunoglobulinas e, em condições habituais, al-
gumas classes demoram a atingir valores iguais aos de adultos. 
Crianças de 2 a 3 anos já podem apresentar valores de IgM 
semelhantes aos de adultos, e a IgA sérica e a IgA secretora 
atingem os padrões de adulto em torno dos 4 anos e dos 7 anos 
até a puberdade, respectivamente. A IgG1 e a IgG3 alcançam 
padrões de adulto aos 8 anos, enquanto a IgG2, aos 10 anos e 
a IgG4, aos 12 anos. 
ESTRUTURA BÁSICA DAS IMUNOGLOBULINAS 
A estrutura básica da imunoglobulina é um monômero, 
constituído por duas cadeias polipeptídicas leves e duas ca-
deias polipeptídicas pesadas. As cadeias levessão referidas pela 
letra “L” (light) e as pesadas, por “H” (heavy), estando as quatro 
cadeias polipeptídicas unidas entre si por pontes dissulfídicas. 
Trata-se de uma estrutura tetrapepdídica básica (Figura 6.3).
Figura 6.2. As proteínas séricas migram de forma diferente na eletroforese, dife-
renciando-se em albumina, α1-globulina, α2-globulina, β-globulina e γ-globulina. 
A maior parte das imunoglobulinas está contida na fração γ-globulina. A OMS indica 
a nomenclatura imunoglobulina para as proteínas livres, em vez de gamaglobulina, 
pois nem só a fração γ contém anticorpos, mas também outras frações de globulinas. 
Indica ainda o termo “anticorpo” para quando essas proteínas se encontrarem unidas 
a antígenos.
Figura 6.3. Monômero é a estrutura tetrapeptídica básica das imunoglobulinas, forma-
do por duas cadeias polipeptídicas leves e duas pesadas, unidas por pontes dissulfídicas.
ESTRUTURA DAS IMUNOGLOBULINAS
Monômero: estrutura tetrapeptídica básica 
• Duas cadeias peptídicas leves 
• Duas cadeias peptídicas pesadas
• Pontes dissulfídicas
S
S
S
S
S
S
Figura 6.4. A papaína cinde a imunoglobulina em dois fragmentos Fab e um Fc, que 
são úteis no estudo e aplicação das imunoglobulinas.
FRAGMENTOS DAS IMUNOGLOBULINAS
Papaína
Fab = fragmento de união ao antígeno (fragment antigen binding)
Fc = fragmento cristalizável (fragment crystalizable)
Fab Fc
S
S S
COO-
COO-
NH3+
NH3+
S
A parte maior das cadeias pesadas e leves apresenta a mes-
ma sequência de aminoácidos para cada classe de imunoglo-
bulinas, sendo, por isso, denominada região constante (car-
boxiterminal). A região constante permite que cada classe de 
imunoglobulina exerça determinada atividade biológica. Os 
extremos das cadeias leves e pesadas são as regiões variáveis 
(aminoterminais), onde ocorre uma variabilidade da sequên-
cia de cerca de 110 aminoácidos iniciais. Dentro da região 
variável existem três porções denominadas hipervariáveis, 
responsáveis pela união a antígenos específicos. A região va-
riável permite que uma imunoglobulina seja específica para 
determinado antígeno (Figura 6.5). 
53capítulo 6 IMUNOGLOBULINAS 
Existe ainda uma parte da cadeia polipeptídica pesada rica 
em hidroxiprolina: a chamada região da dobradiça. Essa re-
gião é importante por conferir elasticidade à molécula, que, de 
uma forma inicial em “Y”, pode assumir a forma de um “T”, 
dependente da necessidade espacial determinada pelo tama-
nho do antígeno (Figura 6.6). 
As classes de imunoglobulinas podem, ainda, ser divididas 
em subclasses: IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4, para IgG; e IgA1 e 
IgA2, para IgA. As diferentes subclasses apresentam diferentes 
cadeias pesadas (Figura 6.8).
Figura 6.5. A imunoglobulina apresenta duas regiões variáveis (aminoterminais) e 
uma constante (carboxiterminal), as quais permitem que cada imunoglobulina seja 
específica para determinado antígeno e que cada classe de imunoglobulina exerça uma 
atividade biológica (exemplo: IgG atravessa a placenta).
REGIÕES DAS IMUNOGLOBULINAS
Região variável
(hipervariável)
Região constante
Atividade
biológica
Fab
Especificidade
Figura 6.6. A região da dobradiça das cadeias pesadas da imunoglobulina é rica em 
hidroxiprolina, permitindo que a molécula de imunoglobulina adquira formas de “Y” ou 
de “T”, conforme a necessidade dada pelo tamanho do antígeno.
FLEXIBILIDADE DAS IMUNOGLOBULINAS
Região da dobradiça: 
é rica em hidroxiprolina, que dá
�exibilidade à molécula de Ig
CLASSES E SUBCLASSES DE 
IMUNOGLOBULINAS
Os polipeptídios das cadeias pesadas têm diferentes se-
quências de aminoácidos, dando origem a diferentes cadeias, 
conhecidas pelas letras: m (mu), γ (gamma), a (alpha), e (epsi-
lon) e d (delta). A sequência de polipeptídios de cadeias leves 
resulta nas cadeias: k (kappa) ou l (lambda), existindo sempre 
duas k ou duas l em uma imunoglobulina, sem que haja dois 
tipos de cadeias leves em uma mesma imunoglobulina.
Duas cadeias m unidas por pontes dissulfídicas a duas ca-
deias k ou a duas l dão origem à imunoglobulina M (IgM); 
duas γ e duas k ou l formam a IgG; duas a e duas k ou l, IgA; 
duas e e duas k ou l, IgE; e duas d unidas a duas k ou l, IgD, 
resultando nas diferentes classes de imunoglobulinas: IgM, 
IgG, IgA, IgE e IgD (Figura 6.7).
Figura 6.7. O ser humano apresenta cinco classes de imunoglobulinas, cujo nome 
depende da cadeia pesada que contém: IgM, quando a cadeia pesada é µ; IgG, para a 
γ; IgA, para a α; IgE, para a ε; e IgD, para a δ. As cadeias leves são de dois tipos: κ ou λ, 
existindo duas κ ou duas λ em uma mesma imunoglobulina.
SUBCLASSES DE IgG
(diferenças nas cadeias pesadas)
IgG3
IgG2
IgG1
IgG4
Figura 6.8. As diferenças estruturais das cadeias pesadas são responsáveis pelas dife-
rentes ações das subclasses das imunoglobulinas.
As imunoglobulinas séricas das classes IgG, IgA, IgE e IgD 
são constituídas por um monômero, enquanto a IgM sérica é 
formada por cinco monômeros unidos entre si por uma cadeia 
polipeptídica também sintetizada por plasmócitos, denomina-
da cadeia J. A IgM encontrada na superfície de linfócitos B 
é um monômero, e a maior parte da IgA das secreções é um 
dímero, formado por dois monômeros (Figura 6.9).
As imunoglobulinas sintetizadas distribuem-se por difu-
são na circulação sanguínea e por forma ativa para mucosas 
(por meio de receptores). Os valores absolutos das classes de 
imunoglobulinas dependem da idade. Por essa razão, é impor-
tante, ao observar os valores individuais, compará-los aos de 
curvas-padrão de normalidade para a faixa etária em questão. 
Se os valores de uma criança forem comparados às curvas de 
normalidade de adultos, estarão erroneamente diminuídos 
(Figura 6.10). 
CLASSES DE IMUNOGLOBULINAS
(diferenças nas cadeias pesadas)
Cadeias leves
Os nomes das classes são dados pelas cadeias pesadas
Cadeias pesadas
IgG λ κ ou λ
IgM µ κ ou λ
IgD δ κ ou λ
IgE ε κ ou λ
IgA α κ ou λ
54 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
As cinco classes de imunoglobulinas são encontradas no 
plasma em proporções diferentes: IgG é a que existe em maior 
quantidade, representando cerca de 80% a 90% das imunoglo-
bulinas. A seguir, encontram-se 7% a 15% de IgA, 4% a 7% 
de IgM, 1% de IgE e, em quantidades muito menores, como 
0,002%, IgD (Figura 6.11). A maior proporção de IgG dá-se 
pela IgG1, com cerca de 60% a 70% do total; IgG2, em 20% a 
30%; IgG3, em 6%; e IgG4, em 4% (Figura 6.12).
CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DAS 
IMUNOGLOBULINAS
Entre as propriedades físico-químicas das imunoglobuli-
nas, sabe-se que a IgM tem maior peso molecular (900.000 dal-
tons), pois é um pentâmero. Por ter alto peso molecular, a IgM 
apresenta maior coeficiente de sedimentação (19S). As demais 
imunoglobulinas séricas são monoméricas, com pesos molecu-
lares variando entre 160.000 e 185.000 dáltons e coeficientes de 
sedimentação de 7S. A IgA secretora, quase sempre dimérica, 
tem coeficiente de sedimentação de 11S. As imunoglobulinas 
monoméricas são bivalentes, ou seja, podem se unir a dois antí-
genos específicos; as diméricas (IgA secretora) são tetravalentes 
e as pentaméricas (IgM) podem ser decavalentes (Figura 6.13).
A imunoglobulina com maior concentração sérica e meia- 
-vida mais longa é a IgG, que permanece no organismo por 21 a 
23 dias ou mais, na dependência do estímulo inicial. As demais 
imunoglobulinas permanecem intactas no organismo por menos 
tempo: cerca de dois a seis dias. Plasmócitos comprometidos com 
determinado antígeno podem secretar IgG específica por muito 
tempo, em especial se o estímulo antigênico for viral (Figura 6.13).
Figura 6.9. As imunoglobulinas G, A, E e D séricas são monoméricas. A IgM sérica é 
formada por cinco monômeros unidos entre si por cadeia polipeptídica J, enquanto a 
IgM encontrada na superfície de linfócitos B é um monômero.
Figura 6.10. As quantidades das classes de imunoglobulinas dependem da idade, 
motivo pelo qual é necessária a observação das diferentes curvas-padrão de normali-
dade conforme a faixa etária relativamente aosexames da resposta imunológica adap-
tativa humoral a serem analisados.
QUANTIDADES DAS CLASSES DE IMUNOGLOBULINAS
Curvas-padrão de normalidade para 
cada faixa etária
Valores das imunoglobulinas
dependem da idade
Figura 6.11. A IgG é a classe de imunoglobulinas que prevalece no plasma; seguem- 
-se IgM, IgA e IgE. A maior parte da IgD não está no plasma e sim na superfície de 
linfócitos B.
PERCENTAGENS DAS CLASSES DE IMUNOGLOBULINAS
IgG 80% a 90% das imunoglobulinas
IgA 7% a 15%
IgM 4% a 7% 
IgE 1% 
IgD 0,002%
Figura 6.12. A subclasse de IgG que predomina no plasma é a IgG1, seguida de IgG2. 
A IgG3 apresenta menor concentração plasmática, e a IgG4 ainda menor.
PERCENTAGENS DAS SUBCLASSES DE IMUNOGLOBULINAS
IgG1 60% a 70% da IgG total
IgG2 20% a 30% da IgG total
IgG3 6% da IgG total
IgG4 4% da IgG total
Figura 6.13. Entre as propriedades físico-químicas das imunoglobulinas, observa-se 
que a IgM, por ser um pentâmero, apresenta maior peso molecular e maior coeficiente 
de sedimentação; a IgG tem maior meia-vida, dependendo do antígeno promotor; as 
propriedades físico-químicas das demais classes são semelhantes entre si.
PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DAS IMUNOGLOBULINAS
IgM IgG IgA IgD IgE
Peso molecular 
(dáltons)
900.000 160.000 170.000 180.000 185.000
Coeficiente de 
sedimentação
19S 7S 7S e 11S 7S 8S
Concentração 
sérica (mg/dL)
0,5 a 2 8 a 16 1,4 a 4 0,04 17 a 250 
ng/mL
Valência 10 2 2 ou 4 2 2
Meia-vida (dias) 5 a 6 21 a 23 5 2 a 3 2 a 3 
DOMÍNIOS DAS IMUNOGLOBULINAS
É possível ocorrer a união de aminoácidos, principalmente 
de cisteínas, dentro de uma mesma cadeia polipeptídica, por 
CLASSES DE IMUNOGLOBULINAS SÉRICAS
IgG, IgA, IgE e IgD séricas: monômeros
IgM sérica: pentâmero
AG
AG
AG AG
J
AG
AG
AG
AG
AG
AG
AG
AG
55capítulo 6 IMUNOGLOBULINAS 
meio de pontes dissulfídicas, dando origem aos domínios e 
levando a imunoglobulina à estrutura tridimensional. Assim, 
domínios são regiões globulares formadas por pontes dissul-
fídicas entre resíduos de cisteínas, dando a configuração tridi-
mensional às imunoglobulinas.
Os primeiros domínios são formados pela porção variável 
da cadeia leve – light (L) e pesada – heavy (H), por isso referi-
dos como VL e VH, respectivamente. Já os segundos domínios 
são dados pelo início das porções constantes, sendo designa-
dos como CL e CH1; o terceiro e o quarto domínio são CH2 
e CH3, respecticamente. A IgM e a IgE apresentam quinto 
domínio (CH4). Os domínios VL e VH são pareados, assim 
como CL e CH1 (Figura 6.14). 
Os primeiros domínios, por meio de uma porção hiper-
variável que apresentam, reconhecem antígenos, permitindo a 
união da imunoglobulina ao antígeno. Os segundos e o quar-
to domínios permitem ligações não covalentes entre as duas 
cadeias pesadas, tornando-as unidas. O terceiro domínio é 
responsável pela união da imunoglobulina a C1q, o primeiro 
componente da via clássica do complemento. O quarto do-
mínio apresenta receptor para IgG em placenta, denomina-
do receptor Fcγ neonatal (RFcγN), que parece também ser 
responsável por aumento da meia-vida da IgG. O quarto e o 
quinto domínios apresentam citotropismo para neutrófilos, 
macrófagos e linfócitos, com receptores específicos em tais 
células (RFc). A IgE pode se unir a eosinófilos e mastócitos 
pelo quinto domínio, por meio de receptores para Fce. Os re-
ceptores em células podem ser de alta afinidade para a imuno-
globulina (RFcI) ou de baixa afinidade (RFcII). Os receptores 
de baixa afinidade ligam-se menos à imunoglobulina, mas 
aparentemente têm também uma função de retroalimentação 
negativa: no caso de muitos RFcII de células estarem unidos 
à imunoglobulina, parece haver diminuição da síntese dessa 
imunoglobulina (Figura 6.15). 
Figura 6.14. As cadeias das imunoglobulinas unem-se por pontes dissulfídicas in-
tracelulares, resultando na formação de quatro (IgG, IgA, IgD) ou cinco domínios (em 
IgM, IgE). A denominação dos domínios baseia-se na região variável (V), na constante 
(C) e no tipo de cadeia: leve – light (L) ou pesada – heavy (H), com ordem numérica 
sequencial. Exemplos de um domínio: VL; CH1; CH2. Os domínios VL e VH são pareados.
DOMÍNIOS DAS IMUNOGLOBULINAS
CH4CH3CH2
CH1
CH1
CL
CLVH
VH
VL
VL
IgM e IgE
Região constante
Domínios: regiões globulares formadas 
por pontes dissulfídicas dando con�guração 
tridimensional às imunoglobulinas
Região
variável
Figura 6.15. Os domínios das imunoglobulinas apresentam diferentes funções: 
os primeiros (VL e VH) são responsáveis pela união a antígenos (por meio da porção 
hipervariável); os segundos (CL e CH1) e o quarto (CH3) domínios unem as cadeias 
polipeptídicas de forma não covalente; o terceiro domínio (CH2) une-se ao primeiro 
componente da via clássica do complemento (C1q); leucócitos apresentam recepto-
res para o quarto e quinto domínio (RFc), resultando no tropismo para essas células; 
o quarto domínio e também o terceiro apresentam receptor em placenta, conhecido 
como RFc neonatal (RFcN). 
VARIAÇÕES ENTRE AS IMUNOGLOBULINAS
As imunoglobulinas podem apresentar variações classifi-
cadas em isótipos, alótipos e idiótipos. Os isótipos ou isotipos 
(isos = mesmo) referem-se à existência das mesmas classes de 
imunoglobulinas em indivíduos da mesma espécie, ou seja, to-
dos os membros de determinada espécie apresentam os mes-
mos isótipos ou classes de imunoglobulinas. No ser humano 
existem os isótipos IgM, IgG, IgA, IgE e IgD. 
Os alótipos (allos = outro) indicam que existem múlti-
plos alelos gênicos em uma população (polimorfismo gené-
tico) que determinam pequenas diferenças na sequência dos 
aminoácidos das imunoglobulinas. Situam-se dentro da re-
gião constante. O fator reumatoide (uma IgM encontrada em 
determinadas famílias) e a herança familiar de IgE (atopias) 
constituem exemplos de alótipos. 
FUNÇÕES DOS DOMÍNIOS DAS IMUNOGLOBULINAS
CH4CH3CH2
CH1
CH1
CL
CLVH
VH
VL
VL
União entre as cadeias
Receptores 
em leucócitos
(RFcI e II)
Receptores 
em placenta 
(RFc neonatal)
Ativa
complemento
Receptores 
em leucócitos 
e mastócitos 
(RFcI e II)
União
ao 
antígeno
56 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
Os idiótipos são as imunoglobulinas individuais, próprias 
de um indivíduo. As diferenças dão-se nas regiões variáveis e 
hipervariáveis de cada imunoglobulina. Os idiótipos deter-
minam a resposta humoral existente em cada indivíduo (Fi-
gura 6.16).
Entre as atividades biológicas primárias das imunoglobu-
linas, encontram-se a participação na lise por ativar comple-
mento (MAC) ou mediar a citotoxicidade celular dependente 
de anticorpo (ADCC). Por meio de neutralização, a imunoglo-
bulina pode recobrir a porção deletéria do antígeno, neutrali-
zando seu poder antigênico, como ocorre diante de toxinas. 
A imunoglobulina pode aglutinar bactérias, impossibilitando 
sua ação. Pode, ainda, unir-se a antígenos, inibindo a penetra-
ção em mucosas. Por precipitação, a imunoglobulina une-se 
a substâncias solúveis, formando complexos insolúveis, mais 
rapidamente eliminados. As imunoglobulinas podem revestir 
patógenos, atuando como opsoninas, e, dessa forma, unirem- 
-se também aos receptores de fagócitos, facilitando a fagocito-
se (opsonização). As imunoglobulinas ativando complemen-
to promovem a quimiotaxia e a degranulação de mastócitos, 
como o fazem os componentes C3a e, em especial C5a, sendo 
denominados anafilatoxinas (Figura 6.18).
Figura 6.16. As imunoglobulinas podem se diversificar quanto aos isotipos (classes 
iguais existentes em cada espécie), alotipos (imunoglobulinas só existentes em alguns 
indivíduos de uma mesma espécie) e idiotipos (imunoglobulinas próprias de cada in-
divíduo).
Figura 6.17. As atividades primárias das imunoglobulinas resultam do efeito direto 
observado após a união ao antígeno. As atividades secundárias são características a 
cada classe de imunoglobulina. 
ATIVIDADES BIOLÓGICAS PRIMÁRIAS DAS 
IMUNOGLOBULINAS
As atividades biológicas das imunoglobulinas podem ser 
primárias ou secundárias. As primáriassão as resultantes 
biológicas provenientes da união entre antígeno e anticorpo, 
como a capacidade de promover lise contra o antígeno, por di-
ferentes mecanismos. As atividades secundárias resultam das 
características de cada classe de imunoglobulina, podendo-se 
citar a capacidade da IgG em atravessar placenta. A porção 
constante é a principal responsável pelas atividades biológicas 
secundárias das imunoglobulinas (Figura 6.17).
ATIVIDADES BIOLÓGICAS DAS IMUNOGLOBULINAS
Primárias – Resultados das ligações entre Ig e antígeno
Exemplo: anticorpos antipolissacarídeos (contidos em IgG2) 
permitindo a opsonização
Secundárias – Atividades próprias de cada classe ou subclasse
Exemplo: IgG atravessa placenta, IgA faz defesa em mucosas
VARIAÇÕES ENTRE AS IMUNOGLOBULINAS
1) Isotipos ou classes (imunoglobulinas da mesma espécie)
 • Referem-se às regiões constantes das cadeias pesadas 
 • Exemplo: isotipos IgM, IgG, IgA, IgE e IgD do ser humano
2) Alótipos ou alotipos (outro tipo de imunoglobulina na mesma espécie)
 • Diferenças nas regiões constantes
 • Exemplo: fator reumatoide em determinadas famílias
3) Idiotipos (imunoglobulinas individuais)
 • Diferenças nas regiões variáveis
 • Exemplo: idiotipo IgM do indivíduo A e idiotipo IgM do indivíduo B
Figura 6.18. Estão descritas as atividades biológicas primárias das imunoglobulinas.
ATIVIDADES BIOLÓGICAS PRIMÁRIAS DAS IMUNOGLOBULINAS
1. Lise através de complemento por formação do MAC
 ou permitindo a citotoxicidade (ADCC)
2. Neutralização recobre a parte deletéria do antígeno
3. Aglutinação agrega-se a antígenos e impossibilita sua ação
4. Bloqueadora une-se a antígenos e impossibilita sua penetração
5. Precipitação une-se a antígenos e forma complexos insolúveis
6. Opsonização reveste antígeno e facilita a fagocitose 
7. Liberação de anafilatoxinas e promoção de quimiotaxia por 
 meio do complemento por formação de C5a e C3a
ATIVIDADES BIOLÓGICAS DAS CLASSES DE 
IMUNOGLOBULINAS
A IgM é sempre a primeira imunoglobulina a ser sintetiza-
da diante de um processo infeccioso, indicando uma infecção 
presente. Sua eficácia maior é contra bactérias Gram-nega-
tivas. É a melhor imunoglobulina que ativa a via clássica do 
complemento, unindo-se a C1q; a união de IgM ao anticorpo, 
com ativação do complemento e formação de MAC, resulta 
em lise. É aglutinadora, formando agregados incapazes de 
atravessar mucosas e impedindo a penetração de microrganis-
mos. A IgM neutraliza toxinas, atuando diretamente nelas ou 
por mecanismo de clareamento (Figura 6.19).
A IgG tem meia-vida longa, podendo ainda ser sinteti-
zada por linfócitos B de memória. É uma imunoglobulina 
de memória: está presente mesmo na ausência de infecção 
atual, indicando infecção prévia. É eficiente contra bactérias 
encapsuladas, revestindo tais bactérias e facilitando a fagoci-
tose (opsonização). A IgG1 e a IgG3 ativam a via clássica do 
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