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N_Imunologia Do Basico ao Aplicado - Wilma C N Forte-40

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253capítulo 22 IMUNODEFICIÊNCIAS ADQUIRIDAS 
O leucograma mostra linfopenia, pois há diminuição de 
linfócitos T, especialmente de CD4+. A diminuição de células 
CD4+ está relacionada ao aparecimento das manifestações clí-
nicas. Há inversão da relação CD4/CD8, considerando a pro-
gressão da doença.
A positividade do teste imunoenzimático indireto ou 
ELISA indireto indica a presença de anticorpos. São utiliza-
das placas de poliestireno unidas à célula infectada por HIV. 
Havendo anticorpos no soro do indivíduo, estes se unirão 
à célula infectada e, acrescentando-se anti-imunoglobulina 
(anti-anti-HIV) conjugada à enzima, a reação torna-se visí-
vel. O uso de célula, e não apenas do vírus por esse método, 
pode acarretar resultado falso-positivo, quando o paciente 
apresenta algum anticorpo contra a célula utilizada. Esse fato 
determinou a obrigatoriedade de outro método em casos 
de positividade. Pode haver ainda falso-negativo quando o 
contágio foi recente e não houve tempo para a formação de 
anticorpos suficientes para a detecção (janela imunológica) 
(Figura 22.9).
O teste Western blot ou Western blotting também é imu-
noenzimático indireto, com a mesma técnica do anterior. A 
diferença está na utilização de HIV, em vez de célula infectada. 
Com isso, é retirada, quase totalmente, a falsa-positividade do 
método, persistindo ainda o falso-negativo (Figura 22.10).
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Fiocruz 
desenvolveu o teste rápido Western blot, que “pula etapas” 
do método clássico, permitindo o resultado em 20 minutos. 
Bandas com proteínas recombinantes de HIV e bandas sem 
HIV são previamente transferidas para uma membrana de 
nitrocelulose. O sangue do indivíduo é colocado diretamente 
nessas tiras de nylon: caso existam anticorpos, estes se unem 
às proteínas do HIV, tornando o resultado positivo. Em caso 
de positividade, o teste é repetido ou realizado o Western blot 
clássico, uma vez que este pode apresentar maior especificida-
de (Figura 22.11). 
Figura 22.8. Exames imunológicos para o diagnóstico de portador de HIV e de AIDS.
EXAMES IMUNOLÓGICOS EM INFECÇÃO POR HIV E AIDS
1. Leucograma com linfopenia
2. Contagem de CD4+ e CD8, relação CD4/CD8
3. Teste imunoenzimático indireto
4. Western blot
5. Teste imunoenzimático direto
6. PCR (Reação em Cadeia da Polimerase)
 para RNA viral (PCR qualitativo ou quantitativo)
7. gp120 viral (glicoproteína 120 do envelope viral)
Figura 22.9. Visualização do teste imunoenzimático indireto para HIV. Com a rea-
lização apenas desse exame pode haver falso-positivo (anticorpos contra a célula 
utilizada, e não contra HIV) e falso-negativo (janela imunológica – não houve tempo 
de formação de anticorpos). Quando positivo, há obrigatoriedade da realização de 
outros exames. 
TESTE IMUNOENZIMÁTICO INDIRETO
(ELISA INDIRETO)
(pesquisa de anticorpos)
Pode haver:
Falso-positivo
 Falso-negativo
Placas de
poliestireno
Anti-HIV
do soro
do paciente
Célula
infectada
por HIV
Solução de 
Anti-anti HIV conjugado
à enzima
Figura 22.10. Visualização do teste imunoenzimático indireto Western Blot para HIV. 
Após esse exame restam os falso-negativos (janela imunológica).
WESTERN BLOT
(TESTE IMUNOENZIMÁTICO INDIRETO)
(pesquisa de anticorpos)
Pode haver:
Falso-negativo
Placas de
poliestireno
Anti-HIV
do soro
do paciente 
Proteínas
 do HIV
Solução de
Anti-anti HIV
conjugado
à enzima
Figura 22.11. O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Fiocruz desenvolveu o 
método Western-blot por teste rápido: anticorpos anti-HIV do sangue testado unem-se 
às proteínas do HIV colocadas em tiras de nitrocelulose. 
 WESTERN BLOT POR TESTE RÁPIDO
(TESTE IMUNOENZIMÁTICO INDIRETO)
(pesquisa de anticorpos)
• Rápido: vinte minutos porque “pula etapas”
• Alta sensibilidade: pouco falso-negativo
• Quando positivo: repetir ou realizar Western Blot clássico
Bandas com proteínas recombinantes do HIV
e
Bandas sem proteínas
Anti-HIV
do sangue
do indivíduo
Tira de nylon (nitrocelulose):
254 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
O teste imunoenzimático direto ou ELISA direto detecta 
a presença do vírus, uma vez que utiliza soluções contendo 
anticorpos anti-HIV, dessa forma afastando o falso-negativo 
(Figura 22.12).
O teste da reação em cadeia da polimerase (PCR) para HIV 
qualitativo é um método molecular que identifica a sequência 
de ácido nucleico do vírus, utilizando primers de RNA do HIV. 
Pode, ainda, ser realizado de forma quantitativa. O gp120 de-
termina a quantidade da glicoproteína 120 do envelope viral, 
refletindo a carga viral do portador (Figura 22.8).
Foram estudados vários marcadores, entretanto a quan-
tificação do RNA do HIV plasmático mostrou-se fortemente 
associada à queda da contagem de células CD4+ e ao desen-
volvimento de AIDS, com acentuada queda de CD4+ para ní-
veis de RNA do HIV acima de 10.000 Eq/mL. Observou-se, 
ainda, elevada concentração intracelular da gp 120 durante o 
processo de montagem do virion na célula infectada pelo HIV. 
A depleção de células CD4+ é também marcadora importante 
da infecção pelo HIV. 
sários. Assim, em regiões cuja alimentação é quase exclusiva-
mente a mandioca, o resultado é a deficiência de proteínas de 
forma geral; o milho é pobre em lisina, triptofano e histidina; o 
arroz apresenta carência de lisina e treonina. A baixa ingestão 
de proteínas leva ao fato de o catabolismo predominar sobre o 
anabolismo. 
Uma das primeiras alterações que ocorre na desnutrição é 
a diminuição da produção de adenosina trifosfato (ATP), acar-
retando falta de energia para manter a bomba sódio/potássio. 
Em consequência, há aumento do sódio intracelular, entrada 
de água e edema celular, presentes já nos estágios iniciais da 
desnutrição. O edema celular leva à diminuição relativa das 
enzimas intracelulares. 
A persistência de falta de ingestão proteica leva à hipopro-
teinemia, com diminuição da síntese de novos aminoácidos, o 
que acarreta diminuição absoluta de enzimas intracelulares e 
depressão da formação de citoplasma, com consequente hipo-
trofia. Tais alterações funcionais ocorrem em todos os órgãos e 
sistemas do organismo, incluindo o sistema imunológico.
Na desnutrição, há hipotrofia dos órgãos linfoides: timo, 
linfonodos, baço, tonsilas palatinas e adenoideanas. Assim, na 
presença de processos infecciosos, não se observa adenomega-
lia ou esplenomegalia. 
A resposta celular está comprometida já na desnutrição 
moderada. Adultos desnutridos são frequentemente não rea-
tores a testes cutâneos de leitura tardia. Há diminuição do 
número total de linfócitos T, responsável pela linfopenia por 
vezes apresentada. Há depressão da atividade proliferativa de 
T, diminuição dos valores de células CD4+ e, em menor pro-
porção, de células CD8+, acarretando tendência à inversão da 
relação CD4/CD8. Esse imunocomprometimento faz com que 
o paciente apresente maior suscetibilidade e maior gravidade a 
infecções por bactérias altamente patogênicas e a microrganis-
mos intracelulares. São mais frequentes infecções virais, fún-
gicas e por bactérias intracelulares em pacientes com desnutri-
ção, como gripes, sarampo, varicela, dermatofitoses fúngicas, 
tuberculose (Figura 22.13).
A resposta humoral encontra-se preservada para IgG, IgM 
e IgA séricas, mesmo na desnutrição grave, podendo estar 
até aumentada em desnutridos com infecções de repetição. A 
quantidade de linfócitos B está quase sempre conservada. A 
imunidade humoral, estando conservada, e a maior suscetibi-
lidade a infecções justificam e indicam a prioridade às imuni-
zações. Um paciente com desnutrição primária consegue res-
ponder a microrganismos atenuados ou a toxoides, mas nem 
sempre supera tais agentes in natura. Pode ser postergada a 
vacinação para desnutridos graves, pelo comprometimento da 
resposta celular, e indicada imediatamente após a melhora do 
paciente. Na imunidade humoral, há ainda diminuição da IgA 
secretora e da IgE sérica, dados coerentes com o grande núme-
ro de diarreias infecciosas e a maiorincidência de broncoes-
pasmo reacional em relação à asma alérgica (Figura 22.14).
Figura 22.12. Visualização do teste imunoenzimático direto para HIV.
TESTE IMUNOENZIMÁTICO DIRETO
(ELISA DIRETO)
(detecção do vírus)
Placa de
poliestireno
Solução com
anti-HIV
HIV
do sangue
do paciente
DISTROFIAS
Distrofias são alterações nutricionais crônicas de um ou 
mais componentes da alimentação, podendo ser por carência 
ou por excesso de alimentos. Podem causar imunocomprome-
timentos, como ocorre na desnutrição, obesidade, deficiências 
de zinco, ferro e vitaminas.
DESNUTRIÇÃO
Desnutrição ou má nutrição calórico-proteica ou desnutri-
ção energético-proteica é um tipo de distrofia, em que há de-
ficiência nutricional crônica proteica ou calórico-proteica do 
organismo como um todo ou das células em particular. Fala-se 
que a desnutrição é primária quando resulta da falta de inges-
tão de alimentos. É a desnutrição primária que será estudada 
a seguir, por ser a imunodeficiência mais frequente de países 
em desenvolvimento.
Em várias regiões de nosso meio pode estar presente a des-
nutrição, resultante de hábitos alimentares muitas vezes neces-
255capítulo 22 IMUNODEFICIÊNCIAS ADQUIRIDAS 
Verifica-se comprometimento da atividade de fagócitos 
desde a desnutrição moderada. Os polimorfonucleares neu-
trofílicos apresentam depressão da atividade quimiotática e da 
etapa de ingestão e digestão fagocitária, com diminuição do 
metabolismo oxidativo. A consequência clínica é a acentuação 
da suscetibilidade por patógenos catalase-positivos, em espe-
cial Staphylococcus aureus (impetigo, abscessos, pneumonias 
com pneumatoceles) e Aspergillus fumigatus (pneumonias). 
Os fagócitos mononucleares também apresentam decréscimo 
da atividade quimiotática e da resposta fagocítica, contribuin-
do para a maior incidência de infecções por intracelulares. Foi 
ainda observada diminuição da atividade de células NK, que 
é mais uma causa das infecções por agentes intracelulares (Fi-
gura 22.15). 
O sistema complemento apresenta valores normais de 
complemento total e dos componentes C3 e C4 em desnu-
tridos graves do tipo marasmo, estando tais componentes 
diminuídos em desnutrição tipo kwashiorkor, provavelmente 
por diminuição da síntese dos componentes do complemento 
devido ao comprometimento hepático do kwashiorkor, o que 
não ocorre no marasmo. 
Na desnutrição primária ocorre diminuição do Fator de 
Necrose Tumoral (TNF), o que poderia explicar em parte a 
pequena sintomatologia de desnutridos diante infecções, uma 
vez que o TNF é um importante pirógeno endógeno e respon-
sável por vários sinais e sintomas dos quadros infecciosos.
A desnutrição e as infecções continuam sendo a principal 
causa de mortalidade infantil nos países em desenvolvimento. 
Assim, a desnutrição, quando associada à infecção, é a princi-
pal causa de óbito de crianças nesses países. É necessário co-
nhecer as alterações imunológicas de desnutrição para melhor 
combater os processos infecciosos, tentando-se, com isso, di-
minuir a mortalidade e a morbidade desses pacientes.
OBESIDADE
Entre as complicações da obesidade encontram-se a sín-
drome metabólica (hipertensão arterial, dislipidemia, resis-
tência à insulina, predisposição a doenças cardiovasculares, 
disfunção renal), as infecções respiratórias e sistêmicas de 
repetição, especialmente pós-cirúrgicas, por dificuldades de 
procedimentos devidas à obesidade ou por alterações imuno-
lógicas não bem esclarecidas.
O tecido adiposo é considerado um órgão ativo capaz de 
secretar uma variedade de moléculas bioativas, as adipocito-
cinas, dentre as quais se destacam: adiponectina, leptina, TN-
F-a, IL-6 e IL-10.
A adiponectina tem propriedades anti-inflamatórias e se 
relaciona negativamente com a obesidade. 
A proteína leptina tem papel no controle do apetite, 
atuando no hipotálamo e indicando ao organismo diminuir 
a ingestão de alimentos e aumentar o gasto energético. Está 
Figura 22.13. A desnutrição, mesmo moderada, apresenta alterações da imunidade 
celular.
DESNUTRIÇÃO
IMUNIDADE CELULAR DIMINUÍDA
 NA DESNUTRIÇÃO MODERADA E GRAVE 
Diminuição de linfócitos T: ↓CD4+ e ↓CD8+ 
Tendência à inversão da relação CD4/CD8
• Infecções por microrganismos intracelulares
• Infecções por bactérias altamente patogênicas
Figura 22.14. A imunidade humoral está conservada até na desnutrição grave.
DESNUTRIÇÃO
IMUNIDADE HUMORAL CONSERVADA 
NA DESNUTRIÇÃO MODERADA E GRAVE
IgG, IgM e IgA séricas conservadas 
Resposta humoral preservada: vacinas prescritas
Deficiência de IgA secretora 
Infecções em mucosas
Figura 22.15. A desnutrição, mesmo moderada, apresenta alterações da resposta 
inespecífica por diminuição da atividade por fagócitos neutrofílicos e mononucleares, 
além da diminuição de células NK.
DESNUTRIÇÃO
IMUNIDADE INATA DIMINUÍDA
NA DESNUTRIÇÃO MODERADA E GRAVE
Fagócitos neutrofílicos e mononucleares
 
Quimiotaxia e fagocitose diminuídas
Células NK
Atividade diminuída
Neutrófilos: infecções por patógenos catalase-positivos
Mø e NK: infecções por microrganismos intracelulares
256 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
 aumentada em sobrepeso, além da possibilidade de resistência 
à leptina ou de defeito no transporte para o hipotálamo. Além 
da ação no apetite, a leptina tem ações relacionadas à defesa 
imunológica: aumenta receptores de fagócitos mononucleares, 
de linfócitos T e de NK. Ainda piora a asma, sabendo-se que 
induz à produção de óxido nítrico. 
Os valores de receptores solúveis de TNF-a têm sido cor-
relacionados ao índice de massa corporal e ao perímetro ab-
dominal, com valores até duas vezes mais elevados em obesos. 
Além disso, o TNF-a é produzido em maior quantidade pelo 
tecido adiposo visceral, quando em comparação ao adiposo 
subcutâneo. É uma citocina pró-inflamatória, além de atuar na 
regulação do metabolismo lipídico e na resistência à insulina.
A IL-6, outra citocina pró-inflamatória, também secretada 
em maiores quantidade pelo tecido adiposo visceral, apresenta 
concentrações plasmáticas preditivas do desenvolvimento de 
diabetes melito tipo 2. 
Estudos observaram aumento da IL-10 em indivíduos 
obesos sem complicações e diminuição quando a obesidade 
está associada à síndrome metabólica. Há trabalhos sugerindo 
que o aumento da IL-10 teria uma ação protetora nas compli-
cações da obesidade, como resistência à insulina, aterosclerose 
e disfunção endotelial. 
A obesidade nos adultos pode estar relacionada à leucoci-
tose de causa inexplicável, com normalização da contagem de 
leucócitos após a perda de peso. Pesquisadores encontraram 
correlação entre o aumento de neutrófilos e a adiposidade ab-
dominal. 
Dessa forma, há um estado inflamatório na obesidade, e a 
inflamação associada ao tecido adiposo parece contribuir de 
forma crucial para o desenvolvimento da síndrome metabóli-
ca. A literatura sugere que a adiponectina e a IL-10, com ações 
anti-inflamatórias e inibidoras da sinalização de NF-κB, pos-
sam ser estratégias para o combate do estado inflamatório da 
obesidade (Figura 22.16).
ALCOOLISMO
O etanol é rapidamente absorvido pelo trato digestivo para 
a circulação sanguínea. É então metabolizado pela álcool-de-
sidrogenase em aldeído acético, que é transformado em ácido 
acético, pela aldeído-desidrogenase. O ácido acético é incor-
porado ao ciclo de Krebs, resultando na formação de água, 
CO2 e liberação de ATP. A energia assim obtida é denominada 
“energia vazia”, uma vez que não há formação de substâncias 
constituintes de citosol. A “energia vazia” e a anorexia são as 
principais causas da desnutrição secundária ao alcoolismo. 
As alterações imunológicas observadas no alcoolismo são 
exatamente as mesmas que as da desnutrição. Na verificação 
dos estudos a esse respeito, observa-se que a quase totalidade 
deles é realizada em alcoolistas desnutridos. É possível que a 
desnutrição contribua para o comprometimento imunológico 
apresentado por tais pacientes (Figura 22.17).
Figura 22.16. O tecido adiposo é consideradoum órgão metabolicamente ativo, com 
síntese de moléculas que propiciam o estado inflamatório da obesidade e relacionadas 
ao aparecimento da síndrome metabólica. 
OBESIDADE
TECIDO ADIPOSO É METABOLICAMENTE ATIVO 
Estado inflamatório da obesidade
Tecido adiposo
 
Moléculas bioativas: leptina, TNF, IL-6 
• Leptina induz formação de óxido nítrico (asma)
• TNF e IL-6 citocinas pró-inflamatórias
• Neutrofilia inflamação 
ALCOOLISMO
ALCOOLISMO, DEFICIÊNCIA DE ZINCO E DESNUTRIÇÃO 
APRESENTAM AS MESMAS ALTERAÇÕES IMUNOLÓGICAS 
• Resposta humoral conservada vacinas indicadas
• Resposta celular diminuída infecções por intracelulares
• Fagócitos neutrofílicos com atividade diminuída infecções 
 por patógenos catalase-positivos
• Fagócitos mononucleares com atividade diminuída infecções 
 por intracelulares
• Células NK diminuídas infecções virais
Figura 22.17. Estão descritas as alterações imunológicas encontradas no alcoolismo 
e na deficiência de zinco, as quais são semelhantes às da desnutrição.
ZINCO
Na falta de zinco, pode haver infecções de repetição, atraso 
no desenvolvimento pôndero-estatural, alopecia, dermatite, 
lesões orais, diarreia associada à diminuição das vilosidades 
intestinais, anorexia, retardo na cicatrização, oligospermia e 
alterações emocionais. A deficiência está ainda associada ao 
baixo peso ao nascimento. O quadro clínico de deficiência de 
zinco é mais evidente em fases de crescimento. Na acrodermia 
enteropática, doença autossômica recessiva em que ocorre de-
ficiência de zinco por má absorção, há deficiente crescimento 
pôndero-estatural, dermatites, diarreias e infecções. 
O zinco encontra-se distribuído por todo o organismo, 
principalmente nos eritrócitos, mas também em leucócitos, 
fígado, pâncreas, rins, ossos, músculos, olhos, pele, fâneros e 
espermatozoides. Faz parte ainda de várias enzimas e partici-
pa do metabolismo dos ácidos nucleicos, dando estabilidade à 
configuração molecular do RNA.
257capítulo 22 IMUNODEFICIÊNCIAS ADQUIRIDAS 
Alimentos ricos em fitatos diminuem a absorção de zinco, 
como pode ocorrer em dietas exclusivas de leguminosas, pães 
integrais, soja e outros grãos. A cafeína também interfere na 
absorção do zinco. Entre os alimentos ricos em zinco estão: 
ostras, camarões, vitela, cordeiro, chocolate, gergelim, amen-
doim, castanha de caju, amêndoas. 
O zinco é promotor da proliferação de linfócitos e cofa-
tor de hormônios tímicos, que estimulam a maturação de 
células T. Na deficiência de zinco, há linfopenia, diminuição 
da imunidade celular, hipotrofia até atrofia de timo e linfo-
nodos, hiporresponsividade aos testes cutâneos de hipersen-
sibilidade tardia e diminuição da atividade de células NK. O 
zinco catalisa a conversão de ânion superóxido e peróxido 
de hidrogênio no fagossomo, havendo diminuição da fago-
citose por neutrófilos e por mononucleares. A deficiência de 
zinco não altera a resposta humoral. Assim, as alterações da 
deficiência de zinco são semelhantes às da desnutrição (Fi-
gura 22.17).
O excesso de zinco leva à azoospermia, razão pela qual a 
suplementação de zinco necessita de supervisão médica. 
VITAMINAS
A deficiência de vitamina A tem sido associada à maior 
gravidade das infecções, principalmente respiratórias e diges-
tivas, não se conhecendo, entretanto, o mecanismo exato. Em 
animais de experimentação a deficiência induzida de vitami-
na A leva à diminuição da imunidade celular, da resposta à 
imunização e à depleção linfocitária. Pesquisadores relatam 
diminuição da mortalidade e da morbidade em até 50% após 
a suplementação com vitamina A, em crianças hospitalizadas 
por complicações de sarampo. Outros autores referem aumen-
to dos títulos de anticorpos antitetânicos em crianças com des-
nutrição pré-tratadas com vitamina A. São necessárias novas 
pesquisas, pois até o momento não há substrato à indicação da 
suplementação com vitamina A.
Também não estão precisamente estabelecidas as ações 
do complexo B no sistema imunológico, acreditando-se que 
possa atuar nas funções enzimáticas intracelulares. Entre as 
vitaminas do complexo B, a deficiência de piridoxina (B6) é 
a mais estudada. Os achados clínicos da deficiência de vita-
mina B6 são: dermatite em face, pescoço e extremidades, le-
sões orais como a glossite, estomatite e queilite. Tais lesões são 
frequentemente infectadas secundariamente. Trabalhos em 
animais mostram diminuição da imunidade celular diante da 
carência de B6. A deficiência de vitamina B6 está associada a 
alterações imunológicas em idosos, portadores de HIV, artrite 
reumatoide e uremia, embora altas doses dessa vitamina não 
tenham restabelecido essas funções. Há indicações de que o 
ácido fólico, o ácido pantotênico e a biotina levem a alterações 
da resposta humoral. 
As alterações imunológicas por deficiência de vitamina 
C também não são bem determinadas, existindo trabalhos 
mostrando in vitro aumento da atividade de células T após a 
adição de vitamina C. O uso de altas doses de vitamina C em 
pacientes portadores da síndrome de Chédiak-Higashi pode 
levar ao aumento da atividade quimiotática e bactericida por 
neutrófilos. Entretanto, são necessários mais estudos para uma 
conclusão definitiva sobre suplementação com vitamina C.
Os mesmos cuidados são válidos para a suplementação 
com vitamina E, apesar de que em modelos animais de experi-
mentação a administração de vitamina E aumentou a resposta 
à imunização e potencializou a fagocitose e a linfoproliferação.
FERRO
Há estudos controversos a respeito da deficiência de ferro 
na imunidade: sabe-se que bactérias necessitam de ferro livre 
como nutriente, mas, por outro lado, a falta de ferro tem sido 
associada à diminuição da imunidade humoral, celular, fago-
citária neutrofílica e síntese de citocinas.
ESPLENECTOMIA
A esplenectomia cirúrgica ou funcional leva a alterações 
imunológicas, pois o baço é o maior produtor de IgG. Após 
esplenectomia, há diminuição da síntese de anticorpos antipo-
lissacarídeos (contidos em IgG2), os quais atuam como opso-
ninas revestindo bactérias encapsuladas, como Streptococcus 
pneumoniae e Haemophilus influenzae. As pneumonias são 
mais frequentes em indivíduos esplenectomizados, podendo 
levar a septicemias. Tais alterações são mais evidentes nos dois 
anos seguintes à esplenectomia, desconhecendo-se a real cau-
sa desse fato (Figura 22.18).
Figura 22.18. O baço é o principal produtor de IgG, havendo diminuição dessa imu-
noglobulina em indivíduos esplenectomizados.
ESPLENECTOMIA
BAÇO
Pneumococos
hemófilos
IgG
Principal produtor de IgG
IgG2 ACs antipolissacarídeos
Esplenectomia
Pneumonias de repetição
258 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
A imunização antipneumocócica 23 e contra Haemophilus 
influenzae b está indicada 15 dias antes de esplenectomia eleti-
va, com manutenção posterior. Havendo possível contato com 
Neisseria meningitidis, há indicação de vacina antimeningocó-
cica. Há indicação de reposição com imunoglobulina humana 
apenas para quadros infecciosos graves por bactérias encapsu-
ladas em pacientes esplenectomizados – somente durante tais 
infecções, para não ser retirado o estímulo de síntese (Figura 
22.19). 
Portadores de anemia falciforme, com o progredir da 
doença, apresentam esplenectomia funcional, com as mesmas 
consequências da anatômica. DEFICIÊNCIAS SECUNDÁRIAS DE 
ANTICORPOS
DEFICIÊNCIA ADQUIRIDA DE IgA
A deficiência de IgA pode ocorrer após o uso de medica-
mentos, como anti-hipertensivos (captopril), anticonvulsivan-
tes (ácido valproico, hidantoína, carbamazepina), anti-infla-
matórios não hormonais (ácido salicílico, ibuprofeno), reduto-
res da inflamação (penicilamina, sais de ouro), antimicrobia-
nos (sulfassalazina), antiparasitários (cloroquina, levamizole), 
imunossupressores (ciclosporina – pode levar à deficiência 
permanente), hormônios (tiroxina) e outros. 
Pode, ainda, ser secundária a infecções virais como rubéo-
la, toxoplasmose, mononucleose, citomegalovirose.A deficiência secundária de IgA pode ser assintomática, 
fato sugestivo de que o número real seja maior do que o co-
nhecido. Não está descartada a possibilidade de predisposição 
individual (Figura 22.21).
Figura 22.19. Vacinas antipneumocócica 23 e contra Haemophilus influenzae b de-
vem ser prescritas cerca de 15 dias antes de esplenectomia eletiva, com manutenção 
posterior. Há indicação de reposição com imunoglobulina humana somente durante 
infecções graves por bactérias encapsuladas, para não ser retirada a retroalimentação 
negativa, que atua como estímulo para a síntese de imunoglobulinas. 
ESPLENECTOMIA
Antibiótico precoce
Antes e após 
esplenectomia
Vacinas: antipneumocócica
 contra Haemophilus influenzae b 
 Infecções graves 
por bactérias encapsuladas
Reposição com imunoglobulina 
humana só durante infecção grave 
por bactérias encapsuladas 
DOENÇAS METABÓLICAS
Foram descritas diferentes alterações imunológicas no dia-
betes melito, sendo a mais frequente a deficiência da ativida-
de quimiotática e fagocitária por neutrófilos; daí uma maior 
preocupação com foliculites, furunculoses e abscessos nesses 
pacientes (Figura 22.20).
Enteropatias e nefropatias perdedoras de proteínas causam 
perda de IgG, existente em maior quantidade no plasma, habi-
tualmente sem diminuição de IgA ou de IgM. A consequência 
é a maior suscetibilidade a infecções, sobretudo pneumonias 
de repetição. Não há indicação da reposição com imunoglo-
bulina humana em perdas proteicas intestinais e urinárias, 
uma vez que a gamaglobulina administrada é logo perdida, 
excetuando-se a indicação para casos de infecções graves por 
bactérias encapsuladas.
Na uremia há predominantemente alterações da imunida-
de celular, podendo haver diminuição da resposta para imuni-
zações a anticorpos específicos, como para hepatite por vírus B. 
Há, ainda, maior incidência de hepatite por vírus C em pacien-
tes urêmicos submetidos à diálise. Está descrita a presença de 
crioglobulinas em portadores de uremia. 
Figura 22.20. Diferentes doenças metabólicas podem determinar imunodeficiências 
secundárias, como o diabetes melito.
DOENÇAS METABÓLICAS
Diabetes melito
Abscessos
Pode haver diminuição da quimiotaxia por neutrófilos
Figura 22.21. Estão descritas as principais causas que determinam deficiência se-
cundária de IgA.
DEFICIÊNCIA SECUNDÁRIA DE IgA
Medicamentos: 
• Anti-hipertensivos (captopril) 
• Anticonvusivantes (ácido valproico, hidantoína, carbamazepina) 
• Anti-inflamatórios não hormonais (ácido salicílico, ibuprofeno)
• Redutores da inflamação (penicilamina, sais de ouro)
• Antimicrobianos (sulfassalazina)
• Antiparasitários (cloroquina, levamizole) 
• Imunossupressores (ciclosporina)
• Hormônios (tiroxina)
Infecções virais: 
• Rubéola, toxoplasmose, mononucleose, citomegalovirose 
HIPOGAMAGLOBULINEMIA SECUNDÁRIA
Várias situações podem causar hipogamaglobulinemia, 
como doenças hematológicas (aplasia de medula, linfomas, 
259capítulo 22 IMUNODEFICIÊNCIAS ADQUIRIDAS 
leucemia linfocítica crônica), medicamentos (imunossupres-
sores, anticonvulsivantes), enteropatias e nefropatias perde-
doras de proteínas, incluindo queimaduras, infecções virais 
como rubéola congênita, mononucleose, citomegalovirose, 
exantema infeccioso (parpovírus) e infecção por HIV. 
Em enteropatias e nefropatias perdedoras de proteínas, há 
indicação de reposição de imunoglobulina humana somente 
em infecções graves causadas por bactérias encapsuladas, pois 
como rotina haveria perda rápida da imunoglobulina reposta 
e não há indicação para outros patógenos (Figura 22.22).
ser causa de importante depressão da imunidade celular. A con-
sequência dessas infecções é a maior suscetibilidade a processos 
infecciosos por microrganismos intracelulares e oportunistas.
Na quase totalidade dos casos relatados, a infecção por ví-
rus da varicela-zóster (herpes-zóster) está associada ao imuno-
comprometimento, havendo hipóteses de o vírus ser causador 
ou consequência da imunodeficiência observada. De qualquer 
forma, é necessária a pesquisa de causas de imunodeficiências 
diante de herpes-zóster, incluindo a pesquisa de HIV e de neo-
plasias (Figura 22.23).
Figura 22.22. Estão descritas as principais causas que determinam hipogamaglo-
bulinemia secundária.
HIPOGAMAGLOBULINEMIA SECUNDÁRIA
• Aplasia de medula, linfomas, leucemia linfocítica
• Imunossupressores
• Anticonvulsivantes
• Enteropatias e nefropatias perdedoras de proteínas
• Queimaduras
• Infecções virais: rubéola congênita, mononucleose, 
 citomegalovirose, exantema infeccioso (parpovírus), 
 infecção por HIV
Em nefropatias e enteropatias perdedoras de proteínas:
gamaglobulina EV só durante infecções graves por 
bactérias encapsuladas
Figura 22.23. Diferentes infecções causam deficiências imunológicas.
INFECÇÕES
Tuberculose Sarampo Esquistossomose
 Diminuição da imunidade celular
Infecções por oportunistas
Leishmaniose
visceral
Epstein-Barr virus: pode desencadear
"Imunode�ciência primária” em indivíduos predispostos
Qualquer alteração da imunidade transitória ou permanente
Herpes-zóster (vírus da varicela-zóster)
Causa e/ou consequência de imunode�ciência secundária:
HIV? 
Neoplasia?INFECÇÕES
Além do HIV, várias doenças infecciosas podem deter-
minar uma imunodeficiência secundária, piorando a própria 
doença e aumentando a suscetibilidade a outras.
A mononucleose ou infecção por Epstein-Barr virus pode 
desencadear uma imunodeficiência primária de imunodesre-
gulação, em indivíduos predispostos: a síndrome linfoprolife-
rativa ligada ao X. Nessa IDP podem aparecer diferentes dis-
túrbios da imunidade: deficiência de IgA, de subclasses de IgG, 
de classes de IgA, IgG e IgM; alterações da imunidade celular; 
diminuição de células NK. Tais distúrbios podem ser transitó-
rios ou persistentes, leves ou graves. Em casos graves de mo-
nonucleose, a terapia antiviral pode auxiliar. São necessários 
o acompanhamento dos distúrbios imunológicos e a pesquisa 
das alterações hematológicas, como linfomas.
O vírus do sarampo pode ser a causa de imunodeficiência 
secundária, em especial celular, mas também podendo ser hu-
moral ou fagocitária. Geralmente é transitória, mas com conse-
quências graves, principalmente em pacientes com desnutrição, 
por já apresentarem imunocomprometimento prévio. Foi ainda 
descrito que o vírus do sarampo diminui a síntese de IL-12, im-
portante para atividade de células NK. A infecção tuberculosa, 
assim como a esquistossomose e a leishmaniose visceral, pode 
IMUNOSSUPRESSORES
Os diferentes imunossupressores utilizados têm ações co-
nhecidas, sendo indicados por profissionais especializados. 
Ciclosporina, tacrolimus e pimecrolimus diminuem linfócitos T, 
em especial células CD4+. 
Corticosteroides por uso prolongado e em altas doses po-
dem acarretar, com maior frequência: linfopenia por apop-
tose de linfócitos T, com diminuição da imunidade celular; 
diminuição da síntese de citocinas, em especial de Th1; dimi-
nuição da migração transendotelial (saída de células da cir-
culação) de neutrófilos, levando à neutrofilia e menor afluxo 
de neutrófilos para os locais de patógenos; diminuição da 
migração transendotelial de leucócitos, diminuindo o afluxo 
dessas células para os locais de inflamação; diminuição da 
diferenciação e da atividade de monócitos/macrófagos; mais 
raramente ação moduladora direta e indireta em linfócitos B, 
diminuindo a síntese de anticorpos (deficiência humoral) 
(Figura 22.24).

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