Buscar

N_Imunologia Do Basico ao Aplicado - Wilma C N Forte-41

Prévia do material em texto

260 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
ESTRESSE CRÔNICO
Várias doenças são observadas após ou durante o estresse 
crônico: infecções como herpes simples, herpes-zóster, pro-
cessos gripais, micoses, além de piora de alergias, aparecimen-
to de doenças autoimunes e de neoplasias.
Os estudos sobre estresse crônico sugerem uma ação no 
hipotálamo, levando ao aumento do ACTH e ao consequen-
te aumento de glicocorticosteroides, que seriam a principal 
causa da imunodeficiência desses casos. É possível ainda uma 
ação de mediadores neuroquímicos (Figura 22.26). 
Figura 22.24. O uso prolongado e em altas doses de corticosteroides leva ao imuno-
comprometimento, principalmente celular, propiciando infecções por microrganismos 
intracelulares. 
CORTICOSTEROIDES
Uso prolongado e em altas doses de corticosteroides
• Linfopenia por apoptose de T (deficiência celular)
• Diminuição de citocinas de Th1
• Diminuição da migração transendotelial de 
 neutrófilos e de outros leucócitos: 
 – neutrofilia
 – menor afluxo de células para o processo inflamatório
• Diminuição da atividade de monócitos/macrófagos: 
 – menor fagocitose (diminuição da imunidade inata)
 – menor apresentação para T citotóxico e Th
 (piora da imunidade celular)
• Mais raramente: diminuição da síntese de anticorpos
 (deficiência humoral)
Figura 22.25. Não se sabe se a diminuição de células NK pode contribuir para o de-
senvolvimento de neoplasias ou se é consequente ao consumo durante a defesa de um 
processo neoplásico.
NEOPLASIAS
 Diminuição de células NK 
Causa? Efeito?
Infecções virais
Figura 22.26. O estresse crônico com frequência cursa com infecções, doenças imu-
nológicas e neoplasias, por causas não perfeitamente esclarecidas.
ESTRESSE CRÔNICO
• Herpes simples, herpes-zóster, gripes, micoses 
• Alergias
• Doenças autoimunes
• Neoplasias
Por aumento de corticosteroides?
Por ação de mediadores neuroquímicos? 
NEOPLASIAS
As neoplasias frequentemente são acompanhadas de dimi-
nuição de células NK, não se sabendo se essa alteração é causa 
ou consequência, acarretando também maior suscetibilidade 
a infecções virais. Geralmente há ainda outros imunocompro-
metimentos, dependentes da neoplasia em questão (Figura 
22.25). 
EXEMPLOS CLÍNICOS
Caso 1: Paciente de 48 anos, do gênero feminino, alcoolista, moradora de rua, com tosse produtiva há vários meses. 
Há anos apresentava desnutrição por falta de ingestão. Ao exame, desnutrida, afebril, eupneica, agitada, desconexa, 
estertores subcrepitantes em base pulmonar, roncos e sibilos esparsos, pápulas com exsudato purulento em membros 
inferiores. RX: infiltrado intersticial. 
Evolução: Positividade de BK no escarro. Tratamento para tuberculose e impetigo. Boa evolução após o tratamento.
Discussão: A paciente apresentava duas causas de deficiências adquiridas ou secundárias: desnutrição e alcoolismo, 
ambas determinantes dos mesmos distúrbios imunológicos. A desnutrição primária e o alcoolismo explicam as lesões 
de pele de impetigo por diminuição da atividade por fagócitos neutrofílicos, responsáveis pela defesa contra bactérias 
piogênicas catalase-positivas, como Staphylococcus aureus. Na desnutrição há diminuição de TNF, um dos pirógenos 
endógenos e um dos promotores de sinais e sintomas de infecções, juntamente com IL-1 e IL-6. A diminuição da resposta 
celular, característica da desnutrição e do alcoolismo, com menor número de T citotóxicos, aumenta à suscetibilidade 
a infecções por patógenos intracelulares, como Mycobacterium tuberculosis, apresentado pela paciente em questão. 
Casos de portadores de HIV:
1. Gênero feminino, 44 anos, relação sexual com único parceiro há 22 anos, apresentando diarreia há oito meses.
2. Gênero feminino, 38 anos, com urticária crônica há dois anos e emagrecimento há um ano.
3. Menina de 13 anos, com pneumonia por Pneumocystis jiroveciii. 
4. Gênero masculino, 55 anos, casado, dois filhos, com febre baixa e adenopatia há seis meses.
5. Gênero feminino, 22 anos, apresentando paresia em membro inferior direito.
6. Gênero feminino, 37 anos, apresentando mancha violácea (sic) em face há três meses.
7. Gênero masculino, 40 anos, com queixa única de diarreia há cinco meses.
8. Adolescente de 15 anos, gestante, com quadro de febre baixa há quatro meses de etiologia indeterminada.
9. Gênero feminino, 23 anos de idade, casada, apresentando quadro de meningotuberculose.
10. Criança de 5 anos com história de caxumba (sic), persistindo há quatro meses.
Discussão: É necessária a hipótese diagnóstica de HIV no caso de diarreia persistente, febre de origem indeterminada, 
sarcoma de Kaposi, infecções por microrganismos oportunistas, infecções graves não usuais em indivíduos hígidos, 
quadros neurológicos, comprometimento persistente de cadeias ganglionares, aumento persistente de parótida em 
criança. A infecção por HIV tem aumentado significativamente em mulheres, por falta de proteção em relações sexuais.
QUESTÕES
1a – a) Quais os imunocomprometimentos observados na desnutrição primária? b) Vacinas são contraindicadas na 
desnutrição primária?
2a – Qual o principal imunocomprometimento em paciente usando corticosteroides em altas doses e por tempo 
prolongado? 
3a – Que vacinas são indicadas em esplenectomia?
4a – Quais as principais moléculas bioativas responsáveis pelo estado inflamatório na obesidade? 
5a – Qual o mecanismo de incorporação de HIV ao linfócito CD4+?
23INVESTIGAÇÃO DAS 
IMUNODEFICIÊNCIAS 
PRIMÁRIAS
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE INFECÇÕES 
DE REPETIÇÃO
Antes do início da investigação de imunodeficiências pri-
márias (IDPs), é necessário que sejam afastadas outras causas 
de infecções de repetição. 
Entre as possíveis causas de infecções de repetição está a 
exposição a maior número de patógenos. É o que pode acon-
tecer com crianças que ingressam em creches e escolas ou com 
idosos ao passarem para casas de repouso. É frequente infec-
ções de repetição nessas mudanças de hábitos de vida, sem que 
haja obrigatoriamente uma IDP.
A hipogamaglobulinemia fisiológica do lactente é uma ca-
racterística normal, que se dá em torno dos 3 aos 7 meses, em 
que as imunoglobulinas séricas têm valores fisiológicos mais 
baixos. Esses valores mostram-se normais quando comparados 
aos de crianças da mesma faixa etária, o que deve ser feito dian-
te de qualquer avaliação de resultados de exames imunológicos.
Os exames iniciais para infecções de repetição que ocor-
rem sempre no mesmo local devem ser dirigidos à pesquisa de 
malformações congênitas. É o caso de infecções urinárias ou 
pneumonias sempre no mesmo lobo pulmonar.
Processos infecciosos também devem ser lembrados como 
causadores de imunodeficiências secundárias e de forma espe-
cial a infecção por HIV. 
A desnutrição pode ser causa de imunodeficiência secun-
dária ou consequência de uma IDP. Doenças hematológicas 
podem levar a deficiências como hipogamaglobulinemia. 
Diferentes situações podem causar imunodeficiências, como 
perdas proteicas e esplenectomia (Figura 23.1).
Figura 23.1. Algumas questões devem ser consideradas antes do início da investi-
gação para IDPs.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
DAS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS
Infecções de repetição
1º. Exposição a maior número de patógenos Ingresso 
 em creche ou escola?
7º. Imunodeficiências por diferentes situações perdas 
 proteicas, esplenectomia
3º. Infecções no mesmo local Malformações congênitas?
2º. Hipogamaglobulinemia fisiológica do lactente Comparar
 sempre os valores dos exames com curvas de normalidade para
 a faixa etária
4º. Imunodeficiências secundárias a infecções HIV?
5º. Desnutrição primária?
6º. Doenças hematológicas hipogamaglobulinemia
De forma mais rara, pode haver história de infecções de 
repetição, mas não serem realmente infecções. Exame físico e 
alguns exames complementares podem auxiliar, como aumen-
to das proteínas da fase aguda na vigência de infecção. É pouco 
provável a presença de infecções estando a proteína C reativa 
(PCR) persistentementenormal. Também distúrbios metabóli-
cos, em especial em neonatos, podem apresentar manifestações 
semelhantes às de infecções, mas com normalidade de exames 
indicativos de processos infecciosos. 
264 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
Mesmo grandes centros hospitalares, após o encaminha-
mento de diversos serviços para setor de investigação de IDPs, 
apresentam na maioria outros diagnósticos que não IDP, 
como refere Stiehm: 50% são indivíduos saudáveis, sem doen-
ças diagnosticadas, 10% atópicos, 10% portadores de doenças 
autoimunes, 20% com outras doenças e somente 10% porta-
dores de IDPs. 
IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO DE 
IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS
A investigação de IDP só é feita diante da lembrança da 
existência de tais distúrbios. Pode-se ter uma ideia da neces-
sidade de investigação das IDPs observando-se o fato de que 
estas, quando consideradas em sua totalidade, são mais fre-
quentes do que doenças avaliadas pelo “teste do pezinho”. 
O tratamento de IDP é de fundamental importância, uma 
vez que permite a melhor qualidade de vida e muitas vezes a 
sobrevivência do paciente. Assim, é necessária sua investiga-
ção na possibilidade de se estar diante de um portador de IDP 
(Figura 23.2).
sinais encontram-se também na Figura 21.3 do capítulo 21 – 
Imunodeficiências Primárias.
Cada um desses sinais sugere a possibilidade de um ou 
mais de um tipo de IDP. Entre os tipos mais sugestivos de IDP 
associados aos referidos sinais encontram-se: 1o – Pneumonias 
de repetição em deficiência de anticorpos antipolissacarídeos, 
contidos em IgG2. 2o – Otites em deficiência de IgA. 3o – Es-
tomatites em alterações especialmente de número de fagócitos 
neutrofílicos. 4o – Abscessos em defeitos principalmente fun-
cionais de fagócitos neutrofílicos, como na doença granulo-
matosa crônica. 5º – Infecção sistêmica grave pode aparecer 
em qualquer IDP; meningite meningocócica sugere deficiên-
cia do componente central (C3) ou dos componentes termi-
nais (C5, C6, C7, C8 ou C9) do complemento. 6º – Infecções 
intestinais ou diarreia crônica com mais frequência aparecem 
em deficiência de IgA e de linfócitos T. 7º – Doenças autoimu-
nes desenvolvem-se em deficiências humorais ou deficiências 
dos componentes iniciais do complemento. 8º – Efeitos adver-
sos ao BCG com frequência ocorrem em doença granuloma-
tosa crônica e defeitos de T. 9º – Fenótipos sugerem síndromes 
com IDPs. 10º – História familiar mostrando herança genética 
pode aparecer em várias IDPs.
Apesar da incidência dos dez sinais ser muito maior nas 
IDPs relacionadas acima, teoricamente esses sinais podem se 
manifestar em qualquer IDP (Figura 23.3).
Figura 23.2. A investigação, o diagnóstico e o tratamento de IDPs são de fundamental 
importância ao portador, e estas só são investigadas quando lembradas que existem.
IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO DAS 
IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS
São imprescindíveis o diagnóstico e o acompanhamento das IDPs
1º. IDPs são relativamente frequentes algumas incidem com 
 maior frequência do que doenças já avaliadas no “teste do pezinho”
2º. O tratamento das IDPs é de fundamental importância permite 
 a melhor qualidade de vida e até a sobrevida do portador
DEZ SINAIS DE ALERTA PARA 
IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA NA CRIANÇA
São descritos “Dez sinais de alerta para IDP na criança”, 
adaptados pelo Grupo Brasileiro de IDPs: 1. Duas ou mais 
pneumonias no último ano; 2. Quatro ou mais otites no último 
ano; 3. Estomatites de repetição ou monilíase por mais de dois 
meses; 4. Abscessos de repetição ou ectima; 5. Um episódio 
de infecção sistêmica grave (meningite, osteomielite, septice-
mia); 6. Infecções intestinais de repetição ou diarreia crôni-
ca; 7. Asma grave, doença do colágeno ou doença autoimune; 
8. Efeito adverso ao BCG e/ou infecção por Mycobacterium; 
9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada à imuno-
deficiência; 10. História familiar de imunodeficiência. Esses 
Figura 23.3. Os “Dez sinais de alerta para Imunodeficiência Primária na criança” nor-
teiam para a investigação de IDP. 
DEZ SINAIS DE ALERTA PARA AS
IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS
1. Pneumonias de repetição IgG2? ACs antipolissacarídeos?
2. Otites de repetição IgA?
3. Estomatites de repetição neutrófilos? 
 Monilíase por mais de 2 meses T?
4. Abscessos de repetição neutrófilos?
5. Infecções graves qualquer IDP 
 Meningite meningocócica complemento
6. Infecções intestinais ou diarreia crônica IgA? T?
7. Asma grave IgA?
 Doenças autoimunes IDPs humorais? Complemento?
8. Efeito adverso ao BCG T? Doença granulomatosa crônica?
9. Fenótipo sugestivo síndrome com imunodeficiência?
10. História familiar qualquer IDP
AGENTES ETIOLÓGICOS MAIS FREQUENTES 
DAS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS
O agente etiológico mais frequente detectado ou suspeito 
das infecções apresentadas pelo paciente pode auxiliar como 
investigar uma imunodeficiência. Assim, nas imunodeficiên-
265capítulo 23 INVESTIGAÇÃO DAS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS 
cias humorais as infecções são determinadas principalmente 
por bactérias extracelulares, como Streptococcus pneumoniae, 
Haemophilus influenzae, enterobactérias, por enterovírus, 
Giardia lamblia e Pneumocystis jirovecii.
Nas imunodeficiências celulares são mais frequentes mi-
crorganismos intracelulares, como Mycobacterium tuberculo-
sis, herpes simples, varicela-zóster, citomegalovírus, Candida 
albicans e Pneumocystis jirovecii.
Em deficiências fagocitárias por polimorfonucleares neu-
trofílicos, observam-se infecções por microrganismos catalase- 
-positivos como Staphylococcus aureus, Aspergillus fumigatus 
e enterobactérias, além de serem mais frequentes Mycobacte-
rium tuberculosis e Pneumocystis jirovecii. 
Nas deficiências por fagócitos mononucleares há maior 
incidência de infecções por microrganismos intracelulares, 
como vírus, Mycobacterium tuberculosis e vários fungos.
Nas imunodeficiências por complemento, as infecções são 
devidas principalmente a bactérias do gênero Neisseria (N.me-
ningitidis e N. Gonorrhoeae), mas também pode haver pneu-
monias por bactérias encapsuladas (Streptococcus pneumoniae 
e Haemophilus influenzae) (Figura 23.4).
A investigação com base nos agentes etiológicos mais fre-
quentes nas infecções de repetição auxilia em muito o diag-
nóstico de IDP. Entretanto, nem sempre são conhecidas as 
etiologias das infecções; nesses casos, a investigação pode ser 
dirigida para as IDPs mais prevalentes, analisando-se os dife-
rentes setores da resposta imunológica.
AVALIAÇÃO DA IMUNIDADE HUMORAL
As deficiências predominantemente de anticorpos são as 
mais prevalentes entre as IDPs, sendo, por isso, a avaliação da 
imunidade humoral eleita para o início da investigação de IDP 
em que não se tem ideia do setor comprometido, partindo-se 
dos exames mais simples para os mais complexos.
1o – Dosagens séricas das classes de imunoglobulinas 
(IgM, IgG, IgA, IgE), muito valiosa, permitindo o diagnóstico 
das IDPs mais frequentes, como deficiência de IgA. O diag-
nóstico de deficiência de IgA é estabelecido quando os valores 
séricos de IgA estão abaixo de 7 mg/dL em crianças acima de 
4 anos de idade. Mesmo assim, em várias crianças há norma-
lização da IgA acima dessa idade, por imaturidade do sistema 
adaptativo. 
A comparação dos resultados de exames imunológicos 
necessita que seja feita com curvas-padrão para a faixa etá-
ria analisada, incluindo as dosagens de imunoglobulinas, 
evitando-se diagnósticos errôneos de IDPs. As dosagens de 
imunoglobulinas podem ser realizadas por turbidimetria ou 
nefelometria, sendo obrigatória a comparação com curvas de 
normalidade para o método realizado. 
2o – Para a avaliação da imunidade humoral, seguem-se as 
dosagens de subclasses de IgG. A deficiência de subclasse de 
IgG1 compartilha com baixos valores de IgG total, por ser a 
classe de maior concentração. A diminuição da subclasse IgG2 
pode apresentar IgG normal ou discretamente diminuída. As 
diminuições de IgG3 e IgG4 apresentam IgG normal. Assim,valores normais de IgG não afastam deficiências de subclasses 
de IgG.
3o – As titulações de anticorpos vacinais contra pneumo-
cocos são muito úteis para esclarecer o diagnóstico de defi-
ciência de anticorpos antipolissacarídeos em pneumonias de 
repetição. Tais anticorpos estão contidos na subclasse IgG2 e 
suas titulações refletem com mais precisão a deficiência, ou 
seja, valores normais de IgG2 não excluem diminuição de tí-
tulos vacinais. Entretanto, as titulações de anticorpos vacinais 
são onerosas, nem sempre disponíveis, além de implicar titula-
ções antes e após imunização. Em tais casos, um procedimento 
razoável é o de serem quantificadas as subclasses de IgG e, não 
mostrando diminuição, realizadas as titulações de anticorpos 
antipolissacarídeos. Espera-se que esses exames estejam logo 
disponíveis, quando terão preferência.
Consideram-se respostas vacinais contra S. Pneumoniae 
adequadas quando: 1o – Indivíduos com vacinação prévia 
apresentam valores iguais ou superiores a 1,3 mg/dL para cada 
sorotipo, em um mínimo 50% a 70% dos sorotipos analisados; 
2o – Indivíduos sem vacinação prévia com títulos da resposta 
Figura 23.4. Estão descritos os principais agentes etiológicos segundo os diferentes 
setores comprometidos da resposta imunológica. 
AGENTES ETIOLÓGICOS MAIS FREQUENTES DAS 
IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS
De�ciências humorais 
• Streptococcus pneumoniae
• Haemophilus influenzae
• Staphylococcus aureus
• Enterobactérias
• Enterovírus
• Giardia lamblia
• Pneumocystis jirovecii
Fagócitos neutrofílicos
• Staphylococcus aureus
• Aspergillus fumigatus
• Enterobactérias
• Mycobacterium tuberculosis
• Pneumocystis jirovecii
Fagócitos mononucleares
• Vírus
• Mycobacterium tuberculosis
• Fungos
Sistema complemento
• Neisseria meningitidis
• Neisseria gonorrhoeae
• Streptococcus pneumoniae
• Haemophilus influenzae
De�ciências celulares
• Mycobacterium tuberculosis
• Herpes simples
• Varicela-zóster
• Citomegalovirus
• Candida albicans 
• Pneumocystis jirovecii
266 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO
pós-vacinal que duplicam ou quadruplicam em relação aos 
títulos pré-vacinais em um mínimo de 50% a 70% dos 23 so-
rotipos analisados, após quatro a seis semanas da vacinação. 
4o – A contagem de linfócitos B por anticorpos monoclo-
nais anti-CD19 ou anti-CD20 ou anti-CD21 é importante para 
o diagnóstico de agamaglobulinemia congênita ligada ao X, 
em que há deficiência de todas as classes de imunoglobulinas 
por falta de B. 
5o – A resposta blástica avalia a função de linfócitos B fren-
te ao mitógeno pokeweed (uma lecitina vegetal) para B depen-
dente de T e ao antígeno proteína A do Staphylococcus aureus 
(Figura 23.5).
Outros exames também podem refletir a resposta humoral, 
sendo bem menos usados. As dosagens de isohemaglutininas 
e a antiestreptolisina O (ASLO) só são realizadas como mé-
todos iniciais, na falta de outros. Existem curvas-padrão para 
a idade, inexistindo isohemaglutininas em recém-nascidos e 
em indivíduos do tipo AB. As isohemaglutininas naturalmen-
te adquiridas, ou seja, de pessoas que não receberam transfu-
sões sanguíneas, são principalmente IgM, podendo mostrar o 
comportamento dessa imunoglobulina no paciente. A ASLO 
reflete IgG e deve estar aumentada durante processos infeccio-
sos por Streptococcus spp., sendo necessário que o estudo seja 
feito na certeza da presença de infecção estreptocócica, o que 
muitas vezes dificulta a interpretação do exame. 
A presença de hipertrofia de adenoide ao RX de cavum 
afasta agamaglobulinemia congênita ligada ao X, a qual não 
apresenta aumento de órgãos linfoides secundários em decor-
rência da falta de linfócitos B.
A função das células B também pode ser analisada por 
outros títulos pós-vacinais, como para anticorpos contra Hae-
mophilus influenzae tipo b, hepatite, difteria, tétano, sarampo, 
rubéola, vírus da poliomielite, entendendo-se que essas titula-
ções incluem também anticorpos proteicos. 
AVALIAÇÃO DA IMUNIDADE CELULAR
1o – A avaliação inicial da imunidade celular é feita por 
meio de leucograma, pois a maioria dos linfócitos periféricos é 
timo-dependente. A linfopenia acentuada em um leucograma 
pode sugerir deficiência celular: abaixo de 2.500 linfócitos/mm3 
em recém-nascidos, abaixo de 3.000/4.000 linfócitos/mm3 até 4 
anos e abaixo de 1.000 linfócitos/mm3 após os 4 anos. 
2o – A ausência da sombra tímica em exames radiológicos 
em recém-nascidos e crianças pequenas sugere imunocom-
prometimento celular.
3o – Testes cutâneos de leitura tardia avaliam a proliferação 
de linfócitos T em indivíduos sensibilizados. A maioria dos 
adultos apresenta sensibilização a antígenos comuns, como 
PPD, candidina, tricofitina, varidase (estreptodornase/estrep-
toquinase), caxumba, toxoides tetânico e diftérico. A aplicação 
de tais antígenos habitualmente leva à formação de pápulas, 
após 48 a 72 horas da aplicação. Ausência de resposta em três 
de quatro testes realizados sugere deficiência de imunidade 
celular. É necessário que sejam consideradas a imaturidade da 
resposta inflamatória em crianças pequenas e a possível falta 
de sensibilização, podendo haver testes negativos por tais mo-
tivos e não por distúrbio imunológico.
4o – A quantificação de subpopulações de linfócitos T: di-
minuição de linfócitos T totais por monoclonais anti-CD3 e 
de subpopulações CD4 e CD8 por anti-CD4 e anti-CD8 são 
úteis para confirmar imunodeficiências celulares. Os exames 
são realizados principalmente por citometria de fluxo.
5o – A linfoproliferação frente a mitógenos (fito-hemaglu-
tinina, concanavalina A) e a antígenos (PPD, candidina) mos-
tra a função linfocítica T. A ausência de transformação blástica 
para a candidina completa o diagnóstico da candidíase muco-
cutânea crônica.
6o – As deficiências enzimáticas de adenosina deaminase 
(ADA) e de purina-nucleosídeo-fosforilase (PNP) levam à di-
minuição de ácido úrico por alterações do metabolismo da ade-
nosina e da guanosina, motivo pelo qual a dosagem de ácido 
úrico sérico pode ser realizada como triagem para tais doenças. 
7o – A confirmação das deficiências enzimáticas para ADA 
e PNP é feita por ensaios enzimáticos (Figura 23.6).
AVALIAÇÃO DOS FAGÓCITOS
1o – A avaliação dos fagócitos neutrofílicos inicia-se pelo 
leucograma. Na neutropenia congênita grave ou síndrome de 
Kostmann existem menos de 500 neutrófilos/mm3; a neutro-
penia congênita grave pode incluir valores abaixo de 1.000 
neutrófilos/mm3. O mielograma revela hipoplasia de células 
granulocíticas. Os valores podem ser diferentes em crianças 
pequenas, em especial lactentes, que apresentam valores fisio-
lógicos maiores. 
Figura 23.5. Está descrita a investigação para imunodeficiências humorais, seguin-
do-se a possibilidade de realização dos exames.
AVALIAÇÃO DA IMUNIDADE HUMORAL
1º. Dosagens séricas de classes de imunoglobulinas (IgM, IgG, IgA, IgE)
2º. Dosagens séricas de subclasses de IgG (IgG1, IgG2, IgG3, IgG4)
3º. Títulos de anticorpos antipolissacarídeos
 Responsivos quando em 50% a 70% dos sorotipos 
 testados apresentam:
 • valores ≥ 1,3 µg/dL ou 
 • valores duplicam ou quadruplicam 4 a 6 semanas após a vacinação
4º. Contagem de populações de linfócitos B: 
 • Células CD19+ ou CD20+ ou CD21+
5º. Resposta blástica a antígenos e mitógenos:
 • Proteína A do Staphylococcus aureus
 • Antígeno pokeweed (B dependente de T) 
	23 INVESTIGAÇÃO DAS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS

Continue navegando