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Descontos com duplicatas Apresentação Em geral, as empresas vendem mercadorias à vista e a prazo. No caso de vendas a prazo, são emitidos "títulos de crédito que obrigam o comprador a pagar, em data preestabelecida, a quantia correspondente ao valor da mercadoria adquirida" (DUPLICATA, 2015), chamados de duplicatas ou títulos. Com esses títulos, as empresas efetuam transações junto aos bancos, sendo a mais comum a cobrança simples, ou seja, os bancos cobram dos clientes, como forma de prestação de serviço, e, por consequência a empresa paga uma taxa ao banco pelo serviço prestado. Outro tipo de transação são as operações com títulos descontados, modalidade de antecipação dos recebíveis, para reforçar o capital de giro das empresas, sendo cobrada uma taxa de juros e despesas bancárias pelos bancos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar as práticas e as modalidades de cobrança e descontos de duplicatas e a contabilização. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as modalidades de tipos de cobrança de duplicatas.• Reconhecer a prática de desconto de duplicatas.• Aplicar o desconto de duplicatas em situações práticas.• Desafio Na transação comercial de venda a prazo, a empresa emite a nota fiscal juntamente com a duplicata, chamada também de título, boleto bancário ou simplesmente boleto, documento aceito pelo cliente para pagamento em data preestabelecida. Com esses títulos, as empresas efetuam transações junto aos bancos, sendo as mais comuns a cobrança simples, a taxa de duplicatas e os descontos de duplicatas. A partir da alteração substancial da Lei no 6.404/1976 pela Lei no 11.638/2007, passou a prevalecer a figura da transferência do controle, dos riscos e dos benefícios, e não mais da titularidade jurídica para o ativo imobilizado. Seguindo esse preceito legal, foi editado o Pronunciamento Técnico CPC 48, determinando que, quando uma entidade transferir um ativo financeiro, deverá avaliar até que ponto ela permanece com os riscos e os benefícios da propriedade do ativo financeiro. O que prevalece é a essência da operação. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/cf1446a6-57af-4b5f-b7f0-e4059de05d5e/c2d20860-9be6-446c-bfcf-dff95d47a7e8.png Para sanar o fluxo de caixa, a empresa Sul Comercial Ltda. solicitou ao Banco Bacana Ltda. o desconto de seu borderô de duplicatas no valor de R$ 100.000,00, com prazo médio de vencimento de 30 dias. O Banco Bacana Ltda. cobrou 10% de juros sobre o valor do borderô e R$ 2.000,00 de despesas bancárias. O banco informou posteriormente que as duplicatas foram liquidadas no prazo, conforme aviso de 30/09/X5. Para essa operação junto ao Banco Bacana Ltda., não há a transferência dos riscos e dos benefícios da propriedade. Faça a contabilização dessas operações desde a remessa do borderô até a liquidação das duplicatas pelos clientes. Infográfico A necessidade de capital de giro é uma situação corriqueira dentro das organizações, devido à busca de equilíbrio entre o recebimento das receitas e o pagamento dos compromissos. A utilização dos chamados recebíveis de forma antecipada é uma maneira de captar recursos financeiros. No Infográfico a seguir, você confere um resumo sobre as operações com desconto de duplicatas. Conteúdo do livro Sendo nosso tema de estudos o desconto de duplicatas ou duplicatas descontadas, é interessante o estudo de operações financeiras no curto prazo. Neste capítulo do livro Planejamento e finanças de curto prazo, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar o giro de capital no curto prazo, situação em que a empresa, necessitando antecipar futuros recebimentos, poderá optar pelo desconto de duplicatas. Boa leitura. administração financeira Ross Westerfi eld Jaffe LambRoss Westerfi eld Jaffe Lamb Escola de Administração da UFRGS O conhecimento sobre mercados fi nanceiros está mais integrado do que nunca. A teoria e a prática das fi nanças corporativas têm alcance global. O pensamento em Finanças tem quadros de referência estabelecidos. Já o valor está no conhecimento das práticas locais. Líder de mercado nos Estados Unidos, Corporate Finance chega ao Brasil em uma nova versão que incorpora o conhecimento e as práticas brasileiras. Com revisão técnica e adaptação ao mercado brasileiro do prof. Roberto Lamb, da Escola de Administração da UFRGS, a obra contextualiza o conteúdo norte-americano à realidade brasileira. O livro ainda conta com a contribuição do Instituto Educacional BM&FBOVESPA, com conteúdos sobre o funcionamento da bolsa de valores e sobre as práticas do mercado brasileiro de títulos mobiliários. ad m in istração fin an ceira ad m in istração fin an ceira Ross Westerfi eld Jaffe Lamb Ross Westerfi eld Jaffe Lamb 10ª ed. 10ª ed. administração financeira corporate fi nance, 10th ed. ADM/FINANÇAS www.grupoa.com.br A Bookman Editora é um dos selos editoriais do Grupo A Educação, empresa que oferece soluções em conteúdo, tecnologia e serviços para a educação acadêmica e profi ssional. O Grupo A Educação publica com exclusividade obras com o selo McGraw-Hill Education em língua portuguesa. www.grupoa.com.br 0800 703 3444 AIUBE, F. A. L. Modelos Quantitativos em Finanças: com enfoque em commodities BERK & DEMARZO Finanças Empresariais Finanças Empresariais: essencial BERK, DEMARZO & HARFORD Fundamentos de Finanças Empresariais BLOCHER & COLS. Gestão Estratégica de Custos, 3.ed. BODIE, KANE & MARCUS Fundamentos de Investimentos, 9.ed. BREALEY, MYERS & ALLEN Princípios de Finanças Corporativas, 10.ed. BRUNER, R. F. Estudos de Casos em Finanças, 5.ed. CATTY, J. P. IFRS: Guia de Aplicação do Valor Justo DAMODARAN, A. Finanças Corporativas: teoria e prática, 2.ed. Gestão Estratégica do Risco EITEMAN, STONEHILL & MOFFETT Administração Financeira Internacional, 12.ed. HIGGINS, R. C. Análise para Administração Financeira, 10.ed. MACKENZIE & COLS. IFRS 2012: interpretação e aplicação ROGERS, S. Finanças e Estratégias de Negócios para Empreendedores, 2.ed. TITMAN & MARTIN Avaliação de Projetos e Investimentos: valuation ROSS, WESTERFIELD, JORDAN & LAMB Fundamentos de Administração Financeira, 9.ed conheça também: Exclusivamente nesta edição! Capítulo inédito sobre derivativos no mercado brasileiro, com ênfase em derivativos de juros. corporate fi nance 10th edition Versão brasileira de ÁREA DO PROFESSOR Visite www.grupoa.com.br para ter acesso a apêndices, vídeos, manual de solução, planilhas do Excel e bancos de teste (em inglês). Material exclusivo para professores. E-BOOK Esta obra também está disponível no formato e-book. Visite www.grupoa.com.br para mais informações. MATERIAL ONLINE Visite www.grupoa.com.br para ter acesso a vídeos e planilhas do Excel (em inglês). Procure pela página do livro e clique em Conteúdo online. Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 A238 Administração fi nanceira : versão brasileira de corporate fi nance [recurso eletrônico] / Stephen A. Ross ... [et al.] ; tradução : [Evelyn Tesche ... et al]. – 10. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2015. Editado também como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8055-432-8 1. Finanças. 2. Administração. I. Ross, Stephen A. CDU 005.915 Fi na nç as d e Cu rt o Pr az o PA RT E V II 27Pl anejamento e Finanças de Curto Prazo No final do primeiro trimestre de 2014, o ano da Copa no Brasil, os gestores de dois setores-cha- ve da economia brasileira manifestavam preo- cupações com estoques, o setor da construção civil e o setor automobilístico. Noticiava-se que, nas montadoras, os estoques de veículos haviam subido de 37 dias de venda em fevereiro para 48 dias em março, com a quedade 2,1% das compras no varejo no primeiro trimestre; 30 dias de estoques era, então, considerado o número adequado. Na mesma ocasião, na área da construção civil, as incorporadoras de capital aberto haviam registrado um primeiro trimes- tre fraco em relação ao Valor Geral de Vendas (VGV) lançado. Os estoques do setor tendiam a crescer ao longo do ano, devido ao elevado volume de entregas previsto. Campanhas para acelerar a venda de estoques foram lançadas, com benefícios como viagens e prêmios para os compradores. Neste capítulo, exploraremos o tempo entre a adição de um bem ao estoque e a sua venda, verificando como isso pode ser um elemento importante no planejamento fi- nanceiro de longo prazo. Sabe-se que ele rece- be particular atenção de empresas como as do setor automobilístico e da construção civil. Os estoques são um dos fatores importantes para a gestão do capital de giro. Ao final do segundo trimestre de 2013, a Gerdau S/A, empresa bra- sileira que é o maior fabricante de aços longos nas Américas – segundo no mundo – e um dos líderes globais em aços para o setor automoti- vo, informou que várias ações para melhora da eficiência das suas operações haviam resultado na redução no uso de capital de giro na ordem de R$ 1,1 bilhão no segundo trimestre daquele ano. Esse dinheiro, que resultou principalmen- te da redução de estoques, pode ser utilizado para novos investimentos e para melhoria da estrutura de capital da empresa. Para ficar por dentro dos últimos acontecimentos na área de finanças, visite www. rwjcorporatefinance. blogspot.com. Domine a habilidade de solucionar os problemas deste capítulo usando uma planilha. Acesse Excel Master no site www.grupoa.com.br, procure pelo livro e clique em Conteúdo Online. Temos descrito muitas decisões das finanças de longo prazo, tais como as do orçamento de capital, da política de dividendos e da estrutura de capital. Neste capítulo, começaremos a tratar das finanças de curto prazo, que dizem respeito, sobretudo, à análise das decisões que afetam os ativos e os passivos circulantes. Com frequência, o termo capital circulante líquido está associado à tomada de decisões financeiras de curto prazo. Como descrevemos nos capítulos anteriores, o capital circulante líquido é a diferença entre os ativos e os passivos circulantes. Também é comum a gestão fi- nanceira de curto prazo ser chamada de administração do capital de giro, ou administração do circulante; esses termos são sinônimos, entretanto capital circulante líquido e capital de giro são conceitos distintos, como veremos adiante. Não existe uma definição universal que seja aceita para finanças de curto prazo. A diferen- ça mais importante entre finanças de curto e de longo prazo está na distribuição dos fluxos de Você tem interesse em uma carreira nas finanças de curto prazo? Visite o site da Associação de Profissionais do Se tor Financeiro (Association for Financial Professionals – AFP): www.afponline.org. 930 Parte VII Finanças de Curto Prazo caixa no tempo. As decisões financeiras de curto prazo, em geral, envolvem entradas e saídas de caixa que ocorrem no prazo de um ano. Por exemplo, uma empresa toma decisões financeiras de curto prazo quando encomenda matéria-prima, paga à vista e prevê receber em até um ano o caixa da venda dos produtos acabados. Já as decisões financeiras de longo prazo estão envol- vidas quando uma empresa compra uma máquina especial que reduzirá os custos operacionais nos próximos cinco anos. Quais tipos de perguntas se classificam sob o título geral de finanças de curto prazo? Para citar apena s alguma s: 1. Quanto deve ser mantido em caixa (em depósitos à vista em um banco) para pagar as contas? 2. Quanto a empresa deve tomar emprestado no curto prazo? 3. Quanto crédito deve ser concedido aos clientes ? Neste capítulo, apresentaremos os elementos básicos das decisões financeiras de curto pra- zo. Em primeiro lugar, discutiremos as atividades operacionais da empresa. Em seguida, identi- ficaremos algumas políticas financeiras alternativas para financiar essas atividades. Por último, destacaremos os elementos básicos de um plano financeiro para o curto prazo e descreveremos produtos financeiros para o financiamento das atividades que fazem parte desse plano. 27.1 No caminho do caixa e do capital de giro Nesta seção, examinaremos os componentes do caixa e do capital circulante à m edida que eles mudam de um ano para outro. Já discutimos diversos aspectos desse assunto nos Capítulos 2 e 3. Examinaremos brevemente partes daquela discussão relacionadas a decisões financeiras de curto prazo, tendo como objetivo descrever as atividades operacionais de curto prazo da empre- sa e seu impacto sobre o caixa e o capital de giro. Para começar, lembre-se de que os ativos circulantes são compostos pelo caixa e por outros ativos que se espera converter em caixa durante o ano. Esses ativos são apresentados no balanço patrimonial em ordem de liquidez contábil – a facilidade e o tempo necessário para que possam ser convertidos em caixa. Quatro itens importantes encontrados na seção de ativos circulantes de um balanço patrimonial são: caixa e equivalentes, aplicações em ativos financeiros (títulos mobiliários negociáveis), contas a receber e estoques. De maneira similar aos seus investimentos em ativos circulantes, as empresas têm vários tipos de obrigações de curto prazo, chamadas de passivos circulantes. No passivo circulante, estão obrigações que exigem pagamento em dinheiro dentro de um ano (ou dentro do ciclo operacional, se ele for maior do que um ano). Os três principais itens encontrados no passivo circulante são: contas a pagar aos fornecedores, despesas a pagar (incluindo as provisões para salários, impostos e contribuições) e as dívidas por empréstimos, financiamentos e por emissão de instrumentos financeiros (debêntures, notas promissórias) com vencimento em até um ano. Como queremos nos concentrar nas variações de caixa, começaremos definindo o caixa em termos dos outros elementos do balanço patrimonial. Isso nos permite isolar a conta represen- tativa de caixa e explorar o impacto das decisões operacionais e financeiras da empresa sobre o caixa. A identidade básica do balanço patrimonial pode ser escrita assim: Capital circulante líquido 1 Ativo não circulante 5 Passivo não circulante 1 Patrimônio líquido (27.1) O capital circulante líquido é o Caixa mais outros ativos circula ntes menos o passivo circulante, ou seja: Capital circulante líquido 5 (Caixa 1 Outros ativos circulantes) − Passivo circulante (27.2) Se substituirmos o capital circulante líquido na equação básica do balanço patrimo nial pela forma expressa na Equação 27.2 e reorganizarmos um pouco as coisas, vemos que o caixa é: Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 931 Caixa 5 Passivo não circulante 1 Patrimônio líquido 1 Passivo circulante − Ativo circulante exceto o Caixa − Ativo não circulante (27.3) Isso nos mostra em termos gerais que algumas a tividades aumentam o caixa e outras o dimi- nuem. Podemos listar essas diversas atividades por meio de um exemplo da seguinte maneira: Atividades que aumentam o caixa Aumento do passivo não circulante (tomar empréstimos a longo prazo) Aumento do patrimônio líquido (emitir novas ações) Aumento do passivo circulante (obter um empréstimo com prazo de 90 dias) Diminuição do ativo circulante além de caixa (vender estoques mediant e pagamento à vista) Diminuição do ativo não circulant e (vender uma propriedade com prazo de pagamento inferior a um ano) Atividades que diminuem o caixa Diminuição do p assivo não circulante (pagar uma dívida de longo prazo) Diminuição do patrimônio líquido (recomprar algumas ações) Diminuição do passivo circulante (pagar um empréstimo com prazo de 90 dias ) Aumento do ativo circulante exceto caixa (comprar estoques) Aumento do a tivo não circulante (comprar umapropriedade) Observe que as duas listas são opostas. Por exemplo, obter um empréstimo ou emitir um títu- lo de dív ida de longo prazo (como uma debênture) aumentará o caixa (pelo menos até que o dinheiro seja gasto). Entretanto, o pagamento de um título de dívida de longo prazo diminui o caixa. Atividades que aumentam o caixa são chamadas de fontes de caixa. As atividades que diminuem o caixa são chamadas de usos do caixa. Conforme a lista apresentada, vemos que as fontes de caixa sempre envolvem o aumento de uma conta do passivo (ou do patrimônio líquido) ou a diminuição de uma conta do ativo. Isso faz sentido, porque o aumento do pas- sivo significa que se levantou dinheiro por meio de empréstimos ou pela venda de um direito de participação no capital na empresa. Uma diminuição em um ativo significa que um ativo foi vendido ou liquidado de alguma forma. Em ambos os casos, existe um fluxo de entrada de caixa. Os usos do caixa são exatamente o inverso. Eles envolvem a diminuição de um passivo por meio de seu pagamento ou o aumento dos ativos por meio da compra de alguma coisa. As duas atividades exigem que a empresa gaste caixa. EXEMPLO 27.1 Fontes e usos Façamos uma rápida verificação da sua compreensão dos conceitos de fontes e usos: se as contas a pagar subirem em $ 100, isso indica uma fonte ou um uso? E se as contas a receber subirem $ 100? As contas a pagar corr espondem ao que devemos aos fornecedores, logo, elas são uma dívida de curto prazo. Se esse item aumentar em $ 100, nós estamos tomando dinhei- ro emprestado, o que representa uma fonte de caixa. As contas a receber são aquilo que nossos clientes nos devem, de modo que um aumento de $ 100 significa que emprestamos dinheiro aos clientes, portanto esse é um uso do caixa. O mesmo princípio de fontes e usos recomenda que se faça a distinção entre capital de giro (CDG) e capital circulante líquido (CCL). Por uma lógica simples de construção das contas do balanço, o valor de um é sempre igual ao valor do outro, e você pode pensar: por que essa distinção? A questão que se apresenta é: do que estamos falando? De fontes de recursos ou de usos de recursos? 932 Parte VII Finanças de Curto Prazo Se olharmos para as contas circulantes, a diferença entre ativo circulante e passivo circu- lante – a diferença entre usos e fontes circulantes – é o CCL. Espera-se que essa diferença seja positiva, se for importante termos mais a receber do que a pagar no curto prazo. Do ponto de vista contábil, haverá mais direitos do que obrigações no curto prazo. Contudo, caso tenhamos mais a receber, caso tenhamos mais dinheiro aplicado em estoques e nas contas a receber de clientes do que dinheiro que devemos para fornecedores, isso se deve ao fato de termos empres- tado mais dinheiro do que tomamos emprestado no curto prazo. De onde veio esse dinheiro? É aí que aparece o capital de giro. Você já deve ter ouvido falar que as empresas podem ter problemas e até quebrar por falta de capital de giro, ou seja, elas podem ter problemas financeiros por falta de fontes de recursos para as operações. Permanece a pergunta: de onde vêm esses recursos? Lembremos da Equação 27.1: Capital circulante líquido 1 Ativo não circulante 5 Passivo não circulante 1 Patrimônio líquido Se substituirmos o CCL pelo CDG (como argumentamos antes, os dois valores são exatamente iguais) e rearranjarmos os termos, podemos escrever a Equação 27.1 assim: Capital de giro 5 (Passivo não circulante 1 Patrimônio líquido) – Ativo não circulante (27.4) A Equação 27.4 nos mostra que os recursos aportados pelos sócios (patrimônio líquido) e os recursos captados por empréstimos e financiamentos de longo prazo (passivo não circulante) – que não estejam comprometidos com o financiamento do ativo não circulante – estão disponí- veis para financiar o giro das operações. São esses recursos que constituem o capital de giro. O capital de giro financia os estoques e as contas a receber que não têm financiamento suficiente dos fornecedores e de outras contas operacionais do passivo circulante. Uma advertência é necessária: o fato de que necessariamente se verifica a igualdade CDG 5 CCL não significa que todo o uso de recursos nas contas circulantes é atendido pelo CDG. Dificilmente isso ocorre. Por que, então, CCL5 CDG? A necessidade de financiamento dos ativos circulantes operacionais que exceder ao financia- mento obtido com passivos circulantes operacionais e que não for atendida pelo CDG deverá ser financiada por empréstimos de curto prazo, logo, deverá ser aportada por empréstimos bancários. O “saldo devedor” dos usos de curto prazo é, então, “fechado” por empréstimos bancários, que, se de curto prazo, serão contabilizados no passivo circulante. Assim, invertendo um pouco o argumento, podemos dizer que a diferença entre os usos operacionais e a soma das fontes operacionais de curto prazo mais os empréstimos bancários de curto prazo será “fechada” com o CDG disponível. O CCL é o ativo circulante menos passivo circulante. Como o passivo circulante é formado pelas contas representativas de fontes operacionais de curto prazo mais empréstimos de curto prazo, necessariamente, CCL 5 CDG. Conforme o raciocínio exposto no Capítulo 3, os em- préstimos bancários de curto prazo constituem a “variável de fechamento” nesse caso. Constata-se assim que, para analisar a decisão de financiamento e avaliar a possibilidade de a empresa poder vir a enfrentar custos com dificuldades financeiras (ver o Capítulo 17), é necessário, antes de tomar decisões operacionais relativas a vendas e estoques, negociar prazos com fornecedores e clientes1 (e ter políticas de vendas e de crédito definidas). Uma visão integrada do capital de giro A Figura 27.1 evidencia a distinção entre o capital circulante líquido (CCL) – o uso de recursos não financiados pelo passivo circulante – e o capital de giro (CDG) – fonte de recursos para o giro das operações. A figura separa a parte de cima e a parte do baixo do balanço patrimonial para mostrar a diferença dos conceitos referentes a fontes e usos, além de expor por construção e lógica que: CCL 5 CDG. 1 O que dependerá do poder de negociação com clientes e fornecedores e do grau de acirramento da concorrência. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 933 EXEMPLO 27.2 Capital de giro e capital circulante líquido Considere o balanço patrimonial da CCL&CDG S/A apresentado no Quadro 27.1: QUADRO 27.1 Balanço patrimonial da CCL&CDG S/A Ativo circ ulante 200 Passivo ci rculan te 130 Caixa 10 Fornecedor es 60 Títulos e valores mobiliários 20 Salários e contribuições 30 Contas a rece ber de clientes 90 Impostos sobre vendas 25 Esto ques 60 Outras contas operacionais 12 Impostos a recuperar 15 Outras contas não operacionais 3 Outras contas não operacionais 5 Ativo não circulante 100 Passivo não circulante 90 Ativo imobilizado 100 Financiamentos de longo prazo 90 Patrimônio líquido 80 Ativo total 300 Passivo e PL 300 No balanço patrimonial da CCL&CDG S/A, temos: Parte de cima do balanço: Ativo circulante (AC) 5 200 Passivo circulante (PC) 5 130 AC – PC 5 Capital circulante líquido (CCL) 5 200 – 130 5 70 Parte de baixo do balanço: Passivo não circulante (PNC) 5 90 Patrimônio líquido (PL) 5 80 Ativo não circulante (ANC) 5 100 Fontes não circulantes 5 PNC1PL 5 90 1 80 5 170 Usos não circulantes 5 ANC 5 100 Fontes – Usos 5 170 – 100 5 70 CDG 5 90 1 80 – 100 5 170 – 100 5 70 Observe que a CCL&CDG S/A conta com $ 170 na sua base de recursos de longo pra- zo e utiliza somente $ 100 para financiar o ativo imobilizado. Assim, há um saldo de $ 70,00 para financiar o circulante. (continua) Ativo circulante Passivo não circulante Patrimônio líquido Capital circulante líquido Passivo circulante Ativo não circulante Capital de giro FIGURA 27.1 Circulante: usos e fontes. 934 Parte VII Finanças de Curto Prazo (continuação) O fato de se verificar que, nas contas do balanço da CCL&CDG, há uma igualdadeCCL 5 CDG pode parecer surpreendente, mas, observando as contas Caixa e Títulos e Valores mobiliários, vemos que parte dos recursos não aplicados no ativo imobilizado está no caixa e em aplicações financeiras de liquidez. De fato, na CCL&CDG, os usos operacionais e não operacionais no circulante são de 90 1 60 1 15 1 5 5 170. Esse uso é financiado pelas contas do passivo circulante no valor de 130. Nota-se que foi necessário buscar 40 no capital de giro, que tem disponibilidade de 70 para uso. Sobra- ram 30, dos quais 20 foram investidos em aplicações financeiras e 10 estão disponíveis no caixa. É por isso que, para a CCL&CDG, os dois valores (CDG e CCL) são idênticos. Imagine agora que a CCL&CDG aumente seu nível de atividades, utilizando melhor seu ativo imobilizado e seu capital próprio, não tomando novos financiamentos de longo prazo. Como as fontes PL 1 PNC e a aplicação no ANC permanecem com os mesmos valo- res, o capital de giro disponível para as operações continua o mesmo, ou seja, 70. Como resultado de melhorias operacionais e concedendo maior prazo para os clien- tes, a CCL&CDG teve um aumento de 50% em algumas contas do ativo (contas a rece- ber de clientes, estoques e impostos a recuperar), mas só conseguiu obter mais 30% em algumas fontes operacionais (fornecedores, salários e contribuições e impostos sobre a produção). O CCL da CCL&CDG na nova situação é de 262 – 192 5 70. QUADRO 27.2 Balanço patrimonial da CCL&CDG S/A com aumento das operações Ativo circ ulante 262 Passivo ci rculan te 192 Caixa 10 Empréstimos de curto prazo 36 Títulos e valores mobiliários 0 Fornecedores 78 Contas a rece ber de clientes 135 Salários e contribuições 30 Esto ques 90 Impostos sobre vendas 33 Impostos a recuperar 22 Outras contas operacionais 12 Outras contas não operacionais 5 Outras contas não operacionais 3 Ativo não circulante 100 Passivo não circulante 90 Ativo imobilizado 100 Financiamentos de longo prazo 90 Patrimônio líquido 80 Ativo total 362 Passivo e PL 362 Continuamos a verificar a igualdade CCL 5 CDG 5 70, porque foi consumido o valor antes aplicado em títulos e valores mobiliários (20) e foram tomados empréstimos de curto prazo (36) para cobrir o aumento no volume de operações. Observe que, como a empresa aumentou suas operações, ela teve que consumir suas reservas financeiras e tomar novos empréstimos de curto prazo. Apesar dessas mudanças nas contas circulantes, tanto o CCL quanto o CDG continuaram com o mesmo valor. O exemplo da CCL&CDG mostra que devemos prestar atenção ao capital de giro, olhar para as contas não circulantes para, então, tomar decisões operacionais, pois são os recursos do patrimônio líquido e das dívidas de longo prazo que excedem aos utilizados no ativo não circulante que estarão disponíveis para o financiamento das operações. Se o CDG for insuficiente, novos aportes de recursos financeiros serão necessários. O nível das atividades só altera o capital de giro de forma lenta pela realização dos lu- cros a serem incorporados ao patrimônio líquido ou disponíveis para financiar as operações enquanto não distribuídos aos sócios ou acionistas. As alterações nas contas circulantes são ajustadas por investimento de tesouraria – quando há sobras de caixa – ou por empréstimos de curto prazo – quando há falta de caixa. Nossa recomendação, por enquanto, é: preste atenção ao capital de giro! Voltaremos a esse ponto em seguida. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 935 27.2 Ciclo operacional e ciclo financeiro As principai s p reocupações nas finanças de curto prazo são as atividades operacionais e fi- nanceiras correntes da empresa. No caso de uma empresa típica de produção, essas atividades correntes podem consistir na seguinte sequência de eventos e decisões: Evento Decisão 1. Compra de matéria-prima 1. Quanto de estoque deve ser encomendado? 2. Pagamento em dinheiro 2. Tomar um empréstimo ou usar os saldos de caixa? 3. Fabricação do produto 3. Que tecnologia de produção escolher? 4. Venda dos produtos 4. Conceder ou não crédito a um determinado cliente? 5. Cobrança das vendas 5. Como cobrar? Essas atividades criam sequências de fluxos de entradas e de saídas de caixa. Esses fluxos de cai- xa são incertos e não sincronizados. Eles não são sincronizados porque, por exemplo, a saída de caixa para pagamento da compra de matéria-prima não acontece ao mesmo tempo em que ocorre o recebimento do caixa pela venda dos produtos. Eles são incertos porque não é possível prever com exatidão as vendas e os custos futuros (e também porque os clientes podem inadimplir). Definição dos c iclos operacional e financeiro Podemos começar com um caso simples. Um dia, que chamaremos de dia 0, compramos $ 1.000 em estoques a prazo. Pagamos a conta 30 dias depois, e, após outros 30 dias, alguém compra nosso estoque de $ 1.000 por $ 1.400. O nosso comprador só pagará dentro de outros 45 dias. Podemos resumir esses eventos de forma cronológica da seguinte maneira: Dia Atividade Efeito sobre o caixa 0 Aquisição de estoque Nenhum 30 Pagamento do estoque −$ 1.000 60 Venda do estoque a prazo Nenhum 105 Recebimento pela venda 1$ 1.400 O ciclo operacional Existem vários fatos a ser observados em nosso exemplo. De início, o ciclo completo, do momento em que adquirimos o estoque até o momento em que recebemos o dinheiro, leva 105 dias. Isso é chamado de ciclo operacional (CO). Como ilustramos, o ciclo operacional é o tempo necessário para adquirir o estoque, proces- sá-lo, vendê-lo e receber o pagamento das vendas. Esse ciclo tem dois componentes distintos. Um deles diz respeito ao tempo necessário para adquirir, processar e vender o estoque. Esse período, que no nosso exemplo é de 60 dias, é chamado de prazo médio de estocagem (PME). O segundo considera o tempo para receber pela venda, o que dá 45 dias no nosso exemplo. Isso é chamado de prazo médio das contas a receber, ou prazo médio de recebimento (PMR). Com base em nossa s definições, o ciclo operacional é a soma dos prazos de estocagem e de recebimento: Ciclo operacional 105 dias 5 Prazo médio de estocagem 1 Prazo médio de recebimento 5 60 dias 1 45 dias (27.5) O ciclo operacional descreve a forma como um produto se movimenta entre as contas dos ativos circulantes. O produto começa a vida como estoque, depois é convertido em contas a receber quando vendido e, finalmente, é convertido em caixa quando recebemos o pagamento das vendas. Observe que, a cada etapa, o ativo se move para mais perto do caixa. O ciclo financeiro Em seguida, deve-se notar que os fluxos de caixa e outros eventos que ocorrem não são sincronizados. Por exemplo, não pagamos realmente o estoque antes de 30 dias após sua aquisição. Esse período de 30 dias é chamado de prazo médio de pagamento ou prazo médio de contas a pagar (PMP). Após, gastamos o caixa no dia 30, mas não o recebemos 936 Parte VII Finanças de Curto Prazo antes do dia 105. De algum modo, temos de conseguir financiamento para os $ 1.000 durante 105 – 30 5 75 dias. Esse prazo é chamado de ciclo financeiro (CF).2 Assim, o ciclo financeiro é o número de dias decorridos até o recebimento do dinheiro pela ven- da, medido desde o momento em que se pagou pelos estoques. Observe que, com base em nossas definições, o ciclo financeiro é a diferença entre o ciclo operacional e o prazo médio de pagamento: Ciclo financeiro 75 dias 5 Ciclo operacional – Prazo mé dio de pagamento 5 105 dias – 30 dias (27.6) A Figura 27.2 descreve as atividades operacionais de curto prazo e os fluxos de caixa de uma empresa típica de produção por meio de uma linha do tempo dos fluxos de caixa. A linha do tempo dos fluxos de caixa ilustra o ciclo operacional e o ciclo financeiro. Nessa figura, a ne- cessidade de administração financeira de curto prazo é sugerida pela defasagem entre os fluxos de entrada e saída de caixa. Isso está relacionado às durações do ciclo operacional e do prazo médio de pagamento. A defasagementre os fluxos de entrada e de saída de caixa de curto prazo pode ser compen- sada com empréstimos (o desconto de duplicatas é muito utilizado pelas pequenas e médias em- presas) ou mantendo-se uma reserva de liquidez na forma de dinheiro disponível ou de instru- mentos financeiros (recursos aplicados em títulos negociáveis ou em fundos de investimento). Além disso, a defasagem também pode ser diminuída por mudanças nos prazos de estocagem, de recebimento e de pagamento. Essas são as opções de gestão que discutiremos nas próximas seções e nos capítulos subsequentes. A Amazon.com, livraria e varejista da Internet, oferece um exemplo interessante da impor- tância da gestão do ciclo financeiro. Em agosto de 2011, o valor de mercado da Amazon.com era mais alto (na verdade, bem mais de 100 vezes) do que o da Barnes & Noble, o rei das livra- rias não virtuais nos Estados Unidos. Como pode a Amazon.com ter um valor tão mais alto? Existem vários motivos, mas a gestão do curto prazo é um fator. Em 2010, a Amazon renovou seu estoque cerca de 10 vezes, três vezes mais rápido do que a Barnes & Noble, de modo que seu prazo médio de estocagem foi mais curto. Mais surpreendente ainda é o fato de a Amazon cobrar do cartão de crédito do cliente quando envia um livro, recebendo, em geral, da administradora do cartão de crédito no prazo de um dia. Isso significa que a Amazon tem um ciclo financeiro negativo! De fato, em 2010, o ciclo financeiro da empresa foi de menos 69 dias. Nessa situação, cada venda gera um fluxo de entrada de caixa que pode ser colocado em uso imediatamente. 2 Também chamado de ciclo de caixa. Aprenda mais sobre terceirização de administração de contas e m www.businessdebts.com e www.opiglobal.com. Compra de estoque Prazo médio de estocagem Venda de estoque Prazo médio de recebimento Entrada de caixa das vendas Tempo Prazo médio de pagamento Saída de caixa para pagamento dos estoques Ciclo operacional Ciclo financeiro O ciclo operacional é o período entre a compra de estoque e o recebimento de dinheiro das vendas. O ciclo financeiro é o período entre o momento em que pagamos com caixa e o momento em que recebemos em caixa. FIGURA 27.2 Linha do tempo dos fluxos de caixa e a tividades op eracionais de curto prazo de uma empresa típica de produção. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 937 A Amazon não é a única empresa com ciclo financeiro negativo. Consideremos a fabricante de aviões Boeing. Em 2010, a Boeing teve um prazo médio de estocagem de 145 dias e um prazo de recebimento de 36 dias, de modo que seu ciclo operacional durava longos 182 dias (o dia adicional é devido a erros de arredondamento). O ciclo financeiro da Boeing parece ser longo, certo? Errado. A Boeing tinha um prazo médio de pagamento de 235 dias, de modo que seu ciclo financeiro foi de menos 53 dias! O ciclo operacional e o organograma da empresa Antes de examinarmos em mais detalhes os ciclos operacional e financeiro, é importante veri- ficarmos as funções das pessoas envolvidas na gestão dos ativos e passivos circulantes de uma empresa. Como ilustra o Quadro 27.3, a gestão financeira do curto prazo de uma grande em- presa envolve vários gestores financeiros e não financeiros. Examinando o Quadro 27.3, vemos que a venda a prazo envolve pelo menos três gestores de áreas diferentes: o gerente de crédito, o gerente de marketing e o gerente de controladoria. Desses três, apenas dois se reportam ao diretor financeiro (a função de marketing geralmente está associada ao diretor de marketing). Assim, existe a possibilidade de conflitos, sobretudo quando cada um dos diferentes gerentes se concentra em apenas uma parte do todo. Por exemplo, se o marketing está tentando conseguir uma conta nova, ele pode querer oferecer condições de crédito mais liberais como um incen- tivo às vendas, todavia isso pode aumentar o estoque de contas a receber da empresa ou a sua exposição ao risco de inadimplência, o que pode resultar em conflitos entre as diferentes áreas. Cálculo dos ciclos oper acional e financeiro Em nosso exemplo, as durações dos diferentes prazos eram óbvias, contudo, se tivermos apenas as informações das demonstrações contábeis, teremos de trabalhar um pouco mais. Adiante, ilustramos os cálculos. Para começar, precisamos determinar diversas coisas, tais como os prazos médios para vender o estoque e para receber o caixa das vendas. Começamos reunindo algumas informações do balanço patrimonial (em milhares), tais como: Item Inicial Final Média Estoque $ 2.000 $ 3.000 $ 2.500 Contas a receber 1.600 2.000 1.800 Contas a pagar 750 1.000 875 QUADRO 27.3 Gestores que lidam com questões financeiras de curto prazo Título do gestor Atividades relacionadas à gestão financeira do curto prazo Ativos/passivos influenciados Gerente financeiro Recebimento, centralização do caixa, desembolsos, investimentos de curto prazo, empréstimos a curto prazo, relações bancárias Caixa, instrumentos financeiros (títulos negociáveis), empréstimos a curto prazo Gerente de crédito Monitoramento e controle das contas a receber; decisões sobre a política de crédito Contas a receber Gerente de marketing Decisões sobre a política de crédito Contas a receber Gerente de compras Decisões sobre compras, fornecedores, negociação de termos de pagamento Estoques, contas a pagar Gerente de produção Definição das programações de produção e da necessidade de materiais Estoques, contas a pagar Gerente de contas a pagar Decisões sobre as políticas de pagamento e descontos Contas a pagar Gerente de controladoria Informação contábil sobre os fluxos de caixa, conciliação das contas a pagar, conferência entre pagamentos e contas a receber Contas a receber, contas a pagar 938 Parte VII Finanças de Curto Prazo Além disso, a partir da demonstração de resultados do exercício mais recente, podemos obter os seguintes números (em milhares): Vendas líquidas $ 11.500 Custo das mercadorias vendidas 8.200 Agora, é necessário calcular alguns indicadores financeiros. No Capítulo 3, tratamos de alguns de- talhes desses indicadores, entretanto, aqui, apenas os definiremos e usaremos quando necessário. O ciclo operacional Antes de tudo, precisamos do prazo médio de estocagem. Gastamos $ 8,2 milhões em estoque (nosso custo das mercadorias vendidas). Nosso estoque médio foi de $ 2,5 milhões. Assim, giramos o estoque $ 8,2/2,5 vezes durante o ano:3 Giro do estoque 5 Custo da s mercadorias vendidas Estoque médio 5 $ 8,2 mi lh ões 5 3,28 vezes 2,5 milhões De modo ger al, isso mostra que compramos e vendemos nosso estoque 3,28 vezes durante o ano. Ainda significa que mantemos nosso estoque durante: Prazo médio de estocagem 5 365 dias Giro do estoque 5 365 5 111,3 dias 3,28 Assim, o pra zo médio de estocagem é de 111 dias. Em outras palavras, o estoque ficou parado 111 dias antes de ser vendido.4 Da mesma manei ra, as contas a receber atingiram uma média de $ 1,8 milhão, e as vendas fo- ram de $ 11,5 milhões. Supondo que todas as vendas foram a prazo, o giro de contas a receber é: 5 Giro de contas a r eceber 5 Vendas a prazo Média das contas a receber 5 $ 11,5 milhões 5 6,4 vezes 1,8 milhões Se girarmos as contas a receber 6,4 vezes, o prazo médio de recebimento será: Prazo médio de recebimento 5 365 dias Giro de contas a receber 5 365 5 57 dias 6,4 O prazo médio de recebimento é também chamado de dias em contas a receber ou prazo médio de contas a receber. Seja qual for o nome, ele mostra que nossos clientes levaram perto de 57 dias para pagar. O ciclo operacional é a soma dos prazos médios de estocagem e de recebimento: Ciclo operacional 5 Prazo médi o de estocagem 1 Prazo médio de recebimento 5 111 dias 1 57 dias 5 168 dias 3 Observe que, ao calcular o giro do estoque, usamos a média do estoque em vez de usarmos o estoque final, como fizemos no Capítulo 3. Ambas as abordagens são usadas na prática. Para praticarmos o uso de médias,manteremos essa abordagem ao calcularmos os diversos indicadores neste capítulo. 4 Esse indicador é idêntico ao prazo médio de estocagem discutido no Capítulo 3. 5 Se menos de 100% de nossas vendas fossem a prazo, precisaríamos apenas de um pouco mais de informação, a saber: as vendas a prazo durante o ano. Consulte o Capítulo 3 para mais informações sobre esse indicador. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 939 Isso mostra que decorrem 168 dia s entre o momento em que adquirimos os estoques e, depois de vendê-los, o momento em que recebemos o dinheiro das vendas. O ciclo financeiro Agora, é preciso saber qual é o prazo médio de pagamento. A partir das informações anteriores, sabemos que a média das contas a pagar foi de $ 875.000, e o custo das mercadorias vendidas foi de $ 8,2 milhões. Nosso giro de contas a pagar é: Giro de contas a pagar 5 Custo das mercad orias vendidas Média de contas a pagar 5 $ 8,2 milhões 5 9,4 vezes 0,875 milhão Nosso prazo médio de pagamento é: Prazo méd io de pagamento 5 365 dias Giro de contas a pagar 5 365 5 39 dias 9,4 Assim, levamos em média 39 dias para pagar nossas contas. Por fim, o ciclo financeiro é a diferença entre o ciclo operacional e o prazo médio de pa- gamento: Ciclo financeiro 5 Ciclo operacional – Prazo médio de pagamento 5 168 dias – 39 dias 5 129 dias Dessa maneira, existe uma defasagem de 129 dias entre o momento em que pagamos pelas mercadorias e o momento em que recebemos pelas vendas. EXEMPLO 27.3 Ciclos operacional e financeiro Você reun iu as seguintes informações sobre a Companhia Paga-Mas-Demora: Item Inicial Final Estoque $ 5.000 $ 7.000 Contas a receber 1.600 2.400 Contas a pagar 2.700 4.800 As vendas a prazo do ano que findou foram de $ 50.000, e o custo das mercadorias ven- didas foi de $ 30.000. Quanto tempo é preciso para que a Paga-Mas-Demora receba suas contas a receber? Quanto tempo a mercadoria permanece na empresa até ser vendida? Quanto tempo a empresa leva para pagar suas contas? Em primeiro lugar, podemos calcular os três índices de giro: Giro de estoques 5 $ 30.000/6.000 5 5 vezes Giro de contas a receber 5 $ 50.000/2.000 5 25 vezes Gir o de contas a pagar 5 $ 30.000/3.750 5 8 vezes Usa mos esses giros para obter os diversos prazos médios: Prazo médio de estocagem 5 365/5 5 73 dias Prazo médio de recebimento 5 365/25 5 14,6 dias Prazo m édio de pagamento 5 365/8 5 45,6 dias Nota-se que a Paga-Mas-Demora recebe uma venda em 14,6 dias, o estoque perma- nece na empresa por 73 dias e as contas são pagas 46 dias após as compras. Como o ciclo operacional é a soma dos prazos médios de estocagem e de recebimento, temos: 73 1 14,6 5 87,6 dias. Já o ciclo financeiro é a diferença entre o ciclo operacional e o prazo médio de pagamento: 87,6 – 45,6 5 42 dias. 940 Parte VII Finanças de Curto Prazo Interpretando o c iclo financeiro Os exemplos mostram que o ciclo financeiro depende dos prazos médios de estocagem, de rece- bimento e de pagamento. Ele aumenta à medida que os prazos de estocagem e de recebimento tornam-se mais longos e diminui quando a empresa pode adiar pagamentos e, assim, aumentar o prazo médio de pagamento. Ao contrário da Amazon.com, a maioria das empresas tem um ciclo financeiro positivo e, portanto, elas precisam de capital de giro para financiar os estoques e as contas a receber. Quan- to maior o ciclo financeiro, maior o financiamento necessário; se a empresa não tiver capital de giro suficiente, terá que buscar novos aportes financeiros na forma de empréstimos de curto prazo. As alterações no ciclo financeiro da empresa quase sempre são monitoradas, pois consti- tuem uma forma de aviso antecipado. Um ciclo em crescimento pode indicar que a empresa tem problemas para movimentar o estoque ou para receber por suas vendas. Tais problemas podem ser mascarados, pelo menos parcialmente, por um aumento no ciclo de contas a pagar, de modo que ambos os ciclos devem ser monitorados. A ligação entre o ciclo financeiro da empresa e sua lucratividade pode ser compreendida se nos lembrarmos de que um dos fatores básicos da lucratividade e do crescimento de uma empresa é seu giro do ativo total, o qual é definido como Vendas/Ativo total. No Capítulo 3, vimos que quanto mais alto for esse índice, maior será o retorno dos ativos (ROA) e o retorno do patrimônio líquido (ROE). Logo, mantidos os demais valores inalterados, quanto menor for o ciclo financeiro, mais baixo será o investimento da empresa em estoques e contas a receber. Como resultado, o ativo total da empresa é menor, e o giro total é maior. Exame dos ciclos operacional e financeiro Em 2011, a revista CFO publicou uma pesquisa sobre o capital de giro de vários setores nos EUA. Os resultados dessa pesquisa destacam as fortes diferenças entre os ciclos financeiro e operacional de diversos setores. O quadro a seguir mostra quatro diferentes setores e os ciclos médios operacional e financeiro de cada um deles. Desses quatro, o setor de transporte aéreo é o que tem os ciclos mais curtos, assim como tem um prazo médio de estocagem curto. O setor de varejo, que inclui as lojas Dollar General e Bon-Ton, tem um prazo de recebimento igual a zero. Prazo médio de recebimento (em dias) Prazo médio de estocagem (em dias) Ciclo operacional (em dias) Prazo médio de contas a pagar (em dias) Ciclo financeiro (em dias) Transporte aéreo 10 7 17 18 –1 Biotecnologia 64 49 113 14 99 Produtos alimentícios 25 39 64 26 38 Varejo 0 62 62 26 36 As lojas de varejo têm quase o mesmo ciclo operacional das empresas de produtos alimen- tícios. Contudo, podemos ver uma diferença fundamental no fato de que a indústria de varejo não tem prazo de recebimento e de que seu prazo médio de estocagem é muito maior. O prazo médio de estocagem é necessário nesse setor para manter as prateleiras cheias, mas, devido à tendência de os clientes pagarem à vista, as empresas do setor têm uma quantidade pequena ou nula de contas a receber. Já estudamos que os ciclos operacional e financeiro podem variar bastante de acordo com o setor, mas esses ciclos também podem ser diferentes em empresas do mesmo setor. A seguir, são apresentados os ciclos operacional e financeiro de algumas empresas de informática e pro- dutos eletrônicos. Como é possível ver, existem diferenças: a Apple e a Dell têm os melhores ciclos operacionais e financeiros do setor. De fato, a Dell, há muito tempo, é conhecida como líder na administração do ativo circulante. Tanto a Imation quanto a Diebold têm prazos médios de estocagem muito maiores. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 941 Prazo médio de recebimento (em dias) Prazo médio de estocagem (em dias) Ciclo operacional (em dias) Prazo médio de contas a pagar (em dias) Ciclo financeiro (em dias) Apple 31 6 37 67 –30 Dell 39 8 47 67 –20 Imation 65 51 116 55 61 Diebold 52 58 110 28 82 Por meio do exame de todas as partes dos ciclos, pode-se verificar se a empresa está tendo um desempenho bom ou ruim. Observando os ciclos operacionais da Imation e Diebold, eles parecem bastante similares, entretanto a Diebold tem um maior prazo médio de estocagem, enquanto a Imation tem um maior prazo médio de pagamento. Ao examinar os ciclos operacional e financeiro, considere que eles são, na verdade, indica- dores financeiros. Como qualquer indicador financeiro, eles serão afetados pelas características da empresa e do setor. Por isso, tome cuidado em sua interpretação. Examinando a Imation e a Diebold, observamos que as duas empresas têm um prazo médio de estocagem aparentemente longo. É algo ruim? Talvez não. Essas empresas têm um modelo de negócios diferente do pra- ticado pela Apple e pela Dell e, como resultado, não são comparáveis em matéria de níveis de estoque. 27.3 Alguns aspecto s da política financeira de curto prazo A política financeir a de curto prazo de uma empresa reflete-se pelo menosde duas maneiras: 1. O tamanho do inves timento da empresa em ativos circulantes: é costumeiro medi-lo em relação ao nível das receitas operacionais totais da empresa. Uma política financeira de curto prazo flexível ou acomodativa manteria um índice relativamente alto entre ativos circulantes e vendas. Já uma política financeira de curto prazo restritiva implicaria um índice baixo. 2. O financiamento dos ativos circulantes: é medido como a proporção entre as dívidas de curto prazo e as dívidas de longo prazo. Uma política financeira de curto prazo restritiva significa uma alta proporção de dívidas de curto prazo em relação ao financiamento de longo prazo, e uma política flexível significa menos dívidas de curto prazo e mais dívidas de longo prazo. O tamanho do investimento de uma empresa em at ivos circulantes As políticas financeiras de curto prazo flexív eis incluem ações tais como: 1. Manutenção de grandes saldos de caixa e instrum entos financeiros negociáveis. 2. Grandes investimentos em estoque. 3. Concessão de condições liberais de crédito, o que resulta em um alto nível de contas a receber. Políticas financeiras de curto prazo restritivas incluem: 1. Saldos de caixa baixos e nenhum investimento em instrume ntos financeiros negociáveis. 2. Pequenos investimentos em estoque. 3. Nenhuma venda a pra zo ou conta a receber. A determinação do nível ideal de investimento em ativos correntes exige que se identifi- quem os diferentes custos das políticas de financiamento de curto prazo alternativas. O objetivo é efetuar um balanço entre os custos de uma política restritiva e os custos de uma política flexí- vel para chegar ao melhor resultado. 942 Parte VII Finanças de Curto Prazo Os investimentos em ativos circulantes são mais altos com uma política financeira de curto prazo flexível e são mais baixos com uma política restritiva. Por conseguinte, as políticas fle- xíveis são caras, uma vez que exigem maior investimento para financiar caixa e instrumentos financeiros, estoques e contas a receber. Contudo, fluxos de entrada de caixa futuros são mais altos com uma política flexível. As vendas são estimuladas pelo uso de uma política de crédito liberal aos clientes. Um montante grande de estoque (“mercadorias na prateleira”) permite entrega rápida aos clientes e aumenta as vendas.6 Além disso, a empresa talvez possa cobrar preços mais altos pela entrega rápida e pelas condições liberais de crédito que resultam das políticas flexíveis, que também podem resultar em um número menor de paralisações da produção em virtude da escassez de estoques.7 A gestão dos ativos circulantes pode ser vista como algo que envolve a ponderação entre os custos que aumentam e os custos que diminuem com o nível de investimento. Os custos que sobem ao se aumentar o nível de investimento em ativos circulantes são chamados de custos de carregamento. Os custos que diminuem ao se aumentar o nível de investimento em ativos circulantes são chamados de custos de falta. Os custos de carregamento são divididos em dois tipos. O primeiro é um custo de oportuni- dade, porque a taxa de retorno sobre os ativos circulantes é baixa em comparação à taxa sobre outros ativos. O segundo é o custo para manter o valor econômico do item, como, por exemplo, o custo de se armazenar o estoque. Os custos de falta são incorridos quando o investimento em ativos circulantes é baixo. Se a empresa ficar sem caixa, ela será forçada a resgatar investimentos financeiros que mantenha como reserva. Nesse cenário, se ela não puder realizar com facilidade ou não dispuser de ins- trumentos financeiros negociáveis, ela talvez tenha que tomar empréstimos ou deixar de pagar uma obrigação. Essa situação é chamada de falta de caixa. Uma empresa pode também perder clientes se ficar sem estoque ou se não puder estender crédito a eles. Existem dois tipos de custos de falta: 1. Custos de transação ou de pedido: são aqueles incorridos quando se procura obter dinheiro ( tarifas, comissões, tributos sobre empréstimos ou custos de corretagem, por exemplo) ou repor estoques (custos de configuração de produção, por exemplo). 2. Custos relacionados à falta de reservas de segurança: são os custos de vendas perdidas, de perda da confiança do cliente e de interrupção d as programações de produção. A Figura 27.3 (p. 944) explica a natureza básica dos custos de carregamento e dos cus- tos de falta. O custo total de se investir em ativos circulantes é determina do pela soma dos custos de carregamento e dos custos de falta. O ponto mínimo da curva de custo total (AC*) reflete o saldo ótimo de ativos circulantes. A curva é, em geral, bastante plana no ponto mínimo, sendo difícil, quando não impossível, encontrar de forma precisa o equilíbrio óti- mo entre os custos de carregamento e os de falta – por isso, uma escolha próxima ao ponto ótimo é satisfatória. Se os custos de carregamento são baixos ou se os custos de falta são altos, a política ideal exige um ativo circulante considerável – quer dizer, uma política flexível é a ideal (isso é mos- trado na parte do meio da Figura 27.3). Se os custos de carregamento são altos ou se os custos de falta são baixos, uma política restritiva é a ideal, ou seja, a política ideal exige um ativo circulante moderado (isso é mostrado na parte inferior da Figura 27.3). Opler, Pinkowitz, Stulz e Williamson examinaram os determinantes da manutenção de cai- xa e investimentos financeiros em títulos negociáveis de empresas de capital aberto nos EUA.8 6 Isso se aplica a alguns tipos de produtos acabados. 7 Isso se aplica aos estoques de matéria-prima, mas não aos de produtos acabados. 8 Tim Opler, Lee Pinkowitz, René Stulz e Rohan Williamson, “The Determinants and Implications of Corporate Cash Holdings”, Journal of Financial Economics, v.52, 1999. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 943 Eles encontraram evidências de que as empresas se comportam de acordo com o modelo estáti- co descrito antes. O estudo se concentrou apenas nos ativos líquidos (i.e., caixa e instrumentos financeiros), de tal forma que os custos de carregamento são os custos de oportunidade de se manter ativos de liquidez, e os custos de falta são os riscos de não possuir caixa quando existem boas oportunidades de investimento. Políticas alternativas de financiamento para ativos circulantes Na seção anterior, examinamos o nível de investimentos em ativos circulantes. Nesta seção, voltaremos nossa atenção para o nível de passivos circulantes, supondo que o investimento em ativos circulantes seja o nível ideal. Um modelo ideal Em uma economia ideal, os ativos de curto prazo sempre podem ser finan- ciados com dívidas de curto prazo, e os ativos de longo prazo podem ser financiados com dívi- das de longo prazo e capital próprio. Nessa condição, o capital de giro é sempre igual a zero. Imagine um caso simples de uma companhia armazenadora que opera silos de grãos. Essa companhia compra os grãos após a colheita, armazena-os e vende-os durante o ano. Ela tem estoques altos após a colheita e acaba com estoques baixos antes da próxima colheita. Suponha que essa empresa utilize financiamentos bancários com prazos menores do que um ano para financiar a compra dos grãos e que esses financiamentos sejam pagos com o resul- tado da venda dos grãos. Essa situação é apresentada na Figura 27.4 (p. 945). Presume-se que o ativo de longo prazo aumente ao longo do tempo, enquanto o ativo circulante aumenta ao final da colheita e diminui durante o ano. O ativo de curto prazo acaba em zero pouco antes da nova colheita e é financiado por dívidas de curto prazo. O ativo de longo prazo é financiado por dívidas de longo prazo e ca- pital próprio. O capital circulante líquido (ativo circulante menos passivo circulante) é sempre igual a zero. Diferentes estratégias de financiamento de ativos circulantes Não se pode esperar que o ativo circulante chegue a zero no mundo real, pois um nível de vendasque aumenta ao longo do tempo resulta em algum investimento permanente em ativos circulantes. Uma empresa em crescimento pode ver-se tendo uma necessidade permanente tanto de ativos circulantes quanto de ativos não circulantes. Essa necessidade total de ativos exibirá saldos ao longo do tempo, refletindo: (1) uma tendência geral de crescimento, (2) variação sazonal em torno da tendência e (3) flutuações imprevisíveis dia a dia e mês a mês (Figura 27.5, p. 945). Não tentamos mostrar as variações imprevisíveis dia a dia e mês a mês nas necessidades de ativos totais. Determinantes da manutenção de ativos líquidos pelas empresas Empresas com alto investimento em ativos líquidos Empresas com baixo investimento em ativos líquidos Oportunidades de alto crescimento Oportunidades de baixo crescimento Investimentos de alto risco Investimentos de baixo risco Pequenas empresas Grandes empresas Empresas com baixa qualidade de crédito Empresas com alta qualidade de crédito As empresas manterão mais ativos líquidos (ou seja, caixa e instrumentos financeiros) para se assegurar de que poderão continuar a investir quando seus fluxos de caixa forem baixos em relação às oportunidades de investimento com VPL positivo. Empresas com acesso fácil ao mercado de capitais manterão menos ativos líquidos. FONTE: Ti m Opler, Lee Pinkowitz, René Stulz e Rohan Williamson, “The Determinants and Implications of Corporate Cash Holdin- gs”, Journal of Financial Economics 52 (1999). 944 Parte VII Finanças de Curto Prazo Agora examinemos como essa necessidade de ativos é financiada. Considere a estratégia na qual o financiamento de longo prazo cobre além das necessidades de ativos totais, mesmo em picos sazonais (estratégia F da Figura 27.6). A empresa terá caixa excedente disponível para investir em ativos financeiros quando as necessidades de ativos totais caírem em relação aos Reais Ponto mínimo Custo total de manter ativos circulantes Custos de carregamento Custos de falta Ativo circulante (AC) AC* Quantidade ótima de ativos circulantes. Este ponto minimiza os custos. Política flexível Reais Ponto mínimo Custo total Custos de carregamento Custos de falta AC* Política restritiva Reais AC* Ponto mínimo Custo total Custos de carregamento Custos de falta Ativo circulante (AC) Ativo circulante (AC) Os custos de carregamento sobem ao se aumentar o nível de investimento em ativos circulantes. Eles incluem tanto os custos de oportunidade quanto os custos de se manter o valor econômico de um ativo. Os custos de falta diminuem ao se aumentar o nível de investimento em ativos circulantes. Eles incluem custos de transação e custos relativos à escassez de ativos correntes (p. ex., escassez de caixa). FIGURA 27.3 Custos de ca rregamento e custos de falta. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 945 picos. Como essa abordagem implica um grande investimento em ativos circulantes não caixa e excedentes de caixa de curto prazo, ela é considerada uma estratégia flexível. Quando o financiamento de longo prazo não cobre as necessidades de ativos totais, a em- presa deve tomar emprestado no curto prazo para suprir o déficit. Essa estratégia restritiva é indicada com a letra R na Figura 27.6. Qual é melhor? Qual é o montante de empréstimos de curto prazo mais apropriado? Não existe uma resposta definitiva. Várias considerações devem ser incluídas em uma análise adequada: 1. Reservas de caixa: a estratégia de financiamento flexível implica reservas de caixa e pou- cos empréstimos de curto prazo. Essa estratégia reduz a probabilidade de que a empresa passe por problemas financeiros. As empresas nessa situação não precisam se preocupar tanto com o cumprimento de obrigações recorrentes de curto prazo, pois têm capital de giro para as operações. Porém, o capital de giro não utilizado em estoques e contas a receber será utilizado na forma de caixa e ativos financeiros; tais investimentos são, no máximo, investimentos de valor presente líquido zero. 2. Casamento de prazos: a maioria das empresas financia os estoques com empréstimos bancários de curto prazo e o ativo não circulante com financiamentos de longo prazo. As empresas evitam financiar o ativo não circulante com empréstimos de curto prazo. Esse tipo de desencontro de prazos exigiria financiamentos frequentes e, por isso, é arriscado, visto que as taxas de juros de curto prazo são mais voláteis do que as taxas de prazo maior. Tempo Reais Ativos circulantes 5 Dívidas de curto prazo Ativos não circulantes Dívidas de longo prazo mais capital próprio 0 1 2 3 4 Em um mundo ideal, o capital de giro será sempre zero, porque os ativos de curto prazo são financiados por dívidas de curto prazo. FIGURA 27.4 Política financeira em uma economia ideal. Reais Variação sazonal Crescimento contínuo nos ativos imobilizados e na necessidade permanente de capital de giro Tempo Necessidades de ativos totais FIG URA 27.5 Necessidades de ativos totais ao longo do tempo. 946 Parte VII Finanças de Curto Prazo 3. Estrutura a termo: As taxas de juros de curto prazo normalmente são menores do que as de longo prazo. Logo, seria mais caro depender de financiamento de longo prazo em com- paração ao financiamento de curto prazo. Entretanto, isso pode ser diferente no caso de a empresa ter acesso a alguma forma incentivada de empréstimos de longo prazo, como é o caso das linhas oferecidas pelo BNDES, ou, no caso de empresas brasileiras, ter acesso direto a recursos tomados no exterior. Nesses casos, isso pode permitir à empresa compor fontes de recursos de longo prazo a taxas inferiores às dos empréstimos de curto prazo. 27.4 Orçamento financeiro de curto prazo O orçamen to de caixa é uma das principais ferramentas do planejamento financeiro para o cur- to prazo. Ele permite que o gestor financeiro identifique as necessidades (e as oportunidades) financeiras para o curto prazo, informa ao gestor a quantidade necessária de empréstimos para o curto prazo e serve para identificar a defasagem de fluxo de caixa na linha do tempo. A ideia do orçamento de caixa é simples: ele registra as estimativas de recebimentos e desembolsos de caixa. Exemplificamos o conceito com o caso da Brinquedos Divertidos. EXEMPLO 27.4 Recebimentos de caixa Todas as entradas de caix a da Brinquedos Divertidos vêm da venda de brinquedos. O or- çamento de caixa da empresa começa com uma previsão de vendas por trimestre para o próximo ano: ExcelMaster cobertura online Esta seção apresenta a vincu lação com do cumentos do Word. Reais Tempo Aplicações em ativos financeiros Estratégia F Necessidades de ativos totais Financiamentos de longo prazo Estratégia R Reais Tempo Necessidades de ativos totais Financiamentos de longo prazo Financiamentos de curto prazo A Estratégia F sempre implica um excedente de caixa no curto prazo e um grande investimento em caixa, equivalentes de caixa e aplicações em ativos financeiros. A Estratégia R usa financiamento de longo prazo apenas para as necessidades permanentes de ativos imobilizados e de capital de giro e empréstimos de curto prazo para o financiamento das variações sazonais de ativos circulantes. FIGURA 27.6 Políticas alternativas de financiamento de ativos. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 947 Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trimestre Quarto trimestre Vendas (em milhões de $) $ 100 $ 200 $ 150 $ 100 O planejamento da Brinquedos Divertidos começa no dia 1º de julho. As vendas são sazonais e costumam ser muito altas no segundo trimestre devido às férias. A empresa vende a crédito para lojas de departamentos, e o caixa não é gerado imediatamente pelas vendas, mas de- pois, por meio de cobranças de contas a receber. A empresa tem um prazo de recebimento de 90 dias, e, assim, 100% das vendas são recebidas no trimestre seguinte. Temos, então: Recebimento s 5 Vendas do trimestre anterior Essa relaçã o implica que: Contasa rece ber no final do trimestre anterior 5 Vendas do trimestre anterior (27.7) Suponha que as vendas no trimestre anterior tenham sido de $ 100 milhões. Partindo da Equação 27.7, sabemos que as contas a receber totalizaram $ 100 milhões no final do tri- mestre anterior e que os recebimentos totalizaram $ 100 milhões no trimestre atual. As ven- das de $ 100 milhões do primeiro trimestre do ano fiscal atual são adicionadas às contas a receber, mas subtraem-se $ 100 milhões em recebimentos. Assim, a Brinquedos Divertidos encerrou o primeiro trimestre com $ 100 milhões em contas a receber. A relação básica é: Contas a receber finais 5 C ontas a receber iniciais 1 Vendas − Recebimentos O Quadro 27.4 mostra os recebimentos de caixa da Brinquedos Divertidos para os próximos quatro trimestres. Embora os recebimentos sejam, aqui, a única fonte de caixa, não é sempre que isso ocorre. Algumas outras fontes de caixa possíveis são vendas de ativos, receitas de investimento e financiamentos de longo prazo. QUADRO 27.4 Fontes de caixa (em mi lhões de $) Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trimestre Quarto trimestre Vendas $ 100 $ 200 $ 150 $ 100 Recebimentos de caixa 100 100 200 150 Contas a receber iniciais 100 100 200 150 Contas a receber finais 100 200 150 100 Saídas de caixa A seguir, consideraremos os desembolsos de caixa. Eles podem ser divididos em quatro catego- rias básicas, conforme mostrado no Quadro 27.5. 1. Pagamentos de contas a pagar: os pagamentos por mercadorias ou serviços, matéria-prima, por exemplo. Em geral, são feitos após a compra. As compras dependerão da previsão de vendas. No caso da Brinquedos Divertidos, suponha que: Pagament os Compras 5 Compras do trimestre anterior 5 1/2 previsão de vendas do próximo trimestre 2. Salários, impostos e outras despesas: esta categoria inclui todos os outros custos normais da empresa que exigem saídas efetivas de caixa. A depreciação quase sempre é vista como um custo normal dos negócios, mas não exige fluxo de saída de caixa. 3. Gastos de capit al: estes são os pagamentos de caixa para aquisição de ativos imobilizados. A Brinquedos Divertidos planeja um grande gasto de capital para o quarto trimestre. 4. Financiamentos de longo prazo: esta categoria abrange os pagamentos de juros e principal de dívidas de longo prazo e os pagamentos de dividendos e juros sobre capital próprio aos acionistas. Os fluxos de saída de c aixa projetados totais são mostrados na última linha do Quadro 27.5. 948 Parte VII Finanças de Curto Prazo O saldo de caixa O saldo líquido de caixa é apresentado no Quadro 27.6, e um grande fluxo líquido de saídas de caixa é previsto para o segundo trimestre. Essa alta saída de caixa não é causada pela inca- pacidade de se obter lucro, mas pela demora em receber pelas vendas, o que resulta em uma insuficiência de caixa acumulada de $ 30 milhões no segundo trimestre. A Brinquedos Divertidos estabeleceu um saldo de caixa mínimo de $ 5 milhões para facilitar suas transações, proteger-se contra imprevistos e manter saldos médios nos bancos comerciais, com o que a empresa terá uma insuficiência de caixa no segundo trimestre igual a $ 35 milhões. 27.5 Plano finance iro de curto prazo A Brinquedos Diver tidos tem um problema de financiamento no curto prazo. Ela não consegue atender aos fluxos de saída de caixa previstos no segundo trimestre usando fontes internas. Suas opções de financiamento incluem (1) empréstimos para c apital de giro com garantia de recebíveis, (2) empréstimos para capital de giro com garantia de recebíveis e (3) outras fontes. Empréstimos bancários para capital de giro O modo mais fácil de financiar faltas temporárias de caixa é conseguir empréstimos bancários de curto prazo para capital de giro. Os bancos oferecem linhas de empréstimo para empresas, que chamam genericamente de produtos para atender a necessidades de capital de giro. Há os chamados produtos de prateleira e os produtos estruturados. Os produtos de prateleira são modalidades de empréstimo comuns à rede bancária comercial, como: desconto de duplicatas, desconto de cheques, antecipação de recebíveis de cartão de crédito, capital de giro (o produto capital de giro), adiantamento sobre contratos de câmbio e outros. Os produtos estruturados são constituídos por operações especialmente montadas para determinada necessidade. Em geral, os produtos são partes de linhas de crédito. As linhas de crédito geralmente são da modalidade “não garantida”, ou seja, cada pedido de empréstimo pode ser objeto de análise para concessão. QUADRO 27.5 Desembolsos de caixa (em m ilhões de $) Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trimestre Quarto trimestre Vendas $ 100 $ 200 $ 150 $ 100 Compras 100 75 50 50 Usos de caixa Pagamentos de contas a pagar 50 100 75 50 Salários, impostos e outras despesas 20 40 30 20 Gastos de capital 0 0 0 100 Despesas de financiamentos de longo prazo: juros e dividendos 10 10 10 10 Desembolsos de caixa totais $ 80 $ 150 $ 115 $ 180 QUADRO 27.6 Saldo de caixa (em milhões de $) Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trimestre Quarto trimestre Recebimento de caixa total $ 100 $ 100 $ 200 $ 150 Desembolso de caixa total 80 150 115 180 Fluxo de caixa líquido 20 (50) 85 (30) Saldo de caixa acumulado 20 (30) 55 25 Saldo de caixa mínimo 5 5 5 5 Sobra de caixa ou financiamento necessário 15 (35) 50 20 Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 949 Linhas de crédito garantidas são aquelas em que os bancos assumem o compromisso de conce- der um empréstimo quando a empresa o necessitar; nesse caso, há cobrança pela concessão da garantia de empréstimos. O primeiro passo para uma empresa ter um empréstimo bancário é abrir uma conta cor- rente em um banco comercial e obter um limite de crédito calculado pelo banco com base nas informações cadastrais da empresa. Um limite de crédito é estabelecido pelos bancos como a exposição máxima que o banco está disposto a correr com as operações daquela empresa. Um limite de crédito é, portanto, a soma de todas as linhas que um banco está disposto a conceder a uma determinada empresa e varia conforme as condições de mercado e a situação econômica e financeira da empresa. Conforme o porte, o faturamento e a linha de negócios da empresa, os bancos podem oferecer várias linhas de crédito. O limite de crédito é composto, em geral, por linhas não garantidas. Ao concedê-los para uma empresa, o banco não se obriga a fornecer o crédito quando a empresa necessitar. Uma linha de crédito é um acordo no qual um banco aceita fornecer empréstimos a uma empresa até um montante determinado dentro do seu limite de crédito. As condições estabele- cidas pelos bancos para linhas de crédito de curto prazo variam segundo a classificação de risco da empresa atribuída pelo banco e incluem diferentes tipos de garantias, como hipotecas, aval, fiança e penhor. No Brasil, os bancos oferecem linhas de crédito garantidas, cobrando uma comissão tanto para a concessão da linha quanto para a manutenção da linha enquanto não utilizada. Se a em- presa sacar o valor disponibilizado ou parte dele, ela paga os juros contratados sobre o valor utilizado em vez da comissão de manutenção. Esses juros geralmente são estabelecidos como um percentual da taxa DI, que é a taxa dos depósitos interfinanceiros (Ver Capítulo 26). A razão de uma empresa pagar uma comissão de compromisso para ter uma linha de crédi- to assegurada é ter um seguro para garantir que o banco fornecerá crédito se este se mostrar ne- cessário (exceto no caso de alguma variação na qualidade de crédito do mutuário). Além disso, a empresa precisa ter uma reserva de liquidez diante de uma situação imprevista. Um limite de crédito para uma empresa pode ser composto, por exemplo, pelas seguintes linhas de crédito: a) sublimite para operações de empréstimos de capital de giro sem garantia de recebíveis; b) sublimitepara operações de empréstimos de capital de giro com garantia de re- cebíveis; c) sublimite para operações de câmbio (com sublimites para operações de importação e de exportação); d) sublimite para operações de investimento em ativos fixos, com repasses de recursos do BNDES. Suponha que uma empresa tenha uma receita operacional líquida de $ 50 milhões. Um ban- co talvez estabeleça o limite de crédito dessa empresa em 20% desse valor (os bancos evitam ser os únicos credores de um negócio). O limite de crédito da empresa nesse banco seria de $ 10 milhões e poderia estar assim distribuído: Linhas de crédito $ Milhões Operações de capital de giro, sem garantia de recebíveis: 1,00 Operações de capital de giro, com garantia de recebíveis: 3,50 Operações de câmbio – exportação (ACC e ACE9 ): 2,50 Operações de câmbio – importação: 2,00 Operações de investimento (repasses do BNDES): 1,00 Limite de crédito 10,00 Financiamento de contas a receber O financiamento das contas a receber envolve dois tipos de operações: empréstimos com garantia de recebíveis e operações de desconto de recebíveis. Recebíveis são títulos de crédito emitidos pelo vendedor (como duplicatas e letras de câmbio) ou emitidos por adquirentes de bens e serviços em favor do vendedor (como cheques e notas promissórias). 9 ACC: Adiantamento sobre contrato de câmbio. ACE: Adiantamento sobre cambiais entregues. 950 Parte VII Finanças de Curto Prazo Nas operações com garantia de recebíveis, a carteira de recebíveis ou determinado valor em recebíveis é entregue ao banco como garantia de empréstimos tomados. No desconto de recebíveis, como o de duplicatas, o valor do recebível é antecipado. O desconto pode ser realizado com ou sem direito de regresso por parte do banco financiador. O direito de regresso é o direito do banco de cobrar do financiado a quantia adiantada caso o recebível não seja pago no vencimento. No caso de a operação ser feita sem direito de regresso, o banco corre o risco e não cobrará do tomador o valor antecipado no caso de inadimplência do sacado. São raras as operações sem direito de regresso. Empréstimos para capital de giro com garantia de recebíveis Desconto de duplicatas: é a operação mais comum e mais simples de empréstimo para capi- tal de giro. Em uma operação de desconto, o banco antecipa o valor de face de uma duplicata, descontando os juros desse valor. Se a empresa descontar uma duplicata de $ 10.000,00 com prazo de vencimento de 30 dias a uma taxa de desconto de 1,85% a.m., o banco cobrará juros antecipados de $ 185,00 (1,85% de $ 10.000,00) e creditará $ 9.815,00 para a empresa (antes, deduzirá do valor descontado o imposto sobre operações financeiras e pode cobrar uma tarifa pela operação, o que aumenta o custo efetivo total da operação10). Antecipação de recebíveis de cartão de crédito: nas vendas a prazo para o consumidor com o uso de cartões de crédito, as administradoras de cartões efetuam o crédito para o vendedor em datas fixas mensais ou em um prazo fixo após a venda (30 dias após a venda, por exemplo). Cada venda gera um direito a receber pagamentos da administradora de cartões. A antecipação de recebíveis de cartões de crédito é uma operação de empréstimo dos bancos comerciais ou da própria administradora para quem um percentual dessas vendas é antecipado na forma de desconto ou de crédito rotativo. Antecipação de cheques (pré-datados): trata-se da mesma modalidade de empréstimos de antecipação de recebíveis de cartões de crédito, agora antecipando o valor de cheques pré- -datados por vendas a prazo. O cheque é uma ordem de pagamento à vista, assim, o cheque pré-datado funciona com base na confiança do emitente de que o vendedor não apresentará o cheque antes do prazo acordado. Entretanto, o cheque pré-datado tornou-se uma das formas mais populares de venda a crédito no Brasil, pelas características de praticidade da operação. Conta empresarial (crédito rotativo): esta é uma modalidade de crédito rotativo em que a empresa e o banco formalizam um acordo de crédito. Com isto, a empresa pode sacar emprésti- mos livremente até um determinado percentual do valor de recebíveis depositados em cobrança ou custódia no banco. O valor da linha de crédito é fixado previamente, e a empresa deposita recebíveis em um valor superior ao do limite da linha, por exemplo 125% ou 130% do limite em cheques pré-datados, recebíveis de cartão, duplicatas ou títulos para cobrança eletrônica. À medida que os recebíveis são pagos pelos sacados, a linha se reduz, e, para manter o valor da linha, a empresa deve depositar novos recebíveis. Vendor: modalidade de crédito para financiamento das vendas de uma empresa. A empresa vendedora toma uma linha de crédito em um banco, e este financia diretamente os compradores da empresa. A garantia da operação é do vendedor, mediante uma carta de fiança. Os comprado- res pagam o custo da operação. Os juros para os compradores podem ser iguais, maiores ou me- nores do que os juros da linha tomada pelo vendedor. Se maiores ou menores, o vendedor rece- be ou paga a diferença ao banco, o que é chamado de equalização de taxas. Nessa modalidade, a empresa vendedora tem uma qualidade de crédito melhor que a dos seus compradores, o que lhe permite repassar custos de financiamento menores para seus compradores. Por isso, pode ser instrumento alavancador de vendas, pois o vendedor oferece o produto e o financiamento. Compror: modalidade de crédito para financiamento das compras de uma empresa. A empre- sa compradora toma uma linha de crédito em um banco, e ele financia diretamente os vende- 10 Isso se aplica a todas as operações de crédito. Capítulo 27 Planejamento e Finanças de Curto Prazo 951 dores da empresa. Nessa modalidade, o comprador tem qualidade de crédito melhor do que a dos seus vendedores. Com o repasse de linhas de crédito a baixo custo para seus vendedores, a compradora obtém maiores prazos de pagamento. Empréstimos para capital de giro sem garantia de recebíveis Antes que ocorram vendas, as empresas têm necessidade de capital de giro para atender a ne- cessidades correntes, como a compra de estoques, o pagamento de salários e contribuições trabalhistas, o pagamento de tributos ou para necessidades emergenciais de caixa. Sem vendas, não há recebíveis de vendas. Por isso, os bancos também têm produtos de empréstimos de curto e curtíssimo prazo não vinculados a vendas. Nesse caso, são exigidas garantias reais, como hipoteca e penhor, ou pessoais, como aval e fiança, podendo contar com recebíveis ou estoques em geral como garantia adicional. Capital de giro: é a denominação geral da operação mais comum e mais simples de emprés- timo para capital de giro, sem garantia de recebíveis de vendas. Um empréstimo para capital de giro é feito com base em um contrato de empréstimo (um mútuo11, como é também chamado no meio financeiro). Atualmente, os bancos têm produtos pré-aprovados, em que o empresário saca um empréstimo para capital de giro nos terminais eletrônicos ou pelo gerenciador financei- ro fornecido pelo banco, podendo restituir o empréstimo em prestações mensais fixas. Este tipo de empréstimo pode ser utilizado para compra de estoques, pagamento de salários, impostos e outras despesas correntes, antes da venda dos produtos. Cheque especial empresarial: é uma modalidade semelhante ao cheque especial para pessoa física, adaptado para o cliente pessoa jurídica. É um limite de saque em conta devedora em que os bancos exigem que a movimentação seja avisada com um dia de antecedência. Trata-se de modalidade de empréstimo compromissado para atender a necessidades emergenciais de caixa detectadas antes que ocorram. Hot money: modalidade de empréstimo por curtíssimo prazo para atender a faltas de caixa detectadas no dia. Destina-se a cobrir saldos de caixa por motivos de falhas no planejamento de caixa ou por recebimentos planejados que não se efetivaram. É um financiamento não compro- missado, com prazos
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