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221 Psicologia e Análise do Comportamento: Zilberman, R., & Silva, E.T. (1998). Pedagogia da leitura: movimento e história. In R. Zilberman, & T. Silva (Orgs.), Leitura: perspectivas interdisciplinares (4. ed., pp. 111-115). São Paulo: Ática. 223 Pedagogia construtivista para condicionar o comportamento dos alunos? pontos de aproximação e afastamento entre duas correntes psicológicas Paulo Sérgio Teixeira Prado18 Márcia Josefina Beffa Thais Pondaco Gonsales, (Universidade Estadual Paulista - Marília) O trabalho aqui relatado consistiu em analisar contingências presentes em situações de sala de aula registradas em vídeo e a partir dessa análise buscar pontos de aproximação e de afastamento entre duas correntes da Psicologia, conforme detalhes adiante. Partes dele foram apresentadas no XVIII Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (ABPMC), em 2009 e no I Congresso de Psicologia e Análise do Comportamento (I CPAC), em 2010. Uma versão com enfoque diferente da presente encontra-se submetida à Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, para publicação. Considerações preliminares Historicamente, a Psicologia tem buscado contribuir com a geração de conhecimento científico para o desenvolvimento de estratégias eficazes de ensino. Nessa busca, erigiram-se correntes teóricas conflitantes, gerando disputas e também equívocos de compreensão e de aplicação de suas propostas, que acabam por reduzir suas potencialidades. O behaviorismo é alvo de muitas críticas, grande parte delas mal informadas e improcedentes (ver, por exemplo, Carrara, 1998 e Rodrigues, 2002). Falhas nas críticas ao behaviorismo (pelo menos uma grande parte delas) são bem conhecidas dos analistas do comportamento e não surpreendem 18 Endereço para correspondência: Paulo S. T. do Prado, FFC-UNESP – Marília, Departamento de Psicologia da Educação, Av. Hygino Muzzi Filho, 737, 17525-900. Marília, SP. E_mail: pradopst@ marilia.unesp.br 224 Psicologia e Análise do Comportamento: o profissional mais experiente. As mais rasas simplesmente o rotulam, da maneira mais pejorativa possível, de positivista, reducionista, mecanicista, etc. Contudo, infelizmente, a contraparte não é muito diferente. Isto é, críticas de behavioristas a autores de outras correntes apresentam as mesmas características. Como exemplo, apenas a título de ilustração, Schlinger Jr. (1995, pp. 23-24) rotula de maturacionistas as ideas de Piaget. Lourenço e Machado (1996) (o segundo autor um respeitado analista do comportamento), argumentam que para ele a idade não é um critério do nível de desenvolvimento, sendo o elemento-chave a seqüência das transformações cognitivas. A idade seria, na melhor das hipóteses, apenas um indicador do estágio de desenvolvimento. De um ponto de vista pedagógico, muitos autores simpáticos às ideas de Piaget supervalorizam a dimensão construtivista de sua obra. L. O. Lima, um estudioso dela e seu divulgador no Brasil, diz: “A nosso ver, a posição autenticamente piagetiana na elaboração de uma pedagogia baseada em suas descobertas é interacionista, posição que estimula a ação do educador na criação de situações que constroem os conhecimentos.” (Lima, 1999, p. 123). E complementa: “(...) a pedagogia não é ‘construtivista’ (construtivista é o processo interno de construção), consistindo em criar situações estimulantes (‘dirigir sem tirar a liberdade da criança’; Piaget condena o espontaneísmo)”. (Lima, 1999, p. 127-128. Destaques nossos.) Muito desse debate acaba restringindo-se ao meio acadêmico, sendo pouco acessível ao educador. Por essa razão, não é propósito deste texto estabelecer uma discussão teórica, senão o de apontar possíveis pontos de aproximação e de distanciamento entre o Construtivismo (apesar das considerações de Lima, 1999, acima) e a Análise do Comportamento no que diz respeito a alguns pontos relacionados à educação, fazendo-o a partir de uma situação prática: a execução de atividades planejadas com base na teoria construtivista, por pesquisadores dessa corrente. Por isso, e também dada a dificuldade para se encontrar e observar práticas pedagógicas fiéis a uma teoria científica qualquer que seja, consideramos a referida situação privilegiada, inclusive porque o material que usamos 225 Psicologia e Análise do Comportamento: em nossas observações encontra-se registrado em vídeo e disponível na Internet. Temos consciência de que diante dos graves problemas que afligem nossa educação esta será apenas uma pequena contribuição. Mas nossa expectativa é que, tal como proposto, este trabalho nos auxilie a evidenciar a consubstanciação de princípios analítico-comportamentais na aplicação pedagógica de princípios teóricos construtivistas. Não temos informação sobre a existência de qualquer outro trabalho semelhante. Esperamos que os resultados sejam acessíveis à apreciação do educador e úteis à sua prática profissional. Construtivismo e behaviorismo: teorias interacionistas Ao contrário do que afirmam as críticas mais rasteiras, as teorias formuladas por Piaget e Skinner são ambas interacionistas. A propósito, a Psicologia como um todo pode ser vista como o estudo de interações (Todorov, 1989). Ou seja, estuda-se a interação entre o organismo e o seu meio ambiente, sendo este físico e social, pelo menos (ver outras subdivisões em Todorov, 1989). No que tange à educação, leva-se em consideração, portanto, a interação entre as ações do aluno e os mais diferentes aspectos do meio físico (na escola, principalmente os recursos pedagógicos, mas também sua arquitetura, mobília, etc.) e entre ele e aqueles que compõem seu ambiente social (sobretudo o professor e os colegas, mas também pessoas ligadas à administração, zeladoria, etc.). Cabe, pois, perguntar quão contrastantes são as duas abordagens a esse respeito. Estaria, por exemplo, a modelagem do comportamento (condicionamento) completamente excluída de um processo pedagógico conduzido com base em fundamentos construtivistas? Seria a reflexão ignorada por analistas do comportamento? O vídeo analisado retrata uma atividade (de uma série) de Física planejada de acordo com uma proposta de resolução de problemas. Nos dizeres de Carvalho, Vannucchi, Barros, Gonçalves e De Rey (2007), autores da proposta e pesquisadores com larga experiência sobre o ensino de Física: “O que pretendemos com as atividades de conhecimento físico 226 Psicologia e Análise do Comportamento: é criar condições em situação de ensino, para levar o aluno a pensar sobre o mundo físico que o rodeia. Pensar para nós significa, aqui, conseguir resolver um problema físico com o grupo...”. (p. 07). Inicialmente, o professor anuncia o que vai ser feito, apresenta o equipamento a ser utilizado e o problema a ser resolvido, fornecendo instruções sobre o manuseio do material. Os alunos são divididos em grupos e, após atuarem sobre os materiais buscando a resolução do problema, eles fazem um relato de sua experiência, o qual pode ser por escrito e/ou na forma de desenho. Finalmente, é feita uma plenária, na qual eles expõem verbalmente sua experiência e são encorajados a aplicar a situação ao seu cotidiano. Essa dinâmica é comum a todas as atividades da série. método A observação teve como objeto um vídeo denominado “O problema da cestinha: o pensamento científico dos alunos”, com duração de 14’28”, produzido e veiculado pelo Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física (LAPEF), da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Disponível no site http://paje.fe.usp.br/estrutura/index_lapef.htm). A técnica adotada para a coleta dos dados foi a de observação e registro contínuo, tal como proposta por Danna e Matos (1982), por permitir o registro de várias classes de comportamento ocorrendo simultaneamente (Hall, 1973) e identificar as condições nas quais elas ocorrem: eventos comportamentais e eventos ambientais – físicos e sociais – antecedentes e conseqüentes ao comportamento.Todas as situações observadas ocorreram em salas de aula de 2ª e 3ª séries do Ensino Fundamental, com alunos de ambos os gêneros e idade estimada de 8 a 9 anos e seus respectivos professores. Em se tratando de um vídeo editado, detalhes ulteriores dos contextos ambientais não puderam ser obtidos. Ainda devido às características inerentes à edição do vídeo, não foi possível analisar em detalhes comportamentos de indivíduos. O vídeo foi, portanto, observado e registrado como um todo. Para que se chegasse a uma transcrição a mais fiel possível, três observadoras o assistiram várias vezes, corrigindo eventuais falhas até chegarem a um consenso. A 227 Psicologia e Análise do Comportamento: transcrição foi organizada em um quadro com três colunas especificando, respectivamente, a ocasião na qual os comportamentos ocorreram, os próprios comportamentos e os eventos conseqüentes a eles. As situações observadas foram divididas em três partes: apresentação do material e do problema (enfoque no comportamento do professor); interação aluno-material e aluno-aluno (enfoque no comportamento dos alunos); discussão dos alunos, em grupo, sobre a realização do experimento e sua relação com o cotidiano (enfoque no comportamento dos alunos). A partir desta organização, foram feitos recortes das interações, buscando- se analisá-los conforme os objetivos propostos para o estudo. Resultados e discussão O vídeo observado exibe a execução de uma atividade em sala de aula por três professores (duas mulheres e um homem) junto a suas respectivas turmas de alunos. O material disponibilizado às crianças para o experimento foi um aparato consistindo de uma prancha apoiada verticalmente sobre uma base. Numa das faces da prancha é instalado um trilho, este contendo uma seção inclinada e outra horizontal. Abaixo do trilho e paralelo à sua seção horizontal há uma haste deslizante em cuja extremidade encontra-se uma pequena cesta. O problema que os alunos tinham que resolver consistia em encontrar o ponto na parte inclinada do trilho, a partir do qual, quando solta, a bola caísse dentro da cesta. À medida que os alunos conseguiam resolver o problema inicial, a professora o modificava, aproximando ou distanciando a cesta da extremidade final do trilho, colocando, assim, novo desafio. Apresentação do material e do problema pelo professor A Figura 1 apresenta os registros da interação inicial entre professor e alunos. Nela observa-se, na coluna central, que o enfoque está no comportamento da professora. Esta anuncia o que será feito na aula, apresenta o material a ser utilizado, o problema a ser resolvido e fornece instruções, tendo como antecedente para os respectivos 228 Psicologia e Análise do Comportamento: comportamentos: os alunos sentados e olhando em sua direção. Estes, por sua vez, eventualmente consequenciam o comportamento da professora com respostas curtas a perguntas que lhes são dirigidas por ela. eventos antecedentes Comportamentos eventos consequentes AL sentados, olhando em direção a P. AL: “Tá!” P1 diz: “Hoje nós vamos trabalhar um problema que vocês vão me ajudar a solucionar, tá bom?” P1: “Então vocês vão prestar atenção. Eu vou apresentar para vocês o material que nós vamos usar durante a aula.” AL: “Tá!” AL sentados, olhando em direção a P. P1 diz: “Eu tenho aqui um trilho, certo? E aqui eu tenho uma rampa” (P passa o dedo indicador sobre o trilho e a rampa). P2 diz: “aqui embaixo tem um outro suporte, com uma cestinha” (segura a cesta). P1 diz: “E tem uma bolinha que acompanha o material. Olha a bolinha aqui.” (segura a bola entre os dedos e a mostra aos alunos). “Estão enxergando a bolinha?” P3 diz: “E tem uma bacia pra que vocês coloquem aqui, caso a bolinha caia fora, se vocês errarem, tá bom?” (segura a bacia com uma mão) AL em silêncio olhando em direção a P. AL permanecem sen- tados olhando em direção a P. P1 diz: “A bolinha deve ser colocada no trilho, tá?” (segura a bola e a apóia sobre o trilho). “E vocês vão solucionar pra mim esta questão: vocês vão tentar descobrir como que nós vamos fazer pra soltar a bolinha e ela cair na cestinha. Vocês tão entendendo o que a professora esta falando?” AL: “Estamos!” figura 1. Apresentação do material e do problema (AL= alunos; P = professor) . Um aspecto a ser destacado nesses registros é que a professora fala quando os alunos estão atentos a ela. Esta é uma condição essencial para que o professor consiga ensinar (Skinner, 1989/1991). Note que comportamentos dos alunos: “em silêncio, olhando em direção a P [professora]”, “Tá”, “Estamos”, consequenciam comportamentos da professora. É uma típica situação de interação social em que o 229 Psicologia e Análise do Comportamento: comportamento de um constitui-se em antecedente e/ou conseqüente – ambiente social, portanto – para o comportamento do outro. A atenção dispensada pelos alunos pode ser interpretada como demonstração de interesse pela aula. Pode-se também supor que eles estivessem previamente informados que aquela seria uma aula diferente e, por esta razão, tivessem se mostrado tão interessados e dispostos a cooperar. O vídeo analisado registra uma aula em que os alunos mostraram- se motivados e participativos. Considerando que, com raras exceções, grande parte do fazer pedagógico na maioria das escolas concentra-se em exposições orais pelo professor e atividades de tipo papel-e-lápis pelos alunos, denota-se, por um lado, uma repetitividade monótona de atividades que leva à perda de interesse (saciação) pela escola e o que nela se faz. Esta mesma monotonia, por outro lado, constitui-se também em privação de atividades pedagógicas variadas e desafiadoras, a qual potencializa alguns reforçadores. Ou seja, de um modo geral a introdução de qualquer novidade seria potencialmente atraente. Essa poderia ser uma explicação para o interesse e a motivação demonstrados pelos alunos. Outro aspecto a ser destacado é que as instruções contidas na fala da professora especificam as condições para a resolução do problema, as quais podem ser identificadas no momento em que ela apresenta o material a ser utilizado no experimento e anuncia o comportamento esperado dos alunos frente ao problema proposto. A especificação das condições, a propósito, refere-se a todos os termos da contingência tríplice: antecedente, comportamento e conseqüência. No que diz respeito à especificação da conseqüência, particularmente, ao fazê-lo a professora antecipa o reforço, criando uma “operação estabelecedora” - termo cunhado para designar uma interpretação comportamental da motivação (ver, por exemplo, Cunha e Isidro-Marinho, 2005). Como afirma Catania (1999): “Algumas instruções funcionam como operações estabelecedoras, aumentando a efetividade de alguns reforçadores (...)”. (p. 276). No caso descrito, trata-se de um potente reforçador natural e automático sempre disponível para o professor: o sucesso (Skinner, 1991, p. 125). 230 Psicologia e Análise do Comportamento: Interação aluno-material e aluno-aluno A Figura 2 apresenta registros de momentos em que os alunos trabalham em grupos para resolver o problema proposto. O foco da análise é sobre o comportamento deles. O alvo principal de suas ações é o material que lhes fora disponibilizado, principalmente a bola, que devia ser solta do trilho de modo a cair dentro da cesta. Em um dos grupos, na primeira tentativa a bola cai fora da cesta e um de seus integrantes lamenta o resultado, exclamando: “Vixi!”. Outro aluno sugere, então, que a bola seja liberada a partir de um ponto diferente. A bola chega a cair dentro da cesta, mas ricocheteia para fora. O aluno designado como A10 faz nova tentativa e a bola cai dentro da cesta, ao que todos comemoram. Episódio semelhante se repete nos outros grupos, como ilustram as duas últimas linhas da Figura 2, onde, a propósito, se encontra o registro da contagem que os alunos fazem do número de vezes que a bola atingeo alvo, indicando aumento na freqüência da ação que produzia esse efeito, donde se pode concluir pela sua função reforçadora. foCo no ComPoRtamento do PRofessoR Eventos antecedentes Comportamentos Eventos consequentes mensagem de texto: “o problema da cestinha: o pensamento científico dos alunos” AL sentados, olhando em direção à P1. AL respondem: “Bom dia!” AL dizem: “Tá!” P1 espera crianças dentro da sala de aula P1: “Bom dia classe!” P1 diz “Hoje, nós vamos trabalhar um problema que vocês vão me ajudar a solucionar, tá bom?” P1: “Então vocês vão prestar atenção. Eu vou apresentar para vocês o material que nós vamos utilizar durante a aula.” AL entram na sala de aula e sentam ao redor das mesas dispostas pela sala AL respondem: “Bom dia!” AL dizem: “Tá!” 231 Psicologia e Análise do Comportamento: mensagem de texto: “apresentando o material” AL sentados, olhando em direção a P1. P1 coloca a mão no material colocado sobre a mesa dos alunos. P1 diz: “Eu tenho aqui um trilho, tá certo? E aqui eu tenho uma rampa. Tá bom?” AL em silêncio olhando em direção a P. P2 segura o material/ P2 diz: Embaixo tem um outro suporte e com uma cestinha. P1 diz: “E tem uma bolinha que acompanha o material. Olha a bolinha aqui, tão enxergando a bolinha?” P1 segura a bola nas mãos e a mostra para os alunos. P3 pega a bacia e diz: “E tem uma bacia pra que vocês coloquem aqui caso a bolinha caia fora se vocês errarem, ta bom?” mensagem de texto: “apresentando o problema” AL permanecem sentados olhando em direção à P. P1 diz: “A bolinha deve ser colocada no trilho, ta?”/ P1 está com a bola na mão e a aproxima do trilho. P1 diz: “Vocês vão solucionar pra mim esta questão. Vocês vão tentar descobrir como que nós vamos fazer pra soltar a bolinha e ela cair na cestinha. Vocês tão entendendo o que a professora ta falando? Hã? Tão entendendo?” AL respondem: “Estamos!” foCo no ComPoRtamento do aLUno mensagem de texto: “agindo sobre os materiais” Bola bate na cesta do lado de fora A1 solta a bola da parte mais alta do trilho A1 fala: “Uh!” Bola rola pelo trilho e bate na cesta do lado de fora narração: “este é o momento de construir, testar hipóteses e observar evidências.” Bola fora da cesta, dentro da bacia A2 solta a bola da parte mais alta do trilho/ Outros alunos do mesmo grupo estão em volta da mesa e olham A2 soltar a bola. A3 pega a bola na bacia Bola rola pelo trilho e cai fora da cesta. A4 solta a bola da parte mais alta do trilho. Bola cai fora da cesta Aparecem vários grupos de alunos emitindo o mesmo comportamento: colocar a bola na parte mais alta do trilho Bola cai fora da cesta narração: “a primeira hipótese para acertar a cesta é soltar a bolinha do ponto mais alto do trilho”. continuação Figura 2... 232 Psicologia e Análise do Comportamento: Bola fora da cesta A5 coloca a bola na parte mais alta do trilho, olha para o trilho, pisca um olho e solta a bola. A6 fala: “Vixi!” Bola cai fora da cesta A7 fala: “Coloca aqui para ver se vai”, apontando para uma região mais abaixo no trilho. Bola para fora da cesta Bola dentro da cesta A8 coloca a bola numa região mais abaixo no trilho e solta a bola A9 fala: “Quase!” A10 solta a bola de numa região mais abaixo no trilho AL gritam: “ÊÊ!” Bola bate dentro da cesta, mas ricocheteia para fora Bola cai dentro da cesta Bola fora da cesta, dentro da bacia Bola cai dentro da cesta A11 solta a bola de uma região mais baixa no trilho AL falam: “Quase!” A12 solta a bola de uma região mais baixa no trilho AL gritam: “ÊÊ!”, pulam e erguem os braços. Bola cai fora da cesta, dentro da bacia Bola cai dentro da cesta narração: “ao testarem suas hipóteses os alunos observam as evidências para chegar ao objetivo da atividade: compreender a relação entre a altura do lançamento da bolinha e seu alcance”. A13 solta a bola no trilho A14 grita e coloca as mãos nos olhos, apertando-os Bola fora da cesta Bola dentro da cesta Dois alunos estão próximos à cesta A15 pega a bola e a coloca no trilho AL gritam: “ÊÊ!”, erguem os braços e sorriem. Bola desce pelo trilho e cai fora da cesta Bola cai dentro da cesta Bola fora da cesta Bola cai na cesta A16 solta a bola do trilho, numa região mais baixa AL falam: “Ah!” A17 fala: “Tem que jogar aqui, senão... Aqui ela vai mais longe”. A18 solta a bola no trilho AL gritam: “ÊÊ!”, erguem os braços e sorriem. Bola cai para fora da cesta Bola cai na cesta continuação Figura 2... 233 Psicologia e Análise do Comportamento: Bola na cesta A19 aponta para uma região do trilho A20 aponta para a mesma região que A19 A21 pega a bola na cesta e a entrega para A20 A20 solta a bola no trilho AL gritam: “ÊÊ!”, erguem os braços e sorriem. A21 fala: “Vinte e oito”, pula e sorri. Bola cai na cesta Bola rola pelo trilho e cai na cesta AL gritam: “Trinta” e pulam AL gritam: “ÊÊ!”, erguem os braços e sorriem.A22 fala: “Quatro vezes”, mostra 4 dedos da mão e sorri. P3 pergunta a um grupo de alunos: “Vocês conseguiram acertar né?” P3 coloca a mão no suporte que prende a cesta, Leva o suporte para frente e diz: “Então agora eu vou mudar a posição. Eu quero saber o que vocês têm que fazer pra poder acertar a cestinha.” AL respondem: “Sim” narração: “depois que todos os grupos resolveram o problema, o professor muda a posição da cestinha.” Bola fora da cesta A23 solta a bola na trilho AL falam: “Ah!” A24 aponta uma posição no trilho Bola cai fora da cesta Bola dentro da cesta AL estão com a mão no trilho AL apontam uma posição no trilho A25 olha o trilho e solta a bola AL gritam: “ÊÊ!”, erguem os braços com as mãos fechadas e sorriem. Bola cai dentro da cesta P1 fala: “Sem colocar a mão na cestinha, tá bom? Vamos tentar acertar a bolinha” Bola dentro da cesta A26 aponta para região do trilho A27 empurra o suporte que segura a cesta para dentro A28 solta a bola de uma região do trilho A29 fala: “Uh! Minha vez, minha vez”. A30 solta a bola do ponto mais alto do trilho AL gritam: “ÊÊ!”, erguem os braços com as mãos fechadas e sorriem. P1 fala: “Sem colocar a mão na cestinha, tá bom? Vamos tentar acertar a bolinha”. Bola cai dentro da cesta. continuação Figura 2... 234 Psicologia e Análise do Comportamento: P3 fala: “Agora se eu pegar essa cestinha e por mais pra cá” P3 segura no suporte que prende a cesta e o empurra para dentro Bola fora da cesta Bola dentro da cesta AL apontam para uma região do trilho A29 coloca a bola na região indicada A30 pega a bola A30 diz: “É mais aqui” e aponta para uma região mais alta do que a lançada anteriormente A31 solta a bola A32 grita: “ÊÊ!” e pula. Bola cai fora da cesta Bola cai dentro da cesta narração: “a cada variação na posição da cesta, os alunos retomam os passos para resolução do novo problema, testam hipóteses e observam evidências. Cada grupo chega à solução ao seu tempo e à sua maneira” Bola fora da cesta A33 solta a bola do trilho, P3 está ao seu lado. A aponta outra região no trilho Bola cai fora da cesta Bola fora da cesta A34 solta a bola de uma região do trilho A35 grita e sorri. Bola cai fora da cesta A36 solta a bola no trilho A37 grita e joga a cabeça para trás A38 encosta a bochecha no trilho, olhando para o mesmo e com a bola na mão. A39 aponta uma região no trilho Bola fora da cesta Bola dentro da cesta A40 solta a bola no trilho A40 fala: “Uh, quase!” A40 pega a bola A40 solta a bola no trilho A41 fala: “Vai daí que você vai longe. Vai daqui ô”. AL gritam: “ÊÊ!” Bola cai fora da cesta Bola cai dentro da cesta figura 2. Interação aluno-material e aluno-aluno As ações dos alunos registradas na Figura 2 podem ser interpretadas de várias maneiras. Uma delas é proposta na narração do vídeo: “A primeira hipótese para acertar a cesta é soltar a bolinha do ponto mais alto do trilho”. Mas até esse momento, nenhum comportamento dos alunos oferece indício deque eles tenham levantado alguma hipótese. O que se observa, de fato, é que eles soltam “a bolinha do ponto mais alto do continuação Figura 2... 235 Psicologia e Análise do Comportamento: trilho”. E, ao fazerem isso, a bola cai fora da cesta e eles passam a soltá- la de pontos diferentes. Portanto, soltar a bola daquele ponto inicial é uma resposta cuja freqüência diminui, pois não produz a consequência anunciada nas instruções iniciais da professora, qual seja, a de cair dentro da cesta. Nos termos da Análise do Comportamento, o termo técnico usado para descrever esse processo é: extinção operante (sobre este assunto, ver Skinner 1953/1981). Um sólido corpo de evidências demonstra que a ausência de reforço não somente reduz a frequência da resposta, mas também produz vários “efeitos colaterais”. Um deles constitui-se na apresentação de respostas emocionais, como na exclamação de um dos alunos: “Vixi”. Outro, de maior relevância no presente caso, é o aumento da variabilidade comportamental: neste caso, os alunos procuram ativamente outros pontos a partir dos quais soltar a bola. O aparato, portanto, encerra contingências naturais de reforço diferencial e extinção que modelam o comportamento dos alunos. Esta interpretação analítico- comportamental adota uma perspectiva selecionista (Skinner, 1981). Isto é, no nível ontogenético, o comportamento dos indivíduos é selecionado pelas suas consequências. Estas retroagem sobre o organismo no sentido de alterar a probabilidade de ocorrências futuras dos comportamentos que as produziram. Considerando que o vídeo apresenta uma atividade baseada em resolução de problema, confrontemo-la com a definição skinneriana. Para Skinner, “(...) os problemas se colocam quando as contingências são complexas” e “(...) pode não haver resposta disponível que satisfaça a um dado conjunto de contingências”. (Skinner, 1969/1980, p. 271). A nosso ver, o problema proposto encaixa-se bem nesta definição. Entre as várias possibilidades, apenas uma podia satisfazer a exigência de fazer a bola atingir o alvo. E os alunos não dispunham da resposta em seu repertório. Para ser solucionado, o problema exige do indivíduo “mudar a si mesmo ou a situação até que ocorra uma resposta. O comportamento responsável pela mudança é adequadamente denominado resolução de problema e a resposta que ele promove, solução.” (Skinner, 1980, p. 273). Os alunos resolveram o problema manipulando a variável altura de lançamento da bola (cf. Skinner, 1953/1981, p. 239). 236 Psicologia e Análise do Comportamento: Voltando a Carvalho et al. (2007), vemos que sua estratégia pedagógica de propor situações problema é uma maneira de encorajar os alunos a construir conhecimento: Em nossas pesquisas em ensino de Ciências para os primeiros ciclos do ensino fundamental, temos detectado a importância de propor aos alunos situações problemáticas interessantes. Ao tentar resolvê-las, os alunos se envolvem intelectualmente com a situação Física apresentada, constroem suas próprias hipóteses, tomam consciência da possibilidade de testá-las, procuram as relações causais e, elaborando os primeiros conceitos científicos, (re)constroem o conhecimento socialmente adquirido, um dos principais objetivos da educação escolar. (pp. 15-16). Isso nos conduz a tentar responder, com base no referencial da Análise do Comportamento, se esse objetivo foi alcançado. Antes, porém, vejamos o tratamento dispensado por Skinner à questão do conhecimento. Para ele, este pode ser adquirido por descrição e por compreensão. O primeiro caso relaciona-se diretamente com o conceito de regras (Skinner, 1980), estas definidas como descrições de contingências (relações de dependência entre eventos ambientais e comportamentais). O conhecimento por compreensão é aquele adquirido por exposição direta a contingências. No ambiente escolar o mais comum é que os estudantes adquiram conhecimento inicialmente por descrição e, posteriormente, só depois de um tempo, que pode ser bastante longo, por exposição a contingências (compreensão) (ver Skinner, 1991, p. 120). O equipamento disponibilizado aos alunos foi projetado por profissionais com conhecimento em Física. Ele simplifica relações entre variáveis tipicamente estudadas por essa ciência, as quais, para serem descobertas, demandaram longo tempo de exposição a contingências por parte dos cientistas para posterior descrição delas na forma de leis científicas. Na sua simplicidade, o equipamento permitiu que os alunos percorressem caminho semelhante em tempo muito menor. Esse “caminho” vai desde a exposição às contingências que o equipamento encerra até a descrição delas. Isto é, os alunos resolveram o problema 237 Psicologia e Análise do Comportamento: e descreveram as contingências a que foram expostos, identificando as variáveis relevantes. Portanto, adquiriram conhecimento. Além dos pontos considerados acima, é de se destacar o observado efeito motivacional que o experimento exerceu sobre os alunos, com base no qual podemos questionar uma colocação de Skinner. Pondera ele que apenas uma pequena parte do mundo pode ser levada para dentro da escola (Skinner, 1991, p. 121). Trata-se de um questionamento da visão escolanovista, segundo a qual a escola deveria reproduzir o mundo de modo simplificado. No presente caso, a situação problema, o aparato utilizado, a condução das atividades, as contingências programadas, enfim, constituíram uma concretização desse princípio, cuja análise aqui apresentada aponta para um resultado bastante desejável. Portanto, por que não levar o mundo para dentro da escola, se isso puder fazer com que os alunos mantenham-se motivados a continuar freqüentando-a e aprendendo? Registros da plenária Na Figura 3 são apresentados registros das observações realizadas durante a plenária. O foco, novamente, é o comportamento dos alunos. A professora vai apresentando perguntas e os alunos as respondem. A coluna correspondente ao registro dos “eventos consequentes” encontra- se praticamente em branco, pois o vídeo não mostra o que a professora faz frente às respostas dos alunos. foCo no ComPoRtamento do aLUno Eventos antecedentes Comportamentos Eventos consequentes Mensagem de texto: “Como?” P1 “Nós vamos agora formar um círculo...” senta-se no chão entre os alunos enquanto diz: “E cada um vai contar sua experiência do problema da cestinha... como que vocês conseguiram resolver o problema ”? AL estão sentados no chão, formando um círculo 238 Psicologia e Análise do Comportamento: P3 sentada numa cadeira, entre os alunos e diz: “O que vocês tinham que fazer pra que a bolinha caísse dentro da cestinha” ? A42: “Nós pusemos lá em cima ultrapassou. Aí a gente ia mais pra baixo, até no lugar exato, até cair na cestinha”. A43: “Eu ia encestando, eu colocava lá em cima, se num desse, eu ia abaixando até chegar o nível bom que... ela precisava pra cair na cesta”. A44: “Se coloca ela bem baixo, ela caia.” A45: “Também num pode por muito embaixo senão ela vai devagarinho e num dá”. A46: “Eu coloco um dedo na frente e daí eu vejo se vai cair mesmo (eleva as mãos e aponta com o indicador esquerdo a mão direita) se não caí, eu coloco dois dedos e faço assim” (eleva as mãos e aproxima os dois dedos indicadores em paralelo um do outro) A47: “E medi três dedos, daí caiu na cestinha”. A48: “A gente via todo mundo colocando mais pra baixo... né? Aí que a gente foi entender a experiência. Aí a gente colocou mais pra baixo”. narração: “ao descreverem como fizeram as crianças retomam hipóteses e evidências observadas durante a experiência” AL estão escrevendo e desenhando. A46: “Se colocar bem na ponta, lá em cima, a bolinha nunca vai cair na cestinha”. A47: “Não pode jogar a bolinha com muita velocidade senão ela cai errado”. A48: “Tem que colocar equilíbrio na bolinha”. A48: “Tem que colocar pouquinho embaixo só pra ela não cair fora e cair no chão”. A49: “Se colocavamuito lá em cima ela pegava muito embalo e caia na bacia”. A50: “Na rampa, assim, soltar mais perto da redinha pra ela diminuir a velocidade e não cair fora”. continuação Figura 3... 239 Psicologia e Análise do Comportamento: P1: “O que vocês fizeram quando vocês puxaram a cestinha. O que foi que aconteceu? Quem consegue me explicar”? P1 olha em direção a este aluno: Jonatan? Aluno sentado à direita de P1 levanta o braço direito Jonatan: “Quando nós puxamos a cestinha, aí nós tentamos debaixo, aí ela caiu atrás da cestinha. Nós acertamos no alto, aí ela caiu dentro”. A51: “A gente teve que colocar lá em cima pra ver se pegava mais velocidade para chegar até a cesta, né”? A52: “Eu fiquei vendo que a bolinha ia pra fora, aí eu peguei puxei a cestinha mais prá lá (movimenta a mão esquerda lateralmente), aí a bolinha pegou e caiu dentro da cestinha”. P1 olha em direção a este aluno: Jonatan? P3: “Se eu pegasse e diminuísse cestinha de lugar, colocasse ela mais próxima, o que você teria que fazer com a bolinha”? P3: “Diminuir como”? A53: “Diminuir um pouco mais a velocidade”. A53: “Colocando ela um pouco mais embaixo e tentando até cair na cesta”. A54: “Tinha que colocar mais para baixo, aí ia mais devagarinho, aí acertava”. A55: “Se tiver aqui assim, a cesta e a bola tiver lá (com os braços abertos), você tem que colocar a cesta mais para lá, para acertar dentro da cesta. Se a cesta estiver mais pra lá e a bola tiver lá, você tem que colocar mais pra baixo pra ela cair dentro.” A56: “É que ela, encima, ia ter que ter um pouco de velocidade pra chegar até onde tava a cesta e quando tivesse mais perto tinha que por embaixo pra diminuir a velocidade”. foCo no ComPoRtamento do aLUno mensagem de texto: “Por que?” P1: Por que vocês tinham que soltar a bolinha daquela posição para ela pode cair na cestinha? Alguém sabe me explicar? A57: “Porque é assim: se você põe lá em cima ela vai pegar muita velocidade”. continuação Figura 3... 240 Psicologia e Análise do Comportamento: narração: “Quando o aluno fala: ‘se você põe lá em cima’, ele apresenta sua hipótese.” A57: “... aí ela vai pular a cestinha”. narração: “ao dizer ‘ela vai pular a cesta’, aponta a evidência.” A57: ”Se você põe muito baixo, ela vai perder velocidade e num cai na cestinha. Aí se você põe ela no meio, debaixo, de cima, ela caí”. Vídeo mostra novamente os alunos agindo sobre os materiais. Narração do vídeo: “Relacionando hipóteses e evidências os alunos constroem suas conclusões. Assim, dão os primeiros passos na construção de um pensamento científico.” P1: “Por que ela não pega tanta velocidade quando você coloca embaixo”? A58: “Quanto mais a gente colocava em cima mais velocidade ela pegava. Embaixo, ela não, ela tinha pouca velocidade”. A59: “Quando mais a gente colocava pra baixo a velocidade ia mais devagar e acertava na cestinha”. A60: “Por causa que tem gravidade, né? então, quanto mais em cima mais rápido caí, então quanto mais longe a gente tinha que colocar mais alto pra ela caí na velocidade certa pra ir até a cestinha”. A60: “Pela descida né? (aponta com o indicador da mão direita o braço esquerdo elevado em posição inclinada) quanto mais ela desce, mais rotação... assim ela pega (faz movimento com a mão pra baixo)... então, ela vai mais rápido, em cima. Embaixo ela pega menos ...assim (faz movimento com a mão) vai mais devagar”. A58: “Porque em cima é uma rampa e a rampa deixa mais velocidade pra bolinha descer”. continuação Figura 3...