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Interrelação entre o SNC e os fenômenos reprodutivos

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Interrelação entre o SNC e os fenômenos reprodutivos 
 
Nos mamíferos, a regulação e o controle da maior parte das funções do 
organismo acontecem por meio de hormônios, que são substâncias produzidas 
pelas glândulas endócrinas. Eles se comunicam com as células do corpo ao se 
ligarem a receptores celulares localizados na membrana ou no núcleo das 
células, provocando alterações na função celular ou na sua expressão gênica. 
Uma característica importante das glândulas endócrinas é que elas não 
possuem ductos, ou seja, os hormônios produzidos por elas são liberados no 
tecido intersticial e chegam aos vasos sanguíneos por difusão. Isso permite que, 
por exemplo, um hormônio produzido por uma glândula localizada no cérebro 
possa ter ação nas gônadas de machos e fêmeas. É assim que acontece o 
controle e a regulação dos processos reprodutivos: hormônios produzidos 
pelas glândulas localizadas no sistema nervoso central, como o hipotálamo, a 
hipófise e a glândula pineal, regulam e estimulam diversos eventos nas gônadas 
femininas e masculinas, como a ovulação e a produção de espermatozoides, 
além controlarem o comportamento sexual das fêmeas. 
HIPOTÁLAMO E HIPÓFISE 
 
O hipotálamo é uma região do sistema nervoso central localizado na parede e 
assoalho do terceiro ventrículo. É composto por diversos grupos de neurônios com a 
mesma função, conhecidos como núcleos, que recebem informações de todas as 
regiões do cérebro e produzem substâncias neuroendócrinas que vão influenciar a 
liberação e síntese de hormônios pela hipófise. 
Segundo Goff (2017), “trata-se do local onde o sistema nervoso entra 
em contato com o sistema endócrino”, já que esses núcleos 
hipotalâmicos estão associados ao sistema nervoso visceral e à 
regulação hormonal (DYCE, 2010). É no hipotálamo onde é produzido 
o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), o qual tem um papel 
importante na reprodução. 
A hipófise, ou glândula pituitária, é conhecida como glândula mestra, 
pois é a principal responsável pela regulação do sistema endócrino. 
Ela está localizada logo abaixo do hipotálamo, suspensa por uma 
haste frágil, de acordo com König e Liebich (2016), “sob o diencéfalo 
na fossa hipofisial do osso basisfenoide, entre o quiasma óptico e o 
corpo papilar”. Podemos dividir a hipófise em duas porções 
principais: a neuro-hipófise (lobo posterior) e a adeno-hipófise (lobo 
anterior). 
A neuro-hipófise, também denominada pars nervosa ou lobo posterior, é uma 
proeminência neural do hipotálamo, ou seja, ela é composta por axônios cujos 
corpos celulares estão localizados no hipotálamo, mais precisamente nos 
núcleos supraóptico e paraventricular do hipotálamo. Esses neurônios que 
compõem a neuro-hipófise são considerados neurossecretores e têm diferenças 
significativas de outros neurônios, já que não inervam outros neurônios e os 
produtos secretados por eles são liberados na corrente sanguínea, tendo ação 
em locais distantes da hipófise (DYCE, 2010; KLEIN, 2014; GOFF, 2017). 
Esses neurônios neurossecretores são denominados magnocelulares por 
possuírem grandes corpos celulares. Para que ocorra a liberação dos hormônios 
produzidos por esses neurônios, há uma despolarização provocada pelo 
estímulo dos neurônios aferentes, gerando um potencial de ação que chega ao 
terminal do axônio e se encerra com a liberação de grânulos secretores por 
exocitose. Um importante hormônio para a reprodução liberado pela neuro-
hipófise é a ocitocina. 
A adeno-hipófise é composta pela pars intermedia (ou lobo intermediário da hipófise) e 
a pars distalis (ou lobo anterior da hipófise) e está localizada distalmente à neuro-
hipófise. É no lobo anterior da hipófise que se encontram diversas células endócrinas 
responsáveis pela síntese e secreção de vários hormônios no sangue, como o FSH 
(hormônio folículo estimulante) e o LH (hormônio luteinizante), produzidos pelos 
gonadotrofos e com papel importante na reprodução (KLEIN, 2014; KÖNIG; LIEBICH, 
2016; GOFF, 2017). 
O hipotálamo não tem apenas uma relação direta com a neuro-
hipófise, mas mantém uma relação estreita com a adeno-hipófise, 
controlando a produção de hormônios. Isso é possível, pois no 
hipotálamo temos a produção de hormônios reguladores que 
chegam na hipófise por meio de vasos sanguíneos. A comunicação do 
hipotálamo com a adeno-hipófise se dá, portanto, pelo sistema porta 
hipotálamo-hipofisário (KLEIN, 2014; GOFF, 2017). 
De acordo com Goff (2017), definimos o sistema porta como “um sistema de 
veias que drenam um leito capilar e transportam o sangue para um segundo 
leito capilar”. No caso do sistema porta hipotálamo-hipofisário, os neuro-
hormônios produzidos pelos núcleos hipotalâmicos são liberados no primeiro 
leito capilar que se encontra na porção ventral do hipotálamo. Esses neuro-
hormônios entram nas vênulas porta e são transportados para um endotélio 
altamente fenestrado da adeno-hipófise (o segundo leito capilar), onde se 
difundem para o líquido extracelular dessa glândula, regulando a produção de 
hormônios hipofisários (KLEIN, 2014; GOFF, 2017). 
Dentre os hormônios de interesse para a reprodução que são transportados do 
hipotálamo para a hipófise por esse sistema porta, temos o GnRH (hormônio 
liberador de gonadotrofina), que é produzido na área pré-óptica do hipotálamo; 
o PRF (fator regulador da prolactina); e o PIH (hormônio inibidor da prolactina). 
O GnRH é o hormônio responsável por estimular a adeno-hipófise a produzir o 
FSH (hormônio folículo estimulante) e o LH (hormônio luteinizante), os 
quafghthis têm um papel fundamental no ciclo reprodutivo de machos e fêmeas 
(HAFEZ; HAFEZ, 2013; KLEIN, 2014; GOFF, 2017). 
MECANISMOS DE CONTROLE HORMONAL: FEEDBACK POSITIVO E NEGATIVO 
A maior parte dos hormônios envolvidos na reprodução animal são hormônios 
esteroides. Esses hormônios têm como principal característica não possuírem 
um local de armazenamento, ou seja, a sua produção é estimulada ou inibida de 
acordo com a necessidade. Para que isso aconteça, é imprescindível, portanto, 
que haja um controle sobre essa produção por meio dos mecanismos de 
feedback positivo e negativo (KLEIN, 2014; GOFF, 2017). O mecanismo de 
feedback (ou retroalimentação) permite a manutenção da homeostasia do 
organismo, pois consegue reconhecer mudanças fisiológicas dos tecidos-alvos e, 
assim, estimula ou inibe a produção de hormônios, fazendo com que o 
organismo volte a um ponto fisiológico inicial (KLEIN, 2014; GOFF, 2017). Há dois 
tipos de controle de liberação dos hormônios: um é o feedback positivo, em que 
a produção do hormônio estimula a liberação de outro hormônio; e o outro é o 
feedback negativo, quando a produção de um hormônio inibe a produção de 
outro. 
Para facilitar a compreensão, vamos entender como funcionam os mecanismos 
de feedback positivo e negativo envolvendo o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal 
das fêmeas mamíferas. Como vimos, o hipotálamo vai produzir o GnRH, 
hormônio que estimula a produção de FSH e LH pela hipófise. O FSH é um 
hormônio que atua no ovário estimulando a produção de estrógeno e, desta 
forma, o nível de estrógeno circulante pode ter um efeito estimulador ou 
inibidor do FSH: 
Níveis intermediários de estrógeno 
– 
Feedback positivo sobre o FSH. O estrógeno circulante estimula a hipófise a 
liberar e produzir cada vez mais FSH, que, por sua vez, vai aumentar a produção 
de estrógeno pelo ovário (NOAKES; PARKINSON; ENGLAND, 2001; HAFEZ; HAFEZ, 
2013; GOFF, 2017; SILVERTHORN, 2017); 
Altos níveis de estrógeno 
– 
Feedback negativo sobre o FSH e feedback positivo sobre o LH. Quando o nível 
de estrógeno aumenta muito, inibe a produção e liberação de FSH pela hipófise, 
caracterizando o feedback negativo. Por outro lado, isso estimula a hipófise a 
liberar grandes níveis de LH, indicando, portanto, um feedback positivo 
(NOAKES; PARKINSON; ENGLAND, 2001; HAFEZ; HAFEZ, 2013; GOFF, 2017). 
Os fenômenosreprodutivos são bastante complexos e envolvem diversas 
glândulas e hormônios. Para compreendê-los, é de fundamental importância 
estabelecer as relações entre os hormônios e seus mecanismos de 
retroalimentação, assim como conhecer os hormônios envolvidos e suas 
funções no processo reprodutivo. 
 
Nos mamíferos, a regulação e o controle da 
maior parte das funções do organismo 
acontecem por meio de hormônios, que são 
substâncias produzidas pelas glândulas 
endócrinas. Eles se comunicam com as células 
do corpo ao se ligarem a receptores celulares 
localizados na membrana ou no núcleo das 
células, provocando alterações na função 
celular ou na sua expressão gênica. 
 
 
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