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JUVENTUDE-CRIMINALIDADE-E-SEGURANÇA

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JUVENTUDE, CRIMINALIDADE E SEGURANÇA PÚBLICA 
 
 
 
 
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Sumário 
 
 
NOSSA HISTÓRIA ........................................................................................... 2 
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 3 
2. Juventudes: breves considerações .......................................................... 4 
3. CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS NO OLHAR 
CONSTITUCIONAL .................................................................................................... 8 
4. JUVENTUDE, LEGISLAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA ...................... 12 
5. ESTRATÉGIAS DE COMBATE À CRIMINALIDADE COM FOCO AO 
DESENVOLVIMENTO .............................................................................................. 14 
6. SEGURANÇA PÚBLICA ......................................................................... 20 
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 32 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 33 
 
 
 
 
 
 
 
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NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, 
em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. INTRODUÇÃO 
 
Cada vez mais os jovens estão assumindo o cenário da violência urbana, sendo 
protagonistas de graves delitos. Neste contexto, desenvolvem-se ações de políticas 
de segurança pública voltadas para a contenção dos comportamentos juvenis 
criminosos, em caráter repressivo e punitivo. Acontece que o grande desafio se 
concentra em adotar intervenções multifacetadas para o problema. 
Nessa etapa de vida, infelizmente, constata-se o envolvimento de muitos jovens 
em diversos conflitos presentes na nossa sociedade, entre eles: o uso excessivo de 
drogas, com índice elevado de dependência química; a evasão escolar; o aumento de 
vítimas de violência; constantes. Também nossos jovens sofrem com o desemprego, 
com a falta de recursos econômicos e sociais, situação que facilmente os impulsiona 
a entrar no mundo da criminalidade, onde, habitualmente, são vítimas de 
assassinatos. 
O fato é que o cenário atual do envolvimento de jovens em graves delitos e a 
inserção precoce no crime frustram a expectativa de vida e comprometem o direito ao 
desenvolvimento, parte integrante dos direitos humanos. 
A problemática envolvendo a criminalidade e a juventude tem atingido e 
preocupado autoridades, bem como toda a sociedade brasileira. “De fato, um rápido 
exame das sondagens de opinião pública indica que o crime constitui, na atualidade, 
uma das principais preocupações na agenda dos mais urgentes problemas sociais 
com que se defronta o cidadão brasileiro.” (ADORNO, 1999, p.62). 
O Brasil tem registrado altos índices de violência, porém tais indicadores não 
afetam toda a população da mesma maneira. Adolescentes e jovens com idade entre 
12 e 29 anos representam 35% da população brasileira e representam as principais 
vítimas e autores de crimes violentos. Embora a morte não expresse todas as formas 
de violência cotidiana, pode-se considerá-la como o mais alto grau de violência 
interpessoal. 
(...) as taxas de mortalidade juvenil, e especificamente as atribuíveis a causas 
violentas, indicam os diversos modos de sociabilidade e as circunstâncias 
políticas e econômicas que. Exprimem mecanismos específicos de negação 
da cidadania.” (WAISELFISZ, 2010, p.7). 
 
 
 
 
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Portanto, da condição juvenil, modo como uma sociedade forma e atribui 
significado a esse momento do ciclo de vida, define-se uma situação juvenil, o modo 
como esse momento é vivido em um determinado contexto social. A discussão dos 
dados referentes à ocupação da população jovem se mostra relevante para a 
compreensão da situação juvenil pois, atualmente, os marcos de transição da 
juventude para a vida adulta como a entrada no mundo do trabalho e a constituição 
de uma nova família, no Brasil, tornaram se processos ainda mais complexos. 
Para além das dificuldades de acesso ao mercado de trabalho e de construção 
de novos laços sociais, há, no caso brasileiro, outra variável fundamental para a 
compreensão da situação juvenil, o fenômeno despertou o interesse da mídia e de 
diferentes organismos internacionais que se dedicaram a avaliar tal situação. 
 Em resposta à mobilização social, a juventude foi integrada como conteúdo das 
políticas nacionais de segurança pública e identificada como parte de um trinômio que 
se completa por sua associação aos termos pobreza e violência. Os jovens pobres 
são, nesta concepção, aqueles que sofrem e aqueles que produzem violência. 
No contexto destas políticas é possível perceber que mesmo quando o jovem é 
reduzido a vítima, a atenção que se volta para ele é constituída pela noção de que, 
por conta das características socialmente atribuídas a condição juvenil e de sua 
situação de marginalidade social, este caminharia numa linha tênue entre a prática 
concreta da criminalidade e a possibilidade efetiva de realizá-la. Ou seja, de modo 
geral, a juventude é representada como um caso de polícia. 
 
 
 2. JUVENTUDES: BREVES CONSIDERAÇÕES 
 
Para compreender a juventude é importante analisá-la em um contexto 
histórico e sociocultural, considerando os aspectos econômicos, as transformações 
sociodemográficas, a classe social e as características daqueles que não são jovens 
no campo das interações sociais, ou seja, os fenômenos característicos da 
sociedade em geral (ARCE, 1999). 
 
 
 
 
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 Para Eisenstadt (apud ABRAMO, 1997), o conceito ternário do ciclo de vida 
(infância, juventude e fase adulta) é universal. Porém, cada sociedade tem um modo 
específico de definir essas etapas e lhes conferir significados próprios, que nem 
sempre resultam na constituição de grupos etários homogêneos. Isso ocorre nas 
sociedades modernas que são regidas por valores universalistas, nas quais a 
socialização da família não é suficiente para a integração do indivíduo na sociedade. 
Nessas sociedades a transição para a vida adulta é dificultada e complicada por 
vários fatores: divisão do trabalho, especialização econômica, segregação da família 
e aprofundamento dos valores universalistas. 
O conceito de juventude como fenômeno social surgiu no século XX, baseado 
na sociologia funcionalista, preocupada com as disfunções e falhas no 
desenvolvimento do indivíduo no processo de socialização. Esse conceito é variável 
e foi-se processando no desenvolvimento da sociedade ocidental. Juventude 
entendida como um período de transição entre a infância e a vida adulta, quando 
ocorrem várias mudanças psicológicas e sociais e se dá também a complementaçãodo desenvolvimento físico. 
A condição juvenil foi representada primeiramente pelas classes altas. As 
expressões juvenis das classes populares não eram reconhecidas como 
movimentos juvenis. Jovens das classes populares eram denominados delinquentes, 
desocupados e trabalhadores. Foram as transformações do século XX, tais como 
crescimento populacional, a urbanização, o crescimento econômico do pós-guerra, a 
expansão e a decadência da classe média, o desenvolvimento dos meios de 
comunicação e a segregação socioespacial que fizeram emergir a juventude da 
classe média e, posteriormente, a juventude das classes populares dos bairros 
pobres e das favelas. A ideia de classe desviante, identificada com os (jovens) 
pobres, ganhou um novo contorno, passando a ser um problema de toda uma 
geração (dos jovens pobres e ricos). 
Aos poucos, a sociedade passa a aceitar com certa normalidade os dilemas de 
uma juventude crítica, portadora de transformações, capaz de transformar idealismo 
em realismo e romper com as estruturas sociais vigentes. Para compreender a 
juventude do século XXI é necessário desconstruir esse modelo (de juventude) 
 
 
 
 
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idealizado pelo mundo adulto burguês, forjado a partir do projeto iluminista, servindo-
se do discurso evolucionista. 
Contemporaneamente, as transformações geradas pela experiência com o 
tempo e com o espaço contribuíram para a emergência de novas formas de se fazer 
visível e presente, principalmente no campo da cultura. Para Herschmann (1997), a 
juventude contemporânea é fruto de uma sociedade que convive com a 
fragmentação e a pluralidade, reflexo do processo de modernização causado pelo 
capitalismo globalizado. Esse autor afirma que no Brasil aconteceram nesses 
últimos tempos várias mudanças culturais, fruto da insatisfação da sociedade com a 
social- democracia, que não conseguiu cumprir com dois de seus objetivos 
fundamentais: a efetivação da cidadania e a melhoria das condições de vida da 
população. 
 A falta de projetos nacionais com propostas capazes de responder aos 
anseios dos jovens das classes populares levou-os a se limitarem nos seus espaços 
de invisibilidade, tornando-os, sob o ponto de vista da sociedade, sujeitos de 
identificação estereotipada e condenatória. Porém, esse contexto social possibilitou 
o surgimento de um tipo de estrutura que aproxima cidadania, comunicação de 
massa e consumo. 
Esse processo de homogeneização/fragmentação é resultado da dinâmica 
cultural contemporânea, desencadeada pelo capitalismo transnacional e pela 
impossibilidade de realização das utopias modernas. No entanto, isso não significa o 
fim do social e do político, mas a construção de algo novo em um contexto no qual 
as diferenças e os processos de homogeneização se encontram em negociação 
permanente. 
O funk e o hip-hop são exemplos dessa fragmentação/ pluralidade. Os 
integrantes desses movimentos ocupam uma posição marginal e ao mesmo tempo 
central na cultura brasileira e, embora estigmatizados e excluídos, estão em sintonia 
com a era da globalização. Eles conseguem visibilidade e representação num 
terreno demarcado, paradoxalmente, pela exclusão e integração, sendo, portanto, 
espaços de ressignificação dos jovens das periferias e das favelas. 
 
 
 
 
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Finalmente, há que se considerar a complexidade de se construir um conceito 
de juventude que seja capaz de abranger toda a sua heterogeneidade. Nesse 
sentido, Sposito (2003) e Dayrell (2005) preferem trabalhar com uma noção de 
juventude na ótica da diversidade, utilizando o termo no plural, ou seja, juventudes. 
 
A juventude constitui um momento determinado, mas não se reduz a uma 
passagem, assumindo uma importância em si mesma. Todo esse processo é 
influenciado pelo meio social concreto no qual se desenvolve e pela qualidade 
das trocas que este proporciona (DAYRELL, 2005, p.34). 
 
As questões da juventude entraram para a agenda social no Brasil enquanto 
política pública nos últimos anos (CAMARANO e MELLO, 2006) em virtude do temor 
da explosão demográfica, entre outros fatores. Nota-se que quase 30% da 
população brasileira está na faixa etária entre 14 e 20 anos de idade. E, nesse 
contexto, 
 
novas questões foram sendo adicionadas ao debate sobre juventude, tais 
como: instabilidade e precariedade na inserção para o mercado de trabalho, 
instabilidade das relações afetivas, violência nas grandes cidades, taxas 
crescentes prevalentes sobre a mortalidade por doenças sexualmente 
transmissíveis, em especial a Aids (CAMARANO e MELLO, 2006, p.13). 
 
 
 Para esses autores, a discussão em torno da juventude ainda é caracterizada 
por temas negativos, o que levou a uma centralização da crise social nos jovens. 
Essa concentração, de alguma forma, refletiu-se no final da década de 1990 e início 
de 2000, quando começaram a surgir os programas voltados para a população 
jovem, com o envolvimento de várias parcerias da sociedade civil com o Poder 
Executivo nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), numa tentativa 
de se criarem políticas públicas para essa população (SPOSITO, 2003). 
 
 
 
 
 
 
 
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3. CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS NO OLHAR CONSTITUCIONAL 
Os sistemas normativos nacional e internacional de proteção à criança, ao 
adolescente e aos jovens partem do reconhecimento da formação humana como um 
processo contínuo de etapas de vida, essenciais para a estrutura vital do homem. O 
conjunto de normas privilegia o desenvolvimento integral, referenda a importância de 
se construir um espaço de humanização e socialização, projeta o direito como um 
produto das demandas concretas sociais, além de proclamar novos valores para a 
juventude. 
A Constituição Federal Brasileira de 1988, mais especificamente em seus artigos 
227 e 228, trata da proteção especial das crianças e dos adolescentes, assegurando 
 
 
 
 
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os direitos fundamentais e reconhecendo-os, em sua dignidade, como pessoas em 
desenvolvimento. 
O texto constitucional inicial abrangia a garantia à proteção integral apenas para 
crianças e adolescentes, mas a Emenda Constitucional de nº 65, de 13 de julho de 
2010, estende esse direito à juventude, modificando o artigo 227 da Constituição 
Federal, ao acrescentar a expressão ‘jovem’ ao princípio constitucional da Proteção 
Integral. Tal modificação demonstra o reconhecimento normativo da necessidade de 
se cuidar dos interesses da juventude. 
A Proteção Integral compreende todas as iniciativas — por parte da família, da 
sociedade e do próprio Estado — de assegurar, com absoluta prioridade, o direito à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar. A proteção integral 
abrange colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão. 
Incorpora-se ao princípio da Proteção Integral o princípio da prioridade absoluta, 
que significa primazia, destaque em todas as esferas de interesse, incluindo a esfera 
judicial, extrajudicial e administrativa (ISHIDA, 2014). Com a inserção do jovem no 
artigo, interpretasse que a prioridade absoluta se estende a essa categoria, e a 
discussão estaria no conceito de jovem, o qual será definido mais à frente. Assim, 
quando houver confronto dos interesses dessas categorias com outros interesses do 
Estado, deve prevalecer os do primeiro, porque é de ordem constitucional, havendo 
menção de “absoluta prioridade” no art. 227 da Constituição, estabelecendo-se essa 
precedência e prioridade na formulação e execução de políticas públicas. 
Ainda o referido artigo trata do princípio peculiar da pessoa em desenvolvimento. 
Sobre ele, Lamenza (2011, p. 22) afirma queo desenvolvimento humano se 
desenvolve com celeridade. Na fase infanto-juvenil de vida humana, há a 
“estruturação da personalidade, com reflexos diretos na psique do ser que irão durar 
por toda a existência da pessoa”, e o bem-estar da sociedade depende das estruturas 
que estão sendo construídas durante o hiato que se estende da infância à juventude. 
 
 
 
 
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Sobre os marcos constitucionais do direito à juventude, ressalta-se também o 
artigo 228 da Constituição Federal, que delimita a idade penal, considerando 
inimputáveis os menores de 18 anos. O legislador manteve-se fiel ao princípio de que 
a pessoa menor de 18 anos não possui desenvolvimento mental completo, para 
compreender o caráter ilícito de seus atos, ou para determinar-se de acordo com esse 
entendimento, erigindo, inclusive, o dogma constitucional. Especificamente esse 
artigo representa a linha divisória do olhar penal do direito à juventude, que, de um 
lado, abriga os maiores de 12 anos e menores de 18 anos — com paradigma diferente 
de tratamento jurídico, definidos como adolescentes no artigo 2º do Estatuto da 
Criança e do Adolescente —, do outro, o Estatuto da Juventude considerou jovens as 
pessoas entre 15 e 29 anos de idade, trataremos de analisar cada legislação nos 
tópicos seguintes. 
A Constituição Brasileira vigente resguarda, em seu corpo normativo, o direito 
fundamental da dignidade da pessoa humana. Tal princípio representa a base do 
Estado Democrático de Direito (PIOVESAN, 2003) e é o núcleo do constitucionalismo 
contemporâneo, servindo de fundamento para todos os demais direitos. Tal princípio 
estabelece o valor constitucional supremo que irá informar a criação, a interpretação 
e a aplicação de toda a ordem normativa brasileira, sobretudo o sistema de direitos 
fundamentais. 
Particularmente no contexto da criminalidade juvenil, é importante evocar que, 
entre os objetivos da República, constam a constituição de uma sociedade livre, justa 
e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das 
desigualdades sociais e a promoção do bem de todos (art. 3º, I, III e IV). Outrossim, 
trata-se de uma garantia constitucional que qualquer pena seja cumprida em 
estabelecimentos apropriados e distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade 
e o sexo do apenado (art. 5º, XLVIII), obedecendo, em qualquer hipótese, ao respeito 
à integridade física e moral do preso (XLIX). Em relação aos adolescentes, a lei 
especial — o Estatuto da Criança e do Adolescente — dispõe sobre as medidas 
socioeducativas aplicadas aos adolescentes infratores. 
 
 
 
 
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Também valioso no resgate da criminalidade juvenil, o disposto no art. 6º da 
CF/88 estabelece que são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o 
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. Tais direitos sociais 
pertencem à segunda dimensão de Direitos Fundamentais, que está ligada ao valor 
da igualdade material. Para Ferreira Filho (2009), não são meros poderes de agir, mas 
sim poderes de exigir, chamados, também, de direitos de crédito. Os direitos sociais 
são qualificados como essencial ao valor da dignidade humana. 
Se são tão importantes para a concretização da dignidade humana, o 
questionamento se faz sobre a efetivação desses direitos no combate à delinquência 
juvenil, caráter obrigacional do Estado na promoção dos direitos sociais. Canotilho 
(2001) trata do entrave à efetivação desses direitos dentro de uma “reserva do 
possível” e aponta a sua dependência dos recursos econômicos. Nessa visão, a 
limitação dos recursos públicos passa a ser considerada verdadeiro limite fático à 
efetivação dos direitos sociais prestacionais. Assim, as questões pertinentes à 
realização dos direitos sociais no Brasil têm levantado explicações doutrinária e 
jurisprudenciais tomando como base a Teoria da Reserva do Possível, que é 
interpretada como limitações da efetivação dos direitos sociais em face da 
incapacidade jurídica do Estado em dispor de recursos para a efetivação do direito, 
uma condição de realidade para a implementação e escolhas de políticas públicas 
para a garantia dos direitos sociais. Tais limitações devem ser interpretadas dentro do 
princípio da razoabilidade, visto que se encontram determinadas normas no texto 
constitucional que estipulam uma obrigação clara de destinação de recursos pelo 
Estado para a realização de políticas públicas, destinadas à efetivação dos direitos 
fundamentais nelas previstas, como se verifica nos artigos 195, 204 e 212 da 
Constituição Federal. 
No Estado Social de Direito, o orçamento instrumentaliza as políticas públicas e 
define o grau de concretização dos direitos fundamentais constantes do texto 
constitucional. Dessa forma, conclui-se que a relação entre orçamento público e 
políticas públicas é intrínseca. Não cabe aqui aprofundar a teoria da reserva do 
 
 
 
 
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possível, mas salienta-se que tal teoria passa a ser justificativa para as escolhas de 
políticas públicas para a juventude, o que repercute diretamente na criminalidade. 
 
 
 
 
4. JUVENTUDE, LEGISLAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA 
 
Juventude e segurança pública já é um tema discutido amplamente no Brasil, 
seja por questões pertinentes aos atos infracionais, sistema socioeducativo, morte de 
jovens, pobres e negros, violência contra crianças e adolescentes, seja por 
superlotação do sistema carcerário, enfim, amplas são as discussões sobre esses 
temas específicos. 
O ser humano, se produz e se reproduz quando encontra um objeto que lhe 
causa estranhamento, morte, drogas, armas, tiro, roubo, cadeia, nem sempre são 
apontadas, observadas e conversadas quando se é criança, porém, crianças, pobres 
oriundas de favelas e espaços populares, convivem com essa realidade muito 
 
 
 
 
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precocemente, e como ser único, cada um observa, percebe e representa de sua 
forma. 
 Atualmente, temos vivenciado a ênfase do Estado penal atrelada à participação 
da juventude nesse cenário cada vez mais cruel de segregação, violência, apreensões 
ilegais, aumento do auto de resistência a uma determinada parcela da população, os 
jovens, negros e pobres. Não há avanços, coincidências ou erros, há legitimidade na 
rotulação dessa população em detrimento da pseudo segurança da classe que é 
oposta a esses. A ampliação das legislações repressivas e punitivas, em conjunto com 
o papel da mídia de reafirmar a necessidade de controle da violência pautando-se no 
seu possível aumento e o direcionamento dos gastos estatais para a Política de 
Segurança Pública, após o corte na área social, resulta em processo que a Malaguti 
Batista (2012) denomina de adesão subjetiva à barbárie que é a “tarefa conjunta de 
forçar as classes pobres para fora da assistência social e empurra-la para o trabalho 
precário flexibilizando que passará por políticas de desqualificação e criminalização”. 
Legislações que dispõe sobre a infância e juventude tem perpetuado e legitimado 
a expansiva atuação penal do Estado, através, por exemplo, do Estatuto da Criança 
e do Adolescente que vem consolidar legalmente o caráter de controle da sociedade 
capitalista em relação a infância e juventude brasileira, com a finalidade de garantir a 
reprodução da ordem social posta. É evidente, que essa legislação também traça um 
rol de direitos a esse público, e redireciona o olhar da sociedade e do Estado para 
essa população, tendo em vista a necessidade de proteção, porém sinaliza a intenção 
de prosseguir na constante punição do jovem e com o SINASE preenche-se a lacuna 
legal, quanto à ausência de normatização acerca da execução das medidas 
socioeducativas, prescreve direitos, ordenar a operacionalizaçãodesses espaços. 
E a normatização tende a favorecer a face penal do Estado, que tem se 
encarregado de criminalizar as relações sociais e utiliza da sua legitimidade para 
construir estratégias de aperfeiçoamento dos instrumentos de controle, e a gestão das 
políticas públicas sociais é uma de suas formas, enfatizando indiretamente a face 
repressiva do Estado, ampliando os espaços de aprisionamento e condicionando a 
prática profissional aos ditames neoliberais. 
 
 
 
 
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A política de extermínio (Zaccone, 2015) é parte constitutiva, embora velada, da 
política de segurança pública, e os jovens pobres tem sido o ator principal, não para 
matar e sim para morrer. Por isso, se faz necessário o olhar e a escuta cada vez mais 
atentas as demandas diretas e indiretas desse público. 
Efetuar um atendimento social que lhes encaminhem apenas para a garantia ao 
direito à educação, saúde e habitação, por exemplo, não são capazes de perceber e 
promover a dignidade da pessoa humana. 
 
 
 
 
 
5. ESTRATÉGIAS DE COMBATE À CRIMINALIDADE COM FOCO AO 
DESENVOLVIMENTO 
 
A política de responsabilização criminal para a juventude, como já revelado, 
engloba jovens com estatutos legais diferentes. Os maiores de 15 anos e menores de 
18 anos recebem medidas socioeducativas e medidas protetivas, podendo receber a 
 
 
 
 
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internação como medida mais grave; os maiores de 18 anos e menores de 29 anos 
recebem penas, podendo cair no sistema prisional. Nos dois sistemas, as medidas 
que levam à privação de liberdade, na realidade, promovem a exclusão social e se 
afastam cada vez mais dos seus objetivos em comum, os quais estão traçados para 
a reintegração social. 
Não se nega aqui a importância de avaliar os sistemas de controle social 
atualmente vigentes. De qualquer forma, o olhar enraizado de sistema de repressão 
à criminalidade infanto-juvenil ainda transborda socialmente; o desejo de punibilidade 
das condutas criminosas aos jovens aflora cada vez mais na sociedade, recaindo na 
discussão que transborda na tentativa de se implementar o rebaixamento da idade 
penal como forma de diminuir a criminalidade juvenil. 
O Estado, na sua função de buscar a paz social, desenvolve ações utilitárias 
para a manutenção do poder e do controle social. Acredita-se que é preciso uma 
reavaliação dos seus resultados, para se alcançarem novos caminhos de 
responsabilização. É preciso partir da visão de que a criminalidade infanto-juvenil 
brota, na maior parte das vezes, da ausência do Estado Social, ao mesmo tempo em 
que atenta gravemente contra a cidadania. 
Propõe-se aqui delimitar o combate à criminalidade não em uma posição 
repressiva do Estado, mas como um desafio de implantação de políticas públicas 
voltadas para os jovens como prevenção à criminalidade e como estratégia do direito 
ao desenvolvimento. Não se parte da visão utópica de que é possível eliminar a 
criminalidade juvenil por completo, pelo contrário, acredita-se que ela sempre vai 
existir, porque também existe por fruto da estrutura da personalidade humana 
distorcida — foram poucos os avanços científicos sobre as peculiaridades da natureza 
perversa humana —, mas entende-se que a maioria dos crimes cometidos por jovens 
não se referem a uma conjuntura psíquica destorcida, mas a um contexto social a que 
nele foi exposto. 
As políticas públicas que afetam a vida (e os direitos) de diferentes segmentos 
juvenis atrelam-se a diversas necessidades e também direitos fundamentais, por isso 
estão sob a responsabilidade de diferentes ministérios, secretarias e outros órgãos 
governamentais, não se concentram unicamente nas ações do Ministério da Justiça. 
 
 
 
 
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 Em 2005, foi criada a Secretaria Nacional da Juventude, vinculada à 
Secretária-geral da presidência da República, e sua tarefa passou a ser a de formular, 
coordenar, integrar e articular políticas públicas para a juventude, além de promover 
programas de cooperação com organismos nacionais e internacionais, públicos e 
privados, voltados para as políticas juvenis. Foi criado também o Conselho Nacional 
de Juventude, responsável por formular e propor diretrizes da ação governamental, 
voltadas para os jovens, bem como elaborar estudos e pesquisas sobre a realidade 
socioeconômica desse público (SECRETARIA NACIONAL DA JUVENTUDE, 2014). 
Também em 2005, o governo federal instituiu a Política Nacional de Juventude 
(PNJ), que se destacou como um marco na agenda juvenil. Paralelamente, foi criado 
o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem). Nos dias atuais, o Projovem 
Integrado possui quatro modalidades, que são executadas por diferentes Ministérios 
(SECRETARIA NACIONAL DA JUVENTUDE, 2014). 
Em termos de crescimento econômico do país, historicamente, uma das ideias 
apontadas para “sair da crise”, via de regra gestadas em organismos oficiais e 
agências de cooperação internacional, era investir no jovem, considerado como 
potencial “agente do desenvolvimento econômico”, ou seja, o jovem era visto como 
“capital humano”. Assim, as políticas públicas voltadas para jovens estariam na 
inserção da produção, na geração de renda promovida pela capacidade do jovem para 
o trabalho (CASTRO, AQUINO E ANDRADE, 2009). 
Podem-se apontar duas grandes correntes ideológicas para a juventude, as 
quais delimitam caminhos diferentes de entendimento de assistência do Estado, 
lamentavelmente ainda calcada em uma política segregativa. De um lado, os jovens 
que se preparam para a vida adulta por meio da educação, que sonham com um 
avanço profissional por meio do processo educacional longo, mas que, para isso, 
precisam do suporte econômico da família e do Estado, pois o processo educacional 
retarda sua inserção na produção de renda. A outra, que abrange a classe menos 
favorecida, sonha com a inserção no mercado de trabalho formal precocemente, 
busca um emprego com carteira assinada, para ajudar a sua família, e o Estado 
assume políticas compensatórias, por meio de programas alimentares e empregos 
temporários. 
 
 
 
 
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Tem-se tentado diminuir a dicotomia de aspirações ideológicas entre estudar 
ou trabalhar, com programas atuais de apoio financeiro de inserção para a educação 
por intermédio de financiamentos do Governo à rede privada de ensino. 
Consoante o novo paradigma de direito ao desenvolvimento, Celso Furtado 
(2002) nos afirma que, para não ocorrer somente um crescimento, mas um autêntico 
desenvolvimento, tem que se investir na educação. Para o autor, não há país que 
consiga se desenvolver, sem investir na formação de agente, na alfabetização e na 
educação. Coloca ainda que apenas uma sociedade aberto-democrática e pluralista 
é apta a um verdadeiro desenvolvimento social. 
Castro, Aquino e Andrade (2009) classificam as políticas públicas para a 
juventude em: a) universais, que são as políticas setoriais dirigidas a toda a população, 
inclusive aos jovens, entre elas as políticas educacionais, de trabalho e de emprego, 
de assistência social, de saúde, de cultura e de combate à violência; b) atrativas, 
seriam aquelas que não são dirigidas apenas aos jovens, mas têm especial incidência 
sobre eles, seja por afinidade com a natureza da política, seja por oferecerem 
oportunidades específicas, seja por afetarem particularmente os jovens (políticas de 
segurança e combate à violência); c) exclusivas, seriam aquelas voltadas apenas para 
uma faixa etária predefinida entre 15 e 29 anos. Essa variedade de políticas públicas 
constitui programas e ações emergenciais para jovens excluídos ou em situações de 
exclusão desfavorável. 
Em relação às políticas de segurança pública para a juventude, não é possível 
retratá-las todas aqui, mas destacam-se três planos de ações elaborados nos últimosgovernos Federais como um avanço de estratégias de caráter preventivo para a 
violência juvenil. 
O Projeto Segurança Pública para o Brasil, elaborado no primeiro governo de 
Lula, pelo Instituto Cidadania, e apresentado em um documento composto por 14 
capítulos, apresenta análises sistemáticas da questão da violência e da segurança 
pública no país, a partir de uma perspectiva interdisciplinar, com ênfase na explicação 
multicausal da violência, na necessidade das reformas institucionais e legislativas e 
nas articulações entre prevenção e repressão no tratamento da criminalidade 
(FREITAS, 2013). 
 
 
 
 
18 
18 
O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), que 
articula políticas de segurança com ações sociais, prioriza a prevenção e busca atingir 
as causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de ordenamento 
social e segurança pública. Freitas (2013) afirma que o Pronasci se concentra em 
ações de reforma institucional, apoio à atividade policial e iniciativas que combinam 
prevenção e repressão de modo articulado. Além dos profissionais de segurança 
pública, o Pronasci tem também como público-alvo jovens de 15 a 24 anos à beira da 
criminalidade, que se encontram ou já estiveram em conflito com a lei; presos ou 
egressos do sistema prisional, e ainda os reservistas, passíveis de serem atraídos 
pelo crime organizado em função do aprendizado em manejo de armas adquirido 
durante o serviço militar. 
O programa é composto por 94 projetos e apresenta o jovem como sujeito em 
desenvolvimento, por outro lado, como segmento vulnerável a fatores sociais 
desencadeadores da criminalidade e desconexão social. O Pronasci concentra as 
suas propostas de intervenção no campo dos projetos educacionais e das ações no 
campo do sistema prisional, com destaque para a ampliação e a qualificação do 
sistema carcerário. O programa trata de iniciativas para a elevação do nível de ensino 
formal dos jovens privados de liberdade, com ênfase no ProJovem, na preparação 
para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no Programa Universidade para 
Todos (ProUni) e no Programa de Educação Profissional de Jovens e Adultos 
(Proeja). 
 Por último, o Plano Juventude Viva, lançado no governo de Dilma, em 
setembro de 2012, refere-se às políticas e programas direcionados à juventude, com 
especial atenção aos jovens negros de 15 a 29 anos do sexo masculino, em sua 
maioria com baixa escolaridade, os quais vivem nas periferias dos centros urbanos. 
O atendimento prioriza, independentemente da cor/raça, os jovens em situação de 
exposição à violência, aqueles que se encontram ameaçados de morte, em situação 
de violência doméstica, em situação de rua, cumprindo medidas socioeducativas, 
egressos do sistema penitenciário e usuários de crack e outras drogas. 
Do ponto de vista repressivo, as políticas de segurança focadas na 
criminalidade juvenil são, de um lado, cobertas para um sistema de sanção especial 
 
 
 
 
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de adolescentes em conflito com a lei, por meio das diretrizes do Estatuto da Criança 
e do Adolescente (ECA) e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo 
(SINASE). Do outro, para os jovens não adolescentes, com ações que se dividem em 
policiamento ostensivo, persecução penal e execução penal (FERREIRA et al 2009, 
p.199). 
Nessa direção, os autores apresentam o Programa de Proteção à Pessoa 
Ameaçada, as ações de Policiamento Comunitário, a criação de ouvidorias de Polícia, 
a formação continuada para os profissionais da polícia, programas de capacitação 
técnica nos sistemas penitenciários — a exemplo da produção de materiais esportivos 
por detentos —, além de mudanças nas infraestruturas dos sistemas de privação de 
liberdade. 
Para finalizar, levanta-se aqui a preocupação com o declínio da idade mínima 
de responsabilidade penal como a solução para o problema da criminalidade juvenil, 
sendo os jovens vistos como criminosos perigosos. A proposta de rebaixamento da 
idade penal, modificando o artigo 228 da Constituição Federal, na tentativa de diminuir 
a criminalidade entre os jovens, tem como argumentos favoráveis o desenvolvimento 
psicológico do adolescente, mais especificamente a consciência dos adolescentes 
sobre seus atos e a necessidade de responsabilizá-los, em uma perspectiva punitiva. 
Tais argumentos geralmente são comparados com a capacidade de entendimento, a 
emancipação civil e o direito do voto aos dezesseis anos de idade. 
Não nos cabe agora adentrar nos pontos favoráveis daqueles que defendem o 
declínio da idade mínima de responsabilidade penal tampouco daqueles que resistem, 
refutando aspectos históricos e sociais da proteção da criança e do adolescente e da 
extensão do dano que tal medida pode alcançar. O que parece é que muitas pessoas 
tendem a defender a redução impulsionadas pelo calor dos acontecimentos, por mero 
casuísmo, com sede de vingança, influenciadas pela mídia e pela repercussão social 
de um fato isolado, sem ponderar sobre quais seriam as medidas mais justas, para 
conter a violência. 
Assim, a proposta é apenas de levantar a reflexão se, de fato, a mudança no 
sistema normativo em relação à diminuição da maioridade penal pode ser considerada 
uma estratégia de política para combate à criminalidade, sendo, então, uma política 
 
 
 
 
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de segurança. Se houver a concordância, estaria a medida nos paradigmas do direito 
atual ao desenvolvimento. Deste modo, resume o questionamento se atuação apenas 
repressiva do Estado seria na realidade, uma estratégia ao desenvolvimento. 
 
 
 
 
 
 
6. SEGURANÇA PÚBLICA 
 
Considera-se a segurança pública um processo articulado, caracterizando-se 
pelo envolvimento de interdependência institucional e social, enquanto a política de 
segurança pública pode ser definida como a forma de instituir mecanismos e 
estratégias de controle social e enfrentamento da violência e da criminalidade, 
racionalizando as ferramentas da punição (ADORNO, 1996; BENGOCHEA et al., 
2004; SAPORI, 2007). 
A segurança da sociedade surge como o principal requisito à garantia de 
direitos e ao cumprimento de deveres, estabelecidos nos ordenamentos jurídicos. A 
segurança pública é considerada uma demanda social que necessita de estruturas 
 
 
 
 
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estatais e demais organizações da sociedade para ser efetivada. Às instituições ou 
órgãos estatais, incumbidos de adotar ações voltadas para garantir a segurança da 
sociedade, denomina-se sistema de segurança pública, tendo como eixo político 
estratégico a política de segurança pública, ou seja, o conjunto de ações delineadas 
em planos e programas e implementados como forma de garantir a segurança 
individual e coletiva. 
O início deste século 21 tem sido marcado, principalmente, pelo processo de 
globalização econômico-financeira, impelindo à redefinição do papel do Estado na 
gestão pública e na sua relação com o mercado e com a sociedade. Nesse processo, 
a gestão da política de segurança pública, como suporte para enfrentamento da 
violência e da criminalidade, representa um desafio tanto para o Estado quanto para 
a sociedade. 
A questão da segurança pública tem despertado o interesse de diversos 
estudiosos, da sociedade e dos governos. Os instrumentos de enfrentamento da 
criminalidade e da violência têm sido insuficientes para proporcionar a segurança 
individual e coletiva. No âmbito do processo de constituição da política de segurança 
pública, são elaborados os mecanismos e as estratégias de enfrentamento da 
violência e da criminalidade que afeta o meio social. A participação da sociedade por 
meio de suas instituições representativas torna-se crucial para o delineamento de 
qualquer política pública. A complexidade da questão implica na necessidade deefetiva participação social, como forma de democratizar o aparelho estatal no sentido 
de garantia de uma segurança cidadã. 
O sistema de segurança pública em vigor, desenvolvido a partir da Constituição 
Federal de 1988, estabeleceu um compromisso legal com a segurança individual e 
coletiva. Porém, no Brasil, em regra, as políticas de segurança pública têm servido 
apenas de paliativo a situações emergenciais, sendo deslocadas da realidade social, 
desprovidas de perenidade, consistência e articulação horizontal e setorial. 
 
 
 
 
 
 
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Planejamento, monitoramento, avaliação de resultados, gasto eficiente dos 
recursos financeiros não têm sido procedimentos usuais nas ações de 
combate à criminalidade, seja no executivo federal, seja nos executivos 
estaduais. Desse ponto de vista, a história das políticas de segurança pública 
na sociedade brasileira nas duas últimas décadas se resume a uma série de 
intervenções governamentais espasmódicas, meramente reativas, voltadas 
para a solução imediata de crises que assolam a ordem pública [...] (SAPORI, 
2007, p. 109). 
 
Mecanismos essenciais não têm sido utilizados pelos diversos governos para 
possibilitar o pensar, o implementar, o implantar, o efetivar, com eficácia e eficiência, 
uma política de segurança pública como instrumento do Estado e da sociedade. A 
promulgação de leis, decretos, portarias e resoluções, visando instrumentalizar o 
enfretamento da criminalidade e da violência, sem que haja articulação das ações de 
segurança pública no contexto social, acaba apresentando resultados inconsistentes 
e insatisfatórios. 
A atuação dos órgãos da segurança pública requer interação, sinergia de ações 
combinadas a medidas de participação e inclusão social e comunitária, cabendo ao 
Estado o papel de garantir o pleno funcionamento dessas instituições, uma vez que: 
A segurança pública é um processo sistêmico e otimizado que envolve um 
conjunto de ações públicas e comunitárias, visando assegurar a proteção do 
indivíduo e da coletividade e a ampliação da justiça da punição, recuperação 
e tratamento dos que violam a lei, garantindo direitos e cidadania a todos. Um 
processo sistêmico porque envolve, num mesmo cenário, um conjunto de 
conhecimentos e ferramentas de competência dos poderes constituídos e ao 
alcance da comunidade organizada, interagindo e compartilhando visão, 
compromissos e objetivos comuns; e otimizado porque depende de decisões 
rápidas e de resultados imediatos (BENGOCHEA et al., 2004, p. 120). 
 
Trata-se de uma questão significativamente complexa que impõe a 
necessidade de aproximação entre diversas instituições e sujeitos. Entende-se, a 
segurança pública como um processo articulado e dinâmico que envolve o ciclo 
burocrático do sistema de justiça criminal. Sem articulação entre polícias, prisões e 
judiciário, inclusive sem o envolvimento da sociedade organizada, não existe eficácia 
e eficiência nas ações de controle da criminalidade e da violência e nas de promoção 
da pacificação social. 
 
 
 
 
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No Brasil, somente uma década após a promulgação da Constituição Federal, 
que estabeleceu a segurança pública como “dever do Estado e responsabilidade de 
todos”, a política de segurança pública passa a ser pensada sob o contexto de uma 
sociedade democraticamente organizada, pautada no respeito aos direitos humanos, 
em que o enfrentamento da criminalidade não significa a instituição da arbitrariedade, 
mas a adoção de procedimentos tático-operacionais e político-sociais que considerem 
a questão em sua complexidade. Nesse panorama, no ano 2000, é criado o Plano 
Nacional de Segurança Pública (PNSP), e no ano de 2007, o Programa Nacional de 
Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), inovando a forma de abordar dessas 
questões. 
A instituição da Senasp, como órgão executivo, significou a estruturação de 
mecanismos de gestão capazes de modificar o arranjo institucional da organização 
administrativa da segurança pública no âmbito governamental federal. Surgiu, o Plano 
Nacional de Segurança Pública (PNSP), voltado para o enfrentamento da violência no 
país, especialmente em áreas com elevados índices de criminalidade, tendo como 
objetivo aperfeiçoar as ações dos órgãos de segurança pública. 
O Plano Nacional de Segurança Pública de 2000 é considerado a primeira 
política nacional e democrática de segurança focada no estímulo à inovação 
tecnológica; alude ao aperfeiçoamento do sistema de segurança pública 
através da integração de políticas de segurança, sociais e ações 
comunitárias, com a qual se pretende a definição de uma nova segurança 
pública e, sobretudo, uma novidade em democracia (LOPES, 2009, p. 29). 
 
Efetivamente, a inovação tecnológica é fundamental para que os instrumentos 
utilizados por parte dos operadores da segurança pública possam ser eficazes e 
eficientes. Neste aspecto, essa proposta do PNSP pode ser considerada 
extremamente estratégica. O PNSP estabeleceu um marco teórico significativo na 
propositura da política de segurança pública brasileira, cujo objetivo era articular 
ações de repressão e prevenção à criminalidade no país. Para dar apoio financeiro ao 
PNSP, foi instituído, no mesmo ano, o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). 
Entretanto, esses avanços na formatação da política de segurança pública não 
produziram os resultados concretos esperados. De acordo com Fernando Salla: 
 
 
 
 
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[...] o Plano Nacional de Segurança Pública [...] compreendia 124 ações 
distribuídas em 15 compromissos que estavam voltadas para áreas diversas 
como o combate ao narcotráfico e ao crime organizado; o desarmamento; a 
capacitação profissional; e o reaparelhamento das polícias, a atualização da 
legislação sobre segurança pública, a redução da violência urbana e o 
aperfeiçoamento do sistema penitenciário. Uma novidade é que no plano, 
além dessas iniciativas na área específica de segurança, eram propostas 
diversas ações na esfera das políticas sociais. O plano, no entanto, não fixava 
os recursos nem as metas para ações. Ao mesmo tempo, não estavam 
estabelecidos quais seriam os mecanismos de gestão, acompanhamento e 
avaliação do plano (SALLA, 2003, p. 430). 
 
 
O PNSP possibilitou a institucionalização de significativos encaminhamentos 
de diretrizes para ações de gestão, mas poucos avanços práticos. Sem recursos 
definidos, sem delineamento de metas e de processos de avaliação de eficácia, 
eficiência e efetividade, fracassou nos seus principais objetivos. Entretanto, pela 
primeira vez, após o processo de democratização, emergiu a possibilidade de uma 
reorientação estratégica, com tratamento político-administrativo direcionado a colocar 
a questão da segurança pública como política prioritária de governo. 
Nitidamente, os avanços foram extremamente tímidos frente à complexidade 
do problema da segurança pública, tanto que o fenômeno da violência continuou 
assustando a população brasileira, principalmente nos grandes centros, como têm 
demonstrado os índices oficiais de criminalidade, diversos estudos e o cotidiano 
midiático. 
 
As políticas públicas de segurança, justiça e penitenciárias não têm contido o 
crescimento dos crimes, das graves violações dos direitos humanos e da 
violência em geral. A despeito das pressões sociais e das mudanças 
estimuladas por investimentos promovidos pelos governos estaduais e 
federal, em recursos materiais e humanos e na renovação das diretrizes 
institucionais que orientam as agências responsáveis pelo controle da ordem 
pública, os resultados ainda parecem tímidos e pouco visíveis (ADORNO, 
2002, p. 8). 
 
As questões relacionadas à segurança pública não podem ser tratadas como 
política limitada de governo, mas como um processo amplo e complexo a ser 
enfrentado tanto pelo Estado quanto pela sociedade. Na perspectivade uma política 
 
 
 
 
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de Estado, a política de segurança pública, para ser exitosa, não pode dispensar a 
participação e a contribuição da sociedade. A democratização de toda e qualquer 
política pública é crucial para atender aos anseios da população. 
Tanto o PNSP do governo Fernando Henrique Cardoso, quanto a política de 
segurança pública empreendida pelo primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula 
da Silva não tiveram os resultados esperados. Assim, a partir do ano 2007, já no 
segundo mandato do presidente Lula, foi apresentado um novo programa na área da 
segurança pública, o Pronasci. 
Buscando a integração nas ações, voltadas para a segurança pública, 
praticadas pelo Estado brasileiro a partir do ano 2007, o Governo Federal instituiu o 
Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), em parceria com 
estados da federação, combinando essas ações com políticas sociais para a 
prevenção, controle e repressão à criminalidade, principalmente em áreas 
metropolitanas com altos índices de violência. Nessa perspectiva, estabeleceram-se 
metas e investimentos que apontam avanços na constituição da política pública de 
reestruturação do sistema de segurança no seu todo, incluindo-se aí a esfera prisional, 
redefinindo as estratégias de ação e gestão. No âmbito do Pronasci, surge o conceito 
de segurança cidadã, o qual: 
 
[...] parte da natureza multicausal da violência e, nesse sentido, defende a 
atuação tanto no espectro do controle como na esfera da prevenção, por meio 
de políticas públicas integradas no âmbito local. Dessa forma, uma política 
pública de Segurança Cidadã envolve várias dimensões, reconhecendo a 
multicausalidade da violência e a heterogeneidade de suas manifestações 
(FREIRE, 2009, p. 105-106). 
 
 
 
 
 
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Com efeito, o Pronasci apresenta uma forma e um olhar multidisciplinar em 
relação à questão da segurança pública. Dessa maneira, pela primeira vez após a 
promulgação da atual Constituição, surge a perspectiva de democratização da política 
de segurança pública, com efetiva possibilidade de exercício da cidadania por parte 
da sociedade nesse processo. Seguramente, trata-se de uma mudança complexa no 
paradigma da segurança, entretanto necessária ao fortalecimento da democracia, 
pois, “[...] na perspectiva de Segurança Cidadã, o foco é o cidadão e, nesse sentido, 
a violência é percebida como os fatores que ameaçam o gozo pleno de sua cidadania” 
(FREIRE, 2009, p. 107). 
 
 
 
 
 
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A perspectiva de Segurança Cidadã defende uma abordagem multidisciplinar 
para fazer frente à natureza multicausal da violência, na qual políticas 
públicas multissetoriais são implementadas de forma integrada, com foco na 
prevenção à violência. Nesse sentido, uma política pública de Segurança 
Cidadã deve contar não apenas com a atuação das forças policiais, sendo 
reservado também um espaço importante para as diversas políticas setoriais, 
como educação, saúde, esporte, cultura, etc. (FREIRE, 2009, p. 107). 
 
 
Com isso, o Pronasci representa uma iniciativa inovadora no trato com a 
questão da segurança pública, do enfrentamento da violência e da criminalidade, já 
que busca desenvolver ações na área de segurança integrada com ações sociais, 
incluindo, acertadamente, o sistema prisional. De acordo com o Ministério da Justiça, 
o Pronasci “[...] articula políticas de segurança com ações sociais; prioriza a prevenção 
e busca atingir as causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de 
ordenamento social e segurança pública” (BRASIL, 2009, online). Isto representa a 
possibilidade de tornar a política de segurança pública perene, articulada e 
consistente, e não, apenas, mais uma política de governo pontual. 
Em sua estrutura, o Pronasci apresenta-se como uma política de segurança 
pública, baseada em princípios democráticos, interdisciplinares e humanitários, tendo 
em vista a participação da sociedade na construção de uma cultura de paz, a médio 
e á longo prazo. Pois adota um conjunto de medidas que objetivam a imediata 
diminuição da violência e da criminalidade, por meio da implementação de Unidades 
de Polícia Pacificadora (UPPs) em áreas urbanas consideradas de elevados índices 
de criminalidade e violência. Deve-se ressaltar que a ocupação dessas áreas pela 
polícia e a instalação das UPPs indica o reconhecimento, por parte do Estado, da 
necessidade de reorientação estratégica das ações de controle e manutenção da 
ordem pública. Isso contribui para diminuir os índices de criminalidade, porém, de 
forma territorialmente limitada. Na verdade, as UPPs significam a possibilidade de 
retomada de controle territorial de forma autoritária, porém não necessariamente 
truculenta. Além do mais, podem servir de instrumento tanto ao confinamento da 
pobreza, quanto ao exercício de direitos básicos de cidadania. 
Nesse contexto, a segurança pública tem sido discutida nos mais diversos 
segmentos da sociedade. No ano de 2009, o Governo Federal promoveu a 1ª 
 
 
 
 
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Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg). Partindo de conferências 
realizadas nos âmbitos municipal, estadual e de conferências livres organizadas por 
entidades da sociedade civil, a Conseg representou a possibilidade de se reelaborar, 
democraticamente, princípios e diretrizes fundamentais para desenvolver projetos 
voltados para o sistema de segurança pública, sob todos os aspectos e escalas. Por 
considerarem os contextos locais e o nacional, a efetiva participação de trabalhadores 
e da sociedade civil, possibilitaram a interação e a interdisciplinaridade no desenho 
da política. A 1ª Conseg (BRASIL, 2009, online) teve como eixos básicos de 
discussão: 
Gestão democrática: controle social e externo, integração e federalismo; 
financiamento e gestão da política de segurança; valorização profissional e 
otimização das condições de trabalho; repressão qualificada da 
criminalidade; prevenção social dos crimes e das violências e construção da 
cultura de paz; diretrizes para o sistema penitenciário e diretrizes para o 
sistema de prevenção, atendimentos emergenciais e acidentes. 
 
O espaço de socialização de ideias possibilitado pela 1ª Conseg, envolvendo a 
participação da sociedade por meio de suas entidades representativas, elevou e 
ampliou o debate acerca da política de segurança pública, possibilitando a 
democratização da política. 
Como resultado da 1ª Conseg, foram escolhidos, de forma democrática, 10 
princípios e 40 diretrizes, que servirão de subsídios para nortear a política de 
segurança pública em curso no país. Os participantes definiram (BRASIL, 2009a, 
online) como princípios que a política de segurança pública deve: 
Ser uma política de Estado que proporcione a autonomia administrativa, 
financeira, orçamentária e funcional das instituições envolvidas, nos três 
níveis de governo, com descentralização e integração sistêmica do processo 
de gestão democrática, transparência na publicidade dos dados e 
consolidação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e do Programa 
Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), com percentual 
mínimo definido em lei e assegurando as reformas necessárias ao modelo 
vigente. 
 
 
A definição da política de segurança pública como uma política de Estado, e 
não de governo, demonstra que a participação da sociedade é essencial no processo 
 
 
 
 
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político de formulação da política. Pode-se considerar que os avanços teóricos na 
constituição da política são inegáveis, cabendo-nos, então, aguardar os seus 
resultados práticos. 
Entretanto, é cediço, os princípios e diretrizes definidos na 1ª Conseg não 
garantem, de imediato, a sua implementação. Caberá à sociedade acompanhar,reivindicar e fiscalizar as ações político-administrativas, por meio de seus órgãos 
representativos, para que a questão não fique somente no âmbito do debate. Portanto, 
a participação de representantes da sociedade civil, de trabalhadores de todas as 
áreas, no processo de formatação da política de segurança pública, significa a 
oportunidade de garanti-la e de torná-la controlada pela sociedade, em vez de apenas 
instrumento do Estado. 
A questão da segurança pública tem envolvido uma participação maior de 
estudiosos, como é o caso da criação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 
(FBSP), no ano de 2006, composto por vários especialistas com o objetivo de difundir 
conhecimentos na área da segurança pública. Além disso, o processo de 
implementação das ações do Pronasci e a ampliação das discussões decorrentes da 
1ª Conseg resultaram na reestruturação do Conselho Nacional de Segurança Pública 
(Conasp). São indicadores da ampliação dos espaços de discussão para possibilitar 
avanços significativos na constituição da política de segurança pública no Brasil 
contemporâneo, apesar dos limites estruturais. 
Evidentemente, a Constituição Federal de 1988 marcou a institucionalização 
de um novo arcabouço organizacional e administrativo dos órgãos incumbidos da 
segurança pública no país. Porém, os resquícios do período ditatorial permaneceram 
encravados nas práticas policiais. Além disso, a política de segurança pública, mesmo 
após o processo de redemocratização, foi imposta pelos governos visando o 
atendimento de situações imediatistas. Apresenta-se desconstituída de continuidade, 
desarticulada entre as instituições e esferas de poder e sem a devida participação da 
sociedade na definição e estruturação das ações. 
 
 
 
 
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As intervenções estatais, em relação à segurança pública no Brasil, tornaram-
se mais sistemáticas nesta primeira década do século 21, quando se configurou a 
gestão de planos e programas pautados em novas formas de abordar a questão. O 
PNSP, de 2000, apesar de ter sido um avanço teórico considerável no trato com a 
questão da segurança pública, enfrentou limites práticos consideráveis no âmbito da 
gestão, fracassando nos seus objetivos principais. 
Contudo, o processo de implantação do SUSP demonstra que a política de 
segurança pública do país tem sido trabalhada sob o âmbito de um novo paradigma. 
O Pronasci, de 2007, aponta para a participação da sociedade civil no processo de 
formatação e implementação da política de segurança pública no país. Ainda é 
relativamente cedo para se avaliar os resultados do Pronasci quanto à diminuição da 
criminalidade e da violência. Entretanto, o reconhecimento governamental e 
institucional em relação à efetiva participação da sociedade na construção da política 
de segurança pública evidencia um processo de fortalecimento da democracia, 
imprescindível à efetivação de uma segurança cidadã. 
A instituição do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2006, e a 
participação da sociedade civil nos eventos correlacionados à Conseg, realizada em 
2009, evidenciam a importância da democracia para a construção de uma política de 
segurança pública que assegure os direitos de cidadania. Os princípios e as diretrizes 
elaborados, desde então, demonstram que as expectativas da sociedade, pela 
participação democrática na gestão da política de segurança pública, estão sendo 
contempladas. 
Os esforços adotados pelos diversos governos e pela sociedade a partir de 
2009, por meio de discussões em conferências públicas, credenciando a participação 
da sociedade na construção de princípios e diretrizes norteadores da política de 
segurança pública, indicam a possibilidade de consolidação de uma política de Estado 
que entenda a segurança pública como uma questão transversal e multifacetada. 
Entretanto, as ações entre os órgãos da área da segurança pública enfrentam 
limitações de atuação articulada nas estruturas de poder. O Poder Executivo e o 
 
 
 
 
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Judiciário não atuam de forma conjunta no sentido de garantir a prevenção do delito, 
o julgamento célere para evitar, inclusive, a impunidade e a injustiça. Por outro lado, 
a reinserção do homem preso na sociedade tem sido um dos maiores desafios a 
serem enfrentados pelo Estado e pela sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
No Brasil, a violação dos direitos humanos e dos direitos da criança é um fato 
diário. O envolvimento de jovens com práticas ilícitas é um fenômeno de cunho social, 
político e familiar, sendo a delinquência juvenil um problema social multifatorial, de 
origem evolutiva, que merece a atenção de todos os segmentos sociais. 
Observa-se que historicamente muitos avanços ocorreram em relação ao olhar 
do Estado para a juventude. A expansão de direitos e os novos paradigmas de 
assistência foram conquistas significativas para o reconhecimento das suas 
necessidades. O problema é que o impulso ocorreu muito mais em termos de 
diagnóstico e colocação do problema da criminalidade juvenil, pouco foi capaz de 
apresentar respostas suficientemente ousadas e inovadoras que trouxessem, na 
prática, avanços na efetivação dos direitos garantidos à população juvenil. 
Acredita-se que as estratégias de combate à criminalidade só serão 
eficazmente direito ao desenvolvimento, se prevalecer a escolha da adoção de um 
paradigma de ação efetivamente preventivo, e houver a sistematização de indicadores 
de resultados com vistas à construção de políticas públicas sociais integradas na 
prevenção da violência. 
É preciso ultrapassar o campo discursivo de responsabilização individual dos 
jovens por práticas delituosas, acreditando que a resposta da criminalidade juvenil se 
encontra nas sanções de suas condutas. Pelo contrário, deve compreender o 
problema tomando para todos a responsabilidade e acreditando que o fato é apenas 
uma consequência da violação de direitos fundamentais ocorrida durante anos na 
sociedade. Como se observa, levanta-se um mister de políticas sociais com plano na 
intervenção e prevenção à criminalidade, acreditando que corresponde à melhor 
estratégia a garantia do direito ao desenvolvimento, ou seja, a política de acesso aos 
direitos sociais. 
 
 
 
 
 
33 
33 
 
REFERÊNCIAS 
 
ABRAMO, Helena Wendel. Considerações sobre a tematização social da 
juventude no Brasil. Revista Brasileira de Educação. Nº 5/6. ANPED, 1997. p. 25-36. 
 
ADORNO, Sérgio; BORDINI, Eliana B. T.; LIMA, Renato Sérgio de. O 
adolescente e as mudanças na criminalidade urbana. São Paulo Perspectiva. [online]. 
1999, vol.13, n.4, pp. 62-74. ISSN 0102-8839. Disponível em www.scielo.org, acesso 
em 04/07/2020. 
 
ADORNO, S. A gestão urbana do medo e da insegurança: violência, crime e 
justiça penal na sociedade brasileira contemporânea. 282 p. Tese (apresentada como 
exigência parcial para o Concurso de Livre-Docência em Ciências Humanas) – 
Departamento de Sociologia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 
da Universidade de São Paulo, 1996. 
 
ARCE, José Manuel V. (1999). Vida de barro duro – Cultura popular juvenil e 
grafite. Rio de Janeiro, UFRJ. 
 
BENGOCHEA, J. L. et al. A transição de uma polícia de controle para uma 
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