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17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 1/32 HISTÓRIA MEDIEVAL ORIENTAL CAPÍTULO 1 - BIZÂNCIO: VESTÍGIOS DE UM VELHO IMPÉRIO OU UMA NOVA E DINÂMICA SOCIEDADE MEDIEVAL? André Szczawlinska Muceniecks INICIAR Introdução Boas-vindas à História Medieval Oriental! Nosso estudo irá começar com este capítulo que trata dos princípios gerais, básicos e teóricos da disciplina que lhe ajudarão a formular respostas para questões: como ocorreu o processo de declínio do Império Romano? É correto falarmos em “queda” de Roma? Também vamos estudar os momentos principais do Império Bizantino que sucedeu ao Romano na região do Mediterrâneo oriental. E você sabe a importância desse império para a História? Sabe qual o impacto da queda de Bizâncio para a história mundial? Pois são questões pertinentes que influenciam o mundo contemporâneo que vivemos, por isso vamos apresentar respostas para todas elas. Tudo pronto? Então vamos começar! 1.1 Apresentação do curso: princípios 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 2/32 gerais da disciplina No primeiro capítulo, você irá se familiarizar com as discussões historiográficas referentes à transição do Império Romano para o Império Bizantino, e a passagem da Antiguidade para o Medievo. Além disso, irá estudar o Império Bizantino, do desenvolvimento independente do mundo Romano Ocidental até a queda no século XV. Vamos dedicar maior espaço à discussão sobre o contexto Romano e Bizantino do que às relações de Bizâncio com bárbaros, islâmicos e eslavos. Dessa forma, seu estudo terá maior coesão e aproveitamento. Já no segundo capítulo, vamos estudar o “período das migrações”, as populações de fala germânica, iraniana e os hunos, além dos principais problemas envolvidos na interpretação dos eventos do período. Você irá lidar com questões que até hoje influenciam nossa forma de pensar como, por exemplo, o uso do termo “bárbaros” e as considerações etnocêntricas que o acompanha. Em seguida, para o terceiro capítulo, vamos abordar o surgimento do Islamismo, a Arábia Pré-islâmica e Maomé, do surgimento dos califados islâmicos até as invasões turcas. E por fim, no último capítulo, teremos a Europa de Leste, o surgimento do primeiro principado russo e as nações eslávicas ao redor. Você também irá conhecer as implicações para o tempo presente do estudo do passado medieval, percebendo a impossibilidade de se desvincular as múltiplas temporalidades. Saiba que os três primeiros capítulos que estudaremos estão conectados a uma discussão teórica própria dos historiadores envolvidos com o estudo da História Antiga e Medieval. É provável você já ter ouvido, por exemplo, a respeito do Islamismo e sua conexão com nosso contexto geopolítico atual, certo? Por outro lado, é possível que você desconheça a terminologia usada para definir a cronologia de muitos desses eventos, que se convencionou chamar de “Antiguidade Tardia”. Então, para continuar nossos estudos vamos para a abordagem da Antiguidade Tardia. O que significa essa expressão? Qual a relação com a história do Império Bizantino? 1.1.1 Antiguidade Tardia: contextualização Ainda que, por séculos, tenha-se estudado os eventos ligados ao declínio e a queda do Império Romano, o uso do termo “Antiguidade Tardia”, para especificar os séculos próximos a este período é recente. Alois Riegl (1858-1905), historiador da 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 3/32 Arte austríaco, usaria o termo, mas foi apenas após a década de 1970 que a definição seria empregada de forma mais sistemática e generalizada. Podemos citar obras dos historiadores Peter Brown (1971) e Ian Wood (2016), no exterior, e Renan Frighetto (2012), no Brasil, como alguns dos trabalhos de referência no campo. Perry Anderson (1982), autor marxista, também foi de grande relevância historiográfica na discussão das modificações no período. Peter Brown (1935 - ) é historiador britânico e professor emérito na Universidade Princetown. Brown foi o principal responsável em definir o campo de estudos conhecido como Antiguidade Tardia, na década de 1970. Sua produção é extensa e relevante tratando de muitos temas próprios da Antiguidade Tardia, incluindo Santo Agostinho, História da Igreja e do Cristianismo, declínio e queda do Império Romano. Quer conhecer mais sobre o autor? Leia o texto “Peter Brown - Scholarship and Imagination: The Study of Late Antiquity” (RAWLINGS, 2002) Os séculos compreendidos como Antiguidade Tardia localizam-se, de forma cronológica, entre a Antiguidade e a Idade Média, aproximadamente os séculos III a VII, com variações dependendo do autor e da região. Em contraposição a uma longa tradição de considerar o período meramente de forma negativa, como um momento de declínio das instituições romanas, os estudiosos da Antiguidade Tardia passaram a enxergar esses anos como momentos de criação e gestação de novas estruturas, que revitalizariam a Europa e o Oriente Médio. É nesse período que ocorre a legalização e oficialização do Cristianismo por Constantino e Teodósio, o desenvolvimento do Império Romano do Oriente, as migrações germânicas e o surgimento e expansão do Islamismo. Como você pode notar, trata-se, portanto, de um período no qual se entrelaçam processos de declínio de antigas estruturas concomitantes com o surgimento de novas. Na Antiguidade Tardia, deu-se também o longo processo de transformação no antigo sistema escravista para o sistema feudal no Ocidente da Europa, enquanto que o Império Romano Oriental se reformularia e se manteria como baluarte da tradição grega e cristã no Oriente. Ainda que Bizâncio - ou o Império Bizantino - tenha sido chamado de “Império Romano do Oriente”, algumas características VOCÊ O CONHECE? 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 4/32 diferenciam-no do Império Romano da Antiguidade e de sua contraparte Ocidental, permitindo considerá-lo como uma unidade política própria e diferenciada. E a seguir você irá acompanhar o que fez o Império Bizantino ser considerado único. 1.1.2 Império bizantino: singularidades na política e religião No Império Bizantino, havia uma interferência maior e constante do poder secular sobre o religioso e uma mistura das esferas, em uma medida muito maior do que no próprio Ocidente. Essa informação pode lhe parecer controversa devido às noções de senso comum que temos sobre as interferências entre fé e governo durante toda a Idade Média Ocidental. O imperador bizantino interferiu em assuntos da Igreja em mais de uma ocasião. E não se tratava de uma interferência política simples, um apontamento de cargo ou de algum ente privilegiado seu em posição importante na hierarquia da Igreja, como aconteceria com frequência no Ocidente (SHERRARD, 1970). Falamos aqui de uma interferência a nível teológico, ou seja, o imperador bizantino se propunha a discutir diretamente com os homens da Igreja sobre temas especificamente teológicos e, às vezes, até mesmo filosóficos. Em dois momentos significativos o imperador de Bizâncio posicionou-se contrariamente ao uso de imagens nos cultos, o que ocasionou divisão e revoltas no Império e, principalmente, na capital. Essa característica, aliás, nos lembra de outro diferencial muito significativo da cultura e do pensamento bizantino: seus problemas teológicos, quando comparados com o Ocidente, eram profundos, abstratos e filosóficos. Isso não significa que no Ocidente não se usasse a razão e não se pensasse sobre a fé. O debate, no entanto, possuiu por muito tempo fronteiras e limites muito bem definidos, principalmente após o papado de GregórioI, “o Grande” (MUCENIECKS, 2013). VOCÊ SABIA? Teocracia e Hierocracia são os dois conceitos fundamentais usados para explicar os sistemas de governo medievais. Teocracia (de Theokratos, governo de Deus), diferentemente do conceito popular, não significa a Igreja tendo primazia sobre o Estado, mas o contrário: o diferencial é que o rei ou imperador é considerado o eleito, ou ungido do Senhor e, desta forma, seu governo e autoridade 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 5/32 vêm diretamente de Deus. Já por Hierocracia (de Hierokratos, governo do sagrado) se compreende um sistema no qual os homens da Igreja têm autoridade acima da dos reis e governantes, interferindo decisivamente nas tomadas de decisão e políticas do reino (SOUZA, 1995). O Império Bizantino englobava não apenas as regiões do surgimento do Judaísmo e Cristianismo, mas também áreas em que surge a filosofia grega. Bizâncio via-se e pode ser considerada sem sombra de dúvida como herdeira dos antigos gregos. Não apenas a língua grega foi preservada e permaneceu sendo usada por toda a sua história, mas alguns dos principais problemas filosóficos e teológicos surgidos no início da Era Cristã foram pensados, debatidos e, algumas vezes, solucionados. A grande ruptura da Cristandade nos primeiros séculos entre nicenos e arianos se deu ali. Não se preocupe com esses termos, pois em breve você saberá o que significam e o seu papel. Por hora, basta ter em mente que se trata de uma divisão teológica ocorrida nos primórdios da Igreja Cristã institucionalizada. Um problema constante que Bizâncio lidaria era a ameaça de grandes impérios em suas fronteiras. Você pode observar que o Império no Ocidente se esfacelou em uma grande quantidade de reinos e, já de início, há uma diferença no ponto de partida de observação que fazemos. Bizâncio era uma unidade política, enquanto que o Ocidente, não. As fronteiras do Ocidente eram vagas, e o “Ocidente medieval” - uma definição mais vaga ainda - era dividido internamente. Em raríssimas ocasiões alguma força externa política se apresentaria como uma ameaça a todo o Ocidente. De fato, ameaças de fora eram usualmente enfrentadas pelos reinos próximos, como no caso do enfrentamento entre francos e muçulmanos nas fronteiras ibéricas da Europa, as migrações magiares vindas do Oriente ou mesmo os ataques vikings (LE GOFF, 2005). Observe o mapa a seguir e repare que o Império Bizantino era uma unidade política e não uma série de reinos esparsos. Abrangia, ao menos de início, um território amplo, mas provido de fronteiras igualmente amplas com grandes poderes externos. No decorrer de sua história tumultuada, Bizâncio teve de lidar com o Império Persa, com os califados islâmicos, com os reinos búlgaros e da Rússia de Kiev, dentre outros. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 6/32 Essa peculiaridade do Império de Oriente influenciou em outra característica marcante: os imperadores bizantinos tornaram-se conhecidos como mestres da diplomacia, muito hábeis no uso de estratagemas e alianças diplomáticas. Em alguns momentos, chegavam a fazer o que chamamos de “jogo duplo”, isto é, negociavam com dois inimigos simultaneamente, às vezes tentando jogá-los um contra o outro ou extraindo vantagens de ambos os lados. Você pode encontrar um exemplo disso na Primeira Cruzada (1095-99). O imperador bizantino Aleixo I Commeno (1048-1118) negociou com os turcos seljúcidas e com os cruzados a fim de reconquistar a cidade de Nicéia, mas também para evitar que fosse saqueada pelos cruzados do ocidente. Além disso, algumas características secundárias oferecem um panorama todo próprio ao mundo Bizantino, principalmente em relação a sua sociedade. 1.1.3 Sociedade: verdes e azuis A relação dos governantes com o povo espelhava ações já vistas no Ocidente, como a política de “pão e circo”. No caso do Oriente, o hipódromo era o grande instrumento de manipulações imperiais da populaça, isto é, da plebe, e suas tentativas de obtenção do apoio popular. A relação do imperador com súditos, Figura 1 - Mapa do território de Bizâncio na época de Justiniano (c- 565). Fonte: WELLS, 2011, p. 19. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 7/32 adversários e inimigos, no entanto, ia a extremos. São notórias as diversas manifestações de uso exagerado da força física como, por exemplo, cegar inimigos derrotados, tatuar a testa de hereges e cauterizar mãos de artistas. O hipódromo, aliás, particularmente as corridas de bigas, geraria uma divisão de facções também espelhada do Império Romano do Ocidente, que seria de influência duradoura na História Bizantina: os verdes e os azuis. Os autores divergem sobre o que caracteriza de fato estas facções. Parte da discussão concorda da origem nos extratos sociais: os azuis seriam originalmente formados por aristocratas, enquanto os verdes seriam, em sua maioria, parte do povo de extrato social mais baixo, podendo ainda haver entre estes grupos diferenças religiosas e cristológicas. Como traz Ruppenthal Neto (2012), o fato é que estas distinções de origens acabariam por se diluir, mas ainda assim a divisão seria fortemente atuante em momentos importantes da história bizantina, como as revoltas de Focas e Nika, tendo relevância e participação política (ANGOLD, 2002). É difícil compreender de forma clara o que representam essas divisões. Explicações de senso comum tentam usar os verdes e azuis como espécies de torcidas de futebol, mas a abrangência da atuação das facções atingiu em vários momentos a influência política. Agora vamos abordar em maior detalhe as principais fases e características do Império Bizantino. 1.2 Dos Constantinianos aos Teodósios (séc. IV a V): da oficialização do Cristianismo às reestruturações imperiais Não há consenso sobre quando é possível afirmar que o Império Bizantino adquire um caráter distinto do Império Romano no Ocidente e seja considerado uma entidade própria. Há consenso, no entanto, em relação ao papel de Constantino (272-337), responsável por medidas importantes no campo político e religioso que foram de extrema relevância e definição para a transição do Império Romano da Antiguidade para sua contraparte oriental. Para isso, é necessário conhecer a trajetória de Constantino ao poder. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 8/32 1.2.1 Constantino chega ao poder Constantino nasceu, provavelmente, em 272 na cidade de Naissus (atual Niš, na Sérvia), província romana da Moésia superior. Era filho do oficial romano Flávio Aurélio Constâncio, que se tornou César do Ocidente em 293. A esta altura, o Império estava dividido por Diocleciano em quatro partes, sistema de governo conhecido como Tetrarquia. Na Tetrarquia, o Império estava dividido em duas partes no Ocidente e no Oriente. Estas duas partes, por sua vez, eram divididas cada uma em duas partes menores. As divisões maiores seriam governadas por dois Augustos: um no Ocidente e o outro no Oriente. Esses Augustos eram auxiliados por dois Césares, que governam as divisões menores. Flávio, pai de Constantino, anteriormente César, subiria à posição de Augusto do Ocidente, mas falecera em 306. Quando isso ocorreu, Constantino servia ao exército estacionado em Eboracum – atual York, na Inglaterra -, e foi aclamado como imperador. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 9/32 Figura 2 - Estátua de Constantino ao lado da York Minster, no suposto local de sua aclamação como Imperador.Fonte: travellight, Shutterstock, 2017. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 10/32 Constantino travou na década que se seguiu uma série de batalhas contra os outros governantes, Maxêncio e Licínio, intentando tomar o governo de todo o Império Romano para si. O clímax dessas disputas deu-se no ano de 312 na Batalha de Mílvia. Ali, o exército de Constantino usou um símbolo desconhecido para os demais, uma cruz com as letras gregas Chi (Χ, χ) e Ro (Ρ, ρ). Segundo Lactâncio (ca. 250 - ca. 325), conselheiro de Constantino, o imperador tivera um sonho no qual vira o símbolo citado. Você consegue decifrar o símbolo? Para Lactâncio, as letras eram as iniciais gregas do nome de Cristo que os católicos, posteriormente, chamariam de Crisma. Já Eusébio (ca. 260-340), narra uma versão ligeiramente diferente do ocorrido. A visão de Constantino ocorrera em plena luz do dia e ele vira uma cruz nos céus que continha o símbolo com a mensagem In Hoc Signo Vinces (“vencerás por este símbolo”). Na noite seguinte, o próprio Cristo teria aparecido ao imperador em sonho, instruindo-o a fazer seu estandarte com o símbolo visto. O que se sabe com certeza é que Constantino, apesar de comandando forças em menor número que Maxêncio, venceu a batalha, entrando vitorioso em Roma e tomando várias medidas para consolidar seu poder. No ano seguinte (313), Constantino promulgaria o chamado Edictum Mediolanense, o Edito de Milão. Não há certeza de que houve, de fato, uma publicação formal com tal nome, pois os textos que restaram discordam entre si. Pelo edito, o Cristianismo ganhou status legal dentro do Império e passou a ser tratado de forma benéfica (FREND, 1982). Você precisa ter em mente que a despeito da compreensão errônea de senso comum, o edito não tornou o Cristianismo a religião oficial do Império Romano, mas tentou reparar os danos feitos pelas perseguições de até então, tomando medidas como a defesa da liberdade religiosa e a restituição de propriedades. Antes de ser um ato de um imperador cristão, o edito foi uma medida de busca de estabilidade por um imperador hábil. O paganismo greco-romano tradicional não foi perseguido, suprimido ou prejudicado, ao menos inicialmente (LATOURETTE, 2006). 1.2.2 Mudanças religiosas e políticas no Império Na década de 320, surgiria uma grande dissidência na Cristandade conhecida como Arianismo. O bispo Ário (ca.250-336), de Alexandria, defendia que Cristo não era Deus e teria sido criado por ele. Qualquer doutrina similar à trindade implicaria em politeísmo e na existência de três deuses, segundo a concepção do bispo. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 11/32 Veja que a esta altura a doutrina cristã da trindade comum hoje em dia ainda não fora formulada. Compreendia-se Cristo como Deus, mas as definições mais elaboradas da doutrina seriam postuladas por Santo Agostinho em décadas posteriores. Na cidade de Niceia, Constantino patrocinou um concílio - uma reunião dos eclesiásticos de todo o Império Romano - a fim de decidir qual posição deveria ser considerada ortodoxa. O acontecimento é um dos marcos mais importante na história da Igreja, pois, ainda que outras reuniões de bispos já tivessem ocorrido, nada com essa amplitude fora realizado até então No decorrer da História do Cristianismo, a prática de se efetuar concílios para resolver questões complexas, principalmente doutrinárias, foi consolidada. O objetivo era oferecer uma visão do que consistiria a posição ortodoxa da Igreja em relação a tais questões. No Concílio de Niceia (325), portanto, se lidou com o Arianismo e com temas menores como as definições da lei canônica. O Arianismo foi declarado heresia e a posição ortodoxa, considerando a divindade de Cristo enquanto filho de Deus, seria chamada de ”nicena”. A decisão, no entanto, não foi aceita unanimemente e os arianos mantiveram muito de sua força. Poucos anos após Niceia, líderes arianos aproximaram-se de Constantino e conseguiram retomar posição de proeminência. Alexandre de Alexandria, um dos grandes nicenos, faleceu em 328, e outros líderes relevantes na determinação da ortodoxia nicena, como Atanásio, foram perseguidos. Em 330, Constantino tomou outra medida de impacto duradoura na história do Império Romano de Oriente. Você sabe do que se trata? Pois foi a transformação do pequeno entreposto comercial de Bizâncio na nova capital do Império, que agora passaria a se chamar Constantinopla, a pólis de Constantino. Uma característica importante da nova capital era sua localização geográfica. Estava próxima das fronteiras romanas no Danúbio, sob ameaça dos bárbaros, ao mesmo tempo em que se encontrava distante o suficiente de Roma, Ravena e outras cidades com forte presença da aristocracia antiga romana, que lutava entre si em busca de poder. Para alguns autores, como Angold (2002), esse foi o ato fundador do Império Bizantino. Você deve ter em mente que da fundação de uma nova capital à aceitação foi um grande salto. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 12/32 A implantação desse projeto foi incompleta. A própria cidade fora construída apressadamente com o foro principal e algumas ruas. Constantino morreu em 337 e tanto o fortalecimento da posição da nova capital quanto às novas definições religiosas levaram anos para serem concluídos. Com a morte de Constantino, o governo foi dividido entre seus filhos, que lutariam entre si pelo controle do Império. Dessa luta fraterna, Constâncio II acabou sendo o vencedor e é o nome que você deve se lembrar. Ele governou de 337 a 361 como imperador no Oriente, mas sua posição no Ocidente foi sempre desafiada. Note que, apesar da duração de seu reinado, seu governo foi turbulento, tendo de lidar frequentemente com tentativas de usurpações do poder e ameaças externas. Podemos destacar do governo de Constâncio que ele manteve Constantinopla como capital e ampliou-a, construindo igrejas e tentando torná-la substituta de Roma (ANGOLD, 2002). Também defendeu a unidade, favorecendo arianos, perseguindo nicenos, retirando bispos de suas sedes e forçando o bispo de Roma a assinar uma confissão ariana. O imperador enviou Wulfilas, que era ariano, como missionário para os godos. Foi sob o seu governo que o niceno Atanásio seria exilado por três vezes. O imperador morreu de febre em 361, e o império entrou em novo período de turbulência. As reviravoltas ocorridas são de certa forma surpreendente. Quanto aos próximos imperadores, o paganismo seria restaurado e o Cristianismo perseguido (Juliano, o apóstata - 361-63); o cristianismo voltaria à primazia com Joviano, que governaria oito meses, e Valentiniano I, imperador de 364-375, chegando-se finalmente ao governo no Oriente de Valente, 364 a 378 (LATOURETTE, 2006). Figura 3 - Constantinopla (atual Istambul) - ponte entre as partes europeia e asiática da cidade contemporânea. Fonte: Mikhail Starodubov, Shutterstock, 2017. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 13/32 Valente - que usava Antioquia, e não Constantinopla, como capital - enfrentou uma rebelião levantada por Procópio, primo do falecido Juliano, e teve de lidar constantemente contra godos e persas. Em 375, tribos godas derrotadas pelos hunos buscaram asilo no território romano. Seus líderes conseguiram a aprovação do imperador para cruzar o Danúbio, entrando em território romano, mas os godos foram tratados pelos comandantes romanos de forma degradante, desonrosa e desonesta, o que resultou em revolta generalizada (AMMIANUS MARCELINUS, 1935). O episódio culminou na Batalha de Adrianópolis, ocorrida em 378,onde dois terços do exército romano foram destruídos e o imperador Valente, morto. Seu sobrinho, Graciano, que a esta altura governava o Ocidente, não quis o governo também a Oriente, e no ano seguinte apontou a Teodósio como novo imperador do Oriente. Até o momento você acompanhou uma sucessão de desastres, mas vamos encerrar com alguns imperadores que resgataram um pouco da glória antiga. 1.2.3 Dinastia Teodósia: principais pontos do Império A dinastia Teodósia (379-457) consolidou o legado de Constantino I. Podemos destacar Teodósio I (347-395), também conhecido como “o Grande”, que governou o Império a Oriente de 379 a 395, e a Ocidente de 392 a 395. Teodósio I foi o último imperador a governar tanto oriente quanto ocidente. O imperador conteu os godos e voltou a usar Constantinopla como capital, além de expandi-la. Promoveu a unidade com a convocação de um concílio, em 380, em Constantinopla. Ali, as definições tomadas em Niceia foram reafirmadas e, portanto, o Arianismo declarado definitivamente heresia. No mesmo concílio, o Macedonismo, doutrina que considerava o Espírito Santo como um ser criado, também foi refutado, consolidando-se, dessa forma, a Doutrina Cristã da Trindade, que afirma que Deus Pai, Deus filho e Deus Espírito Santo são um só. O concílio também elevou Constantinopla a sede da Igreja, fazendo-a a rivalizar diretamente com Roma. Por fim, o mérito da oficialização do Cristianismo niceno à religião de Estado se deve a Teodósio, em um processo que iniciou em 381 e finalizou em 392 e incluiu perseguição aos arianos (BLOCKMANS; HOPPENBROUWERS, 2012). Grave que com a morte de Teodósio I a divisão entre Império de Ocidente e Oriente consolidou-se em definitivo. Arcádio (377-408) e Honório (384-423), filhos de Teodósio, governariam o Império, respectivamente, a leste e a oeste. O governo de ambos foi caracterizado por fraqueza e indecisão. Com Honório, Roma foi saqueada 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 14/32 pela primeira vez pelos visigodos; pelo comando de Alarico, o governo de Constantinopla foi largamente dominado pelos ministros de Arcádio e por sua esposa Eudóxia. Finalmente, outro nome de destaque da dinastia é Teodósio II (401-450). Sob seu governo foi fundada, em 425, uma universidade em Constantinopla, na qual se escreveu o Código Legal Teodosiano, uma coletânea das leis desde os tempos de Constantino I efetuada de 429 a 438. Também durante o seu governo ocorreram controvérsias teológicas referentes à pessoa de Cristo, como o Nestorianismo. Por fim, você deve saber que foi Teodósio II quem estabeleceu os limites de Constantinopla, construindo uma segunda muralha, em adição a que já havia, e ampliando dessa forma o espaço da capital. Quando Teodósio II faleceu em um acidente de corrida, sua irmã Pulcheria casou-se com Flávio Marciano, que assumiu o trono, mas morreria sem indicar sucessor, encerrando dessa forma a dinastia Teodosiana. Marciano fortaleceu o império a Oriente, mas isolou-se no Ocidente no momento em que estava sob a ameaça de Átila, o Huno. Figura 4 - As muralhas de Teodósio II foram construídas com objetivo de ampliar o território da capital Constantinopla. Fonte: steve estvanik, Shutterstock, 2017. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 15/32 VOCÊ SABIA? O Nestorianismo foi uma heresia cristã de proeminência no século IV. Predominante na Igreja Cristã persa, nesse período, foi considerado heresia após o Concílio de Éfeso, ocorrido em 431 durante o governo de Teodósio II. Também conhecido como “doutrina das duas pessoas”, ensinava que Cristo teria duas naturezas distintas, divina e humana, não unidas, em oposição à fé nicena, que considerava que Cristo era, simultaneamente, homem e Deus. Para o nestorianismo, quando considerado humano, Cristo seria filho de Deus apenas por adoção e Maria, antes de “Mãe de Deus”, deveria ser conhecida como “Mãe de Cristo” (SIMÕES, 2009). Com isso, podemos resumir a dinastia Teodosiana da seguinte maneira: após Arcádio e Honório, a história do Império Romano será marcada pelas guerras com os hunos e os eventos levarão à queda definitiva do Império Ocidental. É importante você compreender que apesar da relevância da dinastia Teodósia na consolidação do processo iniciado por Constantino, boa parte de seu legado foi atingido por meio dos primeiros e últimos governantes, Teodósio I e Teodósio II. Após os Teodósios, o Império Romano do Oriente segue um caminho definitivamente à parte do Ocidente. 1.3 Dos Justinianos (VI) à dinastia Macedônia (Séc. XI): o ápice do novo Império e os conflitos com o Ocidente Podemos afirmar que o período entre as dinastias dos imperadores Justiniano a Heráclio se manifestaram características muito específicas de Bizâncio, diferenciando, em definitivo, o império do Antigo Império Romano. Apesar do nome da dinastia dos Justinianos, seu primeiro imperador foi Justino I (450-527). Vamos estudar, no entanto, seu sobrinho, nome de maior destaque e relevância. 1.3.1 Dinastia Justiniana: os quatros eixos da restauração romana Justiniano (ca. 482-565 ) foi imperador desde o ano de 527, após a morte de seu tio Justino. Em 467, a cidade de Roma caíra em definitivo com a invasão de Odoacro, rei dos hérulos. Desta forma, Justiniano, ao assumir o trono, empreende uma política 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 16/32 de restauração do Império (renovatio imperii), por meio de quatro eixos principais (BLOCKMANS; HOPPENBROUWERS, 2012). Em primeiro lugar, Justiniano ocupou-se da recuperação de territórios perdidos. Na região leste, manteve a política pautada na diplomacia a fim de evitar a perda de ainda mais território para os persas sassânidas. VOCÊ SABIA? Entre as dinastias dos Teodósios e dos Justinianos, encontra-se a dinastia dos Leônidas, que durou de 457 a 528. Nesses anos, o Império Romano a Ocidente cairia em definitivo, mas o Oriente tinha outras preocupações tanto externas quanto internas para lidar. Externamente, Bizâncio lidou contra os persas, atingindo finalmente a paz na década de 460, tendo também interferido na situação da cidade norte-africana de Cartago, conquistada pelos vândalos. Internamente, os imperadores tiveram que lidar com uma crise financeira e econômica, promovendo reformas monetárias. No ocidente, atacou e conquistou o reino dos vândalos na África do Norte e lutou no leste da Hispânia. O foco da atuação em sua política de recuperação territorial foi a Itália. O imperador do leste pretendia recuperar a Itália, em especial Roma, que se achavam dominadas dos ostrogodos e, a partir de 535, iniciaria uma série de batalhas que perdurariam por 20 anos, esgotariam os recursos imperiais e devastariam o país. Você pode encontrar referência a este momento como as “Guerras Góticas”. Por ocasião de sua morte, os lombardos invadiriam uma Itália completamente enfraquecida, não conquistando apenas as cidades de Roma e Ravena. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 17/32 Figura 5 - Representação de Justiniano I, em mosaico, na Basílica de San Vitale, Ravena, Itália. Fonte: mountainpix, Shutterstock, 2017. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 18/32 O segundo eixo praticado por Justiniano está ligado ao primeiro. O imperador adotou uma política econômica de apoio ao aparato militar. Você pode perceber que, de forma complementar a política de recuperação de territórios perdidos, Justiniano empreenderia também guerras de conquistae expansão, particularmente na Península Balcânica, atacando um novo grupo de bárbaros, os eslavos. Justiniano patrocinou também a empreitada de grandes construções e da vinda de suprimentos de grãos para a capital com o intuito de fortalecê-la. Outro eixo adotado se encontra no campo da lei. A exemplo de Teodósio, Justiniano promoveu a codificação da legislação romana e também a sua elucidação e explicação. Desta forma, outra coletânea legal, o Corpus Iuris Civilis, foi compilada, na qual não apenas a lei escrita, mas também a autoridade da tradição foi validada. Codex Iuris Civilis, usualmente citado em português como “Código Justiniano”, é a codificação e compilação da lei romana comissionada por Justiniano e levada a cabo por uma série de eruditos. É formado por cinco livros: o Código Antigo, Digesto, Institutas, Código Novo e as Novelas. Você pode encontrar esses livros traduzidos para o português, espanhol ou inglês em várias lojas virtuais. Também é possível encontrar gratuitamente edições dos originais latinos em sites como o da Universidade Grenoble (KRUGEN; MOMMSEN, 1868-1954): <https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/corpjurciv.htm (https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/corpjurciv.htm)>. Por fim, o último eixo de ação que você deve conhecer está ligado à igreja. Como seus sucessores de maior sucesso, como Constantino I e Teodósio I, Justiniano empreendeu um grande esforço na manutenção da unidade religiosa. Para tanto, fortaleceu os laços existentes entre a Igreja e o Estado, colocando-se como líder máximo da igreja. Algumas medidas apresentavam-se como demonstrações públicas da relação do imperador com a Igreja, como as reformas e as ampliações feitas na Igreja de Santa (Hagia) Sofia. Além disso, devemos citar que minorias e seitas foram perseguidas (ANGOLD, 2002). Com a morte do imperador em 565, seus sucessores não foram capazes de manter as mesmas políticas de forma satisfatória mesmo porque, como você pode imaginar, a atuação de Justiniano foi bastante pesada para os cofres públicos e teve o potencial de exaurir os recursos financeiros do Império. VOCÊ QUER LER? https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/corpjurciv.htm https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/corpjurciv.htm 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 19/32 1.3.2 Conflitos internos e externos do Império Durante o próprio reinado de Justiniano eclodiu a chamada Revolta de Nika, com estopim durante uma corrida de cavalos, mas cujas razões encontravam-se na alta carga tributária e nas baixas condições de vida de grande parte da população. Em adição, outros problemas e situações apresentavam-se aos imperadores, o que proporcionou o rápido declínio do Império. Apenas em poucos pontos do Ocidente fazia-se valer a autoridade do Imperador do Oriente, como os arredores das cidades de Ravena, Roma e Bari. Nestas localidades, se criaria posteriormente a figura dos exarcas. VOCÊ SABIA? O cargo de exarca ou exarco (do grego ἔξαρχος) foi instituído pelo imperador bizantino Maurício (539-602). Exarcas eram os governadores apontados pelo Imperador Romano do Oriente sobre as províncias ocidentais de Ravena, na Península Itálica e Cartago, no norte da África, que seriam chamadas de “exarcados”. Você se lembra dos verdes e azuis? E qual o papel desses dois grupos nessa parte da História? Com Maurício (539-602), imperador de 582 a 602, eclodiu a chamada Revolta de Focas, com participação das duas facções. (ANGOLD, 2002). O imperador ordenara que as legiões permanecessem durante o inverno na fronteira do Danúbio, mas o exército encarou a ordenança negativamente, se recusando a cumprir o mandato e se amotinando. As legiões aclamaram seu líder, o centurião Focas, como o novo imperador. As notícias do motim no exército não tardaram a chegar à capital, onde as facções do hipódromo apoiaram às legiões e seguiram seu exemplo, se rebelando e apoiando Focas. Com isso, não apenas o imperador Maurício, mas também seus familiares foram executados. O resultado foi catastrófico, destruindo o pequeno avanço que Maurício fora capaz de obter no governo do Império. Os eslavos e ávaros voltaram a pressionar o Império, invadindo o Peloponeso e diminuindo drasticamente a relevância das 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 20/32 antigas pólis gregas, com a fuga de muitos habitantes da região, principalmente de Esparta. O processo gerou uma grande descentralização populacional em paralelo com o colapso da vida urbana. Dali para frente, Constantinopla permaneceria como a capital imperial, cercada de uma rede de cidades irrelevantes. A situação com os persas também sofreria um revés e renovariam a guerra com o Império. Focas governaria até 610, quando Heráclio, o exarca de Cartago, tomaria o poder, governando até 641 e estabelecendo uma nova dinastia. Apesar de Heráclio obter apoio do Patriarca Sérgio e da facção dos verdes, a tarefa de manter o Império frente aos inimigos externos foi impossível. Note que nos anos seguintes, região após região do império foi perdida. Os persas capturaram Damasco em 613, Jerusalém em 614, e o Egito em 619. Dessa maneira, Bizâncio perdeu controle total das províncias orientais para os sassânidas, que incluíam locais de forte poder no imaginário popular por conterem os lugares sagrados da cristandade e do Judaísmo. Em 626, Constantinopla foi cercada por ávaros e persas e nos anos que se seguiram surgiu um novo poder no oriente: os islâmicos. Em 634, a Síria foi conquistada pelos islâmicos. Em 636, Damasco cairia e, finalmente, em 638, Jerusalém seria conquistada pelos muçulmanos. Os árabes não parariam por ali, conquistando o Egito, que produzia parte considerável dos grãos para o Império Bizantino, entre 639 e 642, e a própria Mesopotâmia e Pérsia entre as décadas de 630 a 650. Você pode perceber que a situação de Bizâncio deteriorava-se cada vez mais. Se por um lado o Império Persa fora conquistado, em compensação as perdas territoriais pelas quais o Império Bizantino passou nunca seriam contornadas. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 21/32 Os heráclios subsequentes não puderam melhorar a situação imperial e quatro imperadores principais se sucederam no governo até o ano de 695, em vários momentos governando conjuntamente com coimperadores. Entre 695 a 717, Bizâncio entrou em um estado de guerra civil conhecido pela historiografia como “período anárquico dos vinte anos”, após o que um novo Império emergiria muito menor territorialmente, mais militarizado e agrário, e ao mesmo tempo mais homogêneo e coeso. Nesse século, a divisão antiga romana em provinciae (províncias) seria substituída pelas themata (θέματα), baseadas nos acampamentos dos exércitos e na área por eles defendidas. 1.3.3 Outras dinastias de destaque As dinastias subsequentes governaram por períodos mais curtos de tempo. São elas: Dinastia Isáurica ou Isauriana (711-802): seus governantes defenderam o Império contra subsequentes expansões dos califados islâmicos umíada e abássida. Enfrentaram também problemas no Ocidente, particularmente nos Balcãs, com os povos eslavos. Durante o governo dos isaurinos surgiu o primeiro momento de iconoclasmo em Bizâncio (ca.717 - 787). Merecem Figura 6 - Mapa de Bizâncio mostra as expansões dos árabes, búlgaros, ávaros e eslavos no território do Império. Fonte: BELTRÃO, 2000. p. 20. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 22/32 destaque os imperadores Leão III e Constantino V. A última governante da dinastia foi Irene que, regente nas décadas anteriores, foi imperatriz de 797 a 802. Noano de 800, Carlos Magno foi coroado imperador em Roma pelo Papa Leão III, o que gerou controvérsia em Constantinopla e a reivindicação de que Roma reconhecesse à imperatriz como legítima, ainda que Carlos Magno não reivindicasse o trono no Oriente. Em adição, Carlos Magno era considerado, se não herético, ao menos heterodoxo pela Igreja no Oriente, por seu apoio à cláusula filioque no credo niceno. Dinastia dos Nicéforos (802-13), Leão o Armênio (813-820) e dinastia dos Amorianos (820-867): os Nicéforos (802-13) encontraram o Império em posição enfraquecida e precária, marcado por dificuldades financeiras e constantes guerras fronteiriças. Em adição, a Igreja bizantina encontrou dificuldades e discordâncias com o papado Ocidental e o Império Carolíngio, pelas razões que você estudou no tópico anterior. Leão, o Armênio (813-20) não é componente de nenhuma dinastia, governando isoladamente. Em seu reino, o iconoclasmo retornou a Bizâncio. Por fim, sob a dinastia Amoriana ou Frígia (820-67), o iconoclasmo foi reinforçado por Miguel em 820 e encerrado por Miguel III em 842. Já sob os amorianos, a ilha de Creta foi perdida para os árabes, mas seus imperadores travaram guerras de reconquista da Sicília. Também ocorreu a primeira tentativa dos russos, em 860, povos do norte até então desconhecidos e que passarão a fazer parte fundamental da política bizantina. Dinastia macedônia (867-1056): com a dinastia macedônia você encerra o estudo desse tópico. O momento é considerado por alguns autores como uma espécie de renascimento do Império Bizantino, que levaria ao seu ápice sob o governo de Basílio II (976-1025). Por esta razão, alguns autores referem-se ao período como “renascença macedônia”. Em relação ao nível de pensamento, alguns dos imperadores do período destacaram-se como patronos de trabalhos enciclopédicos e históricos, como Constantino VII, Porfirogênito (913-59), que seria o autor da obra De administrando Imperio - “sobre o governo do Império”. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 23/32 Filioque e o Credo Niceno: “Filioque” é um termo que significa “e do Filho”. Por ocasião das diversas reelaborações do Credo niceno-constantinopolitano no século IV, a discussão sobre a natureza das três pessoas da trindade já criara muitas divisões na cristandade oriental. Uma das afirmações do credo afirmava que o Espírito Santo procedia do Pai. Na tradução ocidental latina do credo, acrescentou-se “filioque”, ou seja, o espírito procedia do Pai “e do Filho”. Esta pequena partícula, “que”, geraria uma discussão por muitos séculos entre as duas Cristandades.Veja aqui uma tradução para o português da Ecclesia (2003- 2017): <https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano .html (https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html)> . Pela primeira vez desde as conquistas islâmicas, iniciadas três séculos antes, os bizantinos seriam capazes de novamente expandir-se territorialmente. O estado de confronto com o mundo islâmico permaneceria, no entanto, uma nova aliança seria forjada pelos bizantinos que resultaria, antes de tudo, em uma conquista de grande monta para a Cristandade Oriental: trata-se aqui da conversão da Rússia de Kiev em 988. Após um período de cerca de duas décadas de enfrentamento, os rus, então governados por Vladimir, se tornariam os maiores aliados de Bizâncio durante o governo de Basílio II. Por fim, há a culminação de um processo que já se avizinhava desde os tempos dos nicéforos, no século IX, e mesmo antes, por ocasião dos movimentos iconoclastas, de discordância com o Ocidente. Durante o governo de Constantino Monomachos, entre os anos de 1042-1055, ocorre o chamado Cisma. No ano de 1054, legados do papa Leão IX foram enviados ao patriarca de Constantinopla, Miguel Celarius, que empregava o uso de “patriarca ecumênico”, reclamando que a autoridade universal do bispo de Roma fosse reconhecida por Miguel. O patriarca recusou-se a cumprir a demanda dos legados de Roma que em resposta o excomungaram. Diante disso, o patriarca excomungou-os também (CARVALHO, 2016). O evento ficaria conhecido como Cisma e você deve compreendê-lo como o ponto alto de uma série de discordâncias relativas a diversas situações que foram estudadas ao longo do capítulo. Essas situações incluíram: as alegações no Concílio VOCÊ QUER LER? https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 24/32 de Constantinopla I (380) de que a capital teria a primazia sobre as demais sedes; as discordâncias sobre a cláusula filioque; os movimentos iconoclastas bizantinos; e o reconhecimento do papa Leão III de que Carlos Magno, e não a imperatriz Irene, era imperador romano. 1.4 Dos Commenos (XI-XII) aos Paleólogos (XIII-XIV): das Cruzadas à conquista turca Os Comnenos e os Doukidas foram duas dinastias que não governaram uma após a outra em sequências ininterruptas. E o que isso quer dizer? Por meio de vários casamentos interdinásticos com os doukidas, angelidas e paleólogos, membros dos Comnenos podem ser encontrados nas listas de imperadores bizantinos desde o século XI até o século XIV. O principal período de governo dos Comnenos, no entanto, foi dos anos 1081 a 1185. O fundador da dinastia foi Isaque, que por meio de um golpe de estado derrubou Miguel IV “Bringas” em 1057, sendo proclamado imperador em seguida e governando apenas até 1059. Seu sobrinho Aleixo I Comneno seria o próximo da dinastia a governar, a partir de 1081. Entre os dois, quatro imperadores passaram pelo trono, a maior parte doukidas. A relação das duas dinastias foi marcada por golpes e conspirações, um padrão que se repetiria até o final do Império Bizantino e, como você deve deduzir, colaboraram definitivamente para o seu fim. 1.4.1 A dinastia dos Comnenos: poder e influência Aleixo I Comneno (1048-1118) foi o principal governante. Muitas das características que você acabou de ler sobre os Comnenos foram forjadas em seu reinado. Sua subida ao trono se deu através de golpes e conspirações que envolveram a dinastia dos Doukidas, dentre outras famílias de nobres bizantinos. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 25/32 Aleixo teve carreira militar de sucesso durante seu antecessor, Nicéforo III, e se aproveitaria de seu gênio militar nas mais de três décadas de seu governo. Descrito pelos latinos do ocidente como astuto governante, seus estratagemas foram responsáveis parcialmente tanto por seus sucessos quanto pela falta de continuidade destes mesmos sucessos. Ele transformou a dinâmica imperial bizantina, afastando-se de procedimentos burocráticos e adotando uma abordagem personalista, calcada em alianças com famílias de poder e influência. Se por um lado sua argúcia propiciou a execução de políticas que trariam cerca de um século de prosperidade a Bizâncio, por outro a Figura 7 - Isaque I Comneno, fundador da Dinastia dos Comnenos, retratado em mosaico. Fonte: Stig Alenas, Shutterstock, 2017. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 26/32 manutenção de privilégios pessoais apenas aos ligados à família imperial privaria a sistemática de governo de indivíduos mais capacitados para algumas funções pelo simples fato de não se encontrarem beneficiados na rede de relaçõesfamiliares. Durante o governo dos Comnenos uma nova potência externa alterou toda a dinâmica de poder não apenas nas fronteiras bizantinas, mas por todo o Oriente médio, planalto iraniano e Ásia Central: o estabelecimento e expansão dos turcos seljúcidas. Originários das estepes asiáticas, do ramo turco oghuz, a dinastia dos Seljúcidas, convertida ao islamismo, se expandiria pelas regiões do antigo Império Persa, tomando grande parte dos territórios ocidentais do Califado Abássida e do Império Bizantino. Em 1071, os Bizantinos foram derrotados na Batalha de Mazikert, na qual o imperador romano IV Diógenes seria capturado, o que permitiu uma penetração ainda maior turca na Ásia Menor. Ao mesmo tempo, Aleixo Comneno enfrentava normandos a oeste e petchenegues - outra tribo nômade das estepes euroasiáticas que também traziam problemas à Rússia de Kiev. Quando Aleixo subiu ao poder praticamente toda a península da Ásia Menor fora conquistada pelos turcos. O imperador foi capaz de assegurar os territórios costeiros, mas não mais que isso, e o Império estava reduzido praticamente à península balcânica. É nesse contexto que Aleixo envia o célebre pedido de ajuda ao Ocidente, que acabaria por influenciar decisivamente no início das cruzadas. As cruzadas tiveram o potencial de restabelecer as relações entre Ocidente e Oriente, mas acabaram por ter consequências funestas para Bizâncio. Num primeiro momento, as sucessivas levas de cruzados foram de considerável auxílio para a manutenção e mesmo restauração de parte do poder bizantino na Ásia Menor. Aleixo agiria com astúcia em diversas situações, procurando evitar que os ocidentais se tornassem um problema ainda maior para Bizâncio do que os próprios turcos. 1.4.2 Os últimos imperadores dos Comnenos O governo de Aleixo e seus sucessores imediatos são considerados como a Restauração Comnena. Outros problemas com os quais Aleixo lidou em seu turbulento reinado incluíram uma reforma monetária e a heresia dos paulicianos e bogomilos. Seu filho João II (1087-1143) não apenas lidaria satisfatoriamente com os turcos como derrotaria decisivamente os petchenegues, sendo considerado por vezes um governo de maior sucesso do que de seu próprio pai. O próximo Comneno, Manuel I (1118-1180), seria o último dos Comnenos de sucesso, e chegaria ao ponto de tentar restabelecer a união das duas cristandades. 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 27/32 Com os governantes subsequentes, Bizâncio caminhou novamente para um estado de declínio: Aleixo II (1169-1183), Andrônico I (1180-1185) tiveram governos curtos e efêmeros, os últimos do grande período dos Comnenos. Andrônico teve morte terrível, amarrado a um poste por seu rival Isaque II Angelos, espancado, tendo sua mão cortada, dentes e cabelos arrancados pela população, e água fervente lançada sobre si. CASO Os Angelidas e a Quarta Cruzada A tradição dos Comnenos de personalizar o governo, diminuir o peso da burocracia estatal e criar uma rede de poder altamente personalizada ligada a privilégios e gerida por meio de intrigas e manipulações acabaria por gerar seu ônus para Bizâncio. O preço da política se faria sentir logo na dinastia sucessora, os Angelidas. Isaque, seu fundador, teve reputação de incompetente, dissoluto e ineficaz, que gastaria muitos recursos públicos levianamente e sob quem Bizâncio perdera muito território; no final, seria deposto e preso. No governo de seu sucessor, Aleixo III (1153-1211), o desastre se precipitaria. Organizou-se no ocidente a quarta cruzada, que seria levada a cabo em 1204 e cujos objetivos originais, organizada diretamente pelo papa Inocêncio III, eram atacar o Egito. Os cruzados, no entanto, atuaram de forma diferente. Aleixo IV, filho do deposto Isaque, fugira de Constantinopla e, por intermédio dos mercadores de Veneza, negociou com os cruzados que, ao invés de se dirigirem para o Egito, atacaram e devastaram Constantinopla. Aleixo III foi libertado da prisão e recolocado no trono, mas não teve condições de atender às demandas dos cruzados, que acabaram por fundar o Império Latino de Constantinopla, de 1204 até 1261. As casas governantes bizantinas organizarem-se e manterem resistência, principalmente por meio do estabelecimento do Império de Nicéia e o Império de Trebizonda na Ásia Menor, e o Despotado do Epiro nos Balcãs, o Império Bizantino não se recuperaria totalmente do golpe sofrido. Os três reinos greco-bizantinos alegavam legitimidade em relação a Bizâncio e chegaram a lutar entre si, mas foi o Império de Nicéia que conseguiu retomar Constantinopla, sob o comando da família dos Laskarides. Você tem aqui, portanto, um exemplo dramático de como a desconsideração das instituições levaram ao declínio irreversível de um império milenar. O general Miguel IV Paleólogo (1223-1282), também chamado de “o usurpador”, foi em grande parte responsável pela retomada de Constantinopla e pela restauração do Império Bizantino, e fundaria a dinastia dos Paleólogos, a última casa real de Bizâncio. O período da dinastia dos paleólogos foi conturbado politicamente, mas é 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 28/32 considerado por diversos autores como um momento de significativa renovação artística e cultural. Você deve compreender que nos séculos finais de Bizâncio ocorreu uma verdadeira Renascença cultural que precedeu a Renascença Italiana. A este renascimento deu-se o nome de renascença paleóloga, quando os sábios bizantinos efetuaram um momento de busca de seus ancestrais e das obras gregas da antiguidade (WELLS, 2011). Mas não se engane, pois politicamente a situação não acompanharia o desenvolvimento intelectual e a situação bizantina era decadente. 1.4.3 O enfraquecimento do Império e as consequências O Império contava com inimigos externos como os turcos, governados pela dinastia Otomana a partir de 1299, Gênova e Moscou. Os paleólogos chegaram a se tornar vassalos dos turcos no governo de João V (1332-1391), a partir de 1371, até Manuel II (1350-1425), de 1391 a 1425. Os três imperadores finais de Bizâncio foram Manuel II (1392-1448), João VIII (1392- 1448) e Constantino XI (1405-1453). Constantino morreu durante o sítio e conquista de Constantinopla, levada a cabo por Mehmed II em 1453. Demetrio (1407-1470), Tomas (1409-1465) e André (1453-1502) reivindicariam ainda o direito ao trono de Bizâncio, procurando obter apoio no Ocidente para retomá-lo, mas nada se pode fazer. João VIII tentaria promover a reunião das igrejas proposta pelo papa Eugênio IV, participando do Concílio de Ferrara em 1438 com um grande séquito que incluía o patriarca de Constantinopla e representantes das sedes de Antioquia, Alexandria e Jerusalém. As questões antigas do cisma, e principalmente a cláusula do filioque, foram fortemente debatida, e os eclesiásticos recusavam-se a estabelecer um consenso, ainda que pressionados pelo imperador em prol de uma reconciliação. O concílio se transferiria para Florença no ano seguinte e, a despeito de um acordo o assinado pelo patriarca José II de Constantinopla, muitos dos gregos discordaram da decisão. A participação grega no concílio marcou também outra ruptura dentro do próprio mundo ortodoxo, desta feita da parte de Moscou, que passaria a se considerar o último bastião da ortodoxia e a terceira Roma (WELLS, 2011). A queda de Constantinopla teve implicações amplas, a nível mundial, sendo considerada como um dos marcos de transição da Idade Média para o período Moderno. Dentre as consequências você deve compreender o fechamento das rotas 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 29/32 de comércio, fossem por via marítima ou terrestre, com o Oriente, em particularChina e Índia. Isso levaria as nações europeias a buscarem outras formas de atingir as áreas com valiosas especiarias necessárias à preservação de alimentos. A consequência final desta busca por novas rotas marítimas você já conhece: trata-se da própria exploração do Oceano Atlântico e descoberta das Américas por parte dos europeus Ibéricos. Fetih 1453 (SARUHAN, 2012) é um filme turco que narra a conquista de Constantinopla sob um forte viés nacionalista turco. Executado com orçamento de 17 milhões de dólares, foi muito apreciado pelo primeiro ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. Antes de uma retratação histórica verídica e fiel da conquista de Constantinopla, o filme é uma representação nacionalista que reflete a política contemporânea turca buscando usar de recursos hollywoodianos. Outra consequência menos enfatizada, mas igualmente de grande relevância, ainda que em nível intelectual, será a migração e fuga em massa de sábios bizantinos para o Ocidente, principalmente para as cidades italianas próximas geograficamente. A grande quantidade de sábios advindos da renascença paleóloga, fluentes no grego e nos conhecimentos dos clássicos geraria impacto nas cidades italianas, colaborando para o desenvolvimento do Renascimento e do Humanismo. VOCÊ QUER VER? Síntese Você terminou os estudos sobre a história Bizantina, dos processos que levaram ao seu surgimento enquanto uma unidade política distinta do Império Romano até os eventos que precipitaram sua crise. Conheceu algumas de suas principais dinastias e momentos-chave de sua história em sua relação com o Ocidente e Oriente, seu legado cultural e impacto na história mundial. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: 17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=… 30/32 compreender a Antiguidade Tardia, conceito novo na historiografia e que remete aproximadamente aos séculos IV-VIII; compreender que atualmente se discute o “declínio” do Império Romano, considerando-o um processo com muitos fatores envolvidos, ao invés de “queda”, que implica em um único evento; compreender que o Império Romano de Oriente preservou não apenas o legado cultural romano, mas o legado da antiguidade grega para a posteridade; acompanhar as dinastias fundadoras do Império Bizantino: as Constantinianas e Teodosianas (sécs. VI-V), ainda que as características bizantinas mais marcantes se fortaleçam com os Justinianos (séc. VI); identificar que com os Macedônios (séc. X-XI), os bizantinos passam por uma espécie de renascimento; analisar que dos Comnenos (XI-XV) aos Paleólogos (XIII-XV) os bizantinos encaminham-se para o seu fim, com um período de ápice no início dos Comnenos e um Renascimento cultural durante os Paleólogos; identificar que o Renascimento Paleólogo é precursor do Renascimento no Ocidente e promoveu o retorno aos clássicos gregos; compreender que os turcos conquistam Constantinopla em 1453 e encerram o período de milênios de habitação grega na Ásia Menor. Referências bibliográficas ALLAN, T. História em Revista 1100-1200/ Campanhas Sagradas. Rio de janeiro: Abril Livros, 1994 [1989]. AMMIANUS MARCELINUS. AMMIANUS MARCELINUS. Tradução de John C. Rolfe. Londres: William Heinemann Ltd; Cambridge: Harvard University Press, S.D, 1935, 648 p. ANDERSON, P. Passagens da Antiguidade ao feudalismo. Porto: Edições Afrontamento, 1982. ANGOLD, M. Bizâncio: a ponte da Antiguidade para a Idade Média. Rio de Janeiro: Imago, 2002 [2001]. BELTRÃO, C. 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