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Materia Historia medieval

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17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=DTZUWPDbPslkCukqaVIncQ%3d%3d&l=9RBQp%2bpJUlWJzVq4mvDy8g%3d%3d&cd=D… 1/32
HISTÓRIA MEDIEVAL ORIENTAL
CAPÍTULO 1 - BIZÂNCIO: VESTÍGIOS DE
UM VELHO IMPÉRIO OU UMA NOVA E
DINÂMICA SOCIEDADE MEDIEVAL?
André Szczawlinska Muceniecks
INICIAR
Introdução
Boas-vindas à História Medieval Oriental! Nosso estudo irá começar com este
capítulo que trata dos princípios gerais, básicos e teóricos da disciplina que lhe
ajudarão a formular respostas para questões: como ocorreu o processo de declínio
do Império Romano? É correto falarmos em “queda” de Roma? Também vamos
estudar os momentos principais do Império Bizantino que sucedeu ao Romano na
região do Mediterrâneo oriental. E você sabe a importância desse império para a
História? Sabe qual o impacto da queda de Bizâncio para a história mundial? Pois
são questões pertinentes que influenciam o mundo contemporâneo que vivemos,
por isso vamos apresentar respostas para todas elas. Tudo pronto? Então vamos
começar!
1.1 Apresentação do curso: princípios
17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
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gerais da disciplina      
No primeiro capítulo, você irá se familiarizar com as discussões historiográficas
referentes à transição do Império Romano para o Império Bizantino, e a passagem
da Antiguidade para o Medievo. Além disso, irá estudar o Império Bizantino, do
desenvolvimento independente do mundo Romano Ocidental até a queda no século
XV. Vamos dedicar maior espaço à discussão sobre o contexto Romano e Bizantino
do que às relações de Bizâncio com bárbaros, islâmicos e eslavos. Dessa forma, seu
estudo terá maior coesão e aproveitamento.
Já no segundo capítulo, vamos estudar o “período das migrações”, as populações de
fala germânica, iraniana e os hunos, além dos principais problemas envolvidos na
interpretação dos eventos do período. Você irá lidar com questões que até hoje
influenciam nossa forma de pensar como, por exemplo, o uso do termo “bárbaros” e
as considerações etnocêntricas que o acompanha.
Em seguida, para o terceiro capítulo, vamos abordar o surgimento do Islamismo, a
Arábia Pré-islâmica e Maomé, do surgimento dos califados islâmicos até as invasões
turcas.
E por fim, no último capítulo, teremos a Europa de Leste, o surgimento do primeiro
principado russo e as nações eslávicas ao redor. Você também irá conhecer as
implicações para o tempo presente do estudo do passado medieval, percebendo a
impossibilidade de se desvincular as múltiplas temporalidades.
Saiba que os três primeiros capítulos que estudaremos estão conectados a uma
discussão teórica própria dos historiadores envolvidos com o estudo da História
Antiga e Medieval. É provável você já ter ouvido, por exemplo, a respeito do
Islamismo e sua conexão com nosso contexto geopolítico atual, certo? Por outro
lado, é possível que você desconheça a terminologia usada para definir a cronologia
de muitos desses eventos, que se convencionou chamar de “Antiguidade Tardia”.
Então, para continuar nossos estudos vamos para a abordagem da Antiguidade
Tardia. O que significa essa expressão? Qual a relação com a história do Império
Bizantino? 
1.1.1 Antiguidade Tardia: contextualização 
Ainda que, por séculos, tenha-se estudado os eventos ligados ao declínio e a queda
do Império Romano, o uso do termo “Antiguidade Tardia”, para especificar os
séculos próximos a este período é recente.  Alois Riegl (1858-1905), historiador da
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Arte austríaco, usaria o termo, mas foi apenas após a década de 1970 que a definição
seria empregada de forma mais sistemática e generalizada. Podemos citar obras dos
historiadores Peter Brown (1971) e Ian Wood (2016), no exterior, e Renan Frighetto
(2012), no Brasil, como alguns dos trabalhos de referência no campo. Perry Anderson
(1982), autor marxista, também foi de grande relevância historiográfica na discussão
das modificações no período.
Peter Brown (1935 - ) é historiador britânico e professor emérito na Universidade Princetown. Brown foi o
principal responsável em definir o campo de estudos conhecido como Antiguidade Tardia, na década de
1970. Sua produção é extensa e relevante tratando de muitos temas próprios da Antiguidade Tardia,
incluindo Santo Agostinho, História da Igreja e do Cristianismo, declínio e queda do Império Romano.
Quer conhecer mais sobre o autor? Leia o texto “Peter Brown - Scholarship and Imagination: The Study of
Late Antiquity” (RAWLINGS, 2002)
Os séculos compreendidos como Antiguidade Tardia localizam-se, de forma
cronológica, entre a Antiguidade e a Idade Média, aproximadamente os séculos III a
VII, com variações dependendo do autor e da região. Em contraposição a uma longa
tradição de considerar o período meramente de forma negativa, como um momento
de declínio das instituições romanas, os estudiosos da Antiguidade Tardia passaram
a enxergar esses anos como momentos de criação e gestação de novas estruturas,
que revitalizariam a Europa e o Oriente Médio.
É nesse período que ocorre a legalização e oficialização do Cristianismo por
Constantino e Teodósio, o desenvolvimento do Império Romano do Oriente, as
migrações germânicas e o surgimento e expansão do Islamismo. Como você pode
notar, trata-se, portanto, de um período no qual se entrelaçam processos de declínio
de antigas estruturas concomitantes com o surgimento de novas.
Na Antiguidade Tardia, deu-se também o longo processo de transformação no
antigo sistema escravista para o sistema feudal no Ocidente da Europa, enquanto
que o Império Romano Oriental se reformularia e se manteria como baluarte da
tradição grega e cristã no Oriente.  Ainda que Bizâncio - ou o Império Bizantino -
tenha sido chamado de “Império Romano do Oriente”, algumas características
VOCÊ O CONHECE?
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diferenciam-no do Império Romano da Antiguidade e de sua contraparte Ocidental,
permitindo considerá-lo como uma unidade política própria e diferenciada. E a
seguir você irá acompanhar o que fez o Império Bizantino ser considerado único. 
1.1.2 Império bizantino: singularidades na política e religião
No Império Bizantino, havia uma interferência maior e constante do poder secular
sobre o religioso e uma mistura das esferas, em uma medida muito maior do que no
próprio Ocidente. Essa informação pode lhe parecer controversa devido às noções
de senso comum que temos sobre as interferências entre fé e governo durante toda
a Idade Média Ocidental.
O imperador bizantino interferiu em assuntos da Igreja em mais de uma ocasião.  E
não se tratava de uma interferência política simples, um apontamento de cargo ou
de algum ente privilegiado seu em posição importante na hierarquia da Igreja, como
aconteceria com frequência no Ocidente (SHERRARD, 1970).
Falamos aqui de uma interferência a nível teológico, ou seja, o imperador bizantino
se propunha a discutir diretamente com os homens da Igreja sobre temas
especificamente teológicos e, às vezes, até mesmo filosóficos. Em dois momentos
significativos o imperador de Bizâncio posicionou-se contrariamente ao uso de
imagens nos cultos, o que ocasionou divisão e revoltas no Império e,
principalmente, na capital.
Essa característica, aliás, nos lembra de outro diferencial muito significativo da
cultura e do pensamento bizantino: seus problemas teológicos, quando comparados
com o Ocidente, eram profundos, abstratos e filosóficos. Isso não significa que no
Ocidente não se usasse a razão e não se pensasse sobre a fé. O debate, no entanto,
possuiu por muito tempo fronteiras e limites muito bem definidos, principalmente
após o papado de GregórioI, “o Grande” (MUCENIECKS, 2013).
VOCÊ SABIA?
Teocracia e Hierocracia são os dois conceitos fundamentais usados para explicar os sistemas de
governo medievais. Teocracia (de Theokratos, governo de Deus), diferentemente do conceito popular,
não significa a Igreja tendo primazia sobre o Estado, mas o contrário: o diferencial é que o rei ou
imperador é considerado o eleito, ou ungido do Senhor e, desta forma, seu governo e autoridade
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vêm diretamente de Deus. Já por Hierocracia (de Hierokratos, governo do sagrado) se compreende
um sistema no qual os homens da Igreja têm autoridade acima da dos reis e governantes,
interferindo decisivamente nas tomadas de decisão e políticas do reino (SOUZA, 1995).   
O Império Bizantino englobava não apenas as regiões do surgimento do Judaísmo e
Cristianismo, mas também áreas em que surge a filosofia grega.  Bizâncio via-se e
pode ser considerada sem sombra de dúvida como herdeira dos antigos gregos. Não
apenas a língua grega foi preservada e permaneceu sendo usada por toda a sua
história, mas alguns dos principais problemas filosóficos e teológicos surgidos no
início da Era Cristã foram pensados, debatidos e, algumas vezes, solucionados.
A grande ruptura da Cristandade nos primeiros séculos entre nicenos e arianos se
deu ali. Não se preocupe com esses termos, pois em breve você saberá o que
significam e o seu papel. Por hora, basta ter em mente que se trata de uma divisão
teológica ocorrida nos primórdios da Igreja Cristã institucionalizada. 
Um problema constante que Bizâncio lidaria era a ameaça de grandes impérios em
suas fronteiras. Você pode observar que o Império no Ocidente se esfacelou em uma
grande quantidade de reinos e, já de início, há uma diferença no ponto de partida de
observação que fazemos. Bizâncio era uma unidade política, enquanto que o
Ocidente, não. As fronteiras do Ocidente eram vagas, e o “Ocidente medieval” - uma
definição mais vaga ainda - era dividido internamente. Em raríssimas ocasiões
alguma força externa política se apresentaria como uma ameaça a todo o Ocidente.
De fato, ameaças de fora eram usualmente enfrentadas pelos reinos próximos, como
no caso do enfrentamento entre francos e muçulmanos nas fronteiras ibéricas da
Europa, as migrações magiares vindas do Oriente ou mesmo os ataques vikings (LE
GOFF, 2005).
Observe o mapa a seguir e repare que o Império Bizantino era uma unidade política
e não uma série de reinos esparsos.  Abrangia, ao menos de início, um território
amplo, mas provido de fronteiras igualmente amplas com grandes poderes externos.
No decorrer de sua história tumultuada, Bizâncio teve de lidar com o Império Persa,
com os califados islâmicos, com os reinos búlgaros e da Rússia de Kiev, dentre
outros. 
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Essa peculiaridade do Império de Oriente influenciou em outra característica
marcante: os imperadores bizantinos tornaram-se conhecidos como mestres da
diplomacia, muito hábeis no uso de estratagemas e alianças diplomáticas. Em
alguns momentos, chegavam a fazer o que chamamos de “jogo duplo”, isto é,
negociavam com dois inimigos simultaneamente, às vezes tentando jogá-los um
contra o outro ou extraindo vantagens de ambos os lados.
Você pode encontrar um exemplo disso na Primeira Cruzada (1095-99). O imperador
bizantino Aleixo I Commeno (1048-1118) negociou com os turcos seljúcidas e com os
cruzados a fim de reconquistar a cidade de Nicéia, mas também para evitar que
fosse saqueada pelos cruzados do ocidente.  Além disso, algumas características
secundárias oferecem um panorama todo próprio ao mundo Bizantino,
principalmente em relação a sua sociedade. 
1.1.3 Sociedade: verdes e azuis 
A relação dos governantes com o povo espelhava ações já vistas no Ocidente, como
a política de “pão e circo”. No caso do Oriente, o hipódromo era o grande
instrumento de manipulações imperiais da populaça, isto é, da plebe, e suas
tentativas de obtenção do apoio popular. A relação do imperador com súditos,
Figura 1 - Mapa do território de Bizâncio na época de Justiniano (c- 565). Fonte: WELLS, 2011, p. 19.
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adversários e inimigos, no entanto, ia a extremos. São notórias as diversas
manifestações de uso exagerado da força física como, por exemplo, cegar inimigos
derrotados, tatuar a testa de hereges e cauterizar  mãos  de artistas.
O hipódromo, aliás, particularmente as corridas de bigas, geraria uma divisão de
facções também espelhada do Império Romano do Ocidente, que seria de influência
duradoura na História Bizantina: os verdes e os azuis. Os autores divergem sobre o
que caracteriza de fato estas facções. Parte da discussão concorda da origem nos
extratos sociais: os azuis seriam originalmente formados por aristocratas, enquanto
os verdes seriam, em sua maioria, parte do povo de extrato social mais baixo,
podendo ainda haver entre estes grupos diferenças religiosas e cristológicas. Como
traz Ruppenthal Neto (2012), o fato é que estas distinções de origens acabariam por
se diluir, mas ainda assim a divisão seria fortemente atuante em momentos
importantes da história bizantina, como as revoltas de Focas e Nika, tendo
relevância e participação política (ANGOLD, 2002).
É difícil compreender de forma clara o que representam essas divisões.  Explicações
de senso comum tentam usar os verdes e azuis como espécies de torcidas de
futebol, mas a abrangência da atuação das facções atingiu em vários momentos a
influência política. Agora vamos abordar em maior detalhe as principais fases e
características do Império Bizantino.  
1.2 Dos Constantinianos aos Teodósios
(séc. IV a V): da oficialização do
Cristianismo às reestruturações
imperiais
Não há consenso sobre quando é possível afirmar que o Império Bizantino adquire
um caráter distinto do Império Romano no Ocidente e seja considerado uma
entidade própria. Há consenso, no entanto, em relação ao papel de Constantino
(272-337), responsável por medidas importantes no campo político e religioso que
foram de extrema relevância e definição para a transição do Império Romano da
Antiguidade para sua contraparte oriental. Para isso, é necessário conhecer a
trajetória de Constantino ao poder.  
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1.2.1 Constantino chega ao poder 
Constantino nasceu, provavelmente, em 272 na cidade de Naissus (atual Niš, na
Sérvia), província romana da Moésia superior. Era filho do oficial romano Flávio
Aurélio Constâncio, que se tornou César do Ocidente em 293. A esta altura, o Império
estava dividido por Diocleciano em quatro partes, sistema de governo conhecido
como Tetrarquia.
Na Tetrarquia, o Império estava dividido em duas partes no Ocidente e no Oriente.
Estas duas partes, por sua vez, eram divididas cada uma em duas partes menores. As
divisões maiores seriam governadas por dois Augustos: um no Ocidente e o outro no
Oriente. Esses Augustos eram auxiliados por dois Césares, que governam as divisões
menores.
Flávio, pai de Constantino, anteriormente César, subiria à posição de Augusto do
Ocidente, mas falecera em 306. Quando isso ocorreu, Constantino servia ao exército
estacionado em Eboracum – atual York, na Inglaterra -, e foi aclamado como
imperador.
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 Figura 2 -
Estátua de Constantino ao lado da York Minster, no suposto local de sua aclamação como Imperador.Fonte: travellight, Shutterstock, 2017.
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Constantino travou na década que se seguiu uma série de batalhas contra os outros
governantes, Maxêncio e Licínio, intentando tomar o governo de todo o Império
Romano para si. O clímax dessas disputas deu-se no ano de 312 na Batalha de Mílvia.
Ali, o exército de Constantino usou um símbolo desconhecido para os demais, uma
cruz com as letras gregas Chi (Χ, χ) e Ro (Ρ, ρ). Segundo Lactâncio (ca. 250 - ca. 325),
conselheiro de Constantino, o imperador tivera um sonho no qual vira o símbolo
citado. Você consegue decifrar o símbolo? Para Lactâncio, as letras eram as iniciais
gregas do nome de Cristo que os católicos, posteriormente, chamariam de Crisma.
Já Eusébio (ca. 260-340), narra uma versão ligeiramente diferente do ocorrido. A
visão de Constantino ocorrera em plena luz do dia e ele vira uma cruz nos céus que
continha o símbolo com a mensagem In Hoc Signo Vinces (“vencerás por este
símbolo”). Na noite seguinte, o próprio Cristo teria aparecido ao imperador em
sonho, instruindo-o a fazer seu estandarte com o símbolo visto. O que se sabe com
certeza é que Constantino, apesar de comandando forças em menor número que
Maxêncio, venceu a batalha, entrando vitorioso em Roma e tomando várias medidas
para consolidar seu poder.
No ano seguinte (313), Constantino promulgaria o chamado Edictum Mediolanense,  o
Edito de Milão. Não há certeza de que houve, de fato, uma publicação formal com tal
nome, pois os textos que restaram discordam entre si. Pelo edito, o Cristianismo
ganhou status legal dentro do Império e passou a ser tratado de forma benéfica
(FREND, 1982).
Você precisa ter em mente que a despeito da compreensão errônea de senso
comum, o edito não tornou o Cristianismo a religião oficial do Império Romano, mas
tentou reparar os danos feitos pelas perseguições de até então, tomando medidas
como a defesa da liberdade religiosa e a restituição de propriedades.
Antes de ser um ato de um imperador cristão, o edito foi uma medida de busca de
estabilidade por um imperador hábil. O paganismo greco-romano tradicional não foi
perseguido, suprimido ou prejudicado, ao menos inicialmente (LATOURETTE, 2006). 
1.2.2 Mudanças religiosas e políticas no Império 
Na década de 320, surgiria uma grande dissidência na Cristandade conhecida como
Arianismo. O bispo Ário (ca.250-336), de Alexandria, defendia que Cristo não era
Deus e teria sido criado por ele. Qualquer doutrina similar à trindade implicaria em
politeísmo e na existência de três deuses, segundo a concepção do bispo.
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Veja que a esta altura a doutrina cristã da trindade comum hoje em dia ainda não
fora formulada. Compreendia-se Cristo como Deus, mas as definições mais
elaboradas da doutrina seriam postuladas por Santo Agostinho em décadas
posteriores.
Na cidade de Niceia, Constantino patrocinou um concílio - uma reunião dos
eclesiásticos de todo o Império Romano - a fim de decidir qual posição deveria ser
considerada ortodoxa. O acontecimento é um dos marcos mais importante na
história da Igreja, pois, ainda que outras reuniões de bispos já tivessem ocorrido,
nada com essa amplitude fora realizado até então No decorrer da História do
Cristianismo, a prática de se efetuar concílios para resolver questões complexas,
principalmente doutrinárias, foi consolidada. O objetivo era oferecer uma visão do
que consistiria a posição ortodoxa da Igreja em relação a tais questões.
No Concílio de Niceia (325), portanto, se lidou com o Arianismo e com temas
menores como as definições da lei canônica. O Arianismo foi declarado heresia e a
posição ortodoxa, considerando a divindade de Cristo enquanto filho de Deus, seria
chamada de ”nicena”. A decisão, no entanto, não foi aceita unanimemente e os
arianos mantiveram muito de sua força.
Poucos anos após Niceia, líderes arianos aproximaram-se de Constantino e
conseguiram retomar posição de proeminência. Alexandre de Alexandria, um dos
grandes nicenos, faleceu em 328, e outros líderes relevantes na determinação da
ortodoxia nicena, como Atanásio, foram perseguidos.
Em 330, Constantino tomou outra medida de impacto duradoura na história do
Império Romano de Oriente. Você sabe do que se trata? Pois foi a transformação do
pequeno entreposto comercial de Bizâncio na nova capital do Império, que agora
passaria a se chamar Constantinopla, a pólis de Constantino.
Uma característica importante da nova capital era sua localização geográfica. Estava
próxima das fronteiras romanas no Danúbio, sob ameaça dos bárbaros, ao mesmo
tempo em que se encontrava distante o suficiente de Roma, Ravena e outras cidades
com forte presença da aristocracia antiga romana, que lutava entre si em busca de
poder.
Para alguns autores, como Angold (2002), esse foi o ato fundador do Império
Bizantino. Você deve ter em mente que da fundação de uma nova capital à aceitação
foi um grande salto. 
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A implantação desse projeto foi incompleta. A própria cidade fora construída
apressadamente com o foro principal e algumas ruas. Constantino morreu em 337 e
tanto o fortalecimento da posição da nova capital quanto às novas definições
religiosas levaram anos para serem concluídos.
Com a morte de Constantino, o governo foi dividido entre seus filhos, que lutariam
entre si pelo controle do Império. Dessa luta fraterna, Constâncio II acabou sendo o
vencedor e é o nome que você deve se lembrar. Ele governou de 337 a 361 como
imperador no Oriente, mas sua posição no Ocidente foi sempre desafiada.
Note que, apesar da duração de seu reinado, seu governo foi turbulento, tendo de
lidar frequentemente com tentativas de usurpações do poder e ameaças externas.
Podemos destacar do governo de Constâncio que ele manteve Constantinopla como
capital e ampliou-a, construindo igrejas e tentando torná-la substituta de Roma
(ANGOLD, 2002). Também defendeu a unidade, favorecendo arianos, perseguindo
nicenos, retirando bispos de suas sedes e forçando o bispo de Roma a assinar uma
confissão ariana.
O imperador enviou Wulfilas, que era ariano, como missionário para os godos. Foi
sob o seu governo que o niceno Atanásio seria exilado por três vezes. O imperador
morreu de febre em 361, e o império entrou em novo período de turbulência. 
As reviravoltas ocorridas são de certa forma surpreendente. Quanto aos próximos
imperadores, o paganismo seria restaurado e o Cristianismo perseguido (Juliano, o
apóstata - 361-63); o cristianismo voltaria à primazia com Joviano, que governaria
oito meses, e Valentiniano I, imperador de 364-375, chegando-se finalmente ao
governo no Oriente de Valente, 364 a 378 (LATOURETTE, 2006).
Figura 3 - Constantinopla (atual Istambul) - ponte entre as partes europeia e asiática da cidade
contemporânea. Fonte: Mikhail Starodubov, Shutterstock, 2017.
17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
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Valente - que usava Antioquia, e não Constantinopla, como capital - enfrentou uma
rebelião levantada por Procópio, primo do falecido Juliano, e teve de lidar
constantemente contra godos e persas. Em 375, tribos godas derrotadas pelos hunos
buscaram asilo no território romano. Seus líderes conseguiram a aprovação do
imperador para cruzar o Danúbio, entrando em território romano, mas os godos
foram tratados pelos comandantes romanos de forma degradante, desonrosa e
desonesta, o que resultou em revolta generalizada (AMMIANUS MARCELINUS, 1935).
O episódio culminou na Batalha de Adrianópolis, ocorrida em 378,onde dois terços
do exército romano foram destruídos e o imperador Valente, morto. Seu sobrinho,
Graciano, que a esta altura governava o Ocidente, não quis o governo também a
Oriente, e no ano seguinte apontou a Teodósio como novo imperador do
Oriente. Até o momento você acompanhou uma sucessão de desastres, mas vamos
encerrar com alguns imperadores que resgataram um pouco da glória antiga. 
1.2.3  Dinastia Teodósia: principais pontos do Império
A dinastia Teodósia (379-457) consolidou o legado de Constantino I. Podemos
destacar Teodósio I (347-395), também conhecido como “o Grande”, que governou o
Império a Oriente de 379 a 395, e a Ocidente de 392 a 395. Teodósio I foi o último
imperador a governar tanto oriente quanto ocidente.
O imperador conteu os godos e voltou a usar Constantinopla como capital, além de
expandi-la. Promoveu a unidade com a convocação de um concílio, em 380, em
Constantinopla. Ali, as definições tomadas em Niceia foram reafirmadas e, portanto,
o Arianismo declarado definitivamente heresia. No mesmo concílio, o Macedonismo,
doutrina que considerava o Espírito Santo como um ser criado, também foi refutado,
consolidando-se, dessa forma, a Doutrina Cristã da Trindade, que afirma que Deus
Pai, Deus filho e Deus Espírito Santo são um só.
O concílio também elevou Constantinopla a sede da Igreja, fazendo-a a rivalizar
diretamente com Roma. Por fim, o mérito da oficialização do Cristianismo niceno à
religião de Estado se deve a Teodósio, em um processo que iniciou em 381 e
finalizou em 392 e incluiu perseguição aos arianos (BLOCKMANS;
HOPPENBROUWERS, 2012).
Grave que com a morte de Teodósio I a divisão entre Império de Ocidente e Oriente
consolidou-se em definitivo. Arcádio (377-408) e Honório (384-423), filhos de
Teodósio, governariam o Império, respectivamente, a leste e a oeste. O governo de
ambos foi caracterizado por fraqueza e indecisão.  Com Honório, Roma foi saqueada
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pela primeira vez pelos visigodos; pelo comando de Alarico, o governo de
Constantinopla foi largamente dominado pelos ministros de Arcádio e por sua
esposa Eudóxia. 
Finalmente, outro nome de destaque da dinastia é Teodósio II (401-450). Sob seu
governo foi fundada, em 425, uma universidade em Constantinopla, na qual se
escreveu o Código Legal Teodosiano, uma coletânea das leis desde os tempos de
Constantino I efetuada de 429 a 438. Também durante o seu governo ocorreram
controvérsias teológicas referentes à pessoa de Cristo, como o Nestorianismo.
Por fim, você deve saber que foi Teodósio II quem estabeleceu os limites de
Constantinopla, construindo uma segunda muralha, em adição a que já havia, e
ampliando dessa forma o espaço da capital. Quando Teodósio II faleceu em um
acidente de corrida, sua irmã Pulcheria casou-se com Flávio Marciano, que assumiu
o trono, mas morreria sem indicar sucessor, encerrando dessa forma a dinastia
Teodosiana. Marciano fortaleceu o império a Oriente, mas isolou-se no Ocidente no
momento em que estava sob a ameaça de Átila, o Huno.
Figura 4 - As muralhas de Teodósio II foram construídas com objetivo de ampliar o território da capital
Constantinopla. Fonte: steve estvanik, Shutterstock, 2017.
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VOCÊ SABIA?
O Nestorianismo foi uma heresia cristã de proeminência no século IV. Predominante na Igreja Cristã
persa, nesse período, foi considerado heresia após o Concílio de Éfeso, ocorrido em 431 durante o
governo de Teodósio II. Também conhecido como “doutrina das duas pessoas”, ensinava que Cristo
teria duas naturezas distintas, divina e humana, não unidas, em oposição à fé nicena, que
considerava que Cristo era, simultaneamente, homem e Deus. Para o nestorianismo, quando
considerado humano, Cristo seria filho de Deus apenas por adoção e Maria, antes de “Mãe de Deus”,
deveria ser conhecida como “Mãe de Cristo” (SIMÕES, 2009). 
Com isso, podemos resumir a dinastia Teodosiana da seguinte maneira: após
Arcádio e Honório, a história do Império Romano será marcada pelas guerras com os
hunos e os eventos levarão à queda definitiva do Império Ocidental. É importante
você compreender que apesar da relevância da dinastia Teodósia na consolidação
do processo iniciado por Constantino, boa parte de seu legado foi atingido por meio
dos primeiros e últimos governantes, Teodósio I e Teodósio II. Após os Teodósios, o
Império Romano do Oriente segue um caminho definitivamente à parte do
Ocidente.    
1.3 Dos Justinianos (VI) à dinastia
Macedônia (Séc. XI): o ápice do novo
Império e os conflitos com o Ocidente
Podemos afirmar que o período entre as dinastias dos imperadores Justiniano a
Heráclio se manifestaram características muito específicas de Bizâncio,
diferenciando, em definitivo, o império do Antigo Império Romano. Apesar do nome
da dinastia dos Justinianos, seu primeiro imperador foi Justino I (450-527). Vamos
estudar, no entanto, seu sobrinho, nome de maior destaque e relevância. 
1.3.1 Dinastia Justiniana: os quatros eixos da restauração romana
Justiniano (ca. 482-565 ) foi imperador desde o ano de 527, após a morte de seu tio
Justino. Em 467, a cidade de Roma caíra em definitivo com a invasão de Odoacro, rei
dos hérulos. Desta forma, Justiniano, ao assumir o trono, empreende uma política
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de restauração do Império (renovatio imperii),  por meio de quatro eixos principais
(BLOCKMANS; HOPPENBROUWERS, 2012). Em primeiro lugar, Justiniano ocupou-se
da recuperação de territórios perdidos. Na região leste, manteve a política pautada
na diplomacia a fim de evitar a perda de ainda mais território para os persas
sassânidas.
 
VOCÊ SABIA?
Entre as dinastias dos Teodósios e dos Justinianos, encontra-se a dinastia dos Leônidas, que durou
de 457 a 528. Nesses anos, o Império Romano a Ocidente cairia em definitivo, mas o Oriente tinha
outras preocupações tanto externas quanto internas para lidar. Externamente, Bizâncio lidou contra
os persas, atingindo finalmente a paz na década de 460, tendo também interferido na situação da
cidade norte-africana de Cartago, conquistada pelos vândalos. Internamente, os imperadores
tiveram que lidar com uma crise financeira e econômica, promovendo reformas monetárias.   
No ocidente, atacou e conquistou o reino dos vândalos na África do Norte e lutou no
leste da Hispânia. O foco da atuação em sua política de recuperação territorial foi a
Itália. O imperador do leste pretendia recuperar a Itália, em especial Roma, que se
achavam dominadas dos ostrogodos e, a partir de 535, iniciaria uma série de
batalhas que perdurariam por 20 anos, esgotariam os recursos imperiais e
devastariam o país. Você pode encontrar referência a este momento como as
“Guerras Góticas”.  Por ocasião de sua morte, os lombardos invadiriam uma Itália
completamente enfraquecida, não conquistando apenas as cidades de Roma e
Ravena.
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 Figura 5 -
Representação de Justiniano I, em mosaico, na Basílica de San Vitale, Ravena, Itália. Fonte:
mountainpix, Shutterstock, 2017.
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O segundo eixo praticado por Justiniano está ligado ao primeiro. O imperador
adotou uma política econômica de apoio ao aparato militar. Você pode perceber
que, de forma complementar a política de recuperação de territórios perdidos,
Justiniano empreenderia também guerras de conquistae expansão,
particularmente na Península Balcânica, atacando um novo grupo de bárbaros, os
eslavos.  Justiniano patrocinou também a empreitada de grandes construções e da
vinda de suprimentos de grãos para a capital com o intuito de fortalecê-la.  Outro
eixo adotado se encontra no campo da lei. A exemplo de Teodósio, Justiniano
promoveu a codificação da legislação romana e também a sua elucidação e
explicação. Desta forma, outra coletânea legal, o Corpus Iuris Civilis, foi compilada, na
qual não apenas a lei escrita, mas também a autoridade da tradição foi validada.
Codex Iuris Civilis, usualmente citado em português como “Código Justiniano”, é a codificação e
compilação da lei romana comissionada por Justiniano e levada a cabo por uma série de eruditos. É
formado por cinco livros: o Código Antigo, Digesto, Institutas, Código Novo e as Novelas. Você pode
encontrar esses livros traduzidos para o português, espanhol ou inglês em várias lojas virtuais. Também é
possível encontrar gratuitamente edições dos originais latinos em sites como o da Universidade Grenoble
(KRUGEN; MOMMSEN, 1868-1954):  <https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/corpjurciv.htm
(https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/corpjurciv.htm)>.
Por fim, o último eixo de ação que você deve conhecer está ligado à igreja. Como
seus sucessores de maior sucesso, como Constantino I e Teodósio I, Justiniano
empreendeu um grande esforço na manutenção da unidade religiosa. Para tanto,
fortaleceu os laços existentes entre a Igreja e o Estado, colocando-se como líder
máximo da igreja. Algumas medidas apresentavam-se como demonstrações
públicas da relação do imperador com a Igreja, como as reformas e as ampliações
feitas na Igreja de Santa (Hagia) Sofia. Além disso, devemos citar que minorias e
seitas foram perseguidas (ANGOLD, 2002). Com a morte do imperador em 565, seus
sucessores não foram capazes de manter as mesmas políticas de forma satisfatória
mesmo porque, como você pode imaginar, a atuação de Justiniano foi bastante
pesada para os cofres públicos e teve o potencial de exaurir os recursos financeiros
do Império. 
VOCÊ QUER LER?
https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/corpjurciv.htm
https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/corpjurciv.htm
17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
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1.3.2 Conflitos internos e externos do Império
Durante o próprio reinado de Justiniano eclodiu a chamada Revolta de Nika, com
estopim durante uma corrida de cavalos, mas cujas razões encontravam-se na alta
carga tributária e nas baixas condições de vida de grande parte da população. Em
adição, outros problemas e situações apresentavam-se aos imperadores, o que
proporcionou o rápido declínio do Império.
Apenas em poucos pontos do Ocidente fazia-se valer a autoridade do Imperador do
Oriente, como os arredores das cidades de Ravena, Roma e Bari. Nestas localidades,
se criaria posteriormente a figura dos exarcas. 
VOCÊ SABIA?
O cargo de exarca ou exarco (do grego ἔξαρχος) foi instituído pelo imperador bizantino Maurício
(539-602). Exarcas eram os governadores apontados pelo Imperador Romano do Oriente sobre as
províncias ocidentais de Ravena, na Península Itálica e Cartago, no norte da África, que seriam
chamadas de “exarcados”.
Você se lembra dos verdes e azuis? E qual o papel desses dois grupos nessa parte da
História? Com Maurício (539-602), imperador de 582 a 602, eclodiu a chamada
Revolta de Focas, com participação das duas facções. (ANGOLD, 2002). O imperador
ordenara que as legiões permanecessem durante o inverno na fronteira do Danúbio,
mas o exército encarou a ordenança negativamente, se recusando a cumprir o
mandato e se amotinando. As legiões aclamaram seu líder, o centurião Focas, como
o novo imperador.
As notícias do motim no exército não tardaram a chegar à capital, onde as facções do
hipódromo apoiaram às legiões e seguiram seu exemplo, se rebelando e apoiando
Focas. Com isso, não apenas o imperador Maurício, mas também seus familiares
foram executados.
O resultado foi catastrófico, destruindo o pequeno avanço que Maurício fora capaz
de obter no governo do Império. Os eslavos e ávaros voltaram a pressionar o
Império, invadindo o Peloponeso e diminuindo drasticamente a relevância das
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antigas pólis gregas, com a fuga de muitos habitantes da região, principalmente de
Esparta.
O processo gerou uma grande descentralização populacional em paralelo com o
colapso da vida urbana. Dali para frente, Constantinopla permaneceria como a
capital imperial, cercada de uma rede de cidades irrelevantes. A situação com os
persas também sofreria um revés e renovariam a guerra com o Império.
Focas governaria até 610, quando Heráclio, o exarca de Cartago, tomaria o poder,
governando até 641 e estabelecendo uma nova dinastia. Apesar de Heráclio obter
apoio do Patriarca Sérgio e da facção dos verdes, a tarefa de manter o Império frente
aos inimigos externos foi impossível.  Note que nos anos seguintes, região após
região do império foi perdida. Os persas capturaram Damasco em 613, Jerusalém
em 614, e o Egito em 619. Dessa maneira, Bizâncio perdeu controle total das
províncias orientais para os sassânidas, que incluíam locais de forte poder no
imaginário popular por conterem os lugares sagrados da cristandade e do
Judaísmo. 
Em 626, Constantinopla foi cercada por ávaros e persas e nos anos que se seguiram
surgiu um novo poder no oriente: os islâmicos. Em 634, a Síria foi conquistada pelos
islâmicos. Em 636, Damasco cairia e, finalmente, em 638, Jerusalém seria
conquistada pelos muçulmanos. Os árabes não parariam por ali, conquistando o
Egito, que produzia parte considerável dos grãos para o Império Bizantino, entre 639
e 642, e a própria Mesopotâmia e Pérsia entre as décadas de 630 a 650.
Você pode perceber que a situação de Bizâncio deteriorava-se cada vez mais.  Se por
um lado o Império Persa fora conquistado, em compensação as perdas territoriais
pelas quais o Império Bizantino passou nunca seriam contornadas. 
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Os heráclios subsequentes não puderam melhorar a situação imperial e quatro
imperadores principais se sucederam no governo até o ano de 695, em vários
momentos governando conjuntamente com coimperadores. Entre 695 a 717,
Bizâncio entrou em um estado de guerra civil conhecido pela historiografia como
“período anárquico dos vinte anos”, após o que um novo Império emergiria muito
menor territorialmente, mais militarizado e agrário, e ao mesmo tempo mais
homogêneo e coeso. Nesse século, a divisão antiga romana em provinciae
(províncias) seria substituída pelas themata (θέματα), baseadas nos acampamentos
dos exércitos e na área por eles defendidas.   
1.3.3 Outras dinastias de destaque
As dinastias subsequentes governaram por períodos mais curtos de tempo. São elas:
Dinastia Isáurica ou Isauriana (711-802): seus governantes defenderam o
Império contra subsequentes expansões dos califados islâmicos umíada e
abássida. Enfrentaram também problemas no Ocidente, particularmente nos
Balcãs, com os povos eslavos. Durante o governo dos isaurinos surgiu o
primeiro momento de iconoclasmo em Bizâncio (ca.717 - 787). Merecem
Figura 6 - Mapa de Bizâncio mostra as expansões dos árabes, búlgaros, ávaros e eslavos no território do
Império. Fonte: BELTRÃO, 2000. p. 20.
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destaque os imperadores Leão III e Constantino V. A última governante da
dinastia foi Irene que, regente nas décadas anteriores, foi imperatriz de 797 a
802. Noano de 800, Carlos Magno foi coroado imperador em Roma pelo Papa
Leão III, o que gerou controvérsia em Constantinopla e a reivindicação de que
Roma reconhecesse à imperatriz como legítima, ainda que Carlos Magno não
reivindicasse o trono no Oriente. Em adição, Carlos Magno era considerado, se
não herético, ao menos heterodoxo pela Igreja no Oriente, por seu apoio à
cláusula filioque no credo niceno. 
Dinastia dos Nicéforos (802-13), Leão o Armênio (813-820) e dinastia dos
Amorianos (820-867): os Nicéforos (802-13) encontraram o Império em
posição enfraquecida e precária, marcado por dificuldades financeiras e
constantes guerras fronteiriças. Em adição, a Igreja bizantina encontrou
dificuldades e discordâncias com o papado Ocidental e o Império Carolíngio,
pelas razões que você estudou no tópico anterior. Leão, o Armênio (813-20)
não é componente de nenhuma dinastia, governando isoladamente. Em  seu
reino, o iconoclasmo retornou a Bizâncio. Por fim, sob a dinastia Amoriana ou
Frígia (820-67), o iconoclasmo foi reinforçado por Miguel em 820 e encerrado
por Miguel III em 842. Já sob os amorianos, a ilha de Creta foi perdida para os
árabes, mas seus imperadores travaram guerras de reconquista da Sicília.
Também ocorreu a primeira tentativa dos russos, em 860, povos do norte até
então desconhecidos e que passarão a fazer parte fundamental da política
bizantina.
Dinastia macedônia (867-1056): com a dinastia macedônia você encerra o
estudo desse tópico. O momento é considerado por alguns autores como uma
espécie de renascimento do Império Bizantino, que levaria ao seu ápice sob o
governo de Basílio II (976-1025). Por esta razão, alguns autores referem-se ao
período como “renascença macedônia”. 
Em relação ao nível de pensamento, alguns dos imperadores do período
destacaram-se como patronos de trabalhos enciclopédicos e históricos, como
Constantino VII, Porfirogênito (913-59), que seria o autor da obra De administrando
Imperio - “sobre o governo do Império”. 
17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
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Filioque e o Credo Niceno: “Filioque” é um termo que significa “e do Filho”. Por ocasião das diversas
reelaborações do Credo niceno-constantinopolitano no século IV, a discussão sobre a natureza das três
pessoas da trindade já criara muitas divisões na cristandade oriental. Uma das afirmações do credo
afirmava que o Espírito Santo procedia do Pai. Na tradução ocidental latina do credo, acrescentou-se
“filioque”, ou seja, o espírito procedia do Pai “e do Filho”. Esta pequena partícula, “que”, geraria uma
discussão por muitos séculos entre as duas Cristandades.Veja aqui uma tradução para o português da
Ecclesia (2003-
2017):  <https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano
.html
(https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html)>
. 
Pela primeira vez desde as conquistas islâmicas, iniciadas três séculos antes, os
bizantinos seriam capazes de novamente expandir-se territorialmente. O estado de
confronto com o mundo islâmico permaneceria, no entanto, uma nova aliança seria
forjada pelos bizantinos que resultaria, antes de tudo, em uma conquista de grande
monta para a Cristandade Oriental: trata-se aqui da conversão da Rússia de Kiev em
988. Após um período de cerca de duas décadas de enfrentamento, os rus, então
governados por Vladimir, se tornariam os maiores aliados de Bizâncio durante o
governo de Basílio II.
Por fim, há a culminação de um processo que já se avizinhava desde os tempos dos
nicéforos, no século IX, e mesmo antes, por ocasião dos movimentos iconoclastas,
de discordância com o Ocidente.
Durante o governo de Constantino Monomachos, entre os anos de 1042-1055, ocorre
o chamado Cisma. No ano de 1054, legados do papa Leão IX foram enviados ao
patriarca de Constantinopla, Miguel Celarius, que empregava o uso de “patriarca
ecumênico”, reclamando que a autoridade universal do bispo de Roma fosse
reconhecida por Miguel. O patriarca recusou-se a cumprir a demanda dos legados de
Roma que em resposta o excomungaram. Diante disso, o patriarca excomungou-os
também  (CARVALHO, 2016).
O evento ficaria conhecido como Cisma e você deve compreendê-lo como o ponto
alto de uma série de discordâncias relativas a diversas situações que foram
estudadas ao longo do capítulo. Essas situações incluíram: as alegações no Concílio
VOCÊ QUER LER?
https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html
https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html
https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html
17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
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de Constantinopla I (380) de que a capital teria a primazia sobre as demais sedes; as
discordâncias sobre a cláusula filioque; os movimentos iconoclastas bizantinos; e o
reconhecimento do papa Leão III de que Carlos Magno, e não a imperatriz Irene, era
imperador romano.   
1.4 Dos Commenos (XI-XII) aos
Paleólogos (XIII-XIV): das Cruzadas à
conquista turca  
Os Comnenos e os Doukidas foram duas dinastias que não governaram uma após a
outra em sequências ininterruptas. E o que isso quer dizer? Por meio de vários
casamentos interdinásticos com os doukidas, angelidas e paleólogos, membros dos
Comnenos podem ser encontrados nas listas de imperadores bizantinos desde o
século XI até o século XIV. O principal período de governo dos Comnenos, no
entanto, foi dos anos 1081 a 1185.
O fundador da dinastia foi Isaque, que por meio de um golpe de estado derrubou
Miguel IV “Bringas” em 1057, sendo proclamado imperador em seguida e
governando apenas até 1059. Seu sobrinho Aleixo I Comneno seria o próximo da
dinastia a governar, a partir de 1081. Entre os dois, quatro imperadores passaram
pelo trono, a maior parte doukidas. A relação das duas dinastias foi marcada por
golpes e conspirações, um padrão que se repetiria até o final do Império Bizantino e,
como você deve deduzir, colaboraram definitivamente para o seu fim. 
1.4.1 A dinastia dos Comnenos: poder e influência 
Aleixo I Comneno (1048-1118) foi o principal governante. Muitas das características
que você acabou de ler sobre os Comnenos foram forjadas em seu reinado. Sua
subida ao trono se deu através de golpes e conspirações que envolveram a dinastia
dos Doukidas, dentre outras famílias de nobres bizantinos. 
17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
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Aleixo teve carreira militar de sucesso durante seu antecessor, Nicéforo III, e se
aproveitaria de seu gênio militar nas mais de três décadas de seu governo. Descrito
pelos latinos do ocidente como astuto governante, seus estratagemas foram
responsáveis parcialmente tanto por seus sucessos quanto pela falta de
continuidade destes mesmos sucessos.
Ele transformou a dinâmica imperial bizantina, afastando-se de procedimentos
burocráticos e adotando uma abordagem personalista, calcada em alianças com
famílias de poder e influência. Se por um lado sua argúcia propiciou a execução de
políticas que trariam cerca de um século de prosperidade a Bizâncio, por outro a
Figura 7 - Isaque I Comneno, fundador da Dinastia dos Comnenos, retratado em mosaico. Fonte: Stig
Alenas, Shutterstock, 2017.
17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
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manutenção de privilégios pessoais apenas aos ligados à família imperial privaria a
sistemática de governo de indivíduos mais capacitados para algumas funções pelo
simples fato de não se encontrarem beneficiados na rede de relaçõesfamiliares.
Durante o governo dos Comnenos uma nova potência externa alterou toda a
dinâmica de poder não apenas nas fronteiras bizantinas, mas por todo o Oriente
médio, planalto iraniano e Ásia Central: o estabelecimento e expansão dos turcos
seljúcidas.
Originários das estepes asiáticas, do ramo turco oghuz, a dinastia dos Seljúcidas,
convertida ao islamismo, se expandiria pelas regiões do antigo Império Persa,
tomando grande parte dos territórios ocidentais do Califado Abássida e do Império
Bizantino. Em 1071, os Bizantinos foram derrotados na Batalha de Mazikert, na qual
o imperador romano IV Diógenes seria capturado, o que permitiu uma penetração
ainda maior turca na Ásia Menor. Ao mesmo tempo, Aleixo Comneno enfrentava
normandos a oeste e petchenegues - outra tribo nômade das estepes euroasiáticas
que também traziam problemas à Rússia de Kiev.
Quando Aleixo subiu ao poder praticamente toda a península da Ásia Menor fora
conquistada pelos turcos. O imperador foi capaz de assegurar os territórios
costeiros, mas não mais que isso, e o Império estava reduzido praticamente à
península balcânica. É nesse contexto que Aleixo envia o célebre pedido de ajuda ao
Ocidente, que acabaria por influenciar decisivamente no início das cruzadas.
As cruzadas tiveram o potencial de restabelecer as relações entre Ocidente e
Oriente, mas acabaram por ter consequências funestas para Bizâncio. Num primeiro
momento, as sucessivas levas de cruzados foram de considerável auxílio para a
manutenção e mesmo restauração de parte do poder bizantino na Ásia Menor. Aleixo
agiria com astúcia em diversas situações, procurando evitar que os ocidentais se
tornassem um problema ainda maior para Bizâncio do que os próprios turcos. 
1.4.2  Os últimos imperadores dos Comnenos 
O governo de Aleixo e seus sucessores imediatos são considerados como a
Restauração Comnena. Outros problemas com os quais Aleixo lidou em seu
turbulento reinado incluíram uma reforma monetária e a heresia dos paulicianos e
bogomilos.  Seu filho João II (1087-1143) não apenas lidaria satisfatoriamente com
os turcos como derrotaria decisivamente os petchenegues, sendo considerado por
vezes um governo de maior sucesso do que de seu próprio pai. O próximo Comneno,
Manuel I (1118-1180), seria o último dos Comnenos de sucesso, e chegaria ao ponto
de tentar restabelecer a união das duas cristandades.
17/04/24, 17:03 História Medieval Oriental
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Com os governantes subsequentes, Bizâncio caminhou novamente para um estado
de declínio: Aleixo II (1169-1183), Andrônico I (1180-1185) tiveram governos curtos e
efêmeros, os últimos do grande período dos Comnenos. Andrônico teve morte
terrível, amarrado a um poste por seu rival Isaque II Angelos, espancado, tendo sua
mão cortada, dentes e cabelos arrancados pela população, e água fervente lançada
sobre si. 
CASO
Os Angelidas e a Quarta Cruzada
A tradição dos Comnenos de personalizar o governo, diminuir o peso da burocracia estatal e criar
uma rede de poder altamente personalizada ligada a privilégios e gerida por meio de intrigas e
manipulações acabaria por gerar seu ônus para Bizâncio.
O preço da política se faria sentir logo na dinastia sucessora, os Angelidas. Isaque, seu fundador, teve
reputação de incompetente, dissoluto e ineficaz, que gastaria muitos recursos públicos levianamente
e sob quem Bizâncio perdera muito território; no final, seria deposto e preso. No governo de seu
sucessor, Aleixo III (1153-1211), o desastre se precipitaria. Organizou-se no ocidente a quarta
cruzada, que seria levada a cabo em 1204 e cujos objetivos originais, organizada diretamente pelo
papa Inocêncio III, eram atacar o Egito.
Os cruzados, no entanto, atuaram de forma diferente. Aleixo IV, filho do deposto Isaque, fugira de
Constantinopla e, por intermédio dos mercadores de Veneza, negociou com os cruzados que, ao
invés de se dirigirem para o Egito, atacaram e devastaram Constantinopla. Aleixo III foi libertado da
prisão e recolocado no trono, mas não teve condições de atender às demandas dos cruzados, que
acabaram por fundar o Império Latino de Constantinopla, de 1204 até 1261.
As casas governantes bizantinas organizarem-se e manterem resistência, principalmente por meio
do estabelecimento do Império de Nicéia e o Império de Trebizonda na Ásia Menor, e o Despotado do
Epiro nos Balcãs, o Império Bizantino não se recuperaria totalmente do golpe sofrido. Os três reinos
greco-bizantinos alegavam legitimidade em relação a Bizâncio e chegaram a lutar entre si, mas foi o
Império de Nicéia que conseguiu retomar Constantinopla, sob o comando da família dos
Laskarides.  Você tem aqui, portanto, um exemplo dramático de como a desconsideração das
instituições levaram ao declínio irreversível de um império milenar. 
O general Miguel IV Paleólogo (1223-1282), também chamado de “o usurpador”, foi
em grande parte responsável pela retomada de Constantinopla e pela restauração
do Império Bizantino, e fundaria a dinastia dos Paleólogos, a última casa real de
Bizâncio. O período da dinastia dos paleólogos foi conturbado politicamente, mas é
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considerado por diversos autores como um momento de significativa renovação
artística e cultural. Você deve compreender que nos séculos finais de Bizâncio
ocorreu uma verdadeira Renascença cultural que precedeu a Renascença Italiana.
A este renascimento deu-se o nome de renascença paleóloga, quando os sábios
bizantinos efetuaram um momento de busca de seus ancestrais e das obras gregas
da antiguidade (WELLS, 2011).  Mas não se engane, pois politicamente a situação
não acompanharia o desenvolvimento intelectual e a situação bizantina era
decadente.
1.4.3 O enfraquecimento do Império e as consequências 
O Império contava com inimigos externos como os turcos, governados pela dinastia
Otomana a partir de 1299, Gênova e Moscou. Os paleólogos chegaram a se tornar
vassalos dos turcos no governo de João V (1332-1391), a partir de 1371, até Manuel II
(1350-1425), de 1391 a 1425.
Os três imperadores finais de Bizâncio foram Manuel II (1392-1448), João VIII (1392-
1448) e Constantino XI (1405-1453). Constantino morreu durante o sítio e conquista
de Constantinopla, levada a cabo por Mehmed II em 1453. Demetrio (1407-1470),
Tomas (1409-1465) e André (1453-1502) reivindicariam ainda o direito ao trono de
Bizâncio, procurando obter apoio no Ocidente para retomá-lo, mas nada se pode
fazer.
João VIII tentaria promover a reunião das igrejas proposta pelo papa Eugênio IV,
participando do Concílio de Ferrara em 1438 com um grande séquito que incluía o
patriarca de Constantinopla e representantes das sedes de Antioquia, Alexandria e
Jerusalém. As questões antigas do cisma, e principalmente a cláusula do filioque,
foram fortemente debatida, e os eclesiásticos recusavam-se a estabelecer um
consenso, ainda que pressionados pelo imperador em prol de uma reconciliação.
O concílio se transferiria para Florença no ano seguinte e, a despeito de um acordo o
assinado pelo patriarca José II de Constantinopla, muitos dos gregos discordaram
da decisão.
A participação grega no concílio marcou também outra ruptura dentro do próprio
mundo ortodoxo, desta feita da parte de Moscou, que passaria a se considerar o
último bastião da ortodoxia e a terceira Roma (WELLS, 2011).
A queda de Constantinopla teve implicações amplas, a nível mundial, sendo
considerada como um dos marcos de transição da Idade Média para o período
Moderno. Dentre as consequências você deve compreender o fechamento das rotas
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de comércio, fossem por via marítima ou terrestre, com o Oriente, em particularChina e Índia. Isso levaria as nações europeias a buscarem outras formas de atingir
as áreas com valiosas especiarias necessárias à preservação de alimentos. A
consequência final desta busca por novas rotas marítimas você já conhece: trata-se
da própria exploração do Oceano Atlântico e descoberta das Américas por parte dos
europeus Ibéricos. 
 Fetih 1453 (SARUHAN, 2012) é um filme turco que narra a conquista de Constantinopla sob um forte viés
nacionalista turco. Executado com orçamento de 17 milhões de dólares, foi muito apreciado pelo primeiro
ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. Antes de uma retratação histórica verídica e fiel da conquista de
Constantinopla, o filme é uma representação nacionalista que reflete a política contemporânea turca
buscando usar de recursos hollywoodianos.   
Outra consequência menos enfatizada, mas igualmente de grande relevância, ainda
que em nível intelectual, será a migração e fuga em massa de sábios bizantinos para
o Ocidente, principalmente para as cidades italianas próximas geograficamente. A
grande quantidade de sábios advindos da renascença paleóloga, fluentes no grego e
nos conhecimentos dos clássicos geraria impacto nas cidades italianas, colaborando
para o desenvolvimento do Renascimento e do Humanismo.   
VOCÊ QUER VER?
Síntese
Você terminou os estudos sobre a história Bizantina, dos processos que levaram ao
seu surgimento enquanto uma unidade política distinta do Império Romano até os
eventos que precipitaram sua crise. Conheceu algumas de suas principais dinastias e
momentos-chave de sua história em sua relação com o Ocidente e Oriente, seu
legado cultural e impacto na história mundial.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
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compreender a Antiguidade Tardia, conceito novo na historiografia e que
remete aproximadamente aos séculos IV-VIII;
compreender que atualmente se discute o “declínio” do Império Romano,
considerando-o um processo com muitos fatores envolvidos, ao invés de
“queda”, que implica em um único evento;
compreender que o Império Romano de Oriente preservou não apenas o
legado cultural romano, mas o legado da antiguidade grega para a
posteridade;
acompanhar as dinastias fundadoras do Império Bizantino: as Constantinianas
e Teodosianas (sécs. VI-V), ainda que as características bizantinas mais
marcantes se fortaleçam com os Justinianos (séc. VI);
identificar que com os Macedônios (séc. X-XI), os bizantinos passam por uma
espécie de renascimento;
analisar que dos Comnenos (XI-XV) aos Paleólogos (XIII-XV) os bizantinos
encaminham-se para o seu fim, com um período de ápice no início dos
Comnenos e um Renascimento cultural durante os Paleólogos;
identificar que o Renascimento Paleólogo é precursor do Renascimento no
Ocidente e promoveu o retorno aos clássicos gregos;
compreender que os turcos conquistam Constantinopla em 1453 e encerram o
período de milênios de habitação grega na Ásia Menor.
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