Buscar

Introdução ao Direito Penal

Prévia do material em texto

PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
1 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
DEPARTAMENTO DE DIREITO - VDI 
 
 
 
APOSTILA DE DIREITO PENAL I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Dr. Taiguara Libano Soares e Souza 
2020.1 
 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
2 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL I: 
Aula 1- Introdução ao Direito Penal ...................................................................... 3 
Aula 2- História do Direito Penal .......................................................................... 13 
Aula 3- Escolas penais .......................................................................................... 22 
Aula 4- Princípios penais ...................................................................................... 39 
Aula 5- Teoria da norma penal ............................................................................. 52 
Aula 6- Lei penal no tempo. ................................................................................. 58 
Aula 6- Lei penal no espaço .................................................................................. 62 
Aula 8- Conceito e classificação de crime............................................................. 71 
Aula 9- Ilicitude .................................................................................................... 79 
Aula 10- Tipicidade ............................................................................................... 92 
Aula 11- Dolo e culpa .......................................................................................... 101 
Aula 12- Desistência voluntária ........................................................................... 114 
Aula 13- Culpabilidade ........................................................................................ 121 
Referências Bibliográficas. .................................................................................. 131 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
3 
 
 
 
 
DIREITO PENAL I 
 
 
 
 
Aula I – Introdução ao Direito Penal 
 
Conceito: Normas jurídicas que definem crimes com a respectiva cominação de 
sanções. 
Cézar Roberto Bittencourt define o direito penal como o conjunto de normas jurídicas 
que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções 
correspondentes- penas e medidas de segurança. Ao mesmo tempo, apresenta-se como um 
conjunto de valorações e princípios que orientam a própria aplicação e interpretação das 
normas penais. 
Como orienta Zaffaroni, a expressão ‘’Direito Penal’’ designa – conjunta ou 
separadamente – duas coisas distintas: 1) o conjunto de leis penais, isto é, a legislação penal; e 
2) o sistema de interpretação dessa legislação, ou seja, o saber do direito penal. 
 
Na definição de Welzel, é aquela parte do ordenamento jurídico que fixa as 
características da ação criminosa, vinculando-lhe penas e medidas de segurança. O delito é visto 
como pressuposto, e a pena como consequência. (“Conjunto das prescrições emanadas do 
Estado, que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência”) Von Lizt. 
Juarez Cirino dos Santos diz que a definição de crimes se realiza pela descrição das 
condutas proibidas; a cominação de penas e a previsão de medidas de segurança se realiza pela 
delimitação de escalas punitivas ou assecuratórias aplicáveis, respectivamente, aos autores 
imputáveis ou inimputáveis dos fatos puníveis. 
Ao conceito acima Frederico Marques acrescenta: “...e que disciplina também as relações 
jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do 
direito de liberdade em face do poder de punir do Estado”. 
 
 
Crime = fato típico, ilícito, culpável 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
4 
 
 
 
❖ Típico: é quando a conduta coincide com a lei penal. 
❖ Ilícito: não há nenhuma causa de exclusão da ilicitude. 
❖ Culpável: quando reconheço que o indivíduo pode ser penalmente responsabilizado. 
 
 
Características: 
 
Características do Direito Penal 
1. Autonomia: possui independência. É um ramo autônomo do Direito. 
2. Natureza imperativa e sancionadora: estabelece condutas que não podem ser 
praticadas e suas respectivas sanções. Sancionador no sentido de que não cria bens 
jurídicos, mas acrescenta a sua tutela penal aos bens jurídicos regulados por outras áreas 
do Direito. 
3. Caráter Positivo: não tem por base o costume, e sim, a lei escrita. 
4. Axiológico: atribui valores que devem ser preservados pela sociedade. Esses são 
levados à prática por meio de critérios e princípios jurídicos que são próprios do Direito 
Penal. 
 
Para Nilo Batista: seletivo, repressivo e estigmatizante. 
 
❖ Seletivo: não atinge a todos da mesma forma, há uma seletividade para aplicação da 
penal. Geralmente, segue-se os seguintes critérios. Classe social, raça e estrutura. 
❖ Repressivo: atua após um delito, repudiando o desvio. 
❖ Estigmatizante: o indivíduo é considerado inferior mesmo após ter cumprido a pena, 
sendo rotulado pelo resto da vida. 
 
 
Teoria Geral do Direito Penal 
Divisão: 
I. Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo 
 
II. Direito Penal Comum e Direito Penal Especial 
 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
5 
 
 
III. Direito Penal Substantivo e Direito Penal Adjetivo. 
 
 
 
 
 
Diferenciações 
 
Norma Penal Lei Penal 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
6 
 
 
 
Regra proibitiva, não escrita, extraída do 
senso de justiça do povo. 
Regra escrita feita pelo legislativo, 
tomando expresso o comportamento 
indesejável. 
Direito Penal Direito Criminal 
Ênfase na pena. Ênfase no crime. 
 
 
 
Direito Penal Objetivo Direito Penal Subjetivo 
É o conjunto das normas jurídicas por 
meio das quais o Estado tutela os bens 
mais importantes, definindo as condutas 
que o ameaçam ou o danifica. Temos 
então os ilícitos jurídicos penais (crimes e 
contravenções), as consequentes penais e 
as medidas de segurança. 
É o poder-dever do Estado de impor 
sanções, como consequências dos ilícitos 
jurídicos penais. É o próprio jus puniendi 
do Estado, que encontra seu limite no 
direito subjetivo de liberdade do cidadão, 
que lhe garante não ser sancionado senão 
de acordo com as normas do direito penal 
objetivo. 
Direito Penal Comum Direito Penal Especial 
Reporta-se a normatização codificada, 
sistematizada, organizada em um sistema 
jurídico denominado código penal. O 
código é constituído da parte geral e parte 
especial. 
Refere-se à legislação penal extravagante, 
aquela que exorbita1 do código, compondo 
o direito penal não codificado. Leis penais 
extravagantes. Lei de contravenções 
penais2, lei de tóxicos, lei dos crimes 
hediondos, lei dos crimes ambientais, etc. 
Direito Penal Substantivo Direito Penal Adjetivo 
Representa a norma penal tal como escrita 
no código penal ou na legislação 
extravagante citada acima, descrevendo os 
crimes ou as contravenções, suas 
respectivas sanções, bem ainda os 
institutos jurídicos-penais correlatos3. 
São as normas processuais penais. Tem a 
finalidade de determinar a forma como 
deve ser aplicado o Direito Penal, 
constituindo-se em verdadeiro 
instrumento de aplicação do Direito Penal 
 
 
1 Sair do limite. 
2Contravenção ou Contraordenação é uma infração penal considerada como "crime menor". É punida com 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
7 
 
 
pena de prisão simples, multa ou ambas. 
3 Relação onde há reciprocidade. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
8 
 
 
 
 substantivo. São normas técnicas 
desprovidas de caráter axiológico. 
 
 
Controle Social 
 
Conceito: Sociedade – Poder – Estado 
 
O poder está alicerçado não só ao Estado, mas a toda uma rede de nível micro, 
disseminada pelo tecido social. 
Classificações: 
 
❖ Controle Social Difuso ou Informal: pressupõe um conjunto de estratégias sociais 
exercidas fora do Estado. Exemplo: igreja, escola,mídia, associações. 
❖ Controle Social Institucionalizado: aquele exercido através dos órgãos e da estrutura 
social. 
❖ Controle Social Não-Punitivo: são definidos comportamento que não se encontram 
em um escopo punitivo. 
❖ Controle Social Punitivo: são definidos comportamentos que se encontram em um 
escopo punitivo. O sistema penal é um controle social punitivo institucionalizado. 
➢ Com Discurso Não-Punitivo: medidas socioeducativas. 
➢ Formalmente Punitivo: sistema prisional. 
 
 
Sistema Penal 
 
É o “controle social punitivo institucionalizado” (Zaffaroni). 
 
Compreende além das normas definidoras de crimes as demais que estão 
funcionalmente ligadas a elas, como a legislação processual penal, a lei de execução penal, as 
normas de organização penitenciária, além “das instituições que desenvolvem suas atividades 
em torno da realização do direito penal” (Batista) 
Pretende ser um “sistema garantidor de uma ordem social justa”. 
 
 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
9 
 
 
 
Criminologia 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
10 
 
 
Conceito: 
 
Campo de interdisciplinaridade para o estudo do crime (conecta Sociologia Criminal, 
Antropologia Criminal, Psicologia, Psiquiatria, História, Filosofia, entre outros). 
Criminologia Positivista: 
 
Modelo Causal-Explicativo; Patologia e pré-determinismo; Personalidade do Crimioso. 
 
Criminologia Crítica: 
 
Processo de criminalização; Motivações e Razões políticas; 
 
Política criminal 
 
Conceito: Conjunto de técnicas, que atuam no sistema penal, por meio da Criminologia, com 
análise crítica do direito, de forma a propor alterações ao processo de criminalização de 
condutas. Divide-se em: 
• Política Criminal de Segurança Pública 
 
• Política Criminal Judiciária 
 
• Política Criminal Penitenciária 
 
 
 
Ciência do direito penal ou dogmática penal 
 
Dogmática penal ou ciência penal compreende o direito penal e o processo penal. Ela 
está entrelaçada com o ordenamento jurídico e visa elaborar e desenvolver um sistema, a fim 
de interpretar e aplicar o direito penal, de modo lógico (formal e material) e racional. É 
constituída pelo conjunto de conhecimentos (normas e princípios), ordenada metodicamente; 
também chamada de dogmática penal, discorre sobre o estudo da principiologia referente ao 
conhecimento do conteúdo das normas penais e dos institutos que com elas se relacionam, 
através dos trabalhos de interpretação, classificação e sistematização, usando-se métodos 
lógicos e racionais. 
Execução Penal 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
11 
 
 
Execução penal é uma disciplina que trata da regulamentação, do regramento, dos 
direitos e deveres dos presos. Ela não trata apenas das questões relacionadas com o cárcere, 
mas se preocupa com a reabilitação do condenado. Embora seja de extrema importância, não 
possui autonomia e é pouco valorizado, sendo negligenciada4 por atingir a minoria. 
 
 
Bem jurídico 
 
A idéia de que o crime lesa bens fundamentais e não direitos remonta a Birnbaum (séc. 
XIX), que vem dizer que os crimes não lesam direitos, mas sim bens, isto é, entidades para além 
da própria ordem jurídica. 
 
Os bens jurídicos não são realidades palpáveis, concretas, são antes valores da existência 
social. 
 
Não é efectivamente o legislador que cria esses bens, pois eles já existem, preexistem, 
sendo certo obviamente que quando o legislador lhes confere tutela jurídica transforma esses 
bens em bens jurídicos. 
Estes bens são interesses da coexistência social, são valores reputados fundamentais à 
própria existência da sociedade organizada em termos de Estado. Os comportamentos que 
agridam lesem, ponham em causa, façam perigar esses interesses, devem ser objeto de uma 
reação. 
O Direito Penal não deve intervir para tutelar todo e qualquer bem jurídico; o Direito 
Penal deve intervir apenas para tutelar as ofensas mais graves a esses bens jurídicos que, por 
outro lado, têm de ser bens jurídicos fundamentais, daí carácter subsidiário e fragmentário do 
Direito Penal. 
 
 
Conceito de pena 
 
Imposição pelo Estado ao condenado de sanção contra a prática de um fato definido na lei como 
crime. 
 
 
 
 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
12 
 
 
4Fingir não ter importância. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
13 
 
 
❖ Para Damásio de Jesus, "pena é a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação 
penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente 
na diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos delitos" . 
❖ Para Aníbal Bruno, “pena é a sanção, consistente na privação de determinados bens 
jurídicos, que o Estado impõe contra a prática de um fato definido na lei como crime.” 
❖ Para Franz Von Liszt, “a pena é um mal imposto pelo juiz penal ao delinqüente, em 
virtude do delito, para expressar a reprovação social em relação ao ato e ao autor.” 
❖ O Brasil adota o critério biopsicológico para imputar a pena. 
 
 
Conceito agnóstico de pena 
 
Essa teoria tem como fundamento modelos ideais de estado de polícia e de estado de 
direito. Para a teoria agnóstica da pena, existe uma grande dificuldade em acreditar que a pena 
possa cumprir, na grande maioria dos casos, as funções manifestas atribuídas a ela expressa no 
discurso oficial. 
Para os seguidores dessa linha de pensamento, a pena está apenas cumprindo o papel 
degenerador da neutralização, já que é empiricamente comprovada a impossibilidade de 
ressocialização do apenado. Não quer dizer que essa finalidade de ressocializar, reintegrar o 
condenado ao convívio social deva ser abandonada, mas deve ser revista e estruturada de uma 
maneira diferente. Para tanto, adverte-se que a reintegração social daquele que delinquiu não 
deve ser perseguida através da pena e sim apesar dela, vez que para afeitos de ressocialização 
o melhor criminoso é o que não existe. 
Não admite nenhuma função positiva da pena. 
 
❖ Zaffaroni-Batista-Slokar-Alagia: Conceito ampliado de pena. 
➢ Percebe manifestações legais latentes e eventuais do poder punitivo. 
➢ Poder punitivo vai além da criminalização primária e secundária (p.e. qualquer 
função manifesta não-punitiva, como assistencial, tutelar, pedagógica, sanitária) 
➢ Não concede função positiva; 
➢ Conceito “agnóstico” quanto a sua função. Confessa não a conhecer. 
❖ Pressuposto Oficial da Pena: 
➢ Prática de um delito. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
14 
 
 
❖ Fundamento da Pena: 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
15 
 
 
➢ Discurso do Estado de legitimidade da segurança da convivência social, com 
função de manter o ordenamento jurídico. 
❖ Momentos de concretização da pena: 
➢ Cominação 
➢ Aplicação 
➢ Execução 
 
 
A imputabilidade faz parte da culpabilidade. No Brasil adotamos o critério 
biopsicológico da imputabilidade, ou seja, levamos em conta a idade e a sanidade mental do 
indivíduo. 
 
 
Critério Biopsicológico para aplicação de “Sanção” 
1º - Idade 
❖ Ato Infracional: o ato infracional é o ato condenável, de desrespeito às leis, á ordem 
pública, aos direitos dos cidadãos ou ao patrimônio, cometido por crianças ou adolescentes 
(menores de 18 anos). Só há ato infracional se àquela conduta corresponder a uma hipótese 
legal que determine sanções ao autor. O ato infracional, portando, difere do crime. 
❖ Medidas de Proteção: no caso de ato infracional cometido por crianças (até 12 anos), 
aplicam-se as medidas de proteção. Nesse caso, o órgão responsável pelo atendimento é o 
conselho tutelar. Não cabe internação. 
❖ Medidas Socioeducativas: o ato infracional cometido por adolescente (entre 12 e 18 anos) 
deve ser apurado pela delegacia da criança e do adolescente a quem cabe encaminhar o caso 
ao promotor de justiça que poderá aplicar uma das medidas socioeducativas prescritas no 
estatuto da criança e do adolescente.Medias socioeducativas aplicáveis: advertência, 
obrigação de reparar o dano, prestação de serviçosa comunidade, liberdade assistida, 
inserção em regime de semiliberdade, internação em estabelecimento educacional, dentre 
outras previstas pelo ECA. 
 
 
Medidas de Segurança 
 
Aplica-se medidas de segurança àqueles que praticam crime e que por serem portadores de 
doenças mentais, não podem ser considerados responsáveis pelos seus atos e, portanto, devem 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
16 
 
 
ser tratados e não punidos. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
17 
 
 
A medida de segurança constitui uma espécie de sanção penal imposta pelo Estado ao 
agente inimputável ou semi-imputável que praticar um fato típico ou ilícito, com base no grau 
de periculosidade do mesmo. São de natureza assistencial, medicinal ou pedagógica. Trata-se 
de um meio de prevenção do crime que abstrai a culpabilidade, e se funda na periculosidade do 
agente. 
Medida de segurança não é pena, trata-se de um tratamento a que deve ser submetido o 
autor de crime com fim de curá-lo, ou no caso de tratar-se de portador de doença mental 
incurável, de torna-lo apto a conviver em sociedade sem voltar a delinquir (cometer crimes). 
Quem está sujeito à medida de segurança não pode ser tratado em presídio. O código 
penal determina que o tratamento deverá ser feito em hospital de custódia e tratamento, nos 
casos em que é necessária a internação do paciente, ou quando não houver necessidade de 
internação, o tratamento será ambulatorial (a pessoa se apresenta durante o dia em local próprio 
para o atendimento), dando-se assistência médica ao paciente. 
Havendo a falta de hospitais para tratamento, o código diz que o tratamento deverá ser 
feito em outro estabelecimento adequado, e que o presídio não pode ser considerado 
estabelecimento apropriado para tratar doença mental. 
Não foi previsto pelo código penal prazo máximo de duração da medida de segurança. 
No entanto, como a constituição federal determina que no Brasil não haverá pena de caráter 
perpétuo e que o tempo de prisão não excederá 30 (trinta) anos, é possível afirmar que a medida 
de segurança não pode ultrapassar o previsto na constituinte, aplicando-se o princípio da 
isonomia. 
A periculosidade do agente é avaliada por meio de diagnóstico de laudo médico, 
encaminhando ao juiz de conversão (de cumprimento de pena, para a internação). O internado 
tem seus direitos preservados. Entre os direitos do internado estão o de ser tratado dignamente, 
em local adequado e por profissionais competentes, o de ser submetido a tratamento adequado 
a proporcionar sua cura e recuperação e consequente retorno ao convívio social; o direito de ser 
submetido à perícia médica anual para verificação da periculosidade, o direito de ser defendido 
por advogado de sua confiança, ou na sua ausência, por profissional nomeado pelo juiz. 
Surgem para suprir as deficiências do sistema penal clássico. Fundadas na 
periculosidade do agente. São de natureza assistencial, medicinal ou pedagógica. Trata-se de 
meio de prevenção do crime que abstrai a culpabilidade, e de funda na periculosidade do 
agente. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
18 
 
 
No Brasil vigorava o sistema do duplo binário (penas + medidas de segurança). 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
19 
 
 
No CP 1940 antes da reforma de 1984, determinava a imposição de pena atenuada aos 
inimputáveis e depois a medida de segurança “curativa”. 
Atualmente vigora o sistema vicariante – não prevê a aplicação de medida de segurança 
preventiva aos imputáveis. As medidas de segurança são medidas terapêuticas destinadas aos 
inimputáveis e semi-imputáveis. 
 
 
Discursos criminológicos 
Direito Penal de Emergência 
Garantismo Penal 
Abolicionismo Penal 
(Vide material de criminologia) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 2- História do Direito Penal 
I - Introdução 
A história do Direito Penal consiste na análise do Direito repressivo de outros períodos 
da civilização, comparando-o com o Direito Penal vigente. A importância do conhecimento 
histórico facilita a exegese, que necessita ser contextualizada, uma vez que a conotação que o 
Direito Penal assume, em determinado momento, somente será bem entendida quando tiver 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
20 
 
 
como referência seus antecedentes históricos. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
21 
 
 
Não há continuidade histórica no Direito Penal (Zaffaroni). Não se trata de uma 
progressão sistemática, com princípios, períodos e épocas caracterizadoras de cada um de seus 
estágios. É composto de uma sucessão de marchas e contramarchas na qual vai surgindo a 
concepção de homem como pessoa. A legislação penal tem caráter cultural, e não natural, e a 
história das penas é mais sangrenta que a história dos crimes. 
 
 
II- antiguidade 
 
Idéias Pré-Clássicas 
 
 
 
 
Vingança Divina. Grande influência exercida pela religião na vida dos povos antigos. O 
princípio que domina a repressão é a satisfação da divindade, ofendida pelo crime. Pune-se com 
rigor, antes com notória crueldade, pois o castigo deve estar em relação com a grandeza do deus 
ofendido. Trata-se do Direito Penal religioso, teocrático. Tinha como finalidade a purificação 
da alma do criminoso por meio do castigo. O castigo era aplicado, por delegação divina, pelos 
sacerdotes, com penas cruéis, desumanas e degradantes, cuja finalidade maior era a intimidação. 
 
Vingança Privada. Poderia envolver desde o indivíduo isoladamente, até seu grupo social, 
com sangrentas batalhas, causando muitas vezes, a completa eliminação dos grupos. A pena 
representava o simples revide à agressão sofrida pela coletividade, absolutamente 
desproporcional, sem qualquer preocupação com algum conteúdo de justiça. 
 
 
Lei de Talião e composição. 
 
Com a evolução social, para evitar a dizimação das tribos, surgiu a Lei de Talião, 
determinando reação proporcional ao mal praticado. Olho por olho, dente por dente. Este, foi 
considerado o embrião do princípio da proporcionalidade. No entanto, com o passar do tempo, 
como o número de infratores era grande, as populações iam ficando deformadas, pela perda de 
membro, sentido ou função, que o Direito talional propiciava. Assim, evolui-se para a 
composição, sistema através do qual o infrator comprava a sua liberdade, livrando-se do castigo. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
22 
 
 
Esta, constitui um dos antecedentes da moderna reparação do Direito Civil e das penas 
pecuniárias do Direito Penal. 
 
 
Vingança Pública. Com a melhor organização social, o Estado assumiu o poder-dever de 
manter a ordem e a segurança social, surgindo a vingança pública, que, nos seus primórdios, 
manteve absoluta identidade entre poder divino e poder político. O objetivo da repressão 
criminal, nesta fase, é a segurança do soberano ou monarca pela sanção penal, que mantém as 
características de crueldade e da severidade, com o mesmo objetivo intimidatório. 
 
 
Evolução do pensamento criminológico 
Vingança Divina – Pecado - Punição 
- Pecado – Punição 
 
- Queda do Império Romano (séc. IV) 
 
- Influência da religião, sentimento místico 
 
- Castigos aplicados pelos sacerdotes 
 
- Oposição a vingança privada 
 
- Prisão como pena de reflexão para punir clérigos faltosos (penitência) 
 
 
 
 
 
Vingança Pública ou política 
 
- A partir da Idade Moderna 
 
- Estado Absoluto (séc. XV) - Leviatã 
 
- Transferência de poder de Deus ao Monarca (soberano) 
 
- Estado – monopólio da violência legítima 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
23 
 
 
- Crime contra o soberano - lesa majestade 
 
- Prisão apenas para aguardar julgamento 
 
- Pena de morte predominante 
 
 
 
Evolução do pensamento criminológico 
 
Direito Penal Hebraico – Talmud - vingança privada – composição (Lei de Talião dá lugar a 
penas mais brandas) 
Direito Penal Romano – viveu todas as fases. Inova o Direito Penal com incorporação de 
princípios como erro, dolo, culpa, imputabilidade,atenuante, agravante. 
Direito Penal Germânico – vingança privada + composição. Era consuetudinário. Punição 
embasava-se somente no dano causado. Uso de ordálias ou juízo de Deus. 
Direito Canônico (D. Penal da Igreja) – influência do cristianismo. Incorpora Direito Romano. 
Busca humanizar o D. Penal. Pregava Igualdade entre os homens. visavam à regeneração do 
delinqüente pelo arrependimento e purgação da culpa. 
Direito Medieval – Direito Romano + Canônico + Bárbaro. Intimidação com violência. Penas 
cruéis (morte, suplícios, etc). Insegurança jurídica. Sistema inquisitorial. 
 
 
III- Idade Média 
 
Modelo Penal da Idade Média: 
 
Vingança divina (Igreja) + Vingança pública (Estado) 
 
Direito Penal Comum = D. Penal Romano + D. Penal Germânico + D. Canônico 
Delito = pecado / Pena = liberação 
Base para o Sistema Inquisitorial 
 
Modelo Penal da Idade Média delineia todo direito penal ocidental; 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
24 
 
 
Período: Alta Idade Média (século V ao XI), e Baixa Idade Média (século XII ao XV). 
Jurisdição criminal: Igreja e Estado (bipartite). 
Tribunais de Inquisição (Igreja) – crimes contra a fé, a moral e os bons costumes; 
Tribunais leigos (Estado) – crimes contra a vida e o patrimônio 
 
 
Modelo Penal da idade media 
 
Crimes punidos pela Inquisição: Heresia, feitiçaria, sodomia, bestialidade, protestantismo, 
maometismo e judaísmo. 
Penas aplicadas: 
 
1. Penas acessórias: Multa, confisco de bens. 
 
2. Penas principais: Pena de morte civil, pena de morte na fogueira e suplícios. 
 
 
 
Os Suplícios 
 
Técnicas sofisticadas de poder. Mais do que mera violência. Retenção da vida no estado de 
sofrimento. Aplicados oficialmente até a primeira metade do século XVIII (FOUCAULT). 
Características do Suplício 
 
Verdade, cerimonial, confissão, publicidade, provas, sigilo processual. 
 
 
 
Procedimentos inquisitoriais 
 
 Denúncia Anônima. 
 
 Instauração do processo inquisitorial. 
 
 Sigilo no curso do processo até a sentença, e o réu sem advogado. 
 
 Confisco de todos os bens (Casa trancada. Família na rua). 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
25 
 
 
 Prova: confissão mediante tortura. Réu declina da versão anterior. 
 
 Publicidade na execução da pena. Corpo exposto, espetáculo público, leitura de 
sentença nos Autos de Fé. 
 Pena de morte na fogueira sob o patíbulo. 
 
 
 
Inquisição no Brasil 
 
- Não foi uma instituição permanente. 
 
- Apenas 4 visitações do Tribunal do Santo Ofício. 
 
- Alvos: Hereges, mulheres, pobres, cristãos novos, judeus, vadios, homossexuais, 
protestantes. 
 
 
Controle penal da escravidão no Brasil 
 
Séc XVI e XVII – controle penal privado. Começa a haver conflito do senhor versus o Estado 
– que deseja o monopólio punitivo (a partir do séc XVIII) – transição para controle penal 
público. 
Escravo / Punição no Engenho – Tronco, chibata. 
Branco criminoso / Cadeia velha (1565) – Não-escravos 
Calabouço (1767) – Transição do controle privado para o público. 
 
Açoite – Vai tornando-se público – O senhor pagava um escravo para chicotear o outro, no 
espaço público. 
 
 
IV- Idade Moderna 
 
Transição do Medievo para a Modernidade 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
26 
 
 
 Surgimento do Capitalismo e ascensão da burguesia. 
 
 Desenvolvimento do comércio. Grandes navegações. 
 
 Concepções antropocêntricas. 
 
 Revolução Científica. 
 
 Humanismo e Renascimento 
 
 Burguesia x Teocentrismo da Igreja (contra usura) 
 
 Revoluções liberais. 
 
 Racionalismo. 
 
 Individualismo (contra o coletivismo Feudal). 
 
 
 
Reação Humanitária 
 
 Século XVIII – Iluminismo 
 
 Reforma do Sistema Penal 
 
 Beccaria e a Escola Clássica 
 
 Movimento codificador 
 
 Afirmação de princípios penais: 
 
- Legalidade 
 
- Individualização da pena 
 
- Devido processo legal 
 
 
 
TRANSIÇÃO DAS PENAS DE SUPLÍCIOS PARA PENAS DE PRISÃO 
 
Transformações e mudanças na subjetividade da população diante do ânimus punitivo. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
27 
 
 
 
Aclamações/ Protestos/ Manifestações populares pelo abrandamento penal. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
28 
 
 
Repúdio às execuções, pedido de soltura dos condenados. 
Antes: criminosos eram ridicularizados. 
Depois: criminosos associados a pequenos furtos eram heroicizados, por boletins apócrifos. 
 
 
 
TRANSIÇÃO DAS PENAS DE SUPLÍCIOS PARA PENAS DE PRISÃO 
 
 
 
 
Poder Feudal Poder Moderno 
Exuberante Modesto 
Visual Anônimo 
Voluptuoso Simples e discreto 
Majestoso Funcional e útil 
Vertical Horizontal 
 
 
DESLOCAMENTO DO OBJETO DE SOFRIMENTO 
 
Corpo Alma 
Físico Subjetividade 
Força Consciência 
Dor Física Dor psicológica e espiritual 
 
 
Modelo Penal da Idade Moderna 
Modelo medieval guiava-se por ideias metafísicas. 
❖ Predomínio da Prisão como pena (antes apenas cautelar) 
❖ Prisão como pena surge no século XVIII; 
❖ Prisão substitui pena de morte; 
❖ Inicialmente apenas para mendigos, prostitutas, vagabundos e loucos – após, para todos 
❖ Trabalho na prisão – adestramento (dever e não direito) 
❖ Surgimento das Casas de Correção 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
29 
 
 
❖ Pena de Prisão como salvação do criminoso (Culturas “RE” – ressocialização, 
reeducação, reinserção social) 
Princípio acusatório 
Provas cabais. 
 
 
SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO 
 
1- Período Colonial - Ordenações Filipinas (1603) 
 
Não havia sistema penitenciário. A legislação portuguesa punia com a morte na 
fogueira, suplícios e açoites. 
2 - Período Imperial – Código Criminal do Império (1830) – As penas eram de açoites apenas 
para os escravos, trabalhos forçados, exílio e morte por enforcamento, para os demais. 
A partir de 1835 – construção do primeiro sistema penitenciário 
 
3 - República Velha 
 
Código Penal Republicano (1890) 
 
A pena de morte foi oficialmente abolida, juntamente com o exílio e os trabalhos 
forçados. Expansão do sistema penitenciário 
4º - Código Penal de 1940 (até o presente) 
 
- Mantém a prisão e a reduz 
 
- Introdução de penas Alternativas 
 
- Lei de Execução Penal 
 
 
 
 
 
 
 
Período 
Colonial 
 Período 
Imperial 
 República 
Velha 
 Código de 
1940 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
30 
 
 
Conjunto de 
normas que 
 
→ 
Em 1835 foi 
criado o 
 
→ 
Criação do 
segundo 
 
→ 
Durante o 
Estado Novo, 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
31 
 
 
 
vigoravam na 
metrópole de 
Portugal, 
quando não 
existiam lei 
no Brasil. 
primeiro 
sistema 
penitenciário, 
a Casa de 
Correção da 
Corte. 
código penal 
sem pena de 
morte, tendo a 
prisão como o 
principal 
meio de 
punição. 
presente até 
hoje. Esse 
código recebe 
uma grande 
reforma no 
ano de 
1984. Foi 
aprovada a lei 
de execução 
penal - LEP. 
Instrução de 
como 
funciona o 
sistema 
carcerário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 3: ESCOLAS PENAIS 
 
As escolas penais fazem parte de uma dogmática jurídico-penal e merecem atenção para 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
32 
 
 
realizarmos o aprofundamento da matéria penal. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
33 
 
 
 
 
 
1- Escola Clássica 
 
-Fim do século XVIII e início do século XIX 
 
-Método lógico-abstrato, dedutivo 
 
-Beccaria 
 
Defesa da criação de um CP e de princípios. Limitando o poder punitivo do Estado, 
racionalizando o Sistema Penal. Abordagem liberal do direito criminal. 
A denominação Escola Clássica não surgiu, como era de esperar, da identificação de 
uma linha de pensamento comum entre os adeptos do positivismo jurídico, mas foi dada, com 
conotação pejorativa, por aqueles positivistas que negaram o caráter científico das valorações 
jurídicas do delito. Os postulados consagrados pelo Iluminismo, que, de certa forma, foram 
sintetizados no célebre opúsculo de Cesare de Beccaria, Dos Delitose das Penas (1764), 
serviram de fundamento básico para a nova doutrina, que representou a humanização das 
Ciências Penais. A crueldade que comandava as sanções criminais em meados do século XVIII 
exigia uma verdadeira revolução no sistema punitivo então reinante. 
A partir da segunda metade desse século, “os filósofos, moralistas e juristas, dedicam 
suas obras a censurar abertamente a legislação penal vigente, defendendo as liberdades do 
indivíduo e enaltecendo os princípios da dignidade do homem”. Desse movimento filosófico 
resultaram duas teorias, com fundamentos distintos: de um lado, o jusnaturalismo, de Grócio, 
com sua ideia de um Direito natural, superior e resultante da própria natureza humana, imutável 
e eterno; de outro lado, o contratualismo, de Rousseau, sistematizado por Fichte, e sua 
concepção de que o Estado, e por extensão a ordem jurídica, resulta de um grande e livre acordo 
entre os homens, que cedem parte dos seus direitos no interesse da ordem e segurança comuns. 
No entanto, coincidiam no fundamental: na existência de um sistema de normas jurídicas 
anterior e superior ao Estado, contestando, dessa forma, a legitimidade da tirania estatal. 
Propugnavam pela restauração da dignidade humana e o direito do cidadão perante o Estado, 
fundamentando ambas, dessa forma, o individualismo. 
Uma ideia vinculada aos delineamentos reabilitadores da pena é a de que o delito é 
expressão de alguma patologia, quese harmonizaria com a irremediável imposição de uma 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
34 
 
 
sanção. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
35 
 
 
Matrizes teóricas: 3 referências principais - Iluminismo, utilitarismo e racionalismo. 
O Iluminismo é uma corrente filosófica que floresce no século XVII na Europa que se 
contrapunha a correntes filosóficas do antigo regime. Ideia de luzes para a Idade das trevas 
através da liberdade de expressão por exemplo, barrada pela igreja. Tinha cunho liberal e 
pensadores adeptos como Rousseau, Montesquieu e o próprio Beccaria. 
O Utilitarismo traduz a ideia de que as escolhas feitas pelo Estado deveriam estar 
voltadas para uma utilidade. Destaca-se aqui Bentham, que propôs o modelo panóptico e Stuart 
Mill. Essa ideia respaldava a tortura. 
O racionalismo se contrapõe a visão de mundo teocêntrica. A razão tem lugar, não sendo 
somente a fé predominante. Visão antropocêntrica sendo apresentada; espaço para o 
desenvolvimento da ciência. Descartes se destaca dentro do racionalismo. 
Beccaria era um adepto do Iluminismo e sua obra mais conhecida é Dos Delitos e Das 
Penas. Além dele, Carrara, Bentham e Romagnosi se destacam na escola clássica. 
Deixa como legado a representação da ideia de abolição das penas de morte e corporais. 
''A pena deve ser pública, pronta e necessária''. ''A menor das penas aplicáveis''. ''Proporcionada 
ao delito e determinada pela lei''. 
O método da criminologia clássica é dedutivo. Do geral para o específico. (Lei penal = 
geral e o caso concreto = particular). Normativismo. Gerou um culto a lei, gerando o problema 
de que a lei por si só não garante justiça. O objeto de estudo dessa escola era o crime, como 
ente jurídico e não como fato social; a pena tinha função de prevenção geral negativa, ou seja, 
a ideia de intimidação. 
Para respaldar essa ideia, Beccaria utilizava a ideia de pena exemplar, ou seja, não é 
punir mais, mas punir melhor. A capacidade preventiva não se encontra na severidade, mas na 
certeza da punição; Ideia do direito penal minimalista. 
Bentham era um cientista político inglês e no século XVIII escreve uma obra chamada ''o 
panóptico''. PAN= totalidade e ÓPTICO= visual. 
Este, seria um modelo de arquitetura prisional que permitisse total vigilância, com o 
objetivo de superar fugas, rebeliões, etc. Ideia de ''cadeia ideal''. 
Bentham usava o panóptico como uma metáfora para como deveria funcionar o Estado; esse 
Estado seria capaz de ter total controle e vigilância absoluta sobre os indivíduos. Essa ideia foi 
posteriormente desenvolvida. - Orwell 1984. 
Foram os clássicos, sob o comando do insuperável Carrara, que começaram a construir 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
36 
 
 
a elaboração do exame analítico de crime, distinguindo seus componentes. A pena, era para os 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
37 
 
 
clássicos, uma medida repressiva, aflitiva e pessoal, que se aplicava ao autor de um delito que 
tivesse agido com capacidade de querer e entender. 
 
 
2- Escola Positivista 
 
-Fim do século XIX e início do século XX 
 
-Método Indutivo 
 
-Lombroso 
 
Uma de suas principais características: trabalhava com conceito de criminoso nato, 
admitia a possibilidade da ressocialização, no entanto, defendia a eliminação física, daqueles 
considerados irrecuperáveis. 
Durante o predomínio do pensamento positivista no campo da filosofia, no fim do século 
XIX, surge a Escola Positiva, coincidindo com o nascimento dos estudos biológicos e 
sociológicos. A Escola Positiva surgiu no contexto de um acelerado desenvolvimento das 
ciências sociais (Antropologia, Psiquiatria, Psicologia, Sociologia, Estatística etc.). Esse fato 
determinou de forma significativa uma nova orientação nos estudos criminológicos. Ao abstrato 
individualismo da Escola Clássica, a Escola Positiva opôs a necessidade de defender mais 
enfaticamente o corpo social contra a ação do delinquente, priorizando os interesses sociais em 
relação aos individuais 
Por isso, a ressocialização do delinquente passa a um segundo plano. A aplicação da 
pena passou a ser concebida como uma reação natural do organismo social contra a atividade 
anormal dos seus componentes. O fundamento do direito de punir assume uma posição 
secundária, e o problema da responsabilidade perde importância, sendo indiferente a liberdade 
de ação e de decisão no cometimento do fato punível. Admitindo o delito e o delinquente como 
patologias sociais, dispensava a necessidade de a responsabilidade penal fundar-se em 
conceitos morais. A pena perde seu tradicional caráter vindicativo-retributivo, reduzindo-se a 
um provimento utilitarista; seus fundamentos não são a natureza e a gravidade do crime, mas a 
personalidade do réu, sua capacidade de adaptação e especialmente sua perigosidade. 
A corrente positivista pretendeu aplicar ao Direito os mesmos métodos de observação e 
investigação que se utilizavam em outras disciplinas (Biologia, Antropologia etc.). No entanto, 
logo se constatou que essa metodologia era inaplicável em algo tão circunstancial como a norma 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
38 
 
 
jurídica. Essa constatação levou os positivistas a concluírem que a atividade jurídica não era 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
39 
 
 
científica e, em consequência, proporem que aconsideração jurídica do delito fosse substituída 
por uma sociologia ou antropologia do delinquente, chegando, assim, ao verdadeiro nascimento 
da Criminologia, independente da dogmática jurídica. 
Um dos fundamentos para a criação da escola positivista foi o entendimento de que o 
Estado tinha ido longe demais na proteção dos direitos individuais, sacrificando os direitos 
coletivos. Além disso, entendiam que as concepções clássicas eram ineficazes para a 
diminuição da criminalidade. 
A escola positivista passa por três fases distintas, tendo um expoente máximo cada uma 
delas. São eles: a) Cesare Lombroso na fase antropológica; b) Enrico Ferri na fase sociológica 
e c) Rafael Garofalo na fase jurídica. 
* teoria do atavismo e degenerescência 
O positivismo, criado por Conte, era a principal corrente de pensamento. Além deste, o 
evolucionismo com Darwin e o cientificismo social com Spencer. 
O positivismo surge como corrente filosófica no séc. XIX com Augusto Conte e buscava 
uma explicação racional-lógica para a realidade. Ideia de pureza, saber analisado na minúscia. 
Trazida para o direito por Kelsen. O positivismo chegou a questão criminalcom Lombroso. 
Apogeu da ciência. 
Principais nomes do positivismo criminológico: Lombroso, Ferri, Garófalo, Nina Rodrigues. 
Cria a teoria do ''homem delinquente''. Identificava um perfil físico e psicológico do 
condenado. Ex.: gosto por tatuagens. 
Analisava fatotres endógenos dos presos e criou a teoria da degenerescência (existiria raças 
inferiores propensas ao crime geneticamente) e fosseta occipta media, suposta protuberância na 
testa para identificar tendências criminosas. 
Desenvolveu a ideia do criminoso nato. Identificou perfis de quem é vulnerável à 
seletividade do sistema, e não dos criminosos. 
A escola desenvolve uma perspectiva de que há fatores endógenos que determina quem 
está propenso a cometer crimes. Isso foi desenvolvido posteriormente até pelo nazismo. Com 
isso, poderia ter a percepção dos criminosos natos, e afirmava-se que este discurso era 
científico, e se era científico, logo, era incontestável. Tinha viés racista e assim, com as críticas, 
a escola perde força. 
Feri e Garófalo tentam amenizar os problemas da tese de Lombroso. Então, Ferri diz 
que há fatores endógenos, mas também exógenos, como o meio social. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
40 
 
 
Esta escola se insere em um paradigma etiológico (estudo das causas), ou seja, busca 
entender a razão do crime. Consideravam os criminosos como ANORMAIS, normaliza-los 
significava produzir obediência. 
O discurso de Ferri leva ao entendimento de que pobreza produz crime, sendo este um 
discurso perigoso, já que há crime em todas as classes sociais. 
Garófalo lançou em 1885 um primeiro livro com o título contendo criminologia, tratado 
de criminologia. Este, diz que o crime é algo natural, ontológico, pré-construído. 
Lombroso classificava em criminoso nato, ocasional, loucos e crime passional. O criminoso 
nato seria fruto de algum desvio genético; o ocasional por alguma situação da vida; inimputável 
como os loucos e o passional sobre violenta emoção ou paixão. Nessa escola positivista, 
falavam sobre a função da pena, com a prevenção especial positiva de um lado e a prevenção 
especial negativa de outro. Ou seja (recuperáveis) com a ideia de ressocialização e os 
(irrecuperáveis) com a ideia de prev. especial negativa. Por exemplo, para os irrecuperáveis, 
criminosos natos e loucos, caberia a neutralização, e não a ressocialização. A neutralização era 
a pena de morte e a prisão perpétua, já a ressocialização era a de prisão. 
'' As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil'' Dizia que os negros eram uma 
raça inferior propensa ao crime. (Nina Rodrigues usando a lógica positivista difundiu essa ideia 
no Brasil. Dizia que era necessário embranquecer a população brasileira 
3- Escola Italiana -Terza Scuola 
 
- Principal doutrinador: Manuel Carnevale 
 
- a) a responsabilidade penal tem por base a imputabilidade moral, sem o livre arbítrio, 
que é substituído pelo determinismo psicológico 
- b) o delito é contemplado no seu aspecto real – fenômeno natural e social 
 
- c) a pena tem função de defesa social 
 
- Ignora qualquer hipótese de ressocialização do individuo. A pena serve apenas para 
afastar o criminoso do meio social. 
Surgindo como uma corrente que procurava conciliação dos postulados das escolas 
clássica e positivista, acolhe o princípio da responsabilidade moral e a consequente 
distinção entre imputáveis e inimputáveis, mas não aceita que a responsabilidade moral 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
41 
 
 
fundamente-se no livre-arbítrio, substituindo-o pelo determinismo psicológico: o homem é 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
42 
 
 
determinado pelo motivo mais forte, sendo imputável quem tiver capacidade de se deixar 
levar pelos motivos. A quem não tiver tal capacidade deverá ser aplicada medida de 
segurança e não pena. 
O crime, para esta escola, é concebido como um fenômeno social e individual, 
condicionado, porém, pelos fatores apontados por Ferri. O fim da pena é a defesa social, 
embora sem perder seu caráter aflitivo, e é de natureza absolutamente distinta da medida de 
segurança. 
 
 
4- Escola Alemã 
 
- Principal doutrinador: von Liszt 
 
- imposição de pena para os delinqüentes normais e de medida de segurança para os 
perigosos (anormais e reincidentes) 
- a pena retributiva se transforma em pena determinada totalmente pela prevenção 
ajustada a um fim (prevenção geral - intimidação) 
- sugestão de que as penas privativas de liberdade de curta duração devem ser eliminadas 
ou substituídas. 
As principais características da moderna escola alemã podem ser sintetizadas nas 
seguintes: 
a) adoção do método lógico-abstrato e indutivo-experimental — o primeiro para o Direito 
Penal e o segundo para as demais ciências criminais. Prega a necessidade de distinguir o 
Direito Penal das demais ciências criminais, tais como Criminologia, Sociologia, 
Antropologia etc.; 
b) distinção entre imputáveis e inimputáveis — o fundamento dessa distinção, contudo, não 
é o livre- arbítrio, mas a normalidade de determinação doindivíduo. Para o imputável a 
resposta penal é a pena, e para o perigoso, a medida de segurança, consagrando o chamado 
duplo-binário; 
c) o crime é concebido como fenômeno humano-social e fato jurídico — embora considere 
o crime um fato jurídico, não desconhece que, ao mesmo tempo, é um fenômeno humano e 
social, constituindo uma realidade fenomênica; 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
43 
 
 
d) função finalística da pena — a sanção retributiva dos clássicos é substituída pela pena 
finalística, devendo ajustar-se à própria natureza do delinquente. Mesmo sem perder o 
caráter retributivo, prioriza a finalidade preventiva, particularmente a prevenção especial; 
e) eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração — 
representa o início da busca incessante de alternativas às penas privativas de liberdade de 
curta duração, começando efetivamente a desenvolver uma verdadeira política criminal 
liberal. 
 
 
5- Escola Correcionalista 
 
- Surge na Alemanha (1839) com Karl Roder, depois na Espanha 
 
- Busca fixar a correção ou cura do delinquente como fim único de pena (forte influência 
cristã) 
- A administração da Justiça deve visar o saneamento social (higiene e profilaxia social) 
e o juiz ser entendido como médico social 
- começa-se a pensar, mesmo que forma indireta, na ressocialização do delinquente 
através da pena 
- a pena deve ser indeterminada – sem prévia fixação do tempo de sua duração (até 
buscar a cura) 
- Surge na Alemanha (1939) com Karl Roder, depois na Espanha. Busca fixar a correção 
ou cura do delinquente como fim único de pena (forte influência cristã). 
A administração da Justiça deve visar o saneamento social (higiene e profilaxia social) e o 
juiz ser entendo como médico social. Começa-se a pensar, mesmo que forma indireta, na 
ressocialização do delinquente através da pena. E por fim, a pena deve ser indeterminada, sem 
prévia fixação do tempo de sua duração (até buscar a cura). 
A maior característica da Escola correcionalista é fixar a correção ou emenda do delinquente 
como fim único e exclusivo da pena. Para os correcionalistas, a pena não se dirige ao homem 
em abstrato, mas aohomem real, vivo e concreto, que se tornou responsável por um determinado 
crime, revelador de uma determinação defeituosa de vontade. Na verdade, a sua finalidade é 
trabalhar sobre a causa do delito, isto é, a vontade defeituosa, procurando convertê-la segundo 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
44 
 
 
os ditames do direito. O correcionalismo, de fundo ético-panteísta, apresentou-se como uma 
doutrina cristã, tendo em conta a moral e o Direito natural. 
Em outros termos, o delinquente, para os correcionalistas, é um ser anormal, incapaz de 
uma vida jurídica livre, constituindo-se, por isso, em um perigo para a convivência social, sendo 
indiferente a circunstância de tratar-se ou não de imputável. Comose constata, não dá nenhuma 
relevância ao livre-arbítrio. 
Ao Estado cabe a função de assistência às pessoas necessitadas de auxílio (incapazes de 
autogoverno). Para tanto, o órgão público deve atuar de dois modos: 
a) restringindo a liberdade individual (afastamento dos estímulos delitivos); 
b) corrigindo a vontade defectível. 
 
 
Estas são outras das principais características do correcionalismo: 
a) a pena idônea é a privação de liberdade, que deve ser indeterminada; 
b) o arbítrio judicial deve ser ampliado em relação à individualização da pena; 
c) a função da pena é de uma verdadeira tutela social; 
d) a responsabilidade penal como responsabilidade coletiva, solidária e difusa. 
 
 
6- Escola da Defesa Social 
 
- Pós II GM - Felipe Gramática (Itália) e Marc Ancell (França) 
 
- propõe-se a substituição da responsabilidade penal, fundada no delito, pela anti-sociabilidade, 
fundada em dados subjetivos do autor; substituir a pena por medidas sociais 
 
- Funda-se a política criminal inserida no processo de ressocialização 
 
- consegue atribuir a pena uma preocupação com os direitos humanos, pensando numa política 
criminal de prevenção e redução da criminalidade, defendendo a sociedade dos riscos dos 
delitos 
As primeiras reflexões da defesa social aparecem na escola clássica, com Francisco 
Carraca - "Direito Penal pode defender o indivíduo contra o poder punitivo, não sendo um 
instrumento da sociedade, como defesa social". 
Na escola Positivista esse pensamento vai ser invertido, com Enrico Ferri - "O Direito 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
45 
 
 
Penal deve proteger a sociedade, contra os perigosos". Recebe uma contribuição no século XX 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
46 
 
 
com a nova defesa social, com Felipo Gramática que formula uma nova defesa social, e depois 
Marc Ancell. Ainda permanece a ideia de que o Direito Penal deveria ir contra aos perigosos, 
mas com a noção de humanização das prisões. 
Esse movimento político-criminal pregava uma nova postura em relação ao homem 
delinquente, embasada nos seguintes princípios: 
a) filosofia humanista, que prega a reação social objetivando a proteção do ser humano 
e a garantia dos direitos do cidadão; 
b) análise crítica do sistema existente e, se necessário, sua contestação; 
c) valorização das ciências humanas, que são chamadas a contribuir, 
interdisciplinarmente, no estudo e combate do problema criminal. 
 
 
7- Escola técnico-jurídica 
 
Expulsa a defesa social do Direito Penal e a acomoda na Política Criminal, elaborando o modelo 
de ciência penal mais apto à realização concreta dos ideais dos estados autoritários. 
Inicia-se em 1905 e é uma reação à corrente positivista. Procura restaurar o critério 
propriamente jurídico da ciência do Direito Penal. O seu primeiro expoente é Arturo 
Rocco. 
 
O maior objetivo é desenvolver a ideia que a ciência penal é autônoma, com objeto e 
métodos próprios, ou seja ela é única não se misturando com outras ciências. 
Defende que essa função de defesa social, não é uma função do Direito Penal, deixando para a 
política criminal. Defende que o Direito Penal seja dissociado da política penal e da 
criminologia, sendo apenas um saber técnico. 
A teoria do delito é uma construção doutrinária que define como e quando punir. E vem 
recebendo contribuições históricas de escolas distintas. 
Pode-se apontar como as principais características da Escola Técnico-Jurídica: 
 
 
a) o delito é pura relação jurídica, de conteúdo individual e social; 
b) a pena constitui uma reação e uma consequência do crime (tutela jurídica), com 
função preventiva geral e especial, aplicável aos imputáveis; 
c) a medida de segurança — preventiva — deve ser aplicável aos inimputáveis; 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
47 
 
 
d) responsabilidade moral (vontade livre); 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
48 
 
 
e) método técnico-jurídico; 
f) recusa o emprego da filosofia no campo penal. 
CAUSALISMO 
Surgiu no final do século XIX, princípio do século XX. 
 
Von Liszt é considerado o pai da teoria moderna do direito penal, o causalismo 
 
começa com ele. 
 
Causalismo agrega a noção de tipo, de tipicidade. 
 
O tipo penal é puramente objetivo e valorativamente neutro. É a descrição do delito. 
 
A teoria causal não diferencia a conduta dolosa da conduta culposa, pois não releva qualquer 
indagação sobre a relação psíquica do agente para com o resultado. 
 
 
 Neokantismo – subjetivismo epistemológico 
 
- Primeiros anos do século XX 
 
- Adotou conteúdo material, valorativo, ao delito. 
 
- A base dogmática desse período era a lei. No entanto, somente a lei não traz a 
segurança necessária. 
- Tipo penal já trazia um valor. Antijuridicidade é demonstração de que eram 
considerados valores culturais. 
 
Traz um novo valor, o da Antijuridicidade e/ou ilicitude. 
Aparecendo como reação contra a mentalidade positivista, o neokantismo procurou 
distinguir as ciências pelo seu método, e representou a superação do positivismo, sem implicar, 
necessariamente, a sua negação. Com efeito, a premissa do neokantismo não é muito diferente 
da dos positivistas, pois, como estes, também sustentava a completa separação entre 
conhecimentos puros (a priori) e conhecimentos empíricos (a posteriori). Essa delimitação 
transportada para a ciência jurídicaleva à categórica separação entre ser e dever ser do Direito. 
Contudo, ao contrário dos positivistas — que atribuíam prioridade ao ser do Direito —, os 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
49 
 
 
neokantistas propõem um conceito de ciência jurídica que supervalorize o dever ser. Assim, 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
50 
 
 
com a introdução de considerações axiológicas e materiais, o neokantismo substitui o método 
indutivo e formalista do positivismo, passando a ter, como objetivo, a compreensão do conteúdo 
dos fenômenos e categorias jurídicas, muito além de sua simples definição formal ou explicação 
causal. O neokantismo leva em consideração, para atingir esse desiderato, a dimensão 
valorativa do jurídico; não faz, contudo, dessa dimensão valorativa um objeto de estudo em si 
mesmo. 
A preocupação em oferecer um conteúdo material ao Direito Penal, de cunho valorativo, 
conduziu uma mudança significativa na configuração do sistema penal. Através do 
neokantismo o processo de conhecimento das categorias sistemáticas deixou de estar vinculado 
a uma compreensão a priori da realidade, e passou a estar diretamente condicionado pelas 
circunstâncias histórias, sociais e culturais de cada sociedade. Essa perspectiva produziu uma 
modificação essencial na teoria geral do delito, possibilitando a compreensão valorativa da 
causalidade, a introdução de elementos subjetivos no tipo, a atribuição de conteúdo material à 
antijuridicidade e a elaboração da concepção normativa da culpabilidade. 
 Finalismo – ontologismo 
 
Criada por Welzel. A corrente finalista majoritária no Brasil atualmente. Uma de suas 
principais contribuições e trazer o dolo e a culpa para a tipicidade. 
A teoria do finalismo é do começo do século XX, e vem sendo superada pela corrente 
pós-finalista, também chamado de funcionalismo. 
 
 
- Criada por Hans Welzel. Suas referências apareceram antes da II Guerra Mundial 
(necessidade de estabelecer limites ao poder que impedissem a repetição dos excessos 
abomináveis como os do III Reich).Welzel desenvolveu sua doutrina finalist entre 1930 e 1960. 
Estruturas lógico-objetivas 
 
- Todo o Direito Penal e, portanto, suas leis eram baseadas na natureza das coisas. O Direito 
Penal só proíbe ataques praticados por ações humanas intencionais (finais). 
 
- Tipo penal era composto por algo objetivo (conduta contrária à lei) e algo subjetivo 
(dolo ou culpa). Os valores não estavam nos conceitos, mas sim, na realidade 
 
- Fala em tipicidade, ilicitude e culpabilidade. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
51 
 
 
Criadapor Welzel. A corrente finalista majoritária no Brasil atualmente. Uma de suas 
principais contribuições e trazer o dolo e a culpa para a tipicidade. 
A teoria do finalismo é do começo do século XX, e vem sendo superada pela corrente 
pós-finalista, também chamado de funcionalismo. 
A orientação finalista da dogmática jurídico-penal representa uma mudança radical em 
relação ao positivismo jurídico formalista e ao relativismo axiológico do neokantismo. 
Diferencia-se do positivismo formalista na medida em que rejeita a premissa de que o estudo 
do Direito positivo constitua o objeto essencial da dogmática penal. Por outro lado, diferencia- 
se do neokantismo na medida em que critica a volatilidade de suas considerações valorativas. 
O método finalista parte da idéia de que o objeto fundamental da dogmática jurídico-penal, 
sobre o qual se constroem as categorias sistemáticas dos delitos, são as estruturas lógico- 
objetivas. Essas estruturas , pertencentes ao mundo da realidade, do ontológico, integrariam a 
natureza permanente das coisas, vinculando o legislador e a ciência do direito, 
independentemente de como o indivíduo as conhece. Na realidade, a configuração das 
estruturas lógico-objetivas pressupõe, como base filosófica, a adoção, pelo finalismo, de uma 
proposta metodológica radicalmente distinta da que caracterizou o neokantismo. A passagem 
do subjetivismo ao objetivismo constitui o fundamento metodológico da teoria do delito 
desenvolvida pelo finalismo. 
 
 
Welzel, a partir dos anos trinta, em fases distintas, procurou conduzir a ação humana ao 
conceito central da teoria do delito, considerado do ponto de vista ontológico. Começando pelo 
abandono do pensamento logicista e abstrato das concepções anteriores,corrigiu as falhas e 
contradições existentes e,aos poucos, foi superando algumas lacunas que foram surgindo na 
evolução da construção de sua nova teoria. Convém destacar, contudo, que o surgimento do 
sistema finalista praticamente coincide, cronologicamente, comas origens da teoria social da 
ação, e também como auge do direito penal de autor . 
Opondo-se ao conceito causal de ação e, especialmente, à separação entre a vontade e 
seu conteúdo, Welzel elaborou o conceito finalista. A teoria final da ação, como ficou 
conhecida, temo mérito de eliminar a injustificável separação dos aspectos objetivos e 
subjetivos da ação e do próprio injusto, transformando, assim, o injusto naturalístico em injusto 
pessoal. Como finalismo, a teoria do delito encontra um dos mais importantes marcos de sua 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
52 
 
 
evolução. A contribuição mais marcante do finalismo, como já indicamos, foi a retirada de 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
53 
 
 
todos os elementos subjetivos que integravam a culpabilidade, nascendo, assim, uma concepção 
puramente normativa. O finalismo deslocou o dolo e a culpa para o injusto, retirando-os de sua 
tradicional localização — a culpabilidade —, levando, dessa forma, a finalidade para o centro 
do injusto. Concentrou na culpabilidade somente aquelas circunstâncias que condicionam a 
reprovabilidade da conduta contrária ao Direito, e o objeto da reprovação (conduta humana) 
situa-se no injusto. 
Essa nova estrutura sustentada pelo finalismo trouxe inúmeras consequências, dentre as 
quais se pode destacar:a distinção entre tipos dolosos e culposos, dolo e culpa não mais como 
elementos ou espécies de culpabilidade, mas como integrantes da ação e do injusto pessoal, 
além da criação de uma culpabilidade puramente normativa. Welzel deixou claro que, para ele, 
o crime só estará completo com a presença da culpabilidade. Dessa forma, também para o 
finalismo,crime continua sendo a ação típica, antijurídica e culpável. Como sustenta Muñoz 
Conde, que acrescenta a punibilidade em sua definição de crime, “esta definição tem caráter 
sequencial, isto é, o peso da imputação vai aumentando na medida em que se passa de uma 
categoria a outra (da tipicidade à antijuridcidade, da antijuridicidade à culpabilidade etc.), 
tendo, portanto, desetratar em cada categoria dos problemas que lhes são próprios” 
No causalismo, o fato típico é objetivo. 
 
No neokantismo, o fato típico é objetivo e valorativo. 
 
No finalismo, o fato típico é objetivo e subjetivo. 
 
Antes do finalismo, dolo e culpa estavam na culpabilidade. 
 
 
 
Pós-finalismo 
 
Nessa conjuntura do pós-guerra a produção científica alemã apresentou várias opiniões que 
hoje orientam o Direito Penal. Constatam-se diversas correntes na dogmática jurídica-penal 
 
O funcionalismo possui três correntes, primeiro o funcionalismo teleológico (Roxin), 
sistêmico (Jakobs) e o Redutor (Zaffaroni). 
- Funcionalismo Teleológico (Roxin) 
 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
54 
 
 
- Funcionalismo Sistêmico (Jakobs) 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
55 
 
 
- Funcionalismo Redutor (Zaffaroni) 
 
 
 
FUNCIONALISMO TELEOLÓGICO (Roxin) 
 
No causalismo – uma dimensão: objetiva. 
No neokantismo – uma dimensão: objetiva. 
No finalismo de Welzel – duas dimensões: objetiva, subjetiva. 
 
No funcionalismo de Roxin – três dimensões: objetiva, subjetiva, valorativa (ou 
normativa) 
As bases fundamentais da proposta de Roxin aparecem, pela primeira vez em 1970. ‘’O 
caminho correto só pode ser deixar as decisões valorativas político-criminais introduzirem-se 
no sistema do direito penal’’ de tal forma que ‘’submissão ao direito e adequação a fins político- 
criminais não podem contradizer-se, mas devem ser unidas em uma síntese, da mesma forma 
que Estado de Direito e Estado Social não são opostos inconciliáveis, mas compõem uma 
unidade dialética’’. 
Com esse ponto de partida, Roxin pretende evidenciar que o Direito Penal não deve ser 
estruturado deixando de lado a análise dos efeitos que produz na sociedade sobre a qual opera, 
isto é, alheio à realização dos fins que o legitimam. Por isso, sustenta que quando as soluções 
alcançadas no caso concreto, por aplicação dos conceitos abstratos deduzidos da sistematização 
dogmática , sejam insatisfatórias, elas podem ser corrigidas de acordo com os princípios 
garantitstas e as finalidades político-criminais do sistema penal. Em outras palavras, a 
configuração do sistema de Direito Penal passa a ser estuturada teleologicamente, atendendo a 
finalidades valorativas. 
Essa abertura do sistema penal às finalidades que o Direito Penal busca alcançar, permite 
caracterizar a proposta de Roxin como teleológico-funcional, repercutindo-se de maneira 
decisiva nas categorias sistemáticas do delito, como veremos no estudo da teoria geral do delito, 
pois estas passam a ser vistas como verdadeiros instrumentos de valoração político-criminal. 
Com efeito, essa perspectiva do sistema de Direito Penal apresenta-se como ‘’um sistema 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
56 
 
 
aberto, apto para uma permanente remodelação em função das conseqüências político-criminais 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
57 
 
 
e da evolução dos conhecimentos, cuja finalidade consiste em proporcionar um modelo mais 
experiente e racional da dogmática jurídico-penal para o alcance de ‘’uma aplicação confiável 
do Direito, e uma redução da intervenção penal e da sua intensidade a limites estritamente 
necessários’’. 
 
 
Teoria da Imputação Objetiva 
 
A teoria da imputação objetiva surge no mundo jurídico partir da doutrina de Roxin, pois este, 
passa a fundamentar os estudos da estrutura criminal analisando os as-pectos políticos do 
crime. 
 
Para alguns doutrinadores a teoria da imputação objetiva consiste na fusão entre a 
teoria causal, finalista e a teoria da adequação social, em contrapartida, há o en-tendimento 
de que esta é uma teoria nova e revolucionária que conceitua que no âmbito do fato típico, 
deve-se atribuir ao agente apenas responsabilidade penal, não levando em consideração o dolo 
do agente, pois este, é requisito subjetivo e deve seranalisado somente no que tange a 
imputação subjetiva. 
 
Determina que não há imputação objetiva quando o risco criado é permitido, devendo o 
agente responder penalmente apenas se ele criou ou incrementou um risco proibido relevante. 
 
 
 
 
FUNCIONALISMO SISTEMICO 
 
 
Inspira-se na Teoria dos Sistemas de Luhman. Direito Penal seria um sistema auto-poiético. 
Gunther Jakobs apresenta em 1983 sua concepção igualmente normativista de Direito Penal 
sob uma perspectiva diferente de Roxin, mas também distinta ao ontologismo finalista. 
Comparativamente, o normativismo dualista (teleológico-funcional), defendido por Roxin, 
admite que a sua lógica objetiva seja acrescida da razão prática, onde os valores protegidos pelo 
sistema penal estejam limitados por um substrato material fático externo ao próprio sistema (ou 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
58 
 
 
seja, o direito penal, ao elaborar conceitos jurídico-penais, está sujeito a alguns limites materiais 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
59 
 
 
de fora do sistema penal); no entanto, o normativismo monista (funcionalismo-sistêmico), 
sustentado por Jakobs, caracteriza-se pela radicalização do critério funcional, de modo que os 
parâmetros necessários para o desenvolvimento estrutural do sistema penal – e por conseguinte, 
da dogmática – encontram-se no interior do próprio sistema, não se sujeitando a limites 
externos. 
Jakobs concebe o Direito Penal como um sistema normativo fechado, autoreferente e 
limita a dogmática jurídico-penal à analise normativo-funcional do Direito positivo em função 
da finalidade de prevenção geral positiva da pena, com a exclusão de considerações empíricas 
não normativas e de valorações externas ao sistema jurídico positivo. 
Admite o Direito Penal do Inimigo. Entende que a função da pena é a reafirmação da 
vigência da norma. Até mesmo a essência de bem jurídico é diminuída para Jakobs, que entende 
que o bem violado nos crimes é a norma penal. O crime é a quebra da confiança da sociedade 
provocada pelo individuo, produzindo com isso a disfunção social. Por isso, o normativismo 
radical de Jakobs dificulta qualquer tentativa de limitar o poder punitivo do Estado. 
O normativismo teleológico de Roxin preocupa-se com os fins do Direito Penal, 
enquanto o normativismo sistêmico de Jakobs preocupa-se com os fins da pena, ou seja, com 
as consequencias do Direito Penal. Em síntese, a orientação teleológica funcional norteia-se por 
finalidades político-criminais, priorizando valores e princípios garantistas; a orientação 
funcionalista sistêmica, por sua vez, leva em consideração somente necessidades sistêmicas e 
o Direito Penal é que deve se ajustar a elas. 
 
 
FUNCIONALISMO REDUTOR 
 
Criação de Zaffaroni. Crítica à crise de legitimidade do sistema penal e à pena. 
 
A função do direito penal passa a ser apenas a de impor freio à arbitrariedade estatal, à violência 
institucional e proteção da pessoa humana. 
Direito Penal como limitação e racionalização do poder punitivo. 
 
 
 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
60 
 
 
Conceito social de ação (Jesheck) 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
61 
 
 
Política Criminal – Teologismo e Funcionalismo (Roxin). 
Direito Penal do Inimigo (Jakobs). 
 
Observações: 
❖ Tipo penal é a previsão abstrata prevista no código. 
❖ Conduta involuntária, não há dolo nem culpa. Não respondendo pelo crime. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 4: PRINCÍPIOS PENAIS 
 
Os princípios são as bases valorativas sobre as quais se estruturam o Direito Penal 
enquanto saber, técnica e prática. Leitura transversal da matéria e parâmetro de razoabilidade. 
Os princípios fundamentais do Direito Penal vêm socorrer não só o operador do Direito 
(juiz, promotor, advogado, professor, estudante etc...), mas também o próprio legislador, ao 
instituir parâmetros a serem seguidos desde a elaboração da norma penal até sua execução. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
62 
 
 
Assim, não é de se espantar a denominação que costuma-se conferir a tais princípios 
não só como princípios fundamentais do Direito Penal, mas também como princípios 
limitadores do Poder Punitivo. 
Há de se destacar, que majoritariamente costuma-se conferir a estes um conteúdo 
meramente programático, a exceção daqueles que contém base normativa. Mesmo assim, 
observa-se a sua importância como vetor interpretativo na solução dos conflitos de natureza 
penal. 
Princípios mais importantes 
 Legalidade/Reserva Legal 
 
 Intervenção Mínima 
 
 Lesividade/ofensividade 
 
 Insignificância 
 
 Subsidiariedade/Fragmentariedade 
 
 Individualização da Pena 
 
 Humanidade/Dignidade Humana 
 
 Culpabilidade 
 
 Irretroatividade da lei mais severa 
 
 Pessoalidade 
 
 Proporcionalidade 
 
 Adequação Social 
 
 Proteção Exclusiva de Bens Jurídicos/ Ofensividade 
 
 Proibição da Analogia in malan partem 
 
 Igualdade 
 
 Ne Bis in Idem 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
63 
 
 
 
 
 
Legalidade/Reserva legal 
 
Fornece certeza sobre quais condutas podem ensejar responsabilidade criminal. 
 
Não há crime (infração penal), nem pena ou medida de segurança (sanção penal) sem prévia lei 
(stricto sensu). Previsto no Art. 5º, inc. XXXIX da CF e Art. 1º do CP. 
Garantias criminal e penal – A lei formal, e tão-somente ela, é fonte criadora de crimes e de 
penas, de causas agravantes ou de medidas de segurança, sendo inconstitucional a utilização 
em seu lugar de qualquer outro ato normativo, do costume ou do argumento analógico in malam 
partem – exigência de lei escrita (nulla poena sine lege scripta). 
Garantias jurisdicional e penitenciária ou de execução – Expressa-se nos arts. 5º, XLVIII, 
XLIX, LIII, LVII, E 92 da Constituição e 2º da Lei de Execuções Penais. 
Possui 4 desdobramentos: lex praevia, lex stricta, lex scripta e lex certae. 
 
 1) Lei Prévia – Princípio da Anterioridade. O agente somente poderá ser validamente 
punido se já houver aquela norma incriminadora no momento anterior a prática da 
conduta. 
 2) Lei Estrita – Princípio da Reserva Legal. Deve ser elaborada através de Lei 
Ordinária, conforme o processo legislativo constitucionalmente estabelecido. 
 3) Lei Escrita - Não pode haver incriminação por costumes ou por jurisprudência. 
 
 4) Lei Certa – Princípio da Taxatividade. O tipo penal deve ser o mais preciso possível, 
evitando termos vagos ou genéricos. 
 
 
O princípio da legalidade constitui uma efetiva limitação ao poder punitivo estatal. 
Feuerbach, no início do século XIX, consagrou o princípio da legalidade através da fórmula 
latina nullumcrimen, nullapoenasine lege. 
Em termos bem esquemáticos, pode-se dizer que, pelo princípio da legalidade, a 
elaboração de normas incriminadoras é função exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
64 
 
 
considerado crime e nenhuma penacriminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
65 
 
 
fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção correspondente. A lei 
deve definir com precisão e de forma cristalina a conduta proibida. Assim, seguindo a 
orientação moderna, a Constituição brasileira de 1988, ao proteger os direitos e garantias 
fundamentais, em seu art. 5º, inc. XXXIX, determina que “não haverá crime sem lei anterior 
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. 
Quanto ao princípio de reserva legal, este significa que a regulação de determinadas 
matérias deve ser feita, necessariamente, por meio de lei formal, de acordo com as previsões 
constitucionais a respeito. Nesse sentido, o art. 22, I, da Constituição brasileira estabelece que 
compete privativamente à União legislar sobre Direito Penal. A adoção expressa desses 
princípios significa que o nosso ordenamento jurídico cumpre com a exigência de segurança 
jurídica postulada pelos iluministas.INTERVENÇÃO MÍNIMA/ LESIVIDADE 
 
O Direito Penal só se justifica diante da necessidade de tutela dos bens, direitos ou interesses 
mais caros a sociedade. 
A intervenção penal deve ser a ultima ratio e não a regra, só cabe a tutela penal quando 
extremamente necessária, e, de preferência, só deverá fazê-lo na medida em que for capaz de 
ter eficácia. 
O Princípio da Lesividade proíbe a aplicação de pena ou medida de segurança a lesões 
irrelevantes aos bens jurídicos protegidos pela norma penal. 
O princípio da legalidade impõe limites ao arbítrio judicial, mas não impede que o 
Estado — observada a reserva legal — crie tipos penais iníquos e comine sanções cruéis e 
degradantes. Por isso, impõe-se a necessidade de limitar ou, se possível, eliminar o arbítrio do 
legislador no que diz respeito ao conteúdo das normas penais incriminadoras. 
O princípio da intervenção mínima, também conhecido como ultimaratio, orienta e 
limita o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só 
se legitima se constituir meio necessário para a prevenção de ataques contra bens jurídicos 
importantes. Ademais, se outras formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem- 
se suficientes para a tutela desse bem, a sua criminalização é inadequada e não recomendável. 
Assim, se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
66 
 
 
ou administrativas, são estas as que devem ser empregadas, e não as penais. Por isso, o Direito 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
67 
 
 
Penal deve ser a ultimaratio do sistema normativo, isto é, deve atuar somente quando os demais 
ramos do Direito revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do 
indivíduo e da própria sociedade 
A razão desse princípio — afirma Roxin — “radica em que o castigo penal coloca em 
perigo a existência social do afetado, se o situa à margem da sociedade e, com isso, produz 
também um dano social”. Antes, portanto, de se recorrer ao Direito Penal deve- se esgotar todos 
os meios extrapenais de controle social, e somente quando tais meios se mostrarem inadequados 
à tutela de determinado bem jurídico, em virtude da gravidade da agressão e da importância 
daquele para a convivência social, justificar-se-á a utilização daquele meio repressivo de 
controle social. 
Os legisladores contemporâneos, nas mais diversas partes do mundo, têm abusado da 
criminalização e da penalização, em franca contradição com o princípio em exame, levando ao 
descrédito não apenas o Direito Penal, mas a sanção criminal, que acaba perdendo sua força 
intimidativa diante da “inflação legislativa” reinante nos ordenamentos positivos. 
 
 
INSIGNIFICANCIA 
 
O Princípio da Insignificância postula que devem ser tidas como fatos atípicos as ações ou 
omissões que afetem infimamente um bem jurídico-penal. 
O STF estabelece reúne 4 condições essenciais: mínima ofensividade da conduta, inexistência 
de periculosidade social do ato, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e 
inexpressividade da lesão provocada. 
 
O princípio da insignificância foi cunhado pela primeira vez por ClausRoxin em 1964. 
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos protegidos, pois 
nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para configurar o injusto 
típico. Segundo esse princípio, que Klaus Tiedemann chamou de princípio de bagatela, é 
imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e 
a drasticidade da intervenção estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determinado tipo 
penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância material. 
Deve-se ter presente que a seleção dos bens jurídicos tuteláveis pelo Direito Penal e os 
critérios a serem utilizados nessa seleção constituem função do Poder Legislativo, sendo vedada 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
68 
 
 
aos intérpretes e aplicadores do direito essa função, privativa daquele Poder Institucional. O 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
69 
 
 
fato de determinada conduta tipificar uma infração penal de menor potencial ofensivo (art. 98, 
I, da CF) não quer dizer que tal conduta configure, por si só, o princípio da insignificância. 
A irrelevância ou insignificância de determinada conduta deve ser aferida não apenas 
em relação à importância do bem juridicamente atingido, mas especialmente em relação ao grau 
de sua intensidade, isto é, pela extensão da lesão produzida. 
A insignificância da ofensa afasta a tipicidade, mas essa insignificância só pode ser 
valorada através da consideração global da ordemjurídica. 
 
 
SUBSIDIARIEDADE/FRAGMENTARIEDADE 
 
Segundo o Princípio da Fragmentariedade, só devem os bens jurídicos ser defendidos 
penalmente diante de certas formas de agressão, consideradas socialmente intoleráveis. 
Se houver outro ramo do direito que possa conter a lesão ao bem jurídico, esse deve 
prevalecer ao detrimento do direito penal. 
Fragmentariedade: nem todas as ações que lesionam bens jurídicos são proibidas pelo 
Direito Penal, como nem todos os bens jurídicos são por ele protegidos. O Direito Penal limita- 
se a castigar as ações mais graves praticadas contra os bens jurídicos mais importantes, 
decorrendo daí o seucaráter fragmentário, uma vez que se ocupa somente de uma parte dos bens 
jurídicos protegidos pela ordem jurídica. Isso, segundo Régis Prado, “é o que se denomina 
caráter fragmentário do Direito Penal. Faz-se uma tutela seletiva do bem jurídico, limitada 
àquela tipologia agressiva que se revela dotada de indiscutível relevância quanto à gravidade e 
intensidade da ofensa”. 
O caráter fragmentário do Direito Penal — segundo Muñoz Conde — apresenta-se sob três 
aspectos: em primeiro lugar, defendendo o bem jurídico somente contra ataques de especial 
gravidade, exigindo determinadas intenções e tendências, excluindo a punibilidade da prática 
imprudente de alguns casos; em segundo lugar, tipificando somente parte das condutas que 
outros ramos do Direito consideram antijurídicas e, finalmente, deixando, em princípio, sem 
punir ações que possam ser consideradas como imorais. Resumindo, “caráter fragmentário” do 
Direito Penal significa que o Direito Penal não deve sancionar todas as condutas lesivas dos 
bens jurídicos, mas tão somente aquelas condutas mais graves e mais perigosas praticadas 
contra bens mais relevante. 
PROF. TAIGUARA 
DIREITO PENAL I 
70 
 
 
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA 
 
Estabelece que cada sujeito seja apenado de acordo com suas características pessoais, bem 
como conforme a necessidade de reprovação da infração penal (art. 59 CP). 
O julgador deve fixar a pena conforme a cominação legal e determinar a forma de sua 
execução. 
Deve ser concretizado em três âmbitos: i) Legislativo; ii)Judiciário e iii) Executivo. 
 
 
 
HUMANIDADE 
 
A pena não pode atentar contra a dignidade da pessoa humana. A Constituição Federal, 
no Art. 5º, XLVII, veda as penas de morte, salvo em caso de guerra declarada, bem como as de 
caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e as cruéis. 
A dignidade da pessoa humana, como dado inerente ao homem enquanto ser, é guindada 
à condição de princípio constitucional insculpido no artigo 1º, III, da Constituição Federal. 
Nesse princípio reside o limite mínimo a que está subordinada toda e qualquer legislação. 
Antecede, portanto, o juízo axiológico do legislador e vincula de forma absoluta sua atividade 
normativa. Toda lei que viole a dignidade da pessoa humana deve ser reputada inconstitucional. 
É o maior entrave para a adoção da pena capital e da prisão perpétua. Esse princípio sustenta 
que o poder punitivoestatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana 
ou que lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados. A proscrição de penas cruéis e 
infamantes, a proibição

Continue navegando