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ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS PARA O ENSINO

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1 
 
ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA 
E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E INDÍGENA 
 
Autora: KATIA MARISE PEREIRA OLSZEWSKI 
 
 
 
Resumo 
 
O presente trabalho busca a análise e a reflexão sobre a Diversidade Étnica no 
Brasil e as diferentes expressões da desigualdade étnico-racial. É 
importantíssimo iniciarmos com o pensamento sobre as relações sociais e o 
poder das palavras que nos identificam como sujeitos históricos que somos, 
pois “(...) cada ser humano é todos os outros” (Couto, 2003. P.56). Alguns 
conceitos são fundamentais para esta reflexão, como: etnia, raça, 
etnocentrismo e relativismo. O conceito de etnia refere-se a grupo de pessoas 
definidas por suas origens e traços culturais. O etnocentrismo refere-se à 
defesa de sua cultura como sendo o modelo a ser seguido, promove o 
preconceito e o segregacionismo. Raça é, portanto, cientificamente uma 
construção social que deve ser estudada pelas Ciências Sociais/Sociologia, 
pois trata das identidades sociais. A abordagem do relativismo cultural se faz 
necessária, pois para o relativismo cultural é importante que as culturas não 
sejam estratificadas em camadas, com hierarquia, ou, como se existisse uma 
cultura “pior”, ou uma cultura “melhor”. 
Palavras-chave: Diversidade étnica, desigualdade, etnia, relativismo. 
 
 
1. Caracterização da diversidade étnica no Brasil 
 
Falar em diversidade étnica é reconhecer o nosso passado e as nossas 
origens históricas. Estão presentes em nossa realidade a pluralidade e a 
miscigenação. Faz-se necessário apresentar alguns conceitos, como o de etnia. 
O conceito de etnia refere-se a grupo de pessoas definidas por suas origens e 
traços culturais em substituição ao termo “raça”, que em muitas
2 
 
situações da historia humana foi utilizado com intenções pejorativas. 
Refletindo a respeito, o conceito de raça (Petruccelli; Saboia, 2013, P.10) 
sugere que raça é uma “construção sócio-histórica, que no período da 
modernidade avaliou a histórica social do nosso país e do mundo. Entretanto, há 
uma transversalidade de como se estruturam histórias específicas e as relações 
entre grupos de uma sociedade e entre diferentes sociedades”. 
Dessa maneira, a evolução do pensamento racial brasileiro é posta em 
relação com a problemática do encontro com o outro na sua 
alteridade, a construção de taxonomias a partir do Século XVIII e a 
maneira como a ideologia racial determina a assimetria de relações 
entre as categorias de classificação ao serviço dos processos de 
colonização e escravidão. (Petruccelli; Saboia, 2013, P.10). 
No Brasil, portanto, existe uma diversidade de etnias que provêm de 
diferentes grupos étnicos. Somos um dos países mais miscigenados do mundo. 
E, por isso, esta maravilhosa diversidade cultural. A diversidade étnica da 
população brasileira resulta de mais de 500 anos de história. 
A partir de então, o povo brasileiro foi constituído de indígenas, brancos, 
negros, pardos, mulatos (brancos e negros), caboclos (brancos e índios) e 
cafuzos (negros e índios). Além dessas valiosas contribuições, tivemos ainda 
outras valiosas contribuições com a miscigenação de povos asiáticos (e Oriente 
Médio), como árabes, sírios, libaneses, e demais povos da Ásia, como chineses, 
japoneses, coreanos, entre outros. E, ainda, demais povos do continente 
africano e do continente europeu. 
As primeiras contribuições árabes no Brasil são trazidas pelo português 
decorrente da dominação árabe na Península Ibérica. Os arcos da arquitetura 
brasileira têm influências árabes vindas com o colonizador. O cavaquinho 
brasileiro é um descendente do instrumento árabe chamado alaúde. 
O ritmo árabe está presente na musicalidade dos repentes nordestinos, 
que na versão árabe é o Zajal. No Brasil, boa parte da comunidade árabe seguiu 
para a atividade do comércio e deu origem à figura do mascate, retratada em 
nossa literatura, como na obra literária de José de Alencar, em “Guerra dos 
Mascates”, e no romance de Manuel Antonio de Almeida, “Memórias de um 
Sargento de Milícias”. 
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 
somos: brancos, pretos, pardos, amarelos e indígenas. A partir da criação do 
PCERP (Pesquisa das características étnico-raciais da população), teve-se 
como objetivo um plano amostral uma pesquisa que permita estimativas da 
população. Por meio dos Censos demográficos e pesquisas domiciliares, pode- 
3 
 
se elaborar um histórico da classificação étnico-racial do povo brasileiro. 
Interessante destacar que as pesquisas analisam alguns aspectos, a partir da 
autodeclaração da cor, com pergunta aberta e resposta espontânea sobre a sua 
identidade. Ou seja, aquela pela qual o entrevistado se identifica, a sua 
etnicidade que é o sentimento de identificação e de pertencimento com um 
grupo étnico, pois: 
(...) sem uma tradição, uma coletividade pode viver ordenadamente, 
mas não tem consciência de seu estilo de vida. E, ter consciência é 
poder ser socializado, isto é, é se situar diante de uma lógica de 
inclusões necessárias e exclusões fundamentais, num exaustivo e 
muitas vezes dramático diálogo, entre o que nós somos (ou queremos 
ser) e aquilo que os outros são e, logicamente, nós não devemos ser. 
(DaMatta, 1987, P.48 ). 
Contudo, devemos estar atentos a outros conceitos importantes que em 
algum momento surgem nas relações sociais, nas questões de inclusão e 
exclusão, entre o que nós somos e o que nos é imposto, como o etnocentrismo 
e o relativismo. Há uma minoria presente em nosso país que busca o 
fortalecimento de meios para o branqueamento da população. Neste cenário, o 
racismo lança as suas bases e se estrutura no “colorismo”. 
Em algumas situações, a tentativa de participação social da população 
miscigenada pode incomodar uma elite que se considera “branca”. Inúmeros 
comportamentos são de real exclusão e de etnocentrismo. Etnocentrismo é 
considerar o seu comportamento, a sua visão de mundo e a sua cultura, como a 
correta e aquela que deve ser seguida pelos demais componentes da 
sociedade. O etnocêntrico julga o outro a partir de si e de seus valores. E, 
assim, promove o segregacionismo. O racismo é uma das ferramentas mais 
utilizadas pelo etnocentrista. Por isso, quando pensamos em raça como 
inexistente, não podemos deixar de lembrar que raça e racismo são palavras 
comuns em nosso idioma desde o século XIX. E muitas vezes são utilizadas 
pela visão etnocentrista a fim de segregar alguém, ou por sua cor, ou por seu 
grupo étnico ou pela sua religião. 
Raça é efeito do discurso e um produto criado pela sociedade, pelo fato 
de alguns discursos tratarem a palavra a partir de traços fisionômicos. Quando 
um grupo étnico, pelo fato de ser diferente, passa a ser inferiorizado, perseguido 
e a sofrer privações, temos uma expressão clara do etnocentrismo. Porém, vale 
ressaltar que a etnia é um conceito que pode conter mais significados. Isto 
porque ela se manifesta nas adversidades tanto econômicas quanto políticas de 
dominação e nos conflitos existentes nas sociedades de classes ditas 
“modernas”. Algumas décadas atrás, o IBGE chegou a classificar a população 
4 
 
brasileira como tendo 136 cores. Logo, o etnocentrismo promove o racismo e a 
ideia negativa a respeito do outro. 
O racismo não nasce com as pessoas. A sociedade passa a embutir 
pensamentos e atitudes racistas. Os europeus propagaram ideias racistas na 
expressão do trabalho escravo. E, por isso, há fronteiras nas sociedades e nos 
indivíduos que as atravessam. Mesmo que essas fronteiras tentem ser 
removidas por instituições, ou por membros da sociedade civil, elas estão ali, 
simbolicamente, ou fisicamente. São fronteiras políticas, territoriais e sociais. 
Já o relativismo, um dos conceitos mais importantes para a Sociologia, 
sugere que não existem normas e valores absolutos, pois não devemos avaliar 
o outro a partir de nossos valores,como se fossem padrão. 
Para o relativismo cultural, observa-se a cultura do outro, segue-se a 
lógica de que a cultura do outro possui toda uma construção histórica e que 
deve ser respeitada e tratada sem julgamentos, pois “o próprio intelecto nos fará 
enxergar nossa humanidade no outro: e o outro dentro de nós mesmos”. 
(DaMatta, 1987, P.14). 
2. Desigualdades étnica e cultural brasileira 
 
E no Brasil? Existem situações sociais etnocentrista? 
Durante muito tempo, acreditou-se no Brasil que vivemos pacificamente 
em uma “democracia racial”. Alguns discursos do século XIX propagavam a 
ideia de que, aqui, a escravidão era mais suave e que o indígena foi incorporado 
à sociedade brasileira sem ter sido conquistado ou sequer derrotado. Alguns 
momentos das obras de Gilberto Freyre relatam que não havia distinção entre 
brancos e negros no Brasil e sim com relação aos pobres. O modelo multirracial 
construído no Brasil levou a crer que as “raças” conviviam aqui, pacifica e 
harmoniosamente. Ignorava-se, muitas vezes, a desigualdade visível e gritante. 
Em Lima Barreto, na sua obra “Clara dos Anjos”, um dos diálogos entre Clara e 
sua mãe revelam a vida desigual, desumana e dispare que viviam os 
afrodescentes: “Não somos nada nessa vida, não somos nada nessa vida”! 
(Barreto, 2010, P.106). 
Para aprofundarmos mais o assunto, proponho voltarmos nosso olhar 
para a desigualdade étnica e cultural brasileira. Voltemos, então, para a história 
do nosso país e a questão das diversas etnias que compõem a sociedade 
brasileira. Desde as primeiras décadas do século XVI, as sociedades indígenas 
passaram por privações de seus recursos não só naturais, como culturais e 
espirituais. Seus ritos e mitos foram considerados inferiores pelos colonizadores. 
5 
 
Foram perseguidos com o propósito da extinção de muitos grupos indígenas. As 
fontes históricas nos demonstram que, ao chegar nessas terras que hoje são o 
Brasil, os colonizadores europeus não respeitaram a cultura indígena e as 
ignoraram como se não tivesse nenhum valor. Segundo o antropólogo Darcy 
Ribeiro, era necessária a implementação de uma fundação para a questão 
indígena, com desenvolvimento e perspectiva democrática. Assim, foi criada a 
FUNAI (Fundação Nacional do Índio) em 1967, com tais perspectivas. 
Entretanto, durante o período militar, a FUNAI passou a conduzir as questões 
indígenas reforçando procedimentos do período político vigente. 
(...) “o modelo de funcionamento tutelar traz na sua essência uma 
grande questão até hoje não resolvida: o problema da demarcação das 
terras indígenas. Esse é o sistema nervoso central da promoção da 
autonomia indígena, pois faz ligação direta com os demais aspectos 
políticos, econômicos e culturais dos povos indígenas”. (Marçal; Lima, 
2015). 
A comunidade internacional em revisão na ONU (Organização das 
Nações Unidas) cobrou do Brasil o respeito aos direitos indígenas e a urgência 
do reconhecimento e demarcação dos territórios indígenas, assim como a 
proteção dos direitos humanos e ambientais. Essa pauta foi uma cobrança 
dirigida ao Brasil no quarto ciclo da RPU (Revisão Periódica Universal), que 
ocorreu em Genebra, na Suíça, no mês de novembro de 2022. 
Voltando ao início da ocupação europeia do nosso país, ocorreu a 
tentativa de escravização indígena. Pouco depois, os europeus trouxeram povos 
africanos para o trabalho e perpetuaram a ideia do colonizador sobre eles, os 
quais eram chamados de povos selvagens, sem cultura e sem alma. Quanto aos 
negros, mesmo após a abolição, foram propostas poucas políticas de interação 
social. Havia um projeto de modernização conservador com um regime de 
latifúndio, que ampliou o racismo e manteve a discriminação. 
“A campanha abolicionista, em fins do século XIX, mobilizou vastos 
setores da sociedade brasileira. No entanto, passado o 13 de maio de 
1888, os negros foram abandonados à própria sorte, sem a realização 
de reformas que os integrassem socialmente”. (Maringoni, 2011, P.34.) 
Na década de 1930, fora dada a representação de mestiço. Então, a 
figura do mestiço passou a ser representada como um ícone nacional. Este, 
talvez com o propósito voltado para “desafricanização” da população brasileira, 
dos seus símbolos e ritos. E o aparecimento da expressão “malandro brasileiro”, 
associada ao samba. A mídia retratou esse personagem com a criação do Zé 
carioca. 
O chamado movimento modernista trouxe como características o 
6 
 
nacionalismo e o pluralismo. Nesse período, tentou-se negar o pensamento de 
pessimismo das correntes darwinistas sociais. Foi um período marcado pelas 
buscas de símbolos nacionais que representassem efetivamente o nosso povo, 
o povo brasileiro. Para tanto, deve-se destacar que estavam presentes 
interesses de uma política pautada no branqueamento da população. Contudo, 
a desigualdade persistiu entre a população miscigenada, pois não ocorreu uma 
luta por igualdade nacional. Devemos ressaltar as obras literárias que tão bem 
retrataram a condição da população negra no Brasil, como Lima Barreto em 
“Clara dos Anjos”. 
De acordo com Lilia Schwarcz (2000), “a cidadania é defendida na 
garantia dos direitos formais, porém é ignorada a pobreza, a violência, a 
desigualdade econômica e social”. Ainda, segundo Lilia Schwarcz (2000, P.179), 
“alguns elementos culturais, antes ignorados e atribuídos aos negros, foram 
incorporados como nacionais, a exemplo da feijoada que era comida dos 
escravos”. No esporte, os atletas negros, antes proibidos de jogar, passam a ser 
inseridos: “Da humilhação para a exaltação, o mestiço se torna figura icônica, 
símbolo de nossa identidade cruzada no sangue, sincrética na cultura, isto é, no 
samba, na capoeira, no candomblé e no futebol”, ressalta Schwarcz (2000, 
P.178). Contudo, hoje, ainda sofrem preconceito em campo, dentro do próprio 
país. É notória a presença de atitudes racistas e de injúria racial, ainda na 
contemporaneidade. Atualmente, os crimes de racismo e injúria estão previstos 
na Lei 7.716/1989, conhecida como a Lei do racismo. Esta Lei foi elaborada 
para regulamentar a punição dos crimes que resultam de preconceito de raça ou 
de cor. Entretanto, a Lei nº 9.459/13, acrescentou os termos de etnia, religião e 
procedência nacional. Isto aumentou a proteção para outros tipos de 
intolerância. As intenções dessa norma são as de preservar os objetivos 
previstos em Constituição Federal, que são a promoção do bem estar de todos 
os cidadãos, sem a distinção de origem, raça, cor, sexo, idade sem quaisquer 
formas de discriminação. As penas são severas, podendo chegar até cinco anos 
de reclusão, segundo a Lei. 
De acordo com o sociólogo Sergio Alfredo Guimarães: “os brasileiros 
acreditam em raça e agem como se elas realmente existissem”. (2002, P.30). 
Devemos lembrar que os povos africanos: bantos, nagôs e jejes criaram o 
Candomblé no Brasil colônia. Trata-se de uma religião afro-brasileira. Com a 
posterior liberação do samba e de outras religiões de matrizes africanas e de 
expressões populares, há uma tentativa de formação/aproximação de uma 
identidade nacional. 
7 
 
Todavia, devemos ressaltar, que no período do Brasil colônia, era 
terminantemente proibido professar uma religião que não fosse a Católica 
Apostólica Romana, trazida pelos europeus a qual foi colocada pelo 
pensamento propagado como a única religião da colônia. Isto foi reforçado com 
um artigo do Código Criminal de 1830, que punia qualquer manifestação e 
religiosa e seus manifestantes. Nesse período, o Estado procurou estigmatizar 
seus ritos e a rotulá-los de “feiticeiros”. 
O antropólogo Kabengele Munanga, em seus estudos sobre o racismo, 
enfatiza como esses conceitos foram perpetuando dentro da civilização 
ocidental e do contato frequente com os outros povos, onde os europeus 
colocavam o conceito de humanidade sobre: nós somos seres humanos e os 
outros são “bestas”, ou seja, as explicaçõespara povos diferentes tinham cunho 
teológico. Os povos europeus em sua classificação sobre as religiões não 
consideram os valores de humanidade, de espiritualidade e de vida ao negar as 
outras religiões, os mitos e ritos africanos e indígenas. No caso do preconceito 
às religiões de matriz africana, no Brasil, pode-se pensar que a mola propulsora 
é o racismo. 
Desde o período colonial até o Brasil império, a Primeira República ou os 
dias atuais a criminalização às religiões africanas continua. Isso nos leva a 
refletir que o termo racismo religioso e as suas consequências ainda estão em 
construção. O racismo religioso se manifesta por meio de diversas ações. De 
pichações em fachadas de terreiros, postagens na internet pelas redes sociais, 
até a ação de invasão aos terreiros, a destruição de imagens e símbolos 
sagrados religiosos. Inclusive em agressões físicas. 
O preconceito no Brasil sempre foi velado e atribuído ao outro. O racismo 
existente é um fenômeno social, construído pela sociedade. Dizemos que não 
somos racistas, mas conhecemos alguém que o é sempre na atribuição ao 
outro. Até o momento recente, por exemplo, no Brasil, nossos povos indígenas 
reivindicam seus direitos às terras, à sua cultura e o respeito à sua 
ancestralidade. 
Outra questão pertinente é a tentativa de branqueamento da população 
brasileira, a chamada eugenia. Observemos a tela no Anexo I, onde há uma 
aclamação pelo fato do branqueamento da nova geração. 
A partir do século XIX, tem-se a divulgação de mais estudos sobre as 
teorias raciais no Brasil. Então, faremos um recorte histórico para continuar a 
ilustrar a questão da desigualdade étnica e cultural brasileira. 
Voltemos ao governo de Getúlio Vargas, no chamado Estado Novo, o 
8 
 
qual marcou a história do Brasil por duas questões: uma externa, o mundo em 
guerra; e outra interna, com alguns acontecimentos nacionais que foram 
destaque. O perfil do governo Vargas é marcado por ser ditatorial, com o poder 
centralizado e com apelos emocionais, pois, em 1937, o Congresso sofreu a 
intervenção do Estado. Entretanto, havia uma intenção de aproximar a 
população do governo de Getúlio Vargas. Para obter tal aceitação, foi proposto 
um governo assistencialista e paternalista, com a intenção de se aproximar do 
povo, para melhor dominá-lo. A ideia de nação e o pertencimento a ela tinha 
como base promover um “abrasileiramento”. Como fazer isto se o Brasil é 
formado por uma mescla de etnias? 
Para integrar a população, independente de sua etnia, credo religioso, ou 
condições sócias, Getúlio cria um feriado nacional, o chamado “Dia da raça”. 
Desejava-se que ocorresse uma homogeneização do povo brasileiro. Como 
suporte para tal integração, Getúlio pediu que fechassem as escolas particulares 
que ensinavam outros idiomas e, também o isolamento das colônias de 
imigrantes. 
(...) a Eugenia, que tem seu auge nos anos de 1920, começa ser 
discutido no governo Vargas, visando estimular a formação da 
identidade brasileira “já que sua atuação previa ampla reforma social, 
principalmente nos valores estéticos, nos hábitos higiênicos, na 
conduta pública, na educação intelectual e nos valores morais ligados 
a sexualidade” (Souza, 2012, P.7). 
9 
 
Getúlio Vargas utilizou um método europeu para classificar o povo 
brasileiro, que novamente expressa uma estratificação. Os sanitaristas e 
eugenistas acreditavam que seriam necessárias políticas públicas na saúde e 
na educação para tirar o Brasil do atraso social e buscar o ideal de uma 
sociedade predominantemente branca e alfabetizada. Fora implantada uma 
política de seleção de imigrantes que viriam para o Brasil e na educação, 
propostas eugenistas como meta. Inclusive a Constituição de 1934 previa 
exames pré-nupciais para os casais, a fim de manter ideais eugênicos. A 
proposta de se criar uma “identidade nacional”, pelo Estado pode ter intenções 
de esconder as desigualdades e os conflitos étnicos em nosso país. 
Segundo o jornalista e pesquisador Laurentino Gomes, “existe um abismo 
entre o Brasil branco e o Brasil negro”. Tal fato pode ser retratado na obra: 
“Mapa do Encarceramento: os jovens no Brasil” (Brasília, 2015). A obra retrata 
por dados numéricos o índice de encarcerados no Brasil. 
Este gráfico é apenas um recorte de um tempo histórico, mas que nos 
mostra e traduz um cenário da desigualdade étnica que persiste em nosso país. 
A escravidão pode ter deixado marcas em nossa história, em termos da 
desigualdade social e cultural. Tais marcas podem ser percebidas na sociedade 
brasileira. De acordo com Laurentino Gomes: “a escravidão deixou marcas na 
história e na geografia das paisagens brasileiras. Isto constatado a partir da 
observação das moradias, pois, para quem são as moradias mais urbanizadas e 
com maior infraestrutura?” Apesar de o Brasil ser um país com grande 
diversidade cultural, há grande desigualdade social entre as etnias que o 
integram. É vigente no país uma hegemonia de uma classe no processo de 
divisão social do trabalho, na divisão da renda, no acesso aos bens, na 
educação e na saúde. 
Como vimos, a questão que revela o preconceito presente em nosso país 
é o racismo religioso, o qual não está voltado unicamente à escravidão. A 
escravidão é apenas um estímulo para tal propagação. Toda essa 
criminalização e racismo religioso são frutos de um sistema econômico produtor 
de um modelo eurocêntrico e que legitima tais pensamentos racistas para o que 
não cabe no “imaginário ocidental”. Aqueles adeptos de uma fé hegemônica 
trazida pelo europeu estão mais legitimados e protegidos da violência por 
motivações religiosas. Por outro lado, ações de movimentos têm propagado 
preconceitos para inspirar a perseguição a candomblecistas e umbandistas. O 
preconceito religioso opera no Brasil com respaldo nas questões históricas do 
racismo e da colonização. Como diz Frantz Fanon (2008) em seu livro “Pele 
10 
 
negra, máscaras brancas”, “a máscara branca da religião cristã confere proteção 
limitada”. Nessa dinâmica, os outros são suspeitos e serão aqueles perseguidos 
e assassinados. 
A ONU sugere que o Brasil seja mais atuante na promoção da cidadania 
dos afrodescendentes e na liberdade de todos e m expressar a sua fé. A 
expressão racismo religioso nasce nas Nações Unidas, nos anos de 1960. Esse 
termo vem adquirindo aspectos jurídicos e legais ao longo de décadas. A 
religiosidade é só um alvo para o ataque. O que se pode ter como mais evidente 
é o ataque ao patrimônio cultural e a todo o seu legado. A pretensão é apagar 
este legado. Segundo o Instituto Conectas de Direitos Humanos: “o termo 
“racismo religioso” é mais adequado do que “intolerância religiosa”, para falar 
sobre a violência sofrida pelos povos de terreiros. Intolerância religiosa não é o 
suficiente, pois é muito suave diante de tamanha violência e ameaça a 
liberdade”. 
As práticas do racismo religioso estão ligadas às estruturas de poder e, 
por isso, podem ter fundamentos políticos e sociais. É uma complexidade que 
ultrapassa as questões espirituais. Isto porque a laicidade está prevista na 
Constituição Federal vigente de 1988, no seu Artigo V, Inciso VI, o qual 
assegura “a liberdade de crenças aos cidadãos”. (...) “é inviolável a liberdade de 
consciência e de crença como o local de cultos religiosos, sob a proteção da lei”. 
Porém, esta é uma perseguição que a norma jurídica não alcança como cita o 
pesquisador Silvio Almeida, sobre o racismo estrutural (Almeida, 2019, P. 62). 
De acordo com o diretor geral da Ocupação Cultural Jeholu, Felipe Brito, 
do Jornal Alma Preta: “O racismo estrutural perpassa todas as instituições de 
justiça e reforça a omissão do Estado frente aos ataques contra pessoas 
adeptas de religiões de matriz africanas e seus locais de culto, bem como a 
apuração e responsabilização desse tipo de discriminação e violência”. A luta 
contra o racismo religioso é de todaa sociedade brasileira, das instituições 
governamentais e não governamentais e de todo cidadão. É uma questão de 
democracia. Que todo relato notificado sobre o racismo religioso não seja 
esquecido ou subnotificado. 
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
É importantíssimo pensar as relações sociais e o poder das palavras que 
nos identificam como sujeitos históricos que somos, pois “(...) cada ser humano 
é todos os outros” (Couto, 2003. P.56). 
Para o relativismo cultural, é importante que as culturas não sejam 
11 
 
estratificadas em camadas, com hierarquia, ou como se existisse uma cultura 
“pior” ou uma cultura “melhor”. 
Raça é, portanto, cientificamente uma construção social que deve ser 
estudada pelas Ciências Sociais/Sociologia, pois trata das identidades sociais. 
Segundo Thomas Sowell, devemos desconstruir falácias raciais: “Antes de um 
conceito biológico, raça é uma realidade social, uma das formas de identificar 
pessoas em nossa própria mente”. 
Quanto à questão indígena, segundo Marçal e Lima, “(...) Há fatores de 
complexidade na questão territorial indígena. Famílias indígenas continuam 
vivendo sem acesso a terra ou em condições de territorialidade precárias, o que 
coloca em risco a sobrevivência desses povos”. 
A escravidão pode ter deixado marcas em nossa história, em termos da 
desigualdade social e cultural. Tais marcas são percebidas ou identificadas na 
história e na geografia das paisagens brasileiras. “Apesar de o Brasil ser um 
país com grande diversidade cultural, há grande desigualdade social entre as 
etnias que o integram. É vigente no país uma hegemonia de uma classe no 
processo de divisão social do trabalho, na divisão da renda, no acesso aos 
bens, na educação e na saúde” (Gomes, 2019). 
Algumas teorias de determinismo biológico acabam por sustentar uma 
inferioridade de parte da nossa população. A nossa dinâmica racial vai, ao longo 
do tempo, sendo estruturada e consolidada nas bases da discriminação, numa 
democracia racial inexistente e de um racismo velado. O racismo em 
12 
 
nosso país se apresenta como um preconceito racial de marca com base na 
aparência e nos traços fenotípicos, de acordo com (Nogueira, 2006). 
4. FONTES: 
 
Alma Preta/ Jornalismo. Disponível em: 
<https://almapreta.com/sessao/cultura/ocupacao-jeholu-representa-religioes-de-
matriz-africana-em-discurso-na-onu> Acesso em: 18 de outubro de 2022. 
A redenção de Cam. ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. 
São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível 
em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3281/a-redencao-de-cam> 
Acesso em: 18 de outubro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85- 
7979-060-7 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Disponível em: 
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 
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ANEXO 1. A REDENÇÃO DE CAM. ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE 
ARTE E CULTURA BRASILEIRA. 
 
 
Fonte: In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível 
em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3281/a-redencao-de-cam>. Acesso em: 18 de outubro de 2022. 
Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7 
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3281/a-redencao-de-cam

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