Prévia do material em texto
DAS IMPLICAÇOES DA LEI N.o 6.830, DE 22.9.80, NO PROCESSO FALIMENTAR: A VENDA ANTECIPADA DE BENS E A CLASSIFICAÇÃO DOS CReDITOS* ALMA RUBENS ALVIM DE CARVALHO** 1. Antecedentes históricos da Lei n.' 6.830/80. 2. Críticas à lei; 3. Como interpretar a Lei n." 6.830/80; 4. Da consti tucionalidade duvidosa da lei; 5. A Lei n." 6.830/80 e a derrogação de leis especiais tais como: Código Tributário Nacional, a Consolidação das Leis do Trabalho e a Lei de Falências; 6. Alguns conceitos e disposições da Lei n." 6.830/80 e suas efetivas ou eventuais implicações na falência; 7. A nova lei e a venda antecipada de bens - o art. 31 da Lei de Execuções Fiscais e o art. 73 da Lei de Falências; 8. A Lei n." 6.830/80 e suas possíveis implicações na classificação dos créditos na falência - a preeminência dos créditos trabalhistas em relação aos tributários. 1. Antecedentes históricos da Lei n.O 6.830/80 Antes da vigência da Lei n.O 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (CPC), o Decreto-lei n.O 960, de 17 de dezembro de 1938, como lei especial, disci plinava a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública (União, es tados, municípios, Distrito Federal e territórios) por ação executiva, em todo o território nacional (art. 1.0). No regime do Código de Processo Civil vigente, citado (art. 585, n.O VI), a execução fiscal seguia o mesmo procedimento adotado para a cobrança da letra de câmbio, da nota promissória, da duplicata, do cheque e outros títulos executivos extrajudiciais. Ocorre que o hipertrofiado Poder Executivo alegava necessitar de um pro cedimento próprio, especial, para efetivar a cobrança dos seus créditos, com maiores garantias e privilégios, de forma mais ágil e desburocratizada. A igual dade de tratamento estabelecida pelo CPC o descontentava e, até porque, deter minadas entidades financeiras dispunham de um rito de execução dotado de fase extrajudicial, muito mais eficaz, rápido e com privilégios que jamais foram concedidos ao crédito público (veja a exposição de motivos da lei ora sob exame, item 1). O Projeto de Lei n.O 14, de 1980-CN nasceu, conforme o item 9, da exposi ção de motivos que o acompanhou, do resultado de estudos levados a efeito por um grupo de trabalho constituído por uma Portaria Interministerial (n.o 273, de 15.6.73), sob a presidência do então subprocurador-geral da República, o procurador da Fazenda Nacional, o procurador-geral da República e alguns * O presente trabalho, apresentado ao Curso de Direito Empresarial, promovido pelo Centro de Atividades Didáticas do Instituto de Direito Público e Ciência Política, em 1981, mereceu nota máxima e é publicado por decisão do Conselho Editorial da Revista de Ciência Política. ** Da Curadoria de Massas Falidas (RJ). R. Cio poI., Rio de Janeiro, 24(3):54-72, set./dez. 1981 procuradores da Fazenda Nacional, um deles com a atribuição de, na qualidade de secretário, "preparar a redação final do anteprojeto da lei das Execuções Fiscais, bem como estudar e propor outras medidas de interesse da cobrança judicial da dívida ativa da União e da defesa judicial da Fazenda Nacional, com vista ao melhor entrosamento das procuradorias da República e da Fazenda Nacional, em face das respectivas competências legais", participando, ainda, dos trabalhos o procurador representante do Instituto de Administração Finan ceira da Previdência e Assistência Social. As atividades do grupo só se iniciaram em 14.7.77 e foram encerradas um ano após, com a apresentação do texto proposto. A redação final, segundo a exposição de motivos, após apreciada pelo senhor procurador-geral da República, foi revista e parcialmente alterada em reuniões com o Procurador da Fazenda Nacional, Cid Heráclito de Queiroz, com a assis tência do Procurador Dr. Pedrylvio Francisco Guimarães Ferreira, resultando daí o projeto de lei encaminhado, nos termos do § 2.° do art. 51 da Constitui ção Federal, ao Congresso Nacional, para deliberação nos termos dos §§ 2.° e 3.° do mesmo preceito legal, onde, com algumas alterações, foi de afogadilho aprovado e transformado na Lei federal n.O 6.830/80, publicada no Diário Oficial da União de 24.9.80, para viger (art. 42) 90 dias após a sua publicação, isto é, 23.12.80. 2. Críticas à lei Trata-se, em princípio, de uma lei que deveria ter caráter exclusivamente processual. Todavia, diversas de suas disposições são de natureza substantiva. A lei ordinária em apreço apanhou de surpresa os meios jurídicos nacionais em virtude das audaciosas inovações nela contidas, que geraram no espírito daqueles que se propunham interpretá-la inúmeras perplexidades. Algumas das suas normas parecem atropelar disposições contidas em leis especiais, tais como na Lei de Falências, na Consolidação das Leis do Trabalho, no Código Tributário Nacional (lei complementar) e, até mesmo, na Lei Magna, sendo oportuno observar que estes dois últimos diplomas legais se situam, em relação a ela, numa posição hierárquica superior. As críticas que se lhe fazem são severíssimas. Afirmam alguns conferencistas e doutrinadores abalizados que a lei em pauta é draconiana, ignora o estado de direito, dispõe com parcialidade, possui espírito exageradamente fiscalista, desrespeita o princípio da isonomia processual, viola direitos e garantias individuais. A sua Exposição de motivos explica que ela visou a uniformizar o tratamento da matéria, para facilitar a consulta, a orientação jurisprudencial e a própria aplicação da lei, a par de objetivar: a defesa do interesse da cobrança judicial da dívida ativa das Fazendas Nacional, estadual, municipal, Distrito Federal, municípios e respectivas autarquias; a agilização do processo judicial da cobrança dos créditos dessas entidades de direito público com a predominância do inte resse dessas mesmas entidades: " ... nenhum outro crédito deve ter em sua execução judicial preferência, garantia ou rito processual que supere o crédito público, à exceção de alguns créditos trabalhistas" - item 4 da Exposição de motivos - (grifo nosso); a adaptação às necessidades próprias da execução fiscal às normas especiais dos privilégios da Fazenda Pública de tradição secular (grifo nosso); a inovar, como, por exemplo, no que tange à adoção da citação Processo falimentar 55 pelo correio, à produção facilitada de provas pela Fazenda Pública, efeitos da penhora, outras alternativas de garantia do Juízo, publicações resumidas apenas no Diário Oficial para a realização de leilões, reunião de execuções, entre outras novidades. Infelizmente, o projeto que lhe deu origem não mereceu a divulgação prévia exigida pela relevância da matéria, e, a sua passagem pelo Congresso foi tão breve, dado ao regime de urgência imposto, que pouco se pôde fazer para se lhe proceder a um estudo profundo, objetivando a proposição e a defesa de emendas e exclusão de alguns dos seus dispositivos. Por um breve espaço de 40 dias passou o projeto pelo Congresso Nacional para a sua apreciação em sessão conjunta, sob pena de aprovação por decurso de prazo (art. 51, §§ 2.° e 3.° da Constituição Federal). Assim, foi o projeto, com algumas alterações, aprovado, transformando-se na lei em tela que, boa ou má, aí está para ser aplicada. Conferências, reuniões, debates foram realizados em diversas partes do país, a fim de que os aplicadores e destinatários da lei sobre ela opinassem e se orientassem quanto à melhor exegese, escoimando dúvidas e perplexidades. Embora esta lei contenha dispositivos altamente criticáveis e até, conforme diria o celebrado Aliomar Baleeiro, de constitucionalidade duvidosa, esperamos que possam juízes e tribunais, através de uma interpretação sistemática, pru dente e cautelosa, extrair dela bons frutos. Há que se lhe perquirir a mens legis, se proceder à sua exegese com certa dose de eqüidade, à luz dos consagrados princípios da hermenêutica e acomo dar-se as suas disposições dentro do nosso sistema jurídico. Muitos dos seus artigos nãoconstituem novidade, repetindo, às vezes com pequenas alterações, normas contidas em diplomas legais anteriores, tais como no Decreto-Iei n.O 960/38 e, principalmente, no Código Tributário Nacional, como por exemplo as disposições relativas à responsabilidade, à solidariedade do síndico, do comissário e os privilégios da Fazenda, entre outros. 3. Como interpretar a Lei n.O 6.830/80: o projeto da lei sob exame, como pudemos notar no tópico da história da lei, permaneceu no Executivo, nada mais, nada menos, que quatro anos em fase de estudos, ou seja, de julho de 1976 até 23.6.80, quando foi enviado ao Congresso Nacional para ser examinado e votado nos termos dos §§ 2.° e 3.° do art. 51, da Constituição Federal, em regime de urgência, ou seja, em apenas 40 dias, sob pena de aprovação por decurso de prazo. A lei dele originada, como dissemos, apanhou de surpresa não só o Legis lativo, bem como as entidades de classe interessadas, que pouco tempo tiveram para analisá-lo em profundidade, apresentar sugestões e pugnar por emendas a exclusão de diversos dispositivos, segundo alguns, draconianos, inconstitu cionais, pois lesivos aos direitos e garantias individuais. O Congresso, por sua vez, igualmente, em face da exigüidade do prazo de urgência imposto pelo Executivo, no uso da faculdade ou poder discricionário, contidos na citada norma constitucional, não pôde se deter no exame de um diploma legal que da espécie merecia. Nesse passo, poucas alterações o projeto sofreu, e a lei que dele se originou contém perigosos dispositivos, os quais demandam do exegeta muita cautela e profunda meditação, a fim de que, através de uma interpretação sistemática, 56 R.C.P.3/81 equamme, harmonizada com as normas, os princípios e os institutos vigentes no nosso ordenamento jurídico, extraía de cada um dos seus dispositivos a mens legis. Da eqüidade, repitamos, deverá muitas vezes o aplicador lançar mão, a fim de que predomine a finalidade da lei sobre a sua letra, preferindo-se a interpretação mais benigna, humana na adaptação da norma às circunstâncias singulares do caso concreto. "Muitas vezes sucede que a generalidade com que foi concebida a norma impede a sua correta aplicação às circunstâncias do caso concreto; na interpretação das lacunas da norma, Ex aequo et bano", " ... ou mesmo para amortecer essa norma, se nas circunstâncias específicas ou inéditas conduzir ao iníquo ou ao absurdo, uns e outros considerados dentro do sistema geral do direito e da consciência jurídica contemporânea em nosso país ou nosso tipo de estrutura econômica, política, social e institucional".1 Fora desses parâmetros, numa exegese precipitada, puramente literal e iso lada dos dispositivos da Lei n.O 6.830/80, caminharão juristas, advogados, juízes e tribunais para soluções práticas absurdas. Portanto, diante dos casos concretos, devemos aplicar esta lei com a máxima prudência, tendo sempre em mente o estatuído nos arts. 5.° e 2.°, § 2.° da Lei de Introdução ao Código Civil, imbuídos todos aqueles que disponham de competência para tanto da coragem para negar aplicação a determinados dispo sitivos dela constantes que entram em conflito com a Lei Magna. Consideramos úteis para a sua correta aplicação os seguintes princípios de hermenêutica: - em regra é estrita a interpretação das leis excepcionais, das fiscais e das punitivas; - não se presume que a lei geral revogue a especial. B mister que o intuito decorra claramente do contexto; - a incompatibilidade de uma norma com outra não se presume. Na dúvida se considerará uma norma conciliável com outra. A incompatibilidade há que ser provada com argumentos sólidos. - usa-se exegese rigorosa, quando o texto entendido nos termos latos em que foi redigido, contraria outro preceito de lei.2 "Todos os povos querem que a justiça presida as relações humanas, inclusive aquelas entre o fisco e o contribuinte".3 E mais adiante, acrescenta o mesmo autor: "Os julgadores fazem profissão de fé da famosa advertência de D'Argen tré - 'Juiz segundo a lei, e não juiz da lei'. Mas em todos os tribunais, inclu sive no nosso Supremo Tribunal Federal, resplandecem arestos em que seus mais prestigiosos membros reconheceram que em certas situações especialíssi mas experimentaram a necessidade invencível de imprimir extrema dutilidade ao texto, vergando-o às circunstâncias do tempo ou das peculiaridades raras do caso concreto, arisco à generalidade da norma". 4. Da constitucionalidade duvidosa da lei Antonio Nicaci04 sustenta consubstanciar-se o projeto que deu origem à Lei n.O 6.830/80 em um projeto de codificação, pois que, além de codificar os I Baleeiro, Aliomar. Direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro, Forense, 1973. p. 390. 2 In: Maximiliano, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 3. ed. Freitas Bastos, lQ41. 3 Baleeiro, Aliomar. Op. cit. p. 390. 4 Nicacio, Antonio. A nova lei das execuções fiscais. São Paulo, ed. LTr. p. 173-6. Processo falimentar 57 preceitos relativos à cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública (veja itens 12/14 da Exposição de motivos) o projeto vinha alterar determinados dispositivos do CPC, no tocante à execução fiscal, disciplinada por esse estatuto, como ainda por outros do Código Tributário Nacional, e, como tal, não poderia sofrer a tramitação prevista nos §§ 2.° e 3.° do art. 51 da Constituição Federal e sim obedecer ao disposto no § 6.° do mesmo dispositivo da Lei Suprema. Conclui, assim, pela manifesta inconstitucionalidade formal da lei no seu todo. Sustenta, ainda, esta tese afirmando que o indigitado preceito constitucional, corporificado no § 2.° do art. 51 da Constituição federal, encerra uma faculdade discricionária do presidente da República, mas que discrição não significa abuso, negação do próprio direito. E mais, que o presidente da República in casu não é o único árbitro da questão, não lhe sendo lícito, sem ferir o preceito constitucional, obrigar o Congresso Nacional a apreciar tão relevante diploma legal no exíguo prazo de 40 dias. A questão levantada se nos afigura interessante e tem um bom suporte legal, fático e doutrinário. É certo que, no praticar o ato discricionário a autoridade administrativa é livre quanto à escolha dos motivos (oportunidade e conveniên cia) e do objeto (conteúdo). No entanto, Hely Lopes Meirelles5 salienta que "o ato discricionário não se confunde com o ato arbitrário. Discrição é liber dade de ação dentro dos limites legais; arbítrio é ação contrária ou excedente da lei." ... "Ato discricionário, portanto, quando permitido pelo direito, é legal e válido; ato arbitrário é sempre e sempre ilegítimo e inválido" ... "A atividade do administrador público - vinculada ou discricionária - há de estar sempre dirigida para o fim legal, que em última análise colima o bem comum". No entender de Fiorini, citado pelo celebrado administrativista brasileiro, "a discricionariedade adquire relevância jurídica quando a administração quer custodiar em forma justa os interesses públicos entregues à sua tutela". Salienta, ainda, Antonio Nicaci06 que "naquilo em que a lei pretende modi ficar normas gerais de direito tributário, constantes do Código Tributário Na cional, será também inconstitucional, se, através de interpretação sistemática, não se puder conciliar seus dispositivos com os do Código Tributário Nacional, pois este, como reconhecido pela doutrina e jurisprudência, constitui lei comple mentar, que não pode ser alterada por simples lei ordinária." E, adiante, acres centa: "aliás, também o Poder Executivo federal, como ainda o Congresso Na cional, já reconheceram que o Código Tributário Nacional só pode ser modifi· cado por lei complementar, como se evidencia da tramitação legislativa e pro mulgação das Leis Complementares n.OS 4, de 2 de dezembro de 1969, e 24, de 7 de janeiro de 1975 (arts. 13 e 14)." Comungamos com a opinião do autor, embora entendamos que dificilmente se conseguirá a declaraçãoda inconstitucionalidade total desta lei e conseqüente suspensão da sua execução in totum. Temos fé em que o Poder Judiciário no livre e independente exercício de sua atividade, quando da prestação jurisdicional em cada caso concreto, saiba aplicar a lei, restringindo-a onde ela exorbitou e, até mesmo, negando aplicação àqueles dispositivos que ferem a Lei Maior, principalmente os que atingem os direitos e garantias individuais dos cidadãos (art. 153 da Constituição Federal). 5 Lopes MeirelIes. Hely. Direito administrativo brasileiro. 4. ed. p. 137 e segs. 6 Nicacio, Antonio. Op. cito 58 R.C.P.3/81 No que tange à aludida codificação do Processo Tributário, é oportuno lem brar que, realmente, conforme lembra Aliomar Baleeiro,7 "o Governo revolu cionário de 1964 tentou a codificação do direito processual tributário, come tendo-o a um financista competente, Gilberto Ulhôa Canto, que publicou o Anteprojeto do Código Processual Tributário (FGV, 1964)". Mas ao que parece esse trabalho não foi aproveitado ... Pontes de Miranda8 observa: "Tramitação de códigos - o prurido legisfe rente dos últimos anos da história do Brasil chegou à absurdeza de se querer a feitura de códigos dentro de prazo. Não seria de admirar que tal ocorresse em ditadura que impôs prazo para se fazer a Constituição. O art. 51, § 6.°, foi acertado para que não se quebrasse a tradição jurídica do Brasil com vota ções apressadas de textos medíocres e revela dores, por vezes, de falta de cultura jurídica" . 5. A Lei n.O 6.830/80 e a derrogação de leis especrars tais como: Código Tributário Nacional, a Consolidação das Leis do Trabalho e a Lei de Falências ~ fora de dúvida que a Lei n.O 6.830/80 não pode derrogar qualquer dispo sição do Código Tributário Nacional, uma vez que este último diploma legal, como lei complementar à Constituição que é, está situado em posição hierarqui camente superior àquela lei ordinária (art. 46 da Constituição Federal). Da mesma forma, não tem ela força revogatória contra a Consolidação das Leis do Trabalho, particularmente no que concerne ao art. 449, § 1.0, com a nova redação dada pela Lei n.O 6.449, de 14 de outubro de 1977, que dispõe: "Na falência constituirão créditos privilegiados a totalidade dos salários devidos ao empregado e a totalidade das indenizações a que tiver direito." Carece a lei em pauta, outrossim, de poderes revogatórios das disposições contidas na Lei de Falências, lei específica que protege o superprivilégio de tais créditos, porquanto não pode a lei ordinária e geral derrogar aquelas normas especiais em face do disposto no § 2.°, do art. 2.°, da Lei de Introdução ao Código Civil. Os dispositivos destas leis coexistem pacificamente, porquanto a antinomia entre as normas das leis em pauta e os da nova Lei de Execuções Fiscais não resta patenteada por argumentos irretorquíveis. Segundo De Ruggiero,9 citado por Serpa Lopes: " ... se a norma especial der roga sempre a geral e se a norma geral jamais derroga a especial, é para ele matéria de interpretação". Preleciona Carlos Maximiliano:10 "Se existe antinomia entre a regra geral e a peculiar, específica, esta, no caso particular, tem supremacia." " ... Prefe rem-se as disposições que se relacionam mais direta e especialmente com o assunto de que se trata"; e cita Papiniano, apud Digesto: "Em toda a disposição 7 Baleeiro, Aliomar. Op. cito p. 558. B Pontes de Miranda. Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda n.O 1/67. RJ, 1973. t. 3, p. 157. 9 ~e Ruggiero. Apud Serpa Lopes. Lei de introdução ao Código Civil. 2. ed. Freitas Bastos, 1969. v. 1. 10 Maximiliano, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 3. ed. Freitas Bastos, 1941. p. 168-170. Processo falimentar 59 de direito, o gênero é derrogado pela espeCle, e considera-se de importância preponderante o que respeita diretamente à espécie;" " ... se uma disposição é secundária ou acessória e incompatível com a principal, prevalece a última." 6. Alguns conceitos e disposições da Lei n.O 6.830/80 e suas efetivas ou eventuais implicações na falência Consoante o art. 1.0, a execução judicial (forçada) da dívida ativa da União, dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e respectivas autarquias reger se-á pela lei em tela e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil. Dívida ativa: expressão que compreende a dívida ativa tributária e a dívida ativa não-tributária (art. 2.°). Dívida ativa tributária: conceitua-se como o crédito da Fazenda Pública pro veniente de obrigação legal, relativa a tributos e respectivos adicionais e multas, inscrito como tal no registro próprio. Dívida ativa não-tributária: que se consubstancia nos demais créditos da Fa zenda Pública, provenientes de obrigação legal ou contratual (por exemplo, um contrato não cumprido com qualquer das entidades de direito público antes referidas pode se transformar em uma dívida ativa não tributária da Fazenda Pública). O art. 2.° faz remissão à lei que disciplina os orçamentos e balanços da União, estados, municípios e do Distrito Federal (Lei n.O 4.320/64), que em seu art. 39 ajuda a elaborar os conceitos acima lançados e que foram extraídos, com algumas alterações, do parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, pu blicado no Diário Oficial da União, seção I, de 25 de maio de 1981, p. 9.526-35. Qualquer valor atribuído por lei àquelas entidades será considerado dívida ativa da Fazenda Pública (§ 1.0 do art. 2.°). Tanto a dívida ativa tributária como a não-tributária compreendem a corre ção monetária, os juros, multa da mora e demais encargos, previstos em lei ou contrato (art. 2.°, § 2.°). No que tange à falência, é oportuno destacar que a nova norma geral em pauta tem de ser interpretada em consonância com as disposições especiais contidas na Lei Falimentar e no Decreto-lei n.O 858/69. A disposição legal nova (posterior) se conjuga e convive, harmonicamente, com as preexistentes (art. 2.°, § 2.° da Lei de Introdução ao Código Civil). A correção monetária, os juros e a multa são, em princípio, computados nor malmente até a data da declaração da falência. Após, deve-se atender para o fato de que: a) a contagem da correção monetária (na expressão da nova lei, atualização monetária) dos débitos fiscais do falido fica suspensa por um ano, a partir da data da declaração da falência. Se tais débitos não forem pagos até 30 dias após o término daquele prazo, recomeçará a ser contada, retroagindo a contagem ao período em que ficou suspensa (art. 1.°, § 1.° do Decreto-lei n.O 858, de 11 de setembro de 1969); b) os juros, consoante o disposto no art. 26 da Lei de Falências, não correm contra a massa, ainda que estipulados, se o ativo apurado não bastar j)ara o pagamento do principal; c) a multa, quer da mora, quer a proveniente de leis penais ou administrativas, não é cobrável da massa (art. 23, n.O IH, da Lei de Falências e as Súmulas n.OS 191 e 192 do Supremo Tribunal Federal); 60 R.C.P. 3/81 d) os encargos podem estar previstos na lei ou no contrato e, dependendo da natureza deles, não poderão ser cobrados da massa. A inscrição da dívida ativa consiste no ato administrativo vinculado, pelo qual o órgão competente faz o assentamento do débito para com a Fazenda Pública, após vencido o prazo concedido para o seu pagamento, e apura a liquidez e certeza do crédito, suspendendo, outrossim, a prescrição por 180 dias, até a distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo o aludido prazo de suspensão. O termo de inscrição é o instrumento visado pela autoridade competente, pelo qual se faz o registro do débito para com a Fazenda Pública e deverá conter os elementos especificados no § 2.° do art. 2.°. A certidão da dívida ativa nada mais é do que um título executivo extraju dicial, visado pela autoridade competente, representativo do crédito da Fazenda Pública, inscrito, extraído à vista do respectivo termo de inscrição e deverá conter os mesmos elementosdeste último (§ 6.° do art. 2.°). O § 9.° do art. 2.° consagra a prescrição trintenária das contribuições previ denciárias (art. 144 da Lei n.O 3.807/60, que corresponde ao art. 221 da Con solidação das Leis da Previdência Social), o que é contestado por alguns juristas de renome que vêem nelas a natureza jurídica de tributo e, como tal, com o prazo de prescrição disciplinado pelo Código Tributário Nacional (art. 173). A dívida regularmente inscrita goza de presunção (juris tantum) de certeza e liquidez (art. 3.° e parágrafo único). Cabe execução contra a massa falida (art. 4.°, n.O IV e 29), excluído o juízo universal da falência para este efeito (art. 5.°). A Fazenda não está sujeita ao concurso de credores ou à habilitação na falên cia (art. 29 da Lei n.O 6.830/80 e 187 do Código Tributário Nacional). Responde pela dívida a totalidade dos bens da massa, inclusive os gravados com cláusula de inalienabilidade e impenhorabilidade, ressalvados os privilégios especiais sobre determinados bens (por exemplo, os decorrentes de um contrato de alienação fiduciária em garantia) - art. 30 da Lei n.O 6.830/80 e 184 do Código Tributário Nacional). A hipótese de execução contra a massa falida não constitui novidade e já fazia parte do sistema jurídico anterior (Decreto-Iei n.O 960/38 no art. 4.0 , n.O IH, art. 187 do Código Tributário Nacional e Decreto-lei n.O 858/69 no seu art. 2.0 ). Porém, essa execução se há de fazer à luz da Súmula 44 do Tribunal Federal de Recursos e julgados do Supremo Tribunal Federal. Diz a Súmula 44 do Tribunal Federal de Recursos: "Ajuizada a execução fiscal anteriormente à falência, com penhora realizada antes desta não ficam os bens penhorados sujeitos à arrecadação no juízo falimentar; proposta a execução contra a massa falida a penhora far-se-á no rosto dos autos do processo da quebra, citando-se o síndico." Portanto, antes da declaração da falência a penhora é real e filhada (Tribunal Federal de Recursos e Supremo Tribunal Federal). Depois dela, no rosto dos autos. A penhora no rosto dos autos é criticada por alguns juristas que entendem ser incabível na falência, quando se trata de dívida do próprio falido. Sob o ponto de vista rigorosamente técnico a penhora no rosto dos autos só se faz quando o executado discute em juízo direitos que poderão ser even tualmente conquistados por ele. Processo falimentar 61 Na falência só caberia a penhora no rosto dos autos de crédito que o exe cutado tivesse na falência. Porém, como se disse alhures, a súmula consagrou a penhora no rosto dos autos da falência, levada a efeito pela Fazenda Pública. A penhora real e filhada é impossível, porquanto os bens da massa constituem uma universalidade (art. 54, n.O 11, do Código Civil), tendo a natureza coletiva. Para se efetivar a penhora real contra a massa ter-se-ia que realizá-la em rela ção a todos os seus bens, o que poderia importar em excesso de penhora e, o que é pior, na efetiva postergação dos superprivilegiados créditos trabalhistas. A solução que tem sido adotada na prática por juízes e procuradores é o pedido de reserva de crédito. O art. 4.°, § 1.° deixa claro que o síndico responderá, solidariamente, se efetivar a venda de bens sem a prova da quitação fiscal ou a concordância da Fazenda Pública (art. 31), sendo que o § 2.°, do art. 4.°, admite que o síndico, entre outros responsáveis pela administração de bens alheios, alegue o benefício de ordem. Tal solidariedade, como já afirmamos, já existia no direito anterior (art. 134, n.O V, do Código Tributário Nacional), pelos tributos devidos pela massa. Quanto à interpretação do art. 31 da Lei n.O 6.830/80, faremos comentários em item à parte que trata da venda antecipada de bens na falência. O § 2.°, do art. 4.°, coloca a responsabilidade nos termos até então vigentes e que o projeto pretendeu alterar, ampliando-a, conforme se observa pela leitura do § 2.°, do art. 4.°, do anteprojeto, que dizia: "Respondem, pessoal e subsi diariamente, até o total das dívidas das pessoas jurídicas de direito privado, independentemente de dolo ou culpa, os sócios, diretores, gerentes, adminis tradores ou representante". Outra disposição que nos afigura digna de menção, em se tratando de falência, é a contida no art. 4.°, § 4.°, que, em síntese, proclama que as dívidas ativas da Fazenda Pública de natureza não tributária (por exemplo, as provenientes de um contrato não cumprido com qualquer das mencionadas pessoas jurídicas de direito público) gozam da preferência inserída no art. 186 do Código Tribu tário Nacional e dos benefícios contidos no art. 188 do mesmo diploma legal que, também, se lhes aplica. O art. 21 reconhece a necessidade da venda antecipada dos bens penhorados na execução, quando se tratar de bens sujeitos à deterioração, guarda difícil, onerosa ou prejudicial, devendo o produto ser depositado em estabelecimento oficial de crédito que assegure a atualização monetária (art. 9.°, n.O 1). O art. 24 permite à exeqüente adjudicar os bens penhorados antes e após o leilão. Entendo que o artigo em tela não é aplicável às falências, até porque a adju dicação pressupõe a penhora real e filhada realizada contra a massa, o que, conforme demonstramos neste trabalho, não é possível. O art. 29, caput, reproduz o art. 187, caput, do Código Tributário Nacional, substituindo, apenas, a expressão crédito tributário por dívida ativa da Fazenda Pública. Quanto ao parágrafo único do art. 29, reservamo-nos para comentá-lo no item adiante (da classificação dos créditos). O art. 30 é considerado dispositivo perigoso para muitos, embora seja repro dução quase fiel do art. 184 do Código Tributário Nacional, tendo, também, apenas substituído a expressão crédito tributário por dívida ativa da Fazenda Pública. Tal dispositivo parece esbarrar com o art. 153 da Constituição Federal. 62 R.C.P. 3/81 o art. 37 determina a responsabilidade civil, penal e administrativa .90 auxi liar de justiça, tais como, a do escrivão, do oficial de justiça, depositário e admi nistradores, que prejudicar a execução (veja art. 139 do Código de Processo Civil). 7. A nova lei e a venda antecipada de bens - o art. 31 da Lei de Execuções Fiscais e o art. 73 da Lei de Falências Estatui o art. 31 da Lei n.O 6.830/80, in verbis: "Nos processos de falência, concordata, liquidação, inventário, arrolamento ou concurso de credores, nenhu ma alienação será judicialmente autorizada sem a prova de quitação da dívida ativa ou a concordância da Fazenda Pública". -- O dispositivo em tela está vazado em termos incisivos e se literalmente inter pretado dará origem a perplexidades e levará o aplicador da lei a dar aos casos concretos soluções absurdas, mormente em se tratando de venda antecipada de bens dentro da falência, muitas vezes imprescindível para se evitar a perda de um bem altamente perecível, riscos para a massa na guarda difícil ou onerosa de certos bens, a rescisão e a perda do correspondente valor de um contrato comercial de locação ou de uma promessa de compra e venda com saldo venci do, sobre o qual pende, às vezes, ação de rescisão contratual. Aquelas aliena ções podem até trazer enormes vantagens para a massa. Em muitos casos, se esta venda não for efetivada, a coisa ou o direito pere cerá, com irremediáveis prejuízos para a coletividade dos credores, entre eles a própria Fazenda Pública e suas respectivas autarquias. A norma é justificada pelo item n.O 86 da Exposição de Motivos, devendo-se notar que no projeto este artigo correspondia ao 32: "Os processos de falência, concordata, liquidação, inventário, arrolamento e concurso de credores ensejam oportunidades a que se pratiquem atos com reflexos prejudiciais ao crédito da Fazenda Pública. O art. 32 procura prevenir tais situações, seja pela prova da quitação da dívida ativa, seja pela concordância da Fazenda Pública." Nenhuma emenda, infelizmente, foi proposta para este dispositivo.Evidencia-se, pela leitura do item 86 da exposição de motivos transcrita, que o legislador redigiu mal a norma. As verba legis não refletem a intenção do legislador e nem fornecem à Fazenda, como era do seu desejo, a garantia do crédito tributário (diYida a1iva dª_.f~zenda P®lica). Há um completo descom passo entre o que pretendia dizer o legislador e o que efetivamente disse. Com a disposição em pauta, o legislador traiu os objetivos da lei que visa à agilização e à desburocratização da justiça, a par da proteção do crédito tributário. Se o artigo em exame for interpretado literalmente, produzirá efeitos justa mente opostos ao pretendido não só pelo legislador, mas também pelo espírito da lei, alcançado através de análise do conjunto das normas que a compõem como um sistema, porquanto: a) paralisará, em geral, os processos falimentares por falta de verba, não sendo correto afirmar-se que poder-se-á transformá-los todos em falências frustradas (art. 75 da Lei de Falências), pois, se há bens a serem alienados e suficientes para as despesas do processo, não há por que se proceder dentro daquele rito; b) significará praticamente a morte do instituto de falência, sem que outro tenha sido criado pela lei para substituí-lo com vantagens, como o instituto da recuperação econômica da empresa, preconizado pelo insigne mestre José Wash- Processo falimentar 63 ington Coelho (autor de excelentes monografias sobre a Lei das Sociedades Anônimas e o Código Tributário Nacional) em aulas por ele ministradas na Fundação Getulio Vargas e em bem lançado artigo intitulado: A falência e a morte - a recuperação e a vida; c) o preceito é altamente burocratizante. Tomará o processo falimentar mais moroso, contra os objetivos da lei e os princípios consagrados nos arts. 203 e 208 da Lei de Falências. Obedecendo-se estritamente à letra da lei, ou a falida apresenta as certidões de quitação fiscal, aliás, demoradíssimas, relativamente a todos os tributos e contribuições exigíveis pela atividade do falido, já que as certidões imaculadas fornecidas pelos competentes distribuidores serão insuficientes, porquanto pode haver débito inscrito na via administrativa ainda não ajuizado, ou se sujeita à aleatória e demorada concordância da Fazenda Pública que, diga-se de passa gem, não poderá discordar se o pedido de venda antecipada estiver devidamente fundamentado, com a prova da fácil deterioração, da guarda dispendiosa e de cuja alienação resultarão vantagens óbvias para a massa. Igualmente, não poderá condicionar a sua concordância ao pagamento do seu crédito, já que, conforme afirmamos, não pode ela absorver os recursos da massa na satisfação dos seus créditos em detrimento dos preeminentes créditos acidentários e trabalhistas; d) poderá ocasionar a perda de bens altamente perecíveis, como, por exemplo, gêneros alimentícios, quando a falida se dedicar à produção ou à venda de tais bens; e) determinará a eventual rescisão de importantíssimos e valiosos contratos do falido, com a conseqüente fuga de recursos da massa; contratos esses tais como de locação comercial, de promessa de compra e venda com saldo devedor em atraso etc.; f) reduzirá, ainda mais, a possibilidade de a Fazenda Pública receber o seu cré dito, já que normalmente a falida está insolvente e não dispõe de dinheiro em caixa para dar prosseguimento ao feito e, muito menos, para pagar os vultosos débitos fiscais, nessa altura já acrescidos de juros da mora, multa e correção monetária. E, note-se: mesmo que houvesse numerário disponível não seria admissível, em face do sistema jurídico vigente, saldar os débitos fiscais antes dos superprivilegiados credores trabalhistas (art. 186 do Código Tributário Na cional e 449 da Consolidação das Leis do Trabalho, com a nova redação dada pela Lei n.O 6.449, de 14 de outubro de 1977). De que adiantaria a arrecadação de tributos e contribuições parafiscais se não se satisfizesse a elementar necessidade de o homem sobreviver? Profunda mente desumana seria a interpretação da norma no sentido de se colocar na frente a Fazenda Pública em detrimento dos créditos de conteúdo social. A res peito, transcrevemos interessante acórdão: "Crédito trabalhista - preferência ao crédito previdenciário - uniformização de jurisprudência - conhecimento do incidente. Ocorrendo di;'ergência entre julgados e julgadores, a 'qualquer' destes 'com pete' 'solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação do direito'. Crédito trabalhista, originário do direito ao próprio salário, constitui-se por sua natureza alimentar em direito preferencial e sagrado, impossível e desca bido, portanto, dar-se preferência ao INPS, negando o salário ao empregando, matando-o de fome a fim de que o instituto tenha dinheiro para custear o seu entufo 64 R.C.P. 3/81 (TJSP-Pleno: UJ em Ap. Cível n.O 279.944-SP; reI. Des. Afonso André; j. 03-09-80; v.u.) Acórdão Vistos, relatados e discutidos ... Acordam, em sessão plenária do Tribunal de Justiça de São Paulo, por unani midade de votos, conhecer do incidente e, no mérito, por maioria de votos, a afirmar a tese da preferência do crédito, sobre o pedido de restituição do INPS. Conhecem do incidente, sem embargo da preliminar da douta Procuradoria Geral da Justiça, porque também a divergência entre juízes do órgão suscitante autoriza o incidente de uniformização de jurisprudência, consoante art. 476, inciso I, do Código de Processo Civil, que assim tem sido interpretado pelo tribunal. Havendo divergência entre julgados ou julgadores 'a qualquer' destes 'compete' 'solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpreta ção do direito'. Quanto ao mérito, afirmam a tese da preferência do crédito do trabalhador sobre o pedido de restituição do INPS, pelas razões do relator constantes do acórdão suscitante de fls. 92-6, e que estão escorreitamente calcados na legisla ção em vigor. Des. Carvalho Filho - Presidente Des. Afonso André - Relator Declaração de voto vencedor Meu voto foi idêntico ao da douta maioria, no reconhecimento da preferência do crédito do trabalhador, em relação ao pedido de restituição, formulado pelo INPS. Ponderei que o crédito trabalhista é resultante do direito ao próprio salário, direito preferencial e sagrado, por ter natureza alimentar. Aliás, é princípio de sabedoria consagrada que ao trabalhador pagar-se-á sem demora o preço de seu trabalho, porque ele é pobre, e sua vida depende de seu salário (Deutero nômio, 24.15). Impossível, portanto, seria dar-se preferência ao instituto, negando o salário ao operário, matando-o de fome, a fim de que o Instituto tenha dinheiro para custear o seu enterro. Desembargador Adriano Marrey." "Nota: Depreende-se da orientação prolatada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em sessão plenária, quando afirma a tese da preferência do crédito do trabalhador sobre o pedido de restituição do INPS, a consagração da predomi nância do social sobre o econômico, demonstração do alto espírito de justiça que norteia esse egrégio tribunal. - IRS." Não se diga que a malsinada disposição legal revogou as normas acima cita das, porquanto: a) trata-se de lei ordinária que não dispõe de força para derrogar disposição de lei complementar à Constituição, consoante construção doutrinária e preto riana dominante, situada em posição hierarquicamente superior (art. 46, da Constituição federal); b) o art. 31 da nova Lei de Execuções Fiscais, consubstancia-se em norma nova de natureza geral que não pode revogar disposição especial anterior (art. 73 da Lei de Falências c/c o art. 2.°, § 2.°, da Lei de Introdução ao Código Civil). Na prática, juízes e tribunais já têm decidido sobre a matéria, interpretando a norma corretamente, isto é, ajustada ao sistema jurídico vigente e tendo em Processo falimentar 65 vista os fins sociais a que a lei se destina e ao bem comum (art. 5.° da Lei de Introdução ao Código Civil), temperando-a comcerta dose de eqüidade. Para ilustrar a assertiva acima feita, trazemos à colação o recentíssimo acórdão da 8.a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, pro ferido em 17 de fevereiro de 1981: "Ementa - Embargos à execução fiscal - falência. Admissíveis são os em bargos da massa falida, já que seguro o juízo por reserva de numerário no juízo universal da falência. Multa fiscal excluída por força do art. 23, parágrafo único, IH, da Lei de Falências, como o expresso nas Súmulas n.OS 192 e 565 do Supremo Tribunal Federal. Exclusão dos juros de mora, por aplicação do art. 26 da lei especial. Incidência de correção monetária, prevista no art. 1.° e seu § do Decreto-Iei n.O 858, de 11.06.69. Sentença confirmada." Igualmente, dentro da mesma esteira de raciocínio decidiu o ilustrado Juízo da 9.a Vara Cível na Falência de Cande1ária Carpintaria e Materiais de Cons trução Ltda., onde, a Fazenda Nacional, em resposta ao ofício que lhe fora enviado, nos termos do art. 31 da Lei n.O 6.830/80, condicionou a sua concor dância com a venda antecipada de um bem da massa (um telefone), se satisfeita a totalidade do seu crédito. Acatando a bem lançada petição da ilustrada 2.3 Liquidante Judicial, Dr.a Mary Gayoso, decidiu o douto magistrado: "J. Efetive-se o leilão. Após a liquidação do ativo, providenciará o juízo os pagamentos, observadas as preferências legais. Ciência ao Dr. Curador. R.J. 28.04.81." Cremos que o artigo em pauta está a demandar urgente modificação, a fim de que seja adaptado à realidade social, à ordem jurídica vigente e à orientação jurisprudencial já firmada, conforme preconiza a própria Exposição de Motivos da lei em questão. Como está redigido, para se aplicá-lo, resta-nos apenas uma solução: que em obediência ao próprio espírito de lei se proceda à intimação pessoal das fazendas interessadas e suas respectivas autarquias, para que, no prazo razoável de 10 dias, se pronunciem, valendo o silêncio como anuência tácita, pois, do contrá rio, o bem ou direito da massa que se desejar preservar, perecerá em detrimento dos interesses dos credores todos, inclusive os do próprio fisco. A eventual discordância da Fazenda Pública e suas autarquias, a tempo ma nifestada, será devidamente apreciada pelo Ministério Público e o juízo, que decidirá sobre a realização ou não da venda, sem prejuízo de que a entidade de direito público interessada tome as medidas legais cabíveis, se entender a decisão lesiva aos seus interesses. O art. 31, da Lei n.O 6.830/80, demanda exegeses cautelosas e harmonizadas com o interesse público primário (a aplicação eficaz da ordem jurídica) e com o interesse público secundário (o abastecimento dos cofres públicos), não sendo correto satisfazer este último em detrimento daquele, ainda mais dentro de um Estado que se diz de direito, que cria as normas em benefício geral, para satis fazer às necessidades sociais e a elas se submete, se curva diante da decisão de um Poder Judiciário autônomo, independente, pedra de toque para o bom funcionamento do Estado de direito, democrático. Se esse poder vacilar tudo pode vir a ruir, uma vez que os poderes por ele detidos lhe foram conferidos pelos próprios cidadãos, para proteger as suas liberdades, mesmo aquelas viola- 66 R.C.P. 3/81 das pelo próprio poder público: "Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido" (art. 1.0, § 1.0 da Constituição federal). Não se ignora a regra geral, por cujo respeito se deve pugnar, quando as cir cunstâncias do caso concreto o permitirem. A venda de bens na falência tem o seu momento próprio, o da realização do ativo, isto é, após a apresentação do segundo relatório do síndico (arts. 114 e 115 da Lei de Falências). Mas há que se atentar para o fato de que muitas vezes, entre os bens arreca dados, alguns são de facílima deterioração (gêneros alimentícios, por exemplo), ou de guarda dispendiosa (demandam a contratação de pagamento de vigias ou custódia por empresa especializada), de guarda desvantajosa (máquinas que paradas se inutilizam), importam, enfim, em risco ou pesados ônus e prejuízos vultosos para a massa, em detrimento dos credores todos, inclusive a Fazenda Pública. Por estas razões permite a lei falimentar (art. 73) que o síndico, me diante petição fundamentada, requeira a venda desses bens que, após a audiên cia do falido e do órgão do Ministério Público, poderão ter a sua venda auto rizada. O dispositivo legal é sábio e quem lida com a matéria não ignora a necessi dade de sua aplicação em diversos casos. Muitas vezes, não há como dar prosse guimento ao feito a não ser com a venda em pauta, porquanto, via de regra, não há sequer um centavo em caixa, a maioria dos síndicos são dativos e não dispõem de recursos para arcar com as constantes despesas do processo, mor mente em se tratando de serventuários da justiça, os liquidantes judiciais, que exercem o cargo e são remunerados com modestos vencimentos pagos pelos cofres públicos. A venda antecipada, autorizada com as cautelas de praxe, em nada prejudica os credores, pois o produto da alienação sempre é, por determinação judicial e legal, depositado em estabelecimento oficial de crédito, que assegura o paga mento de juros e correção monetária, providência que se insere dentro do espí rito da nova lei (art. 9.0 , n.O I, da Lei n.O 6.830/80). Aliás, o instituto é consagrado pela própria lei ora comentada em seu art. 21, que, portanto, reconhece a necessidade da sua aplicação em determinados casos. Quanto à venda em momento próprio, isto é, na fase de realização do ativo, não poderá a Fazenda discordar e nem condicionar a sua concordância à satis fação prévia do seu crédito (dívida ativa da Fazenda Pública tributária ou não tributária, na expressão usada pela nova lei), pois que, a satisfação prévia da Fazenda equivalerá à subversão da ordem dos créditos, com a postergação dos superprivilegiados credores acidentários e trabalhistas (art. 102 da Lei de Falên cias, 186 do Código Tributário Nacional e 449, § 1.0 da Consolidação das Leis do Trabalho, com a nova redação dada pela Lei n.O 6.449, de 14 de outubro de 1977). Antonio Nicacioll ao comentar esta norma sustenta que não se deve interpre tá-la literalmente, porquanto tal exegese levará à paralisação dos processos refe ridos; que se deve dar à regra uma interpretação que se coadune com a finalidade do processo e a sua dinamização; que o juiz, a quem incumbe movimentar o processo, não pode ficar à mercê da boa ou má-vontade dos representantes da Fazenda Pública, e nem impor às partes provas além do razoável; e que os 11 Nicacio, Antonio. A nova Lei de Execução Fiscal. São Paulo, Ed. LTr, 1981. p. 284. Processo falimentar 67 arts. 188 a 192 do Código Tributário Nacional disciplinam convenientemente a matéria, podendo servir de guia para o procedimento a ser adotado. Logo a seguir, acrescenta ser o preceito esdrúxulo, pois: "Numa interpretação literal, o juiz não poderia ordenar a alienação dos bens para pagar os credores da massa falida, ou habilitados no inventário, mas nada impede que, se houver numerário na massa ou espólio, se pague os mesmos credores com o dinheiro existente". "Necessário, destarte, através de interpretação consentânea com a atividade do falido ou falecido, ou a natureza do bem, verificar quais as provas impres cindíveis que deverão ser exigidas ou as fazendas que deverão ser intimadas. Tudo depende, portanto, da situação concreta que se apresentar, para se deter minar a prova exigível que deverá cingir-se à relacionada com a Fazenda dire tamente interessada. Se, por exemplo, se tratar de empresa comercial, o juiz, quando muito, deverá exigir a prova da quitação do estado, em razão de o im posto devido pela atividade exercida ser o ICM ou, no início do procedimento, determinar a intimação da Fazenda do estado para acompanhar o processo se quiser" (grifo nosso). A seguir, o mesmo autor faz alusão ao memorial dos advogadospaulistas encaminhado ao ministro da Justiça que pediu o veto do dispositivo com base na argumentação de que ele determinaria a paralisação dos feitos e que se refere, pela necessidade de apresentação da prova da quitação para com todas as fazendas (União, estado, município e suas autarquias) ou aguardar a concor dância da Fazenda, que costuma ser demoradíssima quando não acontece de nunca ser manifestada (DC I, de 20 de setembro de 1980). O estatuído no art. 31 da Lei n.O 6.830/80 se nos afigura ocioso já que a Fazenda não está sujeita a concurso nem à habilitação, dispondo do direito de pedir a reserva de bens para garantir o seu crédito, ou, segundo alguns, impropriamente, que se proceda à penhora no rosto dos autos da falência (art. 5.° e 29 da Lei n.O 6.830/80, 187 e 188 do Código Tributário Nacional). 8. A Lei n.O 6.830/80 e suas possíveis implicações na classificação dos créditos na falência - a preeminência dos créditos trabalhistas em relação aos tributários Em geral, todos os credores estão sujeitos ao juízo universal da falência, onde se submetem a um concurso. Porém, nem toda regra é absoluta e esta, como tantas outras, admite exceções legais. Ao declararem os seus créditos, devem os credores descrevê-los, comprová-los e esclarecer em que categoria se situam, quirografários ou privilegiados, bem como a espécie desse privilégio. Citando Carvalho de Mendonça, esclarece Rubens Requião: 12 "Assim, os cré ditos são habilitados na falência com todos os seus atributos, que a eles legiti mamente acrescerem e forem reconhecidos pela Lei de Falências. A falência, como escreveu Carvalho de Mendonça, modifica apenas o exercício dos direitos dos credores, mas não lhes retira, nem anula, nem altera sequer as garantias legais e convencionais",13 12 Requião, Rubens. Curso de direito falimentar. Saraiva, 1978, v. 1, p. 278. 13 Carvalho de Mendonça. Tratado, n.· 800, v. 3. 68 RC.P. 3/81 Considerando as garantias instituídas por lei e as legitimamente constituídas pela convenção das partes, a Lei de Falências classifica os créditos numa ordem de preferência, atenta ao que dispõe a respeito não só a Lei de Falências mas o Código Civil, sede principal da disciplina das preferências creditícias, que em seu art. 1.557 divide os títulos legais de preferência em privilégios e direitos reais. Hodiernamente, os créditos trabalhistas (decorrentes de acidentes de trabalho ou não) e a dívida ativa da Fazenda Pública, para usar a expressão legal mais recente, dispõem de privilégios, porquanto normas especiais autônomas poste riores na área financeira, tributária e trabalhista instituíram privilégios em favor de determinados créditos, situando-os em posição superior à estabelecida nas normas de direito privado, por exemplo, o art. 186 do Código Tributário Na cional de 1966, Lei complementar à Constituição, reconhece com absoluta cla reza a superpreferência dos créditos trabalhistas em relação aos fiscais, em que pese o disposto na recente lei, ora comentada, em seus arts. 4.°, n.o IV, 29, 30 e 31. Acresce que, privilégio é matéria de interpretação estrita e, para ilustrar, transcrevemos a seguir os seguintes acórdãos que apóiam a tese da interpretação estrita das normas que dispõem sobre privilégios: Habilitação de crédito retardatário - contribuições previdenciárias devidas ao lapas - inaplicabilidade do DL n.O 858, de 11 de setembro de 1969. Correção monetária devida até a data de declaração da falência, não até a do efetivo pagamento do débito, pois o disposto no Decreto-lei n.O 858, de 11 de setembro de 1969, deve aplicar-se estritamente aos créditos fiscais, assim não entendidas, para esse efeito, as contribuições a autarquias previdenciárias, já que privilégios hão de ser estritamente interpretados e aplicados no regime da falência, que é de ordem pública.H Crédito do INPS - habilitação na forma da lei falimentar - inteligência do art. 187 do Código Tributário Nacional. Se o Código Tributário Nacional dispensa do processo falimentar os créditos tributários (art. 187), não é menos certo que esse mesmo Código, em seu art. 186, admite a preferência dos créditos trabalhistas, na forma da legislação fali mentar. Entender literalmente a regra do art. 187 do CTN, de modo isolado seria possibilitar o não-pagamento dos créditos trabalhistas sempre preferen ciais, porque a Fazenda se cobraria, imediatamente, dos seus créditos, e, na falência, poderia nada restar para indenização aos trabalhadores. Portanto, impõe-se a adoção das regras da lei falimentar, para efetivo cumprimento das preferências reconhecidas no próprio invocado Cód. Tributário Nacional.Hi Por outro lado, a Emenda Constitucional n.O 1/69, em seu art. 9.°, n.o 1, com a nova redação dada pela Emenda Constitucional n.O 16/80, revogou o concurso de preferência entre as pessoas jurídicas de direito público interno, estabelecidas pelo Código Tributário Nacional, que data de 1966, fazendo com 14 Ac. uno 8." C.C. de 7.8.79 - Ap. Cív. n.o 8.801, Reg. 19.9.79, Relator Des. Paulo Pinto. In: Dl, 27.11.80, p. 80, Ementário n.O 39/80, n.O 27. 15 Ac. uno 3." C.C. de 8.6.78, Agr. de Instr. n.O 1.365, ReI. Des. RebeIlo Horta. In: Ementário n° 26/79, TJ-RJ, de 13.9.79, p. 55. Processo falimentar 69 que se conclua pela inconstitucionalidade da disposição legal semelhante contida na nova Lei de Execução Fiscal (art. 29, parágrafo único). Por força do estatuído na Lei Magna, as entidades de direito público retro mencionadas, isto é, as Fazendas Públicas (União, estados, Distrito Federal, municípios e respectivas autarquias), situam-se na mesma classe e grau de pre ferência, devendo haver entre elas rateio, proporcional ao valor dos respectivos créditos, se os recursos da massa, após satisfeitos os créditos trabalhistas, não bastarem para o pagamento integral de todas. E. que o estatuto supremo veda à União, aos estados, ao Distrito Federal, aos territórios e aos municípios cria rem preferências a favor de uma dessas pessoas de direito público interno contra outra. Em face do contido nos arts. 1.° e 2.° da nova Lei de Execuções Fiscais os créditos das autarquias, entre eles os do lapas, constituem dívidas ativas não tributárias da Fazenda Pública, desde que regularmente inscritos (arts. 1.°, 2.° da nova Lei de Execuções Fiscais, c/c o art. 39, § 2.° da Lei n.O 4.320/64). Situam-se eles assim como as demais contribuições parafiscais, mesmo em se tratando das contribuições para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, na mesma classe dos créditos da União, dos estados, do Distrito Federal e municí pios, concorrendo todos no mesmo pé de igualdade e pro rata, se os recursos forem insuficientes para pagar a todos. Assim, para sintetizar, em linhas gerais, assunto tão vasto e complexo, aten tos à objetividade do trabalho, classificaríamos os créditos na falência em face da nova Lei de Execuções Fiscais da seguinte forma: 1. Os créditos trabalhistas em geral, quer os resultantes de indenização por acidentes de trabalho, quer os dos salários e indenizações dos empregados (art. 102, caput, da Lei de Falências 186 do Código Tributário Nacional e 449, § 1.0 da Consolidação das Leis do Trabalho, com a nova redação da Lei n.O 6.449/77). 2. Os créditos por encargos da massa (art. 124, § 1.0 da Lei de Falência combinado com o 188 do Código Tributário Nacional), destacando-se entre eles a dívida ativa da Fazenda Pública (União, estados, municípios, Distrito Federal e respectivas autarquias) tributária ou não tributária vencida após a declaração da falência, isto é, devidos pela massa. 3. Os créditos por dívida da massa (art. 124, § 2.° da Lei de Falências). 4. A dívida ativa tributária e não-tributária da Fazenda Pública (União, es tados, municípios, Distrito Federal e respectivas autarquias) vencidas e inscritas antes da declaração da falência (arts. 1.0, 2.° da Lei n.O 6.830/80, 186 do Código Tributário Nacional e o art. 9.°, n.O 1, da Constituiçãofederal, com a redação dada pela Emenda Constitucional n.O 16/80), sendo certo que as entidades de direito público acima referidas se situam na mesma classe, sem preferência de umas sobre as outras, sujeitas a rateio, proporcional aos seus créditos, caso haja insuficiência de recursos. 5. Os créditos por direitos reais de garantia. 6. Os créditos com privilégio especial sobre determinados bens. 7. Os créditos com privilégio geral. 8. Os créditos quirografários. 9. Os créditos sub quirografários (inovação da Lei das Sociedades por Ações (Lei n.O 6.404, de 15 de dezembro de 1976, em seu art. 58, § 4.°). Note-se que situamos em classe superior os encargos da massa em relação aos créditos tributários, estes assim entendidos, conforme o acima exposto (veja 70 R.C,P. 3/81 os arts. 186 e 188 do Código Tributário Nacional, onde se nota com clareza a distinção a que aludimos). Para encerrar, transcrevemos um pequeno trecho do excelente artigo escrito pelo Procurador Fiscal Francisco Lacerda de Almeida, que sustenta a tese de que os encargos da massa preferem aos créditos tributários,16 que justifica a classificação adotada: "Finalmente, presume-se que o legislador não tenha estatuído disposições im possíveis ou inexeqüíveis. Assim, a própria lei falimentar edificou um sistema que se baseia na atuação de particulares remunerados (síndicos, peritos, avalia dores, depositários) e não isentou a massa de custas judiciais. O legislador optou, desde longa data, por uma construção privatística, não aceitando a esta tização do instituto falimentar. Não é possível que o Estado venha minar todo esse edifício, em seu próprio benefício, sem cogitar de transformá-lo e dar-lhe condições para que subsista, em proveito não só dos credores privados, mas principalmente da ordem pública". Bibliografia Almeida, Francisco Lacerda de. Preferência dos encargos da massa sobre os créditos trio butários. Ajuris. v. 18, p. 32-37. Baleeiro, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 4. ed., Forense, 1972. Beviláqua, Clovis. Teoria geral do direito civil. 4. ed. Ministério da Justiça. Serviço de Do cumentação, 1972. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado por Clovis Beviláqua. Francisco Alves, 1916. Corrêa, Roberto. A nova Lei de Execução Fiscal anotada. Saraiva, 1980. Fazenda Pública - Crédito fiscal - Falência. Rev. de Dir. Administrativo, v. 133, p. 132-5. Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 4. ed. Saraiva, 1973. Lopes Meirelles, Hely. Direito administrativo brasileiro. 4. ed. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1976. Lourenço, Evandro Ramos. Os créditos preferenciais e a sua classificação. Maluf, Sahid. Curso de direito constitucional. 5. ed. Sugestões Literárias, 1970. V. 2. Maximiliano, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 3. ed. Freitas Bastos, 1941. Miranda Valverde, Trajano de. Comentários à Lei de Falências. Forense, 1948. V. 1. Moraes, Maurício Azevedo. A cobrança do crédito tributário e a falência. Rev. da Consul toria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul, V. 7, p. 77-83. Nicacio, Antonio. A nova Lei de Execução Fiscal. São Paulo, Editora LTr, 1981. Notas pessoais do Seminário de alto nível sobre a nova Lei das Execuções Fiscais, promo vido pela Associação dos Juízes Federais do Brasil e pela Associação dos Procuradores da República, realizado no Ministério da Fazenda-RJ. Notas taquigráficas do Seminário sobre a nova Lei de Execuções Fiscais, promovido pelo Ministério da Previdência e Assistência Social/Mpas-Iapas/lnstituto de Administração Fi nanceira da Previdência e Assistência Social. Rio de Janeiro, 1980. Conferência proferida pelo Exmo. Sr. Dr. Juiz Federal Ney Magno Valadares, em 8.12.80. Parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional sobre a exegese e conteúdo do art. 2.· e de seu § 3.', da Lei de Execução Fiscal (Lei n.' 6.830/80). DOU, seção I, de 25 de maio de 1981. p. 9.526/35. Pontes de Miranda. Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda n.' 1, de 1969. 2. ed. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1973. Requião, Rubens. Curso de direito falimentar. 3. ed. Saraiva, 1978. V. 1. Sampaio de Lacerda, J. C. Manual de direito falimentar. 10. ed. Freitas Bastos. 16 Preferência dos encargos de massa sobre os créditos tributários, transcrito da Tribuna da Justiça, n.' 995. In: Ajuris. V. 18, p. 32-7. Processo falimentar 7] Serra Lopes, Miguel Maria. Comentários à Lei de Introdução ao Código Civil. 2. ed. Freitas Bastos, 1959. v. 1. Silva, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1976. v. 1. Silva Pacheco, José da. Comentários à nova Lei de Execução Fiscal. Saraiva, 1981. Teixeira Machado Jr., J. & Costa Reis, Heraldo da. A Lei n.O 4.320 comentada - Instituto Brasileiro de Administração Municipal, 14. ed., 1980. Tramitação legislativa da Lei n.O 6.830/80 no Congresso. Material fornecido pelo Prodasen da Biblioteca Nacional. 72 OS "COBRAS" DA ECONOMIA BRASILEIRA ESCREVEM NA REVISTA BRASILEIRA DE ECONOMIA. Há 30 anos surgia a Revista Brasilejra de Economia, editada pela Fundação Getulio Vargas E, desde então, a RBE vem acompanhando o desenvolvimento da nossa economia através do comentário autorizado dos grandes especialistas brasileiros da matéria. Fique por dentro da economia brasileira. Leia e assine RBE. R.C.P. 3/81