Buscar

Das implicações da Lei n 6 830, de 22 9 80, no processo falimentar a venda antecipada de bens e a classificação dos créditos

Prévia do material em texto

DAS IMPLICAÇOES DA LEI N.o 6.830, DE 22.9.80, NO 
PROCESSO FALIMENTAR: A VENDA ANTECIPADA DE 
BENS E A CLASSIFICAÇÃO DOS CReDITOS* 
ALMA RUBENS ALVIM DE CARVALHO** 
1. Antecedentes históricos da Lei n.' 6.830/80. 2. Críticas à 
lei; 3. Como interpretar a Lei n." 6.830/80; 4. Da consti­
tucionalidade duvidosa da lei; 5. A Lei n." 6.830/80 e a 
derrogação de leis especiais tais como: Código Tributário 
Nacional, a Consolidação das Leis do Trabalho e a Lei 
de Falências; 6. Alguns conceitos e disposições da Lei 
n." 6.830/80 e suas efetivas ou eventuais implicações na 
falência; 7. A nova lei e a venda antecipada de bens -
o art. 31 da Lei de Execuções Fiscais e o art. 73 da Lei de 
Falências; 8. A Lei n." 6.830/80 e suas possíveis implicações 
na classificação dos créditos na falência - a preeminência 
dos créditos trabalhistas em relação aos tributários. 
1. Antecedentes históricos da Lei n.O 6.830/80 
Antes da vigência da Lei n.O 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (CPC), o 
Decreto-lei n.O 960, de 17 de dezembro de 1938, como lei especial, disci­
plinava a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública (União, es­
tados, municípios, Distrito Federal e territórios) por ação executiva, em todo 
o território nacional (art. 1.0). 
No regime do Código de Processo Civil vigente, citado (art. 585, n.O VI), 
a execução fiscal seguia o mesmo procedimento adotado para a cobrança da 
letra de câmbio, da nota promissória, da duplicata, do cheque e outros títulos 
executivos extrajudiciais. 
Ocorre que o hipertrofiado Poder Executivo alegava necessitar de um pro­
cedimento próprio, especial, para efetivar a cobrança dos seus créditos, com 
maiores garantias e privilégios, de forma mais ágil e desburocratizada. A igual­
dade de tratamento estabelecida pelo CPC o descontentava e, até porque, deter­
minadas entidades financeiras dispunham de um rito de execução dotado de 
fase extrajudicial, muito mais eficaz, rápido e com privilégios que jamais foram 
concedidos ao crédito público (veja a exposição de motivos da lei ora sob 
exame, item 1). 
O Projeto de Lei n.O 14, de 1980-CN nasceu, conforme o item 9, da exposi­
ção de motivos que o acompanhou, do resultado de estudos levados a efeito 
por um grupo de trabalho constituído por uma Portaria Interministerial (n.o 
273, de 15.6.73), sob a presidência do então subprocurador-geral da República, 
o procurador da Fazenda Nacional, o procurador-geral da República e alguns 
* O presente trabalho, apresentado ao Curso de Direito Empresarial, promovido pelo 
Centro de Atividades Didáticas do Instituto de Direito Público e Ciência Política, em 1981, 
mereceu nota máxima e é publicado por decisão do Conselho Editorial da Revista de 
Ciência Política. 
** Da Curadoria de Massas Falidas (RJ). 
R. Cio poI., Rio de Janeiro, 24(3):54-72, set./dez. 1981 
procuradores da Fazenda Nacional, um deles com a atribuição de, na qualidade 
de secretário, "preparar a redação final do anteprojeto da lei das Execuções 
Fiscais, bem como estudar e propor outras medidas de interesse da cobrança 
judicial da dívida ativa da União e da defesa judicial da Fazenda Nacional, 
com vista ao melhor entrosamento das procuradorias da República e da Fazenda 
Nacional, em face das respectivas competências legais", participando, ainda, 
dos trabalhos o procurador representante do Instituto de Administração Finan­
ceira da Previdência e Assistência Social. 
As atividades do grupo só se iniciaram em 14.7.77 e foram encerradas um 
ano após, com a apresentação do texto proposto. 
A redação final, segundo a exposição de motivos, após apreciada pelo senhor 
procurador-geral da República, foi revista e parcialmente alterada em reuniões 
com o Procurador da Fazenda Nacional, Cid Heráclito de Queiroz, com a assis­
tência do Procurador Dr. Pedrylvio Francisco Guimarães Ferreira, resultando 
daí o projeto de lei encaminhado, nos termos do § 2.° do art. 51 da Constitui­
ção Federal, ao Congresso Nacional, para deliberação nos termos dos §§ 2.° 
e 3.° do mesmo preceito legal, onde, com algumas alterações, foi de afogadilho 
aprovado e transformado na Lei federal n.O 6.830/80, publicada no Diário 
Oficial da União de 24.9.80, para viger (art. 42) 90 dias após a sua publicação, 
isto é, 23.12.80. 
2. Críticas à lei 
Trata-se, em princípio, de uma lei que deveria ter caráter exclusivamente 
processual. Todavia, diversas de suas disposições são de natureza substantiva. 
A lei ordinária em apreço apanhou de surpresa os meios jurídicos nacionais 
em virtude das audaciosas inovações nela contidas, que geraram no espírito 
daqueles que se propunham interpretá-la inúmeras perplexidades. 
Algumas das suas normas parecem atropelar disposições contidas em leis 
especiais, tais como na Lei de Falências, na Consolidação das Leis do Trabalho, 
no Código Tributário Nacional (lei complementar) e, até mesmo, na Lei Magna, 
sendo oportuno observar que estes dois últimos diplomas legais se situam, em 
relação a ela, numa posição hierárquica superior. 
As críticas que se lhe fazem são severíssimas. 
Afirmam alguns conferencistas e doutrinadores abalizados que a lei em pauta 
é draconiana, ignora o estado de direito, dispõe com parcialidade, possui espírito 
exageradamente fiscalista, desrespeita o princípio da isonomia processual, viola 
direitos e garantias individuais. 
A sua Exposição de motivos explica que ela visou a uniformizar o tratamento 
da matéria, para facilitar a consulta, a orientação jurisprudencial e a própria 
aplicação da lei, a par de objetivar: a defesa do interesse da cobrança judicial 
da dívida ativa das Fazendas Nacional, estadual, municipal, Distrito Federal, 
municípios e respectivas autarquias; a agilização do processo judicial da cobrança 
dos créditos dessas entidades de direito público com a predominância do inte­
resse dessas mesmas entidades: " ... nenhum outro crédito deve ter em sua 
execução judicial preferência, garantia ou rito processual que supere o crédito 
público, à exceção de alguns créditos trabalhistas" - item 4 da Exposição de 
motivos - (grifo nosso); a adaptação às necessidades próprias da execução 
fiscal às normas especiais dos privilégios da Fazenda Pública de tradição secular 
(grifo nosso); a inovar, como, por exemplo, no que tange à adoção da citação 
Processo falimentar 55 
pelo correio, à produção facilitada de provas pela Fazenda Pública, efeitos da 
penhora, outras alternativas de garantia do Juízo, publicações resumidas apenas 
no Diário Oficial para a realização de leilões, reunião de execuções, entre outras 
novidades. 
Infelizmente, o projeto que lhe deu origem não mereceu a divulgação prévia 
exigida pela relevância da matéria, e, a sua passagem pelo Congresso foi tão 
breve, dado ao regime de urgência imposto, que pouco se pôde fazer para se 
lhe proceder a um estudo profundo, objetivando a proposição e a defesa de 
emendas e exclusão de alguns dos seus dispositivos. 
Por um breve espaço de 40 dias passou o projeto pelo Congresso Nacional 
para a sua apreciação em sessão conjunta, sob pena de aprovação por decurso 
de prazo (art. 51, §§ 2.° e 3.° da Constituição Federal). Assim, foi o projeto, 
com algumas alterações, aprovado, transformando-se na lei em tela que, boa 
ou má, aí está para ser aplicada. 
Conferências, reuniões, debates foram realizados em diversas partes do país, 
a fim de que os aplicadores e destinatários da lei sobre ela opinassem e se 
orientassem quanto à melhor exegese, escoimando dúvidas e perplexidades. 
Embora esta lei contenha dispositivos altamente criticáveis e até, conforme 
diria o celebrado Aliomar Baleeiro, de constitucionalidade duvidosa, esperamos 
que possam juízes e tribunais, através de uma interpretação sistemática, pru­
dente e cautelosa, extrair dela bons frutos. 
Há que se lhe perquirir a mens legis, se proceder à sua exegese com certa 
dose de eqüidade, à luz dos consagrados princípios da hermenêutica e acomo­
dar-se as suas disposições dentro do nosso sistema jurídico. 
Muitos dos seus artigos nãoconstituem novidade, repetindo, às vezes com 
pequenas alterações, normas contidas em diplomas legais anteriores, tais como 
no Decreto-Iei n.O 960/38 e, principalmente, no Código Tributário Nacional, 
como por exemplo as disposições relativas à responsabilidade, à solidariedade 
do síndico, do comissário e os privilégios da Fazenda, entre outros. 
3. Como interpretar a Lei n.O 6.830/80: 
o projeto da lei sob exame, como pudemos notar no tópico da história da 
lei, permaneceu no Executivo, nada mais, nada menos, que quatro anos em 
fase de estudos, ou seja, de julho de 1976 até 23.6.80, quando foi enviado 
ao Congresso Nacional para ser examinado e votado nos termos dos §§ 2.° 
e 3.° do art. 51, da Constituição Federal, em regime de urgência, ou seja, em 
apenas 40 dias, sob pena de aprovação por decurso de prazo. 
A lei dele originada, como dissemos, apanhou de surpresa não só o Legis­
lativo, bem como as entidades de classe interessadas, que pouco tempo tiveram 
para analisá-lo em profundidade, apresentar sugestões e pugnar por emendas 
a exclusão de diversos dispositivos, segundo alguns, draconianos, inconstitu­
cionais, pois lesivos aos direitos e garantias individuais. 
O Congresso, por sua vez, igualmente, em face da exigüidade do prazo de 
urgência imposto pelo Executivo, no uso da faculdade ou poder discricionário, 
contidos na citada norma constitucional, não pôde se deter no exame de um 
diploma legal que da espécie merecia. 
Nesse passo, poucas alterações o projeto sofreu, e a lei que dele se originou 
contém perigosos dispositivos, os quais demandam do exegeta muita cautela 
e profunda meditação, a fim de que, através de uma interpretação sistemática, 
56 R.C.P.3/81 
equamme, harmonizada com as normas, os princípios e os institutos vigentes 
no nosso ordenamento jurídico, extraía de cada um dos seus dispositivos a 
mens legis. Da eqüidade, repitamos, deverá muitas vezes o aplicador lançar 
mão, a fim de que predomine a finalidade da lei sobre a sua letra, preferindo-se 
a interpretação mais benigna, humana na adaptação da norma às circunstâncias 
singulares do caso concreto. "Muitas vezes sucede que a generalidade com que 
foi concebida a norma impede a sua correta aplicação às circunstâncias do 
caso concreto; na interpretação das lacunas da norma, Ex aequo et bano", 
" ... ou mesmo para amortecer essa norma, se nas circunstâncias específicas 
ou inéditas conduzir ao iníquo ou ao absurdo, uns e outros considerados dentro 
do sistema geral do direito e da consciência jurídica contemporânea em nosso 
país ou nosso tipo de estrutura econômica, política, social e institucional".1 
Fora desses parâmetros, numa exegese precipitada, puramente literal e iso­
lada dos dispositivos da Lei n.O 6.830/80, caminharão juristas, advogados, juízes 
e tribunais para soluções práticas absurdas. 
Portanto, diante dos casos concretos, devemos aplicar esta lei com a máxima 
prudência, tendo sempre em mente o estatuído nos arts. 5.° e 2.°, § 2.° da Lei 
de Introdução ao Código Civil, imbuídos todos aqueles que disponham de 
competência para tanto da coragem para negar aplicação a determinados dispo­
sitivos dela constantes que entram em conflito com a Lei Magna. 
Consideramos úteis para a sua correta aplicação os seguintes princípios de 
hermenêutica: 
- em regra é estrita a interpretação das leis excepcionais, das fiscais e das 
punitivas; 
- não se presume que a lei geral revogue a especial. B mister que o intuito 
decorra claramente do contexto; 
- a incompatibilidade de uma norma com outra não se presume. Na dúvida 
se considerará uma norma conciliável com outra. A incompatibilidade há que 
ser provada com argumentos sólidos. 
- usa-se exegese rigorosa, quando o texto entendido nos termos latos em 
que foi redigido, contraria outro preceito de lei.2 
"Todos os povos querem que a justiça presida as relações humanas, inclusive 
aquelas entre o fisco e o contribuinte".3 E mais adiante, acrescenta o mesmo 
autor: "Os julgadores fazem profissão de fé da famosa advertência de D'Argen­
tré - 'Juiz segundo a lei, e não juiz da lei'. Mas em todos os tribunais, inclu­
sive no nosso Supremo Tribunal Federal, resplandecem arestos em que seus 
mais prestigiosos membros reconheceram que em certas situações especialíssi­
mas experimentaram a necessidade invencível de imprimir extrema dutilidade 
ao texto, vergando-o às circunstâncias do tempo ou das peculiaridades raras 
do caso concreto, arisco à generalidade da norma". 
4. Da constitucionalidade duvidosa da lei 
Antonio Nicaci04 sustenta consubstanciar-se o projeto que deu origem à Lei 
n.O 6.830/80 em um projeto de codificação, pois que, além de codificar os 
I Baleeiro, Aliomar. Direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro, Forense, 1973. p. 390. 
2 In: Maximiliano, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 3. ed. Freitas Bastos, lQ41. 
3 Baleeiro, Aliomar. Op. cit. p. 390. 
4 Nicacio, Antonio. A nova lei das execuções fiscais. São Paulo, ed. LTr. p. 173-6. 
Processo falimentar 57 
preceitos relativos à cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública (veja 
itens 12/14 da Exposição de motivos) o projeto vinha alterar determinados 
dispositivos do CPC, no tocante à execução fiscal, disciplinada por esse estatuto, 
como ainda por outros do Código Tributário Nacional, e, como tal, não poderia 
sofrer a tramitação prevista nos §§ 2.° e 3.° do art. 51 da Constituição Federal 
e sim obedecer ao disposto no § 6.° do mesmo dispositivo da Lei Suprema. 
Conclui, assim, pela manifesta inconstitucionalidade formal da lei no seu todo. 
Sustenta, ainda, esta tese afirmando que o indigitado preceito constitucional, 
corporificado no § 2.° do art. 51 da Constituição federal, encerra uma faculdade 
discricionária do presidente da República, mas que discrição não significa abuso, 
negação do próprio direito. E mais, que o presidente da República in casu 
não é o único árbitro da questão, não lhe sendo lícito, sem ferir o preceito 
constitucional, obrigar o Congresso Nacional a apreciar tão relevante diploma 
legal no exíguo prazo de 40 dias. 
A questão levantada se nos afigura interessante e tem um bom suporte legal, 
fático e doutrinário. É certo que, no praticar o ato discricionário a autoridade 
administrativa é livre quanto à escolha dos motivos (oportunidade e conveniên­
cia) e do objeto (conteúdo). No entanto, Hely Lopes Meirelles5 salienta que 
"o ato discricionário não se confunde com o ato arbitrário. Discrição é liber­
dade de ação dentro dos limites legais; arbítrio é ação contrária ou excedente 
da lei." ... "Ato discricionário, portanto, quando permitido pelo direito, é 
legal e válido; ato arbitrário é sempre e sempre ilegítimo e inválido" ... "A 
atividade do administrador público - vinculada ou discricionária - há de 
estar sempre dirigida para o fim legal, que em última análise colima o bem 
comum". 
No entender de Fiorini, citado pelo celebrado administrativista brasileiro, "a 
discricionariedade adquire relevância jurídica quando a administração quer 
custodiar em forma justa os interesses públicos entregues à sua tutela". 
Salienta, ainda, Antonio Nicaci06 que "naquilo em que a lei pretende modi­
ficar normas gerais de direito tributário, constantes do Código Tributário Na­
cional, será também inconstitucional, se, através de interpretação sistemática, 
não se puder conciliar seus dispositivos com os do Código Tributário Nacional, 
pois este, como reconhecido pela doutrina e jurisprudência, constitui lei comple­
mentar, que não pode ser alterada por simples lei ordinária." E, adiante, acres­
centa: "aliás, também o Poder Executivo federal, como ainda o Congresso Na­
cional, já reconheceram que o Código Tributário Nacional só pode ser modifi· 
cado por lei complementar, como se evidencia da tramitação legislativa e pro­
mulgação das Leis Complementares n.OS 4, de 2 de dezembro de 1969, e 24, 
de 7 de janeiro de 1975 (arts. 13 e 14)." 
Comungamos com a opinião do autor, embora entendamos que dificilmente 
se conseguirá a declaraçãoda inconstitucionalidade total desta lei e conseqüente 
suspensão da sua execução in totum. 
Temos fé em que o Poder Judiciário no livre e independente exercício de 
sua atividade, quando da prestação jurisdicional em cada caso concreto, saiba 
aplicar a lei, restringindo-a onde ela exorbitou e, até mesmo, negando aplicação 
àqueles dispositivos que ferem a Lei Maior, principalmente os que atingem os 
direitos e garantias individuais dos cidadãos (art. 153 da Constituição Federal). 
5 Lopes MeirelIes. Hely. Direito administrativo brasileiro. 4. ed. p. 137 e segs. 
6 Nicacio, Antonio. Op. cito 
58 R.C.P.3/81 
No que tange à aludida codificação do Processo Tributário, é oportuno lem­
brar que, realmente, conforme lembra Aliomar Baleeiro,7 "o Governo revolu­
cionário de 1964 tentou a codificação do direito processual tributário, come­
tendo-o a um financista competente, Gilberto Ulhôa Canto, que publicou o 
Anteprojeto do Código Processual Tributário (FGV, 1964)". Mas ao que parece 
esse trabalho não foi aproveitado ... 
Pontes de Miranda8 observa: "Tramitação de códigos - o prurido legisfe­
rente dos últimos anos da história do Brasil chegou à absurdeza de se querer 
a feitura de códigos dentro de prazo. Não seria de admirar que tal ocorresse 
em ditadura que impôs prazo para se fazer a Constituição. O art. 51, § 6.°, 
foi acertado para que não se quebrasse a tradição jurídica do Brasil com vota­
ções apressadas de textos medíocres e revela dores, por vezes, de falta de cultura 
jurídica" . 
5. A Lei n.O 6.830/80 e a derrogação de leis especrars tais como: Código 
Tributário Nacional, a Consolidação das Leis do Trabalho e a Lei de 
Falências 
~ fora de dúvida que a Lei n.O 6.830/80 não pode derrogar qualquer dispo­
sição do Código Tributário Nacional, uma vez que este último diploma legal, 
como lei complementar à Constituição que é, está situado em posição hierarqui­
camente superior àquela lei ordinária (art. 46 da Constituição Federal). 
Da mesma forma, não tem ela força revogatória contra a Consolidação das 
Leis do Trabalho, particularmente no que concerne ao art. 449, § 1.0, com 
a nova redação dada pela Lei n.O 6.449, de 14 de outubro de 1977, que dispõe: 
"Na falência constituirão créditos privilegiados a totalidade dos salários devidos 
ao empregado e a totalidade das indenizações a que tiver direito." 
Carece a lei em pauta, outrossim, de poderes revogatórios das disposições 
contidas na Lei de Falências, lei específica que protege o superprivilégio de tais 
créditos, porquanto não pode a lei ordinária e geral derrogar aquelas normas 
especiais em face do disposto no § 2.°, do art. 2.°, da Lei de Introdução ao 
Código Civil. 
Os dispositivos destas leis coexistem pacificamente, porquanto a antinomia 
entre as normas das leis em pauta e os da nova Lei de Execuções Fiscais não 
resta patenteada por argumentos irretorquíveis. 
Segundo De Ruggiero,9 citado por Serpa Lopes: " ... se a norma especial der­
roga sempre a geral e se a norma geral jamais derroga a especial, é para ele 
matéria de interpretação". 
Preleciona Carlos Maximiliano:10 "Se existe antinomia entre a regra geral 
e a peculiar, específica, esta, no caso particular, tem supremacia." " ... Prefe­
rem-se as disposições que se relacionam mais direta e especialmente com o 
assunto de que se trata"; e cita Papiniano, apud Digesto: "Em toda a disposição 
7 Baleeiro, Aliomar. Op. cito p. 558. 
B Pontes de Miranda. Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda n.O 1/67. RJ, 
1973. t. 3, p. 157. 
9 ~e Ruggiero. Apud Serpa Lopes. Lei de introdução ao Código Civil. 2. ed. Freitas Bastos, 
1969. v. 1. 
10 Maximiliano, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 3. ed. Freitas Bastos, 1941. 
p. 168-170. 
Processo falimentar 59 
de direito, o gênero é derrogado pela espeCle, e considera-se de importância 
preponderante o que respeita diretamente à espécie;" " ... se uma disposição 
é secundária ou acessória e incompatível com a principal, prevalece a última." 
6. Alguns conceitos e disposições da Lei n.O 6.830/80 e suas efetivas ou 
eventuais implicações na falência 
Consoante o art. 1.0, a execução judicial (forçada) da dívida ativa da União, 
dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e respectivas autarquias reger­
se-á pela lei em tela e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil. 
Dívida ativa: expressão que compreende a dívida ativa tributária e a dívida 
ativa não-tributária (art. 2.°). 
Dívida ativa tributária: conceitua-se como o crédito da Fazenda Pública pro­
veniente de obrigação legal, relativa a tributos e respectivos adicionais e multas, 
inscrito como tal no registro próprio. 
Dívida ativa não-tributária: que se consubstancia nos demais créditos da Fa­
zenda Pública, provenientes de obrigação legal ou contratual (por exemplo, um 
contrato não cumprido com qualquer das entidades de direito público antes 
referidas pode se transformar em uma dívida ativa não tributária da Fazenda 
Pública). 
O art. 2.° faz remissão à lei que disciplina os orçamentos e balanços da União, 
estados, municípios e do Distrito Federal (Lei n.O 4.320/64), que em seu art. 
39 ajuda a elaborar os conceitos acima lançados e que foram extraídos, com 
algumas alterações, do parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, pu­
blicado no Diário Oficial da União, seção I, de 25 de maio de 1981, p. 9.526-35. 
Qualquer valor atribuído por lei àquelas entidades será considerado dívida 
ativa da Fazenda Pública (§ 1.0 do art. 2.°). 
Tanto a dívida ativa tributária como a não-tributária compreendem a corre­
ção monetária, os juros, multa da mora e demais encargos, previstos em lei 
ou contrato (art. 2.°, § 2.°). 
No que tange à falência, é oportuno destacar que a nova norma geral em 
pauta tem de ser interpretada em consonância com as disposições especiais 
contidas na Lei Falimentar e no Decreto-lei n.O 858/69. 
A disposição legal nova (posterior) se conjuga e convive, harmonicamente, 
com as preexistentes (art. 2.°, § 2.° da Lei de Introdução ao Código Civil). 
A correção monetária, os juros e a multa são, em princípio, computados nor­
malmente até a data da declaração da falência. Após, deve-se atender para o 
fato de que: 
a) a contagem da correção monetária (na expressão da nova lei, atualização 
monetária) dos débitos fiscais do falido fica suspensa por um ano, a partir da 
data da declaração da falência. Se tais débitos não forem pagos até 30 dias 
após o término daquele prazo, recomeçará a ser contada, retroagindo a contagem 
ao período em que ficou suspensa (art. 1.°, § 1.° do Decreto-lei n.O 858, de 
11 de setembro de 1969); 
b) os juros, consoante o disposto no art. 26 da Lei de Falências, não correm 
contra a massa, ainda que estipulados, se o ativo apurado não bastar j)ara o 
pagamento do principal; 
c) a multa, quer da mora, quer a proveniente de leis penais ou administrativas, 
não é cobrável da massa (art. 23, n.O IH, da Lei de Falências e as Súmulas 
n.OS 191 e 192 do Supremo Tribunal Federal); 
60 R.C.P. 3/81 
d) os encargos podem estar previstos na lei ou no contrato e, dependendo da 
natureza deles, não poderão ser cobrados da massa. 
A inscrição da dívida ativa consiste no ato administrativo vinculado, pelo qual 
o órgão competente faz o assentamento do débito para com a Fazenda Pública, 
após vencido o prazo concedido para o seu pagamento, e apura a liquidez e 
certeza do crédito, suspendendo, outrossim, a prescrição por 180 dias, até a 
distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo o aludido prazo 
de suspensão. 
O termo de inscrição é o instrumento visado pela autoridade competente, pelo 
qual se faz o registro do débito para com a Fazenda Pública e deverá conter 
os elementos especificados no § 2.° do art. 2.°. 
A certidão da dívida ativa nada mais é do que um título executivo extraju­
dicial, visado pela autoridade competente, representativo do crédito da Fazenda 
Pública, inscrito, extraído à vista do respectivo termo de inscrição e deverá 
conter os mesmos elementosdeste último (§ 6.° do art. 2.°). 
O § 9.° do art. 2.° consagra a prescrição trintenária das contribuições previ­
denciárias (art. 144 da Lei n.O 3.807/60, que corresponde ao art. 221 da Con­
solidação das Leis da Previdência Social), o que é contestado por alguns juristas 
de renome que vêem nelas a natureza jurídica de tributo e, como tal, com 
o prazo de prescrição disciplinado pelo Código Tributário Nacional (art. 173). 
A dívida regularmente inscrita goza de presunção (juris tantum) de certeza 
e liquidez (art. 3.° e parágrafo único). 
Cabe execução contra a massa falida (art. 4.°, n.O IV e 29), excluído o juízo 
universal da falência para este efeito (art. 5.°). 
A Fazenda não está sujeita ao concurso de credores ou à habilitação na falên­
cia (art. 29 da Lei n.O 6.830/80 e 187 do Código Tributário Nacional). 
Responde pela dívida a totalidade dos bens da massa, inclusive os gravados 
com cláusula de inalienabilidade e impenhorabilidade, ressalvados os privilégios 
especiais sobre determinados bens (por exemplo, os decorrentes de um contrato 
de alienação fiduciária em garantia) - art. 30 da Lei n.O 6.830/80 e 184 do 
Código Tributário Nacional). 
A hipótese de execução contra a massa falida não constitui novidade e já 
fazia parte do sistema jurídico anterior (Decreto-Iei n.O 960/38 no art. 4.0
, n.O 
IH, art. 187 do Código Tributário Nacional e Decreto-lei n.O 858/69 no seu 
art. 2.0
). 
Porém, essa execução se há de fazer à luz da Súmula 44 do Tribunal Federal 
de Recursos e julgados do Supremo Tribunal Federal. 
Diz a Súmula 44 do Tribunal Federal de Recursos: "Ajuizada a execução 
fiscal anteriormente à falência, com penhora realizada antes desta não ficam 
os bens penhorados sujeitos à arrecadação no juízo falimentar; proposta a 
execução contra a massa falida a penhora far-se-á no rosto dos autos do processo 
da quebra, citando-se o síndico." 
Portanto, antes da declaração da falência a penhora é real e filhada (Tribunal 
Federal de Recursos e Supremo Tribunal Federal). Depois dela, no rosto dos 
autos. 
A penhora no rosto dos autos é criticada por alguns juristas que entendem 
ser incabível na falência, quando se trata de dívida do próprio falido. 
Sob o ponto de vista rigorosamente técnico a penhora no rosto dos autos 
só se faz quando o executado discute em juízo direitos que poderão ser even­
tualmente conquistados por ele. 
Processo falimentar 61 
Na falência só caberia a penhora no rosto dos autos de crédito que o exe­
cutado tivesse na falência. 
Porém, como se disse alhures, a súmula consagrou a penhora no rosto dos 
autos da falência, levada a efeito pela Fazenda Pública. 
A penhora real e filhada é impossível, porquanto os bens da massa constituem 
uma universalidade (art. 54, n.O 11, do Código Civil), tendo a natureza coletiva. 
Para se efetivar a penhora real contra a massa ter-se-ia que realizá-la em rela­
ção a todos os seus bens, o que poderia importar em excesso de penhora e, 
o que é pior, na efetiva postergação dos superprivilegiados créditos trabalhistas. 
A solução que tem sido adotada na prática por juízes e procuradores é o 
pedido de reserva de crédito. 
O art. 4.°, § 1.° deixa claro que o síndico responderá, solidariamente, se 
efetivar a venda de bens sem a prova da quitação fiscal ou a concordância da 
Fazenda Pública (art. 31), sendo que o § 2.°, do art. 4.°, admite que o síndico, 
entre outros responsáveis pela administração de bens alheios, alegue o benefício 
de ordem. 
Tal solidariedade, como já afirmamos, já existia no direito anterior (art. 134, 
n.O V, do Código Tributário Nacional), pelos tributos devidos pela massa. 
Quanto à interpretação do art. 31 da Lei n.O 6.830/80, faremos comentários 
em item à parte que trata da venda antecipada de bens na falência. 
O § 2.°, do art. 4.°, coloca a responsabilidade nos termos até então vigentes 
e que o projeto pretendeu alterar, ampliando-a, conforme se observa pela leitura 
do § 2.°, do art. 4.°, do anteprojeto, que dizia: "Respondem, pessoal e subsi­
diariamente, até o total das dívidas das pessoas jurídicas de direito privado, 
independentemente de dolo ou culpa, os sócios, diretores, gerentes, adminis­
tradores ou representante". 
Outra disposição que nos afigura digna de menção, em se tratando de falência, 
é a contida no art. 4.°, § 4.°, que, em síntese, proclama que as dívidas ativas 
da Fazenda Pública de natureza não tributária (por exemplo, as provenientes 
de um contrato não cumprido com qualquer das mencionadas pessoas jurídicas 
de direito público) gozam da preferência inserída no art. 186 do Código Tribu­
tário Nacional e dos benefícios contidos no art. 188 do mesmo diploma legal 
que, também, se lhes aplica. 
O art. 21 reconhece a necessidade da venda antecipada dos bens penhorados 
na execução, quando se tratar de bens sujeitos à deterioração, guarda difícil, 
onerosa ou prejudicial, devendo o produto ser depositado em estabelecimento 
oficial de crédito que assegure a atualização monetária (art. 9.°, n.O 1). 
O art. 24 permite à exeqüente adjudicar os bens penhorados antes e após 
o leilão. 
Entendo que o artigo em tela não é aplicável às falências, até porque a adju­
dicação pressupõe a penhora real e filhada realizada contra a massa, o que, 
conforme demonstramos neste trabalho, não é possível. 
O art. 29, caput, reproduz o art. 187, caput, do Código Tributário Nacional, 
substituindo, apenas, a expressão crédito tributário por dívida ativa da Fazenda 
Pública. 
Quanto ao parágrafo único do art. 29, reservamo-nos para comentá-lo no 
item adiante (da classificação dos créditos). 
O art. 30 é considerado dispositivo perigoso para muitos, embora seja repro­
dução quase fiel do art. 184 do Código Tributário Nacional, tendo, também, 
apenas substituído a expressão crédito tributário por dívida ativa da Fazenda 
Pública. Tal dispositivo parece esbarrar com o art. 153 da Constituição Federal. 
62 R.C.P. 3/81 
o art. 37 determina a responsabilidade civil, penal e administrativa .90 auxi­
liar de justiça, tais como, a do escrivão, do oficial de justiça, depositário e admi­
nistradores, que prejudicar a execução (veja art. 139 do Código de Processo 
Civil). 
7. A nova lei e a venda antecipada de bens - o art. 31 da Lei de Execuções 
Fiscais e o art. 73 da Lei de Falências 
Estatui o art. 31 da Lei n.O 6.830/80, in verbis: "Nos processos de falência, 
concordata, liquidação, inventário, arrolamento ou concurso de credores, nenhu­
ma alienação será judicialmente autorizada sem a prova de quitação da dívida 
ativa ou a concordância da Fazenda Pública". --
O dispositivo em tela está vazado em termos incisivos e se literalmente inter­
pretado dará origem a perplexidades e levará o aplicador da lei a dar aos casos 
concretos soluções absurdas, mormente em se tratando de venda antecipada de 
bens dentro da falência, muitas vezes imprescindível para se evitar a perda de 
um bem altamente perecível, riscos para a massa na guarda difícil ou onerosa 
de certos bens, a rescisão e a perda do correspondente valor de um contrato 
comercial de locação ou de uma promessa de compra e venda com saldo venci­
do, sobre o qual pende, às vezes, ação de rescisão contratual. Aquelas aliena­
ções podem até trazer enormes vantagens para a massa. 
Em muitos casos, se esta venda não for efetivada, a coisa ou o direito pere­
cerá, com irremediáveis prejuízos para a coletividade dos credores, entre eles 
a própria Fazenda Pública e suas respectivas autarquias. 
A norma é justificada pelo item n.O 86 da Exposição de Motivos, devendo-se 
notar que no projeto este artigo correspondia ao 32: "Os processos de falência, 
concordata, liquidação, inventário, arrolamento e concurso de credores ensejam 
oportunidades a que se pratiquem atos com reflexos prejudiciais ao crédito da 
Fazenda Pública. O art. 32 procura prevenir tais situações, seja pela prova da 
quitação da dívida ativa, seja pela concordância da Fazenda Pública." 
Nenhuma emenda, infelizmente, foi proposta para este dispositivo.Evidencia-se, pela leitura do item 86 da exposição de motivos transcrita, que 
o legislador redigiu mal a norma. As verba legis não refletem a intenção do 
legislador e nem fornecem à Fazenda, como era do seu desejo, a garantia do 
crédito tributário (diYida a1iva dª_.f~zenda P®lica). Há um completo descom­
passo entre o que pretendia dizer o legislador e o que efetivamente disse. 
Com a disposição em pauta, o legislador traiu os objetivos da lei que visa 
à agilização e à desburocratização da justiça, a par da proteção do crédito 
tributário. 
Se o artigo em exame for interpretado literalmente, produzirá efeitos justa­
mente opostos ao pretendido não só pelo legislador, mas também pelo espírito 
da lei, alcançado através de análise do conjunto das normas que a compõem 
como um sistema, porquanto: 
a) paralisará, em geral, os processos falimentares por falta de verba, não sendo 
correto afirmar-se que poder-se-á transformá-los todos em falências frustradas 
(art. 75 da Lei de Falências), pois, se há bens a serem alienados e suficientes 
para as despesas do processo, não há por que se proceder dentro daquele rito; 
b) significará praticamente a morte do instituto de falência, sem que outro 
tenha sido criado pela lei para substituí-lo com vantagens, como o instituto da 
recuperação econômica da empresa, preconizado pelo insigne mestre José Wash-
Processo falimentar 63 
ington Coelho (autor de excelentes monografias sobre a Lei das Sociedades 
Anônimas e o Código Tributário Nacional) em aulas por ele ministradas na 
Fundação Getulio Vargas e em bem lançado artigo intitulado: A falência e a 
morte - a recuperação e a vida; 
c) o preceito é altamente burocratizante. Tomará o processo falimentar mais 
moroso, contra os objetivos da lei e os princípios consagrados nos arts. 203 
e 208 da Lei de Falências. 
Obedecendo-se estritamente à letra da lei, ou a falida apresenta as certidões 
de quitação fiscal, aliás, demoradíssimas, relativamente a todos os tributos e 
contribuições exigíveis pela atividade do falido, já que as certidões imaculadas 
fornecidas pelos competentes distribuidores serão insuficientes, porquanto pode 
haver débito inscrito na via administrativa ainda não ajuizado, ou se sujeita 
à aleatória e demorada concordância da Fazenda Pública que, diga-se de passa­
gem, não poderá discordar se o pedido de venda antecipada estiver devidamente 
fundamentado, com a prova da fácil deterioração, da guarda dispendiosa e de 
cuja alienação resultarão vantagens óbvias para a massa. Igualmente, não poderá 
condicionar a sua concordância ao pagamento do seu crédito, já que, conforme 
afirmamos, não pode ela absorver os recursos da massa na satisfação dos seus 
créditos em detrimento dos preeminentes créditos acidentários e trabalhistas; 
d) poderá ocasionar a perda de bens altamente perecíveis, como, por exemplo, 
gêneros alimentícios, quando a falida se dedicar à produção ou à venda de 
tais bens; 
e) determinará a eventual rescisão de importantíssimos e valiosos contratos do 
falido, com a conseqüente fuga de recursos da massa; contratos esses tais como 
de locação comercial, de promessa de compra e venda com saldo devedor em 
atraso etc.; 
f) reduzirá, ainda mais, a possibilidade de a Fazenda Pública receber o seu cré­
dito, já que normalmente a falida está insolvente e não dispõe de dinheiro em 
caixa para dar prosseguimento ao feito e, muito menos, para pagar os vultosos 
débitos fiscais, nessa altura já acrescidos de juros da mora, multa e correção 
monetária. E, note-se: mesmo que houvesse numerário disponível não seria 
admissível, em face do sistema jurídico vigente, saldar os débitos fiscais antes 
dos superprivilegiados credores trabalhistas (art. 186 do Código Tributário Na­
cional e 449 da Consolidação das Leis do Trabalho, com a nova redação dada 
pela Lei n.O 6.449, de 14 de outubro de 1977). 
De que adiantaria a arrecadação de tributos e contribuições parafiscais se 
não se satisfizesse a elementar necessidade de o homem sobreviver? Profunda­
mente desumana seria a interpretação da norma no sentido de se colocar na 
frente a Fazenda Pública em detrimento dos créditos de conteúdo social. A res­
peito, transcrevemos interessante acórdão: 
"Crédito trabalhista - preferência ao crédito previdenciário - uniformização 
de jurisprudência - conhecimento do incidente. 
Ocorrendo di;'ergência entre julgados e julgadores, a 'qualquer' destes 'com­
pete' 'solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação 
do direito'. 
Crédito trabalhista, originário do direito ao próprio salário, constitui-se por 
sua natureza alimentar em direito preferencial e sagrado, impossível e desca­
bido, portanto, dar-se preferência ao INPS, negando o salário ao empregando, 
matando-o de fome a fim de que o instituto tenha dinheiro para custear o seu 
entufo 
64 R.C.P. 3/81 
(TJSP-Pleno: UJ em Ap. Cível n.O 279.944-SP; reI. Des. Afonso André; j. 
03-09-80; v.u.) 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos ... 
Acordam, em sessão plenária do Tribunal de Justiça de São Paulo, por unani­
midade de votos, conhecer do incidente e, no mérito, por maioria de votos, a 
afirmar a tese da preferência do crédito, sobre o pedido de restituição do INPS. 
Conhecem do incidente, sem embargo da preliminar da douta Procuradoria 
Geral da Justiça, porque também a divergência entre juízes do órgão suscitante 
autoriza o incidente de uniformização de jurisprudência, consoante art. 476, 
inciso I, do Código de Processo Civil, que assim tem sido interpretado pelo 
tribunal. Havendo divergência entre julgados ou julgadores 'a qualquer' destes 
'compete' 'solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpreta­
ção do direito'. 
Quanto ao mérito, afirmam a tese da preferência do crédito do trabalhador 
sobre o pedido de restituição do INPS, pelas razões do relator constantes do 
acórdão suscitante de fls. 92-6, e que estão escorreitamente calcados na legisla­
ção em vigor. 
Des. Carvalho Filho - Presidente 
Des. Afonso André - Relator 
Declaração de voto vencedor 
Meu voto foi idêntico ao da douta maioria, no reconhecimento da preferência 
do crédito do trabalhador, em relação ao pedido de restituição, formulado 
pelo INPS. 
Ponderei que o crédito trabalhista é resultante do direito ao próprio salário, 
direito preferencial e sagrado, por ter natureza alimentar. Aliás, é princípio de 
sabedoria consagrada que ao trabalhador pagar-se-á sem demora o preço de 
seu trabalho, porque ele é pobre, e sua vida depende de seu salário (Deutero­
nômio, 24.15). 
Impossível, portanto, seria dar-se preferência ao instituto, negando o salário 
ao operário, matando-o de fome, a fim de que o Instituto tenha dinheiro para 
custear o seu enterro. 
Desembargador Adriano Marrey." 
"Nota: Depreende-se da orientação prolatada pelo Tribunal de Justiça de São 
Paulo, em sessão plenária, quando afirma a tese da preferência do crédito do 
trabalhador sobre o pedido de restituição do INPS, a consagração da predomi­
nância do social sobre o econômico, demonstração do alto espírito de justiça 
que norteia esse egrégio tribunal. - IRS." 
Não se diga que a malsinada disposição legal revogou as normas acima cita­
das, porquanto: 
a) trata-se de lei ordinária que não dispõe de força para derrogar disposição 
de lei complementar à Constituição, consoante construção doutrinária e preto­
riana dominante, situada em posição hierarquicamente superior (art. 46, da 
Constituição federal); 
b) o art. 31 da nova Lei de Execuções Fiscais, consubstancia-se em norma nova 
de natureza geral que não pode revogar disposição especial anterior (art. 73 
da Lei de Falências c/c o art. 2.°, § 2.°, da Lei de Introdução ao Código Civil). 
Na prática, juízes e tribunais já têm decidido sobre a matéria, interpretando 
a norma corretamente, isto é, ajustada ao sistema jurídico vigente e tendo em 
Processo falimentar 65 
vista os fins sociais a que a lei se destina e ao bem comum (art. 5.° da Lei de 
Introdução ao Código Civil), temperando-a comcerta dose de eqüidade. 
Para ilustrar a assertiva acima feita, trazemos à colação o recentíssimo acórdão 
da 8.a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, pro­
ferido em 17 de fevereiro de 1981: 
"Ementa - Embargos à execução fiscal - falência. Admissíveis são os em­
bargos da massa falida, já que seguro o juízo por reserva de numerário no juízo 
universal da falência. Multa fiscal excluída por força do art. 23, parágrafo 
único, IH, da Lei de Falências, como o expresso nas Súmulas n.OS 192 e 565 
do Supremo Tribunal Federal. Exclusão dos juros de mora, por aplicação do 
art. 26 da lei especial. Incidência de correção monetária, prevista no art. 1.° 
e seu § do Decreto-Iei n.O 858, de 11.06.69. 
Sentença confirmada." 
Igualmente, dentro da mesma esteira de raciocínio decidiu o ilustrado Juízo 
da 9.a Vara Cível na Falência de Cande1ária Carpintaria e Materiais de Cons­
trução Ltda., onde, a Fazenda Nacional, em resposta ao ofício que lhe fora 
enviado, nos termos do art. 31 da Lei n.O 6.830/80, condicionou a sua concor­
dância com a venda antecipada de um bem da massa (um telefone), se satisfeita 
a totalidade do seu crédito. Acatando a bem lançada petição da ilustrada 2.3 
Liquidante Judicial, Dr.a Mary Gayoso, decidiu o douto magistrado: 
"J. Efetive-se o leilão. Após a liquidação do ativo, providenciará o juízo os 
pagamentos, observadas as preferências legais. Ciência ao Dr. Curador. R.J. 
28.04.81." 
Cremos que o artigo em pauta está a demandar urgente modificação, a fim 
de que seja adaptado à realidade social, à ordem jurídica vigente e à orientação 
jurisprudencial já firmada, conforme preconiza a própria Exposição de Motivos 
da lei em questão. 
Como está redigido, para se aplicá-lo, resta-nos apenas uma solução: que em 
obediência ao próprio espírito de lei se proceda à intimação pessoal das fazendas 
interessadas e suas respectivas autarquias, para que, no prazo razoável de 10 
dias, se pronunciem, valendo o silêncio como anuência tácita, pois, do contrá­
rio, o bem ou direito da massa que se desejar preservar, perecerá em detrimento 
dos interesses dos credores todos, inclusive os do próprio fisco. 
A eventual discordância da Fazenda Pública e suas autarquias, a tempo ma­
nifestada, será devidamente apreciada pelo Ministério Público e o juízo, que 
decidirá sobre a realização ou não da venda, sem prejuízo de que a entidade 
de direito público interessada tome as medidas legais cabíveis, se entender a 
decisão lesiva aos seus interesses. 
O art. 31, da Lei n.O 6.830/80, demanda exegeses cautelosas e harmonizadas 
com o interesse público primário (a aplicação eficaz da ordem jurídica) e com 
o interesse público secundário (o abastecimento dos cofres públicos), não sendo 
correto satisfazer este último em detrimento daquele, ainda mais dentro de um 
Estado que se diz de direito, que cria as normas em benefício geral, para satis­
fazer às necessidades sociais e a elas se submete, se curva diante da decisão 
de um Poder Judiciário autônomo, independente, pedra de toque para o bom 
funcionamento do Estado de direito, democrático. Se esse poder vacilar tudo 
pode vir a ruir, uma vez que os poderes por ele detidos lhe foram conferidos 
pelos próprios cidadãos, para proteger as suas liberdades, mesmo aquelas viola-
66 R.C.P. 3/81 
das pelo próprio poder público: "Todo poder emana do povo e em seu nome 
é exercido" (art. 1.0, § 1.0 da Constituição federal). 
Não se ignora a regra geral, por cujo respeito se deve pugnar, quando as cir­
cunstâncias do caso concreto o permitirem. 
A venda de bens na falência tem o seu momento próprio, o da realização do 
ativo, isto é, após a apresentação do segundo relatório do síndico (arts. 114 
e 115 da Lei de Falências). 
Mas há que se atentar para o fato de que muitas vezes, entre os bens arreca­
dados, alguns são de facílima deterioração (gêneros alimentícios, por exemplo), 
ou de guarda dispendiosa (demandam a contratação de pagamento de vigias 
ou custódia por empresa especializada), de guarda desvantajosa (máquinas que 
paradas se inutilizam), importam, enfim, em risco ou pesados ônus e prejuízos 
vultosos para a massa, em detrimento dos credores todos, inclusive a Fazenda 
Pública. Por estas razões permite a lei falimentar (art. 73) que o síndico, me­
diante petição fundamentada, requeira a venda desses bens que, após a audiên­
cia do falido e do órgão do Ministério Público, poderão ter a sua venda auto­
rizada. 
O dispositivo legal é sábio e quem lida com a matéria não ignora a necessi­
dade de sua aplicação em diversos casos. Muitas vezes, não há como dar prosse­
guimento ao feito a não ser com a venda em pauta, porquanto, via de regra, 
não há sequer um centavo em caixa, a maioria dos síndicos são dativos e não 
dispõem de recursos para arcar com as constantes despesas do processo, mor­
mente em se tratando de serventuários da justiça, os liquidantes judiciais, que 
exercem o cargo e são remunerados com modestos vencimentos pagos pelos 
cofres públicos. 
A venda antecipada, autorizada com as cautelas de praxe, em nada prejudica 
os credores, pois o produto da alienação sempre é, por determinação judicial 
e legal, depositado em estabelecimento oficial de crédito, que assegura o paga­
mento de juros e correção monetária, providência que se insere dentro do espí­
rito da nova lei (art. 9.0
, n.O I, da Lei n.O 6.830/80). 
Aliás, o instituto é consagrado pela própria lei ora comentada em seu art. 21, 
que, portanto, reconhece a necessidade da sua aplicação em determinados casos. 
Quanto à venda em momento próprio, isto é, na fase de realização do ativo, 
não poderá a Fazenda discordar e nem condicionar a sua concordância à satis­
fação prévia do seu crédito (dívida ativa da Fazenda Pública tributária ou não­
tributária, na expressão usada pela nova lei), pois que, a satisfação prévia da 
Fazenda equivalerá à subversão da ordem dos créditos, com a postergação dos 
superprivilegiados credores acidentários e trabalhistas (art. 102 da Lei de Falên­
cias, 186 do Código Tributário Nacional e 449, § 1.0 da Consolidação das Leis 
do Trabalho, com a nova redação dada pela Lei n.O 6.449, de 14 de outubro 
de 1977). 
Antonio Nicacioll ao comentar esta norma sustenta que não se deve interpre­
tá-la literalmente, porquanto tal exegese levará à paralisação dos processos refe­
ridos; que se deve dar à regra uma interpretação que se coadune com a finalidade 
do processo e a sua dinamização; que o juiz, a quem incumbe movimentar o 
processo, não pode ficar à mercê da boa ou má-vontade dos representantes da 
Fazenda Pública, e nem impor às partes provas além do razoável; e que os 
11 Nicacio, Antonio. A nova Lei de Execução Fiscal. São Paulo, Ed. LTr, 1981. p. 284. 
Processo falimentar 67 
arts. 188 a 192 do Código Tributário Nacional disciplinam convenientemente 
a matéria, podendo servir de guia para o procedimento a ser adotado. 
Logo a seguir, acrescenta ser o preceito esdrúxulo, pois: 
"Numa interpretação literal, o juiz não poderia ordenar a alienação dos bens 
para pagar os credores da massa falida, ou habilitados no inventário, mas nada 
impede que, se houver numerário na massa ou espólio, se pague os mesmos 
credores com o dinheiro existente". 
"Necessário, destarte, através de interpretação consentânea com a atividade 
do falido ou falecido, ou a natureza do bem, verificar quais as provas impres­
cindíveis que deverão ser exigidas ou as fazendas que deverão ser intimadas. 
Tudo depende, portanto, da situação concreta que se apresentar, para se deter­
minar a prova exigível que deverá cingir-se à relacionada com a Fazenda dire­
tamente interessada. Se, por exemplo, se tratar de empresa comercial, o juiz, 
quando muito, deverá exigir a prova da quitação do estado, em razão de o im­
posto devido pela atividade exercida ser o ICM ou, no início do procedimento, 
determinar a intimação da Fazenda do estado para acompanhar o processo 
se quiser" (grifo nosso). 
A seguir, o mesmo autor faz alusão ao memorial dos advogadospaulistas 
encaminhado ao ministro da Justiça que pediu o veto do dispositivo com base 
na argumentação de que ele determinaria a paralisação dos feitos e que se 
refere, pela necessidade de apresentação da prova da quitação para com todas 
as fazendas (União, estado, município e suas autarquias) ou aguardar a concor­
dância da Fazenda, que costuma ser demoradíssima quando não acontece de 
nunca ser manifestada (DC I, de 20 de setembro de 1980). 
O estatuído no art. 31 da Lei n.O 6.830/80 se nos afigura ocioso já que a 
Fazenda não está sujeita a concurso nem à habilitação, dispondo do direito 
de pedir a reserva de bens para garantir o seu crédito, ou, segundo alguns, 
impropriamente, que se proceda à penhora no rosto dos autos da falência (art. 
5.° e 29 da Lei n.O 6.830/80, 187 e 188 do Código Tributário Nacional). 
8. A Lei n.O 6.830/80 e suas possíveis implicações na classificação dos créditos 
na falência - a preeminência dos créditos trabalhistas em relação aos 
tributários 
Em geral, todos os credores estão sujeitos ao juízo universal da falência, onde 
se submetem a um concurso. Porém, nem toda regra é absoluta e esta, como 
tantas outras, admite exceções legais. 
Ao declararem os seus créditos, devem os credores descrevê-los, comprová-los 
e esclarecer em que categoria se situam, quirografários ou privilegiados, bem 
como a espécie desse privilégio. 
Citando Carvalho de Mendonça, esclarece Rubens Requião: 12 "Assim, os cré­
ditos são habilitados na falência com todos os seus atributos, que a eles legiti­
mamente acrescerem e forem reconhecidos pela Lei de Falências. A falência, 
como escreveu Carvalho de Mendonça, modifica apenas o exercício dos direitos 
dos credores, mas não lhes retira, nem anula, nem altera sequer as garantias 
legais e convencionais",13 
12 Requião, Rubens. Curso de direito falimentar. Saraiva, 1978, v. 1, p. 278. 
13 Carvalho de Mendonça. Tratado, n.· 800, v. 3. 
68 RC.P. 3/81 
Considerando as garantias instituídas por lei e as legitimamente constituídas 
pela convenção das partes, a Lei de Falências classifica os créditos numa ordem 
de preferência, atenta ao que dispõe a respeito não só a Lei de Falências mas 
o Código Civil, sede principal da disciplina das preferências creditícias, que 
em seu art. 1.557 divide os títulos legais de preferência em privilégios e direitos 
reais. 
Hodiernamente, os créditos trabalhistas (decorrentes de acidentes de trabalho 
ou não) e a dívida ativa da Fazenda Pública, para usar a expressão legal mais 
recente, dispõem de privilégios, porquanto normas especiais autônomas poste­
riores na área financeira, tributária e trabalhista instituíram privilégios em favor 
de determinados créditos, situando-os em posição superior à estabelecida nas 
normas de direito privado, por exemplo, o art. 186 do Código Tributário Na­
cional de 1966, Lei complementar à Constituição, reconhece com absoluta cla­
reza a superpreferência dos créditos trabalhistas em relação aos fiscais, em que 
pese o disposto na recente lei, ora comentada, em seus arts. 4.°, n.o IV, 29, 
30 e 31. 
Acresce que, privilégio é matéria de interpretação estrita e, para ilustrar, 
transcrevemos a seguir os seguintes acórdãos que apóiam a tese da interpretação 
estrita das normas que dispõem sobre privilégios: 
Habilitação de crédito retardatário - contribuições previdenciárias devidas ao 
lapas - inaplicabilidade do DL n.O 858, de 11 de setembro de 1969. 
Correção monetária devida até a data de declaração da falência, não até 
a do efetivo pagamento do débito, pois o disposto no Decreto-lei n.O 858, de 
11 de setembro de 1969, deve aplicar-se estritamente aos créditos fiscais, assim 
não entendidas, para esse efeito, as contribuições a autarquias previdenciárias, 
já que privilégios hão de ser estritamente interpretados e aplicados no regime 
da falência, que é de ordem pública.H 
Crédito do INPS - habilitação na forma da lei falimentar - inteligência do 
art. 187 do Código Tributário Nacional. 
Se o Código Tributário Nacional dispensa do processo falimentar os créditos 
tributários (art. 187), não é menos certo que esse mesmo Código, em seu art. 
186, admite a preferência dos créditos trabalhistas, na forma da legislação fali­
mentar. Entender literalmente a regra do art. 187 do CTN, de modo isolado 
seria possibilitar o não-pagamento dos créditos trabalhistas sempre preferen­
ciais, porque a Fazenda se cobraria, imediatamente, dos seus créditos, e, na 
falência, poderia nada restar para indenização aos trabalhadores. Portanto, 
impõe-se a adoção das regras da lei falimentar, para efetivo cumprimento das 
preferências reconhecidas no próprio invocado Cód. Tributário Nacional.Hi 
Por outro lado, a Emenda Constitucional n.O 1/69, em seu art. 9.°, n.o 1, 
com a nova redação dada pela Emenda Constitucional n.O 16/80, revogou o 
concurso de preferência entre as pessoas jurídicas de direito público interno, 
estabelecidas pelo Código Tributário Nacional, que data de 1966, fazendo com 
14 Ac. uno 8." C.C. de 7.8.79 - Ap. Cív. n.o 8.801, Reg. 19.9.79, Relator Des. Paulo Pinto. 
In: Dl, 27.11.80, p. 80, Ementário n.O 39/80, n.O 27. 
15 Ac. uno 3." C.C. de 8.6.78, Agr. de Instr. n.O 1.365, ReI. Des. RebeIlo Horta. In: Ementário 
n° 26/79, TJ-RJ, de 13.9.79, p. 55. 
Processo falimentar 69 
que se conclua pela inconstitucionalidade da disposição legal semelhante contida 
na nova Lei de Execução Fiscal (art. 29, parágrafo único). 
Por força do estatuído na Lei Magna, as entidades de direito público retro­
mencionadas, isto é, as Fazendas Públicas (União, estados, Distrito Federal, 
municípios e respectivas autarquias), situam-se na mesma classe e grau de pre­
ferência, devendo haver entre elas rateio, proporcional ao valor dos respectivos 
créditos, se os recursos da massa, após satisfeitos os créditos trabalhistas, não 
bastarem para o pagamento integral de todas. E. que o estatuto supremo veda 
à União, aos estados, ao Distrito Federal, aos territórios e aos municípios cria­
rem preferências a favor de uma dessas pessoas de direito público interno contra 
outra. 
Em face do contido nos arts. 1.° e 2.° da nova Lei de Execuções Fiscais os 
créditos das autarquias, entre eles os do lapas, constituem dívidas ativas não­
tributárias da Fazenda Pública, desde que regularmente inscritos (arts. 1.°, 2.° 
da nova Lei de Execuções Fiscais, c/c o art. 39, § 2.° da Lei n.O 4.320/64). 
Situam-se eles assim como as demais contribuições parafiscais, mesmo em se 
tratando das contribuições para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, na 
mesma classe dos créditos da União, dos estados, do Distrito Federal e municí­
pios, concorrendo todos no mesmo pé de igualdade e pro rata, se os recursos 
forem insuficientes para pagar a todos. 
Assim, para sintetizar, em linhas gerais, assunto tão vasto e complexo, aten­
tos à objetividade do trabalho, classificaríamos os créditos na falência em face 
da nova Lei de Execuções Fiscais da seguinte forma: 
1. Os créditos trabalhistas em geral, quer os resultantes de indenização por 
acidentes de trabalho, quer os dos salários e indenizações dos empregados (art. 
102, caput, da Lei de Falências 186 do Código Tributário Nacional e 449, § 1.0 
da Consolidação das Leis do Trabalho, com a nova redação da Lei n.O 6.449/77). 
2. Os créditos por encargos da massa (art. 124, § 1.0 da Lei de Falência 
combinado com o 188 do Código Tributário Nacional), destacando-se entre eles 
a dívida ativa da Fazenda Pública (União, estados, municípios, Distrito Federal 
e respectivas autarquias) tributária ou não tributária vencida após a declaração 
da falência, isto é, devidos pela massa. 
3. Os créditos por dívida da massa (art. 124, § 2.° da Lei de Falências). 
4. A dívida ativa tributária e não-tributária da Fazenda Pública (União, es­
tados, municípios, Distrito Federal e respectivas autarquias) vencidas e inscritas 
antes da declaração da falência (arts. 1.0, 2.° da Lei n.O 6.830/80, 186 do Código 
Tributário Nacional e o art. 9.°, n.O 1, da Constituiçãofederal, com a redação 
dada pela Emenda Constitucional n.O 16/80), sendo certo que as entidades de 
direito público acima referidas se situam na mesma classe, sem preferência de 
umas sobre as outras, sujeitas a rateio, proporcional aos seus créditos, caso 
haja insuficiência de recursos. 
5. Os créditos por direitos reais de garantia. 
6. Os créditos com privilégio especial sobre determinados bens. 
7. Os créditos com privilégio geral. 
8. Os créditos quirografários. 
9. Os créditos sub quirografários (inovação da Lei das Sociedades por Ações 
(Lei n.O 6.404, de 15 de dezembro de 1976, em seu art. 58, § 4.°). 
Note-se que situamos em classe superior os encargos da massa em relação 
aos créditos tributários, estes assim entendidos, conforme o acima exposto (veja 
70 R.C,P. 3/81 
os arts. 186 e 188 do Código Tributário Nacional, onde se nota com clareza 
a distinção a que aludimos). 
Para encerrar, transcrevemos um pequeno trecho do excelente artigo escrito 
pelo Procurador Fiscal Francisco Lacerda de Almeida, que sustenta a tese de 
que os encargos da massa preferem aos créditos tributários,16 que justifica a 
classificação adotada: 
"Finalmente, presume-se que o legislador não tenha estatuído disposições im­
possíveis ou inexeqüíveis. Assim, a própria lei falimentar edificou um sistema 
que se baseia na atuação de particulares remunerados (síndicos, peritos, avalia­
dores, depositários) e não isentou a massa de custas judiciais. O legislador 
optou, desde longa data, por uma construção privatística, não aceitando a esta­
tização do instituto falimentar. Não é possível que o Estado venha minar todo 
esse edifício, em seu próprio benefício, sem cogitar de transformá-lo e dar-lhe 
condições para que subsista, em proveito não só dos credores privados, mas 
principalmente da ordem pública". 
Bibliografia 
Almeida, Francisco Lacerda de. Preferência dos encargos da massa sobre os créditos trio 
butários. Ajuris. v. 18, p. 32-37. 
Baleeiro, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 4. ed., Forense, 1972. 
Beviláqua, Clovis. Teoria geral do direito civil. 4. ed. Ministério da Justiça. Serviço de Do­
cumentação, 1972. 
Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado por Clovis Beviláqua. Francisco 
Alves, 1916. 
Corrêa, Roberto. A nova Lei de Execução Fiscal anotada. Saraiva, 1980. 
Fazenda Pública - Crédito fiscal - Falência. Rev. de Dir. Administrativo, v. 133, p. 132-5. 
Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 4. ed. Saraiva, 1973. 
Lopes Meirelles, Hely. Direito administrativo brasileiro. 4. ed. São Paulo, Editora Revista 
dos Tribunais, 1976. 
Lourenço, Evandro Ramos. Os créditos preferenciais e a sua classificação. 
Maluf, Sahid. Curso de direito constitucional. 5. ed. Sugestões Literárias, 1970. V. 2. 
Maximiliano, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 3. ed. Freitas Bastos, 1941. 
Miranda Valverde, Trajano de. Comentários à Lei de Falências. Forense, 1948. V. 1. 
Moraes, Maurício Azevedo. A cobrança do crédito tributário e a falência. Rev. da Consul­
toria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul, V. 7, p. 77-83. 
Nicacio, Antonio. A nova Lei de Execução Fiscal. São Paulo, Editora LTr, 1981. 
Notas pessoais do Seminário de alto nível sobre a nova Lei das Execuções Fiscais, promo­
vido pela Associação dos Juízes Federais do Brasil e pela Associação dos Procuradores da 
República, realizado no Ministério da Fazenda-RJ. 
Notas taquigráficas do Seminário sobre a nova Lei de Execuções Fiscais, promovido pelo 
Ministério da Previdência e Assistência Social/Mpas-Iapas/lnstituto de Administração Fi­
nanceira da Previdência e Assistência Social. Rio de Janeiro, 1980. Conferência proferida 
pelo Exmo. Sr. Dr. Juiz Federal Ney Magno Valadares, em 8.12.80. 
Parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional sobre a exegese e conteúdo do art. 2.· 
e de seu § 3.', da Lei de Execução Fiscal (Lei n.' 6.830/80). DOU, seção I, de 25 de maio 
de 1981. p. 9.526/35. 
Pontes de Miranda. Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda n.' 1, de 1969. 
2. ed. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1973. 
Requião, Rubens. Curso de direito falimentar. 3. ed. Saraiva, 1978. V. 1. 
Sampaio de Lacerda, J. C. Manual de direito falimentar. 10. ed. Freitas Bastos. 
16 Preferência dos encargos de massa sobre os créditos tributários, transcrito da Tribuna 
da Justiça, n.' 995. In: Ajuris. V. 18, p. 32-7. 
Processo falimentar 7] 
Serra Lopes, Miguel Maria. Comentários à Lei de Introdução ao Código Civil. 2. ed. Freitas 
Bastos, 1959. v. 1. 
Silva, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo, Editora Revista 
dos Tribunais, 1976. v. 1. 
Silva Pacheco, José da. Comentários à nova Lei de Execução Fiscal. Saraiva, 1981. 
Teixeira Machado Jr., J. & Costa Reis, Heraldo da. A Lei n.O 4.320 comentada - Instituto 
Brasileiro de Administração Municipal, 14. ed., 1980. 
Tramitação legislativa da Lei n.O 6.830/80 no Congresso. Material fornecido pelo Prodasen 
da Biblioteca Nacional. 
72 
OS "COBRAS" DA ECONOMIA 
BRASILEIRA ESCREVEM 
NA REVISTA BRASILEIRA 
DE ECONOMIA. 
Há 30 anos surgia a Revista Brasilejra de 
Economia, editada pela Fundação Getulio Vargas 
E, desde então, a RBE vem acompanhando 
o desenvolvimento da nossa economia através 
do comentário autorizado dos grandes 
especialistas brasileiros da matéria. 
Fique por dentro da economia brasileira. 
Leia e assine RBE. 
R.C.P. 3/81

Mais conteúdos dessa disciplina