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DO CONSELHO DE ESTA DO THEMÍSTOCLES BRANDÃO CAVALCANTI 1. Introdução; 2. Influências. 1. Introdução A existência do Conselho de Estado acha-se intimamente ligada à formação histórica da nossa estrutura política constitucional. Foi por intermédio dele que o primeiro Imperador elaborou o projeto de Constituição e nele certamente se apoiou como uma instituição que completaria a estrutura de seu governo. O Rei, em Conselho, quer privado ou Parlamento, estaria na tradição histórica e na formação das monarquias tradicionais. Assim foi na Inglaterra, como também na Monarquia francesa. Pedro I, ao dissolver a Constituinte, conscientizou a impor tância do seu ato e de suas repercussões. Dissolveu o Conselho de Procuradores, mas criou, para ampará-lo, um Conselho de Es tado, a quem atribuiu, desde logo, a tarefa de redigir uma nova Constituição (13 de novembro de 1823). Como foi redigido o projeto, quais os responsáveis pela sua elaboração? A perda de todos os documentos relacionados com esta fase da nossa vida constitucional, com a perda de todos os documentos com ela relacionados, torna impossível a restauração dos fatos mais importantes então ocorridos, bem como dos autores das iniciativas principais na elaboração do texto. Extinguiu-se o primeiro Conselho com a promulgação da Constituição, mas foi restabelecida por força do artigo 137 da pró pria Constituição. Foram os primeiros conselheiros os seguintes, compreendendo os ministros em exercício e quatro nomeados: Barão de Santo Amaro; Antonio Luiz Pereira da Cunha; José Joaquim Correia R. Cio poI., Rio de Janeiro, 6 (3) : 3-20, juI./set. 1972 de Campos; Manuel Jacinto Nogueira da Gama; João Severiano Maciel da Costa; Luiz José de Carvalho e Melo; Clemente Pe reira França; Mariano José Pereira da Fonseca; João Gomes da Silveira Mendonça; Francisco Vilela Barbosa. Sem regulamento e, portanto, sem uma disciplina de trabalho e uma competência mais específica, o Conselho de Estado funcio nou mal até a sua extinção em 1834, nessa sua primeira fase. Em nosso País, o Conselho de Estado foi sempre um ponto de discórdia entre conservadores e liberais - os primeiros, para fortalecer o poder moderador, defendiam a sua criação, enquanto que os segundos, consideravam-no obstáculo ao desenvolvimento político, núcleo de reação, instituição retrógada, uma espécie de oligarquia que rodeava o Imperador. Daí as suas flutuações e a precaridade do seu prestígio durante todo o Império. Para os conservadores, na frase de Uruguai era o "automural do Poder Moderador", enquanto que para os liberais, como Tito Franco e Cristiano Ottoni, era o baluarte do imperialismo, pelo menos quando se achavam em oposição. Flutuou, assim, entre as duas tendências - desapareceu com os liberais e descentralizadores, voltou com os conservadores e com o fortalecimento do poder central. Os conservadores viam na sua existência o próprio espírito do poder moderador, base do regime constitucional do Império. "A supressão do Conselho de Estado", dizia um político libe ral, Teófilo Ottoni, em um de seus ataques àquela instituição, "era também um grande triunfo da idéia liberal, pois que anulava em sua essência o poder moderador, causa de tantas apreensões durante o primeiro reinado". Por outro lado, o Visconde de Uruguai, grande político con servador e autor de um dos nossos melhores e mais antigos en saios de direito administrativo, atribuía o fracasso do Conselho aos elementos que o integravam. O precursor do Conselho de Estado no Brasil foi, como já vi mos, o Conselho dos Procuradores-Gerais das Províncias. Foi cria do pelo Príncipe Regente Pedro I, pelo Decreto de 16 de fevereiro de 1822, movido por uma necessidade justificável de se rodear de uma corporação de homens que o auxiliasse, com a sua experiên cia e pareceres, na obra difícil da administração. O Conselho dos Procuradores era nomeado pelos eleitores das paróquias e tinha como atribuições: "a) aconselhar o Príncipe que fosse solicitado em todos os negó cios mais importantes e difíceis; 4 R.C.P. 3/72 b) examinar os grandes projetos de reforma, que se deveriam realizar na administração geral ou particular do Estado; c) propor ao Príncipe as medidas que julgasse urgentes e van tajosas à administração; d) zelar pelas utilidades de suas Províncias." A Assembléia Constituinte, pela Lei de 20 de outubro de 1823, extinguiu esse Conselho e não admitiu procuradores do povo, que não fossem os seus deputados, e conselheiros do Imperador, outros que não os seus ministros. A dissolução da Constituinte impôs novamente ao Regente a criação de um Conselho que o assistisse na administração e cuidas se com ele das coisas públicas. O Decreto de 13 de novembro de 1823, criou um Conselho de Estado composto de 10 membros, in cluídos os ministros, seus membros natos, que tinham como atri buição, ainda, a elaboração da Constituição. A primeira Constituição do Império manteve a mesma orga nização dada pela Lei de 1823, fixando a sua competência e atri buições no art. 137 e seguintes: "Art. 137 - Haverá um Conselho de Estado composto de conselheiros vitalícios nomeados pelo Imperador. Art. 138 - O seu número não excederá a 10. Art. 138 - Não são compreendidos neste número os Minis tros de Estado, nem estes serão reputados conselheiros sem espe cial nomeação do Imperador para esse cargo. Art. 142 - Os conselheiros serão ouvidos em todos os negócios graves e medidas gerais da pública administração, principalmente sobre a declaração de guerra, ajustes de paz, negociações com as nações estrangeiras, assim como em todas as ocasiões em que o Imperador se proponha exercer qualquer das atribuições próprias do poder moderador indicadas no art. 101, à exceção da sexta". Por aí pode-se ver como era restrita a função administrativa do Conselho. As suas atribuições eram mais de caráter político. Bem longe dos Conselhos de Estado, como o da França, onde r"1úl tiplas sempre foram as atribuições contenciosas administrativas. A sua própria composição tirava-lhe qualquer possibilidade de eficiência. 1 1 Pimenta Bueno. Direito público brasileiro. p. 286; Uruguai. Ensaio sobre o direito administrativo. p. 238; Souza Bandeira. Evocações e outros escritos. p. 134. Do Conselho de Estado 5 A reação liberal tinha como ponto capital do seu programa a extincão do Conselho de Estado. Estava isto logicamente dentro de suas· finalidades. E assim o Ato Adicional, em seu art. 32, não podendo suprimir o poder moderador, devido em grande parte à resistência do Senado, suprimiu o Conselho de Estado: "Fica suprimido o Conselho de Estado, de que trata o título 5.°, capítulo 7.° da Constituição". Não acabou, porém, aí a luta em torno do conselho. O debate doutrinário continuou até que em 1841 o Imperador, em sua fala de 13 de maio, por ocasião da abertura das câmaras, chamava a atenção delas para a necessidade da criação do Conselho de Estado. Neste mesmo ano, projeto foi apresentado e teve andamento. O debate foi longo e a discussão versou principalmente sobre a sua composição, a constitucionalidade do restabelecimento do Con selho diante do Ato Adicional, a perpetuidade do exercício de seus membros, e a sua amovibilidade. Alves Branco, Bernardo de Vasconcelos, Paula Souza, distin guiram-se particularmente nos memoráveis debates. Veio por fim a Lei de 23 de novembro de 1841 regulamentada em 5 de fevereiro de 1842. Por essa lei, o Conselho de Estado tinha 12 membros ordiná rios, além dos Ministros de Estado. As suas sessões seriam conjuntas ou em secções, as primeiras presididas pelo Imperador e as últimas pelos Ministros a quem pertencessem os objetos das consultas. O regulamento de 1842 dividiu o Conselho em quatro secções: l.a) negócios do Império; 2.a ) negócios da Justiça e dos estrangeiros; 3. a) negócios da Fazenda; 4.a ) negócios da Guerra e da Marinha.!! !! Art. 7 da Lei de 23 de novembro de 1842 - "Incumbeao Conselho de Estado consultar em todos os negócios em que o Imperador houver por bem ouvi-lo, para resolvê-los; e principalmente: 1.0 em todas as ocasiões em que o Imperador se propuser exercer qualquer das atribuições do Poder Moderador indicadas no art. 101 da Constituição; 2.0 sobre declaração de guerra, ajustes de paz e negociações com as nações estrangeiras; 3.° sobre questões de presas e indenizações; 4.° sobre conflitos de jurisdição entre as autoridades administrativas e entre estas e as judiciárias; 5.° sobre abusos das autoridades eclesiásticas; 6.° sobre decretos, regulamentos e instruções para a boa execução das leis, e sobre propostas que o Poder Executivo tenha de apresentar à Assembléia Geral. 6 R.C.P. 3/72 Quanto à vitaliciedade, prevaleceu um critério intermediário. A Lei de 1841 admitia, em princípio, a perpetuidade, podendo en tretanto o Imperador dispensar o Conselheiro de Estado, por tem po indeterminado, do exercício de suas funções. A vitaliciedade foi sempre matéria controvertida, principal mente porque aos liberais repugnava a perpetuidade do poder. Ao contrário, os conservadores e moderados achavam con veniente uma continuidade impedindo uma substituição em cada administração. O Visconde de Uruguai justificava essa posição com as se guintes palavras: "A vitaliciedade oferece garantias de independência, de luzes de experiência, de justiça, de imparcialidade e de segredo". O Conselho de Estado é meramente consultivo. Não lhe com pete resolver os negócios, sobre os quais consulta, que são decidi dos pelo Poder Moderador ou Executivo. As vantagens e garantias que pode trazer e traz essa institui ção consistem na independência, acerto, justiça e imparcialidade dos conselhos e opiniões, que iluminam, e podem servir de estorvo a desacertos e injustiças, especialmente no contencioso adminis trativo. Todas as vezes que for posto o Conselho de Estado à mercê dos ministros e dos partidos, não poderá ter a indispensável inde pendência. Não é possível que debatam, com liberdade, inferiores e dependentes com superiores. Como há de o Conselheiro de Estado interpor e sustentar opi niões contrárias às dos ministros; como, em recurso interposto destes, há de opinar livremente, e demonstrar que deve ser refor mada a decisão ministerial; como, no caso de conflito entre a Câ mara dos Deputados e o Ministério, há de aconselhar livremente à Coroa que o demite, se é deste criatura e dependente? É somente na vitaliciedade dos Conselheiros de Estado que se pode fundar a independência deste Corpo para poder resguar dar e sustentar a independência do Poder Moderador. O direito administrativo, e sobretudo o contencioso, apenas pode fundar-se e desenvolver-se em um país por meio de arestos e tradições, que formam o que se chama jurisprudência adminis trativa. Exige luzes, certo traquejo dos negócios, que somente lon gos estudos e longa prática podem fornecer. E isto muito princi palmente, em um país como o nosso, onde a ciência administrativa ainda está na infância, e onde as disposições de direito administra- Do Conselho de Estado 7 tivo existentes não estão coligidas e coordenadas, mas sim espalha das e confundidas por toda a legislação. A amovibilidade do Conselho de Estado do Tribunal Adminis trativo Superior e de Recurso, e que tão poderosamente pode con correr para fundar a nossa jurisprudência administrativa, não po deria contribuir senão para embaraçar ainda mais esse resultado. Para criar é preciso tempo, estabilidade e perseverança.a 05 liberais, por sua vez, dividiam-se. Pretendiam uns a su pressão do Conselho de Estado, outros a redução de sua compe tência, bem como as condições para a sua nomeação. Fazia, assim, reservas às suas atribuições, por meio de consi derações da maior importância, dada a situação peculiar de uma personalidade revestida de atributos políticos e de uma compe tência técnica indiscutível no campo da administração. Analisando as atribuições do Conselho de Estado, teceu sobre elas considerações que importaram em meras reservas na acumu lação de funções políticas e administrativas. Dizia Visconde de Uruguai: "A lei do Conselho de Estado foi vigorosamente impugnada no Senado, porque acumulava, nas mesmas pessoas, funções po líticas e administrativas". Na minha opinião tinham razão os que por esse motivo com batiam a lei. É um dos principais senões que ela tem. Diziam: Que sendo o conselho político de uma esfera superior, não po dia ser ao mesmo tempo, administrativo, que é de uma esfera inferior. Que as funções políticas do Conselho de Estado eram muito distintas das administrativas. Que o Conselho de Estado político tinha por fim auxiliar o monarca e não auxiliar o ministério. Que no sistema da monarquia representativa era essencial a existência de um chefe não só vitalício, como hereditário, o qual, representando a Nação, supõe-se, tem o maior interesse por ela, e trabalha para que seu governo se haja pelo modo mais condu cente para fazer a sua fidelidade, procurando que o mesmo governo conforme-se com a opinião dominante; e que o modo pelo qual esse chefe exercia o governo é por meio dos mi:üstros. 3 Ensaio sobre o direito administrativo. Rio, 1862 t. 1, p. 266-67. 8 R.C.P. 3/72 Que segundo essa organização política, a corporação política dos Conselheiros da Coroa devia ser considerada como fiscal do ministério, por isso que o monarca a consulta para não ser somente dirigido pela ação ministerial. Que essa mesma corporação é destinada a julgar os conflitos que muitas vezes se dão entre os representantes da Nação e os ministros que representam o governo. Em tal caso, aquela corpo ração auxilia o monarca nas funções que tem a desempenhar e, por conseqüência, um Conselho tal não deve ser subordinado aos ministros, porque seus membros têm, em certas circunstâncias, de apresentar a sua opinião, e seu voto em oposição ao ministério, para o que, como Conselho administrativo também, não podem ter a necessária independência. Que outro tanto não acontecia a respeito do Conselho de Es tado como corporação administrativa, porque como tal não pode deixar de ser subordinado ao ministério, visto que pode ser con siderado como uma estação, por meio da qual o ministério elabora as propostas que o Poder Executivo tem de apresentar, à Assem bléia-Geral, os decretos, regulamentos e instruções que o mesmo Executivo tem de dar para a boa execução das leis. Tem mesmo a seu cargo o desempenho das leis; e de outras funções adminis trativas, e até o conhecimento de julgamentos, de maneira que casos há em que o Conselho de Estado tem ao mesmo tempo de se constituir Tribunal de julgação, pois pelo projeto se lhe dá a atri buição de ser ouvido sobre questões de presas, indenizações, sobre conflitos de jurisdição em autoridades administrativas e entre es tas e as judiciárias. Contudo, por várias razões que me parecem ponderosas, in clino-me muito à separação pela qual pugnou a oposição na dis cussão da lei. Eu teria criado um Conselho Privado e um Conselho de Es tado. O Conselho Privado para aconselhar o Imperador no exer cício das funções do Poder Moderador e o Poder Executivo no exercício das atribuições de dirigir as negociações políticas com as nações estrangeiras, de fazer tratados de aliança ofensiva e de fensiva, e de subsídio, de declarar a guerra e fazer a paz. O Conselho de Estado auxiliaria o Poder Executivo no exer cício de todas as outras atribuições políticas e em todas as admi nistrativas. Digo em todas as outras atribuições políticas, porque algumas prendem por tal modo com o administrativo, que não é possível instituir uma separação completa e minuciosa. Do Conselho de Estado 9 As atribuições do Poder Moderador e as do Executivo que dizem respeito a relações com o exterior, à paz e à guerra, têm um caráter político tão pronunciado, tão extremado, prendem-se a considerações tão vastas, que muitobem podem formar um grupo separado, muito mais desligado do que é puramente administra tivo. Julgo conveniente a separação indicada. a) porque convém separar o político e o administrativo, tanto quanto for possível sem inconveniente, ao menos nas grandes me didas, pelos motivos já em outro lugar expostos; b) porque o direito administrativo é positivo e determinado pe las leis administrativas, e os assuntos que ficariam reservados ao Conselho Privado são justamente aqueles que não podem ser prevenidos por leis, mas dependem quase exclusivamente de vasta, larga e prática apreciação das circunstâncias, que atuam na oca sião, em geral, ou a respeito de uma hipótese; c) porque o Conselho Privado, atenta a vastidão e a importância das apreciações que é chamado a fazer, deve ser composto de estadistas, dos homens políticos mais eminentes pela sua posição, pelo interesse que tenham pela estabilidade das instituições, pela força moral que as suas luzes, posição, caráter e serviços possam dar aos seus conselhos, sem diferença de opiniões, uma vez que não sejam exageradas e possuam eles a indispensável qualidade da prudência; d) porque, conquanto convenha que essas qualidades se dêem, quanto for possível, também nos conselheiros administrativos, não é tão necessário que as tenham todas, bastando que, além da con sideração pública que pode dar força moral aos seus conselhos e mais requisitos que a lei exigir, sejam versados no conhecimento e prática das matérias administrativas; e) porque devendo ser escolhidos, sobretudo para aconselharem a Coroa no exercício das atribuições do Poder Moderador, os ho mens mais respeitáveis e versados no manejo prático dos negócios políticos e que tenham ocupado os mais altos cargos do Estado, não podem deixar de ser avançados em idade e, portanto, menos próprios para o aturado e, às vezes, quase-material trabalho, que exige o exame e solução de miúdas e numerosas questões adminis trativas, que o Conselho de Estado em França faz examinar e desbastar pelos Ouvidores e Maitres des requêtes e que muitas ve zes versam sobre negócios de uma importância muito secundária para o bem do Estado; 10 R.C.P. 3/72 f) porque o homem político e de partido, senador, deputado, é o menos próprio para auxiliar na administração o seu êmulo, o seu adversário, que subiu ao poder. Embora não o traia, não o hostilize no que é administrativo, será muito exigir que o ajude a brilhar, a fazer servir certas medidas a uma política que condena, a uma administração que combate e quer derrubar para subir. Um Conselheiro de Estado, dada a colisão entre a Câmara dos Deputados e o Ministério, acaba de aconselhar o Imperador para que dissolva o Ministério, cuja continuação sustenta, no Conselho de Estado e na Câmara à qual pertence, ser perniciosa e fatal ao país. Não prevalece essa opinião. Irá no dia seguinte esse conse lheiro, muito fiel e lealmente, fazer o papel de auxiliar daquele ministério em negócios administrativos? O Conselho de Estado na França desde a Restauração, no tem po de EI-Rei Luis Felipe, e ainda hoje, é uma corporação em que predomina muito mais a cor administrativa do que a política. Na França não tem havido, nem há Poder Moderador distinto e se parado. O Conselho de Estado tinha e tem outro Presidente, que não o Imperador. É auxiliar do Poder Executivo. As suas princi pais atribuições são puramente administrativas. São importantes, muito bem definidas, explicadas e desenvolvidas, principalmente as que dizem respeito ao contencioso. N a Espanha, o Conselho de Estado não é uma instituição po lítica, mas sim puramente administrativa. "Estranho à política e também à justiça (isto é, ao que pertence ao Poder Judiciário) ", diz Colmeiro, 4 "não participa nem das veleidades daquela, nem da mobilidade desta, porém obedece ao espírito de transformação lenta e gradual que domina no maior número dos atos administra tivos" . O Conselho de Estado de Portugal é porém, como o nosso, e como já vimos, político e administrativo. Provém isso de que tendo a sua Constituição um Poder Real ou Moderador como a nossa, acumularão como nós no mesmo conselho as atribuições de aconselhar o Poder Moderador e o Administrativo. Coisas tão di ferentes! "Um Conselho de Estado em uma monarquia representativa deve ser uma corporação exclusivamente ou quase exclusivamente administrativa. A corporação que aconselha o Poder Moderador e 4 Direito administrativo espanhol .. Do Conselho de Estado 11 que é política deve ser distinta, chamem embora a esta Conselho de Estado e aquela o que quiserem". 5 Desdobrando as atribuições conferidas pela lei e pelo regula mento de 1842 ao Conselho de Estado, Uruguai divide assim, as suas funções: a) do Poder Moderador; b) do Poder Executivo, político ou governamental; c) do Poder Administrativo gracioso; d) do Poder Administrativo contencioso. I. Junto ao Poder Moderador. Era talvez esta a função mais delicada do conselho. O exercício do Poder Moderador ficava em grande parte apoiado sobre a responsabilidade do conselho, em assunto da mais alta relevância política para a Coroa. A convocação das assembléias-gerais, aprovação ou suspensão das resoluções das assembléias provinciais, a pensão dos magistra dos, a concessão da anistia, a escolha dos senadores, eram assuntos sobre os quais sempre poderia ser ouvido o Conselho de Estado, cuja opinião era ou não acatada, mas que nem por isso influía menos na política geral do país. A sua vinculação ao Poder Moderador decorria também da sua competência para aconselhar o Imperador prontamente quan do ele devia exercer o Poder Moderador. O responsável era o Conselho de Estado, por esses conselhos, (art. 143 da Constituição) como eram os ministros, pelos atos do Poder Executivo. Intangível era apenas a pessoa do Imperador. I!. O Poder Executivo, político ou governamental compreen dia importantes matérias como a declaração de guerra, os ajustes de paz, as relações e negociações com as nações estrangeiras ou com o poder espiritual. lI!. Com relação à jurisdição administrativa graciosa, Pi menta Bueno chama de quase contenciosa. Este talvez o ponto mais interessante sob o aspecto que se relaciona com o direito administrativo. 5 Uruguai. op. cito p. 275-85. Estas palavras do douto e atilado Paulino mostram por si a complexidade da questão. 12 R.C.P. 3/72 Neste terreno verifica-se a intervenção do Conselho de Estado como função consultiva, mas sobre matéria acentuadamente admi nistrativa, diz ele: 6 "Há alguns assuntos administrativos que participam do cará ter contencioso sem que, todavia, possa este predominar sempre, já porque se dá propriamente litígio, já por que alguma vez é necessário conservar à administração uma certa liberdade ou latitude de ação a respeito, como indispensável aos interesses públicos. Neste caso estão as questões de guerra, os conflitos de atribuições, as questões de competência entre autoridades admi nistrativas e os recursos por abusos das autoridades eclesiásticas". A intervenção do Conselho de Estado é, em todos casos, po rém, sempre facultativa, cabendo ao Imperador sempre a iniciativa da consulta. IV. Nos negócios contenciosos. Afinal, relativamente a esses assuntos ainda prevê a lei a intervenção do Conselho de Estado com o caráter meramente consultivo e facultativo. Verifica-se, entretanto, a sua audiência: a) nos conflitos entre a jurisdição administrativa e a judiciária; b) nos recursos interpostos das resoluções dos presidentes das províncias em matéria contenciosa ou das decisões dos Ministros de Estado; c) nos embargos opostos às resoluções imperiais. Os art. 24 e seguintes do Regulamento de 5 de fevereiro de 1842 estabelecem a forma de processo e os casos em que se veri ficam o recurso e a intervenção do Conselho de Estado. 7 Sob o ponto de vista administrativo, duvidosa foi a eficiência do Conselho de Estado na monarquia. O contenciosoadministrati vo, ou melhor, a jurisdição administrativa praticamente não tinha existência, faltando-lhe os elementos indispensáveis ao funciona mento normal e obrigatório dos órgãos jurisdicionais inerentes àquele sistema. Prestou, entretanto, o Conselho de Estado grandes benefícios ao regime. Di-lo muito bem, citando fatos, o nosso Souza Ban deira. 8 6 Direito público brasileiro. p. 294. 7 Ver Pimenta Bueno. op. cito p. 204 e sego 8 Evocações e outros escritos. p. 146. Do Ccmselho de Estado 13 A lei de 1842 extinguiu-se com o regime, não obstante as ten tativas de reforma, entre as quais deve ser citada a do Marquês de São Vicente, em 1867. 9 Não é possível deixar sem lembranças os inúmeros benefícios prestados ao país pelo Conselho de Estado. Além do portentoso trabalho legislativo em torno à legislação sobre concessões de estradas de ferro, ainda acrescenta Souza Bandeira, o seguinte: 10 "Examinem-se todas as grandes questões nacionais, em que andou envolvida a responsabilidade do governo imperial, ou se trate das nossas infindáveis complicações com as repúblicas pla tinas, ou das medidas financeiras em que se debatia a argúcia dos ministros da fazenda, ou das variadas reformas propostas ao Par lamento, e sempre nas discussões do conselho encontrar-se-á o apanhado fiel das várias correntes de opinião, expostas com cla reza, competência e lealdade. O governo podia errar e errou mui tas vezes. Nunca, porém, poderia dizer que o fez por não estar devidamente aconselhado, tendo perfeitamente pesado o pró e o contra". Rebentou subitamente, em 1864, a grande crise provocada pela quebra do banqueiro Souto. Alastrou-se a crise, perturbando a vida econômica do país, e ameaçando arrastar a fortuna pública e particular. O comércio reclamava providências, todas as classes se deixavam dominar por um pânico, cujos resultados não se po diam prever. O Conselheiro Furtado, Presidente do Conselho, era um velho e honesto magistrado, conhecedor da lei, afeito a julgar e, por isso, mesmo cheio de escrúpulos de natureza jurídica. As câmaras tinham-se fechado e a opinião angustiada exigia uma so lução urgente. Reuniu-se o Conselho de Estado, e depois de longa discussão, pode o govêrno tomar as medidas de exceção que sal varam a praça do Rio de Janeiro e a Nação inteira. Os dissídios entre o Duque de Caxias, Comandante-em-chefe das forças em penhadas na Guerra do Paraguai, e Zacarias, Presidente do con selho, colocaram o Governo, em 1867, na mais melindrosa questão militar que já tivemos, atenta a posição política dos dois adversá rios e a existência da guerra em que um deles era general vito rioso. Foi o Conselho de Estado quem salvou a situação, achando uma saída airosa para o caso. Surgiu, em 1872, a questão dos Bispos de Olinda e do Pará, que, revoltados contra as leis do país, provocaram, numa nação essencialmente católica, uma tre- li Ver Nabuco, Joaquim. Um estadista do Império. ed. 1936, v. 2, p. 6 e 316. 10 Souza Bandeira. op. cito p. 145. 14 R.C.P. 3/72 menda questão religiosa. As excomunhões e as interdições repeti das, revividas das antigas querelas medievais, punham os juízes e funcionários na terrível contingência de escolherem entre a sua consciência de católicos e o seu dever de cidadãos. Em memorá veis discussões do Conselho de Estado, católicos e maçons, amigos e adversários do Governo, procuraram lealmente fornecer-lhe os meios legais com que finalmente se restabeleceu o princípio da autoridade. Ainda hoje constitui um precioso monumento, o longo e trabalhoso preparo da Lei de 28 de setembro de 1871, feito no Conselho de Estado. Relembrar as vezes em que ele se teve de manifestar, seria refazer toda a história constitucional e adminis trativa do segundo Império, de cujas ruínas subsiste como um glorioso legado de esclarecido patriotismo. 2. Influências o nosso Conselho de Estado da monarquia sofreu duas influências preponderantes - a que vinha de nossa tradição política jurídica, ligada a Portugal e a que encontrou no modelo francês e na legis lação desse país um elemento essencial à construção do nosso sistema. Em ambas, de origens muito antigas, pois que a de Portugal remontava ao século XIV, a influência do poder Real e o caráter consultivo e de Conselho imprimiram a feição originária do nosso Conselho de Estado. Somente no correr do século XIX definiu-se a sua ação juris dicional, com que multiplicou a competência daquele órgão. Também aqui os dois modelos assemelhavam-se - o francês e o português - e dificilmente seria possível descobrir qual a fonte mais preponderante na organização e no funcionamento do nosso Conselho de Estado. A leitura das suas decisões, entretanto, mostra bem a influên cia marcante do direito administrativo francês, pelo menos em al gumas questões sobre as quais versavam pareceres e decisões da quele órgão. Em matéria processual, no regime dos contratos e concessões, nas questões puramente teóricas e doutrinárias, os autores fran ceses são freqüentemente citados, enquanto que as questões terri toriais e de domínio, bem como nas fianças, e em certas peculiari dades de instituições que não encontram similar no direito estran geiro, o velho direito português, as nossas leis civis e administra- Do Conselho de Estado 15 tivas ainda em formação constituem o apoio máximo das decisões e pareceres do Conselho. Não seria, entretanto, demasiado dizer que, em relação ao Conselho de Estado, em si, na sua estrutura, na sua função polí tica e administrativa, preponderou a influência do modelo francês, por intermédio de autores familiares aos nossos juristas de então, especialmente Cormenin, Macarel, Regnault em sua história do Conselho de Estado, Dalloz, Vivien, etc. Na elaboração da Lei de 1842, houve sempre a preocupação de evitar o modelo francês, ou pelo menos, afirmou-se muito rei teradamente este propósito. O autor do projeto, Ministro do Império e Senador Bernardo Pereira de Vasconcelos, por exemplo, insistia na originalidade do nosso Conselho de Estado, como órgão consultivo, função que na França exerceu, excepcionalmente, em períodos muito transitó rios, como na Restauração. No Brasil, foi entretanto esta a sua competência maior, desde a sua organização, lembrando mais talvez o Conselho Privado da Coroa Inglesa. Mas, o certo é que na organização do Conselho de Estado, no Brasil, sempre houve a preocupação de examinar o modelo fran cês; era natural que assim tivesse sido, porque da legislação fran cesa sempre nos aproximamos muito em matéria administrativa, por ser mais acessível aos nossos conhecimentos. A reação, contra uma cópia muito liberal de qualquer modelo estrangeiro, era também natural, embora seu sucesso fosse muito duvidoso. Além do mais, a idéia do Conselho de Estado estava, no Brasil, ligada à do Poder Moderador, inspirada na concepção de Benja mim Constant. Foi, por isso mesmo, em torno do Imperador que a idéia cres ceu, e construiu-se o Conselho de Estado pelo menos em sua forma mais primitiva. Não há, entretanto, como negar-se a influência francesa no desenvolvimento do conselho como órgão administrativo e princi palmente jurisdicional. Foi com a atenção voltada para o Conselho de Estado na Fran ça que nos enveredamos por um caminho perigoso e de difícil execução, isto é, o da ampliação da competência do Conselho de Estado à matéria contenciosa administrativa, convertendo-se timi- 16 R.C.P. 3/72 damente, por falta de preparo prévio, em uma espécie de tribunal administrativo. Desvirtuava-se com isto o objetivo político de sua criação, lançando-se numa aventura cujo sucesso só seria possível por uma atuação ousada e decidida. Neste setor jurisdicional, a tentativa resultou em fracasso. O mesmo, entretanto, não ocorreu nos demais setores, espe cialmente no exercício da função normativa e regulamentar, bem como no estudo dos nossos grandes problemas administrativos. Aí foi o seu trabalhoda maior importância, e nele se encontra a base do nosso direito administrativo. Sem o Conselho de Estado, pouco nos teria ligado o Império. Tal como na França, discutiu-se muito a legitimidade do Con selho de Estado, como poder criado pela lei, sem a origem cons titucional. Na prática, ele se interpunha entre os poderes, não só no exercício da função jurisdicional, reduzindo de alguma forma a competência própria e específica do poder judiciário, mas também na ação política dos ministros e do Parlamento. Como admitir-se o sistema, quando a organização dos poderes e o seu funcionamento dependiam da estrutura constitucional? Dizia-se também que o Conselho de Estado limitava até o direito reconhecido ao Imperador de consultar quem entendesse, ficando, pelo órgão criado, limitado o número dos seus conselheiros. Objetivam outros, que tendo a Constituição abolido o Conse lho de Estado, não seria lícito restabelecê-Io; quando muito, seria tolerável criar outro. As objeções não tinham razão de ser. O único obstáculo apre ciável à sua criação era o de natureza constitucional, mas apenas no que dizia respeito ao funcionamento dos poderes constitucio nais, inatingível por outros órgãos criados pela lei ordinária. Outro motivo de oposição era a vitaliciedade do conselho, que criava uma oligarquia, sempre consultada, sempre a recomendar ao monarca, sempre as mesmas figuras, somente substituíveis pela morte de um, escolhidos por vontade única do Imperador. Mas, a vitaliciedade no caso era uma proteção contra o arbí trio do Imperador, uma garantia da liberdade do voto e da opinião dos conselheiros. Um conselho à mercê da vontade do Imperador não teria o prestígio e a independência necessários para manifestar em qualquer assunto, mesmo de natureza política, a sua opinião. Do Conselho de Estado 17 Houve, entretanto, sempre duas preocupações no Brasil, como em Portugal, na organização e no funcionamento do Conselho de Estado: a) manter o Conselho de Estado na dependência do Poder Executivo, considerando o órgão auxiliar da administração ativa; b) respeitar o princípio da separação dos poderes, pela indepen dência da administração em face ao judiciário e deste perante o Poder Executivo. Não obstante esta preocupação, o contencioso administrativo não tomou o desenvolvimento que seria de esperar. Em matéria consultiva também desapareceu o Conselho de Estado com a República. Compreende-se bem esta orientação, se considerarmos a tra dição real dos Conselhos de Estado, a sua função protetora do soberano, o que levou um político brasileiro a chamar o Conselho de Estado de pára-raios do Imperador. Era natural, por isso, que a República pelo menos em seus primeiros anos o suprimisse. Tentativas, entretanto, foram feitas com os projetos Arnolfo Azevedo e Afrânio de Mello Franco para revivê-Io, ajustado à forma republicana de governo. Não lograram êxito as tentativas, mas os conselhos técnicos e consultivos apareceram sob formas novas, bem conhecidas no direito administrativo moderno, principalmente no setor econô mico. A Constituição atual prevê mesmo a criação de um conselho econômico, embora com caráter antes de tudo consultivo (o Con selho Nacional de Economia). Com o advento da República, suprimiu-se entre nós o con tencioso administrativo; adotamos um regime judiciarista que ex clui a dualidade do sistema jurisdicional. Uma justiça única, so mente os tribunais judiciários que integram a justiça ordinária decidem as controvérsias. Uma única exceção tivemos, mas já foi em parte abolida, em relação às causas federais, não pelo critério ratione materiae, da natureza jurídica da controvérsia, mas pela presença no processo do Poder Federal - ratione personae. Qualquer decisão administrativa, mesmo as proferidas pelas instâncias administrativas estão sujeitas ao controle da legalidade. Se, por um lado, amplia-se a competência da jurisdição co mum, incluindo sob o seu controle todos os atos administrativos, por outro, restringe-se a sua competência na profundidade e na 18 R.C.P. 3172 medida desse controle, reduzida à apreciação da legalidade dos atos e da sua conformidade com a lei. Elimina-se a jurisdição administrativa própria, mas também para alterar a natureza do controle adstrito à função própria aos órgãos judiciais. E este é um dos aspectos peculiares ao sistema - a instância judicial não se envolve no mérito do ato, mesmo quando de natu reza administrativa, nas razões de conveniência, de oportunidade, de interesse, mas apenas da sua conformidade com a Constituição e a lei. Neste particular, a instância administrativa esgota-se nos pró prios órgãos administrativos, sujeitos ao poder judiciário apenas no que diz com a legalidade do ato ou decisão. O recurso por excesso de poder, o abuso do poder, são ex pressões de compreensão restrita porque não envolvem, na sua apreciação judicial, os motivos, as razões, que determinaram o ato, mas unicamente a competência da autoridade, a conformidade do seu ato com os preceitos legais aplicáveis à espécie. Há uma diferença de técnica no julgamento dos atos adminis trativos pelos tribunais especializados, que os franceses conhecem, como todos aqueles que têm um regime contencioso administra tivo, mas que desconhecem os que unificaram o seu poder juris dicional. No Brasil, esta diferença de técnica só se encontra na justiça do trabalho, autônoma, ou em certa forma, na justiça eleitoral. também independente. Na órbita administrativa, porém, essa distinção não existe, porque mesmo os tribunais administrativos, ou melhor, os órgãos coletivos a que estão afetas as questões administrativas, têm os seus atos sujeitos ao controle judicial, como qualquer autoridade administrativa. Este sistema tem provocado certas reações tendentes à criação de algumas jurisdições administrativas especializadas. Principal mente, nos Estados Unidos desenvolveu-se esta tendência para criação de commissions relacionadas não só com a exploração dos serviços públicos (public utilities) , mas também com o comércio interestadual e internacional (Interstate Commerce Commission). Na Inglaterra tembém verificou-se a mesma tendência. 11 11 Robson, W. A. Justice and administrative (Law). Do Conselho de Estado 19 No Brasil, porém, todas as instâncias e "tribunais" adminis trativos estão sujeitos ao controle judicial e com uma intensidade talvez excessiva. Nos Estados Unidos, por exemplo, em matéria de tarifas do serviço público, decidem soberanamente os commissions sem re curso judicial. Mas, este será cabível todas as vezes que essas tarifas forem consideradas confiscatórias, isto é, forem tão baixas que levem a empresa à falência, ou tão altas que sejam inacessí veis ao usuário. Não será o princípio da estrita legalidade que orientará o juiz, mas um elemento quase imponderável cujo nome é a cláusula due process, por meio da qual todos os direitos e liberdades não expressas encontram a sua proteção. Somente a sensibilidade de um juiz anglo-saxônico, educado na aplicação da common law e do costume, poderia manejar instrumento tão sutil. Tenho sustentado, mas devo confessar, sem grande sucesso perante os tribunais, que a parte técnica das decisões proferidas pelos tribunais administrativos especializados é inacessível ao exa me judicial. Por exemplo: as condições técnicas de um abalroa mento de navios para efeito da responsabilidade, o resultado de uma perícia sobre produtos minerais realizada por uma instância de tarifas aduaneiras, etc. Os tribunais brasileiros, entretanto, têm considerado tais de cisões administrativas como sujeitas à apreciação, como prova, como elementos de informação, sem reconhecer a natureza deci sória desses atos. Todas essas dificuldades teriam sido sobrepujadas com a cria ção de tribunais administrativos ou, pelo menos, com o reconheci mento do valor de certas decisões administrativas, como res judi cata, pelomenos no que se refere ao merecimento dessas decisões na sua parte técnica e especializada. 20 JOGUE FORA O DICIONARIO DE ECONOM~S. Conjuntura Econômica traduz economia para nosso idioma. O idioma de todos os dias. É por isso que até os leigos entendem Conjuntura Econômica. Mas, seu conteúdo não é sacrificado em nome da clareza. E é também por isso que os especialistas gostam tanto da revista. Conjuntura Econômica - análises complexas em linguagem simples. R.C.P. 3/72