Buscar

O Congresso Nacional no atual sistema político brasileiro - Sétima Legislatura

Prévia do material em texto

o Congresso nacional no atual sistema político brasileiro: sétima 
legislatura (71-74) 
1. Introdução - Lidice A. Pontes Maduro e Mariana HeresclJ 
A crise do parlamento ou o declínio do Poder Legislativo tem sido um 
tema muito visado pela Ciência Política. Muito se tem falado sobre o for­
talecimento do Poder Executivo em detrimento do Legislativo; a ampliação 
das funções do Estado Moderno faz com que a cada dia aumentem as 
iniciativas legislativas por parte do Executivo. 
As solicitações do mundo contemporâneo, as transformações tecnológicas, 
a necessidade de uma maior rapidez nas decisões a serem adotadas, aliadas 
ao despreparo funcional das instituições parlamentares, possibilitou o for­
talecimento do Executivo. 
Para Chandernagor, l "le crise actuelle de l'institution parlementaire, si 
elle et aggravée dans certains pays par l'existence de rapports de forces 
poli tiques défavorables au Parlament, a cependant partout une origine 
com mune, qui explique son universalité: I'inadaptation profonde du mode 
de fonctionement des Parlements aux realités politiques, économiques et 
sociales de cette seconde moitié du XXeme siêcle". 
A diminuição da influência legislativa pode ser observada em diversos 
países, como nos EUA, onde o Legislativo perdeu o controle nas questões 
de segurança nacional e de política externa; a iniciativa das leis, antes 
privilégio do órgão legiferante, atualmente, na maioria dos parlamentos, é 
primazia do Executivo. No México, o direito de iniciar leis ou decretos 
compete: a) ao presidente da República; b) aos deputados e senadores; 
c) aos legislativos estaduais.2 O direito de emenda sofre restrições nos 
parlamentos inglês e francês. No Brasil, verifica-se a mesma tendência. 
A ação do Executivo se torna cada vez mais ampla, chegando até a influir 
na elaboração da ordem do dia no Parlamento francês. 
1 Chandernagor. Un Parlement pourquoi faire? GaIlimard, 1967. In: Vasconcelos. 
Wilson Accioli de. O Legislativo brasileiro numa estrutura política em transformação. 
jan. 1970. 
2 Campos, Milton & Carneiro, Nélson. Organização dos parlamentos modernos. Re. 
vista Brasileira de Estudos Políticos (25/26), jul.fian. 1968-1969. 
R. Cio pol., Rio de Janeiro, 21(n. esp.) :5-193 dezembro 1978 
~~~~----~~~~~~------~--~~-----------
Para grande número de autores, esse esvaziamento do Poder Legislativo 
provém, em grande parte, da inadequação da estrutura e do método de 
trabalho parlamentar, incompatíveis com as condições do mundo moderno. 
Urge proceder a uma série de reformas nos processos e nos métodos de 
trabalho dos Parlamentos, como a criação de serviços de informação 
Igeislativa, gabinetes de assessoramento, maior acesso às fontes de con­
sulta, o que possibilitaria um maior controle e fiscalização da administração 
governamental. 
Para o Prof. Michel Mezey,3 os Legislativos atualmente podem ser clas­
sificados em quatro categorias: 
a) Legislativo ativo - tem poderes (e os usa) para modificar proposições 
do Executivo e estabelecer parâmetros. As sessões são mais ou menos 
extensas e o debate é livre e demorado, com larga cobertura da imprensa. 
b) Legislativo reativo - não goza do poder de rejeitar proposições do 
Executivo; apesar de não sofrer restrição constitucional, falta-lhe situação 
política para isto. 
c) Legislativo consultivo - só cabe ao Parlamento estabelecer parâmetros; 
com isto o governo domina todo o processo decisório e tem seus projetos 
aprovados sem debate. 
d) Legislativo legitimador - o Parlamneto não rejeita, não emenda e não 
estabelece diretrizes para o governo. Apenas legitima os atos do Executivo. 
Evidentemente, a situação do Poder Legislativo é também um reflexo 
da estrutura do país, mas não há como negar a descaracterização dos 
Parlamentos atuais como órgãos legislativos. 
A fim de se evitar um contínuo esvaziamento do Legislativo, é preciso 
que ele sofra um processo de atualização, com o objetivo de torná-lo mais 
eficiente. Somente por uma maior racionalização do Legislativo, e, prin­
cipalmente, pela maior objetividade no trato dos problemas parlamentares, 
isto será possível. 
O tema modernização do Legislativo tem sido constantemente objeto 
de estudo e debates por parte de cientistas políticos e parlamentares. Em 
1976, realizou-se, em Brasília, um seminário sobre modernização legis­
lativa e desenvolvimento político, onde se debateu amplamente o que se 
considera necessário para maior eficácia operacional do Legislativo. 
Antes de tudo, é preciso distinguir, também, a modernização formal da 
substancial; na primeira, verifica-se um aperfeiçoamento das normas do 
processo legislativo e, na segunda, uma mudança no seu comportamento. 
Para o Prof. James Heaphey,4 da Universidade de Nova Iorque, "a 
modernização legislativa é a forma pela qual os Parlamentos melhor se 
capacitam ao desempenho de sua principal atribuição no mundo moderno, 
3 Mezey, Michel. In: Revista de Informação Legislativa, Senado Federal, 13(50), 
ôbr.fiun. 1976. 
4 Heaphey, James. Seminário sobre modernização legislativa e desenvolvimento polí­
tico. Brasília, Congresso Nacional, jun. 1976. 
R.C.P. esp.fdez. 78 
que é a de estabelecer o processo de negociação entre os diferentes va­
lores em jogo na sociedade". 
Como congressista, o Senador Accioly FilhoS defende a tese de que 
"aos parlamentares cabe a retomada do encargo legislativo em toda a sua 
plenitude, para isso convenientemente aparelhados... a solução não é 
acomodar-se. .. sob pena de transformar o Parlamento em grêmio para 
discussão de problemas políticos sem poder decisório. f: necessário adaptar 
as instituições políticas às peculiaridades do país e do mundo moderno ... ". 
f: unânime a opinião de estudiosos e participantes do Poder Legislativo 
sobre a necessidade de sua modernização, não restrita à abordagem de 
determinados problemas, mas de uma forma mais abrangente. Como nos 
diz Huntington,6 "a modernização política envolve a diferenciação de novas 
funções políticas e o desenvolvimento de estruturas especializadas para o 
desempenho dessas funções". 
A fim de assumir as suas novas funções, o Legislativo precisa promover 
algumas alterações no seu funcionamento. Nesse sentido, há necessidade 
de uma renovação da instituição parlamentar, o que pode ser considerado 
como uma modernização, porque implica a criação de uma nova imagem 
para o Parlamento, com uma revisão das atitudes e do seu próprio sistema 
de trabalho. 
Essa renovação dos mecanismos legislativos pode ser observada, segundo 
Flávio B. NoveIli,1 no art. 49 da Constituição de 67.8 Entretanto, essas 
alterações, que possibilitaram um certo entrosamento entre os dois poderes, 
deixa ao Executivo ampla margem de realização. A partir da Emenda 
Constitucional de 69, o Executivo passa a ter exclusividade na iniciativa 
de leis sobre tópicos fundamentais dispostos no art. 57 da Carta de 67.9 
A expedição de decretos-leis pelo Executivo, sujeitos à aprovação pos­
terior do Congresso, porém não passíveis de emendas, assim como as leis 
delegadas, aumentaram a capacidade de legislar do Executivo. Ao Con­
gresso ficou reservado o exame da lei, sua aprovação ou não, e a verifi­
cação do seu cumprimento, dando-se relevância também aos trabalhos 
de exame do orçamento e ao controle de sua aplicação. 
5 Id. ibid. 
6 Huntington, Samuel P. A ordem política nas sociedades em mudança. Rio de Ja­
neiro, Forense Universitária, São Paulo, Ed. da Universidade de São Paulo. 1975. 
7 Novelli, Flávio B. O Congresso e o processo legislativo na Emenda n.O 1 à Cons­
tituição de 1967. In: Cavalcanti, Themistocles Brandão et alii. Estudos sobre a Consti­
tuição de 1967 e sua Emenda n.o 1. Rio de Janeiro, FGV, 1977. 
8 A Constituição de 1967 dispõe no art. 47, que o processo legislativo compreende 
a elaboração de: emendas à constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis dele­
gadas, decretos-leis, decretos legislativos e resoluções. 
9 O art. 57 dispõe que é da competência exclusiva do presidente da República a 
iniciativadas leis que regulem matéria financeira, criem cargos, funções ou empregos 
públicos, aumentem vencimentos ou a despesa pública, fixem ou modifiquem os efe­
tivos das Forças Armadas, disponham sobre organização administrativa e judiciária. 
matéria tributária e orçamentária, concedam anistia relativa a crimes políticos, ouvido 
o Conselho de Segurança Nacional. 
Congresso Nacional 7 
Por meio destas transformações ocorridas no Legislativo, vão-se eviden­
ciar as funções de controle e fiscalização exercidas sobre o Governo pelas 
Assembléias. Assim, por meio destas medidas, estariam os Parlamentos, 
segundo Herman Finerlo e Huntington,ll exercendo sua função primordial, 
que se enfraquece na área legislativa. 
Os parlamentares, a partir do momento em que viram suas funções 
legislativas diminuídas, tentaram incrementar as suas funções de controle 
e fiscalização por meio de uma série de medidas como: a) requerimentos 
de informação; b) convocação de ministros de estado; c) fiscalização fi­
nanceira e orçamentária; d) comissões parlamentares de inquérito; e) crimes 
de responsabilidade do presidente e de ministros. 
Estas medidas, aliadas a outras que visem um melhor funcionamento 
das Casas Legislativas (assessoria parlamentar, acesso às fontes de infor­
mação do Legislativo, mecanização das votações, divulgação e publicação 
dos trabalhos do Congresso), são preocupações dos Parlamentos em geral, 
que lutam pela restauração do prestígio perdido. Na realidade, o que 
houve foi uma nova concepção do Legislativo, que se enfraqueceu na 
sua função de legislar. 
Com a finalidade de observar a realidade da situação do Poder Legis­
lativo no Brasil, o Instituto de Direito Público e Ciência Política (lndipo) 
da Fundação Getulio Vargas propôs-lhe fazer um estudo baseado nos 
debates legislativos do Congresso Nacional durante a sétima legislatura 
(período 1971-1974), onde procurar-se-á observar, principalmente, os 
itens referentes a: 
• modernização; 
• renovação; 
• representação. 
Para a realização deste trabalho, foi feito o levantamento do material 
necessário pela leitura dos Diários do Congresso (seção I - Câmara 
Federal e seção 11 - Senado) nos exercícios de 1971 a 1974. 
Procuramos verificar todos os temas abordados em plenário, tanto na 
Câmara como no Senado. Inicialmente, foram selecionados os temas sobre 
política interna e externa (tabelas 1 e 2), e como critério de classificação 
levamos em conta que os pronunciamentos mais importantes na Câmara 
Federal são aqueles realizados durante o grande expediente e a ordem do 
dia, já que no pequeno expediente são feitas rápidas comunicações. Com 
relação ao Senado, foram relacionados os discursos realizados durante o 
expediente e após a ordem do dia. 
lo) Finer, Herman. Theory and practice 01 modern government. New York. 1957. 
11 Huntington, Samuel. Congressional Responses to Twentieth Cenlllry. 
8 R.C.P. esp.fdez. 78 
Tabela 1 
Temas sobre política interna * 
Cf!mara Federal Senado 
Arena MOB 
Arena MOB Total 
Grande \ Ordem Grande Ordem 
. ~_~ed~ent~_~~ __ dO~ d~ ~x~e:iente do dia 
1. Política 67 (12,5%) 90 (17,0%) 70 (13,0%) 127 (24,0%) 66 (12,5%) 111 (21,0%) 531 (100%) 
2. Economia 152 (23,5%) 66 (10,0%) 95 (15,0%) 53 ( 8,0%) 250 (38,5%) 33 ( 5,0%) 649 (100%) 
_ finanças 93 (33,0%) 22 ( 8,0%) 33 (12,0%) 12 ( 4,0%) 98 (35,0%) 21 ( 8,0%) 279 (100%) 
_ agricultura 33 (16,0%) 16 ( 8,0%) 47 (24,0%) 25 (12,0%) 74 (37,0%) 5 ( 3,0%) 200 (100%) 
_ indústria 26 (15,0%) 28 (17,0%) 15 ( 9,0%) 16 ( 9,0%) 78 (46,0%) 7 ( 4,0%) 170 (100%) 
3. Política regional 13 ( 8,5%) 22 (14,5%) 66 (43,5%) 19 (12,5%) 14 ( 9,0%) 18 (12,0%) 152 (100%) 
4. Trabalho 16(17,0%) 9( 9,0%) 22(23,0%) 20(21,0%) 16(16,5%) 13(13,5%) 96(100%) 
5. Saúde e assistência 24(26,5%) 12(14,0%) 15(16,5%) 14(15,5%) 15(16,5%) 10(11,0%) 90(100%) 
6. Educação 16 (23,0%) 8 (11,5%) 19 (27,5%) 12 (18,0%) 7 (10,0%) 7 (10,0%) 69 (100%) 
7. Administração 2 ( 6,0%) 3 ( 9,0%) 17 (52,0%) 6 (18,0%) 5 (15,0%) 33 (100%) 
8. Segurança 11 (36,5%) 4 (14,0%) 5 (16,5%) 6 (20,0%) 3 (10,0%) 1 ( 3,0%) 30 (100%) 
9. Transporte e comunicações 25 (39,5%) 6 ( 9,5%) 6 ( 9,5%) 5 ( 8,0%) 20 (32,0%) 1 ( 1,5%) 63 (100%) 
10. Diversos 44(34,5%) 20(15,5%) 25(20,0%) 18(14,0%) 17(13,0%) 3(3,0%) 127(100%) 
Total 370 (20,0%) 240 (13,0%) 340 (18,5%) 280 (15,5%) 408 (22,0%) 202 (11,0%) 1.840 (100% ) 
~ ~--- ._ .. _--- - - ------ - - - - - - - ~ - --"-"_ .. _- ----
* Os temas selecionados se referem aos assuntos mais debatidos em plenário. Foram classificados todos os discursos do Senado Federal 
mas, na Câmara Federal, optamos pelos discursos proferidos no grande expediente e na ordem do dia, por serem a parte do expe­
diente onde são abordados os assuntos principais. 
Câmara Federal 
Senado Federal 
Total 
Tabela 2 
Política externa 
Aren a 
212 (63,5%) 
76 (67,0%) 
288 (64,5%) 
MDB 
122 (36,5%) 
37 (33,0%) 
159 (35,5%) 
To t a I 
334 (100%) 
113 (100%) 
447 (100%) 
Devido à grande variedade de assuntos tratados no Congresso Nacional, 
foi necessária uma classificação mais ampla no que se refere aos temas 
de política interna, organizados em 10 itens: 
1. Política 
2. Economia 
3. Política regional 
4. Trabalho 
5. Saúde e assistência 
6. Educação 
7. Administração 
8. Segurança 
9. Transporte e comunicações 
10. Diversos 
Após a seleção e classificação de todos os temas no período estabelecido 
e com os discursos previamente analisados, foi elaborado o discurso global 
da Câmara Federal e do Senado, de acordo com os assuntos abordados 
pela Arena e pelo MDB. 
Ao elaborar o discurso global, nosso objetivo foi relatar os principais 
pontos abordados pelos parlamentares em cada um dos temas selecionados, 
suas críticas, a posição adotada, bem como as suas sugestões quando 
apresentadas. 
A partir do discurso global e tomando por base o programa partidário 
da Arena e do MDB, procuramos verificar até que ponto os congressistas 
defenderam a linha programática do seu partido. 
Para essa fase do trabalho, foram consultados o programa da Arena, 
de setembro de 1975, calcado na Carta de Princípios de abril de 1972, 
que contém as normas do pensamento político doutrinário do partido, e 
o programa do MDB, de abril de 1972, contendo os princípios fundamen­
tais de atuação do partido. Os dois programas partidários foram analisados 
10 R.C.P. esp./dez. 78 
separadamente e comparados com os temas abordados no discurso global 
do Congresso Nacional. 
Dos três itens que inicialmente este trabalho se propunha estudar (re­
novação, modernização e representação) pela leitura dos discursos parla­
mentares, prendemo-nos mais ao que se refere à representação, observan­
do-se aqui o relacionamento dos congressistas com o partido a que 
pertencem. 
A representatividade traduz-se na relação entre os eleitores e seus re­
presentantes. Destes, espera-se que sejam representativos, isto é, que falem 
em nome de conjuntos eleitorais de proporção significativa, objetivando o 
interesse da coletividade. 
Ao tomar posse do mandato popular, os representantes estão sujeitos, 
como nos diz o Prof. Themistocles Brandão Cavalcanti,12 a três ordens 
principais de influência: 
a) obediência ao programa partidário, à disciplina com que se devem 
subordinar à instituição jurídica a que estão filiados; 
b) fidelidade ao eleitorado; 
c) influência dos chamados grupos de pressão. 
A representação, que consiste numa delegação de poderes que o eleito­
rado dá ao seu representante, não elimina a sua autonomia no exercício 
do seu mandato. 
Nosso estudo procurou observar o grau de representatividade dos con­
gressistas em relação ao partido a que pertencem. Consideramos, no caso, 
que o parlamentar não é pura e simplesmente representante do povo que 
o elegeu, mas também possui obrigações com a agremiação partidária que 
integra. Mesmo porque, ao elegerem representantes de um ou outro partido, 
os próprios eleitores demonstram sua adesão ao pensamento político de­
fendido pela respectiva agremiação e canalizam suas expectativase aspi­
rações nesse sentido. 
"O mandato não vincula o eleito ao voto do seu eleitor, mas, dentro 
do regime partidário, está ele obrigado à disciplina e ao programa do seu 
partido. Não será imperativo, mas as suas diretrizes gerais deverão ser 
obedecidas" .13 
Esta análise do programa partidário compreende a última parte do 
nosso trabalho, onde todos os temas discutidos em plenário foram cuida­
dosamente comparados com os programas da Arena e do MDB, obser­
vando-se, assim, a representatividade partidária no Congresso Nacional. 
Quanto aos itens modernização e renovação, procuramos colocar, no 
início desta introdução, como se posiciona o Poder Legislativo no mundo 
atual, as suas necessidades de transformação e adaptação, bem como al­
gumas transformações ocorridas no Legislativo brasileiro através da Carta 
Constitucional e novas atitudes dos próprios parlamentares. 
12 Cavalcanti, Themistocles B. Teoria do Estado. São Paulo. 1977. p. 223. 
13 O Poder Legislativo. Revista de Ciência Política, Rio de Janeiro, FGV, 18(4), 
"Iov. 1975. 
Congresso Nacional 11 
Foi esta a razão por que neste trabalho não foram analisados mais 
profundamente os discursos parlamentares em relação à modernização e 
renovação. Procuramos, a seguir, pela leitura do discurso global da Câmara 
e do Senado, examinar os principais assuntos debatidos no Congresso 
Nacional no quadriênio 71-74. 
2. Discurso Global 
2.1 Política interna 
2.1.1 Câmara federal 
2.1.1.1. Grande expediente - Arena - André Laino 
Neste trabalho se encontram resumidos 370 discursos. Todos abordaram 
temas durante o denominado grande expediente, não fazendo parte aqueles 
referentes ao pequeno expediente e à ordem do dia. As mensagens foram 
distribuídas da seguinte forma: 
1971 167 
1972 92 
1973 45 
1974 66 
Total :370 
discursos 
" 
discursos 
44% 
24% 
13% 
19% 
100% 
Os assuntos foram ordenados de acordo com a seleção prévia dos 
seguintes temas, tendo ao lado a quantidade em cada item. 
12 
1. Política 
2. Economia 
a) Finanças 
b) Agricultura 
c) Indústria 
3. Política regional 
4. Trabalho 
Quadro 1 
Temas selecionados 
5. Saúde e assistência 
6. Educação 
7. Administração 
8. Segurança 
9. Transportes e comunicações 
10. Diversos 
Total 
67 
152 
93 
33 
26 
13 
16 
24 
16 
2 
11 
25 
44 
370 
(18 %) 
(41 %) 
(4,5 %) 
(4,5 %) 
(7 %) 
(4,5 %) 
(0,5 %) 
(3 %) 
(7 %) 
(12 %) 
(100% ) 
R.C.P. esp./ dez. 78 
1. Política. Neste item, a temática parlamentar ocupou o Congresso tendo 
em vista suas relações com os outros poderes e/ou problemas internos 
que afetavam os representantes. 
Congresso é vivo e deve reconhecer fragilidade; o que está ocorrendo 
é um esquecimento ou desconhecimento da fidelidade partidária. O 
sistema distrital que se pretende adotar não é exeqüível com o biparti­
darismo. Os erros do Executivo prejudicaram o Legislativo. É necessário 
o reaparelhamento do Congresso para ampliar sua ação. O Congresso 
deve estar atento às modificações nacionais para atender a realidade 
brasileira. A reforma do Poder Legislativo deve atender a todos os depu­
tados. A reforma legislativa é um trabalho conjunto da Câmara e do 
Senado. A criação do Programa de Redistribuição de Terra e de Estímulo 
à Agropecuária do Norte e Nordeste (Pro terra) , por decreto-lei, não 
desprestigiou o Legislativo; é do conhecimento de todos o quanto, no 
mundo atual, sofreu de transformação na sua extensão o Poder Executivo. 
A reforma legislativa deve ser acompanhada pelos partidos, e é preciso 
que estes acompanhem o processo, não se afastando do mesmo. O 
bipartidarismo pós-64 é o resultado de maiorias fracas que ocorriam no 
sistema pluripartidário. O corpo eleitoral se amplia quantitativamente; é 
necessário que haja também uma elevação qualitativa. O MDB merece 
uma crítica por não aceitar o fenômeno mundial do aumento do Poder 
Executivo. É imprescindível alcançar e trazer os jovens para a política, 
pois o seu papel é importantíssimo para a renovação das lideranças 
políticas. O voto de legenda no lugar do voto individual servirá para 
dar grandeza ao partido. O papel do parlamentar é preocupar-se em 
elaborar boas leis; a maior influência do Executivo que se observa é 
normal. O Executivo é sensível aos problemas que afetam Goiás e Mato 
Grosso, criando o Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste 
(Prodoeste) para atender a região. Os debates legislativos estão menos 
acalorados, mas, compensatoriamente, se apresentam mais produtivos. 
Eleições indiretas são tão democráticas quanto diretas; as eleições indi­
retas fortaleceram as instituições políticas e destruíram o carisma. A 
abertura política começa a fazer sentido e a corporificar-se. A lei de 
inelegibilidade é importante, pois é ela o instrumento que garante a 
fidelidade partidária. Nas eleições municipais foi tomada uma série de 
medidas, que têm por fim assegurar o direito de expressão. A falta de 
assessoramento não permite o aprimoramento das funções legislativas. Se 
o futuro Presidente Ernesto Geisel não pretende dar estímulo à candi­
daturade governadores ao Senado, haverá paralisação da ação política 
pessoal, que tem prejudicado a solução de importantes problemas admi­
nistrativos; a Arena não quer continuidade de homens no poder, que se 
aproveitam do cargo para fortalecer a candidatura, mas, sim, continuid;lde 
de ação. Há uma falta de comunicação entre a liderança e os demais 
deputados; a liderança não deve impedir que os. deputados tomem inicia­
tivas, õeve ser facultado .ao. deputado o direito de divergências quanto 
Congresso Nacional 
aos erros. Não foi rebeldia o caso de integrantes da Arena terem assinado 
requerimento de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos tóxicos 
apresentado por parlamentares do MDB; a Arena continua unida e forte. 
A emenda constitucional de 1969 fez da inviolabilidade de exercício de 
mandato um privilégio de fachada; o poder desarmado precisa de uma 
estrutura jurídico-institucional que lhe permita independência e impar­
cialidade. 
Os últimos discursos citados foram pronunciados no período compre­
endido entre a indicação e a posse do Presidente Ernesto Geisel. O item 
sobre política tem ainda os seguintes pronunciamentos, que estão muito 
marcados pela passagem do Executivo. 
É necessário atualizar o Parlamento; eleição parlamentar não é nem 
a melhor nem a mais eficaz. Voto distrital será a grande e salvadora 
fórmula para a representação popular. Enquanto a política não girar em 
torno dos partidos e sim de pessoas, jamais teremos um regime democrático 
no país. Se o atual Governo deseja contribuição da classe política, devemos 
estabelecer condicionamento propício ao debate e estabelecer prioridades 
e diretrizes. A reforma da Constituição deve ser feita para evitar guerra 
civil; é necessário uma reforma para suportar a grande estrutura criada 
pela Revolução; é necessário revitalizar o voto e a ideologia criada 
pela Revolução; é necessário revitalizar o voto e a ideologia partidária 
- a Constituição humilha e arrasa a classe política. A Revolução criou 
modelo econômico, mas ainda não solidificou o chamado modelo político. 
O enfeixamento do poder nas mãos do Executivo é uma ruptura com 
o político. Para revitalizar a democracia, é necessário fortalecer e 
recuperar o Congresso. O novo presidente marcha para preencher o vazio 
da Revolução na área política; moldar o tripé político-militar-técnico. 
Ainda como conseqüência da posse do novo Executivo, e do significado 
que ela vinha tomando, seguiram-se os discursos. 
A Revolução de 64 foi feita para reorganizar a vida democrática. O 
projeto de alimentação e transporte não deu certo; o povo passa fome. 
O atual Governo conseguirá reorganizar a democracia; o Congresso não 
tem correspondido às intenções dos Governos revolucionários. A Revo­
lução vai continuar até que nós, os civis, possamos dar-lhe a forma 
realmente desejada pelos revolucionários. A falta de interesse e entusiasmo 
do povo em relação às eleições decorreu da falta de comunicação;a nova 
lei eleitoral restringiu a campanha e implicou a valorização do cabo 
eleitoral. O Governo estável somente será possível no Brasil com mudanças 
políticas urgentes, ou seja, pleito direto nos estados e terceiro partido; são 
os instrumentos para institucionalizar a Revolução e torná-la perene. A 
corrupção eleitoral na Guanabara não possui similar. A vitória do MDB 
nas eleições foi benéfica; não interessa uma hegemonia da Arena. Tal 
fato não conturba a vida nacional; a vitória do MDB é um estímulo ao 
debate parlamentar para resolução dos problemas nacionais. Há otimismo, 
então, neste aspecto, quanto à futura participação da oposição. É neces-
14 R.C.P. esp./dez. 78 
sário reformular a Lei Orgânica dos Partidos; houve corrupção nos tempos 
para propaganda no rádio e na televisão. O Decreto-lei n9 477 foi uma 
das causas da derrota da Arena junto à mocidade. A Câmara precisa 
dar maior vigor às comissões técnicas; os deputados precisam de liber­
dade para votar. 
Notou-se, também, na área de pronunciamentos políticos, que, após as 
eleições, estes refletiam a preocupação dos parlamentares da Arena quanto 
a uma inadequação interna do partido, surgida com e pelo resultado do 
pleito eleitoral. 
O partido do Governo precisa se mobilizar para enfrentar o custo de 
vida, que foi o seu grande inimigo na campanha eleitoral. A evolução 
para o pluripartidarismo evitaria julgamento da Revolução pelas eleições. 
A Arena deve admitir que, nas eleições, não traduziu os anseios popu­
lares. A insatisfação do Instituto Brasileiro do Café (IBC) e do Instituto 
do Açúcar e do Álcool (lAA) não contribuíram para a derrota da 
Arena. O custo de vida não foi o fator da vitória do MDB; tal fato tem 
suas raÍZes no pleito de 1970. 
O próprio MDB surpreendeu-se com os resultados; como a Arena, ele 
também esteve atrás do povo, e não à sua frente. O resultado eleitoral 
prepara um retorno à normalidade democrática; o pleito reconduzirá a 
Revolução às suas origens (democracia) e finalidades (desenvolvimento). 
Foram feitos ainda pronunciamentos que versavam sobre censura, 
direitos humanos e democracia. 
Merece crítica a censura ao jornal O Estado de S. Paulo, por ser este 
o porta-voz do agricultor. A censura traz insegurança pelos desequilíbrios 
que gera: proteção à indústria e desemparo à agricultura. Os direitos 
humanos nunca estiveram tão ameaçados; é necessária a criação de uma 
corte internacional para resguardá-los da perda e esvaziamento de seus 
objetivos. O modelo de democracia implantado em Portugal é facilmente 
implantável no Brasil. 
Os partidos foram também objeto de alguns pronunciamentos na 
área política. 
"Há a necessidade de colocar interesses da pátria acima dos interesses 
pessoais. A sublegenda é uma deformação na legislação. Os partidos 
políticos, Arena e MDB, não devem acolher críticas tendentes a subverter 
a ordem estabelecida. 
Sublegendas resultaram da necessidade de harmonizar as diversas 
correntes políticas; estas devem ser extintas para criar um partido forte. 
Sublegendas são formas de evitar fugas para outras agremiações e, neste 
sentido, são úteis. 
Dois pronunciamentos diziam respeito às relações entre política e 
religião. 
f: necessário acentuar que, entre ideal político e ideal cristão, só exis­
tem concordâncias e encontros. A Igreja, politicamente, não é afetada nem 
pela direita e nem pela esquerda. 
Congresso Nacional 15 
Fechando o item sobre política, vamos encontrar um pronunciamento 
que diz respeito ao Tribunal do Júri. 
É necessário acentuar a importância que tem para o sistema a soberania 
que deve ser garantida ao Tribunal do Júri. 
2. Economia. Segue-se, inicialmente, um resumo de discursos que apre­
sentam aspectos gerais relacionados com este item. 
Técnicos, empresários e políticos devem trabalhar juntos e superar 
preconceitos; o Governo dá redenção à Amazônia contra o neocolonialismo. 
O Sul é o centro das decisões políticas; é necessário revigorar a Superin­
tendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) a fim de deslocar 
para o Nordeste tais decisões. Modelo político é menos nítido que modelo 
econômico. 
Nota-se, nestes aspectos gerais, uma confluência de elementos econô­
micos e políticos. Tal confluência permanece quando outros pronuncia­
mentos de caráter econômico genérico são transcritos. 
"O Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) não é somente 
técnico, mas é também um instrumento político; é necessário abrir os 
poderes políticos locais ao PND. O desenvolvimento traz, naturalmente, 
certos tipos de problemas sociais. Deve haver uma preocupação com os 
problemas humanos e sociais, ao lado da preocupação com os aspectos 
econômicos e técnicos. São Paulo não apresenta mais condições de con­
tinuar recebendo imigrantes. Na luta e manutenção do desenvolvimento 
está a importância do papel de controle do Governo. A explosão demo­
gráfica é um problema que afeta o desenvolvimento, mas o controle de 
natalidade não deve intervir na liberdade familiar. O PND deve alcançar 
o homem, e, nesta tarefa, todos se devem unir. É necessária uma correção 
nos desníveis de renda para o desenvolvimento harmônico do Nordeste 
e Norte com o Sul. O Plano Rodoviário de Interiorização do Desenvol­
vimento (Proinde) é resultado da colaboração elIl São Paulo entre o 
privado e o público, para evitar desníveis econômicos. Apesar da ação 
do Governo, a Amazônia é a mesma, apresentando desníveis entre o 
interior e os centros urbanos; é necessária a redivisão territorial para 
integrar o desenvolvimento. O desenvolvimento econômico tem-se acen­
tuado em São Paulo e Guanabara, aumentando os desequilíbrios regionais." 
Estes dois últimos discursos e outros que seguem apresentam aspectos 
que, no item sobre economia, se voltam para os problemas ligados a 
desenvolvimento e desequilíbrios regionais. 
"No Nordeste, o desvio de recursos para outros empreendimentos pre­
judicam o desenvolvimento da região. Na Carta Econômica pode per­
ceber-se que os resultados da economia brasileira são frutos da firme 
ação econômico-financeira de infra-estrutura e da obra social do Governo. 
Rá necessidade de uma redivisão territorial para ocupar os espaços 
vazios; a condição para tal projeto é a descentralização administrativa. O 
governo do Paraná precisa de infra-estrutura de comunicação na área 
federal, para que possa escoar seu desenvolvimento. O governo do Estado 
16 R:C.P.esp.!dez: 78 
de Minas Gerais consegue integrar seu estado ao processo de desenvol­
vimento nacional, pagando seu funcionalismo e equilibrando a receita 
com a despesa. Torna-se urgente estabelecer novos níveis para a parti­
cipação dos municípios na quota de retorno do Imposto sobre Circulação 
de Mercadorias (lCM), a fim de eliminar as discrepâncias municipais. 
O objetivo do 11 PND é enfatizar a iniciativa privada, como forma 
democrática e sob uma orientação nacionalista positiva." 
Passamos, agora, às subdivisões do item economia: financeira, agrícola 
e industrial. 
a) Finanças. Os pronunciamentos relacionados a este subitem abordam 
aspectos desde bolsa de valores até proteção ao consumidor, passando, 
entre outros, por turismo, endividamento externo e orçamento (que 
apresenta a maior quantidade de discursos). Assim, o discurso global 
deste subi tem tomou a seguinte forma de construção. 
"A alta que se observa nas bolsas de valores deve ter maior controle 
do Governo. O turismo tem muita importância na economia, como fator 
que gera reservas de divisas e cria mercados de trabalho. 'E: necessário 
interligar o turismo, pela Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), ao 
desenvolvimento. O Serviço Geográfico do Exército contribui com o 
turismo, realizando o mapeamento do Rio Grande do Sul; há necessidade 
de coordenar incentivos fiscais para o turismo." 
Com relação ao endividamento externo: 
"O crescimento além das necessidades de produção aumentou a dívida 
externa brasileira; houve um aumento desnecessário de compromissos 
externos. O endividamento inutilizou os esforçosde crédito no plano 
interno. A importação de algodão "lai prejudicar a manufaturação do pro­
duto nordestino; está aqui uma preJcupação com o endividamento externo 
do Brasil. Política de estímulo a be 1S supérfluos em detrimento de bens de 
base é falsa política; vemo-nos hoje obrigados a pedir empréstimos no 
exterior para custear nossas necessidades básicas. Sugestão de exportação 
de carne, açúcar e algodão para que o Brasil obtenha divisas." 
O subitem finanças, na área de economia, tem sobre orçamentos o 
maior número de pronunciamentm. Sua quantidade é a mais expressiva 
também para as demais áreas. Apresenta um total de 93 discursos para 
todo período legislativo. Ele toma a seguinte construção: 
Amazônia e seu empresariado estão desprivilegiados no desenvolvi­
mento. 'E: necessária a racionalizaçã) da distribuição do orçamento federal. 
O produtor agrícola precisa receber garantias na área da comercialização. 
Os incentivos fiscais aos estados s11linos prejudicam as indústrias de São 
Paulo. O produtor agrícola do Nordeste deve ter mais estímulo. A pro­
dução de mate de Santa Catarina se encontra sem apoio federal. O 
Congresso deve participar das dicussões orçamentárias da área federal. 
Os incentivos de reflorestamento é evem aumentar para baixar os custos 
operacionais. Necessidade de subsí,jio para plano habitacional, para que 
o desenvolvimento não seja travado. Os problemas da borracha, de 
Congresso Nacional 17 
energia e agropecuanas da Amazônia estão esquecidos pelo Governo 
federal. A diminuição dos roya/ties tem causado prejuízos aos estados 
produtores de petróleo. Faz-se necessária a melhoria e a proteção da 
produção de algodão frente ao mercado externo. Enchente na Amazônia 
prejudica os seringalistas. Produção de fumo não vem recebendo apoio 
do Governo federal. É necessária uma distribuição da renda de forma 
mais equânime. Decisões arbitrárias do Governo federal na área da 
economia prejudicaram a agricultura paulista. Apoio aos produtos manu­
faturados deve ser estendido aos produtos agrícolas como o café, para 
competir na exportação. Problemas da cafeicultura precisam de apoio 
técnico do Governo: aumento do preço. O sistema de rCM é uma das 
causas do esvaziamento financeiro do Norte e Nordeste. O presidente do 
Tribunal de Contas da União presta esclarecimentos. A legislação atual 
sobre desapropriações causa sangria no erário municipal. É necessária 
uma definição do rCM para esclarecer os orçamentos deficitários dos 
municípios. 
Percebe-se que os pronunciamentos sobre finanças, no que diz respeito 
aos orçamnetos, têm, nos setores ligados à agricultura, a sua temática 
central. Tanto no que diz respeito a aspectos diretos, quanto nos indi­
retos - distribuição de orçamentos federais e formas de tributação - é 
a agricultura que apresenta maior peso. Quando não, são dificuldades da 
agricultura que podem afetar o setor industrial. Essa tendência permanece 
nos demais discursos. 
Reivindicações para a produção e comercialização da lavoura cafeeira. 
A ferrugem ameaça cafezais; o Governo deve intervir para evitar pro­
blemas econômicos. O Governo pode e deve financiar a agricultura para 
evitar desníveis regionais. A crise nas salinas tem levado as empresas do 
ramo à desnacionalização; é necessária a intervenção federal ou o aumento 
dos preços do sal. A crise na indústria de compensados pode levar suas 
empresas à desnacionalização; são necessários incentivos federais, pois a 
competição do Rio Grande do Sul prejudica o Paraná. Apelo a subsídios 
e melhores preços para superar dificuldades da cafeicultura; o Brasil pode 
perder sua posição e convém não esquecer que o café é a infra-estrutura 
já pronta. O orçamento de São Paulo apresenta déficit ao invés de 
superávit. Observações sobre a proposta orçamentária de 1972. Poupanças 
do Norte e do Nordeste são drenadas para o Sul. Apelo por melhoria 
do café para superar ferrugem e garantir o produto. O Banco Central 
é insensível à escassez mundial de carne; é necessário o aumento de 
verbas para a pecuária. Terras de lavradores do café estão empobrecidas; 
é preciso salvá-los, pois eles também são responsáveis pela Revolução. O 
preço mínimo da carnaúba favoreceu a exportação. 
A tendência, já assinalada, do prevalecimento de discursos voltados 
para o tema agrícola continua nos demais, conforme se pode perceber. 
Os produtores de cacau da Bahia estão endividados aos bancos, pois 
saíram prejudicados com a alta da taxa de exportação sobre o produto. 
18 R.C.P. esp.fdez. 78 
A baixa de juros no plantio do café atendeu aos produtores, mas a 
ameaça da ferrugem persiste; neCf ssária a ajuda à lavoura. A produção 
de algodão deve ser aumentada, pois os mercados externos e interno 
garantem. O setor de projetos da indústria aeronáutica Empresa Brasi­
leira de Aeronáutica (Embraer) d~ve ser ativado. A isenção de imposto 
de renda para pequenas e médias empresas é fator de capitalização; as 
medidas antiinflacionárias limitam o crédito bancário. Aliviar carga tri­
butária sobre gêneros de primeira necessidade e concentrar poder econô­
mico, pode trazer abertura política. Baixos salários nas usinas de açúcar 
não são fatores de restrição do ID<!rcado interno; é necessário reduzir os 
custos e racionalizar transportes p, ra competir com São Paulo. O Fundo 
de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (FunruraI) e o café; 
o primeiro visa a equilibrar o on;amento, enquanto o segundo, se não 
receber apoio de insumos e preço>, pode acabar. Providências contra a 
seca. O Governo municipalizou as ameaças contra a economia cearense. 
Apesar do desenvolvimento, São Paulo recebe mais contribuições e o 
Pará está excluído do incentivo à produção da borracha; progresso 
errôneo gera destruição de recun os naturais. O Governo deve iniciar 
obras de infra-estrutura na Amazênia para garantir a iniciativa privada. 
Encontro de empresários do sul d,) Pará; há possibilidades de aplicação 
de tais capitais na região. Geadas atingem cafezais e renduzem produção; 
é imprescindível o apoio da União à agricultura e pecuária do Paraná. 
Aumento no varejo do preço do leite não beneficia os produtores, mas 
os intermediários; necessidade de isenção do ICM e do Imposto sobre 
Produtos Industrializados (IPI). Portarias que fixaram o preço do leite 
para o produtor não atendem às suas necessidades. Necessidade de 
incentivo ao produtor rural. Faz-se mister o subconsumo de carne para 
deslocar a carne de primeira para o mercado externo. 
Além do aspecto, já assinalado, da maior predominância de assuntos 
relacionados à agricultura, pode-se perceber, também, o choque entre 
o público e o privado. 
Colisão entre interesses do mesmo nível na política do Governo no 
setor agrário; cana-de-açúcar está desamparada. O Paraná encontra-se em 
processo de reversão econômica, vivendo dias de inquietude e aflição; o 
Governo revolucionário não deve deixar morrer o maior exemplo de 
desenvolvimento. Produtos agrícolas não têm recebido o devido apoio 
do Governo como os industriais, pois está havendo um excesso de proteção 
aos estados industrializados; o aumento do preço de fertilizantes e os 
impostos prejudicam a agricultura. A castanha do Brasil não recebe os 
mesmos estímulos governamentais que a castanha-do-pará e a castanha de 
caju. Importância do sal no mundo atual: o Governo deve preocupar-se 
com a crise das pequenas e médias empresas salineiras do Rio Grande 
do Norte. Denúncia de má aplicação do dinheiro público nas obras de 
centro, urbanos. Banco Nacional de Crédito Cooperativo precisa alcançar 
pequenos e médios produtores para dinamizar o cooperativismo. É impor-
Congresso Nacional 19 
tante o papel do capital externo no desenvolvimento; é necessária a 
política de formação de estoques estratégicos de matérias-primas. As atitudes 
do Governo têm prejudicado o cooperativismo, atingindo as seções de 
crédito de cooperativas agrícolas mistas; o cooperativismo do Nordeste 
tem decaído; grandes grupos econômicos é que têm interesseem preju­
dicar o sistema associativo. Alteração do sistema de tributação em 
benefício de estados consumidores levará à paralisação de obras _de 
urbanização em São Paulo; recursos arrecadados em São Paulo são apli­
cados em outros estados e isto iria prejudicá-los gerando desempregos. 
Produção algodoeira e setor têxtil: mercado interno em segundo plano 
e exportação tem atendido atravessadores em detrimento do cotonicultor. 
A política da carne tem sido de improvisações, o melhor é a garantia de 
preços compensadores, o que permitirá melhores rebanhos; a campanha 
para mudança de hábitos alimentares para exportar carne de melhor 
qualidade. Erosão do solo: necessidade de controlá-lo, pois a produti­
vidade agrícola se reduz e há necessidade de fertilizantes. A contenção 
do preço de alguns produtos agrícolas forçou o empobrecimento do pro­
dutor; necessária a correção de preços agrícolas para a recuperação da 
área rural. A grande produção de soja no Sul está sem comercialização; 
empresários devem organizar um pool para distribuir o produto nos 
grandes centros. Carne e leite; o Governo espera pôr em prática um plano 
que não crie dificuldades ao pecuarista, ao agricultor e ao consumidor; 
o Governo deve dar cobertura - planejamento global - à agricultura 
e à pecuária para evitar carência de alimentos no país. A pecuária em 
geral - bovina principalmente - é arma eficiente no combate à inflação, 
é mister neste sentido prestar assistência aos homens do campo; o gado 
do Rio Grande do Sul é muito importante. Preço dos produtos agrícolas 
do Norte, Nordeste e Centro-Sul sofrem com o considerável aumento do 
custo de produção; mundo livre deve voltar as vistas para a gravidade da 
situação com mais financiamentos rurais. Produção nacional de fertili­
zantes não atende à demanda interna, e o desenvolvimento precisa de 
agricultura que produza mais e melhor; o Governo precisa subsidiar a 
produção de fertilizantes, pois a produção nacional não logra alcançar 
produtividade. A política econômica do Governo no setor algodoeiro é 
um amontoado de erros que atendem a pressões de grupos econômicos; 
é absurda a proposta de abandono do cultivo de algodão do Nordeste, 
pois a qualquer momento pode haver necessidade do produto: o Banco 
do Brasil deve abrir novas linhas de crédito para o algodão do Nordeste. 
b) Agricultura. Além de assuntos que dizem respeito diretamente à 
agricultura, este item também engloba os seguintes tópicos relacionados 
com o tema: eletrificação rural, energia e irrigação, Instituto Nacional 
de Colonização e Reforma Agrária (Incra) . Veremos estes aspectos 
inicialmente. 
Aperfeiçoamento da política cafeeira para uma maior proteção ao 
setor. A Revolução promove alteração, não deve aconselhar ninguém a 
20 R.C.P. esp./dez. 78 
vender produto agrícola, porque a agricultura depende de fatores alea­
tórios. Sugestão para problemas agrícolas; o Governo deve agir na compra 
e comercialização de mamona, café, carne, algodão e milho. Medidas 
urgentes precisam ser adotadas na agricultura; não existe entre produtores 
agrícolas a animação que o Governo esperava. Diretrizes do Governo 
Geisel na agropecuária, vêm ao encontro das forças dinâmicas do país. 
O binômio trigo-soja é a base do Paraná. É necessária a disseminação 
da eletrificação rural para garantir o desenvolvimento econômico. Eletri­
ficação rural para evitar tensões e desequilíbrios entre campo e cidade. 
Importância econômica e de segurança do potencial hidrelétrico do Paraná. 
É necessário o aproveitamento de recursos hidrográficos de São Paulo. 
Aproveitamento energético e para a navegação do Rio Tocantins. A 
Revolução de 64 na Amazônia tem-se voltado para o uso racional de 
recursos energéticos, assegurando a perenidade da civilização. Expansão 
da energia das Centrais Elétricas de Goiás (CELG ) para atender 
municípios ansiosos de progresso e desenvolvimento. O binômio energia­
irrigação deve orientar ação do Governo na área do Maranhão e Piauí. 
O papel do Incra e do Programa de Integração Nacional (PIN), na 
distribuição de terras e na colonização. O Incra dificulta a compra de 
novas terras para progresso do país, tal como ocorre em Rondônia e no 
Acre, onde existem terras à espera de quem as ocupe. Pedido de inclusão 
do nordeste do Paraná no Pro doeste. 
Além de uma referência ao Pro doeste, tal como se observa no último 
pronunciamento citado, foram feitas referências também ao Programa de 
Assistência ao Trabalhador Rural (Prorural), Proterra, à seca, à Supe­
rintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), Superintendência 
do Desenvolvimento da Região Centro-Oeste (Sudeco), e Sudene. Estas 
últimas, no que diz respeito, mais especificamente, aos aspectos regionais, 
no caso Amazônia, Centro-Oeste e Nordeste. 
O Prorural tem por objetivo beneficiar o campo com assistência, 
evitando a migração para a cidade. O Prorural atinge o campo com 
benefícios que não significam qualquer ônus para os rurícolas. Proterra, 
PIN e Programa de Integração Social (PIS) são veículos de integração 
entre brasileiros. A seca no Nordeste pode ser solucionada com chuva 
artificial. Extensão da Sudam ao vale do Parnaíba para desenvolvimento 
econômico do Piauí. Ampliar área da Sudam para incluir o Piauí; hidre­
létrica de Boa Esperança cabe ao binômio energia-irrigação. Reformular 
ação da Sudene para minorar os efeitos da seca. Papal da Sudene é de 
coordenar e planejar integração ao desenvolvimento. Problemas econô­
micos do Nordeste foram causados antes de 1964; a Sudene é veículo de 
esperança e confiança para o povo. O desempenho da Sudene na indus­
trialização da região Nordeste para superar as disparidades regionais. f: 
necessária uma mudança tributária, creditícia e financeira para adequar 
a Sudene a essa região. A criação da Sudene em 1960 possibilitou essa 
tomada de consciência dos desequilíbrios regionais; a valorização das 
Congresso Nacional 21 
terras ajuda o Governo e traz créditos para a pequena, média ou grande 
agricultura. 
c) Indústria. Os pronunciamentos englobados sob o título indústria, 
iniciam-se com referências a automóveis, passando depois para ecologia, 
minérios e multinacionais. 
Fábricas de automóveis não adicionam equipamentos de segurança, 
como em seus países de origem. Indústria química em Uberaba é a 
redenção do Triângulo. São necessárias medidas de proteção para as 
áreas verdes, ou seja, recursos para amparo das florestas e para novas 
reservas. Extração mineral não deve ser só do Estado; área privada 
também deve ter acesso. O Governo participa agressivamente de expor­
tações de minérios. Defesa da política federal de exportação de minério 
de cassiterita. O minério de nióbio deve ter no próprio estado da federação 
um dos associados na sua exploração. Necessidade de vincular minérios 
estratégicos diretamente ao Governo federal. Aumento de pesquisas e 
exploração mineral na área da Amazônia. Minério da Amazônia será 
mais conhecido com o projeto Radar na Amazônia (Radam). O urânio 
de Minas Gerais dá ao Brasil o status de potência; nações desenvolvidas 
tentaram frear o Brasil mas agora não é mais possível; Minas Gerais 
deve ver seus cofres participarem desta riqueza. Os municípios produtores 
de minérios recebem insuficiente participação do imposto único sobre 
minério. As bacias do Tocantins e do Araguaia vêem surgir jazidas 
minerais; é necessário extrair tais minérios para o desenvolvimento. O 
escoamento de minério pelo porto de Itaqui, no Maranhão, recebeu 
críticas do representante do Pará; o problema não é político, pois já 
foi decidido tecnicamente pelo Maranhão. A política de minérios no 
Brasil ainda é colonial; o Brasil precisa formular política mineral sem 
temer pressões ideológicas e econômicas para criar bases nacionalistas de 
exploração mineral. As empresas multinacionais podem e devem participar 
do desenvolvimento; o que é necessário é estabelecer formas de disciplinar 
atividades para não asfixiar empreendimentos nacionais. O fortalecimento 
das pequenase médias empresas é um dos fatores de uma economia 
estável; é necessário o amparo governamental da tecnologia para garantir 
liberdade perante empresas externas, além das obras de infra-estrutura. O 
capital externo deve atuar em caráter suplementar onde capitais nacionais 
não tenham condições imediatas de suprir satisfatoriamente. O domínio 
das técnicas avançadas permanecem nas mãos de empresas estatais e 
estrangeiras. 
O item que trata da indústria merece ainda comentários sobre poluição, 
siderurgia, tarifas alfandegárias e tecnologia. 
O problema da poluição merece uma legislação federal específica. 
Siderurgia em Juiz de Fora descentraliza beneficamente o parque indus­
trial de Belo Horizonte; reforça a produção e oferece novo mercado de 
trabalho. Repúdio às tarifas alfandegárias dos EUA que prejudicam a 
22 R.C.P. esp./dez. 78 
exportação. Plano Básico de Tecnologia e Ciência tem o propósito de 
criar tecnologia própria e equilibrar tecnologia com humanismo. 
3. Política regional. Os pronunciamentos referentes à política regional 
englobaram, basicamente, interesses dos municípios. 
Intervenção nos municípios é para coibir atos ilícitos. Uma resposta 
sobre a intervenção nos municípios. Formação de associações municipais 
para englobar municípios com os mesmos interesses socio-econômicos. 
Elaboração de estatutos municipais para integrá-los aos planos federais 
e estaduais. Reforma municipal deve evitar esvaziamento dos impostos 
municipais. É necessária uma legislação maleável aos municípios para 
integrá-los ao II PND. O sistema de tributação múltipla estrangula a 
receita municipal. O desenvolvimento desigual tem por efeito que os 
municípios deixem a agricultura e optem pela industrialização. Municípios 
produtores de petróleo recebem pouco, o que tem causado prejuízos ao 
estado da Bahia. 
Além destes, foram abordados temas referentes às formas e processos 
de participação no processo industrial, tais como : "desenvolvimento do 
Centro-Oeste pode ajudar o país a superar os graves problemas que 
enfrenta. Relação da Sudene com diversos setores ligados ao desenvol­
vimento. Papel do Centro-Oeste na integração do desenvolvimento 
nacional. Colocação de pólo petroquímico no Nordeste garante o desen­
volvimento econômico; diminui, mas não acaba com o desequilíbrio 
regional. 
4. Trabalho. Todos os pronunciamentos que dizem respeito ao trabalho 
são abordados a partir de apreciações de órgãos governamentais ou da 
política trabalhista do Governo em geral. Não há referência a problemas 
no setor que tenham afetado o partido governamental. O discurso global 
nesta área tem a seguinte construção. 
É necessária a reestruturação das juntas trabalhistas e também o seu 
aumento. Importância do Serviço Social da Indústria (Sesi) no desen­
volvimento, em seus 25 anos: valoriza o trabalho, aumenta a produção 
e melhora o padrão de vida do trabalhador. Política trabalhista dá os 
melhores frutos: o milagre brasileiro, por exemplo. Na política trabalhista 
e de assistência nota-se a falta de capacidade financeira do Governo para 
pensões e auxílios. Por meio do Plano de Valorização do Trabalhador 
o governo convoca o trabalhador a participar; o plano vai proporcionar 
equilíbrio entre capital e trabalho. O Brasil tem condições de competir 
internacionalmente, pois tem mão-de-obra barata. Inaceitável o envelhe­
cimento precoce da mão-de-obra; com o desenvolvimento, os povos 
tendem a envelhecer. Fundo de pensão vem adicionar maior melhoria aos 
assalariados; melhora a distribuição da renda. 
As únicas referências a problemas que atingem o trabalhador, são as 
que dizem respeito ao trabalho de aluguel ou leasing. 
Trabalho temporário - leasing - contraria o direito à estabilidade do 
trabalhador; porta-voz de protesto dos bancários contra esse tipo de 
Congresso Nacional 23 
trabalho. Locação de mão-de-obra constitui escândalo e uma vergonha 
para nossa legislação social; são escravos do século XX. Acidentes de 
trabalho, principalmente na construção civil, causam danos às famílias 
dos acidentados, prejuízos e infrações aos órgãos sociais do Governo. A 
alteração na fórmula política salarial não basta; é necessário mudar a 
filosofia com o urgente aumento do salário mínimo, pois o povo passa 
fome. 
O item sobre trabalho apresenta ainda quatro pronunciamentos que 
dizem respeito à política salarial no sentido de preços e/ou salários, 
e um discurso relacionado à proteção ao consumidor, com os seguintes 
tópicos: ' 
Novos níveis de salário mínimo; equiparação elimina sub-regiões e 
tais medidas preparam o advento do salário mínimo uniforme. Poder 
aquisitivo - salário do operário diminuiu; INPS e Funrural recebem 
parcela de culpa. O Brasil perde com as importações, gerando desequi­
líbrio rural-urbano. Sugestão de vinculação entre diária mínima legal de 
um operário e o preço unitário de carne, leite e outros derivados da 
produção pastoril: o Brasil precisa continuar aumentando o consumo 
interno e a exportação de carne. Necessidade de proteção ao consumidor 
de automóveis. 
5. Saúde e assistência. Este tema tem seus discursos muito próximos 
daqueles relacionados com o trabalho. Notável, também, é a relação de 
saúde e assistência com o desenvolvimento. Em termos gerais, é possível 
perceber-se a preocupação de quanto os problemas relacionados ao tema 
poderão afetar o processo de desenvolvimento. A preocupação é, quase 
sempre, a manutenção de um mínimo de saúde e assistência para a 
mão-de-obra, com o objetivo de garantir um máximo para o desen­
volvimento. O teor do discurso é o seguinte: 
Com a distância aumentando entre campo e cidade, há necessidade de 
assistência ao trabalhador rural. É necessário ressaltar a importância da 
saúde pública para o desenvolvimento. Os baixos níveis urbanos de 
saúde e bem-estar prejudicam o desenvolvimento. A situação médico­
sanitária do Nordeste é caótica e pede intervenção estatal. A ausência de 
amparo do poder público ao menor abandonado é problema de ordem 
social. A assistência médico-hospitalar do Estado é onerosa e ineficiente; 
as sociedades médicas privadas são democratizadoras. Necessidade de 
reestruturação de entidades de assistência ao menor. Prazos políticos 
prejudicam as obras e ocasionam desastres; é preciso proteger o traba­
lhador de obras. É necessário integrar a ação da nutrição, saúde e 
educação em um plano piloto, para minorar os efeitos da desnutrição 
infantil no Nordeste. Descentralização do governo Abreu Sodré impul­
sionou programas de saneamento, saúde e hospitalar. Para maior segu­
rança em aposentadoria e assistência, é necessário inter-relação entre os 
períodos de trabalho no setor público e no setor privado. A situação do 
24 R.C.P. esp./dez. 78 
menor no Nordeste é de desnutrição; só o Funrural tem feito alguma 
coisa. 
Ao mesmo tempo em que há um limite na extensão da assistência por 
parte do Estado, tal como se viu no caso sobre as sociedades médicas 
privadas, existe, paralelamente, um desnível acentuado na ação do 
Estado entre os setores urbano e o rural. Trabalhadores rurais beneficiados 
com assistência poderiam ser mais numerosos; leis e decretos impedem 
maior extensão. A Fundação Nacional do Bem Estar do Menor 
(Funabem) encontra-se em condições de desempenhar o seu papel junto 
ao menor abandonado. Setor sanitário do Nordeste recebe sempre trata­
mento secundário; faz-se necessária uma emenda para modificar a dotação 
orçamentária. Assistência securitária ao homem do campo para garantir 
racional desenvolvimento agropecuário; garantir a produção por meio do 
crédito rural. Assistência do INPS por meio de convênios na Amazônia se 
estende ao rural e é plena e satisfatória. Ao invés do perigo do aumento 
demográfico, a preocupação deveria voltar-se para os perigos da densidade 
demográfica. 
Permanece, nos últimos discursos levantados, o problema do limite e 
dos desníveis na área de ação governamental. 
É necessário reformular o código de amparo ao menor abandonado. 
Apesar das realizações,o campo social ainda requer providências. Aten­
dimento médico-hospitalar precisa ser melhorado mediante extensão de 
credencial do INPS e aposentadoria é afetada pelo problema da permu­
tação entre o público e o privado. Ministério da Previdência e Assistência 
Social estimula o desenvolvimento da economia e promove valorização 
do trabalhador; deu ao Governo uma forma unificada e racional no 
campo da assistência. O Banco Nacional da Habitação (BNH) não foi 
criado para enriquecer alguns, mas para construir casas para quem 
necessita: crédito dos mutuários é estreito e os obriga a cair nas mãos 
de agiotas, jogando-os contra o Governo. Em Brasília e nas cidades 
satélites constata-se fome, e cerca de 80% dos brasileiros alimentam-se 
indevidamente; o créscimo de creme de soja a produtos alimentar~s pode 
melhorar o padrão de alimentação. 
6. Educação. Com pronunciamentos sobre a criação do Ministério da 
Ciência e Tecnologia, sobre verbas, bolsas de estudo, televisão, univer­
sidade, Mobral e reforma do ensino, este item teve a seguinte construção, 
durante o período legislativo 71!7 4. 
As grandes verbas para a educação desde 64 têm importância no 
desenvolvimento. O Banco Nacional da Educação tem por objetivo 
canalizar poupanças e impostos para a educação. A educação deve ser 
qualitativa e não fechada aos capitais. O Ministério da Ciência e Tecno­
logia deve ser criado para dar à educação técnica prioridade sobre a 
humanística. O Brasil está entre os países que mais destinam verbas para 
a educação. O Ministério da Ciência e Tecnologia terá por fim coordenar, 
impor, orientar e centralizar os recursos humanos. A televisão brasileira 
Congresso Nacional 25 
deseducH; Governo deve agir, revendo os códigos de comunicação. Pro­
grama Especial de Bolsas de Estudo é extensão ao trabalhador das oportu­
nidades do ensino médio, por meio dos sindicatos e do Ministério do 
Trabalho. Planos educacionais implantados no Ceará devem merecer mais 
atenção do Ministério da Educação e Cultura (MEC) para evitar a 
marginalização profissional; necessária uma adequação da reforma de 
ensino. O objetivo da Universidade Federal do Ceará deve ser o de um 
ensino e de uma pesquisa que proporcionem ao aluno uma identificação 
com problemas locais, e que aprenda a encontrar soluções válidas. 
São feitas alusões à Faculdade de Farmácia, curso profissionalizante e 
à Escola Superior de Guerra. 
A Lei que dispõe sobre controle sanitário de drogas farmacêuticas 
trouxe danosas conseqüências para a saúde pública e diminuiu o valor do 
farmacêutico como profissional; é necessária a fundação de um maior 
número de Faculdades de Farmácia. Ensino profissionalizante é meta 
de valorização do homem. Reforma do ensino tem sido burlada; cursos 
profissionalizantes surgem em toda parte, mas sem a necessária habilitação. 
Curso da Escola Superior de Guerra freqüentado por parlamentares, serve 
para aproximar militares de políticos. A Fundação Movimento Brasileiro 
de Alfabetização (Mobral) em Santa Catarina deve erradicar o analfa­
betismo. Declaração do ministro da Educação de estar disposto a levar 
avante uma ação ampla e profunda, sem qualquer idéia de dirigir ou 
controlar a criação cultural brasileira; a criação está na raiz do processo 
cultural. 
7. Administração. Este item não encontra pronunciamentos, a não ser 
com respeito à burocratização. 
O excesso de burocratização na área da borracha prejudica o desen­
volvimento. É importante o papel do Legislativo na racionalização da 
administração, para facilitar o desenvolvimento. 
8. Segurança. Os discursos referentes às Forças Armadas estão aqui 
relacionados. 
A participação das Forças Armadas em movimentos políticos é histórica. 
Elogio à ação cívico-social do Exército na preservação e defesa do 
povo. É importante o papel das Forças Armadas na manutenção da 
situação atual. 
Os aspectos diretamente relacionados com segurança são abordados 
nos seguintes discursos. 
Liberdade só é possível com a estabilidade. O Ato Institucional n<? 5 
preserva a liberdade. Os problemas do Brasil, em comparação com os 
do mundo, não são intransponíveis. Matança de índios e infertilidade do 
solo amazônico não passam de boatos. Solicitação de informação do 
governo de São Paulo sobre agressão a repórteres. Solicitação de um 
debate sobre a utilidade ou não do Conselho de Defesa dos Direitos da 
Pessoa Humana: será ou não importante o seu papel? 
26 R.C.P. esp.fdez. 78 
Foram feitos dois pronunciamentos sobre a liberdade de imprensa e um 
sobre sindicato. 
A liberdade de imprensa se torna excessiva quando põe em risco a 
segurança de cada um e a do país. A justiça brasileira cuida de todos 
". os episódios, e também daqueles que dizem respeito à liberdade de 
imprensa. Dos seis mil sindicatos, apenas vinte se encontram sob inter­
venção, atestando que o Governo não cerceia as agremiações. 
9. Transporte e comunicação. É um dos itens que apresenta uma apre­
ciável quantidade de pronunciamentos. Eles oscilam entre uma exaltação 
às obras federais e estaduais no setor e um relato das dificuldades da 
interligação de certas áreas. Num país em processo de desenvolvimento, 
por mais que prevaleçam os discursos na primeira forma - exaltação 
às obras governamentais - uma continuidade deste estilo esbarra no 
fato concreto de uma infra-estrutura de transportes limitada na sua capa­
cidade de suportar o peso das necessidades do desenvolvimento. Por 
outro lado, isto demonstra também as barreiras que persistem entre 
regiões - ilhas no pronunciamento de um dos parlamentares - impedindo 
um processo de maior interiorização. Um aspecto que se torna politica­
mente bastante sintomático, é a relevância que recebem certas obras de 
caráter estritamente regionais. Percebe-se uma resistência, por meio de 
um esvaziamento do âmbito da obra, utilizando-se justamente, e de uma 
forma insistente, os agradecimentos pela sua construção. Passemos então 
ao discurso global deste item. 
Relato da ação do Executivo em transportes, comunicações e energia. 
Exaltação das obras federais na área de comunicações da Amazônia. 
Papel da estrada de ferro Noroeste do Brasil em criar e interligar cidades, 
incentivando o comércio. Exaltação do papel de Brasília na integração 
da nação. O Programa Especial para o Vale do São Francisco (Provale) 
veio preencher uma lacuna até então existente na ação governamental; 
faz-se agora necessária a sua interligação a outras formas de comunicação. 
Necessário incrementar a infra-estrutura de transporte e comunicação para 
integrar as ilhas - um sistema econômico harmônico. Construção e 
manutenção de rodovias no Piauí e daí para o Nordeste. Os problemas 
da Amazônia, sem dúvida alguma, são aqueles referentes ao sistema rodo­
viário. Comentário de exposição do ministro do Interior sobre o incentivo 
de contatos com todas as áreas geopolíticas para aumentar o comércio. 
Outro aspecto a ser ressaltado é quanto ao significado que passa a 
tomar o termo integração e ainda quanto às referências às ilhas que 
devem desaparecer. Uma característica do processo de formação geo­
econômica do Brasil é que, como herança do período colonial, as regiões 
estiveram sempre voltadas para o centro e as ligações entre elas, interna­
mente, sempre foram muito precárias e difíceis. O surgimento de capitais 
nacionais, dizem alguns autores, contrabalançaria esta tendência de vez 
que estariam interessados em ampliar os mercados. No entanto, isto iria 
chocar-se com as formações político-econômicas de cada região aue já 
Congresso Nacional 27 
apresentavam uma estrutura interna montada. Contra esta observação 
surgiria, por sua vez, a objeção de que as crises por que passam tais 
estruturas políticas regionais seriam um sintoma da impossibilidade de 
resistência que elas possuem frente à expansão do capital. 
Uma outra formulação, mais próxima dos discursos aqui analisados, '" 
seria de que a tendência à regionalização econômica das áreas não desa­
pareceria, mesmo com o surgimento deinteresses capitalistas nacionais. 
Para não alterar as relações políticas de tais áreas, o que se teria de 
superar seriam as ilhas internas a tais áreas. 
De qualquer forma, uma comprovação mais segura desta hipótese 
demandaria a análise de outras variáveis, tais como: levantamento do 
fluxo de mercadorias inter-regionais e intra-regionais, origem e interesses 
a que estivessem ligados os capitais investidos nas regiões e, principal­
mente, em se tratando de referência que foi feita à estrutura político­
econômica das regiões, levantamento da intensidade (nível e grau) e tipo 
(qualificação) de fluxos de mão-de-obra em migrações inter-regionais e 
intra-regionais. Os discursos que a seguir mostram a relevância do apro­
fundamento que seria necessário, com este sentido, neste tipo de análise. 
A inauguração da estrada que liga o Maranhão ao Pará é elogiada, 
pois facilita a redenção econômico-social como corredor de pecuária e 
agricultura. Redivisão geopolítica em bases mais racionais. Agradecimento 
pela inauguração de ponte e rodovia no Piauí; é necessário, para comple­
mentar esta obra, o retorno da navegação ao Vale do Paraíba. Ferrovias 
são importantes para o desenvolvimento; seus problemas são incompe­
tência administrativa e falta de uma legislação. Amazônia será con­
quistada pela Cuiabá-Santarém; é necessário também a conclusão de 
rodovias do Mato Grosso incluídas no Prodoeste. O Brasil necessita de 
ligações rodoviárias; a economia amazônica necessita de ligações rodo­
viárias; o Nordeste ocidental desenvolve-se, mas a agropecuária acha-se 
esquecida; necessidade de rodovias e do aproveitamento da bacia hidro­
gráfica do Vale do Parnaíba, no Piauí. O Piauí, Ceará e Maranhão 
precisam ser incluídos no Plano Nacional de Viação para escoar a 
produção agropecuária. Impõe-se a recupe~ação da bacia do rio Paraíba; 
seu principal problema é a poluição. Transporte fluvial foi abandonado 
no Brasil e a prova é que o minério da serra dos carajás teria melhor 
escoamento pelo rio Tocantins além de permitir o aproveitamento do 
potencial hidrelétrico; ao invés disso optou-se por via férrea. Unir bacias 
do São Francisco e Parnaíba atenderia interesses do Piauí, Bahia e Minas 
Gerais. Solicitação da pavimentação de rodovias do Mato Grosso, incluí­
das na área do Prodoeste, importantes para escoar a produção. 
Um aspecto que chama atenção para o problema do isolamento regional, 
aliado ao aprofundamento do processo de desenvolvimento em cada 
região de per si, se liga aos discursos que fazem referência aos corredores 
de exportação. Assim, temos o seguinte pronunciamento. 
28 R.C.P. esp./dez. 78 
Obras no setor de viação nacional que atingem Santa Catarina estão 
incompletas; o centro e o sul catarinenses continuarão isolados: há 
necessidade de um corredor de exportação. A administração do Gover­
nador Antônio Carlos Magalhães tem seu mais importante feito, na 
advertência do aumento das disparidades regionais, com maior concen­
tração no centro-sul. Plano hidroviário do Parnaíba, integrado ao rodo­
viário, beneficiará transportes e desenvolvimento econômico da região. 
Ferrovias não constituem obsoletismo em transporte; os terminais marí­
timos dos corredores de exportação é que não se devem fixar somente 
em Santos, Rio de Janeiro e Vitória. 
10. Diversos. Abriu-se este item para atender os pronunciamentos que 
não se enfeixassem em nenhum dos anteriores, Neste caso, entraram as 
homenagens prestadas pelos parlamentares. Segue-se um levantamento dos 
temas e das quantidades de vezes que tenham sido prestadas homenagens 
aos mesmos. Em alguns casos o teor do discurso também é incluído. 
a) Revolução Paulista - 3 pronunciamentos, homenagem. 
b) Castello Branco - 6 pronunciamentos. As referências tiveram a 
seguinte construção: "preparador do terreno para os Governos da 
Revolução; vocação democrática; acentuou os ideais democráticos da 
Revolução" . 
c) Caxias - 4 pronunciamentos. 
d) Semana da Pátria - 3 pronunciamentos. 
e) Costa e Silva - 1 pronunciamento. 
f) Revolução de 64 - 1 pronunciamento. 
g) Dia do Médico - 1 pronunciamento. 
h) FAB - 1 pronunciamento. 
i) Vítimas internacionais comunistas - 1 pronunciamento 
j) Dia Nacional da Ação de Graças - 1 pronunciamento. 
k) Dia do funcionalismo - 1 pronunciamento. 
1) 59 Batalhão de Engenharia - 1 pronunciamento. 
m) Dia da Bandeira - 1 pronunciamento. 
n) Trabalhador rural - 3 pronunciamentos. 
o) Dia do Trabalho - 2 pronunciamentos. 
Os demais pronunciamentos de homenagens, com um total de um para 
todo o período legislativo foram: exaltação à comunidade luso-brasileira, 
a Tamandaré, a Congregação dos Salesianos, à obra de Euclides da 
Cunha, à Semana do Exército, ao BNH, ao Estado do Rio, "à figura 
humana do fluminense, um tipo pacífico, amante da ordem, paz, equilí­
brio" -, ao Dia da Independência, ao Manifesto da Ação Integralista, 
ao Governo Médici, à memória de Getúlio Vargas "harmonizador do 
capital e do trabalho e fiel aos anseios populares e nacionalistas", a 
parlamentares japoneses, homenagem póstuma a Adauto Lúcio Cardoso, 
saudação ao Ministro Tanaka, do Japão. 
Congresso Nacional 29 
2.1.2 Câmara federal 
2.1.2.1 Grande expediente - MDB - Lidice A. Pontes Maduro 
A bancada emedebista na Câmara Federal, durante a sétima legislatura 
(1971-74), ocupou a tribuna para tratar, principalmente, de assuntos 
econômicos, políticos e de política regional. Do total de discursos sele­
cionados (tabela 1), 340 (42,5 %) são do MDB e estão distribuídos 
pelos 10 itens adotados como critério de classificação: 
Quadro 2 
Temas selecionados 
1. Política 70 ( 21 %) 
2. Economia 95 ( 28% ) 
a) Finanças 33 
b) Agricultura 47 
c) Indústria 15 
3. Política regional 66 ( 19% ) 
4. Trabalho 22 ( 7%) 
5. Saúde e assistência 15 ( 4%) 
6. Educação 19 ( 5% ) 
7. Administração 17 ( 5%) 
8. Segurança 5 ( 2%) 
9. Transporte e comunicações 6 ( 2%) 
10. Diversos 25 ( 7%) 
Total 340 (100% ) 
A seguir, desenvolvemos cada um dos itens segundo a poslçao dos 
parlamentares emedebistas, as críticas feitas aos vários aspectos discutidos 
e as sugestões apresentadas. Os temas serão apresentados em forma de 
discurso - discurso global, como o chamamos, pois engloba as várias 
tendências dos dois partidos: Arena e MDB. Alguns dos itens selecionados 
sofreram uma subdivisão para facilitar a abordagem do tema, como foi 
o caso do item economia que, devido à diversidade de assuntos, foi 
subdividido em três subitens: finanças, agricultura e indústria. 
O discurso global apresentado agora refere-se ao período do grande 
expediente: 
1. Política. Dentre todos os tópicos abordados nessa legislatura, o item 
referente a política foi dos que mereceram maior atenção dos parlamen-
30 R.C.P. esp./dez. 78 
tares do MDB (21 % ). Procuramos agrupar os principais aspectos 
discutidos na Câmara Federal, os quais relatamos a seguir; 
Trabalho do Congresso. O trabalho foi considerado produtivo, princi­
palmente na Câmara, apesar de o Executivo não dar a devida consi­
deração ao Legislativo, que é poder integrante e autônomo da nação. 
Os parlamentares não têm muitas opções, pois a maioria dos assuntos está 
vedada ao congressista. As leis 3ão feitas pelos técnicos do Ministério do 
Planejamento e os assessores da presidência, cabendo ao Congresso o 
referendum dos estudos feitos. A falta de assessoramento técnico que 
possibilite ao deputado fazer uma análise profunda dos projetos, bem 
como apresentar emendas, é um dos grandes entraves ao trabalho 
parlamentar. 
A formação de comissões deveria ser feita com maior atenção para 
que dela participassem pessoas capacitadas no assunto a ser estudado. 
Propõem reformas no trabalho das comissões e algumas fusões (comissões 
regionais, economia e finanças). A publicação dos pronunciamentos não 
é assegurado, as CPls sofrem muitas limitações e a imunidade parla­
mentar praticamente não existe; estas são algumas das queixas dos 
emcdebistas. 
Dentre as limitações ao exercício do Poder Legislativo, encontram-sea 
fidelidade partidária, limitação na apresentação dos projetos de lei, prazo 
para apreciar os projetos, as leis delegadas, os decretos-leis beneficiando 
o Executivo. As medidas do Governo, como o impedimento aos suplentes 
de assumir o mandato, foram apontadas como forma de exterminar a 
oposição. 
Posição do Executivo em relação ao Congresso. O Legislativo está esva­
ziando e o Executivo se imbuindo das funções legislativas quando lança 
mão dos decretos-leis. O fortalecimento do Executivo não deveria significar 
abdicação das prerrogativas do Legislativo. É essencial, numa democracia, 
que a um executivo forte corresponda um Legislativo igualmente forte 
e um Judiciário autônomo, de forma que cada um respeite o outro, 
sendo ao mesmo tempo reciprocamente dependentes. Não se pode admitir, 
na teoria democrática, a hipertrofia do Executivo, como vem acontecendo 
após 64. O Legislativo não pode ser um simples órgão ratificador, 
precisa participar e influenciar as decisões nacionais. 
Legislação de exceção. Necessidade de restabelecer a plenitude demo­
crática a fim de mostrar a boa intenção do Governo. 
Pedem o restabelecimento do habeas-corpus para crimes políticos, pro­
põem estudos de revisão constitucional, inclusive para garantir o direito 
de voto da população de Brasília. 
A censura e o Ato Institucional n!? 5 prejudicam as críticas à política 
governamental; com medo da liberdade, o Governo mantém as eleições 
indiretas, os Atos Institucionais e a negação da anistia. Pedem a liberdade 
de imprensa, sindical, partidária e de cátedra. 
Congresso Nacional 31 
Os parlamentares do MDB afirmam que o estado de direito pode ser 
restabelecido, pois a plenitude democrática oferece todos os meios de 
ação para que o movimento revolucionário se imponha, a não ser que 
ela signifique e exista para o império das oligarquias e dos privilégios. 
As limitações constitucionais atingem os dois partidos; a Arena que 
ganhou em quase todos os estados não governa, não tem força decisória. 
O poder militar é que toma todas as decisões sem qualquer consulta à 
facção política representativa do povo. 
As eleições e o funcionamento do Congresso não significa plenitude 
democrática, o que é reconhecido pelo próprio Governo. 
O radicalismo não compensa e provoca retrocesso político, por isso é 
necessário ter liberdade assegurada para a integração das massas, hoje à 
margem da vida econômica e política. 
Política nacional. A concentração e a elitização são uma tônica na vida 
nacional. Há uma tendência de reduzir os núcleos de decisão ao acúmulo 
do poder. O centralismo administrativo é forma de boicotar o princípio 
federalista; o municipalismo se acha comprometido pelas intervenções 
freqüentes. A concentração no campo político se traduz nas eleições 
indiretas, no voto vinculado, na fidelidade partidária, na sublegenda e no 
voto distrital. 
No que se refere à segurança nacional, ela se traduz na tranqüilidade 
da nação, na perenidade das instituições, na solidez do regime, na ausência 
de conflitos sociais, na garantia do trabalho, da educação, da família e 
dos direitos da pessoa humana. 
Vários pontos omissos na mensagem do Presidente Médici, no o.ue se 
refere à política nacional, foram analisados; entre eles estão os dese­
quilíbrios regionais, a desnacionalização da economia, a distribuição da 
renda, a dívida externa brasileira. A principal omissão é a de restauração 
democrática, prometida no início do seu Governo. 
Campanha eleitoral. Os temas abordados na campanha eleitoral foram 
apontados como relacionados com a realidade brasileira. Entre eles estão: 
a desnacionalização da economia brasileira, a dívida externa, política 
salarial, o desemprego e subemprego, a assistência previdenciária defi­
ciente, a aplicação do Decreto-lei n<? 477 quando os estudantes reclamam 
por melhor ensino. A campanha eleitoral enfatiza a intensa e espontânea 
participação popular em favor de candidatos do MDB, apesar do apoio 
do Governo e da utilização dos instrumentos do poder para os candidatos 
oficiais. 
Eleições. A votação obtida pelo MDB, em 74, foi considerada uma 
represália às medidas impopulares adotadas pelos tecnocratas da Revo­
lução. A vitória do MDB em estados governados pela Arena é mais 
difícil e valorizada; significa a condenação de aspectos restritivos do 
regime e não do Executivo ou do sistema; a vitória fortalece o presidente 
Geisel e seu objetivo de distensão política. 
.. .., 
.)- R.C.P. esp.fdez. 78 
Foram feitas críticas à corrente existente no partido, no Estado da 
Guanabara, a qual não pode ser confundida com todo o partido; apontam 
aspectos negativos da campanha, e a utilização da difamação como 
arma eleitoral e as dificuldades encontradas por alguns emedebistas para 
se reelegerem quando não contam com uma máquina para apoiá-los. 
Legitimidade da representação popular. f: necessário que se dê autenti­
cidade e legitimidade à representação do povo no Congresso, defendendo 
o fato que o pragmatismo adotado pelo Governo na poltíica externa deve 
ser considerado internamente, para dar legitimidade aos governos esta­
duais e aos partidos políticos. 
Processo Francisco Pinto. Foi discutido o fato de o Deputado Francisco 
Pinto ter sido processado por denunciar ofensas à Declaração Universal 
dos Direitos Humanos, praticadas por um chefe de governo. Discutem a 
possibilidade de se falar em descompressão política e reabertura demo­
crática quando se é processado por pronunciamento essencialmente 
político. 
Martim du Nord é citado quando se referem à inviolabilidade parla­
mentar: "a inviolabilidade de qualquer deputado pode assegurar 3 inde­
pendência da Câmara inteira". 
Os parlamentares emedebistas fazem algumas sugestões visando o 
aprimoramento do processo legislativo, entre elas: 
• que o Legislativo possa melhorar os projetos oriundos do Executivo 
e não homologá-los simplesmente; 
• as reformas no Legislativo devem começar pelo funcionalismo mal­
remunerado e maior apoio ao trabalho das comissões; 
• criação de um terceiro partido; 
• sujeitar ao Congresso os projetos impacto e que sejam principalmente 
de cunho político; 
• realizado pelo MDB de simpósios no campo da política interna e 
externa, e a organização do partido em todos os setores, preparando-se 
para o estudo profundo da problemática nacional, a fim de se transformar 
no instrumento de defesa dos interesses das camadas populares; 
• separação de poderes como uma distinção de funções a serem exer­
cidas por órgãos independentes, embora coordenados e interdependentes 
na ação. 
2. Economia. a) Finanças. A política do arrocho salarial adotada pelo 
Governo é responsável pelo aumento da desigualdade entre a população. 
O país apresenta índices positivos de crescimento em alguns setores, mas 
um verdadeiro desenvolvimento só pode se realizar com a elevação social 
das massas pela preservação do seu poder aquisitivo. A distribuição da 
renda foi relacionada com o sistema tributário e ressaltado o fato de 
o Governo, contrariando a Constituição de 46, prestigiar o imposto 
indireto, que sacrifica o trabalhador assalariado, pois recai sobre todos 
igualmente. 
Congresso Nacional 33 
Pesquisas realizadas pela Fundação Getulio Vargas, Fundação Ford e 
Ministério da Agricultura mostram nitidamente as disparidades existentes. 
Comparando os perfis de distribuição da renda entre 1960 e 1970, 
verifica-se que o agravamento da concentração da renda é devido à 
compressão salarial e que o poder aquisitivo da população sofreu um 
esvaziamento de 45 % nesse período. 
O modelo de desenvolvimento econômico pouco fez pela distribuição 
da renda, permanecendo os desníveis e a depressão social. A presença 
do ministro da Fazenda na Comissão de Finanças permitiu localizar 
contradições na política econômico-financeira: a ação, tendo em vista 
evitar a elevação dos custos e parar a espiral inflacionária, foi direcionada 
exclusivamente sobre os salários, que não são o único componente do 
custo final do produto. Do ponto

Continue navegando