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INOVACOES DISRUPTIVAS NAS INDUSTRIAS DE ENTRETENIMENTO, TRANSPORTE E TURISMO_ seu impacto economico e as perspectivas para um futuro digital - Gabriel Fontes - VersaoFinal

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GABRIEL FIGUEIREDO FONTES 
 
 
INOVAÇÕES DISRUPTIVAS NAS INDÚSTRIAS DE ENTRETENIMENTO, 
TRANSPORTE E TURISMO: SEU IMPACTO ECONÔMICO E AS PERSPECTIVAS 
PARA UM FUTURO DIGITAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia submetida ao corpo docente do 
Departamento de Administração da 
Universidade Federal Fluminense como 
requisito parcial para obtenção do Grau de 
Bacharel em Administração. 
Área de Concentração: Administração 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Maurício de Souza Leão 
 
 
 
 
Universidade Federal Fluminense 
Curso de Administração 
Niterói, 2022 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 A minha trajetória dentro da faculdade foi de muitos erros, acertos, mudanças 
e aprendizados. Nada disso teria sido possível sem a ajuda de todas as pessoas que 
fazem parte da minha vida. Agradeço todos os dias pelos meus familiares, minha 
namorada e meus amigos. São essas relações que dão sentido à vida e aos esforços 
que fazemos. 
 Agradeço também aos professores que marcaram minha trajetória acadêmica. 
Vocês foram uma parte importante na minha formação intelectual e moral, e levarei 
suas contribuições junto comigo para sempre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 A criação de valor para uma empresa pode ou não se refletir num aumento do 
valor real criado para a economia e para a população do país. Em um cenário onde 
inovações disruptivas e digitais estão em ascensão, é importante que sejam 
entendidos os possíveis impactos dessa mudança na economia do futuro, bem como 
discutir possíveis medidas mitigadoras para proteger a sociedade de eventuais 
impactos negativos. 
O presente trabalho tem como objetivo avaliar o impacto econômico que 
inovações disruptivas têm na economia de um país ou região onde são difundidas, 
por meio da análise de cases e das perspectivas e históricos dos seus respectivos 
mercados antes e depois do surgimento dessas inovações. 
Como principais resultados, foram observados impactos econômicos positivos 
em todas as inovações disruptivas estudadas. Além disso, foram propostas 
alternativas para maximizar os ganhos econômicos dessas inovações de maneira a 
reverter em benefícios para a população, utilizando políticas regulatórias e fiscais que 
se adaptem à realidade de mudança da era digital. 
 
 Palavras-Chave: Inovações Disruptivas, Criação de Valor, Revolução Digital, 
Inovação, Economia, Regulamentação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 Value creation for a company may or may not be reflected on an increase of 
true market value for a given economy or population. In a scenario where disruptive 
and digital innovations are in an uprise, it's important to understand the potential 
impacts of these changes in the future economy, as well as discuss mitigating 
measures to protect the society from possible negative impacts. 
 The purpose of this work is to evaluate the economical impact of disruptive 
innovations on the markets where they are widespread by analysing cases, the history 
and future outlook for their respective markets before and after those innovations. 
 The main results observed were the positive economic impact of every 
innovation analysed. Moreover, alternatives to maximize the economic benefits of 
these innovations were discussed, aiming to use regulatory and fiscal policies that are 
adaptable to the changing pace of the digital era in favor of the general population. 
 
 Keywords: Disruptive Innovations, Value Creation, Digital Revolution, 
Innovation, Economics, Regulation 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO 
1.1. Tema e Contextualização 
1.2. Objetivos da Pesquisa 
1.2.1. Objetivos Específicos 
1.2.2. Metodologia de Pesquisa 
1.2.3. Coleta de Dados 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
2.1. Os conceitos de Inovação 
2.2. A Tecnologia 
2.3. A Inovação Disruptiva 
3. ESTUDOS DE CASO 
3.1. Streaming x Vendas de CDs 
3.2. Aplicativos de Corrida Particular x Táxi 
3.3. Airbnb x Hotéis 
4. DISCUSSÃO 
4.1. Resumo dos Casos 
4.2. Mitigação de Impactos Negativos 
4.2.1. Uma alternativa regulatória 
4.2.2. Uma alternativa fiscal 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
1 - INTRODUÇÃO 
 
1.1 - TEMA E CONTEXTUALIZAÇÃO 
 
 Ao longo do desenvolvimento da humanidade, nossos ancestrais viveram em 
um mundo de “soma-zero”, onde alcançar o sucesso significava tirar algo de alguém 
(THIEL e MASTERS, 2014). Os recursos naturais eram consumidos em sua essência, 
sem se utilizar de tecnologias para melhor aproveitamento deles. Nesse momento, 
com recursos em abundância e uma população muito pequena, tecnologias 
 
 
produtivas, como a agricultura, não eram necessárias para o sustento da população. 
Com o crescimento populacional e o desenvolvimento de técnicas primitivas de 
agricultura e a domesticação de plantas e animais, as atividades de cultivo eram 
realizadas por boa parte da população, que produziam tanto para subsistência quanto 
para a troca por outros alimentos. Hoje em dia, com mais de 7 bilhões de pessoas no 
planeta, cada vez menos pessoas trabalham na agricultura, já que o desenvolvimento 
tecnológico permite que uma parcela pequena da população mundial produza 
alimentos suficientes para o restante. De acordo com o World Bank, a porcentagem 
da população que trabalha com a agricultura passou de 44% em 1991 para 28% em 
2018 (The World Bank, 2018). 
 Essas inovações e desenvolvimentos tecnológicos evidenciam como, em um 
mundo com recursos naturais finitos, o aumento da produtividade torna-se essencial 
para garantir o abastecimento de todos. De maneira explícita, com recursos escassos, 
a globalização é insustentável sem inovação e novas tecnologias (THIEL e 
MASTERS, 2014). 
 Dentro dessas inovações, algumas podem ser classificadas como disruptivas, 
quando seu resultado ou seu processo tornam as alternativas anteriores ineficientes 
ou inviáveis (Millar et al, 2018). O termo “inovações disruptivas” foi criado por Clayton 
Christensen em um artigo de 1995 para a Harvard Business Review1. De acordo com 
o Dicionário Online Michaelis, disrupção é a “quebra do curso normal de um 
processo”.2 A agricultura, conforme citado anteriormente, é um exemplo fundamental 
de uma inovação disruptiva, que mudou para sempre a maneira de se cultivar e 
produzir alimentos dentro da sociedade - alimentar a população mundial sem a 
agricultura moderna é inviável. O curso normal do processo, ou seja, a colheita de 
alimentos da natureza sem a interferência humana em seu plantio, cultivação e 
domesticação, foi quebrado. 
Num contexto mais atual, as inovações disruptivas na era digital, 
ocasionalmente nomeadas de disrupção digital, desafiam a existência de companhias 
consolidadas e podem causar efeitos sistêmicos em indústrias e mercados (SKOG, 
WIMELIUS e SANDBERG, 2018). Essas inovações, muito impulsionadas pela 
 
1 CLAYTON, Christensen; BOWER, Joseph. Disruptive Technologies: Catching the Wave. Disponível 
em: <https://hbr.org/1995/01/disruptive-technologies-catching-the-wave>. Acesso em: 14 dez. 2021. 
2 DISRUPÇÃO. Michaelis, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em: 
<https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/disrupção/>. Acesso em: 
30 nov. 2021 
 
 
revolução digital, possuem uma extraordinária capacidade de criar valor para 
empresas e transformar setores da economia (CRAINER, 2014). A tecnologia permite 
uma redução drástica no custo para a empresa e para o consumidor final, por meio, 
por exemplo, da automatização de processos produtivos e aumento na eficiência 
operacional3. Além disso, inovações disruptivas possuem enorme escalabilidade. 
Essa inovação digital pode ser entendida como “o processo de combinar 
componentes digitais e físicos para criar aparelhos, serviços ou modelos de negócio 
novos, [...] e os inserindo em ambientes sociotécnicos mais amplos, permitindosua 
difusão, operação e uso” (SKOG, WIMELIUS e SANDBERG. Digital Disruption, 2018). 
O intuito deste trabalho é analisar se essa criação de valor tem reflexos 
positivos na economia. A criação de valor para as empresas inovadoras é claro, mas 
resta analisar se o ganho de eficiência e escala, juntamente com o possível 
sucateamento da concorrência, possui um impacto negativo na economia. Indústrias 
que antes possuíam uma vasta variedade de empresas envolvidas em um 
determinado processo, como o de comercialização de música, por exemplo, acabam 
sendo reduzidas a poucas alternativas inovadoras. No lugar de centenas de lojas e 
gravadoras de música, a receita de comercialização agora fica concentrada em 
grandes empresas como Spotify e Apple. 
 A hipótese a ser estudada é de que a redução de horas trabalhadas, o ganho 
de eficiência e a tendência ao surgimento de monopólios promovido por inovações 
disruptivas pode levar a uma redução do valor total de mercado do setor afetado, 
impactando negativamente a economia do país. No entanto, a maior difusão de um 
certo serviço ou produto pode compensar esse efeito, aumentando o número de 
usuários e/ou vendas, levando a uma criação de valor para a economia. 
 Para isso, será necessário entender em que magnitude o valor de mercado de 
setores que possuem forte atuação de alternativas disruptivas, como o mercado de 
aluguel de filmes, compra de CDs ou corridas particulares, por exemplo, foi impactado 
nas últimas décadas. 
 
 
 
 
3 GREWAL, Dhruv et al. “The future of technology and marketing: a multidisciplinary perspective”, 
2019. Disponível em: <https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s11747-019-00711-4.pdf> 
Acesso em 24 nov. 2021 
 
 
1.2 - OBJETIVOS DA PESQUISA 
 
 O objetivo geral desta pesquisa será analisar o impacto econômico das 
principais inovações disruptivas, entendendo se elas tendem a gerar ou subtrair valor 
da economia dos países onde são difundidas. 
 Para isso, será essencial estudar os setores mais afetados por essas 
inovações, observar o histórico de crescimento desses setores e suas perspectivas 
para o futuro, explorar os casos de sucesso de empresas que dominaram novos 
mercados com inovações disruptivas e o impacto da extinção de suas alternativas 
passadas na economia. 
 A partir dessas conclusões preliminares, será possível analisar a importância 
de existir uma regulamentação sólida sobre inovações disruptivas e a necessidade 
de se proteger a economia de um país de mudanças drásticas em suas indústrias. 
 
1.2.1 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 Para alcançar o objetivo geral de fazer uma análise do impacto econômico das 
inovações disruptivas, será necessário aprofundar em alguns pontos principais, como: 
 
● Identificar setores amplamente afetados pelas inovações disruptivas 
nos últimos anos; 
● Analisar como as respectivas indústrias se adequaram às mudanças; 
● Estabelecer métricas para serem utilizadas como uma base 
comparativa do valor agregado de mercado desses setores antes e 
após o surgimento dessas inovações; 
● Formular uma conclusão com as expectativas sobre os impactos futuros 
de inovações disruptivas em mercados ainda não explorados. 
 
 Antes disso, no entanto, é importante entender o que é uma inovação, as suas 
diferentes formas e que características podem ser usadas para tentar definir as 
inovações disruptivas. 
 
1.2.2 - METODOLOGIA DE PESQUISA 
 
 
 
 Para classificação da metodologia de pesquisa utilizada, será considerada a 
tipologia proposta por GIL (2002) e VERGARA (1998) com relação ao caráter e meio 
de investigação. 
A presente pesquisa terá caráter exploratório. Esse tipo de pesquisa nos 
permite explorar uma área com pouco conhecimento sistematizado, mas não 
comporta hipóteses que poderão surgir durante ou ao final da pesquisa (VERGARA, 
1998), e pode ser definida da seguinte forma: 
 
Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade 
com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir 
hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo 
principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu 
planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a 
consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. 
(GIL, 2002, p. 41) 
 
 Também serão abordados estudos de caso. Essa é uma modalidade de 
pesquisa que consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de 
maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento (GIL, 2002). É importante 
ressaltar que, ainda segundo o livro “Como elaborar projetos de pesquisa” (GIL, 
2002), os resultados de estudos de caso, de modo geral, são apresentados na 
condição de hipóteses, não de conclusões. 
 Em definição similar, VERGARA (1998, p. 47) define o estudo de caso como 
“circunscrito a uma ou poucas unidades”, tendo “caráter de profundidade e 
detalhamento” 
 
1.2.3 - COLETA DE DADOS 
 
 Os dados para este trabalho serão coletados por meio de pesquisas na 
ferramenta Google Scholar e Scielo, utilizando-se, dentre outras, das palavras-chaves 
“inovação”, “inovação disruptiva”, “disruptividade”, “uber”, , “spotify”, “streaming”, 
“airbnb”, “setor hoteleiro”. Será importante buscar algumas métricas-chave para o 
comparativo dos diversos segmentos, quando possível. Dentre essas métricas, a 
mais importante será o faturamento do setor antes e depois da difusão das inovações 
a serem estudadas, o que dará uma base comparativa para se analisar o impacto 
econômico direto delas. 
 
 
 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
 
2.1. OS CONCEITOS DE INOVAÇÃO 
 
O termo “inovação” traz, em geral, a imagem de revoluções tecnológicas, 
realizadas por mão-de-obra altamente qualificada, muito comumente aos grandes 
centros econômicos e tecnológicos do mundo. Essa visão, no entanto, é apenas uma 
das possibilidades de inovação. A inovação, no sentido de atividade de testar novos 
produtos, processos ou maneiras de se resolver problemas, é um aspecto observável 
em quase todas as atividades econômicas (Kline and Rosenberg 1986, Bell and Pavitt 
1993). 
Em uma interpretação similar, RANCHORDAS (2015) descreve a inovação 
como um conceito mais amplo que a mais recente tecnologia, sendo um fenômeno 
que pode ter desdobramentos positivos na condição de vida de pessoas e no 
fortalecimento de comunidades. 
Ainda em um viés semelhante, para Tidd e Bessant (2015, p.6) exemplificam 
a inovação enquanto modelo de negócios, se distanciando da obrigação fazer uso de 
alta tecnologia: 
 
É importante destacar que a inovação e o sucesso competitivo não dizem 
respeito apenas a empresas que fazem uso da alta tecnologia; a empresa 
alemã Wurth, por exemplo, é a maior fabricante de parafusos do mundo, com 
um volume de negócios de 7,5 bilhões de libras. Apesar da competição de 
baixo custo na China, a empresa conseguiu permanecer à frente graças à 
ênfase na inovação de produtos e processos [...]. (TIDD e BESSANT, 2015, 
p. 6) 
 
Isso não significa, no entanto, que a inovação de alta tecnologia seja menos 
relevante ou importante. Certas inovações representam um avanço tecnológico 
extraordinário na capacidade de se atingir um objetivo específico. Essas tecnologias 
revolucionárias são definidas por Hein, Jankovic e Condat (2017, p. 1, tradução 
própria) como “tecnologias que introduzem capacidades radicalmente novas ou um 
aumento de desempenho de pelo menos uma ordem de grandeza”. Os autores citam 
como exemplos os motores de turbojato, os sistemas de navegação inercial, os carros 
autônomos e o sistema de pesquisas do Google, e afirmam que “essas tecnologias 
podem levar a mudanças radicais no status quo”. 
 
 
Nesse contexto, é interessante pontuar que a inovação possui uma definição 
efêmera, já que seu status inovador só existe enquanto seu subproduto, seja uma 
tecnologia revolucionária, um novo modelo de modelos ou qualquer outra forma, não 
se tornoucomum ou rotineiro na sociedade. Uma tecnologia antes altamente 
inovadora, como a lâmpada, geladeira ou até mesmo o mecanismo de busca do 
Google, hoje não é mais considerada inovação. Essa peculiaridade é bem 
caracterizada por Susan Wojcicki, atual CEO do Youtube, que ainda torna claro como 
essa efemeridade torna um desafio a implementação de uma cultura de constante 
inovação dentro das empresas: 
 
As maiores inovações são as que não valorizamos, como lâmpadas, 
refrigeração e a penicilina. Mas em um mundo onde o milagroso rapidamente 
se torna comum, como uma companhia, especialmente uma tão grande 
quanto a Google, será capaz de manter um espírito de inovação ano após 
ano? (WOJCICKI, 2011.) 
 
 
Considerando o objetivo principal da presente pesquisa, vale notar que “a 
tecnologia revolucionária não garante sua adoção e seu concomitante crescimento 
econômico nas comunidades afetadas” (SenGupta et. al, 2017. Tradução nossa). 
Dessa maneira, as inovações e tecnologias que tiveram uma adoção ampla terão 
mais relevância para estudar o impacto econômico por elas ocasionado, este sendo 
o objeto central de estudo deste trabalho. 
 
2.1. A TECNOLOGIA 
 
Para se discutir a importância da tecnologia, é essencial entender a sua 
definição. O termo tecnologia começou a ser usado com o significado atual apenas 
na segunda metade do século XIX, sendo comumente utilizado em paralelo com o 
termo “Revolução Industrial”, caracterizando as profundas mudanças ocorridas na 
sociedade ocidental com o desenvolvimento e popularização dos processos 
industriais4. 
 
4 MURPHIE, Andrew; POTTS, John. Culture and technology. Macmillan International Higher 
Education, 2017. 
 
 
De acordo com Potts e Murphie (2017), a origem etimológica da palavra vem 
da combinação dos termos gregos “tekhne”, significando arte ou artesanato, e “logos”, 
significando sistema ou estudo. Originalmente tendo um significado próximo a “estudo 
das artes”, a palavra era utilizada com esse sentido nos séculos XVII e XVIII. 
No texto de Potts e Murphie, “Culture and Technology” (2017), os autores 
discutem diversos significados para a conotação moderna da palavra tecnologia, 
explicitando que o termo pode ser utilizado para descrever desde objetos específicos, 
como uma televisão ou um computador, até definir toda a existência da sociedade 
moderna, explicitando que pode ser dito que vivemos na tecnologia, cercados por 
sistemas tecnológicos e dependentes deles. 
Na percepção comum, os conceitos de tecnologia e alta tecnologia podem se 
confundir, entendendo-se por “tecnologia” somente as demonstrações de inovação 
tecnológica no estado da arte de algum produto, serviço ou indústria. Comprovando 
esse fenômeno, Schatzberg (2018) escreve que “no discurso popular, tecnologia é 
pouco mais do que uma abreviação da mais recente inovação em dispositivos digitais” 
(SCHATZBERG, 2018, p.1, tradução própria). 
Nesse contexto, inovações muitas vezes são impulsionadas por evoluções 
tecnológicas que permitam solucionar um problema de uma maneira mais rápida, fácil 
ou barata. Dentre elas, algumas inovações são consideradas disruptivas, e a 
tecnologia disruptiva pode ser a mudança motivadora para a sua existência. No 
entanto, conforme será explorado no próximo capítulo, as inovações disruptivas 
possuem diversas motivações, e a tecnologia disruptiva é apenas uma delas. 
 
 
 
2.2. A INOVAÇÃO DISRUPTIVA 
 
O conceito de inovação disruptiva foi inicialmente criado por Clayton 
Christensen, em um artigo de 1995 na Harvard Business Review, e depois 
aprofundado em seu livro, O Dilema da Inovação (1997). Um fator chave a se observar 
é que a inovação disruptiva não vem necessariamente acompanhada de uma 
tecnologia disruptiva. De acordo com o Dicionário Michaelis, disrupção significa “ato 
de romper, fraturar; quebra de um curso normal de um processo”. Aplicando à 
realidade de mercado, uma mudança disruptiva envolveria uma ruptura com o 
 
 
tradicional, fazendo com que o curso normal do processo já não faça mais sentido 
para uma parcela significativa dos clientes. Dessa maneira, a nova solução precisa 
trazer um benefício grande a ponto de tornar a volta ao antigo praticamente inviável 
ou fortemente indesejável para uma grande fatia do mercado alvo. 
Isso pode acontecer de diversas formas, sendo a tecnologia disruptiva apenas 
uma delas. Modelos de negócio disruptivos, trazendo uma mudança relevante no 
custo final, podem tornar um certo produto acessível para mais classes econômicas. 
Mudanças de usabilidade de um certo produto, tornando-o mais fácil ou prático de 
usar, podem tornar a solução anterior defasada no mercado, mesmo que essa 
mudança não envolva um desenvolvimento de alta tecnologia, conforme 
fundamentado nos capítulos anteriores. 
Os termos “inovação disruptiva” e “tecnologia disruptiva” agora fazem parte do 
vocabulário empresarial, e estamos presenciando apenas o início da “onda disruptiva” 
que se move rapidamente em direção ao mundo corporativo (EVANS, 2017). Para 
estudar o seu impacto, no entanto, é necessário aprender como separar as reais 
inovações disruptivas dos avanços meramente incrementais que são impulsionados 
por companhias para se utilizar do termo popular para seu ganho próprio. 
Clayton Christensen, 20 anos após cunhar o termo, no artigo “What Is 
Disruptive Innovation?”, traça um guia do que seria necessário para um novo negócio 
ser considerado disruptivo. De acordo com Christensen (2015), “inovações disruptivas 
se originam em mercados de baixo-custo ou inexistentes”, renunciando a recursos 
específicos com o intuito de reduzir o valor final e atrair uma classe de clientes que 
não teria condições de adquirir uma solução similar anteriormente, ou até criando um 
novo mercado para esse grupo de consumidores. Conforme citado por Christensen, 
até o final da década de 1970 as copiadoras fornecidas pela Xerox eram totalmente 
inacessíveis para empresas pequenas ou para o consumidor doméstico, até que 
novos concorrentes ofereceram soluções com custos muito mais baixos, conseguindo 
atingir um mercado previamente inexplorado. 
Movimentos similares foram observados, por exemplo, na disseminação do 
computador pessoal, o PC, e na popularização da linha de telefone fixa, substituindo 
os telefones públicos, popularmente chamados de “orelhões”. 
No entanto, no contexto dessa pesquisa, é preciso se atentar para as 
peculiaridades de cada mercado, e como uma inovação pode ser estudada de 
maneiras diferentes em países com realidades socioeconômicas distintas. 
 
 
Novamente no texto “What Is Disruptive Innovation?”, o autor cita que o Uber, 
aplicativo de serviço de transporte individual em carros particulares, não focou no 
setor de “não-consumidores”, definido por ele como “consumidores que consideravam 
a alternativa cara demais e usavam transporte público, ou dirigiam o próprio carro até 
o destino”. 
Essa mesma realidade, estudada com a ótica do autor norte-americano, não é 
totalmente compatível com a observada no Brasil. A diferença de valor entre o táxi 
comum e os aplicativos de carros particulares chega a ultrapassar 50%5, o que 
tornava o acesso ao serviço altamente proibitivo para uma parcela da população. 
Além disso, o acesso a um veículo pessoal é menos realista à população geral do 
que em países mais desenvolvidos. De acordo com o “Mapa da motorização individual 
no Brasil - 2019”, realizado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 
parceria com o IPPUR (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional), o 
país possui 29,7 veículos por 100 habitantes6. O Departamento de Transportes dos 
Estados Unidos da América indica um valor de 81,6 veículos por 100 habitantes no 
mesmo período. 
Assim, é preciso levar em conta a realidade da população do Brasil ao estudar 
a disrupção de algumas inovações ao longo desse texto. Em um viés similar, o autor 
Constantinos Markides,em seu artigo “Disruptive Innovation: In Need of Better 
Theory”, de 2006, explorou as nuances de diferentes categorias de inovações, 
passando por inovações tecnológicas, de modelo de negócio e inovações radicais de 
produto. 
Além disso, é necessário diferenciar os tipos de “redes de valor” que as 
inovações disruptivas podem criar. De acordo com CHRISTENSEN (2003), existem 
dois tipos de redes de criação de valor: as disrupções de novo mercado e as 
disrupções de nível inferior. As disrupções de novo mercado criam uma nova 
necessidade em um grupo previamente não-consumidor. As disrupções de nível 
inferior atraem um grupo disposto a receber um produto ou serviço com uma 
 
5 HIGA, Paulo. Táxi ou Uber? Um comparativo dos preços das corridas em cinco cidades. 
Tecnoblog, 2015. Disponível em: https://tecnoblog.net/188610/taxi-ou-uber-preco-qual-mais-barato/ 
Acessado em 03 Nov. 2021 
 
6 AZEVEDO, Sérgio de; RIBEIRO, Luiz Cesar de Quiroz. Mapa da Motorização Individual no Brasil 
2019, 2019. Disponível em: <https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/wp-
content/uploads/2019/09/mapa_moto2019v2.pdf> 
Acessado em 23 nov. 2021. 
 
 
qualidade inferior, mas que ainda atenda às suas necessidades, desde que o valor 
seja inferior. 
Enquanto em alguns mercados a entrada de um serviço como o Uber pode ser 
enxergada como disrupção de nível inferior, em outros ela pode ser vista como uma 
disrupção de novo mercado, já que existe uma parcela considerável da população 
que simplesmente não tinha acesso à alternativa (uso de táxi) por questões 
financeiras. 
Sobre as formas de disrupção, em “Disruption: technology, innovation and 
society”, Millar, Lockett e Ladd (2018) definem que a disrupção pode ser motivada por 
diversos fatores, sendo cinco deles explicitados no texto, conforme o Quadro 1 
abaixo: 
 
 
Quadro 1 - Motivações da Disrupção 
 
Custo 
Novas tecnologias e/ou processos tornam as soluções antigas não competitivas em 
termos de custos de produção, de maneira que as novas alternativas são tão baratas 
que os antigos não são mais lucrativos. 
Qualidade Novas tecnologias e/ou processos elevam a qualidade dos produtos ou serviços a um 
nível que torna os antigos não competitivos. 
Consumidores Mudanças significativas nas preferências dos consumidores tornam os produtos ou 
serviços antigos pouco atraentes em relação aos novos produtos. 
Regulamentação 
Novas leis ou regulações não permitem mais o funcionamento das alternativas antigas, 
como no caso de regulamentações ambientais ou trabalhistas destinadas a melhorar 
condições sociais. 
Recursos 
Recursos previamente importantes não estão mais amplamente disponíveis por uma 
variedade de razões, que vão desde o esgotamento dos recursos naturais até 
bloqueios comerciais. 
 
Fonte: Elaboração do autor, 2021. Baseado em definições retiradas de Millar, Lockett e Ladd 
(2018). Tradução própria. 
 
Em “Regulação de Tecnologias Disruptivas: Uma Análise de Sharing 
Economy” (COUTO, Rainier; NOVAIS, Leandro, 2017), os autores definem 
tecnologias disruptivas como “as inovações tecnológicas que causam alterações 
abruptas no estado de arte da indústria”. Essa definição abrange boa parte das formas 
de disrupção, já que a mudança no estado da arte da indústria pode ser motivada por 
qualquer um dos fatores exemplificados no quadro 1. 
No que se trata de disrupção de uma indústria como um todo, como no caso 
da indústria musical (a ser estudado de maneira mais aprofundada ao longo do texto), 
 
 
essa inovação disruptiva geralmente vem acompanhada de várias tecnologias 
disruptivas menores, como novos produtos, processos e modelos de negócio, que se 
combinam para gerar uma disrupção generalizada dentro de um segmento (Millar, 
Lockett e Ladd, 2018). O surgimento do Spotify, por exemplo, foi possibilitado por uma 
revolução tecnológica que permitiu a transmissão em tempo real de músicas direto 
da nuvem para os dispositivos móveis, combinado com uma inovação no modelo de 
negócios da venda de música, culminando na criação de um novo serviço. 
Dessa maneira, é necessário se levar em conta a variedade de definições para 
definir uma inovação disruptiva, com uma grande diferença entre suas abrangências. 
A disrupção vista como um conceito único é altamente difícil de ser explorada e 
propriamente estudada, e sua aplicabilidade torna-se limitada. 
 
 
 
 
3. ESTUDOS DE CASO 
 
3.1 STREAMING x VENDA DE CDs 
 
 O consumo musical passou por diversas transformações ao longo dos anos. 
Em sua origem, a música era exclusivamente consumida em eventos de 
apresentação ao vivo. O surgimento do vinil, no final da primeira metade do século 
XX, foi a grande revolução musical do seu período7. Todos os meios de consumo de 
música armazenada envolviam a compra de diferentes tipos de mídias físicas, 
passando por fitas cassete, CDs e diversos outros meios. 
 A internet representou uma ruptura nesse fluxo, distanciando o fator físico da 
compra e consumo de música na era digital. Para a indústria da música, essa 
transição ofereceu diversos obstáculos, sendo a pirataria um dos principais. A 
pirataria, já existente antes da internet, por meio da cópia de CDs ou gravação de 
conteúdos do rádio, por exemplo, sempre foi uma dificuldade enfrentada pela 
indústria. No entanto, a facilidade de se compartilhar os arquivos digitais sem custo 
algum e o imenso alcance da internet facilitou a disseminação da pirataria em uma 
escala previamente não observada, impactando de maneira acentuada o modelo de 
negócios de grandes gravadoras e artistas. 
 
Se a pirataria, que já era possível desde o aparecimento da fita cassete, 
tomou proporções exorbitantes com a digitalização do processo de gravação 
e reprodução e a popularização do computador no começo dos anos 1990, 
seu espaço agora estava ainda mais garantido: o padrão de consumo da 
música passou por uma nova transformação, a possibilidade de acesso 
direto, sem mediações nem custo, aos arquivos digitais pela internet. 
(PALHARINI, Luciana. Do Analógico Ao Digital, 2010) 
 
 Um dos atrativos principais da pirataria é, evidentemente, a possibilidade de 
uma escolha ilimitada e grátis de arquivos. Apesar de possuir custos ocultos na sua 
operação, como custos de eletricidade, internet e armazenamento, a percepção 
 
7 PALHARINI, Luciana. Do analógico ao digital: o longo caminho da experiência com a música. 
ComCiência, Campinas, n. 116, 2010 . Disponível em: 
<http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
76542010000200003&lng=en&nrm=iso>. 
Acessado em 30 Ago. 2021. 
 
 
 
automática que se tem é a de um consumo gratuito, se diferenciando do padrão 
esperado de “pagamento-por-produto” de lojas tradicionais. Nesse sentido, 
alternativas de streaming também se diferenciam do modelo tradicional, 
apresentando uma alternativa ao modelo usual de precificação (Aversa, Hervas-
Drane, Evenou, 2019). 
Os serviços de streaming, como o Spotify e o Apple Music, surgiram em um 
cenário de amadurecimento das plataformas digitais, com velocidades de download 
superiores e dispositivos capazes de processar essa transmissão em tempo real dos 
arquivos direto da nuvem (Aversa et al., 2019). Eles oferecem uma vasta escolha de 
músicas para seus usuários, sem custos adicionais além da sua mensalidade básica, 
ou seja, não existe uma prática de subdivisão de conteúdos ou cobranças extra dentro 
dessas plataformas. De maneira geral, o conteúdo está disponível dentro de uma 
mesma mensalidade, que varia apenas de acordo com o número de usuários que 
podem ser incluídos dentro do pacote, e os serviços de streaming não diferem 
significativamente na quantidade de conteúdo disponível. 
 Esses serviços trazem uma grande praticidade para o usuário final, já que 
possibilitam o acesso ao conteúdo sem a necessidade prévia de download ou seleção 
de músicas, já que toda a biblioteca está disponível em tempo real para a base declientes. Além disso, o custo fixo na forma de uma assinatura mensal se torna atraente 
para um grande público, já que permite uma previsibilidade de gastos sem a 
necessidade de compras adicionais futuras. 
 A praticidade e o custo relativamente baixo dos serviços se apresentaram 
como uma alternativa à pirataria para muitos usuários. O Spotify atingiu, em 2021, 
355 milhões de usuários, sendo 155 milhões pagantes8. A Internet, responsável tanto 
pela expansão da pirataria quanto o surgimento do Spotify, pode ser o “veneno e o 
antídoto” no momento da Era Digital, ainda de acordo com o artigo “Business model 
responses to digital piracy” (Aversa et al., 2019). Nele, os autores afirmam que a 
tecnologia digital, quando usada a seu favor, pode servir como a base para um melhor 
engajamento com seus consumidores e possuir uma resposta mais proativa às 
inovações potencializadas pela pirataria. 
 
8 Spotify ultrapassa 150 milhões de assinantes, mas sofre prejuízo. Tecnoblog, 2021. Disponível em: 
<https://tecnoblog.net/408534/spotify-ultrapassa-150-milhoes-assinantes-pagantes-mas-tem-
prejuizo/>. Acesso em: 20 de ago. de 2021. 
 
 
No artigo “The economic impact of streaming beyond GDP” (EDQUIST, et al. 
2020), os autores analisam que o streaming levou a uma redução de 85% no valor 
pago por música quando comparado com a compra do produto físico. Entre os anos 
de 2005 e 2019, de acordo com a Federação Internacional da Indústria Fonográfica, 
a receita de serviços de streaming saiu de US$ 0,1 bilhão para US$ 11,4 bilhões. 
Nesse mesmo período, a receita de vendas físicas da indústria caiu de US$ 17,8 
bilhões para US$ 4,4 bilhões. Somados, o valor saiu de US$ 17,9 bilhões para US$ 
15,8 bilhões. Essa comparação, no entanto, não leva em conta variações na 
quantidade de conteúdo consumido. 
Ainda no artigo, os autores se aprofundam nessa comparação, buscando 
calcular o Excedente Econômico do Consumidor. Esse Excedente, também chamado 
de Superávit do Consumidor, refere-se à diferença entre o valor chamado de 
“Disposição a Pagar” e o valor efetivamente pago. Disposição a pagar pode ser 
definido como “o valor máximo que esse consumidor está disposto a pagar para 
adquirir esse bem”9. Dessa maneira, GUENA, Roberto (2013) conclui que o 
excedente do consumidor mede o ganho que esse mesmo consumidor tem quando 
adquire um bem no mercado, já que comprou por um valor diferente do que estava 
disposto a pagar. 
A Figura 1 abaixo representa graficamente o conceito, relacionando a 
quantidade e o preço de um determinado bem ou serviço. O excedente do consumidor 
é representado por toda a área acima do ponto de equilíbrio de preço. 
 
Figura 1 - Excedente do Consumidor 
 
9 (GUENA, Roberto. Excedente do Consumidor, excedente do produtor e eficiência. FEARP-USP, 
2013. Disponível em <http://robguena.fearp.usp.br/Introducao/excedente.imp.pdf>. Acesso em 09 de 
nov. de 2021. 
 
 
 
Fonte: Elaboração do Autor, 2022. Baseado em DOOLEY, Peter. “Consumer's 
Surplus: Marshall and His Critics”, University of Saskatchewan, 1983. 
 
 
 
De acordo com essa análise, esse valor seria de US$ 76 bilhões, 
representando uma enorme diferença potencialmente não explorada nesse mercado. 
A Figura 2 abaixo mostra a relação entre as diferentes fontes de receita da 
indústria musical americana entre os anos 1950 e 2015. É possível ver a relação entre 
marcos temporais, como o surgimento do mp3 player e do streaming, e a queda nas 
receitas de vendas físicas. Além disso, fica muito clara a trajetória descendente da 
receita total da indústria na primeira década do século XXI, e o papel de 
predominância das vendas de ingressos para shows (representada por “Live” no 
gráfico) e de fontes digitais (representada por “Digital”) no total a partir da segunda 
década do século XXI. A linha “Physical”, indicativa do total das vendas de mídias 
físicas, segue em uma tendência de queda, representando uma pequena fatia do 
total. 
 
 
Figura 2 - Histórico de Receita da Indústria Musical Americana (1950-2015) 
 
 
 
Fonte: NAVEED, Kashif; WATANABE, Chihiro; NEITTAANMÄKI, Pekka. Co-
evolution between streaming and live music leads a way to the sustainable growth of 
music industry : Lessons from the US experiences. Technology in Society, 2017 
 
 
Ainda na Figura 2, é possível perceber que o marco de surgimento do 
streaming (em torno de 2010 no eixo horizontal) representa o início de uma retomada 
da receita total para a indústria, com expressiva influência de uma crescente receita 
proveniente de shows, após mais de uma década de queda. 
Dessa maneira, o gráfico mostrado da indústria musical aponta a transição 
para o digital como um momento marcante para a queda de receita. Fica evidente que 
a venda de mídias físicas representava a vasta maioria da arrecadação nessa 
indústria, e as mídias digitais ainda trouxeram consigo a expansão e facilitação da 
pirataria, acelerando o declínio da venda de CDs. 
A indústria precisou se reinventar e agregar novas fontes de receita, 
especialmente pela difusão de serviços de streaming de música (como o Spotify e 
Apple Music) e aumentando seu foco na realização de apresentações ao vivo. Essas 
apresentações, especialmente, se mostram como a principal força motriz para a 
reestruturação da indústria musical, se tornando a principal fonte de renda para o 
segmento. 
Com esses dados, pode-se observar que a pirataria digital teve um grande 
efeito negativo para a receita da indústria musical, sendo o ponto de inflexão 
observado na Figura 2, no ano de 1999, coincidente com o surgimento do Napster, 
 
 
software que ficou popular por facilitar o download ilegal de músicas e que chegou a 
atrair mais de 70 milhões de usuários (JANSSENS, DAELE e BEKEN, 2009). 
Esse dado é refletido novamente em um gráfico sobre o número de vendas de 
CDs globais, conforme Figura 3 abaixo, onde as vendas de CDs caem rapidamente 
após 1999: 
 
Figura 3 - Vendas Globais de CDs em Milhões de Unidades (1994-2006) 
 
 
Fonte: apud JANSSENS, Jelle; DAELE, Stijn Van; BEKEN, Tom Vander. The 
Music Industry on (the) Line? Surviving Music Piracy in a Digital Era 
 
A popularização do streaming, representada na Figura 2 no ano de 2010, 
mostra uma retomada lenta da receita da indústria musical americana, somada ao 
aumento contínuo da receita gerada por realização de shows ao vivo. 
Assim, pode-se entender que o streaming representou uma alternativa positiva 
para a indústria musical, que vinha sofrendo com os graves efeitos da pirataria. A 
música como serviço, comercializada por meio de plataformas como o Spotify, acaba 
gerando um incremento de receita para a indústria, e se apresenta como uma 
alternativa à pirataria digital para o consumidor (JANSSENS, DAELE e BEKEN, 
2009). De acordo com a Associação Americana da Indústria da Gravação (RIAA), 
 
 
75% da receita da indústria de gravação no ano de 2018 veio de serviços de streaming 
(apud BUTLER 2019). 
Adicionalmente, o excedente do consumidor gerado pelos serviços de 
streaming evidencia um potencial de crescimento futuro nessa receita, podendo 
aumentar sua participação no faturamento da indústria musical nos próximos anos. 
Além disso, os serviços de streaming de música possibilitam um maior alcance 
de artistas a novos mercados, levando a maiores vendas de ingressos de shows do 
que qualquer outro meio anterior (CARVER, 2016). Esse fato reforça o dado 
apresentado pela Figura 2, que indica uma combinação da receita de streaming com 
um crescente faturamento com shows como sendo os fatores principais na retomada 
de arrecadação da indústria musical. Dessa maneira, um incremento na visibilidade 
de um artista para futuras performances ao vivo é um fator altamente importante para 
seu ganho financeiro, reforçando a importância da sua presença em plataformas de 
streaming. 
 
 
 
3.2 APLICATIVOS DE CORRIDA PARTICULAR x TÁXI 
 
O segmento de aplicativosde corrida particular se fortaleceu globalmente de 
maneira expressiva desde a sua concepção. A pioneira nesse setor, a Uber, surgiu 
em 2009, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos. Naquele momento, ainda 
chamada de UberCab, revolucionou o mercado ao permitir que seus usuários 
chamassem um carro particular por meio de um aplicativo nos seus celulares. Nesse 
início, a empresa focava em um serviço de “black cars”, carros executivos, com maior 
conforto e refino que os táxis tradicionais, chegando a custar 50% a mais do que uma 
corrida comum de táxi.10 
Em julho de 2012 a empresa deu o primeiro passo em direção ao atual modelo 
de corridas de baixo custo, lançando seu “projeto secreto” chamado Uber X, com 
corridas até 35% mais baratas que a categoria original. 
 
10 MCALONE, Nathan. Here's how Uber got its start and grew to become the most valuable startup in 
the world. Business Insider, 2015. Disponível em: <https://www.businessinsider.com/history-of-uber-
and-its-rise-to-become-the-most-valuable-startup-in-the-world-2015-9>. Acesso em 12 dez. 2021. 
 
 
Com essa redução de preço e sua crescente popularização, polêmicas 
começaram a surgir em diversos países do mundo sobre a concorrência desleal do 
Uber quando comparado com as alternativas tradicionais, especialmente o táxi 
convencional. Os motoristas de táxis possuem “uma série de exigências legais para 
operar que não estão sendo exigidas na mesma proporção dos motoristas parceiros 
do Uber” (RACHED, Gabriel; DE FARIAS; Eduardo Helfer, 2017, p.1). Além disso, 
conforme citado, os motoristas da Uber não são considerados funcionários, sendo 
sempre descritos como parceiros da plataforma, reduzindo o número de obrigações 
e custos trabalhistas da empresa e aumentando ainda mais a sua vantagem 
competitiva. 
Adicionalmente, as licenças para operar táxis, num contexto anterior ao 
surgimento do Uber, se tornaram mercados paralelos próprios, com uma altíssima 
especulação e valorização desses títulos para comercialização. Uma licença de 
operação de táxi em Nova Iorque, no ano de 2010, tinha uma média de preço entre 
600 e 800 mil dólares11, chegando a ultrapassar a casa de 1 milhão de dólares em 
201312. 
O táxi, conforme citado por Monteiro, Migliorini e de Paula (2015), “tem o 
objetivo de suprir o público de uma alternativa mais eficiente e conveniente que o 
transporte público regular”. O serviço é considerado de utilidade pública, e é 
regulamentado por legislações locais, com o poder público emitindo autorizações para 
a oferta de táxis (BARBOSA et al., 2018). Conforme citado por Barbosa et al., “embora 
a legislação de táxis varie em cada município, uma característica comum do mercado 
é a regulação demasiadamente rígida”. O autor cita, ainda, os tipos de regulação: 
 
Há tanto a regulação de entrada (que ocorre por meio da limitação de novas 
licenças) como a regulação tarifária, que estabelece tarifas fixas ou máximas 
e, ainda, determina percentuais fixos para o adicional pago em corridas 
realizadas em horários não-comerciais. Em alguns municípios, há também a 
regulação por qualidade, que estabelece alguns critérios mínimos referentes 
à segurança e à qualidade da frota. (BARBOSA et al., 2018, p. 2) 
 
 
11 SERRANO, Paulo Henrique Souto Maior; BALDANZA, Renata Francisco. Tecnologias disruptivas : 
o caso do Uber. UFF, 2017 
12 BARRO, Josh. New York City Taxi Medallion Prices Keep Falling, Now Down About 25 Percent. NY 
Times, 2015. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2015/01/08/upshot/new-york-city-taxi-
medallion-prices-keep-falling-now-down-about-25-percent.html?_r=0&abt=0002&abg=1> Acesso em: 
09 de nov. de 2021. 
 
 
Um dos motivos que justifica a existência da regulamentação é a necessidade 
de se existir um controle do mercado para garantir que a oferta do serviço seja 
balanceada com a demanda, evitando uma circulação excessiva de táxis, levando a 
uma piora nas condições de trânsito nas cidades, aumento nas emissões de gases 
poluentes e uma competição predatória que levaria à queda na qualidade do serviço 
prestado (Oliveira e Machado, 2017). 
A soma dos referidos fatores faz com que a barreira de entrada para o mercado 
de táxis convencionais seja extremamente alta, intensificando a disrupção trazida pela 
alternativa dos aplicativos de corrida particular. 
Essa disrupção foi tão significativa que levou ao surgimento do termo 
“Uberização”, descrevendo soluções tecnológicas que reduzem as barreiras 
regulatórias, econômicas e legais para a inserção de uma nova força de trabalho no 
mercado, quase sempre reduzindo o custo do serviço e gerando novas polêmicas 
sobre a consequente precarização das condições de trabalho para esses parceiros. 
A estratégia de expansão da Uber vai além da exploração de brechas nas leis, 
tendo uma participação invasiva na busca de contornar regimes regulatórios, 
entrando em disputas judiciais contra governos, órgãos reguladores e grandes 
operadores de táxis ao redor do mundo, conforme pontuado em “The Rise of Uber 
and Regulating the Disruptive Innovator”, ou “O Surgimento da Uber e a Regulação 
do Inovador Disruptivo” (DUDLEY, Geoffrey et al., 2017), atuando deliberadamente 
como uma empresa focada na inovação disruptiva. 
A empresa chegou ao Brasil em 2014, e hoje está presente em mais de 500 
cidades no país (UBER, 2020). A sua chegada, como em quase todos os lugares do 
mundo, foi alvo de grandes polêmicas. Em setembro de 2014 a Uber passou a 
oferecer seus serviços em Belo Horizonte e foi recebida com imediatas críticas do 
sindicato de taxistas e condutores autônomos (SINCAVIR), que considerava o serviço 
ilegal (VIEIRA et al, 2019). Esse era o início de um longo embate entre as partes, que 
culminaria na sanção de uma lei para proibição do modelo de corridas particulares 
utilizado pela Uber na capital em janeiro de 2016. O serviço continuou sendo oferecido 
e pouco fiscalizado, e foram observadas supostas agressões por taxistas a motoristas 
parceiros da plataforma13. 
 
13 GLOBO. “Motorista do Uber fica ferido e tem carro danificado em BH, diz polícia”, 2015.Disponível 
em:<https://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/08/motorista-do-uber-fica-ferido-e-tem-carro-
danificado-em-bh-diz-policia.html> 
 
 
Essa situação de ilegalidade e/ou de restrição ao funcionamento do serviço, 
recorrente ao longo do país, como em São Paulo e Fortaleza, foi julgada pelo STF em 
2019, sendo a atividade declarada como legal pelo Tribunal14. 
 Essa legalização não afastou a empresa das constantes polêmicas e críticas, 
especialmente vindo de taxistas e sindicatos da classe. Ainda é possível encontrar 
manifestações e protestos contra o serviço até os dias de hoje15, 7 anos depois que 
o serviço chegou no Brasil. 
 As constantes críticas podem ser explicadas por uma brusca redução na 
atratividade do serviço de táxi após a chegada da Uber. Um estudo do Conselho 
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) estima que a entrada da Uber gerou uma 
queda substancial no número de corridas de aplicativos de táxis, chegando na casa 
de 56,8%: 
 
“Usando a amostra contendo todos os 590 municípios, os resultados 
mostram que a entrada da Uber gerou, em média, a redução de 56,8% no 
número de corridas de aplicativos de táxis nas cidades em que a plataforma 
estava presente e, adicionalmente, que para cada 1% de aumento no número 
de corridas da Uber, o número de corridas de aplicativos de táxi caiu em 
aproximadamente 0,09%. Esse conjunto de evidências, juntamente com 
algumas informações descritivas sobre a dinâmica do número de corridas 
das empresas deste setor, sugere que, além de conquistar usuários de 
outros modais de transporte que não utilizavam serviços de aplicativos de 
táxi, o aplicativo Uber também rivalizou com os serviços de aplicativos de 
táxi, conquistando parte de seus usuários.” (RESENDE e LIMA, 2018, p.4) 
 
Em uma análise semelhante, a Prefeitura de São Francisco, cidade natal daempresa, mesmo sem estabelecer uma relação causal direta com a Uber, indicou 
uma queda de 65% no número de corridas de táxi entre os anos de 2014 e 2014 (apud 
BERGER, CHEN e FREY, 2017). Esse foi o exato período em que o serviço de baixo 
custo, UberX, entrou em operação. 
 
Acessado em 12 dez. 2021. 
 
14 SOUZA, André. “STF declara legal serviço de aplicativos de transporte, como Uber, Cabify e 99”, 
2019. O Globo Economia. Disponível em: 
<https://oglobo.globo.com/economia/stf-declara-legal-servico-de-aplicativos-de-transporte-como-
uber-cabify-99-23651084> 
Acessado em 12 dez. 2021. 
15 JORNAL DO COMÉRCIO. Taxistas protestam contra Uber e causam transtornos no Rio de 
Janeiro. Disponível em: <https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2017/07/economia/576147-
taxistas-protestam-contra-uber-e-causam-transtornos-no-rio-de-janeiro.html>. Acesso em 20 dez. 
2021. 
 
 
Em uma ótica diferente, estudos econômicos do setor indicam que a chegada 
da Uber no Brasil não afetou os rendimentos por hora dos motoristas de táxi no país 
(Oliveira e Machado, 2017). 
Para que os dados apresentados sejam coerentes entre si, ou seja, para que 
as corridas tenham caído significativamente e o rendimento por hora não tenha sido 
afetado substancialmente, o número de taxistas precisa ter diminuído. Essa 
conclusão é corroborada, por exemplo, pelas informações da EPTC, a Empresa 
Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre. Na capital gaúcha, o número de 
taxistas com cadastros ativos caiu 30% em pouco mais de um ano, conforme pode 
ser observado no Gráfico 1 abaixo: 
 
Gráfico 1 - Número de Taxistas com Cadastros Ativos em Porto Alegre - 2019 
 
Fonte: PAGNO, Marina; PAGANELLA, Eduardo. Número de taxistas cai 30% em Porto 
Alegre em pouco mais de um ano. 2019. Disponível em: 
<https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2019/04/numero-de-taxistas-cai-
30-em-porto-alegre-em-pouco-mais-de-um-ano-cjucwxvxs019e01o1jo56o8wf.html> 
Acesso em 12 dez. 2021. 
 
 
 
 
No entanto, a análise do impacto econômico dos aplicativos de corrida 
particular deve considerar uma visão ampla do mercado e buscar entender se a 
atividade gerou uma criação ou subtração de valor para a economia. 
Cohen et al. (2016), em seu texto sobre a utilização de big data (um imenso 
volume de dados capturados por plataformas informatizadas) para estimar o 
Excedente do Consumidor no caso do Uber, estimaram que o serviço UberX criou um 
Excedente de US$ 6,8 bilhões. Os valores de corrida mais baixos do que a alternativa 
tradicional, na forma do táxi, criam um Excedente do Consumidor significativo, em 
que o cliente paga um valor menor do que estaria disposto a pagar. 
Resende e Lima (2018) entendem que esse fenômeno reduz os custos de 
transação e as ineficiências relacionadas, “criando valor para toda a economia”. 
Os aplicativos de corridas particulares já ultrapassaram os táxis em número 
diário de passageiros transportados em muitos mercados relevantes. De acordo com 
estudo da Coppe, os aplicativos são responsáveis por 749,4 mil viagens diárias na 
cidade do Rio de Janeiro, enquanto os táxis fariam 233,4 mil viagens diárias16. O 
mesmo estudo mostra, ainda, dados de faturamento e corridas diárias entre taxistas 
e motoristas parceiros de aplicativos, conforme a Figura 4 abaixo: 
 
Figura 4 - Faturamento entre Taxistas e Motoristas de Aplicativos no Rio de 
Janeiro - 2019 
 
MAGALHÃES, Luiz Ernesto. Pesquisa mostra que aplicativos já transportam o triplo 
dos passageiros de táxis. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/pesquisa-
mostra-que-aplicativos-ja-transportam-triplo-dos-passageiros-de-taxis-23912389>. 
Acesso em 18 dez. 2021. 
 
16 MAGALHÃES, Luiz Ernesto. Pesquisa mostra que aplicativos já transportam o triplo dos 
passageiros de táxis. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/pesquisa-mostra-que-aplicativos-
ja-transportam-triplo-dos-passageiros-de-taxis-23912389>. Acesso em 18 dez. 2021. 
 
 
 
 
 
De acordo com dados da Comissão de Táxis e Limusines de Nova Iorque 
(TLC), as corridas por aplicativo hoje representam 82% de todo o transporte público 
individual na cidade, conforme Figura 5 abaixo: 
 
Figura 5 - Porcentagem de participação dos aplicativos de corrida particular 
no mercado de transporte público individual na cidade de NYC
 
Fonte: SCHNEIDER, Todd. “Taxi and Ridehailing Usage in New York City”. Disponível 
em: <https://toddwschneider.com/dashboards/nyc-taxi-ridehailing-uber-lyft-data/>. 
Acesso em 20 dez. 2021 
 
 
Considerando que Resende e Lima (2018) afirmam que os aplicativos de 
corrida particular não só captaram parte dos clientes dos serviços de táxi, mas 
também conquistaram usuários que utilizavam outros modais de transporte é possível 
concluir que o número de pessoas que se utilizam dos serviços de transporte público 
individual aumentou. 
Além disso, considerando a fundamentação de que o faturamento médio dos 
taxistas não caiu com a chegada dos aplicativos de corrida particular (Oliveira e 
Machado, 2017) e de que o faturamento dos motoristas de aplicativo é similar ao de 
taxistas (O GLOBO, 2021), é razoável afirmar que a chegada dos serviços agregou 
 
 
valor ao setor de transporte individual para a economia do Brasil, especialmente pelo 
aumento no número de usuários do modal de transporte. 
Cabe ressaltar, ainda, que essa análise se propõe a estimar o efeito dos 
serviços no valor de mercado do setor. Ela não abrange, por exemplo, questões como 
a precarização do trabalho pelo modelo de operação adotado pelas empresas de 
corridas particulares. Esses desdobramentos secundários devem ser estudados 
futuramente de maneira aprofundada para se entender os seus possíveis impactos 
sociais com a difusão desse tipo de relação trabalhista. 
 
 3.3 AIRBNB x HOTÉIS 
O Airbnb é um serviço de locação de hospedagens, se apresentando como 
uma alternativa aos hotéis e aluguéis convencionais de imóveis. Ele disponibiliza 
casas, apartamentos e quartos para locação de curto prazo ao redor do mundo, sendo 
tanto uma opção para viajantes quanto para donos de propriedades com algum 
espaço sobrando e que queiram lucrar com esse aluguel de curta duração17 . 
O serviço hoje conta com mais de 2,9 milhões de anfitriões e mais de 7 milhões 
de anúncios para locação, espalhados em mais de 100 mil cidades18. 
Como é comum para as inovações disruptivas analisadas ao longo do texto, o 
Airbnb não foi imune a polêmicas ao redor do mundo, enfrentando barreiras 
regulatórias e políticas devido ao seu crescimento explosivo (QUATTRONE et al., 
2016). Acomodações tradicionais (hotéis e pousadas) vêem o serviço como uma 
grande ameaça para o ramo (apud GUTTENTAG et al., 2016), sendo considerado o 
seu principal competidor (DOGRU, MODY e SUESS, 2017). 
Apesar de Dogru, Mody e Suess (2017) afirmarem que a perda de receita da 
indústria hoteleira tem a provável consequência de uma redução na arrecadação de 
impostos para as cidades e governos locais, os próprios autores fazem a ressalva de 
que o serviço tem o potencial de trazer benefícios econômicos e sociais, ao aumentar 
a oferta de acomodações e reduzir a ociosidade de hotéis e de propriedades privadas. 
Vale ainda ressaltar que em casos de grandes eventos, como as Olimpíadas, a 
 
17 LACOMA, Tyler; RAWES, Erika. What is Airbnb? What to know before becoming a guest or host, 
2021. Digitaltrends. Disponível em: <https://www.digitaltrends.com/home/what-is-airbnb/>. Acesso em 
12 dez. 2021. 
 
18 DEANE, Steve. Stratosjets. 2021 Airbnb Statistics: Usage, Demographics, and Revenue Growth. 
Disponível em: <https://www.stratosjets.com/blog/airbnb-statistics/>. Acesso em 12 dez. 2021. 
 
 
 
disponibilidade suplementar das locações por meio do Airbnb pode ser mais benéfica 
do que a construção de hotéis que não serão utilizados em sua totalidade 
posteriormente (apud DOGRU, MODY e SUESS, 2017). 
Além disso, existem diversos benefícios que fazem o consumidor optarpelo 
Airbnb como sua escolha de estadia além do preço mais baixo. Pode-se citar, dentre 
outros, uma experiência mais individualizada do que um hotel tradicional, o contato 
direto com o anfitrião e o estabelecimento de uma perspectiva mais interna da 
vivência dentro de uma cidade19. Adicionalmente, se hospedar em uma casa traz 
benefícios adicionais, como a disponibilidade de eletrodomésticos (fogão, lava-
roupas, dentre outros), que facilitam a estadia e contribuem para a experiência de 
viver como um local (GUTTENTAG, 2015). 
É importante analisar o uso de mão de obra em cada uma das alternativas. 
Enquanto hotéis possuem, em sua grande maioria, equipes fixas para limpeza, 
organização, e administração, as propriedades do Airbnb envolvem um uso menor de 
mão de obra para seu funcionamento, o que poderia acarretar uma redução do 
número de empregos no setor20. 
Em contrapartida, um estudo comissionado pela Airbnb para analisar a 
atividade econômica gerada pelos seus usuários na cidade de São Francisco concluiu 
que os hóspedes do serviço permaneciam mais tempo na cidade quando comparado 
a hóspedes de hotéis (5,5 dias contra 3,5 dias), além de terem gastos totais médios 
superiores (1.100 dólares contra 840 dólares) (apud GUTTENTAG 2015). Conforme 
Daniel Guttentag ressalva em seu texto, a confiabilidade de um estudo comissionado 
pela própria empresa pode ser questionada, mas os resultados do mesmo ainda são 
relevantes para uma análise do impacto econômico do serviço. 
Adicionalmente, Farronato e Fradkin (2018), em seu estudo sobre o impacto 
do Airbnb na indústria hoteleira dos Estados Unidos, indicam que o serviço teve um 
impacto negativo na arrecadação dos hotéis. De acordo com os autores, as receitas 
dos hotéis seriam 1,5% maiores sem a presença do Airbnb. No entanto, eles também 
indicam que de 42 a 63% das diárias reservadas pelo serviço não se converteriam 
 
19 STORS, Andreas;KAGERMEIER, Andreas. Motives for using Airbnb in metropolitan tourism, 2015. 
Disponível em: <https://nataliestors.de/assets/pdf/rsa15-airbnb-motives.pdf>. Acesso em 13 dez. 
2021. 
20 BIVENS, Josh. The economics costs and benefits of Airbnb. Economic Policy Institute, 2019.. 
Disponível em: <https://www.epi.org/publication/the-economic-costs-and-benefits-of-airbnb-no-
reason-for-local-policymakers-to-let-airbnb-bypass-tax-or-regulatory-obligations/>. Acesso em 12 dez. 
2021 
 
 
em reservas de hotéis caso o Airbnb não existisse. De acordo com a pesquisa, que 
utilizou dados das 50 maiores cidades americanas, esses viajantes escolheriam outra 
alternativa, como “se hospedar com amigos ou família, ficar em acomodações que 
não fossem hotéis, reservar menos diárias ou até mesmo não viajar para a cidade” 
(FARRONATO E FRADKIN, 2018, p. 30, tradução própria). 
Em uma análise semelhante, KAPLAN e NADLER (2017) indicam que algumas 
cidades podem ser proibitivamente caras para certos turistas durante grandes 
eventos, e que o Airbnb, ao disponibilizar alternativas de hospedagem mais baratas, 
garante que um grupo de consumidores não seja excluído desse mercado. No mesmo 
texto, os autores citam que 1% de aumento nas listagens do Airbnb resulta em uma 
queda de apenas 0,05% nas receitas de hotéis. Isso indicaria que o Airbnb está 
atraindo novos consumidores e criando novas redes de valor. 
 Em seu texto de 2019, DOGRU, MODY e SUESS analisaram o impacto do 
Airbnb em 10 dos principais mercados de hotel nos Estados Unidos. Os autores citam 
diversos estudos que apontam que o crescimento de 1% nas reservas pelo Airbnb 
leva a uma redução do RevPAR (indicador que representa a receita por quarto 
disponível em um hotel) em valores entre 0,02% e 0,04%. Apesar do texto citar este 
dado com conotação parcialmente negativa, os autores citam implicações para as 
cidades de destino, como a dispersão de turistas em áreas longe dos centros 
tradicionais para hotéis, distribuição da consequente arrecadação de impostos e 
ainda a renda extra para os anfitriões, que acaba sendo revertida em aumento na 
renda per capita local. 
Em contrapartida, DOGRU, MODY e SUESS (2019) citam um estudo 
comissionado pela indústria hoteleira da Espanha, que indica que a criação de 
empregos pelo setor é substancialmente maior do que as acomodações do Airbnb 
(53,3 empregos para cada 100 acomodações, contra 9,8 do Airbnb). Vale ressaltar, 
assim como feito anteriormente para o caso do Airbnb, que um estudo comissionado 
pela indústria hoteleira pode ter sua confiabilidade questionada. 
Assim, a atuação do Airbnb possui impactos externos potencialmente mais 
complexos do que nos casos previamente analisados. Focando em um impacto direto, 
o fato dos níveis de crescimento das reservas em acomodações do Airbnb serem 
maiores do que a regressão nas reservas de hotéis indica uma influência positiva no 
valor de mercado do setor de aluguéis de curta-duração. 
 
 
De maneira indireta, pode-se argumentar que a rede de valor criada pelo 
Airbnb levaria a maior consumo e estadias mais longas nas cidades de destino, além 
de possibilitar uma expansão do turismo para locais fora dos centros hoteleiros 
tradicionais. 
No entanto, há o contra-argumento de que a redução no número de empregos 
por acomodação e na arrecadação de impostos locais poderia ter impactos negativos 
para a economia. Conforme fundamentado ao longo do capítulo, o Airbnb criou uma 
rede de valor que atinge novos clientes, criando um novo mercado além dos círculos 
já dominados pelas redes hoteleiras. Por esse motivo, os números indicam que o 
impacto negativo causado pelo serviço é vastamente inferior ao valor criado por meio 
da atração de novos clientes. Será importante acompanhar, entretanto, se o contínuo 
crescimento do Airbnb não levará a uma crescente canibalização da demanda dos 
hotéis, aumentando cada vez mais a fatia da solução disruptiva nos clientes 
existentes das acomodações tradicionais. Isso poderia levar a um maior impacto 
negativo nas economias locais e nos resultados dos hotéis e pousadas. 
Apesar da complexidade dos fatores indiretos envolvidos neste caso, que 
justificaria uma análise posterior mais aprofundada para compreender a magnitude 
do impacto do Airbnb nas economias locais, pelos números de crescimento do Airbnb 
e seu moderado impacto estimado nas acomodações tradicionais, é razoável se 
estimar que o serviço tenha um impacto econômico positivo. 
 
 
4. DISCUSSÃO 
 
 4.1 - RESUMO DOS CASOS 
 Conforme fundamentado ao longo do trabalho, inovações disruptivas trazem 
mudanças significativas que mudam de maneira irreversível a relação do consumidor 
com um determinado serviço ou produto. Elas criam soluções que transformam essa 
relação a ponto de tornar irrelevante ou inviável a alternativa anteriormente tomada 
como normal. 
 Adicionalmente, as inovações disruptivas criam novas redes de valor, 
conforme definido por Christensen (2003). Elas surgem em mercados inexistentes ou 
de baixo custo (Christensen, 2015), agregando novos consumidores por meio de 
disrupção de novo mercado ou pela disrupção de nível inferior (Christensen, 2003). 
De acordo com Millar, Lockett e Ladd (2018), elas são motivadas por cinco fatores, 
explicados anteriormente no Quadro 1, sendo eles custo, qualidade, consumidores, 
regulamentação e recursos. 
 A hipótese estudada é de que essa redução de custo causada por essas 
inovações poderia ter um impacto negativo no valor da economia de um país. 
 No entanto, conforme analisado ao longo dos casos 3.1.1, 3.1.2 e 3.1.3, essa 
criação de novas redes de valor agrega uma escala significativa para os mercados 
afetados pelas inovações, e atrai novos consumidores que anteriormente não 
representavam fatia significativa de receita para os setores estudados. 
 No caso dos aplicativos de corrida particular, por exemplo, a redução de preço 
e o ganho de praticidade no seu uso fizeram com que uma parte da população, que 
antes não utilizavatransporte público individual, se tornasse consumidor do seu 
serviço. Dessa maneira, mesmo com uma redução constatada no número de viagens 
de táxi em várias das cidades analisadas, o ganho de escala dos aplicativos de corrida 
particular representou um impacto econômico positivo, ao menos quando estudado 
de maneira direta. Suas consequências indiretas sociais, conforme explicado no 
capítulo, podem ser alvo de um estudo posterior aprofundado. 
No caso dos aplicativos de streaming de música, foi possível observar que eles 
surgiram em um momento em que a venda de mídias físicas (especialmente CDs) já 
estava em acentuado declínio, majoritariamente devido à pirataria digital. Assim, ficou 
constatado que o surgimento do streaming também trouxe benefícios à indústria 
musical, agregando receita tanto diretamente (por meio dos pagamentos mensais às 
 
 
plataformas, como Spotify e Apple Music) quanto indiretamente, já que esses serviços 
possibilitam um maior alcance de artistas a novos mercados, o que leva a maiores 
vendas de ingressos de shows do que qualquer outro meio de divulgação. Vale 
ressaltar, ainda, que essa crescente receita de shows se mostrou como um dos 
fatores primordiais para a recuperação da receita da indústria musical. 
No estudo sobre o Airbnb, que se apresenta como uma alternativa aos hotéis 
para hospedagem de curta duração, se fariam necessários mais dados consolidados 
sobre a atuação do serviço e de seus desdobramentos indiretos nas economias locais 
de onde ele é oferecido. No entanto, dado que os números de crescimento do Airbnb 
superam significativamente a queda por ele causada nas receitas dos hotéis, é 
razoável afirmar que o serviço possui um impacto econômico direto positivo, mesmo 
sendo alvo de duras críticas das indústrias hoteleiras afetadas. Assim como todos os 
outros casos estudados até agora, o Airbnb criou uma rede de valor que vai além do 
grupo de consumidores tradicionais dos hotéis. Dessa maneira, possibilitou uma 
expansão no valor de mercado do setor do turismo, atraindo mais turistas e levando 
a uma maior arrecadação local indireta por meio de consumo em restaurantes, 
passeios e compras em comércios locais, por exemplo. 
 
4.2 - MITIGAÇÃO DE IMPACTOS NEGATIVOS 
 
4.2.1 - UMA ALTERNATIVA REGULATÓRIA 
 As inovações disruptivas são uma crescente realidade na era digital. Elas 
trazem soluções diferentes para os problemas do dia a dia, e podem mudar 
radicalmente a vida da população. Isso indica que elas possuem a capacidade de 
influenciar de maneira significativa a vida em sociedade, tanto positivamente quanto 
negativamente. Essas soluções causam disrupções não só nos setores econômicos 
onde se inserem, mas também nos regimes regulatórios que os regulam (COLLIER e 
CARTER, 2018). 
Esse fato explicita a importância de se discutir as soluções para mitigar os 
possíveis impactos negativos para a economia e sociedade. A maneira mais 
imediatamente aparente para fazê-lo é por meio da regulamentação dessas novas 
tecnologias. No entanto, é importante que seja feito um trabalho elaborado para que 
tais regulações não dificultem ou impossibilitem o pleno desenvolvimento tecnológico 
e social do país. A velocidade de mudança e atualização das tecnologias é mais 
 
 
rápida do que a capacidade de adaptação dos sistemas tradicionais de regimes 
regulatórios governamentais21, o que acentua a dificuldade de se solucionar o 
impasse. 
O impacto que inovações podem trazer para a sociedade não possui limites. 
Elas mudam nossas relações trabalhistas, padrões e meios de consumo, 
comunicações e relações interpessoais, nossa saúde e lazer. Ao mesmo tempo em 
que precisamos potencializar os benefícios delas, é importante resguardar as 
comunidades das disrupções possivelmente negativas que podem se tornar realidade 
no futuro. 
Existem indústrias que naturalmente exigem uma fiscalização regulatória 
estrita, como a indústria médica, onde a regulação existe primariamente para mitigar 
potenciais riscos à saúde humana (O’DWYER e CORMICAN, 2017). Conforme citado 
no mesmo texto, essas regulamentações exigem que companhias atuando no 
segmento médico comprovem tanto a eficácia quanto a segurança dos seus produtos 
(TOBIN e WALSH, 2011). 
Em outras indústrias, no entanto, essa necessidade imediata de regulação não 
é tão óbvia. Em seu texto sobre as batalhas judiciais do Airbnb, GUTTENTAG (2017) 
afirma: 
 
“Grandes inovações, por sua própria natureza, geralmente desafiam 
estruturas regulatórias ao introduzir novos produtos, serviços e modelos de 
negócio para os quais as regulações pertinentes - idealizadas apenas para o 
que existia anteriormente - não se aplicam adequadamente” 
(GUTTENTAG, Daniel. Airbnb’s early legal issues, 2017. p.99, tradução 
própria) 
 
Em seu artigo sobre a regulação de novas tecnologias, MALAN (2017) 
exemplifica como as redes sociais e os cigarros eletrônicos sumarizam a dificuldade 
que os sistemas regulatórios possuem em definir de maneira aprofundada esses 
produtos e sua adequação às normas vigentes. Redes sociais podem ser vistas como 
meios de comunicação, plataformas de propaganda, plataformas de mídia, dentre 
 
21 MALAN, Daniel. “The law can't keep up with new tech. Here's how to close the gap”. World 
Economic Forum, 2018. Disponível em: <https://www.weforum.org/agenda/2018/06/law-too-slow-for-
new-tech-how-keep-up/>. 
Acesso em 15 dez. 2021. 
 
 
outros. De que maneira elas devem ser enquadradas nas legislações atuais? Com as 
constantes mudanças de funcionalidades agregadas a elas, como garantir que a 
legislação se mantenha relevante para esse enquadramento? 
Além dessa dificuldade de enquadramento das tecnologias disruptivas nos 
modelos regulatórios atuais, ainda há a movimentação ativa por parte dessas 
empresas para evitar as barreiras de regulação. A Uber, por exemplo, organizou 
manifestações públicas, reunindo motoristas parceiros e clientes ao redor do mundo 
e colocando pressão popular para a manutenção do funcionamento do serviço às 
margens das regulamentações (DUBAL, COLLIER e CARTER, 2018). Os autores 
ainda relembram o uso de petições online pela Uber, com o objetivo de reforçar aos 
representantes eleitos do poder público o apoio popular ao funcionamento do serviço. 
Uma alternativa, citada por WEF (2016), é fundamentar os sistemas 
regulatórios em princípios básicos, como a dignidade humana e o bem comum, para 
que a sociedade e a economia possam se adequar à Quarta Revolução Industrial. 
Essa simplificação de princípios permite que as regulações sejam menos específicas 
e mais capazes de se adaptar à rápida e constante mudança proporcionada pela Era 
Digital. 
Em uma vertente similar, BAPTISTA e KELLER (2016) defendem que a 
regulação inicial de novas tecnologias deve “se deter aos domínios da garantia da 
segurança do usuário e do respeito às liberdades fundamentais”. As autoras ainda 
reforçam que a regulação de novas tecnologias “deve atuar especialmente para 
promover e preservar a inovação, assegurando a livre concorrência, condição para 
que a inovação ocorra”. Essa idéia explicita claramente a dualidade essencial à 
regulação de novas tecnologias e inovações disruptivas, sendo estes dois aspectos, 
a livre concorrência e o respeito às liberdades individuais e segurança dos usuários, 
os principais a serem balanceados na formulação de novos sistemas regulatórios. 
Em um exemplo mais prático, CORTEZ (2014) cita que as agências 
regulatórias precisam escolher entre três opções para confrontar o dinamismo de uma 
indústria: “fazer lei, fazer ameaças ou não fazer nada”. Caso decidam fazer leis, esse 
processo pode ser prematuro quando se tratando de uma indústria em acelerada 
mudança, levando a regras falhas ou ineficazes. Caso decidam não fazer nada, a 
indústria pode se desenvolver de maneira desenfreada e sem considerar o interesse 
público. Enfim, caso decidam fazer ameaças, as agênciaspodem tentar regular de 
maneira preliminar os anos iniciais de uma nova indústria sem sufocá-la (WU, 2011). 
 
 
Essa seria uma alternativa para evitar que regulamentações sejam feitas de 
maneira inadequada em indústrias em ampla inovação. Essas ameaças por parte das 
agências reguladoras, de acordo com Nathan Cortez, são mais rápidas para resolver 
problemas e mais flexíveis do que legislações. Além disso, essas ameaças, quando 
públicas, podem gerar debates, que acabam desencadeando em uma contemplação 
do interesse popular na discussão. 
Dessa maneira, com o intuito de regular inovações disruptivas, defendendo o 
interesse público e ao mesmo tempo potencializando seus impactos econômicos 
positivos, é importante que as medidas sejam flexíveis e fundamentadas em 
princípios básicos. 
A flexibilidade é importante para que um regime regulatório seja capaz de 
acompanhar o nível de mudança de uma indústria moderna, com constantes 
inovações tecnológicas mudando as necessidades regulatórias ao longo do seu 
desenvolvimento. Uma alternativa apresentada para isso, conforme citado, é que as 
agências atuem por meio de ameaças pontuais, conforme fundamentado por 
CORTEZ (2014) e WU (2011). 
Ameaças essas, no entanto, que precisam ser fundamentadas em princípios 
básicos que garantam o bem comum e a dignidade humana, prezando pela 
segurança do usuário e pelo respeito às liberdades fundamentais. Durante esse 
período, seria possível a tomada de subsídios para uma posterior regulamentação 
mais firme e estruturada, que se estabeleça após um período de amadurecimento da 
indústria e das suas inovações. 
Dessa maneira, cria-se uma estrutura regulatória capaz de se adequar às 
mudanças e de absorver novas responsabilidades, que surgem naturalmente com 
desdobramentos de inovações disruptivas ainda em fase de desenvolvimento e 
implementação. Um exemplo disso é a Food and Drug Administration (FDA) nos 
Estados Unidos, agência federal responsável pelo controle da segurança alimentar e 
de produtos farmacêuticos no país. A agência precisou absorver as necessidades de 
regulação de softwares e sistemas médicos computadorizados durante a revolução 
informática. Sem uma fundamentação legal nem uma capacidade técnica apropriada 
para tal, suas ações para regular esse mercado foram ineficazes. 
É necessário ressaltar que, apesar das vantagens dessa abordagem flexível, 
CORTEZ (2014) explica que ela também pode levar à “procrastinação legal” e à 
“inércia regulatória”, quando as agências reguladoras se omitem de qualquer ação 
 
 
enquanto aguardam uma melhor fundamentação do problema. Esse tempo de 
flexibilidade deve ser utilizado somente enquanto maiores subsídios para uma melhor 
decisão regulatória são necessários, e não pode ser postergado de maneira 
indefinida. Um exemplo de sucesso citado por Cortez é a regulação da FCC, 
Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos, que se utilizou da 
abordagem de ameaças durante seis anos para melhor fundamentar uma regulação 
sobre a neutralidade de rede na Internet, conceito que garante o acesso a todos os 
sites, serviços, plataformas e equipamentos com a mesma velocidade e qualidade, 
impedindo que os provedores priorizem ou inviabilizem certos usos da Internet para 
benefício próprio. Ao se utilizar desse período para melhor estruturar as necessidades 
e barreiras para a prática de neutralidade de rede, foi capaz de implementar de 
maneira mais eficaz uma regulação posterior. 
Em contraste, o texto cita que a FDA ficou mais de 25 anos sem conseguir 
adequadamente fundamentar sua regulamentação para softwares e sistemas 
médicos computadorizados, utilizando-se da abordagem de ameaças de maneira 
ineficaz e ineficiente para regular esses produtos, e postergando de maneira 
excessiva a criação de uma regulação fundamentada. 
 
4.2.2 - UMA ALTERNATIVA FISCAL 
 As inovações disruptivas estudadas ao longo do texto demonstraram, de 
maneira geral, sua capacidade de criação de valor para a economia. No entanto, uma 
grande preocupação é a substituição da mão de obra humana com o desenvolvimento 
de mais inovações tecnológicas. 
 Englisch (2018) cita que o desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial 
poderá levar a uma “transição dramática da força de trabalho em quase todos os 
setores de produção e serviços” (tradução própria). Ele ressalta, ainda, que essa 
mudança afetará mais do que os trabalhadores de “colarinho azul”, que realizam 
trabalhos manuais na indústria ou construção civil, atingindo também os 
trabalhadores de “colarinho branco”, que atuam em trabalhos de escritório. 
 De acordo com estimativas apresentadas pelo autor, 14% das posições de 
trabalho existentes em países da OCDE (Organização para a Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico) correm alto risco de serem totalmente automatizadas 
no futuro próximo, e 32% correm um risco considerável de sofrerem uma 
automatização de grande escala. 
 
 
 Essa possibilidade de um desemprego em massa apresenta diversos um 
desafio fiscal duplo para os países: ao mesmo tempo em que a arrecadação 
diminuiria, devido a menor contribuição causada pelo desemprego, os custos para 
programas de retreinamento profissional, benefícios sociais para os desempregados 
e iniciativas públicas de contratação aumentariam, de acordo com Englisch (2018). 
 Para contrabalancear esse problema, nos últimos anos houve a popularização 
do conceito da chamada “taxação de robôs”, onde as máquinas que substituem a 
força de trabalho humana são taxadas diretamente pelo seu papel produtor. 
 Bill Gates, fundador da Microsoft, defendeu essa ideia em diversas entrevistas 
e textos publicados. Em 2017, em entrevista à Quartz, Bill Gates defendeu que será 
necessário compensar a perda do imposto de renda, antes pago pelo trabalhador que 
foi substituído pela máquina, por um novo regime de taxação, que aproveite a maior 
produtividade da automação para gerar mais impostos, que beneficiem a sociedade.22 
Ele sugere, ainda, que esse movimento poderia utilizar a força de trabalho 
ociosa para melhorar o tratamento de idosos e a educação de crianças, que, de 
acordo com Gates, necessitam da empatia e compreensão humana e que carecem 
de pessoas para desempenhar as funções. 
Essa teoria pode ser expandida para além de robôs que atuam em trabalhos 
físicos, se extrapolando o conceito para outros serviços que substituam a força de 
trabalho humana. O atendimento ao consumidor automatizado, por exemplo, é uma 
forma de substituição do trabalho humano por meio da automatização. Seguindo a 
mesma lógica, é possível implementar uma taxação para o sistema de atendimento 
automatizado, levando em consideração a sua produtividade proporcional ao uso de 
mão de obra humana no mesmo serviço. 
Dessa maneira, torna-se possível compensar a perda de arrecadação 
ocasionada pelos adventos das inovações disruptivas. Conforme citado por Bill Gates, 
essa mudança abre, ainda, a possibilidade de se alocar os recursos humanos e 
financeiros em tarefas que apresentem maiores obstáculos para sua automatização. 
 
 
22 DELANEY, Kevin J. “The robot that takes your job should pay taxes, says Bill Gates”, 2017. 
Disponível em: <https://qz.com/911968/bill-gates-the-robot-that-takes-your-job-should-pay-taxes/>. 
Acesso em 16 jan. 2022. 
 
 
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Conforme fundamentado ao longo do trabalho, os estudos de caso permitiram 
compreender o impacto econômico direto de algumas das inovações disruptivas mais 
relevantes da última década. Essas inovações criam novas redes de valor, atingindo 
uma demanda reprimida de uma parcela de clientes que não estavam incluídos no 
mercado atingido pelas soluções anteriores. 
 Pelo seu impacto profundo e rápido, um fato recorrente que pôde ser 
observado é a forte resistência inicial que quase todas as soluções disruptivas 
encontram, enfrentando associações de classe, estruturas regulatórias

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