Buscar

teorico_II

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Economia Criativa 
e Inovação
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. João Elias Nery
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Indústrias Criativas e Inovação
• Conceitos e Formas de Inovação;
• Criatividade e Disrupção;
• Aproveitamento Econômico dos Processos Disruptivos;
• Aspectos Sócio-Econômico-Culturais e Desenvolvimento Sustentável.
• Compreender dinâmicas de inovação;
• Desenvolver habilidades de criatividade.;
• Participar criticamente da análise de possibilidades de aproveitamento econômico
da criatividade e disrupção.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Indústrias Criativas e Inovação
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas:
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de 
aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
Contextualização
O que você viu hoje em seu smartphone? Repare, estamos considerando que 
você possui um, afinal, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), 
no final de 2018 o número de linhas habilitadas de telefones celulares no Brasil 
superava a casa dos 233 milhões, em um país com “apenas” 207 milhões de ha-
bitantes. É claro, nem todas as linhas utilizam aparelhos com sistema operacional 
e acesso direto à internet, mas o público de nível superior – completo ou cursando 
– majoritariamente possui acesso a tais tecnologias.
Anatel. Acesse: http://www.anatel.gov.br
Ex
pl
or
Mas voltemos à pergunta original: o que você viu ou fez com a ajuda do 
aparelho celular? Provavelmente conferiu perfis em redes sociais, mensagens e 
e-mails. É possível que tenha assistido a algum vídeo ou escutado músicas – ou 
talvez tudo isso. Agora, precisamos de um pouco mais de especificidade: você 
usou o smartphone para ligações telefônicas? Utiliza para esse fim com a mesma 
frequência das demais atividades?
Provavelmente a resposta é não – e não há nada de errado. Até pelo menos 
2006, os telefones celulares eram utilizados para fazer exatamente o que fazíamos 
nos telefones fixos: ligações. Quem queria música tinha um aparelho específico; 
idem para filmes e vídeos. Multimeios apenas em computadores maiores, sendo o 
notebook a grande sensação da mobilidade. Havia até um aparelho, à época co-
nhecido genericamente como handheld – “segurado na mão” – em que era possível 
ter uma agenda e levíssimos softwares de produtividade. A empresa pioneira nesse 
aparelho, a “febre” entre os jovens que sonhavam com a maravilhosa quinquilharia 
tecnológica, lançou-o no mercado com o nome Palmtop, este da Figura:
Figura 1
Fonte: Getty Images
8
9
No ano de 2007, a Apple lançou um equipamento que prometia revolucionar a 
tecnologia do século XXI. Em 29 de junho daquele ano, em uma cerimônia com 
aspectos mais espetaculosos do que os lançamentos tradicionais no mundo dos ne-
gócios, o então presidente mundial da empresa, Steve Jobs, apresentou o iPhone:
um computador de mão – como o palm –, com acesso à internet – tal como o 
computador –, linha telefônica – idem aos telefones celulares comuns – e um sis-
tema operacional capaz de rodar programas de toda natureza, desde agendas, ge-
renciadores de e-mail, navegadores de web a jogos, tudo isto com sons e imagens 
em alta resolução.
A indústria da tecnologia como foi conhecida até aquele momento era encami-
nhada à “sepultura”; mas havia alguns percalços nos planos de Jobs:
• O acesso à telefonia dependia das empresas de telecomunicações. Jobs sa-
bia e fez um acordo lucrativo com a AT&T. Nos países onde tal operadora 
não atuava, o aparelho simplesmente não funcionou até que fossem firmados 
acordos com as operadoras e os órgãos reguladores locais; ou seja, as espe-
cificidades das nações pareciam “obstáculos” aos planos de Jobs em ser o 
fundador e empresário mais relevante do futuro das comunicações, da infor-
mática e do entretenimento; 
• O aparelho da Apple precisava de ferramentas úteis. Quem já as possuía era 
a Google, que topou entrar no projeto original. A empresa percebeu que, com 
os devidos acordos e desenvolvimentos, a entrada de outros fabricantes de 
aparelhos de telefonia celular no mercado poderia torná-la a maior companhia 
da internet. Resumindo: a Apple era dependente do parceiro – não o contrá-
rio. Na sua genialidade inovadora, Jobs mostrou o caminho à concorrência 
de gigantes que se tornaram maior do que a Apple – e não foi a sua primeira 
experiência criando um concorrente mais forte, mas isso veremos um pouco 
mais adiante, ainda nesta Unidade. 
O aparelho que está agora em seu bolso, sobre a mesa, em uma bolsa ou mochi-
la, quase indispensável ao modo de vida atual, foi resultado de intenso processo de 
inovações que se tornaram obsoletas, posteriormente reapropriadas, criando uma 
nova tendência geral no mercado consumidor e nas práticas diárias, coincidindo 
com a reorganização econômica de setores inteiros. É um grande exemplo de pro-
cessos que precisaremos conhecer para, dentro das indústrias criativas, garantir-
mos tanto a lucratividade aos segmentos já inseridos em mercados maduros, quanto 
o retorno social esperado por quem financia e confere legitimidade ao orçamento 
público que fomenta projetos culturais.
Contudo, daremos um passo atrás para tentar entender o processo de inovação.
9
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
Conceitos e Formas de Inovação
Bens e serviços culturais cumprem uma função social de garantia do bem-estar. 
Na sociedade capitalista, adquirem duas possíveis formas: de direito do cidadão 
– cuja produção comumente se dá com financiamento via algum tipo de política 
pública como, no caso do Brasil, do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pro-
nac) – e de mercadoria, seja para consumo direto do indivíduo, ou como item que 
agregue valor a outro bem/serviço. 
Em ambos os casos esse produto cultural deve obter adesão de público, pois 
nenhum governo tem interesse, a princípio, em manter dotação orçamentária a 
políticas que o próprio cidadão não tem interesse, muito menos as empresas que 
gostariam de ver as suas marcas associadas a produções de alta qualidade ou as 
que precisam de produtos criativos para aumentar as vendas e, consequentemente, 
a lucratividade. 
Do ponto de vista socioeconômico há dois fenômenos combinados que moldam 
o ambiente concorrencial para os bens e serviços culturais:
1. Decorrentedo próprio processo de modernização; é a alta concentração 
de pessoas nos centros urbanos, fazendo com que precisem de alternativas 
de entretenimento e progresso intelectual em espaços restritos. Áreas para 
práticas desportivas, lazer, festas etc., tornam-se cada vez mais escassas;
2. Desativação, ou transferência para outros países – na Ásia, em geral – das 
indústrias tradicionais que estimularam essa concentração. 
A tendência nessas regiões em intenso processo de “desindustrialização”, no 
sentido de possuírem fábricas de bens tangíveis é, portanto, de desenvolvimento de 
comércio, serviços de toda ordem e indústrias criativas. As grandes cidades que um 
dia foram industriais e se tornaram majoritariamente comerciais produzem menos 
valor – pois possuem menos fábricas – e se especializam em reter valor criado na-
queles países que receberam as indústrias tradicionais.
Ao vender toda ordem de bens industrializados na China, Coreia do Sul, no 
Vietnã, ou na Indonésia, um lojista de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, 
ou Belo Horizonte se aproveita dos baixos custos do trabalho no país asiático para 
realizar um valor de troca altamente lucrativo no Brasil, tão vantajosa que permite 
excedente para pagar o fornecedor do outro lado do mundo, além de seus próprios 
funcionários, transportadores, agência de publicidade e/ou marketing etc.
Se isso ocorre em uma única empresa ou cidade, isoladamente, não há novida-
de, inclusive em termos de história econômica; mas quando uma sociedade inteira 
passa a se desindustrializar, as crises se evidenciam inevitáveis, uma mera questão 
de tempo até que a nova forma de relações econômicas se estabilize.
Nos Estados Unidos a indústria cultural já nasce como uma economia criativa 
por conta da forma como as empresas naquele país se organizaram no início do 
10
11
processo de industrialização: geralmente uma gigantesca estrutura vertical, ou com 
o intuito, do pequeno empresário, em construir uma megacorporação. É um caso 
único, sem paralelo, em um império poderosíssimo que transformou a exportação 
artístico-cultural em estratégia geopolítica de conquista e dominação. 
A transformação da produção cultural em uma economia criativa, com intenso 
fomento governamental na elaboração de políticas públicas e econômicas, incluin-
do exploração tanto acadêmica quanto mercadológica, foi realizada pioneiramente 
pela Inglaterra, justamente a maior potência industrial do Planeta antes dos Estados 
Unidos e que passou tanto por um processo de declínio de seu parque industrial, 
como também em termos de hegemonia econômica, política e cultural. 
Os ingleses estimularam a produção de valor econômico a partir de valores cul-
turais para criar um mercado internamente, protegendo da ofensiva das empresas 
de mídia norte-americanas, ajudadas por não haver barreiras de idioma, bem como 
exportá-los, a outros países, inserindo a expansão da BBC como uma companhia 
integrada à sua estratégia de comércio exterior, servindo como infraestrutura eco-
nômica estatal para apoiar o desenvolvimento de suas indústrias criativas, em um 
modelo muitíssimo parecido com o empregado nas Companhias de Comércio do 
Império Britânico no auge da Revolução Industrial do século XIX. Exemplos de 
países cujos Estados atuam na expansão externa de suas economias existem aos 
montes, não se trata de caso isolado.
Os Estados Unidos, por sua vez, cujo governo criou o que hoje chamamos de
internet, investiram em telecomunicações, aparelhos digitais e tecnologias da internet 
de modo que setores como o cinema, a fonografia e mídia – já maduros naquele país, 
mundialmente hegemônicos – passassem a circular por todo o Globo em canais de 
propriedade de empresários daquela nação, de modo a concentrar a venda de assi-
naturas, cobranças de comissões por intermediação financeira e publicidade on-line 
em companhias instaladas em suas fronteiras, sob as suas leis – principalmente as que 
regulam fluxos de capital. 
Em ambos os casos, a ação conjunta, cada um ao seu modo, de empresas e 
governos se deram em esforços para criar inovações, um dos pilares das econo-
mias avançadas em qualquer setor. Responda agora, para você mesmo, o que 
é inovação? 
Pense um pouco, escreva em um papel, se necessário. Pronto?
A resposta dificilmente terá sido outra do parecido com a invenção de algo 
novo, diferente, inédito. Não está exatamente errada, mas ainda incompleta. Essa 
necessidade de ineditismo, com potencial, inclusive, para despertar o interesse de 
outras pessoas foi amplamente conhecida, mesmo intuitivamente, ao longo de toda 
a história, comumente respondendo a necessidades grandes de suas épocas. Mas 
apenas o apresentar algo novo não foi suficiente para o desenvolvimento da agri-
cultura, roda, fundição dos metais, dutos de água etc. Em uma sociedade qualquer 
isso tudo ganha outra natureza se tiver um uso aceito e assimilado pela sociedade. 
11
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
Há inúmeras obras e trabalhos sobre o tema da inovação. Trataremos do princi-
pal dos quais, perpassando praticamente todas as teorias que atualmente abordam 
o tema: o pensamento do economista Joseph Schumpeter. 
Filho de germânicos da cidade de Trest, atualmente pertencente à Repúbli-
ca Tcheca, mas que naquela época (1883) integrava o Império Austro-húngaro, 
Schumpeter foi formado no pensamento neoclássico – lembra-se do debate sobre 
o valor, visto anteriormente? Não? É interessante, então, fazer uma breve revisão. 
Conviveu com Ludwig von Mises, um dos fundadores do neoliberalismo atual; Otto 
Bauer, expoente da socialdemocracia alemã; e Rudolph Hilferding, um dos princi-
pais formuladores da teoria liberal-econômica sobre o “imperialismo” do século XIX 
que influenciou o pensamento marxista revolucionário na Rússia – particularmente 
de Vladimir Lênin – e na Alemanha. Além disso, Schumpeter foi contemporâneo 
de John Maynard Keynes.
Por sua formação política – vinha do Direito –, o economista austríaco, influen-
ciado pelos pensadores neoclássicos e o incipiente pensamento neoliberal de von 
Mises, em suas reflexões sobre a subjetividade do valor concedeu lugar de destaque 
às influências das dinâmicas sociais no desenvolvimento econômico. Dessa forma, 
buscou teses da Economia Política de Karl Marx e pela Sociologia Conservadora 
de Max Weber, considerando que o desenvolvimento econômico é uma dinâmica a 
ser abordada em uma perspectiva de evolução histórica. 
A sua principal contribuição se deu exatamente na explicação do desenvolvi-
mento capitalista: enquanto para Marx o desenvolvimento do capitalismo se dava 
pela dinâmica da luta desigual entre as classes fundamentais – proprietários dos 
meios de produção e trabalhadores (respectivamente, burguesia e proletariado) – e 
para os neoclássicos se tratava da criação de necessidades subjetivas, Schumpeter 
afirmou que o grande “motor” do desenvolvimento capitalista era a inovação.
Para esse teórico, seja por conta de uma necessidade de reprodução e expansão 
do próprio capital, ou do aproveitamento da oportunidade comercial ao atender às 
necessidades subjetivas, o capitalismo não seria capaz de avançar não fosse a capa-
cidade social da economia de mercado, com ênfase na empresa privada, de trans-
formar invenções em inovações na velocidade com que ocorre no capitalismo. 
Essa diferença conceitual é considerada por muitos comentadores do pensamento 
econômico como o “pilar” de toda sua obra, criando o que foi chamado de Escola 
Histórica da Economia.
Conhece o Professor Pardal, personagem excêntrico e genial criado por Walt 
Disney, que inventa coisas extraordinárias e que quase ninguém é capaz de usar? 
Durante as revoluções industriais eram comuns os “inventores” que desenvolviam 
coisas incríveis, geniais e, muitas das quais, sem qualquer possibilidade de uso. Os 
mais expoentes simplesmente conseguiam dar um sentido comercial para as suas 
invenções. Já existiam, por exemplo, projetos de captação de energia solar em 
Londres, mas a suaviabilidade era praticamente nula em uma cidade com poucas 
semanas ensolaradas por ano. 
12
13
Schumpeter considerava a invenção como o desenvolvimento da fase de con-
cepção inicial de um equipamento ou produto. Para se tornar inovação necessita 
ser efetivamente adotada pela sociedade. Tomou de Karl Marx a ideia de que uma 
burguesia mais avançada tecnologicamente foi capaz de revolucionar os processos 
de produção e superar os setores atrasados, dependentes de processos menos efi-
cientes, ou do custoso comércio com fornecedores ultramarinos. A partir da obra 
de Marx elaborou a ideia de “criação destruidora”, segundo a qual inovações ofere-
cem vantagens às empresas que as inserem na economia, destruindo os monopó-
lios ultrapassados. Essa novidade faz com que novos grupos empresariais surjam 
e cresçam, até que uma próxima onda de inovações destrua o velho para voltar a 
criar algo inédito.
Marx era comunista, Schumpeter era conservador. O segundo usou postulados 
científicos do primeiro para elaborar a sua teoria econômica. Isso é mais comum 
nas Ciências do que se possa imaginar. O objetivo é compreender uma situação e 
oferecer respostas, por vezes soluções a questões práticas.
Marx compreendeu fenômenos econômicos com uma proposta de destruir o 
capitalismo. Schumpeter concordou e adaptou as teorias que tinham como objetivo 
compreendê-lo e melhorá-lo. Ambos tiveram como cláusula inegociável a busca 
pelo conhecimento preciso, considerando que outro, no futuro, poderá os corrigir. 
A vida nas Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas é assim. E nós que já 
somos ou estamos por nos formar para atuar na qual podemos viver bem com isso.
A grande diferença em relação a Marx, aproximando Schumpeter dos neoclás-
sicos, era a vocação socialmente dada da inovação. Para o pensador comunista, a 
inovação se dava por uma necessidade interminável do capital em se autorrepro-
duzir, mas só poderia ser viabilizada pelo esforço cooperado de trabalhadores e 
profissionais intermediários – algo que já estava presente em Adam Smith, autor 
referencial tanto para Marx quanto aos neoclássicos –; ou seja, o processo de ino-
vação seria possível se os trabalhadores tomassem para si os meios de produção e 
controlassem os mercados. Para Schumpeter somente a empresa privada capitalis-
ta era capaz de concentrar tais esforços pela sua própria divisão de trabalho, levan-
do a introduzir as invenções, transformadas em inovações, como meios de gerar:
• Novos bens ou serviços;
• Novos métodos de produção ou comercialização;
• A abertura de novos mercados;
• A conquista de fontes de matérias-primas;
• A quebra de um monopólio decadente.
Vários estudos posteriores comprovaram, com dados estatísticos, que os picos 
de maior crescimento do capitalismo se deram em períodos de intensa inovação, 
mostrando que Schumpeter estava correto nesse ponto. No entanto, o desenvol-
vimento tecnológico soviético foi mais intenso do que o dos países capitalistas no 
período em que o economista austríaco viveu, levando a Rússia majoritariamente 
13
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
feudal de 1917 à vantagem tecnológica na corrida espacial da década de 1950, em 
plena Guerra Fria, chegando ao ponto de o presidente John Kennedy ter mudado 
toda a política de pesquisa, desenvolvimento e inovação dos Estados Unidos para 
alcançar os comunistas, com intensos investimentos estatais que culminaram com 
a chegada do homem à Lua, em 1969. 
Ademais, inovações como “conquistas de fontes de matérias-primas” podem 
ocorrer em laboratório, mas o acesso às quais pode envolver desapropriações de 
terras, desalojamentos de populações tradicionais, ou até mesmo ações estatais 
diretas por via de guerras ou pela associação a governos ditatoriais títeres das gran-
des potências bélicas. Isso é corriqueiro – e não meras anomalias. O mapa dos Es-
tados Unidos, todo cortado em linhas retas, foi formado na expansão para o Oeste, 
com a remoção sumária dos indígenas originários. O mapa do Oriente Médio como 
o conhecemos foi todo redesenhado no século passado em função do acesso das 
potências ao petróleo, preciosa fonte de energia para sustentar as inovações e o 
comércio ocidental. O fato de as maiores inovações obterem apoio estatal e as prin-
cipais potências econômicas atuais – Estados Unidos, China e Alemanha – possu-
írem políticas de planejamento do desenvolvimento tecnológico mostra claramente 
que há algo a ser corrigido nessa teoria, sem que perca a sua grande relevância. 
Seja em Marx, nos neoclássicos, neoliberais, keynesianos, ou na Escola Histó-
rica da qual Schumpeter é o principal expoente, o consenso é que o capitalismo 
é uma forma capaz de organizar a economia inserindo a invenção em processos 
sociais como um fator de desenvolvimento econômico a altíssima velocidade, nunca 
antes vista na história humana, associando o potencial criativo à habilidade econô-
mica, gerando inovação. 
A Ciência e tecnologia se tornam, nas sociedades capitalistas, portanto, pode-
rosos instrumentos do poder econômico. A discordância é se esse processo deve 
se dar totalmente de forma privada – segundo a utopia neoliberal mais ortodoxa 
e prática em países economicamente atrasados –, planificada e realizada integral-
mente pelo Estado – modelo socialista –, ou mista, com o Estado garantindo uma 
estrutura sólida para permitir a ação mais eficiente das empresas privadas – modelo 
mais comum nos países avançados, incluindo os de governos abertamente “neo-
liberais”, desenvolvido no período áureo do keynesianismo, depois da Segunda 
Guerra Mundial. 
Na teoria schumpeteriana, a “criação destruidora” concebe “ondas de inovação” 
que surgem e desaparecem, ou melhor, suplantam uma onda declinante, formando 
uma nova onda que igualmente desaparecerá. Ou seja: uma série de inovações nas 
suas cinco formas propostas por Schumpeter – novos produtos, métodos, mer-
cados, fontes de matérias-primas e quebra de monopólios – são introduzidas de 
modo imbricado entre si. Possibilitam grande desenvolvimento, até o ponto em 
que iniciam o declínio até o momento de serem suplantadas por uma nova onda. 
Nas sociedades capitalistas, tais ondas seriam, com dados atualizados, pelo menos 
quatro já encerradas, sendo que estaríamos vivendo uma transição entre a quinta 
e sexta onda.
14
15
Quadro 1
Onda Inovações Início Fim Duração
1ª Energia hidráulica, têxtil, aço. 1785 1845 60 anos
2ª Vapor, aço, estradas de ferro. 1845 1900 55 anos
3ª Eletricidade, químicos, motorde combustão interna. 1900 1950 50 anos
4ª Petroquímicos, eletrônicos, defensivos agrícolas – agrotóxicos –, aviação. 1950 1990 40 anos
5ª Redes digitais, software, novas mídias, biotecnologia, nanotecnologia. 1990 2020 30 anos
6ª Inteligência artificial, big data,realidade aumentada. 2020 ? ?
A sexta “onda schumpeteriana” coincide com o que o economista alemão Klaus 
Schwab, um dos principais expoentes do pensamento neoliberal e criador do Sim-
pósio Europeu de Gerenciamento de Davos, transformado, desde 1987, em 
Fórum Econômico Mundial, chamou de Quarta Revolução Industrial. Oriundo 
da área de Engenharia e concentrado nos processos de produção e circulação de 
mercadorias, anunciou em seu livro, A Quarta Revolução Industrial, uma nova 
etapa de organização das sociedades capitalistas mais avançadas. 
A lógica de Schwab é parecida com a de Schumpeter, mas retira do centro do 
debate e planejamento a ideia de ondas cíclicas, com ascensão, pico e encerra-
mento formados pela criação destruidora. Para esse teórico, o desenvolvimento e a 
inovação, em atendimento a demandas do mercado e com a necessidade de baixar 
custos levaram os avanços a níveis extraordinários em termos de métodos e técni-
cas, conforme a periodicidade que temos a seguir:
Quadro 2
Revolução Industrial Inovações produtivas Início Fim Duração
1ª Mecanização, energia avapor, energia hidráulica. 1785 1870 85 anos
2ª Produção em massa, linhade montagem, eletricidade. 1870 1969 99 anos
3ª Computador, automação.1969 2009 40 anos
4ª Sistema cibernético,inteligência artificial. 2009 ? ?
O que é a 4ª revolução industrial - e como ela deve afetar nossas vidas.
Acesse: https://tinyurl.com/y36zj9zoE
xp
lo
r
Repare que tanto em Schumpeter como em Schwab as inovações “superadas” 
não foram extintas, mas apropriadas e realocadas para outras funções, de modo 
que os setores inovadores se tornaram mais eficientes; a grande diferença está na 
15
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
concentração do engenheiro alemão no processo produtivo. No entanto, a infor-
matização dos processos levou a possibilidades de integração de toda a cadeia de 
produção e circulação, eliminando etapas e suprimindo tarefas realizadas por traba-
lho humano, reduzindo os custos com mão de obra; é o que o engenheiro alemão 
chama de Indústria 4.0.
O diagnóstico de Schwab não costuma ser contestado, parece correto; mas leva 
a um problema de ordem prática: o que fazer com os potenciais desempregados? 
Ademais, com a intensa modificação da produção, do comércio, das transações fi-
nanceiras etc., que aumenta a velocidade com que desaparecem e surgem as profis-
sões, como organizar o sistema de formação técnica e superior? Há no pensamento 
neoliberal determinado otimismo extremado, com avaliações sobre o fim de várias 
profissões. Investimentos pesados são realizados para substituir funções humanas 
por inteligência artificial, tais como carros autônomos, robôs entregadores, insti-
tuições de Ensino a Distância com estrutura altamente enxuta, principalmente em 
tarefas técnico-administrativo-operacionais etc. 
Como em qualquer Ciência que estuda fenômenos sociais, as previsões dos 
economistas podem simplesmente não se concretizar. O fato é que as maiores em-
presas do mundo de todos os setores – e muitos governos – já estão se preparando 
para entrar no mundo pós-transição, seja correspondente à sexta onda schumpe-
teriana ou à Quarta Revolução Industrial de Schwab. A tendência geral está dada, 
cabendo a todos os pensadores e formuladores de políticas públicas encontrarem 
formas de como lidar com isso. Igualmente ao cidadão, principalmente ao profis-
sional de nível superior – como nós – entender a realidade e propor, em todos os 
foros possíveis e pertinentes, formas de lidar com a qual no presente, preparando 
um futuro garantidor de vida digna universal. 
Os proponentes públicos e privados de projetos culturais ou a absorção de 
segmentos da economia criativa comercialmente maduros na quinta onda, ou na 
Terceira Revolução Industrial, que nessas teorias se defendem ser ambos os even-
tos moribundos, tendem a seguir a lógica das inovações em termos de inteligência 
artificial, big data e formas altamente sofisticadas, automáticas e instantâneas de 
vendas e distribuição de conteúdo por canais digitais. Surge, então, um desafio: 
como criar para um mundo que está claramente em transição, seja para o bem e 
para o mal, mas em transição?
Criatividade e Disrupção
Como vimos até aqui, a inovação tem um aspecto social e histórico, embora te-
ses de grande influência política como as de Klauss Shwab enfoquem na produção 
e circulação de produtos industriais. É importante compreender as características 
estruturais em nossa sociedade. Mas precisamos inovar para tornar as indústrias 
criativas viáveis no exato momento em que vivemos. Somos obrigados a entender 
16
17
os aspectos mais operacionais, logo, a partir de agora “desceremos” um pouco ao 
chão de um profissional criativo comum. 
No seu Dicionário de Economia do século XXI, Paulo Sandroni (2006, p. 429), 
para oferecer uma definição introdutória, apresenta a inovação da seguinte forma:
Introdução de novos produtos ou serviços, ou de novas técnicas para 
sua produção, ou funcionamento. Pode consistir na aplicação prática de 
uma invenção, devidamente desenvolvida (como o transistor). Também 
são inovações as novas formas de marketing, vendas, publicidade, distri-
buição etc., que resultem em custos menores e/ou faturamentos maiores. 
Além do grande impacto que podem produzir na vida social, as inovações 
têm um importante papel de estímulo à atividade econômica, na medida 
em que implicam novos investimentos. 
Considerando essa definição simplificada – que não é simplista –, podemos en-
tender que a inovação realizada pelo profissional criativo, seja em um empreen-
dimento próprio, em projetos culturais financiados por programas de incentivo 
governamental, ou em setores maduros da economia de mercado deve ser realizada 
considerando os aspectos estruturais – o início da sexta onda, ou da Quarta Revo-
lução Industrial – e episódicos, ou seja, o nosso presente.
Para tanto, podemos formular, como perguntas iniciais e em uma linha de 
Schumpeter, basicamente as seguintes:
• O que será apresentado de novo? Bens e serviços? Métodos? 
• Ou serão descobertas? Um novo mercado? Fontes de matérias-primas? 
• Foi identificado um monopólio claudicante que, com algumas inovações das 
anteriores, pode ser suplantado de forma mais eficiente?
Se seguirmos o paradigma da Indústria 4.0, torna-se necessário um pouco mais 
de clareza sobre o bem ou serviço que será oferecido, pois não se trata de criar uma 
onda de inovação; seria mais atuar nessa, em uma abordagem mais pragmática. 
Sabendo o segmento em que se deseja atuar dentro das áreas da Economia Criati-
va, poderíamos questionar o seguinte:
• Os processos demandam muitas etapas artesanais desnecessárias? Ou utilizam 
técnicas e equipamentos antigos demais?
• Deve-se estabelecer divisões bem definidas de tarefas e processos para au-
mentar a eficiência, ou seja, o máximo de qualidade pelo menor custo e boa 
aceitação no mercado?
• O processo é informatizado? Ou o pode ser em alguma etapa, seja na produ-
ção, divulgação, venda e/ou entrega?
• É possível utilizar recursos informacionais para que os processos sejam realiza-
dos e acionados de forma automática, sem a interferência humana?
Obviamente, não seremos capazes de fazer o que os antigos chamavam de “dar 
um passo maior do que as pernas”, afinal, algumas inovações demandam tamanho 
17
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
esforço e custo que estão disponíveis apenas a Estados e empresas gigantescas, 
com enormes capacidades tecnológicas e poder de negociação. Nas indústrias cria-
tivas onde atuamos a busca por inovações se tornou comum nos últimos vinte anos 
devido à entrada “galopante” da tecnologia da informação em todas as esferas da 
vida, especialmente no auge da quinta onda, promovendo formidável evolução no 
processo de circulação de mercadorias.
Para ficar mais claro: se chegarmos às últimas consequências da tendência geral 
de um mundo em que todo o processo possa ser automatizado, o dono de uma 
nova indústria criativa poderá, por exemplo, começar uma nova linha de bens e 
serviços sem sair do escritório. No início do processo, para tomar dinheiro empres-
tado para comprar meios de produção e garantir o pagamento de salários; em vez 
de ir ao banco, negociar, passar por análises mil, conseguirá simular pela internet, 
verificar a documentação necessária e, somente depois de escolher a instituição e 
taxa de juros mais atrativa, solicitar o crédito. A depender do valor, poderá sacar 
o montante previamente aprovado pelo banco em que possui conta, de acordo 
com o seu perfil, condição esta monitorada pela instituição de acordo com a sua 
movimentação financeira. Poderá solicitar os equipamentos e materiais também de 
forma remota, os quais serão processados e despachados automaticamente pelo 
fornecedor, sendo que o transportador receberá a solicitação, retirará o material no 
remetente e o entregará no local desejado. Finalmente, para contratar os trabalha-
dores utilizará outra aplicação que oferecer especialistas em cada área que desejar 
para o processo seletivo. 
Dezenas de processos foram simplesmente suprimidos pela inclusão da tecnolo-
gia. Consequentemente, empregos e intermediários para dividir o lucro produzido 
na esfera da produção.Essas pessoas precisarão fazer algo. Muitas etapas não po-
dem ser levadas a cabo por conta de legislação como, por exemplo, a trabalhista; 
afinal, nenhum de nós deseja perder o emprego para um software ou retornar à 
mesma empresa ganhando menos, em uma função menos realizadora/prestigio-
sa, ou sem uma segurança mínima de permanência na organização. Ademais, se 
todos estiverem desempregados e/ou ganhando pouco, quem comprará bens e 
serviços de qualquer área, não apenas da Economia Criativa? A conta não fecha e 
a tendência geral possui claras e complicadas contradições, bem como poderosos 
fatores contrários.
Aproveitamento Econômico 
dos Processos Disruptivos
Aperfeiçoar métodos produtivos já era prática na economia capitalista, tais como 
mostravam Schumpeter e Schwab, mas na etapa das tecnologias da informação 
o processo ficou tão rápido que a própria inovação ganhou estudos específicos, 
particularmente na área de Administração e Negócios, a fim de que processos 
aparentemente perfeitos pudessem ser mais aprimorados. O professor Clayton M. 
Christensen, da Escola de Negócios da Universidade de Harvard, criou no auge 
18
19
da quinta onda, ou da Indústria 3.0, o conceito de inovação disruptiva, ou seja, 
a transformação de um mercado ou setor pela introdução da simplicidade, 
conveniência e acessibilidade. 
Aqui tudo se aproxima da realidade do profissional de nível superior porque diz 
respeito à inovação vivida cotidianamente, não se tratando de criar ondas ou con-
ceitos de indústria.
A inovação disruptiva busca pegar o que já existe e facilitar o seu acesso, co-
mumente cortando não apenas custos de produção, mas derrubando o preço ao 
consumidor, dando vantagens competitivas ao empresário. Pois bem, o que foi o 
iPhone senão enorme conjunção de recursos na facilidade de se possuir e carregar 
um único aparelho?
Talvez seja o caso mais paradigmático de inovação disruptiva, pois não apresen-
tou uma tecnologia nova sequer; tudo o que foi utilizado no desenvolvimento do 
aparelho era dominado pelos profissionais de hardware e software. Contudo, foi 
uma inovação empresarial que deslocou grande parte do mercado de entretenimen-
to e aparelhos de telefonia celular para a Apple.
Desde a juventude, Steve Jobs sabia como fazer exatamente isso. Nas muitas de 
suas biografias, em livros ou filmes, apontam para a sua perspicácia em perceber, já 
na década de 1970, quando os computadores eram máquinas gigantes de calcular 
a serviço de bancos, universidades e governos – os mainframes –, que um modelo 
pequeno, com um monitor e recursos pessoais poderia ser vendido ao cidadão 
comum. Já existiam computadores de pequeno porte, mas Jobs queria algo que 
pudesse ser também divertido. Empresas gigantes, como a IBM e HP, não acredita-
ram no projeto por rejeitar a ideia de uma pessoa usar uma ferramenta de trabalho 
em casa. Assim, o projeto do Apple I foi acolhido pela israelense Intel e tornou os 
idealizadores milionários.
Na década de 1980, quando a Apple já era gigante, Jobs tentou parcerias com 
a Microsoft, desenvolvedora de softwares – programas e sistema operacional. 
Imaginava que não seria uma concorrente, pois a Apple forneceria hardware – o 
próprio computador. 
Bill Gates, presidente da Microsoft, já havia desenvolvido uma forma de comer-
cialização de software por licença, de modo que cada um dos computadores ven-
didos pela IBM com o sistema operacional DOS renderia uma parcela do preço à 
Microsoft. Para Jobs, o seu concorrente era justamente a IBM.
No entanto, mesmo com um novo mercado altamente lucrativo, os computado-
res eram acionados por comandos de programação pouco acessíveis à maioria das 
pessoas. Foi então que a Xerox, fabricante de fotocopiadoras, desenvolveu uma 
interface gráfica para computadores e, por entender que equipamentos pessoais 
não eram o seu ramo de atuação, repassou à Apple, que lançou o Macintosh.
Jobs cedeu a Gates o Macintosh; o presidente da Microsoft, por sua vez, de-
senvolveu um sistema muito parecido, o Windows, e passou a comercializar em 
19
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
esquema de licenças, tal qual fazia com o DOS e a IBM. Steve Jobs descobriu que 
o seu concorrente não era uma empresa, mas toda uma indústria que não assistiria 
de “camarote” a formação de um monopólio.
Foi parecido com o que ocorreu com o iPhone: Google criou o projeto Android, 
um sistema operacional aberto para rodar em qualquer telefone celular, de qual-
quer operadora, “presenteando” as fabricantes de aparelhos que, assim, poderiam 
concorrer com a Apple. No sistema aberto estão embutidos todos os recursos da 
Google, colocando essa empresa no aparelho de seu primeiro parceiro e nos de seus 
concorrentes. Pela segunda vez, Steve Jobs inovou e forneceu os subsídios para que 
os seus concorrentes tomassem o seu mercado, criando uma onda inovadora. Talvez 
devesse ter lido – se não leu – um pouco de Schumpeter. 
Atualmente, vivemos esse tipo de inovação empresarial com intensidade, envol-
vendo também o progresso tecnológico, majoritariamente em inteligência artificial 
e big data. O caso mais atual e famoso na Economia Criativa é o dos serviços de 
streaming, com a transmissão em tempo real de áudio e vídeo. Nesse sentido, exa-
minemos a indústria fonográfica:
Até 1999 as pessoas costumavam comprar discos com um número limitado de 
músicas para ouvir em casa, no carro, trabalho etc. Não se tratava de uma opção, 
como é atualmente, mas a única forma. Os Compact Discs (CD) já tinham som 
digital, compatível com os computadores, mas em arquivos significativamente gran-
des. Com a criação de arquivos compactados sem perda de qualidade perceptível 
ao ouvido humano, sendo o principal dos quais o Moving Picture Expert Group 
Layer 3 (MP3), armazenar milhares de músicas em um disco rígido se tornou co-
mum, com usuários transferindo as suas músicas ao computador.
À medida que a comunicação via internet se aperfeiçoava, maiores eram as 
quantidades de dados que poderiam ser trocadas entre computadores, até que em 
1999 três jovens californianos – Sean Parker, Shawn Fanning e John Fanning – 
criaram um programa que formava uma rede na qual os usuários conectados po-
deriam trocar arquivos entre os seus computadores, isto a velocidades mais rápidas 
aos padrões da época.
Em questão de meses, milhões de pessoas ao redor do mundo já trocavam mú-
sicas gratuitamente, afetando diretamente a venda de discos. A pirataria foi conec-
tada globalmente.
Após uma série de processos, o Napster – nome do programa em questão – teve 
de deixar a atividade, mas a ideia foi apropriada rapidamente por Steve Jobs, quem 
criou o serviço iTunes, em que as pessoas poderiam comprar músicas a um valor 
relativamente baixo, o que se tornou particularmente atrativo pelo fato de poder 
adquirir apenas as faixas mais atrativas ao ouvinte – afinal, em um CD com doze 
ou treze músicas, talvez você não goste de oito ou nove; daí, imagine a economia.
Para ouvir tais músicas, a Apple também lançou um aparelho específico para 
tocar arquivos MP3, denominado iPod; de modo que as faixas antes “confinadas” 
20
21
ao computador de casa agora estavam disponíveis em todos os lugares onde se ou-
via o CD: no carro, trabalho, transporte público etc. Mas as músicas continuavam 
a ocupar considerável espaço em disco, tornando necessário comprar iPods, ou 
tocadores de MP3 concorrentes, cada vez mais caros, com maior capacidade para 
rodar, inclusive, filmes. Uma “bola de neve” que tornava excessivamente caro o 
acesso a tais produtos culturais.
No ano de 2007, com o lançamento do iPhone, além de existir um computador 
que cabia na palma da mão, o usuário também começou a carregar o acesso à 
internet no bolso. Então, para que exatamente comprar músicas individualmente? 
Diversos serviços de transmissão de conteúdo passaram a surgir. Atentemo-nos, con-
tudo, ao que hoje é, talvez, o mais relevante – eventualmente não por muito tempo.
No ano de 2008 foi criado o Spotify. A sua empresapossui servidores onde as 
músicas são armazenadas, catalogadas, separadas por artista, gênero, álbum etc. 
Com um aplicativo é possível criar uma lista e executar no smartphone, sem a 
necessidade de download, pagando uma taxa de assinatura relativamente baixa se 
comparada à aquisição cada vez mais frequente de novos iPods ou smartphones, 
ou ainda pelo tempo gasto para baixar músicas ilegalmente, de modo que a pirata-
ria deixou de ser atrativa. Além disso, o número de obras acessadas é virtualmente 
infinito e a empresa divide em modalidades de pacotes de acesso, enquanto as gra-
vadoras, donas dos direitos econômicos das obras, continuam remuneradas. 
Aspectos Sócio-Econômico-Culturais
e Desenvolvimento Sustentável
O exemplo da indústria fonográfica é apenas um, dado que atualmente há uma 
infinidade dos quais: Netflix praticamente extinguiu a venda de filmes e séries em 
Digital Versatile Disc (DVD); Uber formou a maior empresa informal de transpor-
tes do mundo, isto sem possuir um carro; o mesmo vale para hotelaria e o AirBnb. 
Nenhuma dessas organizações criou algo em si, apenas aperfeiçoou o processo de 
circulação dos bens e serviços – mercadoria –, criando facilidades aos compradores 
e cobrando pequenos valores por isso, o que, no volume de negociações interme-
diadas, gerou gigantescas fortunas. 
Você se lembra da Unidade I? Quando vimos Albert Einstein agradecendo a to-
dos os cientistas que o antecederam pela descoberta da teoria da relatividade – esta-
va sobre os “ombros de gigantes”? É a perspectiva do cientista voltado unicamente 
a produzir conhecimento sobre como funciona o Universo. Steve Jobs ofereceu 
uma versão aos negócios: “a criatividade é apenas conectar coisas”. As pessoas 
veem, analisam, dão um sentido a partir de suas experiências e criam, inovam o 
mundo, mercado, a forma de consumir. Poucas pessoas, segundo Jobs, têm essa 
oportunidade porque os indivíduos estão se tornando pobres em experiências.
21
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
Nas indústrias criativas há pessoas com grande riqueza de experiências, mas 
falta algo para torná-las prósperas em inovação e reverter ao criativo; possivel-
mente seja alguma ausência da clareza sobre como funcionam, justamente, na sua 
natureza econômica. 
Logo, nesta Unidade temos um desafio: entender como todas essas possibi-
lidades de inovação podem nos ajudar em indústrias criativas. Quem o fez no 
passado conseguiu unindo a capacidade criativa à inovadora. Voltemos ao processo 
de produção e circulação, revisto de forma resumida na seguinte Figura:
Fin
an
cia
m
en
to Entidade �nanceira
ou governamental
que empresta capital
na forma de crédito
ou dinheiro.
Empresário ou
produtor cultural
que compra
equipamentos,
materiais etc., e a
força de trabalho
que cria o valor.
Estágio em que o bem
ou serviço será vendido
por um preço capaz de
remunerar o produtor,
pagar a estrutura de
circulação e as vendas
e devolver à instituição
�nanceira os juros cobrados,
ou à sociedade na forma de
entretenimento acessível.
Pr
od
uç
ão
M
er
ca
do
Figura 2
A resposta pode ser dada a partir da compreensão de possibilidades de disrup-
ção no processo de produção e circulação. São inúmeras: na distribuição de algum 
espetáculo, conteúdo, notícia, publicidade etc.; o desenvolvimento de programas, 
algoritmos, aplicativos; a organização da oferta e do modo de cobrança, de sorte 
a facilitar a vida do usuário, tornando o pagamento mais atrativo do que os meios 
tradicionais ou a pirataria; ou ainda a boa e velha inovação no processo produtivo 
e de vendas que faça da empresa criadora mais competitiva e lucrativa.
Seja qual for a alternativa encontrada, outro desafio é construir um processo de 
indústrias com longevidade, o que, em termos de Economia e Administração, trata-
-se de desenvolvimento sustentável, incluindo:
• Fontes estáveis de receitas para que a produção dos bens e serviços criativos 
não seja interrompida facilmente. Podem ser financiamentos ou, com a intensa 
atividade econômica, criar mecanismos de crédito, ou fluxo seguro de caixa 
para que a produção não seja cessada por falta de dinheiro;
• Sistema de remuneração e formação permanente dos profissionais para que a 
indústria criativa não pare por falta ou preço muito alto da força de trabalho, 
o que pode ser realizado com o apoio de políticas públicas de educação e a 
formação técnica e superior;
• Processos que não gerem danos ambientais durante a produção e circulação, 
tampouco incluam na cadeia fornecedores que não tomem os mesmos cuidados.
22
23
Saiba o que é desenvolvimento sustentável segundo a World Wide Fund for Nature (WWF) 
em: https://tinyurl.com/yyduyqkuEx
pl
or
Este último ponto é importante não apenas por uma questão moral. Se você 
voltar às “ondas schumpeterianas” perceberá que estão cada vez mais curtas.
A primeira teve sessenta anos, a última, trinta. Se pensarmos em ondas antes das 
revoluções industriais, duraram séculos – quando não milênios. A velocidade au-
mentou exponencialmente. Se fosse uma máquina, o capitalismo estaria mostran-
do claríssimos sinais de superaquecimento.
De fato, o consumo de recursos naturais pode “quebrar” todo o sistema não 
pelas suas debilidades, mas por tornar a vida humana inviável no Planeta. Logo, 
cada esforço comercial deve levar em conta a sua necessidade de consumo de ma-
teriais, energia, água e impactos, mesmo que eventualmente signifique controlar o 
crescimento.
Importante!
Nunca se esqueça disto: crescimento econômico não é necessariamente desenvolvimen-
to econômico.
Importante!
Por outro lado, governos devem estabelecer regras de salvaguarda de médio e 
longo prazos não apenas para a economia, mas para a vida, afinal, sem esta sequer 
existe mercado.
Assim como não podemos resolver questões estruturais por ações individuais 
em termos de potencial de inovação, a criação de novas “ondas” ou o estado da 
arte industrial, isoladamente, não proverá meios de alterar o cenário de completo 
desequilíbrio entre os fatores econômicos, sociais e ambientais na economia global.
Porém, o conjunto da sociedade tem condições de realizar a pressão por baixo. 
Em termos de inovação na Economia Criativa, há implicações diretas no desenvol-
vimento e uso de técnicas, tecnologias e métodos – que corresponderão ao tema de 
nossa próxima Unidade.
23
UNIDADE Indústrias Criativas e Inovação
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Filmes
A Rede Social
A rede social. Dir. David Fincher. Estados Unidos, 2010. 120 min.
A Verdadeira História da Internet
A verdadeira história da internet [documentário, 4 episódios]. Discovery Channel. 
Estados Unidos, 2016.
Piratas da Informática
Piratas da informática [Pirates of Sillicon Valley]. Dir. Martin Burke. Estados 
Unidos, 2007. 135 min.
Steve Jobs
Steve Jobs. Dir. Danny Boyle. Estados Unidos, 2016. 122 min.
Steve Jobs, O Homem e a Máquina
Steve Jobs, o homem e a máquina. Dir. Alex Gibney. Estados Unidos, 2016. 123 min.
24
25
Referências
CHRISTENSEN, C. M. O dilema da inovação – quando as novas tecnologias 
levam as empresas ao fracasso. São Paulo: M. Books, 2001.
SANDRONI, P. Dicionário de Economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2006.
SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: 
Fundo de Cultura, 1961.
SCHWAB, K. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: EdiPro, 2016.
WU, T. Impérios da comunicação – da telefonia à internet, da AT&T ao Google. 
Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
25

Continue navegando

Outros materiais