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A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO EM AÇÃO UM ESTUDO SOBRE OS FLUXOS DA INFORMAÇÃO NO MUSEU DE ARQUEOLOGIA DE ITAIPU (MAI)

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CENTRO DE ESTUDOS GERAIS 
INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 
CONVÊNIO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – INSTITUTO 
BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
DIEGO LEMOS RIBEIRO 
 
 
 
 
 
 
A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO EM AÇÃO: 
 
 
Um estudo sobre os fluxos da informação no Museu de 
Arqueologia de Itaipu (MAI) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI 
2007 
 
 
DIEGO LEMOS RIBEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO EM AÇÃO: 
 
 
Um estudo sobre os fluxos da informação no Museu de 
Arqueologia de Itaipu (MAI) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de mestrado apresentada ao 
Curso de Mestrado em Ciência da 
Informação do convênio PPGCI/UFF – 
IBICT/MCT, como quesito parcial para a 
obtenção do grau de mestre. 
 
 
 
 
 
ORIENTADOR: PROF. DR. GERALDO MOREIRA PRADO 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2007 
 
 
DIEGO LEMOS RIBEIRO 
 
 
 
A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO EM AÇÃO: um estudo sobre os 
fluxos da informação no Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI) 
 
Dissertação apresentada à banca examinadora do convênio Programa de Pós-
graduação em Ciência da Informação – PPGCI/UFF – IBICT/MCT como parte dos 
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre, sob orientação do Prof. Dr. 
Geraldo Moreira Prado 
 
 
 
Aprovada por: 
 
 
 
 
 
 
_______________________________________ 
Prof. Dr. Geraldo Moreira Prado (Orientador) 
 
 
 
 
 
_______________________________________ 
Profª. Drª Maria Cristina Oliveira Bruno 
 
 
 
 
 
_______________________________________ 
Profª. Drª. Maria Nélida González de Gómez 
 
 
 
 
 
______________________________________ 
Profª. Drª. Sarita Albagli (Suplente) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha família que está sempre ao meu lado. 
 
"Me apoiarei em você e você se apoiará em mim, e nós estaremos be m" Dave 
Matthew's Band 
 
Não foram poucas as pessoas em que me apoiei para levar esse projeto de vida à frente, 
portanto não poderia deixar de agradecer as seguintes pessoas: 
 
Ao meu orientador e amigo Geraldo Moreira Prado que deu todo o crédito ao meu trabalho 
e tanto me auxiliou e me motivou a seguir em frente; 
 
Agradeço a minha Mãe, ao meu Pai, e ao meu irmão; 
 
Ao inestimável amigo, irmão e pai Laffayete. Não tenho palavras para te agradecer por tudo 
o que você fez e vem fazendo por mim; 
 
À Ana Cecília, que esteve ao meu lado em todos os momentos de tensão nos últimos 10 
anos; 
 
Aos professores do PPGCI UFF-IBICT, em especial à professora Maria Nélida González 
de Gómez pela profissional atenciosa e exemplar que é, assim como agradeço a professora 
Lena Vânia pelas valiosas aulas proferidas; 
 
Aos colegas de mestrado com quem partilhei conhecimentos e experiências, tanto na sala 
de aula quanto nas conversas do dia-a-dia; 
 
Aos especiais amigos para eternidade, Danielle e Paulo , por todo o apoio e leitura de 
extensos e cansativos trabalhos; 
 
Ao professor José Mauro que foi um divisor de águas na minha vida acadêmica; 
 
À equipe de profissionais do PPGCI – IBICT que estão sempre a postos para auxiliar os 
alunos em tudo o que for necessário , em especial ao Tião, Sônia, Abnesser e a querida 
Janete; 
 
A todos os profissionais do MAI pela paciência e delicadeza, em ordem alfabética: Ana 
Carolina, Ana Caroline, Joãozinho, Laudessi, Maria, Miguel, Priscila, Renato, Vera 
Gigante e Zezé; 
 
Aos membros da Vila de Pescadores de Itaipu por toda a colaboração dispensada, 
principalmente, ao Seu Chico, à Erika, à Vera, ao Anibal, ao Guete, ao Cambuci, à Lúcia e 
tantos outros; 
 
À Alejandra Saladino pela atenção e por me ceder relevante material de pesquisa ; 
 
Aos profissionais do Arquivo do IPHAN, Dona Zezé, Ivan, Oscar e Júlio pelo auxílio e 
profissionalismo que facilitaram a pesquisa documental; 
 
Aos profissionais da Biblioteca do IPHAN Murilo e Ana Clara; 
 
 
E a todos aqueles que me suportaram nesses dois anos de egocentrismo e displicência 
afetiva, mas que estiveram ao meu lado me dando o apoio necessário para que finalizasse 
essa importante etapa de vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Pretensamente cabe à ciência encontrar uma explicação para tudo e acabar 
com o mistério e, como a exatidão científica aos poucos se impôs como uma 
ordem, desautorizando de partida qualquer objeção, aconselhamos às pessoas 
tímidas à miopia para manter vivo o mistério” 
G. Groddeck 
 
 
Resumo 
 
 
Essa dissertação estuda os fluxos informacionais que são intercambiados 
entre o Museu de Arqueologia de Itaipu e o microssocial que o envolve, a partir do ponto 
de vista relacional. Trata-se de um estudo exploratório em que as ações cotidianas do 
Museu são observadas em contexto, no instante de interface com o seu público, sob a 
perspectiva da formação de redes de relações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abstract 
 
 
This work studies the information flows that are interchanged between the 
Museu de Arqueologia de Itaipu and the micro-social that involves it, from the relationary 
point of view. One is about a exploratory study where the daily actions of the Museum are 
observed in context, in the instant of interface with its public, under the perspective of the 
formation of nets of relations. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
1. Introdução .....................................................................................................................14 
2. Rede teórica ..................................................................................................................23 
2.1. O MAI sob o olhar da Ciência da Informação ......................................................23 
2.2. O MAI sob o olhar da Museologia .......................................................................30 
2.2.1. A cumplicidade entre os Museus e a Arqueologia .......................................31 
2.2.2. Nova Museologia? ........................................................................................35 
2.2.3. As Cartas.......................................................................................................36 
2.3. O MAI sob o olhar de outras teorias .....................................................................40 
2.3.1. Museu e Educação: O Olhar Freiriano .........................................................41 
2.3.2. A Virtualidade Artesanal. .............................................................................46 
2.3.3. Mapeamento dos Fluxos informacionais em ação: uma abordagem 
Latouriana .....................................................................................................................48 
3. O Museu de Arqueologia de Itaipu...............................................................................52 
3.1. Conhecendo o MAI: Primeiras impressões – o que pode ser visto diretamente ao 
observá- lo. ........................................................................................................................55 
3.2. Fontes escritas – O que não conseguimos enxergar diretamente no MAI............60 
3.2.1. Projetos e ações sócio-educativas .................................................................70 
3.3. O MAI em um olhar além da materialidade: as outras versões ............................73 
4. Os caminhos..................................................................................................................86 
4.1. O Etnométodo.......................................................................................................87 
4.1.1. O que sugere Bruno Latour? .........................................................................88 
4.1.2. O etnométodo em ação .................................................................................89 
4.1.3. Como incorporaremosisso ao nosso laboratório? ........................................90 
4.1.3.1. O que pretendemos trazer de diferencial? ............................................91 
4.1.3.2. Ferramentas utilizadas em campo.........................................................93 
4.1.3.3. Os relatórios de pesquisa ......................................................................94 
4.2. Em campo .............................................................................................................96 
5. Análise de dados ......................................................................................................... 106 
5.1. À luz da Ciência da Informação ......................................................................... 106 
5.2. À luz da Museologia ........................................................................................... 111 
5.2.1. Qual o lugar do MAI na classificação de Museus? .................................... 111 
5.2.1.1. Parâmetros de um Novo Museu:......................................................... 112 
5.2.1.2. Parâmetros de um Museu Tradicional ................................................ 113 
5.2.2. MAI: iniciativas intra ou supra- institucionais?........................................... 117 
5.3. À luz da Educação de Freire ............................................................................... 122 
5.3.1. Qual a direção que seguem os fluxos informacionais: vertical ou horizontal?
 123 
5.4. À luz da virtualidade de Lévy............................................................................. 130 
5.5. À luz da Sociologia das Ciências de Latour ....................................................... 135 
5.5.1. Montando a rede ......................................................................................... 136 
5.5.2. Observando a ação dos Modernos .............................................................. 139 
6. Considerações finais ................................................................................................... 149 
 
7. Referências ................................................................................................................. 152 
APÊNDICE......................................................................................................................... 159 
A - APÊNDICE .............................................................................................................. 159 
Anexos ................................................................................................................................ 208 
Anexo 1........................................................................................................................... 208 
Anexo 2........................................................................................................................... 209 
Anexo 3........................................................................................................................... 210 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 
 
Figura 1 - Visão teórica anterior ao MAI .............................................................................53 
Figura 2- Visão teórica após o MAI .....................................................................................54 
Figura 3 – Fachada do MAI e de uma das maquetes em exposição ....................................55 
Figura 4 – Fachada e da capela do MAI ...............................................................................56 
Figura 5 – Foto de dois pátios internos do MAI ...................................................................57 
Figura 6- Pátio interno onde oficinas são realizadas ............................................................58 
Figura 7- Fotos da sala de exposição de longa duração (externa e internas)........................59 
Figura 8 – Antiga fachada antiga das Ruínas - imagem cedida pelo Arquivo Central 
IPHAN/-RJ. ..................................................................................................................62 
Figura 9 – Bugres ao redor da Duna Grande ........................................................................67 
Figura 10 – Atividade da Semana Nacional de Museus – imagens cedidas pelo MAI ........71 
Figura 11 – Crianças participando da oficina de arqueologia. .............................................73 
Figura 12 – Aberturas nas Ruínas - imagem cedida pelo Arquivo Central IPHAN/-RJ. .....75 
Figura 13 – Foto da década de 70 no interior das Ruínas – imagem cedida por Erika 
Gonçalves .....................................................................................................................76 
Figura 14 – Capela antes da reforma da década de 70 - imagem cedida pelo Arquivo 
Central IPHAN/-RJ. ......................................................................................................77 
Figura 15 – Imagem da última missa celebrada no iterior da capela - imagem cedida por 
Erika Gonçalves ............................................................................................................79 
Figura 16 – Irmão da Erika brincando na Duna – imagem cedida por Erika Gonçalves .....80 
Figura 17 – Imagem da canoa na capela...............................................................................83 
Figura 18 – O osso de baleia em um dos pátios do MAI......................................................84 
Figura 19 - A “arqueóloga mirim” - imagem cedida por Erika Gonçalves ..........................84 
Figura 20 - Desdobramento da rede – Instante fotográfico ................................................ 137 
 
 
 
Tabelas 
 
 
Tabela 1 – Comparativo entre Museu Tradicional e Novo Museu.......................................38 
 
 
 
1. Introdução 
 
A compreensão do que seria o papel dos museus brasileiros na 
contemporaneidade, por diversas vezes escapa de um entendimento fechado e limitado. Se 
lançarmos hoje essa pergunta para conceituados profissionais de museus, provavelmente causará 
certo desconforto e, possivelmente, obteremos respostas divergentes para a mesma indagação 
que, a priori, soa como simples. 
 Usando uma fonte oficial, a definição do Conselho Internacional de Museus 
(ICOM / UNESCO), contida em seu código de ética, nos fornece a seguinte resposta sobre que se 
espera de um museu1: 
 
Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da 
sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, 
pesquisa, divulga e expõe, para fins de estudo, educação e lazer, testemunhos 
materiais e imate riais dos povos e seu meio ambiente. (ICOM) 
 
De maneira geral, os museus estão abertos para o público com o objetivo de 
promover uma integração mútua, a partir da adoção de variadas estratégias de expressão, na 
forma de linguagens museológicas e museográficas. Mais do que isso, os museus se apresentam 
como mediadores da memória social que, apesar de possuírem um núcleo denso que dá conta da 
preservação e da pesquisa do acervo que possui, visa, sobretudo, inserir-se nos processos de 
comunicação. 
É corrente na área de museus a classificação dessas instituições em duas 
categorias, a princípio dicotômicas, com vistas a entender a maneira com a qual essas instituições 
mantêm contato com o público. Seriam elas: os Museus Tradicionais e os Novos Museus. De 
maneira generalizada, a primeira categoria teria as suas ações voltadas para a materialidade dos 
acervos em um edifício demarcado. A segunda, porém, levaria mais em conta os movimentos 
sócio-culturais em um espaço aberto, muitas vezes livre de delimitações físicas. 
Nesse sentido, mesmo que não haja uma resposta segura e cercada para 
classificar a função dos museus junto à sociedade, podemos aceitar que, direta ou indiretamente, 
seu papel gira em torno das relações comunicativas entre instituição de memória e o público. É1 Essa definição está disponível no seguinte endereço eletrônico: http://www.icom.org.br/codigo_etica_port.pdf. 
 
 
15 
esse conjunto de atividades que, para fins desse estudo, pretendemos abordar sob a luz da Ciência 
da Informação. 
A presente dissertação tem sua pertinência centrada nos aspectos comunicativos 
estabelecidos entre um museu agenciador de informação e o público com o qual mantém 
contatos, em um espaço concreto de relações. Todavia, poderiam afirmar que esse tema não 
passaria de mais uma abordagem acerca das exposições museológicas ou de tarefas operacionais 
internas que os museus comumente lidam. Para desfazer essa visão, desde já asseveramos que 
não nos interessa aproximar da típica noção de museus voltados unicamente para a exposição de 
objetos em vitrines, nem para as técnicas de conservação de acervo, nem para os processamentos 
documentais e, muito menos, para as tecnologias da informação, tão em voga na 
contemporaneidade. 
Traremos, sim, para o nosso campo de reflexão, as manifestações 
comunicativas no contexto das ações sociais, espaço este permeado por estratégias de negociação 
de valores simbólicos e arraigado de confrontos e aceitações mútuas. Desse ponto de visão, 
acreditamos que a natureza social e humana da Ciência da Informação proverá um profícuo 
terreno de reflexão, sobretudo quando inter-relacionado às perspectivas pragmáticas da área. 
Analisando sob uma ótica alinhada à Sociologia e à Antropologia – áreas afins 
à corrente pragmática da Ciência da Informação – sustentaremos a possibilidade de pensar e pôr 
em questão a natureza do conceito informação, quando imerso nas relações sociais e 
comunicacionais. Os autores integrantes dessa filiação lançam luz para a forma e o sentido que a 
informação científica pode adquirir na área, levando-nos a pensar que não cabe um entendimento 
do conceito fechado em sua dimensão física – informação transportável e/ou estocável –, e sim 
mais adequado, talvez, pensar a informação como um fenômeno construído socialmente e, de 
maneira geral, diluído e fluidificado no entremeio das relações interlocutoras, portanto, 
descomprometido de amarras físicas e espaciais. 
Esse movimento de deslocamento de olhares, que parte dos bastidores dos 
museus em direção ao palco onde esses atores interagem e intercambiam sentidos e experiências, 
demanda-nos, também, um olhar que se desprenda do ambiente privativo das afirmações 
científicas e que parta para onde as relações humanas acontecem de maneira quente e, muitas 
vezes, imprevisível. Trataremos de adentrar no lugar onde as relações efetivamente acontecem. 
Olharemo-nas de perto, verificando como são tecidos esses enredamentos no momento em que 
 
 
16 
estão acontecendo. Essa ação, que visa observar os fluxos informacionais de maneira quase 
antropológica, seguramente poderá contribuir para a compreensão da pragmática da informação 
empiricamente, em uma localidade delimitada, em um contexto complexo e dinâmico. 
Nesse enfoque, o Museu de Arqueologia de Itaipu mostra-se um museu sui 
generis, no que tange à natureza de suas práticas informacionais, e que merece um estudo 
cuidadoso, que possivelmente poderá render frutos que podem amadurecer e servir de alimento a 
idéias e reflexões que podem, inclusive, extrapolar os limites propostos para um mestrado. 
Esperamos que , a partir da preparação desse terreno de análise, por intermédio de uma pesquisa 
exploratória do Museu, possamos deixar um campo aberto para a possibilidade de novas 
investidas futuras que ambicionem oxigenar as reflexões sobre as práticas comunicativas e a 
função social da Ciência da Informação. 
Para desvendar o ponto de partida desse projeto, vale indicar que no processo 
inicial da pesquisa estávamos voltados para um estudo que enfatizava a valoração dos objetos 
arqueológicos no âmbito do processo de musealização dos artefatos. Grosso modo, por longa 
data, nossos estudos permaneceram direcionados aos aspectos técnicos e teóricos que envolviam 
os processamentos documentais que geralmente são realizados no interior dos museus de 
arqueologia, tendo em vista que, até então, as atividades que exercíamos em paralelo à pós-
graduação mantinham estreita afinidade com as pesquisas que estávamos desenvolvendo. 
Ao lançarmo-nos à procura de um museu de arqueologia que servisse como 
campo empírico para abrigar passivamente as teorias anteriormente construídas, o campo com o 
qual nos deparamos rendeu para a pesquisa mais indagações do que um simples um repositório de 
estocagem de informação acabada. Concomitantemente, as leituras incorporadas no decorrer da 
pesquisa nos aguçavam um olhar voltado para o exterior dessas caixas de processamento e 
produção de informação, embora tivéssemos dificuldade de inserí-las no contexto dos museus 
que conhecíamos e pretendíamos adotar como campo de análise. 
O Museu de Arqueologia de Itaipu foi inicialmente escolhido como uma 
possível instituição a ser pesquisada por possuir duas características básicas: ser um museu que 
abriga acervos arqueológicos e estar em uma localidade próxima, apesar de nunca termos a 
visitado. Chegando ao Museu, antes mesmo de adentrar as suas muralhas, vieram as primeiras 
surpresas, que podem ser descritas neste cenário : o Museu é localizado em uma antiga ruína, bem 
perto da praia, cercado por uma ativa comunidade pesqueira (Colônia de Pescadores Z-7, RJ); 
 
 
17 
fisicamente apresenta ainda os muros da antiga ruína, mesclando uma grande área gramada a céu 
aberto com partes cobertas; embora o Museu estivesse fechado para visitação, era possível 
encontrar alguns jovens conversando sossegadamente no interior de suas dependências. Logo 
depois, as portas fechadas do Museu abrem-se para alguns adolescentes com pranchas de surf, 
que foram guardadas em um pequeno quarto; notamos, também, algumas crianças correndo e 
brincando na grama entre as ruínas internas. 
Em um primeiro momento, aquele Museu limitado por suas barreiras físicas 
parecia expandir-se potencialmente para além de seus muros, amplificando o seu tamanho e 
mesclando-se à comunidade que o cerca e, nesse sentido, parece não se conformar (se amoldar) 
em suas fronteiras, vazando para sua externalidade. 
Após esse primeiro reconhecimento exploratório do terreno de análise, as 
certezas teóricas previamente solidificadas fluidificaram-se quando nos deparamos com uma 
instituição que nos fez voltar os olhos para uma série de questões que até então não tínhamos 
levado em consideração em nossa pesquisa: as ações comunicativas (fluxos informacionais) 
empreendidas entre o Museu e a sociedade no cotidiano de suas práticas, inserido em um 
contexto acional delimitado, levando em conta a justaposição entre esses dois agentes 
interlocutores no momento em que se enredam as teias de relações. 
Por conta desses novos olhares, esse inusitado Museu despertou um sem-
número de indagações que ambicionávamos compreender, e que ainda nos parecia um pouco 
confuso e desfocado. 
Surgem nesse contexto algumas indagações, como, quais seriam essas ações 
promovidas pelo museu que o fazem avançar em direção à externalidade de seus muros? Essas 
iniciativas seriam próprias do Museu ou regidas por proposições externas, supra-institucionais? 
Esse museu que nos parece, até onde vimos, sem um paralelo de análise estaria enquadrado em 
uma das duas tipologias de museu (novo ou tradicional) ou sua feição dinâmica passaria ao longo 
da rigidez classificatória? Qual seria o tom ou topologia que ganharia essa relação comunicativa? 
Seria de forma verticalizada ou horizontal, simbiótica ou parasitária? Apenas para citar algumas. 
Finalmente, delineado o nosso terreno de análise, propusemos algumas metas 
que buscamos alcançar ao longo da pesquisa. A principal delas seria: investigar e observar os 
fluxos informacionais empreendidos entre o Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI) e a18 
comunidade local, para entender como se estabelecem as ações comunicativas no contexto de 
suas relações cotidianas. Essa grande meta se desdobraria em questões como: mapear as 
mananciais desses fluxos informacionais, apontando para as suas possíveis assimetrias e 
obstáculos, averiguar a dinâmica acional do MAI e a sua expansão extramuros e contextualizar o 
Museu enquanto um exemplar sui generis, a ser observado no interior dos paradigmas 
museológicos. 
Para alcançar tais desafios, paramentamo-nos com uma sólida rede teórica para 
apurar os nossos olhares sobre este peculiar objeto de pesquisa. 
No campo da ciência da Ciência da Informação, como área que mescla as 
ciências sociais e humanas, o microssocial que engloba o MAI acomodou-se confortavelmente na 
perspectiva pragmática da Ciência da Informação. Observando as ações sociais empregadas pelo 
Museu sob o ponto de vista das ações de informação, podemos vislumbrar um amplo leque de 
possíveis reflexões. Avistamos, nesse sentido, a possibilidade de transpor nossos olhares para o 
local onde as informações circulam livremente nos relacionamentos humanos, atentando para 
essas zonas de conflito/negociação de sentidos e valores que permeiam essas práticas 
informacionais. 
Com relação aos museus, buscamos contextualizar o MAI no âmbito das 
problemáticas que envolvem os Museus de Arqueologia e nas recentes discussões sobre as novas 
correntes da Museologia. Parece-nos que, de forma latente, subdivide-se o campo em Museologia 
Tradicional e Nova Museologia, encontrando aparentemente um paradoxo quando defrontado 
com nosso campo empírico: tratar-se-ia de um museu tradicional ou um novo museu? Eis aí o 
mote que pretendemos adotar para esse momento da pesquisa. 
A terminologia “transferência de informação”2 é um outro foco de reflexão que 
intentamos mirar em nossa abordagem, a partir dos pensamentos de Paulo Freire. O termo, 
geralmente aplicado para encerrar a complexidade do “contato efetivo entre o gerador e a fonte”3, 
mola propulsora e razão de ser dos Sistemas de Recuperação de Informação (SRIs), parece 
esmaecer em sua carga de significação quando observado do ponto de vista da Pedagogia 
 
2 Esse termo na Ciência da Informação guarda relação com a assimetria entre contextos em desequilíbrio. 
Posteriormente, voltaremos a ele para discuti-lo de modo específico ao contexto de nosso campo empírico. 
3 Esse termo é exaustivamente utilizado na área da Ciência da Informação por diversos autores. 
 
 
19 
freiriana, assim como da corrente pragmática da Ciência da Informação, que trata essas 
circunstâncias em sua esfera relacional e dialogada. 
Lévy facilitará a fundamentação teórica do que chamamos de virtualização dos 
muros quando observarmos ações como as dos kits pedagógicos que itineram pelas instituições 
de ensino, levando o museu em potência e relativizando o enclausuramento do museu físico. 
Após a confecção de uma cartografia teórica com base na literatura da Ciência 
da Informação, trataremos de imergir no campo empírico para averiguar in loco como se 
estabelecem essas relações entre o museu e a comunidade local (fluxos informacionais). Para 
solucionar a questão da observação empírica, adotaremos o etnométodo de Bruno Latour para 
investigar os fluxos no momento de sua feitura e traçar um mapa mais aproximado do cotidiano 
dessas relações. 
Nessa concepção aproximada de visão, desde já adotando a perspectiva 
humanizadora do processo de produção científica, cabe elucidar que o caminho percorrido nessa 
empreitada foi marcado por descobertas, estranhamentos e inquietações. Os primeiros passos do 
estudo, no cerne do nosso objeto de análise, mostraram-se de tal forma complexos que, longe de 
nos dar respostas seguras, trouxeram-nos uma desequilibração4 motivadora que nos fez querer 
buscar mais. Estimulou-nos, também, a explorar, quase que arqueologicamente, um fio condutor 
de entendimento nesse labiríntico e confuso contexto de relações humanas e sociais. 
O caminho por nós seguido foi pautado por características muito próprias por 
não haver uma direção muito rígida a ser seguida, em virtude da característica exploratória da 
pesquisa e a carência de indícios para revestir nosso objeto de significados. Por essa razão, 
acreditamos que mais do que um limitador de possibilidades, nosso balizamento metodológico 
teve que assumir uma feição maleável e flexível conforme caminhávamos, a fim de acompanhar 
esse museu dinâmico. 
Embora não tenhamos partido de uma metodologia prévia e rígida para 
caminhar em torno do nosso objeto de feição fluida, alicerçamo-nos de parâmetros bem 
estruturados. Em primeiro lugar, assumimos uma característica pautada na rede teórica de Bruno 
Latour, que trata de esmaecer as fronteiras que separam a ciência do senso comum, a partir da 
 
4 Adotamos esse termo da teia teórica de Piaget que, apesar de não incorporarmos em nossa análise, trata-se de uma 
boa forma de ilustrar a desestabilização cognitiva ocasionada por perturbações externas e o desencadeamento de uma 
sucessiva busca de auto-regulação ou equilibração. 
 
 
20 
concepção do etnométodo e da formação de híbridos, quando pensamos o processo de 
enredamento das redes de relações. 
Em outros termos, quando traçamos as redes de relações nas quais se dissipam 
os fluxos informacionais, tivemos a cautela de humanizar o processo de pesquisa, dando voz aos 
atores que outrora eram desconsiderados ou obscurecidos nas redes de relações que compõem o 
fazer científico, considerando-os também como partícipes dessas ações. Nesse elenco, ou nesses 
nós que compõem essa rede heterogênea, estão vigilantes do Museu, pescadores anônimos, 
sorveteiras, os guardadores de carros, os diretores da Instituição, cozinheiros e visitantes. Assim 
como kits circulantes5, interesses imobiliários, forças de poder entre outros infinitos atores e co-
atores, humanos e não-humanos. 
Em complemento a tudo isso, buscamos um caminho que diverge das pesquisas 
tradicionais, que, em sua maioria, buscam toda ou a maior parte de seus indícios a partir do que 
os cientistas estão dizendo, a partir de fontes como: arquivos históricos, bibliotecas centrais, 
fontes documentais da instituição, dentre outros registros, que aqui chamamos de oficiais e são 
imbuídos da chancela da Ciência. Em nosso estudo, não descartamos o que os cientistas estão 
“falando”, entretanto, não amplificamos as suas vozes e, contrariamente do comumente visto, 
equalizamos as suas falas no mesmo tom e altura que as dos cidadãos comuns. Nesse ponto, 
esmaecemos as assimetrias e evitamos prover graus de importância e significação aos relatos dos 
personagens que compõem a nossa narrativa. 
A título de exemplificação da dinâmica maleável incorporada na investigação, 
no instante em que buscávamos lançar luz nas questões que circundam os fluxos informacionais 
intercambiados entre Museu e meio externo, é interessante notar que, em princípio, o processo de 
pesquisa permaneceu dentro dos muros do Museu, sendo observados os colégios que 
participavam das visitas orientadas. Após um período de ausência de escolas agendadas para tal 
fim, as investigações passaram a se voltar mais fortemente para a externalidade das divisas, local 
de vivência cotidiana dos moradores e comerciantes locais. Ao aportar na vivência das “pessoas 
comuns” pudemos perceber novas questões a serem analisadas, assim como a existência de 
divergências de versões e de pontos de vista acerca de fatos ocorridos. 
 
5 Os kits circulantes a que nos referimos tratam-se dos cestos do projeto educativo “Caniço e Samburá”, que hoje é 
um dos carros-chefe do MAI no tocante ao relacionamento comunicativo entre Museu e escolas. 
 
 
21 
Delineados os questionamentos e objetivos propostospara essa investigação, da 
mesma forma que esboçada a lente pela qual observaremos nosso inusitado objeto, veremos em 
seguida a estrutura que dá corpo à escrita da dissertação. 
Inicialmente, no momento destinado à introdução, explanaremos a trajetória 
que elencamos para que o leitor transite pela dissertação. Essa demarcação privilegia uma 
cadência em que o mesmo é orientado a compreender em que parâmetros se baliza nosso 
caminhar dentro do objeto observado - trata-se de construir junto ao leitor a lente pela qual 
olharemos o microssocial do MAI. 
Em um segundo momento, trataremos de acrescentar ao processo a intitulada 
rede teórica. Esta será estruturada, a princípio , por duas principais vertentes teóricas que 
alicerçarão a pesquisa: a Ciência da Informação e a Museologia. Na primeira base, 
compreenderemos o microssocial do Museu pela ótica das práticas informacionais em contextos 
conflituosos de ação da informação, observadas do ponto de vista das relações humanas e sociais. 
Na segunda, vamos inserir o MAI na breve problematização do surgimento dos museus de 
arqueologia e no aparecimento da visão dicotômica que polariza os museus em Tradicionais e 
Novos em meados da década de 70. 
 Posteriormente, abarcaremos o que intitulamos de teorias complementares - a 
partir de Paulo Freire, Pierre Lévy e Bruno Latour – a fim de darmos um entendimento mais 
individualizado a algumas questões específicas, da mesma forma que proporcionar sustentação a 
algumas hipóteses que tomaram corpo no decorrer da pesquisa, que são respectivamente: a tese 
de que nas ações comunicativas entre dois agenciadores de informação – nesse caso o Museu e a 
comunidade – os fluxos informacionais devem assumir uma feição horizontal e dialogada, ao 
contrário da topologia vertical e transferida; a análise particular dos muros do Museu, seguindo 
uma teoria de “virtualidade artesanal”, no momento em que a instituição se relaciona com a 
sociedade e, por último, a concepção de teoria social de redes e a conseqüente hibridização de 
elementos heterogêneos na configuração das mesmas que, em última instância, fundamentam a 
ruptura da barreira que separa a ciência e o senso comum. 
No terceiro capítulo convidamos o leitor a observar o nosso campo empírico – o 
nosso contexto de ação – em três vertentes: na primeira revelaremos as primeiras impressões 
físicas e relacionais do Museu, ainda um tanto desfocadas, todavia, invocando uma temporalidade 
que nós próprios seguimos ao nos defrontarmos com o MAI; na segunda, traçaremos um histórico 
 
 
22 
do Museu, privilegiando os documentos escritos e, finalmente, na terceira, daremos ênfase aos 
documentos orais. 
 Em seguida detalharemos nosso método de pesquisa. Começaremos por uma 
contextualização de Bruno Latour e do Etnométodo, e das formas nas quais essa última será 
utilizada em campo. Posteriormente trataremos de ilustrar empiricamente como o Etnométodo foi 
incorporado no decorrer da nossa pesquisa, mostrando o comportamento da rede que ia se 
formando no instante em que transitávamos no microssocial do MAI. 
No quinto e último capítulo daremos conta de analisar os dados colhidos na 
investigação do nosso objeto, direcionando o olhar para os resultados da pesquisa de acordo com 
as questões e hipóteses que foram estruturadas na parte inicial do estudo. Apontaremos, por 
último, as nossas considerações finais que, ao mesmo tempo, são pontos de partida para uma 
futura investigação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
2. Rede teórica 
 
Os grandes blocos teóricos: Ciência da Informação e Museologia. Olhares 
disciplinares sobre as teias não disciplinadas. Temos o plano, em seguida, de observar o MAI 
fundamentados em olhares que proverão a devida consistência teórica ao nosso estudo 
exploratório. Por esse ângulo, traremos um estrato a mais à análise do Museu. Ou seja, mais do 
que descrever um contexto, ambicionamos alinhavar a essa observação de primeiro grau os 
parâmetros científicos sobre contextos conflituosos, difusos e confusos que são os cenários 
concretos de ação comunicativa – nesse caso o microssocial do MAI. 
 
2.1. O MAI sob o olhar da Ciência da Informação 
 
“Fluido precioso, continuamente produzido e renovado, a 
informação só interessa se circula, e, sobretudo, se circula 
livremente” 
Le Coadic 
 
Analisar os fluxos informacionais entre o Museu de Arqueologia de Itaipu e seu 
público guia-nos a um entendimento de museu orgânico, em movimento, aberto ao novo e em 
constante troca com o seu meio externo, de mane ira que, por integrar-se ao ambiente de forma 
dinâmica, não seja mais possível delimitar com precisão o que é “fora” e o que é “dentro”. 
Propor uma averiguação em que seja privilegiado o contexto das práticas 
informacionais em confluência com a comunidade direciona nossos olhares para as questões 
sociais que abarcam a Ciência da Informação. Isso nos permite enunciar que, mais que nos ater às 
questões processuais e técnicas direcionadas ao tratamento documental dos objetos, deter-nos-
emos a explorar o intercâmbio de informações na fronteira em que são sobrepostos o Museu e a 
sociedade. 
Inicialmente, trataremos de inserir a instituição museológica de arqueologia no 
âmbito dos sistemas de informação, questão esta que se localiza de forma privilegiada no campo 
de estudo da Ciência da Informação. Para tal, operacionalizaremos o conceito de Sistema Formal 
Intermediário de Recuperação de Informação oferecido por Gonzá lez de Gómez (1990). 
 
 
24 
Segundo a autora supracitada, os sistemas de informação manifestam-se como 
modelos de ação de informação6, muitas vezes institucionalizados em forma de bibliotecas, 
arquivos, centros de documentação e, por analogia nossa, em forma de museus. Ao depurar o 
conceito proposto (Sistema Formal Intermediário de Recuperação de Informação), a autora 
esclarece a utilização dos termos que compõem o conceito, que são resumidamente: 
Sistema – Em razão de advir de uma ação intencional entre dois pólos 
(geradores e usuários), num fluxo desejável, por meio de um controle sistêmico de etapas de um 
processo. 
Formal – Por ser institucional, ou seja, balizado por regras de produção e 
externalização, e por estar no universo da comunicação formal. 
 Interme diário – Por se tratar de uma mediação entre uma agência ou agente e 
a realização dos objetivos do sistema em seu campo de ação, por intermédio de uma ação 
informacional. 
Ainda de acordo com a autora, o convencional conceito de “contato do usuário 
com a fonte”, para designar o processo de fluxo informacional num sistema de informação, não 
daria conta do fluxo em sua complexidade, mostrando-se apenas uma solução superficial. Tal 
premissa seria balizada pelo fato de que a realização integral da ação de informação 
 
[...] só se completa num contexto de ação que lhe é externo e tem seus próprios 
‘jogos’ de linguagem e representação com os quais constrói suas próprias 
dinâmicas de informação (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1990, p. 118) 
 
Nessa mesma linha, Gilda Braga (1995) observa que contrariamente ao que fora 
observado durante a década de 60 – na esfera dos sistemas de recuperação de informação que 
pendiam ao conceito de informação atrelado ao documento –, a Ciência da Informação 
contemporânea estava atenta a um conceito de informação que vai além da interioridade do 
sistema. No entender da autora: 
 
 
 
 
6 Trabalharemos mais apuradamente o conceito “ação de informação” no decorrer do texto. 
 
 
25 
Na verdade, os SRIs não recuperam informação, ou recuperam apenas uma 
informação em potencial, uma probabilidade de informação, que vai se 
consubstanciar a partir do estímulo externo ao documento, se também houver 
uma identificação (e vários níveis) da linguagem desse, documento, e uma 
alteração, uma reordenação mental do receptor-usuário. (BRAGA,1995, p.3) 
 
A partir dessa abordagem, facilitada pela conceituação sistematizada por 
González de Gómez e complementada por Braga, podemos trazer para nossa pesquisa alguns 
conceitos relevantes para então darmos início ao urdimento de nossa rede teórica. 
O primeiro deles diz respeito aos fluxos informacionais que, por intermédio de 
ações de informação, perpassam os sistemas de recuperação. Outro ponto importante concentra-
se no entendimento de que não basta a sua simples transmissão “via única” de um pólo a outro, 
mas, sim, a necessidade de identificação e/ou negociação de significados entre a fonte e o 
receptor – que a primeira autora entende como “princípio de reciprocidade” – para que haja um 
fluxo desejável de informação. Por fim, somente após este diálogo, aquela seria utilizada pelo 
indivíduo em sua relação com o mundo. 
Como fora assinalado anteriormente, estamos tratando da zona de intercessão 
em que se inter-relaciona o Museu e a sociedade, explorando a abrangência e o alcance das ações 
de informação propostas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu nas ações sociais da comunidade 
que interage com o organismo museológico. Como poucos autores clássicos trataram a questão 
dos museus no âmbito da Ciência da Informação, será necessário fazer analogias teóricas na 
utilização de certos conceitos, fundamentais ao entendimento de algumas das características do 
nosso problema de pesquisa. 
Embora Belkin e Wersig dirijam de formas distintas os estudos sobre o 
fenômeno informacional, o elenco desses autores justifica-se pelo fato de que suas abordagens 
voltam-se para a externalidade dos sistemas. O primeiro observa na direção do indivíduo e o 
segundo observa o contexto social em que este está imerso. 
Belkin insere-se de forma pioneira na intitulada corrente cognitivista da Ciência 
da Informação. Assentado primordialmente no entendimento de modificação de estruturas, a 
principal contribuição deste autor no contexto informacional diz respeito à introdução do 
indivíduo cognoscente no processo comunicacional. Junto a Robertson, no fim da década de 70, 
buscou determinar qual seria o interesse primordial da Ciência da Informação. Como resultado, 
os autores chegam a uma definição de informação indefinidamente sistematizada por diversos 
 
 
26 
estudiosos deste fenômeno: informação é tudo aquilo capaz de transformar estruturas. (BELKIN; 
ROBERTSON, 1976). 
A definição apresentada pelos autores, ao mesmo tempo em que esclarece uma 
parte do fenômeno informacional, abre brechas para outros questionamentos. Até que ponto, por 
exemplo, podemos utilizar tal conceito e quais são as estruturas passíveis de serem alteradas? O 
fato de esses autores não responderem plenamente tais indagações não representa um problema 
para nós, uma vez que no escopo de nossa pesquisa não trataremos de aspectos tão específicos. 
Tomaremos de empréstimo a conceituação de Belkin para ilustrar que em um 
processo de transferência de informação7 a informação disponibilizada configura-se somente 
como uma possibilidade, uma potência. Tal definição auxiliará também na compreensão de que, 
somente quando reconhecida pelo indivíduo, esta informação detonaria um processo de 
reordenação mental, ou modificação de estruturas, que o levaria para um novo estado de 
conhecimento8. 
Outro conceito a ser discutido, introduzido nos estudos do autor na década de 
80, abrange a categoria de estado anômalo do conhecimento ou anomalous state of knowledge9 
(ASK). Tal conceito, de certa maneira, esclareceria como se desencadeia o processo de busca por 
informação e a subseqüente reestruturação do mapa cognitivo do receptor. (BELKIN, 1980). 
Segundo Belkin (1980, 1984), o estado anômalo do conhecimento (ASK) teria 
como estopim o reconhecimento por parte do indivíduo de uma anomalia no seu estado 
cognitivo, ou seja, ao verificar um problema em sua estrutura mental para enfrentar uma situação 
cotidiana não consegue encontrar uma resposta. A percepção de uma situação problemática no 
estado cognitivo do indivíduo culminaria na busca por informação, em um sistema de 
recuperação, que pudesse dar cabo de sua carência informacional, ao menos momentaneamente. 
 
 
7 Esse termo é empregado de maneira pertinente e está adequada ao contexto em que é utilizado. Trata-se de uma 
relação desequilibrada entre situações no qual um saber privilegiado se direciona a uma lacuna de conhecimento. 
8 Em nosso enfoque consideramos que o entendimento de “reconhecimento da informação” se dá de forma dialogada 
e intersubjetiva entre os atores que intercambiam informação e, para que realmente se estabeleça, há necessidade de 
um entendimento mútuo entre os agentes (no amplo sentido do termo). 
9 Preferimos manter a abreviação em inglês (ASK) por acreditarmos que esta tenha em si uma significação que 
corresponde à “pergunta” na língua inglesa, insinuando uma dupla acepção da expressão, embora esta intenção não 
seja declarada pelo autor. 
 
 
27 
Embora tenhamos em mente que a conc eituação de Belkin não se limita ao 
recorte estabelecido por nós, a apropriação desses conceitos-chave será de grande valia na análise 
de nosso objeto de pesquisa. Balizados nas proposições do autor, teremos a visualização de um 
fluxo informacional que extravasa a internalidade dos sistemas de recuperação de informação e 
passa a reconhecer um sujeito conhecedor na outra ponta do sistema gerador. 
González de Gómez reconhece que a “virada cognitivista”, na qual Belkin está 
imerso, “trata-se de uma reformulação dos modelos conceituais e metodológicos da ‘recuperação 
da informação’, deslocando a ênfase do tratamento das fontes de informação e direcionando-os 
aos usuários”. (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2002, p.3) 
Um segundo ponto que se destaca é o fato do surgimento da noção de que no 
outro extremo do sistema encontra-se um sujeito social, reflexivo, pensante e dotado de 
emoções10. Posto de outra maneira, “o conhecimento não tem como momento inicial um sujeito 
oco, que recebe a informação como uma externalidade pré-constituída” (GONZÁLEZ DE 
GÓMEZ, 2002, p.3). 
É importante assinalar, por outro lado, que os conceitos coletados da teoria 
belkiana não dão conta de examinar toda a complexidade do nosso objeto. Verificar a 
abrangência dos fluxos informacionais intercambiados entre Museu e sociedade, no contexto 
microssocial de Itaipu, nos requer um olhar que extravase o enfoque individualizado e 
individualizante dos visitantes do Museu, inserindo-os no contexto das ações sociais. 
Dentro dessa linha de argumentação, mostra-se relevante a entrada na filiação 
pragmática da Ciência da Informação. Entendida também como “virada pragmática”11, esta linha 
de pensamento “situa a informação como dimensão das práticas e interações do homem, situado 
no mundo e junto aos outros homens”. (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2002, p. 5). 
González de Gómez (1996, p.54), no contexto da corrente pragmática da 
Ciência da Informação, define “pragmática da informação” como “estratégias de geração e uso 
da informação em contextos acionais concretos, agenciadas por sujeitos/ interlocutores que 
 
10 Voltaremos a abordar esta questão ao refletirmos o papel da Pedagogia de Paulo Freire no contexto dos novos 
paradigmas da Museologia. De acordo com o autor, no âmbito da educação, a informação deve ser dialogada, 
levando em conta que o educando é um sujeito cognoscente e, portanto, um agente (ator) no mundo. Dessa forma, 
Freire considera que na educação em comunhão (dialogada) os educandos não podem ser tratados como “recipientes 
vazios” no qual os saberes dos educadores são “depositados”. 
11 A autora denomina a virada pragmática como o momento em que a Ciência da Informação incorpora em seu 
domínio teórico os contextos das ações sociais. 
 
 
28 
mantém entre si relações sociais e comunicativas”. O conceitode pragmática da informação, 
estudado pela autora em questão, nos dá uma dimensão mais alargada das relações estabelecidas 
entre a instituição museológica e o seu público, sem limitar-se ao contexto individualizado e/ou 
psicológico das ações. 
Outro conceito sistematizado pela autora em questão diz respeito à ação de 
informação. Conceito afeiçoado aos principais pragmatas da área em suas redes teóricas, em 
especial a Gernot Wersig, este ganha uma acepção consistente quando recuperado e observado 
por González de Gómez (1990, 1995, 2002). 
A autora reconhece a “ação de informação” sob o prisma da intervenção12 de 
um Sistema de Recuperação de Informação num contexto acional concreto, levando em conta as 
condições históricas, culturais e sociais entranhadas nesse processo. Essas ações repousariam, 
grosso modo, nas práticas de informar, informar-se e ser informado, que seriam fruto de fluxos 
que perpassam as agências de informação e o público. 
É importante salientar que é possível observar uma relação de retroalimentação 
no interior desses sistemas. Segundo a abordagem pragmática da autora, os fatores situacionais 
(histórico, cultural e social) deixam de ser meras contingências externas aos sistemas e passam a 
se configurar como fatores constitutivos das suas ações de geração e uso da informação, assim 
como em sua mediação, que se realizariam entre os sujeitos interlocutores da ação comunicativa. 
(GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1990). 
Wersig, no contexto da Ciência da informação, do ponto de vista pragmático, 
desloca o cerne das questões pertinentes à área para o campo das ações sociais. 
Em artigo clássico, que versa sobre o fenômeno de interesse da Ciência da 
Informação, Wersig e Neveling (1975) analisam e discutem diversas definições de informação e 
Ciência da Informação, correlacionando tais significações aos seus contextos históricos. Ao traçar 
as diferentes origens da disciplina, especificamente, os autores reconhecem que a Ciência da 
Informação tem um forte alicerce prático e tecnológico, calcado na documentação e na 
recuperação da informação, da mesma forma que no processamento eletrônico de dados, 
respectivamente. Diante disso, afirmam que “é interessante notar que disciplinas como Ciências 
 
12 No quadro conceitual da autora o termo “intervenção” adquire o sentido de mediação da informação (por meio de 
ações intencionais de informação), implementada por um SRI, no contexto das práticas sociais. 
 
 
29 
Sociais, Ciência da Ciência e Teoria da Comunicação entraram bem tardiamente na discussão 
sobre a Ciência da Informação”. (WERSIG E NEVELING, 1975, p.128) 
No decorrer do artigo, de forma a delimitar suas posições pessoais sobre o 
tema, os autores indicam que as práticas científicas devem ser apoiadas por alguma necessidade 
social que a justifique, devido ao fato de não acreditarem ser possível que uma ciência seja 
justificada por si mesma. No mesmo documento, em tópico específico que versa sobre as 
propostas para interpretação de “informação” na Ciência da Informação, os autores apontam para 
a responsabilidade social da área: 
 
Nos dias de hoje a questão de transmissão de conhecimento para aqueles que 
precisam é uma responsabilidade social, e essa responsabilidade social parece 
ser a verdadeira questão da “Ciência da Informação” (WERSIG E NEVELING, 
1975, p.134). 
 
Wersig (1993) retoma o mote da responsabilidade social da área anos mais 
tarde, em artigo que versa sobre as conseqüências das novas práticas de uso da informação, em 
virtude da informatização da sociedade, o que guiaria a Ciência da Informação a uma feição de 
ciência pós-moderna. Segundo o autor, as mudanças que abarcam o papel do conhecimento na 
modernidade levariam a surgir questões como a despersonalização, fragmentação, credibilidade e 
racionalização, quando lidamos com problemas do conhecimento. 
Ao abordar os novos cenários de uso do conhecimento, o autor em questão 
indica, sobretudo, que a informação está inserida no entremeio das ações sociais onde, em última 
análise, se endereçariam as ações comunicativas. 
Wersig (1993 p. 233), apropriando-se de uma idéia proposta por Kuhlen para 
cunhar suas considerações, afirma que “informação é conhecimento em ação”. Desse ponto de 
vista, o autor crê que o comportamento racional do homem necessita de conhecimento. 
Continua a tecer sua argumentação certificando que “esse conhecimento deve 
ser transformado em algo que dê sustentação a uma ação específica em uma situação específica” 
(WERSIG, 1993, p. 233). Dentro disso, o autor alerta que os profissionais da informação devem 
estar atentos para o que seria o núcleo da Ciência da Informação: ajudar pessoas13 confusas a se 
 
13 “Pessoas” em seu contexto de análise assume o entendimento mais abrangente de “atores” que, nesse aspecto, 
incorpora tanto indivíduos como grupos, organizações e culturas. 
 
 
30 
orientarem nas situações adversas causadas pelas novas circunstâncias que abarcam as práticas de 
uso do conhecimento. 
Vale ressalvar que a perspectiva apontada pelo autor pode por diversas vezes 
surtir um efeito contrário. Como exemplificação disso, apontamos para a experiência de nossa 
própria pesquisa quando, ao recorrer a uma fonte de informação para amenizar uma situação 
confusa e adversa em uma situação específica, acabamos por ficar ainda mais desorientados com 
as possibilidades inusitadas que esse sistema de informação nos apontou. Por tal razão, em nosso 
entender, os SRIs não buscam apenas oferecer respostas prontas e soluções acabadas para 
problemas específicos, mas, sim, negociar sentidos que promovam uma solução autônoma. 
Coadunando as idéias dispostas anteriormente ao escopo de nossa análise, 
entendemos que as práticas informacionais empreendidas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu 
devem ser observadas em contexto, privilegiando um olhar que atente para as ações sociais que 
se realizam no microssocial no qual o MAI se encontra imerso. Ressalva-se, entretanto, que não 
buscamos solucionar um problema específico que venha a se apresentar nas ações de informação 
no terreno das práticas sociais, embora não descartemos a hipótese de apontar possíveis 
diferenciais pragmáticos14. 
 
2.2. O MAI sob o olhar da Museologia 
 
Nesse segundo grande bloco temático, problematizaremos alguns temas no 
âmbito da Museologia, atentando para a confluência entre esta disciplina e a Arqueologia. Ao pôr 
em foco a problemática que orbita os museus de arqueologia, estaremos agregando mais olhares 
para direcionarmos ao nosso objeto de pesquisa, o MAI. 
De forma abreviada, admitimos que a origem dos museus de arqueologia, ou 
dos museus que abrigam coleções arqueológicas, remonta à gênese dos museus de ciência 
europeus que se desdobraram impulsionados pela febre colecionista que despontava nos séculos 
XV e XVI. Observa-se nesse momento o surgimento dos Gabinetes de Curiosidades. Estes locais 
eram formados pelos mais heterogêneos objetos provenientes majoritariamente da América e da 
 
14 A autora utiliza esse termo para designar as circunstâncias que atrapalham a interlocução da informação entre os 
participantes da ação comunicativa. Engloba também as barreiras que interferem nas normas de aceitação recíproca 
dos fluxos de informação e na atribuição conjunta de valores a estes. 
 
 
31 
Ásia, que tinham como fator comum de seleção o aspecto curioso, exótico e até bizarro aos olhos 
dos seus proprietários – famílias reais e nobres. Alguns dos objetos mais comuns nessas coleções 
quase sempre caóticas são animais empalhados, quadros, moedas, instrumentos científicos, 
fósseis, antiguidades, exemplares da natureza, entre outros. 
Com o passar do tempo, por contingências múltiplas que não cabem ser 
especificadas nesse momento, os museusque se formam como desdobramentos dos Gabinetes de 
Curiosidades passaram a se especializar seguindo os novos paradigmas da ciência (século XVI e 
XVII), de modo que estes objetos fossem pesquisados, estudados e ordenados, utilizando a razão 
instrumental como ferramenta. É somente no século XVIII, quando desponta na Europa a 
necessidade do uso da razão como instrumento de libertação do homem, que o conhecimento 
científico produzido nessas instituições passa a ser vulgarizado no sentido de tornar-se público. 
 
2.2.1. A cumplicidade entre os Museus e a Arqueologia 
 
Seguindo a lógica da dissertação, que se sustenta na compreensão do 
direcionamento dos fluxos informacionais empreendidos entre Museu e sociedade, cabe 
problematizar alguns fatores que estão intrinsecamente ligados ao tratamento da arqueologia nos 
museus de ciência brasileiros e que, de forma direta ou indireta, influem nas relações 
comunicativas que são estabelecidas no âmbito dessas instituições. 
Respaldado pelo trabalho de Maria Cristina Bruno, em especial pela sua tese de 
doutorado, daremos impulso às nossas primeiras reflexões. 
Em pesquisa que traz uma extensa reflexão sobre a Musealização da 
Arqueologia, a referida autora denuncia o sistemático abandono das fontes arqueológicas na 
interpretação da sociedade brasileira. Sob a nomenclatura de “estratigrafia do abandono”, a 
autora indica, em analogia com as camadas do solo em que se escondem os artefatos 
arqueológicos, as omissões a que são submetidas as fontes pré-coloniais aos olhos dos estudiosos: 
 
Percebe-se, então, que os estudos arqueológicos, embora voltados para a 
identificação e compreensão das continuidades e mudanças dos processos 
culturais das sociedades nativas, nas suas mais diferentes características, 
raramente são considerados como fontes para interpretação desta nação 
(BRUNO, 1995, p.7) 
 
 
32 
 
Pinçamos alguns dos indícios coletados pela autora que nos ajudam a nortear 
alguns importantes empecilhos que colaboram para o exílio da memória dos nossos antepassados: 
 
a) A ocupação européia em solo brasileiro levou a uma degradação ambiental 
exaustiva e, consequentemente, à destruição de vestígios arqueológicos; 
b) A imposição da linguagem escrita, ainda no contexto colonial, desprezou a 
oralidade e os artefatos desses povos, sendo descartados seus mitos de 
origem, interpretações do meio ambiente entre outros aspectos; 
c) A dominação das elites econômicas que privilegiaram as manifestações 
eruditas, deixando em segundo plano as culturas populares; 
d) A visão progressista que se mostrou avessa aos processos 
preservacionistas. 
 
Como nos interessa observar a Arqueologia inserida na esfera dos museus, 
trataremos de fazer breves considerações sobre o surgimento dessas instituições em terras 
brasileiras. 
No Brasil, as primeiras instituições dessa natureza - que trazem em seus acervos 
objetos arqueológicos dos mais diversificados - surgem no século XIX, tendo o modelo europeu 
transplantado para o Novo Mundo sem modificações estruturais significantes, pautado 
principalmente em sua feição colecionista. Estão entre os mais proeminentes, a saber: o Museu 
Nacional, o Museu Paulista e o Museu Emílio Goeldi. 
O que é importante percebermos nesse contexto, respaldado por Bruno (1995), 
é o fato de que os contingentes históricos impregnados no decorrer do percurso desses museus no 
Ocidente ainda são refletidos nos dias atuais, principalmente nos museus brasileiros. A feição 
curiosa e exótica dos objetos expostos e armazenados, o caráter universalista e enciclopédico das 
coleções e o acúmulo dos objetos que se mostram presentes em parte dos museus de arqueologia 
brasileiros são alguns dos indícios que confirmam esta tese. 
 
 
 
 
33 
De forma sintética, a autora esboça da seguinte forma o papel dos museus no 
início do século passado, enfatizando que, em muitos casos, ainda são uma dura realidade. 
 
Os museus brasileiros entraram neste século [XX], com coleções arqueológicas 
provenientes de coletas assistemáticas, como locais de ensino e produção 
científica, como depósitos de objetos ordenados, atuando a partir de uma 
perspectiva enciclopédica, evolucionista e classificatória. (BRUNO, 1995, 
p.111) 
 
 
Vistos os elementos pretéritos da rede que configuram a idéia dos museus 
brasileiros, muitos deles transplantados de sua origem européia, cabe questionar que outras 
contingências incidiram no distanciamento entre os museus e a sociedade e que agem diretamente 
na fluidez dos fluxos informacionais que estamos investigando. 
Um importante elemento destacado pela autora, e que fortalece sua tese de que 
os museus de arqueologia brasileiros têm uma história de coadjuvantes, é o já mencionado fato de 
essas instituições terem em suas raízes uma visão colonizada e, nesse sentido, “os museus 
serviriam, também, para separar o unive rso cultural da elite (erudito) do universo de vida 
(popular) das camadas menos favorecidas da população” (BRUNO, 1995, p.101). Sob este 
mesmo prisma, a autora sinaliza a visão dúbia herdada pela sociedade brasileira no que tange aos 
museus de arqueologia: 
 
[os museus de arqueologia ] ao mesmo tempo em que trouxeram ‘progresso’ e 
‘futuro’, não evidenciaram o seu cotidiano. Portanto, dificultaram a 
compreensão e interação com esses centros do saber (BRUNO, 1995, p.102) 
 
Um segundo elemento – e esse merece destaque em nossa análise – diz respeito 
à lógica universitária que passa a abraçar o estudo da Arqueologia. Cristina Bruno sublinha que 
em meados da década de 50, diversas universidades passam a abrigar ou a criar instituições 
arqueológicas, entretanto, contrariamente do que se poderia imaginar, o envolvimento com a 
universidade mostrou-se como mais um elemento de afastamento dos museus de Arqueologia 
para um espaço de coadjuvante. 
 
 
 
 
34 
Esse envolvimento arqueológico-universitário, se, por um lado, garantiu a 
pesquisa, por outro, estrangulou as atribuições museológicas. [...] Toda a lógica 
acadêmica tem se mostrado adversa para com os museus. [...] Esta perda da 
identidade museológica tem grande responsabilidade nas questões inerentes à 
comunicação arqueológica (BRUNO, 1995, p.124) 
 
Diante desses indícios coletados, o leitor pode estar se perguntando: qual seria a 
relação entre o Museu de Arqueologia de Itaipu e a origem dos museus de arqueologia, já que o 
primeiro é um museu jovem com origem que remonta a década de setenta? Responderíamos de 
pronto que há muita relação entre os dois. Embora seja um museu de nascimento recente, nossas 
pesquisas indicam que sua origem tem uma forte marca governamental tendendo a apagar de sua 
constituição os saberes locais da comunidade que o abraça, deixando em segundo plano a sua 
oralidade e o seu cotidiano – visto ser também um museu de arqueologia histórica e um Bem com 
o qual moradores antigos, ainda presentes em seu entorno, mantêm direta ligação. 
Sob o entendimento de conjunturas que guiam os museus de arqueologia a um 
papel de coadjuvantes no cenário brasileiro, entendemos essas ações museológicas, 
principalmente o da lógica científica como fator de extirpação do senso comum, como fatores que 
levam os museus a uma “decolagem” que faz com que a lógica museológica “voe sobre a cabeça 
das pessoas comuns”. Nessa dissertação, com base no MAI, pretendemos pregar a “aterrissagem” 
dessas instituições, a hibridização do museu com a comunidade, mais do que o acirramento 
dessas assimetrias. 
Com o intuito de localizar o MAI no contexto das ações museológicas, daremos 
prosseguimento à contextualização dos museus no cenário brasileiro – agora em um sentido mais 
lato e não com relação à Arqueologia – dando ênfase ao surgimento de uma construção teórica 
que forja uma nomenclatura que divide os museus em dois grandes pólos: os museus tradicionais 
e a nova museologia 15, fenômeno esse que se faz presente contemporaneamenteao surgimento do 
museu que estamos pesquisando. 
De maneira geral, a lógica do colecionismo enraizado no embrionamento dos 
museus de ciência, e por conseguinte nos de arqueologia, fez com que o papel dessas instituições 
na sociedade fosse questionado e duramente criticado por parte de estudiosos da área, 
principalmente a partir da década de setenta. Nesse momento, cresce a demanda pelo 
 
15 Nesse estudo não provemos graus de valoração a essas convenções, entendendo os museus tradicionais piores ou 
melhores que os novos museus. Contrariamente, buscaremos entender o local do nosso exemplar no entremeio dessas 
conceituações. 
 
 
35 
posicionamento dessas instituições na direção das ações sociais. Desta forma, a lógica 
preservacionista que incidia sobre a ma terialidade dos objetos deveria ser sobrepujada por suas 
premissas sociais. 
Dentre as principais críticas ao dito padrão de Museu Tradicional, o qual é 
associado aos indícios mencionados anteriormente, encontra-se a passividade do público em 
relação ao acervo dos museus que denotaria a estaticidade desses centros de memória. Por tal 
razão, alavancado também pela cientificidade que perpassa o estudo dos acervos, estas 
instituições teriam adquirido um caráter sisudo e afastado da realidade cotidiana das populações, 
como se estes espaços pairassem sobre a cabeça das pessoas, alheios às suas demandas e aos usos 
sociais. 
Em nossa análise, verificamos que os autores da área de museus reconhecem a 
concepção de Museu Tradicional de maneira semelhante ao que intitulamos aqui como 
transmissão assimétrica de informação, na qual o museu assevera verdades que devem ser 
embutidas e assimiladas pelo público passivo. Seria o equivalente às transmissões de informação 
de um pólo que tudo sabe a um pólo vazio, ávido por adquirir informação pronta e acabada, de 
forma verticalizada e sem negociação. 
Visto isso, nos ocuparemos de investigar quais seriam as principais premissas 
dessa corrente, que se reconhece como a Nova Museologia , utilizando como base os principais 
documentos da área e que versam sobre essa tentativa de oxigenação dos museus. 
 
2.2.2. Nova Museologia? 
 
Como já indicado anteriormente, faz-se presente na década de 70 uma nova 
corrente teórica que se abre para a nascente perspectiva social da área. Como forma de acentuar 
as proposições basilares que os profissionais de diversos setores culturais passam a postular, 
destacaremos os mais reconhecidos documentos que abarcam esses novos conceitos sociais da 
museologia, que são eles: a Mesa Redonda de Santiago de 1972, a Declaração de Quebec de 
1984, a Declaração de Caracas 16 de 1992 e a Bases para Política Nacional de Museus de 2003. Os 
 
16 Com exceção do documento “Bases para política Nacional de Museus”, todas as demais Cartas citadas foram 
retiradas do mesmo documento, a saber: “A memória do pensamento contemporâneo: documentos e depoimentos” 
de 1995. 
 
 
36 
três primeiros documentos nos dão uma visão mais abrangente do que veio a se chamar de uma 
Nova Museologia17, englobando os países em desenvolvimento como um todo. Já o quarto 
documento prover-nos-á uma vertente mais voltada para as demandas brasileiras, além de 
mostrar-se mais atualizada. 
Nesse estudo, consideramos a essência dessas linhas de argumentação como os 
parâmetros do que chamamos de cartilha paradigmática18 que, dito de outra forma, seriam os 
balizamentos necessários para que os museus saíssem de sua estagnação para entrar na 
mobilidade das ações. 
 
2.2.3. As Cartas 
 
A primeira das Cartas – a Mesa Redonda de Santiago de 1972 – tem um 
destaque s imbólico em relação aos demais documentos por ocorrer em um momento marcado por 
opressões militares na América Latina. Trata-se de uma forte tomada de posição política e social 
dos profissionais de museus, posição esta que ia de encontro com uma conjuntura de cerceamento 
das liberdades. 
A Mesa Redonda de Santiago lança um novo conceito de Museu Integral. Este 
conceito tem como premissa a necessidade de integração dos museus na vida cotidiana da 
sociedade, atentando aos problemas sociais, econômicos e políticos mais patentes das 
comunidades em que estão inseridos, buscando solução para estes problemas. 
Vale destacar, também, o grande mote do documento: o papel decisivo do 
museu na educação permanente da comunidade. Nesse momento, é convergida para o museu a 
influência da pedagogia de Paulo Freire 19 que, entre outros aspectos, guia-nos para o 
entendimento de uma educação libertadora. 
Do ponto de vista de Hugues de Varine, reconhecido teórico francês na área de 
museologia, é possível perceber que os textos, com o passar dos anos, tornaram-se um tanto 
“envelhecidos”, embora seja “sempre possível reencontrar seu sentido verdadeiramente inovador, 
 
17 Esclareceremos a dimensão desse termo adiante, quando faremos a compilação dos documentos em questão. 
18 Notificamos e ratificamos que esta tomada de decisão transparece solidamente nas correntes teóricas dessa 
conjuntura. Não podemos afirmar, contudo, que esta teoria era refletida na práxis das instituições com a mesma 
veemência. 
19 Trataremos de analisar a contribuição da obra de Paulo Freire em um segundo momento do trabalho. 
 
 
37 
senão revolucionário”. O autor assinala, então, as duas características mais marcantes: a noção de 
Museu Integral que leva em consideração a totalidade dos problemas da sociedade e a idéia de 
“museu enquanto ação”, ou seja, “enquanto instrumento dinâmico de mudança social”. 
(VARINE-BOHAN,1995, p.18, grifo nosso) 
Em contrapartida, Horta (1995) em reflexão sobre a Mesa-Redonda, alerta para 
a feição ainda monológica da “educação permanente”, proposta no bojo das recomendações: 
 
A função do Museu no documento de Santiago, ainda postula a ‘intervenção’ no 
meio social e no seu território, cabendo-lhe ainda um papel de ‘mestre’, 
conscientizando o ‘público’ sobre a necessidade da ‘preservação’ do patrimônio 
cultural e natural. Ainda temos um museu cheio de certezas, definidor de um 
discurso, por mais revolucionário, ainda monológico. A idéia de ‘museu’, em 
sua nova forma ‘integral’, ainda é nebulosa, como um ‘papel, (representação, 
imagem?) a ser desempenhado, que se configura mais ideologicamente, 
politicamente, socialmente do que funcionalmente, especificamente, 
tecnicamente, pragmaticamente. (HORTA,1995, p. 34) 
 
Podemos averiguar duas ressalvas feitas pela autora, a primeira em relação a 
uma intervenção educativa ainda transversal e monológica do museu, em que esta instituição 
ocuparia lugar de mestre que tudo sabe, transmissor de certezas. Enquanto que a segunda aponta, 
ainda, que as recomendações seriam mais teóricas do que pragmáticas. 
Embora não intencionemos confrontar o conteúdo dos documentos e, sim, 
exprimir seus principais conceitos como insumo da construção de parâmetros de análise do 
campo empírico, é interessante observa rmos que apesar desses registros criarem parâmetros e 
diretrizes excelentes de uma ação museológica para mudança, muitas dessas recomendações 
ainda situam-se desconectadas de uma situação pragmática. Estas ressalvas serão de suma 
relevância para utilizarmos posteriormente como parâmetros de análise de nossas hipóteses. 
A Declaração de Quebec de 1984 tem como base o estabelecimento da Nova 
Museologia. Embora tenha como cerne as mesmas bases conceituais da Mesa-Redonda de 
Santiago, o que se demonstra interessante nessa Declaração é uma clara manifestação dicotômica 
entre uma Museologia Tradicional e uma Nova Museologia, que deveria ser reconhecida pela 
comunidade internacional. 
 
 
 
38 
Mario Moutinho (1995, p.26) indica que, nesse conceito de Nova Museologia, 
estariam abarcadas de forma convergente as ações de uma idéia ainda vaga de“novas correntes 
museológicas”, como museus comunitários, museus de vizinhança, ecomuseus etc. Teria, 
sobretudo, como proposta fundamental, a seguinte bandeira: “por oposição a uma museologia de 
coleções, tomava forma uma museologia de preocupações de caráter social”. 
Por sua vez, Judite Primo (1999) promove um cotejamento detalhado das três 
primeiras cartas estudadas por nós (entre outras), reforçando o caráter dicotômico que emerge das 
recomendações da Carta de Quebec. Segundo a autora: 
 
[...] no afã de legitimar o Movimento da Nova Museologia se criou um 
antagonismo entre a Museologia Tradicional e a Nova Museologia, passando a 
falar-se da existência de duas museologias que se revelam antagônicas. 
(PRIMO, 1999, p. 22) 
 
Primo (1999) reproduz em seu artigo uma tabela criada pelos autores que 
defendem esta ruptura, na qual se opõem as diferenças criadas entre as supostas duas 
museologias. 
 
Fonte: PRIMO, 1999. 
Museologia Tradicional Nova Museologia 
• Edifícios • Território 
• Coleções • Patrimônio 
• Público determinado • Comunidade Participativa 
• Função educadora • Museu entendido como um ato pedagógico para o 
ecodesenvolvimento. 
Tabela 1 – Comparativo entre Museu Tradicional e Novo Museu 
 
A tabela em questão, utilizada a exaustão por diversos autores, simboliza uma 
tendência classificatória e antagônica de duas museologias e será utilizada como um dos 
parâmetros de análise para a verificação: onde se encaixaria o MAI nessa classificação? Seria 
esta classificação dura demais para acomodar um organismo maleável e fluido? 
 
 
39 
A Declaração de Caracas de 1992 denota explicitamente a influência da Mesa-
Redonda de Santiago na confecção de suas recomendações, no entanto, deixa claro que, no 
decorrer de vinte anos, “velhos dogmas que pareciam imutáveis caem, e com eles os muros que 
marcavam fronteiras ideológicas e políticas” (1995, p.37). Portanto, diante do reconhecimento de 
profundas mudanças de caráter social, político, econômico e amb iental que pesam sobre a 
América Latina, o documento alerta para uma tomada de posição que contemple as relações: 
Museu e Comunicação, Museu e Patrimônio, Museu e Liderança, Museu e Gestão e, por fim, 
Museu e Recursos Humanos. 
Visto que não nos cabe dissecar cada uma das relações propostas pela 
Declaração, temos como meta assinalar o fator de destaque desse documento em relação aos 
demais selecionados. 
A análise de Horta nos indica que: 
 
A grande novidade que parece surgir do Documento de Caracas é a 
transformação do ‘museu integral’ (abrangente mas fugaz, impalpável, etéreo 
em sua identidade) no museu integrado (termo não formulado, mas implícito nas 
propostas e postulados do Documento) à vida de uma Comunidade. Mais do que 
realizações, propõe-se ações e processos que contemplam e consideram as 
particularidades de cada contexto local e específico, no qual atuam e se situam. 
(HORTA, 1995, p.35, grifo nosso). 
 
A colocação de Horta sinaliza para a proposta central da Declaração de 1992, 
qual seja a transmutação de um museu integral a um museu integrado. A tendência semeada na 
Mesa-Redonda de 1972, que traduz a idéia de um museu para a comunidade, porém ainda pouco 
contaminado pelo público externo em suas ações internas, não chega a ser ainda um museu 
realmente integrado e em busca de resolução de problemas com as comunidades locais, agindo 
contextualmente em uma co-gestão. Nesse contexto, a Carta de Caracas introduz a idéia tácita de 
um museu integrado em uma comunidade específica, com o fim de agir cooperativamente em 
busca de uma ação conjunta em torno de um problema específico. 
O documento “Bases para Política Nacional de Museus”, confeccionado em 
março de 2003, exprime a iniciativa do Ministério da Cultura em propor uma revitalização dessas 
instituições no contexto brasileiro. A relevância desse documento assemelha-se aos demais 
anteriormente citados, porém, nos oferece uma versão mais atualizada e aproximada do cenário 
 
 
40 
brasileiro. Destaca-se para nosso propósito, também, por ser um parâmetro governamental federal 
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN) que nos habilita a traçar 
paralelos com as iniciativas do MAI – também federal e administrado pelo IPHAN - que, em 
tese, são orientadas por tais diretrizes. 
O objetivo nuclear dessa iniciativa governamental é promover a valorização do 
patrimônio cultural brasileiro a partir do desenvolvimento e da revitalização dessas instituições 
de memória, levando em consideração a diversidade sócio, ético e cultural do país. O texto 
discorre com base nos seguintes eixos programáticos: Gestão e Configuração do Campo 
Museológico, Democratização e Acesso aos Bens Culturais, Formação e Capacitação de 
Recursos Humanos, Informatização de Museus, Modernização de Infra-Estruturas Museológicas, 
Financiamento e Fomento para os Museus e, por último, Aquisição e Gerenciamento de Acervos 
Culturais. 
Apesar de não nos aprofundarmos nos tópicos relativos a essa última carta, 
podemos dizer que essa iniciativa se configura como um importante momento para a Museologia 
brasileira no tocante a novos investimentos governamentais. É nesse mesmo período que é criado 
o Departamento de Museus no IPHAN/ MINC, que visa investir em novos cursos nessa área, 
assim como na modernização das instituições museológicas20. 
Contextualizadas as principais questões que orbitam os museus e postas as 
tendências que regem o campo, daremos continuidade a nossa rede teórica incorporando novos 
pontos de visão. 
 
2.3. O MAI sob o olhar de outras teorias 
 
 Tendo visto o segmento correspondente aos dois blocos teóricos, respectivamente 
a Ciência da Informação e a Museologia, introduziremos o que chamamos de teorias 
complementares. Com base nas principais proposições de Paulo Freire, Pierre Lévy e Bruno 
Latour, trataremos de forma específica alguns assuntos que exigem atenção, como a topologia 
 
20 Nesse sentido, acreditamos que a contratação, via concurso público, de um profissional Museólogo 
,especificamente para o MAI, seja um grande avanço para as futuras investidas da instuição em questão. 
 
 
41 
dos fluxos informacionais, o processo de virtualização das muralhas do Museu e a rede de 
relações que fazem com que Museu e sociedade se tornem uma entidade híbrida. 
 
2.3.1. Museu e Educação: O Olhar Freiriano 
 
 
“A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é 
uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, 
oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos 
homens sobre o mundo para transformá-lo” 
 Paulo Freire 
 
Observamos, até o momento, que tanto os SRIs como as instituições 
museológicas ( para nós também um SRI) passam por reformulações teóricas que indicam uma 
mudança de postura perante a sociedade com quem mantêm trocas. Essa analogia entre os SRIs e 
os museus mostra-se pertine nte quando pinçamos alguns conceitos-chave e as principais 
proposições desses organismos em seus aspectos comunicacionais. 
No âmbito dos SRIs, abordados sob o prisma da Ciência da Informação, 
constatamos que, em um primeiro momento, a informação parece ser transferida e/ou 
transmitida priorizando o processual mais do que o contextual. O que queremos evidenciar com 
isso é que, nesse instante, os receptores seriam considerados uma externalidade à parte do 
sistema, no qual suas demandas e necessidades informacionais não seriam prioridades para a 
regulação do fluxo informacional interno. Ao abordarmos a corrente cognitiva, em que Belkin 
está inserido, notamos que estes sistemas passam a incorporar o público como parte integrante de 
seu mecanismo passando, então, a orientar e compor o próprio processo de produção e 
transferência de informação (fluxos), no entanto, ainda numa perspectiva individualizada e 
psicológica. Já em um terceiro

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