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Tópico 04 Biologia Molecular e Biotecnologia Técnicas em Biologia molecular 1. Introdução Classicamente, o estudo da genética envolve o estudo da informação genética (DNA, RNA). O avanço das técnicas em biologia molecular permitiu que o estudo dos genes se ampliasse para além das análises de fenótipo e características herdadas para o estudo de macromoléculas isoladas de um organismo. Atualmente, existem técnicas que permitem isolar DNA ou RNA transcrito de um gene particular, a fim de estudar suas funções, por exemplo, ou fazer diagnósticos de patologias, contaminações ambientais. O DNA também pode ser manipulado e fragmentos específicos podem ser amplificados, sequenciados e analisados. Além disso, é possível determinar a sequência do genoma de qualquer organismo. Também é possível isolar proteínas de outras moléculas. Vamos conhecer algumas dessas técnicas e aprender a analisar os resultados de suas aplicações nesse tópico. 2. Nucleases As nucleases são um importante grupo de hidrolases, enzimas que degradam os ácidos nucleicos, com amplo espectro de aplicações na ciência e na indústria. As nucleases cortam as moléculas de DNA em lugares específicos, chamados de sítios de restrição. Os sítios de restrição são definidos pela sequência curta de nucleotídeos (4-8 pares de bases). Essas sequências são ditas palindrômicas porque são as mesmas tanto no sentido de 5´-3´ quanto no sentido de 3´- 5´. A descoberta das nucleases veio da observação experimental de que as bactérias sempre degradavam DNA inserido dentro delas (DNA exógeno). Esse DNA não codificado pelas bactérias era então digerido por elas. Estudos permitiram entender que essa degradação era realizada pelas nucleases bacterianas como forma de se protegerem do DNA exógeno de uma invasão por um vírus, por exemplo. No entanto, os pesquisadores perceberam que o DNA das bactérias não sofria degradação (clivagem). Mais adiante, eles entenderam que para cada sequência reconhecida pelas nucleases, havia uma enzima que produzia uma modificação no DNA da bactéria hospedeira para impedir que seu próprio DNA fosse cortado. O mecanismo de proteção é geralmente a adição de um radical metil nessa sequência reconhecida pela enzima, impossibilitando assim a clivagem do DNA bacteriano (LODISH et al., 2014). Veja na tabela abaixo algumas enzimas frequentemente usadas na biotecnologia, perceba que seus nomes são derivados dos organismos que foram isolados, como ECORI, isolada de Escherichia coli, e assim por diante. Sequência de reconhecimento de enzimas de restrição. Enzima Microrganismo Sítio de restrição EcoRI Escherichia coli 5`…GΔA-A-T-T-C…3` 3`…C-T-T-A-AΔG…5` SmaI* Serratia marcescens 5`…C-C-CΔG-G-G…3` 3`…G-G-GΔC-C-C…5` BamHI Bacillus amyloliquefaciens 5`…GΔG-A-T-C-C…3` 3`…C-C-T-A-GΔG…5` Enzima Microrganismo Sítio de restrição HindIII Haemophilus influenzae 5`…AΔA-G-C-T-T…3` 3`…T-T-C-G-AΔA…5` Sau3A Staphylococcus aureus 5`…ΔG-A-T-C…3` 3`…C-T-A-GΔ…5` As enzimas de restrição fazem cortes nas duas fitas de DNA em seus sítios de reconhecimento, gerando fragmentos que possuem uma cauda (ponta) de fita simples em ambas as extremidades. Quando as pontas são complementares, elas são chamadas de extremidades coesivas. No entanto, essas pontas podem não ser coesivas, então são chamadas de pontas cegas. Veja na figura abaixo um exemplo de pontas coesivas: Digestão do DNA pelas nucleases. Muitas nucleases requerem íons metálicos para atividade, outras não precisam de nenhum. Atualmente, essas enzimas são compradas com tampões, misturas que garantem sua atividade. Além disso, nucleases podem clivar uma longa molécula de DNA nos pontos que tiverem suas sequências de reconhecimento. A frequência de clivagem depende do tamanho da sequência que ela reconhece. Assim, uma enzima de restrição que reconhece um sítio de 4 pb (pares de bases), cliva o DNA em média uma vez a cada 4 , ou seja, 256, pb. Uma enzima que cliva a cada 8 pb, cliva em média 4 , 65Kpb, ou seja, 1 vez a cada 65.536 pares de nucleotídeos (1 kilo base são 1000 pares de bases). Esse conhecimento é importante na biologia molecular porque permite determinar com precisão os diversos locais de restrição em um DNA para uma determinada enzima. Além disso, clivagem de DNA por enzimas de restrição torna possível o isolamento e manipulação de partes individuais de um genoma para o entendimento da função do gene, e para expressão de uma molécula de interesse (LODISH et al., 2014, JOHNSON et al., 2017). Com a análise do resultado dos cortes gerados pelas nucleases, é possível, então, gerar um mapa desses fragmentos, chamado mapa de restrição (BORZANI et al., 2001, JOHNSON et al., 2017). Vamos ver na figura abaixo um exemplo de mapa de restrição: 4 8 Mapa de restrição. Vamos analisar o mapa de restrição da figura acima: 1: Corte usando enzimas nucleases A e B, geram 3 fragmentos (2, 3, 5 Kb) totalizando 10 Kb. 2: Corte usando-se enzima A, gera 2 fragmentos (2, 8 Kb), totalizando 10Kb. 3: Corte usando-se enzima B, geram 2 fragmentos (3 e 7 Kb), totalizando 10 Kb. Vamos analisar os fragmentos para gerar o mapa de restrição: os cortes gerados pela enzima A nos permite concluir que a enzima A deve ter um sítio de restrição próximo ao final da molécula (2). A enzima B tem que ter um sítio próximo ao da enzima A, ou na extremidade contrária (3). Mas quando se analisam os cortes gerados pelas 2 enzimas juntas (1), percebem-se 3 fragmentos. O que significa que a enzima B não corta próxima ao sítio de A, mas sim na extremidade oposta, gerando o mapa em 4. Se A cortasse do mesmo lado de B, teríamos 2 fragmentos e não 3, representado por (1). Mas como é possível determinar o tamanho desses fragmentos gerados? É o que vamos ver agora nas técnicas de separação de DNA. 3. Técnicas de Separação de DNA Os fragmentos de DNA gerados após o seu corte por enzimas de restrição precisam ser visualizados para entender seu tamanho. O procedimento mais utilizado é o de separação de DNA por uma técnica chamada de eletroforese. A eletroforese separa os fragmentos de DNA baseado no princípio de que os grupos fosfatos da molécula de DNA estão carregados negativamente. Perceba na imagem como a eletroforese funciona: Eletroforese. Samples wells (pocinhos para colocar as amostras), electrode (-), eletrodo (-, negativo), electrode (+), eletrodo (+, positivo), direction of moviment (direção do movimento), buffer solution (tampão de corrida), electrophoresis tank (cuba de eletroforese), power supply (fonte de energia). Vamos voltar à imagem para entender como a separação das moléculas de DNA ocorre. Por convenção físico-químicas, opostos se atraem, sendo assim, moléculas carregadas negativamente serão atraídas para o polo positivo em um campo elétrico na eletroforese. Para a separação do DNA, usa-se colocar o DNA em um gel de agarose, e depois inserir o gel em uma cuba em um campo elétrico. Durante a aplicação desse campo, os fragmentos de DNA serão separados por tamanho. Essa molécula produzirá fragmentos de tamanhos diferentes, se tiver sido tratada com enzimas de restrição. Assista ao vídeo abaixo para entender melhor como a eletroforese de DNA é montada: O DNA é aplicado em uma substância gelatinosa, a agarose. A agarose é um polissacarídeo (polímero de galactose) extraído de algas, usado para fazer o gel onde o DNA irá migrar. A corrida do gel se faz em uma cuba de eletroforese, contendo um liquido chamado de tampão, que discutiremos em seguida. Uma extremidade da cuba é ligada a um eletrodo positivo, enquanto a outra extremidade é ligada a um eletrodo negativo. Os diferentes polos irão provocar a atração da molécula de DNA carregada negativamente. Essa atração irá separar as moléculas por tamanho. A agarose forma poros de maior ou menor diâmetro de acordo com a sua porcentagem. A percentagem de agarose deve variar de acordo com o tamanho de fragmento que queremos separar. Veja no vídeocomo é feita a eletroforese de DNA Eletroforese horizontal de DNA em gel de agEletroforese horizontal de DNA em gel de ag…… https://www.youtube.com/watch?v=vL3EfRx78P0 Quanto mais concentrada a agarose, menor será o poro formado. Ainda, a mobilidade de uma molécula de DNA na matriz de agarose é inversamente proporcional ao log de sua massa molecular. Com isso, o tamanho do fragmento do DNA em pares de base, ou seja, sua sequência linear, influencia a migração no gel. Moléculas linearizadas migram com velocidade proporcional ao seu tamanho. Portanto, moléculas maiores, de maior massa, migram mais lentamente, moléculas menores, menor massa, migram mais rapidamente. A voltagem aplicada deve ser de 1 a 5 Volts/cm de distância entre os eletrodos (SAMBROOK e RUSSEL, 2001). Veja na tabela abaixo a porcentagem de agarose e o tamanho de DNA que ela separa. Percentagem de agarose para separar fragmentos de DNA Percentagem de agarose (peso/volume %) Tamanho do fragmento (Kb) 0,7 0,8-10,0 1,0 0,5-10,0 1,2 0,4-6,0 1,5 0,2-3,0 2,0 0,1-0,2 No entanto, nem sempre o DNA encontra-se linear. As moléculas de DNA circular podem estar relaxadas (quando possuem um corte) ou na sua forma superenovelada (supercoiled). Já o DNA genômico possui sua estrutura condensada e complexa que não permite que os fragmentos migrem de acordo com o tamanho em pares de base e sim que fiquem presos nos poros do gel devido à sua estrutura densa e irregular. 10 A eletroforese é realizada em meio líquido, usa-se para isso um tampão de eletroforese. Os dois tipos de tampão mais utilizados são o tampão Tris-acetato-EDTA (TAE) e o Trisborato-EDTA (TBE). Nesses tampões, o composto tamponante, ou seja, que irá ajustar o pH da solução, também atua como fornecedor de eletrólitos para a manutenção da corrente. O ácido etienodiamino tetracético (EDTA) sequestra íons de magnésio e tem como principal função impedir que o DNA seja clivado durante a eletroforese. A função sequestrante do EDTA inibe as nucleases que dependem da presença de magnésio para degradar o DNA. Ainda, o tampão TAE possui a menor capacidade tamponante, mas apresenta maior poder de resolução para moléculas grandes de DNA quando comparado ao TBE. O TBE é preferido para a separação de moléculas pequenas de DNA, menores do que 1 kb, e para longas corridas por sua maior capacidade tamponante. O TBE é um potente inibidor de várias enzimas. Para se aplicar o DNA no gel, usa-se também um tampão conhecido rotineiramente como tampão de aplicação (loading buffer), geralmente azul para facilitar a visualização. Esse tampão serve para aumentar a densidade da amostra de DNA, permitindo que ela entre nos pocinhos que são feitos no gel de agarose com um pente, em cada dente do pente é colocada uma amostra (SAMBROOK e RUSSEL, 2001). Retorne no vídeo acima para você entender melhor. Antes da corrida do gel começar, é importante que um padrão seja também colocado no gel. Normalmente, esse padrão é colocado no primeiro pocinho. Ele contém diferentes fragmentos de DNA com tamanhos conhecidos. Esse padrão irá ajudar por comparação a entender o tamanho do fragmento amostra. Depois da corrida é muito importante que o DNA seja visualizado. O corante comumente utilizado para a visualização é o brometo de etídio, pois ele consegue se intercalar entre os pares de bases de DNA e emite fluorescência quando exposto à luz UV, tornando assim possível a visualização dos fragmentos de DNA. No entanto, esse corante é um agente mutagênico, podendo causar câncer e deve ser manipulado usando equipamentos de proteção individual (EPIs como luvas, jalecos e óculos). Além disso, o seu descarte também deve ser especial, uma vez que pode gerar riscos à saúde e ao meio ambiente. Embora esse corante continue a ser usado, hoje em dia, existem outros corantes não mutagênicos e mais amigos do ambiente para corar o DNA. Na imagem abaixo, você pode visualizar como os fragmentos de DNA aparecem após a eletroforese. A primeira e a segunda coluna são os perfis de corrida de padrões com o tamanho dos fragmentos conhecidos. Gel de eletroforese mostrando a separação de fragmentos de DNA. A concentração visualizada mínima de DNA em gel de agarose é de 20 picogramas (1 miligrama é igual a 10 picogramas). No entanto, existem máquinas que determinam a concentração com melhor precisão, por exemplo, nanodrop. Ainda, máquinas que fazer a eletroforese totalmente automatizada, sem o uso de géis. 9 Nesse caso, a amostra é colocada em pequenos orifícios de um chip. Essa amostra pode ser de DNA ou RNA. Esses equipamentos permitem determinação de tamanho e concentração com precisão muito maior do que os géis. Agora que vimos como as moléculas de DNA podem ser separadas pela eletroforese, podemos entender que fragmentos de DNA podem ser amplificados. Nesse caso, se as extremidades de um fragmento de DNA forem conhecidas, o fragmento completo pode ter seu número de cópias aumentado “in vitro”, a fim de produzir material suficiente para as diversas análises. Vamos estudar qual a técnica que possibilita essa amplificação do número de cópias a seguir. 4. Técnicas de Amplificação de DNA A técnica de amplificação de fragmentos de DNA in vitro que vamos ver agora é conhecida como PCR, do inglês polymerase chain reaction, ou reação em cadeia da polimerase. O desenvolvimento de técnicas de amplificação de DNA está fundamentado no descobrimento de enzimas termoestáveis, DNA polimerases, isoladas de procariotos. Essas enzimas possuem capacidade de suportar incubação prolongada a temperaturas de até 95 °C, sem perda significativa de atividade. Elas são constituídas de um único polipeptídeo com atividade de polimerase 5 “→ 3”, sintetizando moléculas de DNA, utilizando para isso os quatro desoxirribonucleotídeos trifosfato (dATP, dCTP, dGTP e dTTP). A primeira enzima isolada foi a da bactéria Thermus aquaticus, sendo denominada de Taq polimerase. Geralmente, para que uma reação de amplificação ocorra, são necessários alguns ingredientes. Esses ingredientes têm que conter o fragmento de DNA que se deseja amplificar, uma DNA-polimerase termoestável, dois oligonucleotídeos iniciadores (primers, que contêm a sequência dos extremos do fragmento que se deseja ampliar), desoxirribonucleotídeos, (dNTPs), tampão de reação (tampão fornece as condições ideais de atividade da enzima DNA polimerase) e concentração adequada de MgCl para funcionamento da enzima. Essas enzimas são tão eficientes que podem permitir a extensão de um fragmento em uma taxa de 2 a 4 kb/min, por exemplo. Além disso, para a reação são necessárias quantidades mínimas de enzima que podem variar, mas podem ser, por exemplo, de 1 a 1.5 unidades de enzima para uma reação de 20μl de reação de PCR. Veja na imagem os passos para amplificação de DNA, na reação em cadeia da polimerase: Reação em cadeia da polimerase (PCR). 1. Denaturation (1. Desnaturçaõ), 2. Annealing (anelamento, pareamento), 3. Enlongation (extensão), Exponential growth of short product (amplificação exponencial do fragmento amplificado). Para que a reação em cadeia PCR propriamente dita ocorra, é necessário um aparelho, o termociclador, porque para a amplificação do fragmento são feitas variações na temperatura. Esses termocicladores permitem que os ciclos de temperatura necessários ao PCR aconteçam de forma automatizada. O primeiro ciclo é a desnaturação da molécula de DNA, que ocorre 2 normalmente na temperatura de 95°C. Essa temperatura permite que a molécula de DNA se abra para ser copiada. Na etapa seguinte, a temperatura é abaixada para permitir o anelamento (pareamento) dos primers (um para a região inicial, 5`>3` Forward, e outro para a região final, 3`>5` Reverse). Essa temperatura vai depender do conteúdo de adenina (A), timina (T), guanina (G), citosina (C) do fragmento. Essa temperatura é conhecida como temperatura de melting e pode ser calculada pela fórmula Tm = 2.(A+T)+[4. (C+G)], de acordo com a quantidade de adenina, timina, citosina e guanina dos primers. Aqui vale a pena ressaltar que se a sequência do fragmento não for toda conhecida, pode-se, por exemplo, comparar essa sequência com a de outros organismos parecidos para poder elaborar os primers. Os primers são normalmente comprados de empresas especializadas em sua síntese. Voltando aos ciclos do PCR, o último é uma etapa de extensão do fragmento, que pode ter temperatura de 72 °C, por exemplo, e duração de 2 minutos. Estes parâmetros variam de acordo com o tamanho do fragmento a ser amplificado, conteúdo de GC, pois citosina e guanina fazem 3 pontes de hidrogênio, e para quebrá-las são necessárias temperaturas maiores do que para as duas pontes de hidrogênio entre AT (adenina, timina). Normalmente, cada DNA polimerase é comprada e possui suas especificações. Para terminar o PCR, é feita uma etapa de repetição dos ciclos, em torno de 20 a 30 vezes. A amplificação da região delimitada pelos dois iniciadores ocorre de forma exponencial, após 20 ciclos de amplificação o número de moléculas no final do processo pode chegar a um milhão de cópias (LODISH et al., 2014, JOHNSON et al., 2017). Os ciclos permitem amplificar um segmento que está em baixíssimas concentrações. Isso é muito útil em diagnósticos. Veja no vídeo abaixo como a reação em cadeia da polimerase ocorre. A PCR é usada em muitas áreas da biologia e medicina, pesquisa em biologia molecular, diagnósticos médicos e ecologia. Existem outros tipos de PCR, vamos ver como eles funcionam! RT -PCR A PCR de transcrição reversa, ou RT-PCR, permite o uso de RNA como molde. No entanto, é necessário um passo adicional ao PCR convencional. Nesse passo, o RNA é transcrito reversamente em DNA complementar (cDNA), usando a transcriptase reversa. Essas enzimas são isoladas normalmente de vírus, AMV (Avian Mieloblastosis Vírus) e a M-MuLV (Moloney Murine Vírus), por exemplo. O fragmento obtido é chamado de cDNA(DNA complementar). A qualidade e pureza do RNA é essencial para o sucesso da RT-PCR. O primeiro passo do RT-PCR é a síntese de um híbrido de DNA/RNA. A transcriptase reversa também possui uma função RNase H, que degrada a porção de RNA do híbrido. A molécula de DNA de fita simples é então completada pela atividade da polimerase de DNA, dependente da transcriptase reversa em cDNA. A eficiência da reação da primeira fita pode afetar o processo de amplificação. A partir daqui, o procedimento padrão de PCR é usado para amplificar o cDNA. A possibilidade de reverter o Assista ao vídeo abaixo para entender como a cadeia da polimerase acontece. Reação em cadeia da DNA-Polimerase | BiotReação em cadeia da DNA-Polimerase | Biot…… https://www.youtube.com/watch?v=ewt3k_C4JbQ RNA para o cDNA por RT-PCR tem muitas vantagens. O RNA é de cadeia simples e muito instável, o que dificulta o trabalho. O RT-PCR é uma ferramenta que permite os estudos de expressão de genes e que permite entender quais proteínas estão sendo expressas. No entanto, para RT-PCR, não é possível saber de antemão quais fragmentos vão estar no pool de amostras. Por isso, os iniciadores (primers) têm uma característica essencial, eles são inespecíficos, mas possuem várias timinas consecutivas (6 a 35), que são anelados às regiões Poly-A (ou A-Rich) do RNA, as caudas do RNA que são ricas em adeninas. Existem outros tipos de PCR que devem ser citados aqui. Aproveite a leitura! qPCR e RT-qPCR A PCR quantitativa (qPCR) é usada para detectar, caracterizar e quantificar ácidos nucleicos em uma amostra biológica. Quantitativo, porque além de detectar presença ou não, pode-se detectar quanto do vírus está presente na amostra, chamada carga viral, por exemplo. No qPCR em tempo real, além de ser quantitativo, a marcação fluorescente permite a coleta de dados à medida que a PCR progride. Já no RT-qPCR, a amostra inicial é um RNA. Como já vimos, o RNA é quantificado por transcrição reversa primeiro em cDNA, como descrito acima e, em seguida, é subsequentemente realizado como na PCR padrão, onde o DNA é amplificado por três etapas repetidas: desnaturação, anelamento e alongamento. Mas aqui, se tiverem marcadores fluorescentes a detecção será em tempo real. Veja na figura abaixo os passos do RT-qPCR: Real time quantitative polymerase chain reaction (real time quantitativo da reação em cadeia polimerase), cDNA sequence (sequência de cDNA), cDNA template (cDNA molde), DNA primers (DNA iniciadores, primers), dNTPs, DNA polimerase, buffer solution, probe (dNTPs, DNA polimerase, tampão, sonda), The reaction (mistura dos reagentes no eppendorf), Termo cycler (termociclador), Desnaturation (desnaturação), annealing (anelamento, pareamento dos primers) Probe hybridazition, reporter dye, quencher, fluorescence signal blocked (hibridização da sonda, fluoróforo, extintor), enlogation (alongamento), Fluorescence signal, probe degradation (sinal de fluorescência, degradação da sonda), Products, cycle 1 (produtos, ciclo 1), 40 cycles (cycle 1, 2,3….40), (40 ciclos, 1,2,3….40), Fluorescence Reading from each cycle (fluorescência sendo lida a cada ciclo) Existe o qPCR baseado em corante (normalmente verde), a marcação fluorescente permite a quantificação das moléculas de DNA amplificadas. O sinal será emitido quando o corante estiver ligado ao DNA dupla fita (ds-DNA). Durante cada ciclo, a fluorescência é medida. O sinal de fluorescência aumenta proporcionalmente à quantidade de DNA replicado e, portanto, o DNA é quantificado em “tempo real”. Uma desvantagem do qPCR baseado em corante é que apenas um alvo pode ser examinado por vez e que o corante se ligará a qualquer ds-DNA presente na amostra. No qPCR baseado em sonda, muitos alvos podem ser detectados simultaneamente em cada amostra, mas isso requer otimização e design de uma (s) sonda (s) específica (s) de alvo, usada (s) em adição aos iniciadores (primers). Existem vários tipos de sonda disponíveis, mas o tipo mais comum é uma sonda de hidrólise, que incorpora o uso de fluoróforo e extintor. A transferência de energia por ressonância de fluorescência (FRET) evita a emissão do fluoróforo através do extintor enquanto a sonda está intacta. No entanto, durante a reação de PCR, a sonda é hidrolisada (clivada) durante a extensão do primer. A clivagem da sonda separa o fluoróforo do inibidor e resulta em um aumento na fluorescência dependente da amplificação. Assim, o sinal de fluorescência de uma reação de qPCR baseada em sonda é proporcional à quantidade da sequência alvo da sonda, presente na amostra. Como o qPCR baseado em sonda é mais específico que o qPCR baseado em corante, é, portanto, mais usado nos ensaios de diagnóstico de qPCR. Volte a imagem para entender como o RT-qPCR é realizado. A detecção das moléculas amplificadas é feita pela detecção da fluorescência por um dispositivo acoplado ao computador, o fotômetro. Veja no vídeo abaixo um pouco como funciona o RT- qPCR. RT-qPCR é considerado o padrão-ouro no diagnóstico da COVID-19. O RT-PCR permite a detecção do RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada. Primeiro o RNA do vírus é convertido em cDNA. DNA é amplificado, com uso de iniciadores específicos para a sequência do vírus. As curvas para o vírus vão estar presentes se o resultado for positivo para COVID-19. Muitas vezes é importante saber a sequência de nucleotídeos de um fragmento de DNA. Isso é possível através das técnicas de sequenciamento. Vamos aprender como é possível determinar a sequência de bases de um fragmento de DNA a seguir. 5. Sequenciamento de DNA A maioria das aplicações biotecnológicas do conhecimento do DNA se deve ao conhecimento das sequências de nucleotídeos. O sequenciamento é o processo de determinação da sequência de nucleotídeos em um fragmento de DNA. Os primeiros sequenciamentos foram desenvolvidos na década de 1970 pelo método Sanger, como é conhecido. Ele utiliza a hibridização (pareamento)do segmento de DNA do qual se quer determinar a sequência, com um pequeno fragmento conhecido como iniciador ou primer, semelhante ao sintetizado pela enzima primase na replicação do DNA. Nesse caso, o primer é marcado com um corante fluorescente ou radioisótopo. A DNA- polimerase e um excesso de quatro desoxirribonucleosídeos trifosfato normais (dNTPs) (Adenina, ou Timina, ou Citosina ou Guanina) são adicionados ao DNA com o iniciador (primer). Esses compostos são então divididos em quatro tubos de reação. Assista ao vídeo abaixo para entender um pouco sobre o processo do RT-qPCR. PCR em tempo real (qPCR)PCR em tempo real (qPCR) https://www.youtube.com/watch?v=B-cEFNwax1A Cada um desses tubos também recebe uma pequena quantidade de um único didesoxirribonucleosídeo (ddNTPs) trifosfato terminador de cadeia, cada uma marcada com um corante de uma cor diferente. A diferença entre as bases nitrogenadas comuns (dNTPs) e as utilizadas no sequenciamento (ddNTPs) é que falta um grupo hidroxila na posição 3“ do carbono do anel do açúcar nos ddNTPs. Em um nucleotídeo comum, o grupo 3” hidroxila (OH livre) permite que um novo nucleotídeo seja adicionado à cadeia existente. Os nucleotídeos modificados quimicamente (ddNTPs) não possuem essa hidroxila livre, isso faz com que a cadeia complementar seja encerrada. Perceba na figura abaixo como a estrutura da adenosina com OH livre na posição 3´ (contado a partir do grupo funcional aldeído) na ribose se parece: Adenosina formada pela adenina e o açúcar, ribose. Como os nucleotídeos são incorporados na cadeia complementar, cada tubo irá produzir um tamanho diferente de fragmento. Esses fragmentos serão separados em gel de eletroforese. Cada banda terá seu fragmento terminado em um dado nucleotídeo com diferentes posições do DNA. Sendo que cada nucleotídeo de terminação foi marcado com um corante diferente, a leitura dessas bandas permitirá então entender a sequência do fragmento (JOHNSON et al., 2017). Não deixe de assistir ao vídeo abaixo para entender melhor como o sequenciamento Sanger funciona: O sequenciamento Sanger foi automatizado e permitiu o sequenciamento de 900 pares de base de uma vez. Nesse caso, os produtos da reação são aplicados em um fino e longo gel capilar e separados por eletroforese. Um detector detecta o sinal de fluorescência dos ddNTPs quando o gel capilar se move frente aos detectores. Os dados são alimentados por um computador que monta a sequência. Cada pico colorido representa um nucleotídeo na sequência de DNA. Esse processo pode ser entendido melhor analisando-se a figura abaixo: Assista ao vídeo abaixo para entender como o sequenciamento Sanger funciona: Sanger Sequencing of DNA (Legendado PT)Sanger Sequencing of DNA (Legendado PT) https://www.youtube.com/watch?v=AI4CnG5Jp4s Sequenciamento Sanger. 1 Reaction mixture: Primer and DNA template, ddNTPS with fluorochromes, dNTPs (dATP, dCTP, dGTP, dTTP), (1 Mistura reacional: primers e a fita molde de DNA, ddNTPS marcados com fluorocromos, dNTPs (dATP, dCTP, dGTP, dTTP), 2 Primer enlongation and chain termination, (2 Anelamento dos primers, Extenção e terminação da cadeia), 3 Capilary gel electrophoresis separation of DNA fragments, (3 Eletroforese para separação dos fragmentos de DNA em géis de capilares), 4 Laser detection of fluorochromes and computational sequence analysis (4 detecção a laser dos sinais de fluorescência e analise computacionas das sequências). O sequenciamento Sanger foi utilizado para determinar a sequência de nucleotídeos de vários genomas, incluindo aqueles de E. coli, moscas-das-frutas, vermes nematódeos, camundongos e humanos. Não poderíamos deixar de falar que os métodos de biologia molecular vêm evoluindo a cada dia, juntamente com o avanço da tecnologia. Hoje existem sequenciamentos chamados de nova geração (NGS do inglês Next Generation Sequencing). As metodologias NGS permitem o sequenciamento direto e paralelo de milhões ou bilhões de moléculas de DNA, aumentando consideravelmente a escala e a resolução das análises. Além disso, se aplica ao sequenciamento de genomas completos, metagenomas, que é o sequenciamento de todas as espécies de uma amostra, geralmente usada quando não se pode cultivar os organismos, RNA-seq (usada para pesquisar as proteínas expressas), sequenciamento de exons, RNAs não codificantes, pequenos RNAs, amplicons (fragmento de DNA, RNA derivado de amplificação, replicação), regiões marcadas, imunoprecipitadas, bibliotecas enriquecidas com fragmentos- alvo (quando se deseja sequenciar um vírus que não tenha sido sequenciado antes, por exemplo, corta-se o material genético e faz-se um pool – uma biblioteca desses fragmentos). Além disso, o sequenciamento permite identificar genes responsáveis por doenças como o câncer e prever quais as chances de a doença ocorrer. Ainda, o sequenciamento dos genes de um tumor pode ajudar na escolha da melhor terapia. Veja no vídeo que separamos como o sequenciamento tem evoluído e quais aplicações para os seus resultados. No entanto, muitas vezes é importante saber qual fragmento contêm a sequência de interesse de DNA ou RNA em meio a outras sequências sem utilizar a técnica de sequenciamento. Entenda melhor como o sequenciamento de DNA tem evoluído. Sequenciamento de DNA nunca foi tão acessSequenciamento de DNA nunca foi tão acess…… https://www.youtube.com/watch?v=ZvhUjMtOxgc Nesse caso, o que se está avaliando é a presença desses fragmentos em um pool de amostras. Existem técnicas que permitem que fragmentos de DNA e RNA possam ser marcados para se ter a identificação da sequência de interesse. Vamos ver como essa técnica funciona! 6. Nothern e Southern Blotting Essas técnicas servem para identificar uma sequência de interesse no meio de várias outras. O termo blotting em geral, em biologia molecular, está relacionado à transferência de moléculas de um gel, após a eletroforese, para uma membrana. Analise a imagem abaixo para perceber como a técnica funciona: Detecção de RNA pela técnica Northern Blotting. Sample (amostra), RNA extraction (extração de RNA), Electrophoresis (eletroforese), RNA separation by size (separação de RNA pelo tamanho), Northern blott (transfer of RNA to membrane), Northern blott (transferência de RNA para uma membrana), Labeled probes (sondas marcadas), visualization of labeled RNA on X-ray film (visualização do RNA marcado em um filme através de raio X). Vamos entender melhor como funciona. Os passos para essa técnica são: fragmentação de uma amostra de RNA, eletroforese, transferência para uma membrana, marcação do fragmento de interesse por uma sonda (hibridização), lavagem, revelação. Parece complicado, mas no dia a dia laboratorial, é apenas uma rotina. Vamos explicar cada passo. Primeiro, a fragmentação: feita com enzimas de restrição, serve para quebrar longas moléculas em moléculas menores; possibilitará encontrar a sequência de interesse no meio de várias outras. Segundo, temos a eletroforese: esse processo visa separar os fragmentos por tamanho. Em terceiro lugar, ocorre a transferência: nesse processo os fragmentos que foram separados na eletroforese servirão como um “carimbo”. O mesmo gel de agarose utilizado na eletroforese será coberto por uma membrana. Com isso, é possível transferir a impressão dos fragmentos separados na eletroforese para a membrana, blotting propriamente dita. No quarto passo, acontece a hibridização: nela o fragmento de interesse será marcado com uma sonda. Fragmento de interesse e sonda hibridizados serão, então, identificados. A sonda é um pequeno fragmento, nesse caso, de RNA que tem uma sequência complementar à sequência de interesse. Quando a sonda encontra a sequência de interesse, chamamos de hibridização. Em quinto, temos a lavagem: nesse passo o excesso de sonda é lavado da membrana, e toda a sonda não hibridizada será removida. Como sexto passo, ocorre a revelação: parasaber onde a sonda hibridizou faz-se a revelação da membrana. Na revelação a membrana é autorradiografada em um filme de raio- X, ou pelo aparecimento de uma cor, no caso de uso de marcador cromogênico. Outras variações dessa técnica foram inventadas. Os passos são os mesmos, mas quando o fragmento for de DNA é chamado de Southem blotting, se for proteína será chamado de Western blotting (LODISH et al., 2014). Veja na imagem abaixo como, após eletroforese, a molécula analisada, que pode ser RNA, DNA ou proteínas, pode ser transferida para a membrana, blotting: Blotting. Weight (peso para facilitar a transferência da molécula para a membrana), Glass plate (placa de vidro), paper towels (papel toalha), capilar bloting paper (papel que permite a passagem das moléculas por capilaridade), Agarose gel (gel de agarose), transfer buffer (tampão de transferência). Essa técnica se aplica, por exemplo, na detecção de DNA em determinada amostra, isolamento e identificação de um gene de interesse, identificação de mutação ou rearranjo gênico na sequência do DNA, no diagnóstico de doenças causadas por defeitos genéticos, identificação de agentes infecciosos. Vimos que o blotting detecta fragmentos em uma membrana. No entanto, existem técnicas muito mais avançadas que empregam chips para detecção de sequências de interesse em todo genoma de uma vez. Vamos ver como funcionam! 7. Microarranjos Microarranjos é uma técnica mais sensível que os blottings, porque microarranjos detectam com uma sensibilidade maior que os blottings (chamado de limite de detecção). Essa técnica usa uma matriz, que podem ser lâminas de vidro de microscópio, chips de silicone ou membrana de nylon. Na matriz são imobilizados milhares de sondas com identidade conhecida. Os pontos da sonda têm menos de 200 mícrons de diâmetro e geralmente contêm milhares de pontos. Estas sondas podem ser de DNA, cDNA ou oligonucleotídeos. A amostra será então hibridizada com a sonda, gerando um sinal. Assista ao vídeo abaixo para ter uma ideia do processo de hibridização da sonda com a amostra gerando os sinais de detecção. Dependendo do tipo de sonda, os microarranjos (do inglês, microarrays), podem ser categorizados de três maneiras: Análise de expressão: nesta configuração experimental, o cDNA derivado do mRNA de genes conhecidos é imobilizado. A amostra possui genes tanto dos tecidos normais quanto dos tecidos doentes. Pontos com mais intensidade são obtidos para o gene do tecido doente. Esses padrões de expressão são então comparados entre si para se entender melhor os resultados. Assista ao vídeo abaixo para poder ter uma ideia sobre o processo de hibridização da sonda gerando os sinais de detecção. DNA MicroarrayDNA Microarray https://www.youtube.com/watch?v=9U-9mlOzoZ8 Análise de mutação: para esta análise, os pesquisadores usam o DNA genômico (DNA completo do organismo). Os genes podem diferir entre si em menos de uma única base nucleotídica. Uma única diferença de base entre duas sequências é conhecida como Polimorfismo de Nucleotídeo Único (SNP). Hibridação Genômica Comparada: é utilizada para a identificação no aumento ou diminuição de importantes fragmentos cromossômicos. Essas técnicas possuem aplicação em descoberta de genes que ainda não foram estudados, para entender seu funcionamento e níveis de expressão em diferentes condições. Os microarranjos podem ser ferramentas muito úteis, por exemplo, no diagnóstico de doenças. Até recentemente, diferentes tipos de câncer eram classificados com base nos órgãos nos quais os tumores se desenvolvem. Agora, com os microarranjos, os pesquisadores podem classificar ainda mais os tipos de câncer e separá-los com base nos padrões de atividade gênica das células tumorais. Isso ajudará profundamente a comunidade farmacêutica a desenvolver medicamentos mais eficazes. A tecnologia de microarranjo possui ampla aplicação em farmacogenômica. A farmacogenômica é o estudo das correlações entre respostas terapêuticas a medicamentos e o perfil genético dos pacientes. A análise comparativa entre os genes de uma célula doente e de uma célula normal ajuda a identificar a constituição bioquímica das proteínas sintetizadas pelos genes doentes. Esses dados podem ajudar a sintetizar medicamentos que combatem com essas proteínas mais eficazmente. Além disso, microarranjos permitem a realização de pesquisa toxicológica, na qual o impacto de toxinas nas células – e sua transmissão para a progênie – pode ser entendido. A toxicogenômica também estabelece correlação entre as respostas aos medicamentos e as mudanças no perfil genético das células expostas a eles (LODISH et al., 2014, JOHNSON et al., 2017). Vimos até agora técnicas relacionadas à informação genética, DNA, RNA, cDNA. Vamos ver como as proteínas podem ser analisadas. Aproveite a leitura! 8. Técnicas de Separação de Proteína A separação de proteínas pode ser feita por diversas técnicas diferentes. Para escolher qual a técnica a ser empregada, deve-se pensar, por exemplo: qual será o uso da proteína? Qual é o material de partida? O que deve ser removido da solução? Quais as condições iniciais da solução? Qual é a estabilidade da proteína? Qual é a escala de purificação? Qual é o custo econômico para a purificação? No final, a proteína deve estar ativa ou não? Vamos dar a vocês algumas ideias de técnicas possíveis começando pela mais simples. Centrifugação Quando se pretende separar proteínas a partir de homogeneizado de células, a metodologia mais comum é a centrifugação diferencial. Nesse processo de purificação de proteínas, a amostra é comumente composta de células rompidas mecanicamente. Ela é então colocada dentro de um tubo e girada (centrifugada). Essa centrifugação pode ter sua velocidade variada. Se for uma ultracentrifugação, separará organelas celulares, como o núcleo, além de grandes fragmentos celulares ou células não rompidas. Estas organelas vão ficar no fundo do tubo e as proteínas solúveis irão para a parte de cima, sobrenadante. A partir desse sobrenadante de proteínas, é possível usar técnicas mais precisas para separar, dessa mistura de proteínas, aquela que se deseja estudar ou produzir em larga escala. Antes de começarmos a falar de técnicas mais precisas, vamos falar de uma técnica muito comum em biologia molecular quando se trata de separação de proteínas: gel de eletroforese. Gel de Eletroforese para Proteínas A eletroforese é uma técnica de separação de moléculas em uma mistura sob a influência de um campo elétrico aplicado. Perceba na figura abaixo como a eletroforese funciona: Eletroforese. Gel cassete (cuba de gel), Negative electrode chambre (Cuba com eletrodo negativo), Anode (+), Cathode (-), anodo (+), catodo (-), Anote buffer, cathode buffer, (tampão anódico), tampão catódico (-), Hamilton syringe (seringa de Hamilton), Sample (amostra), Power source (fonte elétrica), separated prontein bands (bandas de proteínas separadas). Vamos entender como esse processo funciona. As biomoléculas, como aminoácidos, peptídeos, proteínas, possuem grupos funcionais ionizáveis, que adquirem carga positiva ou negativa em um determinado valor de pH. Quando submetidos a um campo elétrico, essas partículas carregadas irão migrar para o polo positivo ou negativo, dependendo de sua carga líquida. A separação se dá pela razão massa/carga e pelas propriedades físicas do meio pelo qual elas migram (LODISH et al., 2014). A separação por eletroforese de proteínas é realizada em géis de poliacrilamida conhecidos como PAGE (polyacrylamide gel electrophoresis). A polimerização da acrilamida é catalizada por radicais livres, iniciada pela adição de N,N,N’,N’- tetramethylenediamine (TEMED). Quando uma mistura de proteínas é colocada em gel sob uma corrente elétrica, proteínas menores migram mais rápido pelo gel que as proteínas maiores, pois a poliacrilamida possui poros, que acabam por selecionar as proteínas pelotamanho. A voltagem e a forma das proteínas também influenciam essa migração das proteínas no gel (chamada de corrida). Proteínas ramificadas migram mais lentamente que moléculas simétricas. Para melhorar a separação entre as proteínas, usa-se um detergente, o dodecilsulfato de sódio (SDS). Esse detergente se liga às cadeias laterais hidrofóbicas, desestabilizando as interações hidrofóbicas no centro das proteínas, desnaturando as proteínas (BORZANI et al., 2001). Ele ainda contribui com carga negativa, o que irá favorecer a corrida. O SDS pode ser combinado com tratamento de calor para favorecer as quebras de pontes dissulfeto. O gel de SDS-PAGE é empregado para análise qualitativa de proteínas, por exemplo, quando se quer acompanhar a purificação de proteínas. O tamanho do poro varia com a percentagem de acrilamida. Veja na imagem as tramas da poliacrilamida polimerizada formando os poros que permitem a separação de proteínas. Gel para separação de proteínas. Mixture of macromolecules (mistura de macromoléculas), Porous gel (poros do gel), Electrophoresis (eletroforese). Quando se deseja fazer uma análise qualitativa de proteína no seu estado natural, não desnaturado, empregamos o gel nativo. Nesse caso utiliza-se o gel de poliacrilamida (em geral na porcentagem de 7.5 %), mas na ausência do SDS. Nestas condições, as proteínas são separadas de acordo com suas respectivas mobilidades eletroforéticas no gel. Após a corrida as proteínas são coradas no gel. A coloração normalmente é feita com uma solução a 0.1 % de Coomassie Brilliant Blue R-250 (CBB) em metanol:água:ácido acético glacial (45:45:10). Essa coloração deixa as bandas de proteínas roxas. Deve-se empregar, para colocar as proteínas no gel, um tampão para aumentar a densidade das amostras e um padrão com várias proteínas com tamanho conhecido (LODISH et al., 2014, JOHNSON et al., 2017). Os géis de poliacrilamida vistos até agora são géis unidimensionais. No entanto, existem os géis de separação bidimensionais. Quando se deseja analisar a expressão de todas as proteínas de um determinado sistema, por exemplo, todas as proteínas de um organismo, para verificar a resposta frente a uma substância em um experimento (tratamento), dizemos que queremos fazer o estudo de proteoma. Essa análise é importante para entender também se há proteínas que estão sendo reguladas e que vão aparecer ou não diante de um determinado tratamento. Nos géis bidimensionais primeiramente, a amostra passa por um gel de poliacrilamida em uma pré-corrida. Esse primeiro gel é feito usando-se tampões específicos com pH estáveis variando de pH 3 a pH 10. Nessas condições, as proteínas irão migrar pelo gradiente até atingir o seu ponto isoelétrico (pI), o pH no qual a carga líquida da proteína é zero. Essa parte do processo é chamada de focalização isoelétrica. Depois dessa primeira corrida, segue-se uma segunda corrida que funciona como uma corrida em poliacrilamida normal. Nessa segunda etapa, o Quando há concentrações baixas de proteína, utiliza-se a coloração cor prata que é 100 vezes mais sensível que o CBB, detectando proteínas em torno de 0.001 µg (1 ng). Com a redução da prata na presença de oxigênio, as bandas de proteínas aparecem de cor marrom. PAGE-SDS bidimensional irá separar as proteínas de acordo com suas massas (LODISH et al., 2014, JOHNSON et al., 2017). Podem-se comparar os perfis de proteínas que aparecem na presença ou ausência de um tratamento. Essas proteínas serão cortadas do gel e avaliadas por metodologias mais sensíveis, como na espectrometria de massas que analisa as estruturas dessas proteínas. Vamos ver agora alguns métodos mais sensíveis para separação de proteínas: as cromatografias. Cromatografia As cromatografias podem separar as proteínas pela massa, carga ou afinidade de ligação. Para entender cromatografia é importante manter em mente que há sempre uma matriz (superfície sólida, comumente chamada de coluna), a fase estacionária. E uma fase móvel, que se movimenta pela fase estacionária. A separação das proteínas se dá dependendo de propriedades físicas e químicas das proteínas e da fase estacionária. Assista ao vídeo abaixo para você entender um pouco sobre os conceitos básicos da cromatografia. Assista ao vídeo para ter uma noção dos conceitos básicos sobre cromatografia. Conceitos Básicos em Cromatogra�a LiquidaConceitos Básicos em Cromatogra�a Liquida…… https://www.youtube.com/watch?v=tf0Rkcq-l-0 Na cromatografia líquida, a fase móvel é um líquido e a fase estacionária é um sólido. Na fase estacionária, o material de separação das proteínas é uma coluna empacotada que permite a fase líquida, com a amostra de proteínas, passar separando-as por diferenças em massa, carga ou afinidade de ligação (LODISH et al., 2014, JOHNSON et al., 2017). Vamos ver alguns exemplos de cromatografia líquida: 1. Cromatografia líquida de filtração em gel: proteínas que apresentam diferentes massas podem ser separadas quando passarem por uma coluna composta por esferas porosas produzidas com poliacrilamida, dextran (polissacarídeo bacteriano) ou agarose (um derivado de algas marinhas). 2. Cromatografia líquida de troca iônica: as proteínas são separadas por diferenças nas suas cargas. Esta técnica emprega esferas cujas superfícies são revestidas por grupamentos amino (NH3 ) com carga positiva ou carboxilas (COO ), ou carga negativa em pH neutro. As proteínas possuem cargas que variam em diferentes pHs. Quando uma mistura proteica flui por uma coluna de esferas carregadas positivamente, somente as proteínas com carga negativa (proteínas ácidas) ficam retidas; proteínas neutras e carregadas positivamente (básicas) são repelidas e saem da coluna. No final, as proteínas retidas podem ser retiradas (eluidas) da coluna. Para isso, usa-se um tampão que possui quantidade crescente de sal – gradiente de sal. 3. Cromatografia de afinidade: é aquela que se fundamenta na capacidade das proteínas de se ligarem especificamente a outras moléculas. A fase estacionária é um ligante ou outras moléculas através das quais a proteína de interesse tem afinidade. Os ligantes podem ser substratos de uma enzima, inibidores ou seus análogos. Um exemplo comum dessa cromatografia acontece quando a molécula fixada é um anticorpo específico para a proteína de interesse. Somente as proteínas com afinidade pelo ligante serão retidas. No final, essas proteínas agora separadas das demais serão retiradas da coluna (eluida) pelo uso de detergentes ou pela mudança na concentração de sal ou pH (LODISH, et al., 2014, JOHNSON et al., 2017) Praticamente todas as cromatografias podem usar sistemas automatizados que captam o sinal da retenção das proteínas. Esses sinais são importantes para análise dos resultados. As cromatografias são amplamente utilizadas na indústria farmacêutica para produção de moléculas em escala comercial. Veja na imagem um exemplo desses sinais gerados na + – cromatografia. Nele o chamado cromatograma identifica pelo tempo de retenção um determinado composto na coluna, pois ele forma um pico característico. Esse pico de retenção serve para calcular, por exemplo, a concentração da proteína, ou para saber o tamanho dessa proteína. Exemplo de cromatograma. Procuramos dar a você uma noção das técnicas usadas em biotecnologia. Gostaríamos que você tivesse sempre em mente que a biotecnologia está em constante evolução e que métodos estão sendo o tempo todo aprimorados. Um grande aliado nessa evolução é a bioinformática. Ela pode prever interações entre proteínas; pode, por exemplo, substituir métodos elaborados e gerar software para análises mais rápidas. É o chamado processo de aprendizado da máquina ou machine learning process! 9. Conclusão Nós enfatizamos nesse tópico diferentes técnicas de análise em biotecnologia molecular. As nucleases são enzimas que degradam os ácidos nucléicos. Na eletroforese os fragmentos deDNA são separados, atraídos por um campo elétrico. A determinação dos nucleotídeos de um pedaço de DNA é feita pelo sequenciamento. Um fragmento de DNA pode ser amplificado graças ao descobrimento de enzimas termoestáveis, as polimerases. Na amplificação do DNA é usada a técnica de reação em cadeia da polimerase, PCR. Existem variações de PCR. A RT-PCR ou PCR de transcrição reversa permite o uso de RNA como molde. No qPCR, PCR, quantitativo em tempo real, a marcação por fluorescência ou sonda permite a coleta de dados à medida que a PCR progride. Para identificar uma sequência de interesse no meio de várias outras, sua detecção pode ser feita por uma sonda. Se a molécula for DNA, essa técnica é chamada de Southern blotting, se for RNA, Northern blotting, se for proteína será chamado de Western blotting. Já os microarranjos usam chip com sondas de moléculas que podem ser DNA, cDNA ou oligonucleotídeos. Para separação de proteínas, existem vários métodos. O mais simples explicado aqui é o da centrifugação diferencial que separa proteínas a partir de células e tecidos. A eletroforese também é usada para separação das proteínas. A separação pode ser realizada em géis de poliacrilamida conhecidos como PAGE (polyacrylamide gel electrophoresis). No gel de SDS-PAGE as proteínas estão desnaturadas. No gel nativo, o detergente SDS não é utilizado. Quando se deseja analisar a expressão de todas as proteínas de um determinado sistema utiliza-se gel bidimensional. As cromatografias podem separar as proteínas pela massa, carga ou afinidade de ligação. A cromatografia é uma metodologia mais sensível e utiliza uma matriz (superfície sólida, comumente chamada de coluna) chamada de fase estacionária, e a fase móvel é a que se movimenta pela fase estacionária. Na cromatografia líquida, fase móvel é um líquido e a fase estacionária é um sólido. Cromatografia de gel filtração utiliza uma coluna composta por esferas porosas produzidas com poliacrilamida, dextran (polissacarídeo bacteriano) ou agarose (um derivado de algas marinhas). Cromatografia de troca iônica, quando as proteínas são separadas por diferenças nas suas cargas. Cromatografia de afinidade está fundamentada na capacidade das proteínas de se ligarem especificamente a outras moléculas. 10. Referências BORZANI, Walter et al. Biotecnologia industrial: volume I: fundamentos. São Paulo, SP: E. Blücher, 2001. xxix, 254 p. ISBN 8521202784 (v.1). LODISH, Harvey F et al. Biologia celular e molecular. 7.ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014. xxxiv, 1210 p., ISBN 9788582710494. JOHNSON, Alberts et al. Biologia molecular da célula. 6 ed. Porto Alegre RS: Artmed, 2017. 1464 p., ISBN 978-85-8271-423- 2. SAMBROOK. J.; RUSSEL, D. W. Molecular Cloning: A Laboratory Manual. 3.ed. New York: Cold Spring Harbor Laboratory, 2001. YouTube. (2020). Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. 09min01. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=B-cEFNwax1A> YouTube. (2015). Carlos Simeão. Técnicas de Biologia Molecular – PCR – Animação 3D. 02min25. YouTube. (2019). Centro de Soluções Analíticas. Conceitos Básicos em Cromatografia Líquida | HPLC. 03min02. YouTube. (2020). Instituto Nacional de Perícias e Ciências Forenses. Técnicas utilizadas no Diagnóstico do https://www.youtube.com/watch?v=B-cEFNwax1A Coronavirus. 03min27. YouTube. (2016). Khan Academy.08min26. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=ewt3k_C4JbQ> YouTube. (2011). Kasvi – Produtos para Laboratório. Eletroforese horizontal de DNA em gel de agarose. 03min45. YouTube. (2018). Olhar Digital. Sequenciamento de DNA nunca foi tão acessível; conheça as possibilidades. 07min35. YouTube. (2012). Support Center for Microsystems Education. DNA Microarray. 00min55. YouTube. (2014). Zênite. Sanger Sequencing of DNA (Legendado PT). 03min39. Parabéns, esta aula foi concluída! O que achou do conteúdo estudado? Péssimo Ruim Normal Bom Excelente https://www.youtube.com/watch?v=ewt3k_C4JbQ Mínimo de caracteres: 0/150 Deixe aqui seu comentário Enviar
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