Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE AULA 2 Profª Mariana Andreotti Dias 2 CONVERSA INICIAL Prosseguindo com nossas discussões sobre a temática ambiental. Nesta aula, aprofundaremos o estudo, colocando em voga aspectos sobre nossa temporalidade, especificamente sobre os períodos da modernidade e pós- modernidade, e as implicações da temática ambiental nas sociedades, estas que se voltam aos impactos socioambientais. Chega-se o momento de discutirmos o que é sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, assim como quais são as enunciações que esse conceito possui e para que ele foi pensado. Para compreendermos tais enunciações, faz-se necessária a abordagem sobre: • O conceito de progresso, desenvolvimento, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável; • O desenvolvimento atrelado a ideia de progresso que se fez por um modelo para a sociedade na perspectiva da industrialização e dos sistemas de produção; • A subordinação da natureza pela busca do desenvolvimento. A fragilidade e finitude dos recursos naturais e a consequente degradação ambiental (da água, do ar, “acidentes” ecológicos, poluição marinha, queimadas etc.). Problemáticas que operam em diferentes escalas (local, regional, global); • A criação do conceito de desenvolvimento sustentável por órgãos e legislações ambientais que o inserem em seus relatórios, movimento atrelado à crise ecológica. TEMA 1 – CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO NA MODERNIDADE O termo desenvolvimento é acompanhado, geralmente, de outras perspectivas, principalmente a econômica. Ao falarmos de desenvolvimento, pensamos em países “desenvolvidos” ou “subdesenvolvidos”, aumento de produção, melhor ou pior situação econômica. Sendo assim, ele é um termo subjetivo, podendo ser considerado conforme o contexto que se coloca. Dentro da discussão da temática ambiental, ao colocarmos em perspectiva o desenvolvimento, estamos pensando em economia, em lucro, em produtividade, mesmo quando falamos de sustentabilidade. Afirmamos isso 3 pois a natureza, conforme vimos, é um conceito complexo e faz parte de um sistema que é livre de interferência humana. Sendo assim, como vamos desenvolver algo que não é da natureza humana? Através da ideia de sustentabilidade. Veremos como se dá essa perspectiva em nossa sociedade e na modernidade. TEMA 2 – DESENVOLVIMENTO E PROGRESSO NA MODERNIDADE A modernidade é um período compreendido após o fim da Idade Média. Não é mera coincidência que esse marco histórico acompanha diversos processos da sociedade, como a industrialização e a sede de progresso, principalmente nas cidades da Europa – França e Inglaterra. A ideia de progresso naquela época escondia a ideia de desenvolvimento que vemos atualmente. Baptista (2009, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 61), nos apresenta que: Concepção de progresso nesta época, como um conceito atrelado a emancipação humana e ao crescimento do saber e das tecnologias. É nesta fase que se observa a consolidação do ideal antropocêntrico, perspectiva máxima da Modernidade. A disseminação e o fortalecimento do pensamento cartesiano colocam o ser humano como o novo centro do mundo, utilizando-se de seus métodos científicos e da razão para desvendar e, mais do que isso, dominar a natureza. É nesta condição que o papel do homem é elevado à supremacia da racionalidade que, com base na ciência e na técnica, se coloca como o dominador da natureza. Rompe-se com a perspectiva da Idade Média, quando os deuses e o mítico ditavam a vida das pessoas, uma nova relação entre ser humano e natureza desponta. Mas antes disso, outras eram as concepções para o progresso e desenvolvimento, como é o caso do mercantilismo: Um conjunto de medidas econômicas que garantia às monarquias acumular internamente grande quantia de metais preciosos, tendo como base para isso os lucros com as atividades mercantis e principalmente pela exploração das colônias. Teve início no século XV durante a expansão marítima e comercial, com o interesse de enriquecer a nação (principalmente a burguesia) e reforçar o poder real (Estado), o mercantilismo perdurou até o século XVIII, passando por várias transformações e adaptações para adequar-se à realidade e a conjuntura econômica de cada país. (UFSCAR, s.d) Confirmamos que, na ideologia das pessoas, principalmente das burguesias, a ideia de progresso era tida como sobrevivência às mazelas do mundo. Com isso, percebemos também que o desenvolvimento por meio da exploração sempre existiu, fragilizando habitats e populações. 4 Nós devemos questionar até que ponto podemos pensar e nos inclinar para a ideia de progresso desmedida. É possível, de fato, sermos desenvolvidos e aplicar o desenvolvimento sem afetar algo ou alguém? Vamos observar a charge a seguir e refletir sobre a problemática: Figura 1 – Progresso Fonte: Lute Cartonista, 2017. O cartunista ilustra o progresso como impacto social e ambiental. Esse que resulta em poluição, extinção e má qualidade de vida. Mas voltemos um pouco para compreender um outro conceito – desenvolvimento. Segundo Oliveira (2010, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 64): O termo “Desenvolvimento” passa a ser internacionalmente reconhecido após a 2ª guerra mundial, e pode ser considerado como um substituto da concepção de “progresso”. Nesta ótica, Bresser- Pereira (2014) aponta este novo ideal muito mais voltado ao viés econômico (...) a teoria sobre o desenvolvimento que surge (...) limita- se a indicar o melhor modo para acelerar o crescimento econômico de um país. (...) nos países desenvolvidos, preocupações com problemas sociais, guerra, saúde, entre outros, não são mais o foco, como foram anteriormente, posto que haviam atingido um estágio de “desenvolvimento” satisfatório. Podemos considerar que questões emergenciais como a guerra não fazem mais parte das prioridades de países desenvolvidos. Mas será que esse desenvolvimento de fato compreende todas as camadas da sociedade? Exemplo é o serviço de saúde dos Estados Unidos. Lá, os tratamentos e consultas são privatizados, e se alguma doença grave assola o indivíduo, não há formas possíveis se não as economias, hipotecas de casas, financiamento, 5 juros etc. Esse processo se concentra, então, em uma lógica de mercado, deixando mínima a ideia de desenvolvimento fraterno, igualitário e solidário. Mas voltemos à análise sobre o termo: A origem da ideia de desenvolvimento pode ser encontrada na teoria da evolução de Darwin, que, aplicada à sociologia, adquire o formato do chamado evolucionismo social (ou darwinismo social), indicando as sociedades industriais capitalistas como exemplo e objetivo a ser atingido pelas demais, caracterizando-se assim uma verdadeira afronta à diversidade cultural do globo. (Layrargues, 1997, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 65) As duas ponderações acompanham o momento histórico que aqui estamos discutindo, a modernidade. Lembremos que as sociedades assistiram conflitos armados e respondiam com movimentos de resistência. Mas além disso, estavam à mercê de um pulsar mercadológico, inserindo-os em um ideal de vida estimulante e frenético, o consumo. Para acompanhar o consumo e o novo modelo de sociedade capitalista, a industrialização estabelece definitivamente o seu papel na história, levando a todos o sonho do progresso e desenvolvimento. No âmbito das Américas, Mendonça e Dias (2019) nos lembram da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), instituição que propõe teorias e uma forte industrialização, guiada pelos Estado como escape à condição de subdesenvolvimento. Celso Furtado explica sobre o projeto nacional-desenvolvimentista que carregava consigo a esperança de extensão ampla dos benefícios econômicos, políticos e sociais da modernidade a toda sociedade brasileira. A industrialização, antes preponderante,daria espaço ao desenvolvimento, que é, para o sociólogo, “acumulação de capital e da incorporação de progresso técnico, processo que redundaria no aumento da renda por habitante ou, em outras palavras, na elevação sustentada dos padrões de vida da população”, significando o progresso desencadeado para que o país realizasse a sua revolução em direção à modernidade (Memorial Democracia, s.d). 6 TEMA 3 – OS LIMITES DO DESENVOLVIMENTO: OS RECURSOS NATURAIS E OS PROBLEMAS AMBIENTAIS As ideias Cepalinas, como o projeto nacional-desenvolvimentista, espelharam um processo bastante latente na sociedade brasileira, a desigualdade social e econômica. Segundo Martins (2010, citado por Mendonça; Dias, 2019) tais teorias pregavam transformações radicais nas concepções de desenvolvimento, alegando que o sistema vigente até então gerava riquezas no centro e pobreza e subdesenvolvimento na periferia. A transformação do ideário de igualdade social chega com os movimentos sociais no fim da década de 1950 e início da década de 1960. Contudo, no Brasil e parte da América Latina, as ditaduras militares despontam nesse período e outras concepções são vistas, estagnando a contracultura e o ideário social. Ao final dos 1960 e início dos 1970, surge uma nova visão de desenvolvimento que contempla o aspecto econômico, o social e o ambiental, resultando, quase duas décadas depois, na criação do conceito de Desenvolvimento Sustentável. A subordinação da natureza pela busca do desenvolvimento é vista acompanhada de uma fragilidade e finitude dos recursos naturais. E como consequência, a degradação ambiental (da água, do ar, “acidentes” ecológicos, poluição marinha, queimadas etc.) acontece em diferentes escalas (local, regional, global). Mendonça e Dias (2019, p. 67-68) colocam que: O surgimento desse novo conceito se dá à luz de crises ambientais e problemas atrelados ao meio ambiente, ocorridos no mundo inteiro desde os anos 1950. temos de nos lembrar que durante os anos 1950 e 60, com o desenvolvimento da mídia televisiva, o alcance das catástrofes ambientais era muito maior, sensibilizando a opinião pública ante a problemática ambiental e alterando as concepções de natureza que a tomam como um recurso ilimitado. Vamos organizar nossas ideias: se até agora vimos que as sociedades passaram por intensa industrialização, progresso e a busca de um desenvolvimento econômico, como fica o meio ambiente, a natureza e os ecossistemas? Impactados! Problemas ligados à contaminação do ar, redução e contaminação da água, inundações e enchentes, aumento do buraco da camada de ozônio, problemas com uso de agrotóxicos, aquecimento global, epidemias, riscos etc., vigoram o status quo das populações. 7 É que somente com as grandes Conferências Mundiais que os Estados se voltam para tais problemas, firmando compromissos. Iremos tratar desses detalhes posteriormente. Mas podemos já enunciar alguns movimentos em prol de mudanças para o planeta, como o Clube de Roma: Em 1967, o empresário industrial italiano Aurelio Peccei e o cientista escocês Alexander King, em uma tentativa de discutir os problemas sociais, econômicos e ambientais do globo, instituem o chamado Clube de Roma. Fundado oficialmente apenas em 1968, teve até o ano seguinte um caráter informal, apontado apenas como um “grupo de indivíduos que se encontram com certa frequência para um melhor entendimento dos problemas globais” (Clube de Roma, 2017). tratava-se de cerca de 30 cientistas, entre eles: economistas, ambientalistas, empresários e pessoas influentes da Europa. (Mendonça; Dias, 2019, p. 68) Como forma de divulgar e estabelecer métricas para o cumprimento dos acordos, um primeiro relatório foi dissertado, “Os Limites do Crescimento”, em 1972. Com ele, podemos estabelecer o despertar do movimento ambientalista, pois foi o primeiro instrumento a questionar “a viabilidade do contínuo crescimento da população humana e a escassez dos recursos naturais” (Mendonça; Dias, 2019, p. 70). As conclusões desse movimento foram: Se a população mundial continuasse a consumir como na época, por consequência da industrialização, os recursos se esgotariam em menos de 100 anos. No início do século XXI, os problemas internacionais como a crescente desigualdade global, as consequências da mudança climática e o uso excessivo dos recursos naturais provou que os princípios fundamentais do Clube de Roma eram muito certos e reviveram o interesse nas atividades da organização: consumo ilimitado e crescimento perigoso num planeta com recursos limitados que não podem ser utilizados para sempre. (Figueiredo, 2014, s.p) A tão propalada infinidade da natureza passava, finalmente, a ser colocada em xeque. O avanço das tecnologias sempre foram argumentos utilizados a favor do modelo, algo discutido também por Milton Santos ao colocar a sociedade no prisma das técnicas. Neste contexto, os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável passam a ser mais bem definidos, indo de algo não necessário, a um conceito deverás utópico e discutido, proporcionando novas visões e novas críticas à sociedade, à natureza e ao sistema capitalista industrial (Mendonça; Dias, 2019). 8 TEMA 4 – SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO Chegamos no momento de conceituar o termo desenvolvimento sustentável, ecodesenvolvimento, sustentabilidade e sustentável que vem fortemente embasado pela inserção da problemática ambiental como tema político, econômico e social na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano em 1972, na cidade de Estocolmo. Segundo Mendonça e Dias (2019, p. 72), o conceito de desenvolvimento sustentável surgirá com força a partir de 1987. Nesse ano, foi lançado o informe Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland em referência à primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, chefe da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento e responsável pela sua publicação. E este seria: Um processo contínuo temporalmente, embasado pela preocupação de garantir recursos para a continuidade das sociedades humanas no futuro e que, para tanto se leva em consideração aspectos ambientais, econômicos e sociais de forma indissociável e complementar com o contexto de qualidade de vida da população. (Mendonça; Dias, 2019, p. 79) O relatório tinha como meta, dentre os seus objetivos, o prenuncio do termo sustentabilidade, que seria: “atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades” (ONU, 1987, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 73). Intelectuais da área social e ambiental discutem que: Quando surge e adquire força o conceito de desenvolvimento sustentável [...] as poucas dúvidas que ainda existiam, quanto à preocupação com a natureza – se devia ou não considerar o ser humano – se esvaecem.”. completa alegando que “o desenvolvimento sustentável incorpora à conservação da natureza externa (sustentabilidade ecológica) a sustentabilidade social e também uma sustentabilidade econômica. porém, alguns autores, instituições e práticas de política ambiental continuam privilegiando ou considerando exclusivamente a sustentabilidade ambiental” (Foladori, 2002, p.104). Algo consentido por Layrargues (1997) ao expor que a pobreza passa a ser considerada como um dos mais graves problemas ambientais, funcionando como um marco nessa nova concepção. e tal reconhecimento admite a necessidade urgente de combate à desigualdade social e especulação imobiliária. (Mendonça; Dias, 2019, p. 74) Sobre o termo ecodesenvolvimento: 9 Pregaria o que LAYRARGUES (1997) chama de teto de consumo, atestando que países de primeiro mundo e de terceiro mundo deveriam chegar a um denominador comum quanto ao seu consumo, buscando um nívelmédio entre ambos, implicando na redução do consumo para os países mais ricos, e colocando assim, limites à atuação do livre mercado. (Mendonça; Dias, 2019, p. 74) Já a ideia de sustentável: Perpassa o viés ambiental e ecológico, pois admite-se a sustentabilidade enquanto novo princípio ético que deve existir nos campos da política, economia, sociedade e também meio ambiente. (Mendonça; Dias, 2019, p. 76) O Relatório Brundtland, contudo, sofre críticas pois não considera as contradições e problemas internos de países pobres ou como chamam em desenvolvimento, visto que este se faz convivente com uma lógica de progresso medida pelo mercado e consumo como estratégias a solucionar os problemas ambientais. Outro aspecto fundamental a discutirmos é o que Diegues (1992, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 76) nos apresenta: No conceito proposto pelo relatório encontra-se no fato da proposição de desenvolvimento sustentável enquanto estratégia local, sem levar em conta as vicissitudes e tradições culturais de cada sociedade, propondo na verdade, que todas sigam uma cartilha que as levará a um patamar global de “desenvolvido”. acredita-se então que deva se pensar a ideia de “sociedades sustentáveis”, um conceito que levaria em conta aspectos individuais de cada sociedade, com parâmetros próprios. Ou seja, não adianta colocar padrões e estabelecer a mesma “caixinha” para sociedades tão diversas em suas culturas, costumes e histórias. Sociedades exploradas como as do Sul antagônicas às sociedades de colônia como as do Norte. Figura 2 – Três áreas para avaliação do desenvolvimento Fonte: adaptado de Dias, 2017. 10 TEMA 5 – AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE Cinco anos após a publicação do relatório Brundtland, em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula da Terra, Eco-92 ou Rio 92. Nesse evento, o termo sustentabilidade adquire caráter mais oficial, sendo citado em 12 princípios da declaração final da convenção (ONU, 1992, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 77). Na Conferência seguinte em Johanesburgo, em 2002, três dimensões dessa concepção são instadas pela ONU: a social, a econômica e a ecológica. As três são tratadas de formas distintas e complementares. Figura 3 – As dimensões da sustentabilidade Fonte: Dias, 2017, citado por Mendonça; Dias, 2019. Para melhor compreender, Mendonça e Dias (2019, p. 78) organizam: •no âmbito da ecologia, enseja-se a proteção dos recursos genéticos e naturais, redução do consumo de recursos e diminuição da poluição em todos os seus âmbitos, viabilizando a economia e garantido uma qualidade de vida adequada. •no que concerne os aspectos sociais são apontados em vista à necessidade da garantia de infraestrutura básica, educação, energia, saúde e na diminuição das desigualdades sociais e mazelas do globo, garantidos por uma melhora na qualidade de vida. •no âmbito da economia, se propõe o crescimento responsável e equitativo, de modo que nenhuma nação fique alheia. considera-se também a preservação do meio ambiente livre da concepção de atraso econômico, mas como algo passível de novas perspectivas. Quando postas em conjunto, as relações entre esferas indicam três níveis: suportável, viável, equitativo. 11 Dentro das agendas empresarial e corporativa, começam a aparecer os conceitos aqui enunciados e a inserção da problemática ambiental pode significar a solução para os problemas ambientais, já que, em uma sociedade cada vez crítica, o “ecologicamente correto” tornar-se-á de fato um diferencial para as empresas. Assim, as certificações ambientais surgem como novidades para marcas e serviços de todos os tipos, indicando que aquele bem de consumo passou por testes e encontra-se em um estágio de suposta sustentabilidade, e que, portanto, sua comercialização não afetará o meio ambiente (Reydon et. al., 2007, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 81). As certificações ambientais estão dentro da lógica de mercado, pois se as empresas não contemplarem os selos em seus produtos, ficarão para trás, tendo em vista que exigências estatais são feitas, assim como pela própria sociedade. Os problemas ambientais que desencadearam as discussões, os relatórios, os novos paradigmas, as novas concepções de desenvolvimento e sustentabilidade têm, em sua gênese, o próprio sistema capitalista mundial (Dias; Tostes, 2009, citado por Mendonça; Dias, 2019). Assim, buscar uma solução dentro desse mesmo sistema ainda parece algo muito distante e talvez inalcançável, tamanha a voracidade do sistema. Para alcançarmos o perfeito desenvolvimento sustentável, necessitamos cada vez mais de diálogos e máximas que contemplem o tripé – economia, ambiente e sociedade. As soluções até então encontradas não conseguiram contemplar a totalidade do conceito em si, deixando por diversas vezes os aspectos sociais em segundo plano, fato esse marcado pelo consumismo exacerbado e acúmulo de capital nas mãos de poucos; a natureza constitui tão somente um recurso para a reprodução do capital, e a força de trabalho humano um meio para a transformação da natureza em mercadoria. Diante disso, questiona-se: o que tem sido feito pela sociedade? Existem outras possibilidades para os entraves do desenvolvimento sustentável? NA PRÁTICA Para aprofundarmos a temática, podemos dialogar sobre dois documentários: • O Sal da Terra (2014), de Wim Wenders. Reflita, a partir dos projetos elucidados no vídeo, sobre a questão do desenvolvimento sustentável. É 12 possível evitar a destruição da natureza? E reverter o que já está destruído? • Time for Change (2010), dirigido por João Amorim. A reflexão será proveitosa no que concerne às questões ambientais travadas principalmente sobre a quebra de paradigmas entre o conhecimento vernacular e a academia. FINALIZANDO Ao longo desta aula, pudemos esclarecer alguns conceitos fundamentais para a temática e questão ambiental. Necessitamos compreender o surgimento da lógica sustentável e o desenvolvimento intrínseco a ela. O mercantilismo, a industrialização, o progresso e a lógica de mercado fazem parte do complexo que o desenvolvimento sustentável está. Os relatórios dissertados nas Conferências Mundiais para o Desenvolvimento Humano, notoriamente encabeçado por Estados mais abastados e pela Organização das Nações Unidas, deram o tom sobre a perspectiva, mas nos leva à reflexão sobre os limites desses esforços e a sua não efetivação na sociedade moderna e pós-moderna. Conforme indicam Mendonça e Dias (2019, p. 83), Tem-se o ideal de buscar o desenvolvimento social, econômico e ambiental de modo a garantir recursos para a continuidade das sociedades humanas no planeta, sendo esta ideia amplamente utilizada a partir dos anos 90. A concepção do conceito no âmbito do capitalismo faz surgir também uma série de críticas principalmente no que tange o paradoxo entre desenvolvimento sustentável e a essência do capitalismo, dando ênfase ao questionamento, como garantir recursos para as próximas gerações em um sistema marcado pelo capitalismo? Precisamos ficar atento aos discursos inflados nas mídias a fim de perceber quais são as informações cortinadas. 13 REFERÊNCIAS BAPTISTA, K. C. de. S. Karl Marx: Os limites da igualdade política e a necessidade da emancipação humana. Revista Aurora. Ano 3, n. 4. UNESP, Marília, São Paulo, 2009. DIAS, G. V; TOSTES, J. G. R. Desenvolvimento sustentável: do ecodesenvolvimento ao capitalismo verde. Revista da Sociedade Brasileira de Geografia, v. 2, p. 1-20, 2009. DIAS, M. A. Antropossolos: Enquadramento Taxonômico e Implicações Ambientais. 132 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2017. DIEGUES, A. C. S. Desenvolvimento Sustentável ou Sociedades Sustentáveis – das Críticas dos Modelosaos Novos Paradigmas. São Paulo em Perspectiva, v. 6, n. 1-2, p. 22-29, 1992. FIGUEIREDO, M. Clube de Roma, 5 fev. 2014. Disponível em: <sustentareviver.blogspot.com/2014/02/clube-de-roma.html>. Acesso em: 12 jan. 2020. FOLADORI, G. Avanços e limites da sustentabilidade social. Revista Paranaense de Desenvolvimento. Curitiba, n. 102, p. 103-113, 2002. LAYRARGUES, P. P. Do Ecodesenvolvimento ao desenvolvimento sustentável: evolução de um conceito? Revista Proposta, v. 25, n. 71, p. 5-10, 1997. MARTINS, J. C. A organização do poder estatal e o desenvolvimento econômico: a hipótese da descentralização diante da experiência brasileira. Dissertação (Pós-graduação em Direito) – PUC-RJ, Rio de Janeiro, 2010. MEMORIAL DA DEMOCRACIA. Disponível em: <memorialdademocracia.com.br>. MENDONÇA, F.; DIAS, M. A. Meio Ambiente e Sustentabilidade. Editora Intersaberes, 2019. OLIVEIRA, J. D. Ordem, instituições e governança: uma análise sobre o discurso do desenvolvimento no sistema ONU e a construção da Ordem Internacional. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. http://sustentareviver.blogspot.com/2014/02/clube-de-roma.html 14 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. São Francisco, Califórnia, 1945. _____. O Futuro que queremos. 2012. Disponível em: http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/ofuturoquequeremos_rascunho_zero.p df. Acesso em: 12 jan. 2019. _____. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2019. _____. Report of the World Commission on Environment and Development. 1987. Disponível em: <http://www.un.org/documents/ga/res/42/ares42-187.htm>. Acesso em: 12 jan. 2019. REYDON, B. P.; CAVINI, R. A.; ESCOBAR, H. E.; FARIA, H. M. A competitividade verde enquanto estratégia empresarial resolve o problema ambiental? Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 125, p. 1-24, 2007.
Compartilhar