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Disciplina de GESTÃO SUSTENTÁVEL EVOLUÇÃO CONCEITUAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL João Roberto Mendes Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Tuiuti do Paraná. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida e transmitida sem prévia autorização. Divisão Acadêmica: Marlei Gomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica: Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Divisão Tecnológica: Flávio Taniguchi Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior Projeto Gráfico Neilor Pereira Stockler Junior Editoração Eletrônica Haydée Silva Guibor Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” Universidade Tuiuti do Paraná Material de uso didático. Universidade Tuiuti do Paraná Reitoria Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitoria de Planejamento e Avaliação Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitoria Administrativa Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitoria Acadêmica Carmen Luiza da Silva Pró-Reitoria de Promoção Humana Ana Margarida de Leão Taborda Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Carmen Luiza da Silva Disciplina de GESTÃO SUSTENTÁVEL 1º Bimestre Unidade 1.1 EVOLUÇÃO CONCEITUAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL João Roberto Mendes NOTAS SOBRE O AUTOR João Roberto Mendes – é graduado em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (1998). Participação como bolsista em projetos de extensão universitária relacionados às Tecnologias da Informação e da Comunicação - TICs durante a graduação. Especialização em Magistério Superior (1999). Mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR (2002). Doutorando em Geografia pela UFPR (2012). Professor das Faculdades OPET (Tutor AVA); e Professor Adjunto dos Cursso de Pedagogia e de Tecnologia em Logística da Universidade Tuiuti do Paraná - UTP. Trabalha com as disciplinas: Tecnologias de Comunicação e Informação, Sistemas de Informação, Interação Humano Computador, Tecnologia da Informação e Metodologia do Ensino de Geografia Autor de livros e materiais didáticos para a EAD; Ensino de Geografia e Educação Ambiental. ORIENTAÇÃO PARA LEITURA Citação Referencial Destaque Dica do Professor Explicação do Professor Material On-Line Para Reflexão 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO AO ESTUDO ...................................................... OBJETIVOS DO ESTUDO .......................................................... PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................. CONCEITUAÇÃO DO TEMA ...................................................... EVOLUÇÃO CONCEITUAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .......................................................................... 1 Desenvolvimento Sustentável .................................................. 1.1 O conceito de Natureza ........................................................ 1.1.1 Uma visão contemporânea da natureza ............................. 1.2 O conceito de Meio Ambiente ............................................... 2 O impulso aos debates sobre Desenvolvimento Sustentável .. 2.1 Desenvolvimento sustentável: um conceito em evolução ..... 2.2 Desenvolvimento Sustentável: estágio atual ......................... EXERCÍCIOS .............................................................................. REFERÊNCIAS ........................................................................... 9 10 11 13 13 13 14 16 17 18 19 23 26 27 9 INTRODUÇÃO AO ESTUDO Nesta unidade, busca-se contribuir para o esclarecimento do conceito de desenvolvimento sustentável e suas aplicabilidades. Para isso, apresentamos uma abordagem histórica enfocando os avanços nos debates sobre os termos desenvolvimento + sustentável evidenciando a relação contínua entre eles. 10 OBJETIVOS DO ESTUDO Refletir sobre os conceitos de desenvolvimento sustentável destacando os avanços e os limites de suas concepções. 11 PROBLEMATIZAÇÃO Em nosso cotidiano nos deparamos com debates sobre a necessidade de ações tendo em vista a superação dos problemas ambientais, das desigualdades sociais e da apropriação da natureza como objeto de exploração e consumo. Diversas são as evidências de como os efeitos dessa exploração pode atingir não só os seres humanos, que as produzem, como também outras espécies e as futuras gerações. Nesse contexto, destaca-se o desenvolvimento sustentável como uma busca de soluções. Para refletir sobre esse tema, é importante ter em mente questões como: O que é desenvolvimento sustentável? Por que, no exercício das práticas 12 profissionais, é necessário estar atualizado quanto a esse tema? Que avanços a perspectiva sustentável trouxe para a sociedade e para a natureza? Quais desafios se colocam para a efetivação do desenvolvimento sustentável? Questões como essas causam certas inquietações para profissionais de várias áreas do conhecimento. 13 CONCEITUAÇÃO DO TEMA EVOLUÇÃO CONCEITUAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1 Desenvolvimento Sustentável Nessa unidade, busca-se apresentar a evolução conceitual sobre esse tema de forma a subsidiar a você estudante, quanto às relações entre os termos desenvolvimento e sustentabilidade, que desde a década de 1980, vem sendo direcionado a uma concepção qualitativa, acompanhada de uma perspectiva preocupada com a posterioridade, somando a esse conceito o termo sustentável. Ressalta-se que este debate, por ocorrer em nível internacional, é permeado por pontos de vistas diferentes de acordo com a realidade socioeconômica dos diferentes países. Isso evidencia a necessidade de uma sistematização 14 da problemática que envolve esses termos, destacando seus avanços e limites. Nessa unidade, busca-se contribuir para o esclarecimento do conceito de desenvolvimento sustentável e suas aplicabilidades. Para isso, apresentamos uma abordagem histórica enfocando os avanços nos debates sobre os termos desenvolvimento + sustentável evidenciando a relação contínua entre eles. Trata-se de uma temática que provoca debates e reflexões importantes sobre aos impactos ambientais advindos da forma de interação entre sociedade e natureza, que passaram a se intensificar a partir de meados do século XIX, com a Revolução Industrial. Nesse sentido, evidencia-se a necessidade de conhecimentos sobre meio ambiente por parte dos profissionais que atuam mais diferentes áreas, tendo em vista a busca de soluções e desafios da sociedade como um todo. Na evolução conceitual do tema principal dessa unidade: “desenvolvimento sustentável”, faz-se necessário a compreensão de dois conceitos chave para o entendimento das diferentes perspectivas pelas quais os debates já passaram. Dessa forma, apresenta-se a seguir, os conceitos de Natureza e Meio Ambiente. 1.1 O conceito de Natureza Ao se referir ao conceito de natureza, Gonçalves (2006, p. 23), afirma que “toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada ideia do que seja natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens”. O termo natureza, conforme Backes et al (2009), teve origem na Idade Média, mais precisamente no século XIII e é originário de natura significa “fonte”, com conotação de algo “natural” ou “natura”, sendo relacionado ao verbo nascer em latim – (nascor, nasceris, natus, sum, nasci). Destaca-se nessa conotação da natureza, sua visão de algo mítico. Com o tempo, conforme Oliveira (2006, 114), 15 nas sociedades “civilizadas”, passa-se da concepção da mãe natureza mágica encantada, em que “a terra não pertence ao homem; é o homem que pertence a terra”, visando sempre uma harmonia e equilíbrio entre ambos, para uma visão do homem como sujeito de direito, dando origem a uma nova concepção. Essa conotação de separação entre homem e natureza “é uma característica marcante do pensamento que tem dominado o chamado mundo ocidental”. (GONÇALVES,2006, p. 28) Assim, a natureza adquiriu diferentes conotações, como: conjunto de todas as coisas possíveis, incluindo os seres humanos, os vegetais, os animais, os astros e os minerais. Nesse conjunto, os seres humanos se destacam como agentes que, possuindo domínio técnico interagem com a natureza, resultando desse processo profundas transformações na superfície terrestre. De acordo com Oliveira (2006, p. 115), Em nossa sociedade, a natureza é vista, segundo Gonçalves (2006, p. 27), como “um objeto a ser dominado por sujeito, o homem, muito embora saibamos que nem todos os homens são proprietários da natureza. Assim, são poucos homens que dela verdadeiramente se apropriam”. Diante desse cenário, faz-se necessária uma reflexão contínua sobre as consequências que o avanço da ciência e da técnica vem provocando na natureza, o que pode induzir os seres humanos à tomada de consciência da diversificação e da multiplicidade dos fenômenos. (BACKES, et al, 2009) Nessa perspectiva, o desafio na contemporaneidade é buscar uma concepção de natureza que considere suas fragilidades, os impactos sofridos pela ação do homem e, que A emergência da ciência [a partir do século XV] traz consigo um a nova concepção da natureza. De uma concepção da natureza mãe, mágica, deus a ou morada dos deuses passa-se a uma concepção da natureza como máquina, regida por leis universais que urgem serem conhecidas pelo homem para que ele possa dominá-la. 16 ao mesmo tempo, atenda às necessidades e os interesses dos seres humanos. 1.1.1 Uma visão contemporânea da natureza Nesse início de milênio, ao analisar as características da natureza, o que se apresenta é a atuação de uma civilização impulsionada pelas forças do capitalismo. Como resultado desse sistema econômico, que se baseia na visão de que a natureza é simplesmente um bem a ser explorado, detectam-se problemas ambientes em diferentes níveis de intensidade em, praticamente, toda a Terra. Destaca-se ainda que essa visão de natureza é aquela imposta pelos países desenvolvidos, sendo que também é causa desse processo de exploração, as desigualdades sociais. Um exemplo dessa desigualdade é citado por Protásio (2008), comparando o quadro socioeconômico da África e dos Estados Unidos. Enquanto a África possui cerca de 800 milhões de habitantes e tem extensas reservas de petróleo; jazidas de minérios com alto valor comercial; diversas matérias primas inexistentes em outros continentes; é mesmo assim responsável por apenas 1% do Produto Interno Bruno (PIB) mundial. Nesse continente a grande maioria da população vive com menos de um dólar por dia; conflitos armados matam milhares todos os anos; o continente tem dois terços dos portadores de HIV do mundo; a mortalidade infantil mata milhares de crianças todos Capitalismo (sob a ótica econômica): sistema baseado na legitimidade dos bens privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, com o principal objetivo de adquirir lucro; Sob a ótica social: sistema em que o capital está em mãos de empresas privadas ou indivíduos que contratam mão-de-obra em troca de salário. (HOUAISS, 2008) 17 os anos; cerca de 40% da população é analfabeta; entre outros graves problemas. (PROTÁSIO, 2008) Os Estados Unidos, por outro lado, com cerca de 300 milhões de habitantes, possui empresas que consomem metade dos recursos ambientais do planeta. São responsáveis por ¼ da poluição atmosférica global e mesmo assim, não ratificou o protocolo de Quioto, não se comprometendo assim, a diminuir as emissões de gases poluentes na atmosfera. Isso sob a alegação de que o país não pode colocar em risco suas tacas de crescimento do PIB. (PROTÁSIO, 2008) No entanto, mesmo com esse quadro de desigualdades sociais, o consumo de produtos que agridem a natureza é crescente em todo o mundo, o que intensificam os impactos ambientais, sendo que as soluções para esse quadro são ainda incertas. 1.2 O conceito de Meio Ambiente Para os ambientalistas mais contemporâneos, o emprego do termo meio ambiente parece ter se tornado incômodo. Carlos Walter Porto Gonçalves (1990), propõe o abandono do termo meio ambiente, principalmente pela necessidade de tratar o ambiente integralmente e não somente pela parte dele, considera tal proposta como bem pertinente. Tal incômodo se deve ao fato de a palavra meio também significa metade, parte ou porção, o que converge para a abordagem tradicional sobre o tema que, normalmente, exclui os aspectos sociais. Também, sobre essa abordagem, Suertegaray (2009), destaca que as tendências mais atuais tendem a pensar o ambiente Nesse contexto, o grande desafio para as novas gerações de profissionais é inserir em suas práticas a abordagem ambiental na perspectiva humana, ou seja, social, econômica e cultural. Desse modo, os debates a respeito do tema passam a ser mais abrangentes. 18 sem negar as tensões sob as suas diferentes dimensões. E, nessa perspectiva enfocam um pensamento de conjunto em que meio ambiente vai sendo pensando como ambiente por inteiro e não somente por uma parte. Ainda conforme a autora, isso ocorre na medida em que sua análise exige a compreensão das práticas sociais, das ideologias e das culturas envolvidas. 2 O impulso aos debates sobre Desenvolvimento Sustentável Em nossos dias, pode-se afirmar que a sociedade, de forma geral, está mais consciente em relação à sua interdependência quanto ao meio ambiente. Desse modo, os gestores vêm modificando suas percepções e atuações em consonância com o entendimento coletivo. (POLONSKY, 1994). No meio acadêmico e político, a importância dos debates sobre meio ambiente se intensificaram a partir da segunda metade do século XIX, em escala mundial, o que deu origem a diversas linhas de pesquisas relacionadas às questões ambientais. O marco do início desses debates internacionais foi o ano de 1945, a partir da fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), quando os problemas ambientais foram reconhecidos oficialmente como emergenciais e que a busca de solução para eles envolvia ações integradas entre ações a serem direcionadas pelas nações e suas populações. Nessa perspectiva, os termos desenvolvimento e sustentável, então emergentes, passaram a fazer parte das preocupações dos governantes, o que levou ao entendimento da necessidade e importância do planejamento para o desenvolvimento global equilibrado e ecológico. (MELO NETO & BRENNAND, 2004) Nesse contexto, intensificaram-se as preocupações em preservar os recursos naturais como forma de garantir o desenvolvimento das futuras gerações e o entendimento das inter-relações das questões ambientais e sociais com as formas 19 de planejar ações humanas. Dessa forma, o debate sobre as relações entre os conceitos: desenvolvimento e sustentável ganharam impulso sob diferentes perspectivas, o que impulsionam a sua evolução. 2.1 Desenvolvimento sustentável: um conceito em evolução Os debates sobre a problemática do desenvolvimento sustentável vêm ocorrendo desde a fundação da ONU em 1945. Dessa forma, a fundação dessa organização é considerada o ponto de partida para os debates relacionados à defesa do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentável, principalmente com a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Evidencia-se então, que os debates sobre as relações entre meio ambiente, natureza e desenvolvimento sustentável não é um tema novo, embora, não tenham se destacado na década de 1950. Já na década de 1960, o marco dos debates foram: a publicação de Primavera Silenciosa, por Rachel Carson; o surgimento do Clube de Roma e a formulação da Política Ambiental Americana NEPA (National Environmental Policy Act). (DIAS, 2006). Em 1962, com a publicação do livro de Rachel Carson, considerado uma referência para o movimento ambientalista no mundo, propondo o debate sobre as indústrias químicas trouxe o conceito de ecologia e as bases do direitoà informação e à vida. (RIBEIRO, 2012) No ano de 1968, foi fundado na Itália o Clube de Roma, formado por diversos profissionais entre cientistas, educadores, economistas e industriais, tendo como objetivo o debate global sobre a preservação dos recursos naturais. Esse evento marcou o início da busca pela sensibilização em nível global tendo em vista o desenvolvimento da consciência ambiental internacional considerando os graves problemas ambientais. (CAMARGO, 2003) Com o “Clube de Roma”, ficou exposta a preocupação com o desequilíbrio ambiental, o qual foi relacionado ao crescimento 20 demográfico centrado nos países subdesenvolvidos e ao emprego de tecnologias interferentes no sistema ecológico terrestre. 1 Em 1969, houve a formulação da Política Ambiental Americana (National Environmental Policy Act), sendo essa, conforme Braum (2005), uma das primeiras leis oficiais sobre o meio ambiente, o que incentivou a formulações de legislações ambientais. Em abril de 1970, houve um evento chamado comemoração do Dia da Terra, que pode foi considerado como a maior manifestação ambientalista até aquele momento. Foi a partir da década de 1970 que os movimentos em prol do meio ambiente se intensificaram, o que expandiu o debate sobre o conceito de sustentabilidade e que levou a criação de organismos internacionais, as agências estatais de meios ambientes e as regulamentações e mecanismos de controles ambientais. (CAMARGO, 2003) Em 1972, foi publicado pelo Clube de Roma o documento denominado “Limites do Crescimento” (Limits to Growth), elaborado por cientistas do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), tornando-se um referencial para o debate sobre o meio ambiente. A publicação desse relatório motivou a realização da Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, no mesmo ano. 1 Thomas Malthus (1766-1834), demógrafo e economista inglês, defendeu a teoria populacional segundo a qual, “a tendência natural da população é para crescer em ‘progressão Geométrica’, ao passo que os meios de subsistência não podem aumentar a um ritmo mais rápido daquele que resulta da ‘progressão aritmética’: o seu argumento principal para dar conta desta assimetria de taxas de crescimento é que os acréscimos da produção agrícola vão sendo gradualmente menores com a entrada em exploração de novas superfícies cultivadas, em virtude da menor fertilidade dos solos marginais”. (SCHWARZ, 2009, p. 42) O Clube de Roma (atualmente uma Organização não governamental - ONG) teve diversos opositores que compararam esse documento, que expôs as ideias do grupo, a um retorno à tese de Malthus1 sobre crescimento ilimitado da população mundial versus esgotamento de recursos. 21 Nessa conferência foram debatidos problemas resultantes da contaminação do ar e das águas pelo aumento significativo das indústrias. De acordo com Ribeiro (1995), duas teses foram discutidas nessa reunião: a do crescimento zero contra a desenvolvimentista. Os países em desenvolvimento como o Brasil (na época, sob o regime da ditadura militar) queriam o desenvolvimento, mesmo que este trouxesse problemas ambientais. Sob esse aspecto e, numa demonstração de total desconhecimento dos problemas ambientais, consta que um representante brasileiro tenha afirmado: “Venham (as indústrias) para o Brasil. Nós ainda não temos poluição”. O evento, embora criticado, teve efeitos positivos, tais como a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (UNEP); a institucionalização do Dia Mundial do Meio Ambiente (cinco de junho) o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental, na Iugoslávia, em 1975 (Workshop de Belgrado); e a Conferência Intergovernamental sobre Educação ambiental, organizada pela UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Tbisili (Geórgia, da ex-União Soviética), no ano de 1977. Na conferência de Estocolmo em 1972, emergiu uma das primeiras versões do conceito de desenvolvimento sustentável, ainda denominado ecodesenvolvimento. Na definição de ecodesenvolvimento se partia do pressuposto de que a produção deveria atender as necessidades fundamentais da maioria da população. Conforme Sachs (1986), a produção deveria se basear na economia de recursos naturais como forma de garantir às gerações futuras a possibilidade de desenvolvimento. Em 1980, o termo desenvolvimento sustentável foi utilizado de forma inédita no documento A Estratégia Mundial para a Conservação, sendo este elaborado pela União Internacional para a Conservação da Natureza. A partir da publicação desse documento, passou-se então a difundir o desenvolvimento sustentável como princípios a integração entre natureza e desenvolvimento humanos. Essa perspectiva inclui questões como equiparação de rendas, justiça social, autodeterminação 22 social, diversidade cultural e a manutenção da integridade ecológica. (RAYNAUT; ZANONI, 1993). Em 1983, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) foi criada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), tendo como objetivo reavaliar e buscar soluções para os problemas referentes à exploração da natureza e ao desenvolvimento mundial. No Brasil, em 1986 com a criação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) passou-se a exigir o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) como instrumento obrigatório para o licenciamento de atividades que pudessem alterar significativamente as condições ambientais. Em 1987, a publicação do documento “O Nosso Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório Brundtland”, pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD -, fez críticas ao modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados, o qual era seguido pelas nações em desenvolvimento. Esse documento ressalta os riscos de uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de reposição dos ecossistemas. A globalização da economia, efetivando-se na década de 1990, determinou igualmente, a disseminação de conceitos de gestão, que levou à ampliação da adoção da série ISO 9 0002, como referência de qualidade de produtos e serviços. No Rio de Janeiro, em 1992, ocorreu a Rio-92 que foi uma conferência, organizada pela Assembléia Geral das Nações Unidas para avaliar os avanços nas resoluções acordadas na Conferência de Estocolmo. A Rio-92, conforme Valle (2002), representa um marco para instituir a questão ambiental como uma preocupação de toda a humanidade. Como principais resultados 2 A ISO, cuja sigla significa International Organization for Standardization, conforme Israelian et al (1996), é uma entidade não governamental criada em 1947 com sede em Genebra - Suiça. Tem como objetivo promover o desenvolvimento da normatização e da qualidade em nível internacional. As normas da ISO foram oficializadas em 1987, baseadas em normas já existentes e podem ser utilizadas por qualquer tipo de empresa, seja ela grande ou pequena, de caráter industrial, prestadora de serviços ou mesmo uma entidade governamental. 23 dessa conferência, destacam-se: a consagração do princípio de desenvolvimento sustentável e a implantação de estruturas institucionais para tomada das decisões e ações em níveis nacionais e internacionais. Em 1996, foram aprovadas as normas ISO 14 000, ou seja, o consenso mundial sobre gestão ambiental. Essas duas séries, a ISO 9 000 (qualidade) e a ISO 14 000 (proteção ambiental) apresentam normas que estão se incorporando à cultura daquelas empresas que, de alguma maneira, interferem no meio ambiente. A Rio-92 foi complementada pelo Fórum Global 92 e pela elaboração do documento Agenda 21, debatendo sobre a busca de soluções globais para o desenvolvimento sustentável e definindo diferentes responsabilidades (BRAUN, 2005). A partir de 1992, os debates ocorridos na Rio-92 e os resultados da Agenda 21 vem sendo periodicamente reavaliados a cada cinco anos, aproximadamente. Em 1997, em Nova York, aconteceu o evento Rio+5,sendo que neste mesmo ano foi assinado o Protocolo de Kioto, no Japão, segundo o qual os países signatários concordaram em reduzir a emissão de gases de efeito estufa até 2012. Em 2002, em Johanesburgo, ocorreu o encontro Rio+10. Já em 2012, ocorreu uma nova conferência denominada Rio+20, também sediada no Rio de Janeiro, da qual resultou um documento final que reafirma as decisões da Rio-92. Nas análises realizadas na Rio+20, reconhece-se que pouco se avançou em relação às questões da sustentabilidade no intervalo de tempo entre a ocorrência das duas conferências. Conforme o exposto, o conceito de sustentabilidade vem se modificando ao longo desse tempo, tendo em vista acrescentar aos debates questões sociais, econômicas e políticas. 2.2 Desenvolvimento Sustentável: estágio atual Num levantamento realizado por Willians e Millington (2004), foram identificados cerca de oitenta diferentes, e por vezes contraditórias, abordagens desse conceito, sendo que na 24 maioria deles o termo desenvolvimento estava sendo utilizado como sinônimo de crescimento econômico. Em função dessa perspectiva de desenvolvimento atrelado ao crescimento econômico, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) propôs o conceito de Desenvolvimento Humano Sustentável (DHS) Assim, além do crescimento econômico, enfatiza-se a erradicação da pobreza, a promoção da equidade e inclusão social, da igualdade de gênero e étnica, a sustentabilidade ambiental, a participação política e os direitos humanos. E, para a sua mensuração, foram criados alguns índices, tais como: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o IDH Municipal (IDHM), o Índice de Pobreza Humana (IPH), o Índice de Desenvolvimento Humano ajustado por Gênero (IDG) e a Medida de Empoderamento de Gênero (MEG). Essas concepções de desenvolvimento sustentável ocorreram no bojo da revolução técnico-científica que influenciou o cenário político e econômico internacional do final do século XX e se acentua no início do século XXI. Esse contexto, conforme Custódio (2004, p. 57), coloca ... resgatando idéias importantes para a humanidade. Segundo esse conceito, o ser humano é a razão de ser do desenvolvimento, e no ser humano devem estar centrados tanto o processo quanto os resultados inerentes ao desenvolvimento (OLIVEIRA, 2005, p.2). à disposição do homem saberes e recursos nunca antes imaginados, a questão ambiental emerge como nova ordem social e política. Aos debates sobre os limites do crescimento com os quais a questão se coloca em todos os relevantes encontros para a discussão da temática ambiental (Estocolmo/72, ECO/92, Johanesburgo/02) impõem-se, hoje, discussões relativas à superação desses limites por meio de tecnologias alternativas movidas pela busca da adequação entre potencial de recursos e produção social. 25 Numa análise do conceito de desenvolvimento sustentável, Dias (2003, p. 48), o apresenta de forma mais ampla: Avaliando-se esses diversos eventos e as fases relativas às questões ambientais, verifica-se que tanto no Brasil, como em boa parte dos demais países, muito se fala em meio ambiente, há muitos projetos, muitas propostas, mas poucas ações efetivas, existindo, pois uma grande distância entre a possibilidade de interferência técnica e a vontade política de viabilizar as ações necessárias. Tal situação, mais do que uma incapacidade é, em essência, uma característica do modelo econômico vigente, principalmente nos países em desenvolvimento e dependentes, nos quais se considera a degradação ambiental como necessária ao desenvolvimento. Considerar a evolução das ações visando o desenvolvimento sustentável e os desafios que esse processo envolve é de fundamental importância para pensar a Gestão Ambiental, cujas características e peculiaridades serão apresentadas na próxima unidade. Embora seja um conceito amplamente utilizado, não existe uma visão única do que seja o desenvolvimento sustentável. Para alguns, alcançar o desenvolvimento sustentável é obter o crescimento econômico contínuo por meio de manejo mais racional dos recursos naturais e a utilização de tecnologias mais eficientes e menos poluentes. Para outros, o desenvolvimento sustentável é antes de tudo um projeto social e político destinado a erradicar a pobreza, elevar a qualidade de vida e satisfazer às necessidades básicas da humanidade que oferece os princípios e orientações para o desenvolvimento harmônico da sociedade, considerando a apropriação e a transformação sustentável dos recursos ambientais. 26 EXERCÍCIOS Todos os exercícios estão disponíveis na página da disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem em http://ead.utp.edu.br, para respondê-los é necessário fazer login. 27 REFERÊNCIAS BACKES; M. T. S. et al. Noções de natureza e derivações para a saúde: uma incursão na literatura. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2010. Bertrand Brasil, 2011. BRAUN, R. Novos paradigmas ambientais. Desenvolvimento ao Ponto Sustentável. Petrópolis: Vozes, 2005. CAMARGO, A. L. de B,l. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. Campinas: Papirus, 2003. CUSTÓDIO, D. V. 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The Geographical Journal. 2004. 30 Disciplina de GESTÃO SUSTENTÁVEL Coordenadoria de Educação a Distância Coordenação MarleiGomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Editoração Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior
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