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Interação de fragmentos florestais com agroecossistemas adjacentes de café e pastagem respostas das comunidades de formigas Hymenoptera, Formicidae

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Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(1):136-142, 30 de março de 2008
DIAS et al.
Interação de fragmentos florestais com agroecossistemas adjacentes
de café e pastagem: respostas das comunidades de formigas
(Hymenoptera, Formicidae)
Nívia S. Dias1, Ronald Zanetti2, Mônica S. Santos1, Júlio Louzada3 & Jacques Delabie4
1. Departamento de Entomologia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”-ESALQ/USP, Av. Pádua Dias, 11, Caixa Postal 9,
13418-900 Piracicaba, SP, Brasil. (nivia@esalq.usp.br, mssantos@esalq.usp.br)
2. Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Lavras/UFLA, Caixa Postal 37, 37200-000 Lavras, MG, Brasil. (zanetti@ufla.br)
3. Departamento de Ecologia, Universidade Federal de Lavras/UFLA, 37200-000 Lavras, MG, Brasil. (jlouzada@ufla.br)
4. Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, Centro de Pesquisa do Cacau. Laboratório de Mirmecologia, Rod. Ilhéus/Itabuna,
Km 22, 45600-000 Itabuna, BA, Brasil. (delabie@cepec.gov.br)
ABSTRACT. Interaction between forest fragments and adjacent coffee and pasture agroecosystems: responses of the ant
communities (Hymenoptera, Formicidae). The responses of the ant community to environmental change, from forest fragment to
agroecosystems (coffee or pasture) were evaluated in the south of the state of Minas Gerais, Brazil. In this paper we analized the
interactions between forest and the two most typical agroecosystem from southest Brazil: sun-growing coffee plantation and introduced
pasture. We sampled the ant community from five of each agroecosystems, inside the adjacent forest fragment, and on the edge between
them. In each site we removed the litter from fifteen 1m2 plots and extracted the ants using a Winkler extractor. A total of 165 ant
species, distributed in 48 genera and 10 subfamilies were recorded. The coffee plantation presented the lowest abundance and estimated
species richness. The causes of the changes observed among the areas are discussed.
KEYWORDS. Formicidae, agroecosystem, diversity, coffee systems.
RESUMO. As respostas das comunidades de formigas às mudanças ambientais de fragmentos florestais para agroecossistemas (café ou
pastagem) foram avaliadas na região sul do Estado de Minas Gerais, Brasil. Neste trabalho, avaliaram-se as interações entre fragmentos
florestais e os dois agroecossistemas mais típicos do sudeste do Brasil: monocultivo de café a pleno sol e pastagem introduzida. A
comunidade de formigas foi amostrada em cinco áreas de cada agroecossistema, dentro de fragmentos florestais adjacentes a estes e nas
bordas entre os dois sistemas. Em cada área, foram retiradas 15 amostras de 1m2 de serapilheira, das quais foram extraídas as formigas,
utilizando-se o extrator de Winkler. Registrou-se um total de 165 espécies de formigas distribuídas em 48 gêneros e 10 subfamílias. O
cafezal apresentou o menor número de espécies observado e menor riqueza estimada. As razões das variações observadas entre as áreas são
discutidas.
PALAVRAS-CHAVE. Formicidae, agroecossistema, diversidade, cafezal.
As paisagens das regiões sudeste e sul do Brasil
apresentam-se atualmente, em sua maioria, como
mosaicos de agroecossistemas e áreas de vegetação
nativa em diferentes estágios de conservação, formas e
tamanhos. A conservação da biodiversidade em uma
vasta área do Brasil atualmente é dependente de como
essa matriz de ecossistemas interage com a ecologia das
espécies, permitindo ou não sua persistência em longo
prazo.
A fragmentação de hábitats nativos resulta
certamente na perda de hábitats naturais importantes para
a conservação da biodiversidade. Entretanto, a ocupação
da paisagem por agroecossistemas não a transforma
necessariamente em um ambiente completamente inóspito
a todas as espécies nativas. Os agroecossistemas podem
ser posicionados em um gradiente de distúrbio do mais
agressivo ao mais brando (ALTIERI, 1994). Na região
sudeste brasileira, os agroecossistemas de café e de
pastagens introduzidas têm grande importância
econômica e cultural, ocupando vastas áreas do território.
A interação entre esses agroecossistemas e os
fragmentos de vegetação nativa ainda é pouco conhecida
para a região. Por exemplo, para vários países produtores
de café, tem sido observado um efeito negativo da
intensificação do processo produtivo sobre a
biodiversidade (PERFECTO et al., 1997; MOGUEL &
TOLEDO, 1999).
As formigas são um grupo de insetos com papel
importante na manutenção e restauração do solo (LOBRY-
DE-BRUYN, 1999), participando da ciclagem de nutrientes
(COUTINHO, 1979; WEBER, 1982) e na sucessão vegetal
(VASCONCELOS & CHERRETT, 1998). Esses himenópteros
têm sido utilizados também como ferramentas de
bioindicação para avaliar e monitorar várias situações
ambientais distintas (MAJER, 1992, 1996; MAJER et al., 1997;
MAJER & DELABIE, 1999; VASCONCELOS, 1999; TEIXEIRA et
al., 2005), por apresentarem ampla distribuição geográfica
e abundância local, alta riqueza de espécies e por serem
mais facilmente amostrados e identificados que outros
organismos (ALONSO & AGOSTI, 2000).
Apesar da grande importância ecológica e da
potencialidade como bioindicadores de qualidade
ambiental, ainda são escassos estudos que avaliem o
impacto de diferentes estratégias de ocupação agrícola
do território sobre a mirmecofauna no Estado de Minas
Gerais. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo
principal comparar o impacto de diferentes
agroecossistemas sobre a riqueza de espécies de formigas.
Utilizamos como estratégia a comparação desses com
áreas de florestas adjacentes a áreas de cultivo.
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Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(1):136-142, 30 de março de 2008
Interação de fragmentos florestais com agroecossistemas de café...
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em áreas de cultivo de
cafeeiro e de pastagens margeadas por fragmentos de
Floresta Estacional Semidecidual Montana, pertencente
ao domínio da Mata Atlântica sensu lato (VELOSO et al.,
1991; IBGE, 1993). As áreas experimentais estão localizadas
nos municípios de Lavras, Ijaci e Perdões, sul de Minas
Gerais (21º00’-21º19’S; 44º00’-45º07’W).
As coletas foram realizadas entre os meses de junho
a dezembro de 2003. Foram amostrados quatro ambientes
distintos: (I) cinco áreas de cafezais formadas a partir de
um cultivar de porte baixo (“Catuaí”). Este ambiente é
caracterizado pela homogeneidade estrutural da
vegetação e pobreza em espécies vegetais. O solo estava
parcialmente coberto por serapilheira resultante de capina
manual que ocorre regularmente no período de março e
maio para facilitar a colheita; (II) cinco áreas de pastagem,
formada com Brachiaria decumbens (Poaceae) e invadida
por diversas plantas controladas anualmente através de
capina mecânica; (III) dez fragmentos de floresta
adjacentes aos agroecossistemas citados (cinco áreas
adjacentes a café e cinco áreas adjacentes a pastagem).
Essas áreas são remanescentes de floresta estacional
semidecidual, que aparentemente apresentam o mesmo
grau de conservação; (IV) dez áreas de borda entre a
floresta e os agroecossistemas citados (cinco bordas
floresta-café e cinco bordas floresta-pastagem). Em cada
área, foram retiradas 15 amostras de 1m2 de serapilheira, a
intervalos mínimos de 50m. A amostragem sempre se
iniciou a 50m de distância da zona de contato entre o
fragmento florestal e o agroecossistema. Nas áreas de
pastagem, onde a serapilheira é mais escassa e difícil de
retirar, a coleta das amostras foi feita através de capina
manual das amostras de 1m2,
 
com auxílio de uma enxada.
Cada amostra foi peneirada e posteriormente colocada
no extrator de Winkler por 72 horas (BESTELMEYER et al.,
2000) para a separação das formigas.
Os indivíduos coletados foram identificados por
comparação com a coleção de referência do Laboratório
de Mirmecologia do CEPEC/CEPLAC (Centro de
Pesquisas do Cacau/Comissão Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira) em Ilhéus, Bahia. Exemplares de todas
as espécies identificadas foram depositadas no CEPEC/
CEPAC e no Laboratório de Entomologia Florestal daUniversidade Federal de Louros (UFLA).
Para cada área, foi obtida inicialmente a freqüência
de cada espécie, para a qual dividiu-se o número de
amostras em que a espécie foi encontrada pelo número
total de amostras coletadas na área (n=15). A freqüência
da espécie no sistema foi calculada como a média das
freqüências obtidas nas suas respectivas áreas. Não foi
utilizado o número de indivíduos como medida da
abundância da espécie na área, pois esta medida é muito
influenciada pelos padrões de nidificação e estratégias
de forrageamento das espécies de formigas (AGOSTI &
ALONSO, 2000).
Após elaboração de matrizes de dados de presença
e ausência das espécies nos 15 pontos amostrais de cada
área, calculou-se a riqueza esperada obtida a partir do
estimador de Chao2 e o índice de diversidade de
Shannon-Weaver (H’) com auxílio do programa EstimateS,
versão 6.0.b1 (COLWELL, 2000). Para comparar os valores
dos índices entre as diferentes áreas, foi feita análise
não-paramétrica de Kruskal-Wallis (p< 0,05) (SOKAL &
ROHLF, 1969). Comparou-se a similaridade entre as
comunidades de formigas dos sistemas através do índice
de Jaccard.
RESULTADOS
Foram registradas 165 espécies de formigas,
distribuídas em 48 gêneros e 10 subfamílias de ocorrência
na região Neotropical. Myrmicinae foi a subfamília mais
freqüente e com maior número de espécies em todas as
áreas amostradas, seguida por Ponerinae e Formicinae
(Tab. I).
Os ambientes que apresentaram maior número de
espécies observadas, em ordem decrescente foram:
florestas, bordas e pastagem. O cafezal foi o ambiente
que apresentou o menor número de espécies observado
(Tab. II). Os gêneros Solenopsis Westwood, 1840 (dez
espécies) e Pheidole Westwood, 1839 (seis espécies)
foram os mais freqüentes nessas áreas. O estimador de
riqueza Chao 2 determinado para cada ambiente não
diferiu significativamente entre as áreas de floresta, borda
e pastagem. No entanto, observou-se que o cafezal
apresentou menor riqueza estimada, diferindo das demais
áreas (Kruskal-Wallis, h=10,853; p>0,05) (Tab. II),
apontando uma estrutura de comunidade mais
simplificada. Quanto ao índice de diversidade (H’) de
formigas nas diferentes áreas, não foram observadas
diferenças significativas (Tab. II).
Pela análise de agrupamento, obtiveram-se três
agrupamentos principais (Fig. 1). O primeiro inclui os
habitats de floresta, com uma fauna típica que não é
influenciada pelo tipo de cultivo das proximidades. O
segundo agrupamento está formado pelos ambientes de
bordas, apresentando uma fauna influenciada pela
vegetação de floresta e do ecossistema adjacente. O
terceiro agrupamento está composto das áreas de
monocultura.
Fig. 1. Dendograma de similaridade comparando os sistemas de uso
da terra: pastagem (AP), cafezal (AC), bordas entre a pastagem
(BP) e cafezal (BC), fragmento florestal adjacente a pastagem
(FP) e cafezal (FC). Região Sul de Minas Gerais, junho a dezembro
de 2003.
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Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(1):136-142, 30 de março de 2008
DIAS et al.
Tabela I. Freqüência média de espécies de formigas em áreas de fragmento florestal adjacente a cafezal (FC) e pastagem (FP), bordas entre
o cafezal (BC) e pastagem (BP) e agroecossistema de café (AC) e pastagem (AP). Em cada ambiente foram amostradas cinco áreas, com
15 amostras por área. Região Sul de Minas Gerais, junho a dezembro de 2003.
 Ambientes amostrados
Subfamília/espécie FC BC AC FP BP A P
CERAPACHYINAE
Cerapachys aff. toltecum 0 0,01 0 0,03 0 0
FORMICINAE
Acropyga decedens (Mayr, 1887) 0 0 0 0 0,01 0,07
Brachymyrmex sp. 1 0,39 0,21 0,12 0,37 0,19 0,13
Brachymyrmex sp. 2 0,27 0,05 0,11 0,23 0,12 0,12
Brachymyrmex sp. 3 0,01 0,05 0,12 0,03 0,08 0,11
Brachymyrmex sp. 5 0,01 0,04 0,07 0,07 0,03 0,03
Brachymyrmex sp. 6 0,03 0 0,03 0,04 0,01 0,04
Camponotus cingulatus (Mayr, 1862) 0,03 0,04 0 0,03 0,03 0
Camponotus crassus Mayr, 1870 0,01 0,04 0 0,05 0,05 0,04
Camponotus (Myrmobrachys) sp. 1 0,04 0 0 0,01 0 0
Camponotus (Myrmobrachys) sp. 2 0,01 0 0 0 0 0
Camponotus rufipes (Fabricius, 1775) 0,01 0,03 0 0 0,01 0,12
Camponotus melanoticus Emery, 1894 0 0 0 0 0,04 0,01
Camponotus (Tanaemyrmex) sp. 1 0,03 0,01 0 0,01 0,03 0
Camponotus trapezoideus Mayr, 1870 0,03 0 0 0 0 0
Camponotus (Myrmaphaenus) sp. 3 0,01 0 0 0 0 0,01
DOLICHODERINAE
Linepithema humile (Mayr, 1866) 0 0,07 0,01 0 0,08 0,05
Linepithema sp. 1 0,09 0,12 0,01 0,17 0,05 0
Linepithema sp. 3 0 0 0 0 0 0,05
Linepithema sp. 5 0 0,01 0 0 0 0
Tapinoma sp. 1 0,01 0,01 0 0 0 0
Forelius sp. 1 0 0 0 0 0 0,04
ECITONINAE
Neivamyrmex sp. 1 0 0,01 0 0 0 0,01
Neivamyrmex sp. 2 0 0 0,01 0 0 0
Neivamyrmex sp. 4 0 0 0 0 0 0,01
Neivamyrmex sp. 5 0 0 0 0 0 0,04
Labidus sp. 1 0 0 0 0,01 0,03 0,07
Paratrechina sp. 1 0,05 0,01 0 0,09 0 0,07
MYRMICINAE
Acromyrmex niger (Fr. Smith,1858) 0,03 0,01 0 0 0,01 0
Apterostigma acre Lattke, 1997 0 0 0 0,01 0 0
Apterostigma manni (Weber, 1938) 0,05 0,07 0 0,21 0,04 0
Apterostigma tropicoxa Lattke, 1997 0,07 0,03 0 0,17 0,05 0
Apterostigma aff. robustum 0,01 0 0 0 0 0
Apterostigma sp. 10 0,01 0 0 0 0 0
Apterostigma sp. 5 0 0 0,01 0 0 0
Apterostigma aff. tholiforme 0,01 0 0 0 0 0
Apterostigma aff. bolivianum 0 0 0 0,01 0 0
Apterostigma sp. 2 gp. auriculatum 0 0 0 0 0,03 0,04
Apterostigma sp. 1 gp. auriculatum 0 0 0 0,03 0 0
Apterostigma bolivianum (Weber, 1938) 0 0 0 0,01 0 0
Atta sexdens rubropilosa (Forel, 1908) 0,05 0,03 0 0,03 0 0
Basiceros disciger (Mayr, 1887) 0,04 0,01 0 0,04 0 0
Cardiocondyla wroughtonii (Forel, 1890) 0 0 0,01 0 0 0,01
Cephalotes minutus (Fabricius, 1804) 0,01 0,01 0 0,03 0 0
Crematogaster (Orthocrema) sp. 1 0,04 0,01 0 0,07 0,03 0
Crematogaster (Orthocrema) sp. 2 0 0 0,01 0 0,07 0,07
Crematogaster (Orthocrema) sp. 3 0,01 0,03 0,01 0 0 0
Crematogaster (Orthocrema) sp. 4 0,08 0,03 0 0,01 0,03 0
Crematogaster (Orthocrema) sp. 5 0,04 0 0 0 0,01 0
Crematogaster (Orthocrema) sp. 6 0 0,01 0 0,01 0 0
Crematogaster (Orthocrema) sp. 8 0,01 0 0 0 0 0
Cyphomyrmex peltatus Kempf, 1965 0,04 0 0 0,01 0 0
Cyphomyrmex salvini (Forel, 1899) 0,25 0,13 0,08 0,19 0,19 0,11
Cyphomyrmex strigatus (Mayr, 1887) 0 0,01 0 0,07 0 0
Cyphomyrmex transversus Emery, 1894 0,11 0,05 0 0,24 0,01 0,01
Cyphomyrmex vorticis Weber, 1940 0,03 0 0 0,01 0,01 0
Cyphomyrmex sp. 2 gp. strigatus 0,03 0,01 0 0,07 0 0
Cyphomyrmex sp. 7 aff. vorticis 0 0 0 0,01 0,01 0
Eurhopalothrix sp. 0 0 0 0,01 0 0
Hylomyrma reitteri (Mayr, 1887) 0,13 0,12 0 0,29 0,04 0,01
Hylomyrma balzani (Emery, 1894) 0,11 0,04 0 0,12 0,11 0
Megalomyrmex ayri Brandão, 1990 0,01 0,01 0 0,04 0,03 0
Megalomyrmex sp. gp. modestus 0,03 0 0 0,05 0 0
Megalomyrmex sp. gp. silvestrii 0 0,01 0 0,04 0,01 0
Megalomyrmex sp. 4 0 0 0 0,01 0 0
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Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(1):136-142, 30 de março de 2008
Interação de fragmentos florestais com agroecossistemas de café...
Tabela I. (cont.)
Mycetarotes sp. 1 0,01 0,01 0 0,05 0 0
Mycetarotes sp. 2 0 0 0 0 0 0
Mycocepurus goeldii Forel, 1893 0,07 0,04 0,07 0,01 0,09 0,21
Mycocepurus smithi Forel, 1893 0 0 0,03 0 0,04 0,04
Myrmicocrypta sp. 3 0 0 0 0,03 0 0
Myrmelachista sp. 1 0,05 0 0 0,04 0 0
Octostruma jheringhi (Emery, 1887) 0 0 0 0,03 0 0
Octostruma balzani (Emery, 1894) 0,07 0 0 0,01 0,01 0
Oxyepoecus bruchi Santschi, 1926 0,05 0,01 0 0 0 0
Pheidole diligens (Fr. Smith, 1858) 0,01 0 0 0,01 0 0
Pheidole gertrudae Forel 1886 0,03 0,09 0,1 0,01 0,17 0,37
Pheidole sp. 1 0,01 0 0 0,16 0,03 0,04
Pheidole sp. 2 0,12 0,05 0,01 0,19 0,07 0,03
Pheidole sp. 3 0,21 0,05 0 0,12 0,03 0
Pheidole sp. 4 0,01 0,01 0 0 0 0
Pheidole sp. 5 0,24 0,08 0 0,31 0,11 0
Pheidole sp. 6 0,04 0,01 0 0,01 0,03 0
Pheidole sp. 7 0 0,03 0 0 0,07 0,05
Pheidole sp. 8 0 0 0 0,01 0,04 0
Pheidole sp. 9 0,03 0 0,04 0 0 0,01
Pheidole sp. 11 0 0 0 0,01 0 0,03
Pheidole sp. 12 0,07 0 0 0,01 0 0
Pheidole sp. 13 0,03 0 0,01 0,08 0,03 0,09
Pheidole sp. 15 0,01 0,01 0 0,01 0,03 0
Pheidole sp. 16 0 0 0 0,03 0 0
Pheidole sp. 17 0,01 0 0 0 0 0
Pheidole sp. 18 0 0 0 0 0 0,01
Pheidole sp. 19 0 0 0 0 0 0,03
Pheidole sp. 21 0 0 0 0,01 0 0
Pheidole sp. 22 0 0 0,01 0 0 0
Pheidole sp.24 0 0 0 0 0,01 0
Pheidole sp. 25 0 0 0 0 0 0,01
Procryptocerus sp. 1 0,01 0 0 0 0 0
Procryptocerus sp. 2 0 0 0 0 0,01 0
Pyramica denticulata (Mayr, 1887) 0,45 0,17 0,08 0,67 0,17 0,05
Pyramica eggersi (Emery, 1890) 0,04 0,07 0,01 0,13 0,37 0,61
Pyramica sp. 5 0,07 0 0 0,13 0,04 0
Pyramica aff. zetecki 0,11 0,01 0 0,13 0,03 0
Pyramica aff. appretiata 0,07 0,01 0 0,04 0 0
Pyramica aff. excisa 0 0 0 0,03 0,01 0
Rogeria besucheti Kugler, 1994 0 0 0 0 0,15 0,25
Rhopalothrix sp. 1 0,01 0 0 0,01 0 0
Solenopsis sp. 1 0,21 0,19 0,23 0,28 0,16 0,32
Solenopsis sp. 2 0,11 0,09 0,12 0,09 0,08 0,09
Solenopsis sp. 3 0,64 0,12 0,24 0,41 0,25 0,19
Solenopsis sp. 4 0,17 0,05 0,07 0,16 0,11 0,21
Solenopsis sp. 5 0,04 0,17 0,15 0,01 0,08 0,13
Solenopsis sp. 6 0,09 0,07 0,11 0,08 0,08 0,03
Solenopsis sp. 7 0,04 0,01 0 0 0 0,01
Solenopsis sp. 8 0,12 0,03 0,03 0,09 0,08 0,01
Solenopsis sp. 9 0,08 0 0,15 0,12 0 0,03
Solenopsis sp. 10 0,11 0,07 0,03 0,20 0,05 0,01
Solenopsis saevissima (Fr. Smith, 1855) 0 0,11 0,27 0 0,08 0,12
Strumigenys louisianae Roger, 1863 0,11 0,04 0 0,03 0 0,08
Strumigenys sp. 1 0 0 0 0,07 0 0,01
Strumigenys sp. 4 0 0 0 0 0 0
Strumigenys perpava Brown, 1957 0 0,03 0,03 0,01 0 0
Trachymyrmex sp. 1 0,07 0,04 0 0,11 0,01 0,03
Trachymyrmex fuscus Emery, 1894 0 0 0 0 0,03 0
Wasmannia auropunctata (Roger, 1863) 0,04 0,03 0 0 0,01 0,05
Wasmannia sp. 1 0,03 0 0 0 0 0
Wasmannia sp. 2 0,04 0 0 0 0,03 0
Wasmannia sp. 3 0,01 0 0 0 0,01 0
Wasmannia sp. 4 0,08 0,01 0 0,05 0,01 0
Wasmannia sp. 5 0,19 0,05 0 0,20 0,03 0,01
AMBLYOPONINAE
Amblyopone sp.1 0,01 0 0 0 0 0
ECTATOMMINAE
Ectatomma edentatum Roger, 1863 0,15 0,09 0,03 0,17 0,09 0,04
Ectatomma brunneum Fr. Smith, 1858 0 0 0,01 0 0,03 0,01
Ectatomma permagnum Forel, 1908 0 0 0 0 0,01 0,01
Gnamptogenys mediatrix Brown, 1958 0 0 0 0,01 0 0
Gnamptogenys striatula Mayr, 1883 0,09 0,19 0,01 0,57 0,31 0,09
Gnamptogenys sp. 2 0 0 0 0,01 0 0
Gnamptogenys sp. 3 0 0 0 0,01 0 0
140
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(1):136-142, 30 de março de 2008
DIAS et al.
DISCUSSÃO
A baixa diversidade de formigas encontrada nos
agroecossistemas quando comparada aos fragmentos de
floresta e áreas de borda era esperada, pois os sistemas
agrícolas possuem menor diversidade estrutural do que
as áreas de floresta adjacentes. O número de espécies
encontradas na pastagem foi significativamente maior do
que no cafezal, apesar deste apresentar estrutura
arbustiva, o que ao menos em teoria o aproxima mais da
floresta.
A dominância de espécies de Solenopsis nas áreas
de cafezal ocorre provavelmente porque muitas espécies
deste gênero são amplamente distribuídas, generalistas
de hábitat e de dieta (GONÇALVES & NUNES, 1984; FOWLER
et al., 1991). Além disso, estão entre as mais agressivas
na utilização dos recursos no nível da serapilheira, sendo
particularmente freqüentes em ambientes agrícolas ou
mesmo nativos (DELABIE & FOWLER, 1995).
O impacto negativo do cultivo de café sobre a
biodiversidade de formigas fica evidente quando se
observa a completa ausência de espécies dos gêneros
Camponotus Mayr, 1861 e Wasmannia Roger, 1863 neste
agroecossistema. Estes gêneros apresentam alta
capacidade de invasão e adaptação a novos locais
(FOWLER et al., 1991; ERRARD et al., 2005) e mesmo assim
não conseguem colonizar áreas sob este regime de uso
do solo.
Entre as hipóteses possíveis para explicar o impacto
negativo da cultura do café sobre as comunidades de
formigas, estão: (a) a aplicação de defensivos no controle
de pragas, doenças e ervas daninhas; (b) a prática de
retirada da serapilheira abaixo dos arbustos de café
(arruação), o que possivelmente diminui a quantidade e
qualidade dos recursos disponíveis; (c) a exposição das
espécies à maior amplitude térmica e à perturbação
mecânica. PERFECTO & VANDERMEER (1996), em estudos
realizados em agroecossistemas de café, concluíram que
a falta de sombreamento no agroecossistema cafeeiro é
um fator determinante da diversidade de formigas em razão
da alta incidência luminosa e ausência de serapilheira.
Por outro lado, o agroecossistema de pastagem
apresentou números elevados de riqueza de espécies.
Apesar de ser um ambiente aberto, com grande exposição
solar, o manejo desse sistema de produção agrícola não
usa inseticidas ou herbicidas com freqüência e os
distúrbios gerados pela remoção de invasoras, ou
eventual queimada, são ocasionais.
Tabela I. (cont.)
Gnamptogenys sp. 7 0,01 0,01 0 0 0,01 0,03
Gnamptogenys regularis Mayr, 1870 0 0 0 0 0,05 0,01
Gnamptogenys gracilis (Santschi, 1929) 0 0 0 0 0 0,01
Gnamptogenys moelleri (Forel, 1912) 0 0 0 0 0 0,01
HETEROPONERINAE
Heteroponera flava (Kempf, 1962) 0,01 0 0 0 0 0
PONERINAE
Anochetus targionii Emery, 1894 0 0 0 0 0 0,01
Anochetus neglectus Emery, 1894 0 0 0 0 0 0,01
Discothyrea sexarticulata (Borgmeier, 1954) 0 0 0 0,04 0 0
Hypoponera sp. 1 0,15 0,08 0,04 0,19 0,08 0,20
Hypoponera sp. 2 0,25 0,25 0,21 0,43 0,32 0,13
Hypoponera sp. 3 0,07 0,01 0 0,09 0,01 0,03
Hypoponera foreli Mayr, 1887 0,13 0,07 0 0,29 0,12 0,01
Hypoponera sp. 6 0,04 0,04 0,01 0,01 0,03 0,03
Hypoponera sp. 7 0,16 0,08 0,03 0,12 0,07 0,07
Hypoponera sp. 8 0,11 0,08 0 0,11 0,01 0
Leptogenys sp. 2 0,01 0 0 0 0 0
Odontomachus meinerti Forel, 1905 0,20 0,11 0 0,33 0,09 0,04
Odontomachus chelifer (Latreille, 1802) 0 0 0 0,03 0,03 0
Pachycondyla ferruginea (Fr. Smith, 1858) 0,01 0,01 0 0 0 0
Pachycondyla harpax (Fabricius, 1804) 0,01 0 0 0,03 0,01 0
Pachycondyla striata Fr. Smith, 1858 0,05 0,01 0 0,09 0,03 0,01
Pachycondyla obscunicornis (Emery, 1890) 0 0 0 0 0,01 0,03
Simopelta sp. 1 0 0 0 0 0 0,01
Simopelta curvata (Mayr, 1887) 0 0 0 0 0,01 0
PSEUDOMYRMECINAE
Pseudomyrmex sp. 1 gp. pallidus 0 0 0 0 0,03 0
Pseudomyrmex sp. 2 gp. pallidus 0 0 0,01 0 0 0
Pseudomyrmex sp. 3 gp. pallidus 0,01 0 0 0 0 0
Tabela II. Valores médios do estimador de riqueza de Chao2, riqueza observada e índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) por
ambiente. Região Sul de Minas Gerais, junho a dezembro de 2003. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si
(Kruskal-Wallis; p>0,05).
Ambientes Chao2 Riqueza observada H’
Floresta adjacente a pastagem 71,1a 47,6a 3,6a
Pastagem 63,8a 35,4b 3,6a
Floresta adjacente a cafezal 63,4a 46,8a 3,4a
Borda do cafezal 56,8a 33,4b 3,3a
Borda da pastagem 51,0a 38,6b 3,3a
Cafezal 26,6b 19,0c 2,7a
141
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(1):136-142, 30 de março de 2008
Interação de fragmentos florestais com agroecossistemas de café...
Nossos resultados estão provavelmente
relacionados aos diferentes tipos de manejo dos
agroecossistemas estudados, indicando que diferentes
espécies de formigas respondem ao tipo de manejo de
maneira diversa e que o resultado final é a redução da
riqueza onde as regras de manejo geram distúrbios em
maior freqüência e intensidade. Isto corrobora os
resultados de RAMOS et al. (2003) sobre as comunidades
de formigas em áreas de vegetação nativa e eucaliptais
sob diferentes tipos de manejo.
Outro aspecto relevante para a interpretação dos
resultados obtidos é que a matriz natural da região
apresenta grande presença de ecossistemas herbáceos,
principalmente campos limpos e rupestres (GAVILANES &
BRANDÃO, 1991). Este fato pode explicar a diversidade
relativamente alta observada nas áreas de pastagem.
Provavelmente a comunidade de espécies dos campos
nativos encontra pouca ou nenhuma diferença desse
sistema com pastagens introduzidas, o que favorece a
colonização e estabelecimento nestas áreas.
A similaridade elevada entre as comunidades de
formigas que habitam as áreas de cafezal e pastagem pode
estar refletindo a ocorrência de uma comunidade com
certo grau de generalismo que ocupa as áreas de
monocultura. Neste caso, o tipo de manejo teria pouca
influência na composição das espécies nos
agroecossistemas. Por outro lado, a dissimilaridade
observada entre esses habitats e as áreas de floresta, e
até mesmo a zona de contato entre eles, evidenciam a
diferença existente entre as comunidades de formigas que
habitam as monoculturas e as áreasremanescentes.
Desse modo, práticas agrícolas intensivas interfeririam
na composição das comunidades de formigas, e são
provavelmente responsáveis por certa homogeneização
da fauna dos agroecossistemas na região.
Embora a diversidade de espécies geralmente
diminua com a criação abrupta de uma borda (LOVEJOY et
al., 1986), é provável que as bordas tenham papel duplo
na composição de espécies nos ecossistemas adjacentes,
funcionando como uma “zona tampão”, evitando a
ruptura da composição das espécies e assim a perda de
diversidade no interior da floresta (MAJER et al., 1997).
Além disso, podem funcionar como uma zona de
transposição (fonte) de espécies da floresta adjacente
para o agroecossistema, proporcionando a manutenção
de inimigos naturais na cultura, que seria de suma
importância no controle biológico de pragas.
O presente estudo fornece evidências de que os
agroecossistemas mantêm a riqueza de espécies de
formigas, contudo provavelmente é influenciada pela
vizinhança de fragmentos florestais, que possuem maior
diversidade e formam zonas de transição bastante
características com esses ecossistemas. A qualidade e o
tipo de manejo adotado nas áreas de monocultura são
importantes para a manutenção e a preservação da
biodiversidade nestas áreas, tanto é que diferentes
agroecossistemas apresentam diferentes riquezas de
espécies. A preservação da qualidade dos agroecossistemas
deveria ser estimulada como parte de um programa de
conservação da biodiversidade, especialmente quando
esses estão inseridos em áreas que envolvem fragmentos
florestais.
Agradecimentos. À Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa-auxílio, ao
Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras
e à equipe do Laboratório de Mirmecologia da CEPEC/CEPLAC.
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