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Pratica Simulada II - DROGAS

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O debate sobre a descriminalização do uso pessoal da maconha é intrincado, abarcando diversas perspectivas jurídicas, éticas e sociais. A avaliação do caso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ilustra a meticulosa análise realizada. O voto do Ministro Alexandre de Moraes, que propõe critérios para diferenciar entre usuários e traficantes, vai além da quantidade de droga, abrangendo outros fatores relevantes. Essa abordagem encontra paralelos com a época da Beat Generation nos anos 1950, quando William S. Burroughs questionou a disparidade na criminalização das drogas. No contexto brasileiro, essa dinâmica alimenta o tráfico, resultando em violência nas periferias, inclusive incidentes trágicos como o de Ágatha Félix.
A compreensão do vício é multifacetada e intrinsecamente ligada ao ambiente. Pesquisas demonstram que a dependência está mais relacionada ao contexto do que à substância em si. O psicólogo Bruce Alexander evidenciou que ratos em ambientes enriquecidos não desenvolveram vícios como aqueles em gaiolas isoladas, destacando a importância de relacionamentos saudáveis na prevenção de dependências. Portugal, ao legalizar as drogas em 2000, optou por reintegrar dependentes à sociedade, reduzindo o consumo e a criminalidade, ressaltando a necessidade de ver os usuários como indivíduos necessitados de apoio, não como infratores.
A história comprova a ineficácia das proibições. Mudanças políticas conscientes são vitais para enfrentar os desafios das drogas, priorizando a inclusão social e laços saudáveis. A determinação de descriminalizar a maconha deve ser baseada em análise profunda dos impactos sociais, de saúde e legais, considerando como a legislação atual contribui para a discriminação e sobrecarga do sistema de justiça. Uma abordagem que busca distinguir usuários de traficantes, com base em critérios objetivos como quantidade e circunstâncias, promoveria uma aplicação justa e eficaz da lei, evitando injustiças e arbitrariedades.
No entanto, a discussão vai além. O artigo 28 da Lei de Drogas, embora não preveja pena privativa de liberdade, continua sendo considerado crime. A conduta não foi descriminalizada, mas apenas despenalizada, com a norma especial conferindo tratamento penal mais brando aos usuários de drogas. Além disso, a Lei 11.343/2006, que define os crimes relacionados ao tráfico ilícito de drogas, contempla diversas condutas que caracterizam o tráfico, incluindo entregar ou fornecer drogas, mesmo que seja gratuitamente. O artigo 34 da mesma lei, que pune a posse de equipamentos para fabricação de entorpecentes, está ligado ao narcotráfico e não deve ser aplicado contra quem possui utensílios para o cultivo de pequenas quantidades de droga para uso pessoal.
Em conclusão, a decisão sobre a descriminalização da maconha requer uma análise profunda, considerando as várias perspectivas e implicações. O voto do Ministro Moraes aponta para uma abordagem equitativa, enquanto o contexto histórico e exemplos como Portugal incentivam a adoção de abordagens que priorizem a inclusão social. A discussão sobre a maconha também interage com questões legais mais amplas, como a interpretação da legislação de drogas, exigindo uma análise cuidadosa para alcançar um equilíbrio entre os direitos individuais e o bem-estar coletivo.

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