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Psicanálise para Freud e Klein

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PSICANÁLISE PARA SIGMUND FREUD E 
MELANIE KLEIN 
 
PSICANÁLISE PARA SIGMUND FREUD E MELANIE KLEIN 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
PSICANÁLISE PARA SIGMUND FREUD E MELANIE KLEIN .................. 0 
PSICANÁLISE PARA SIGMUND FREUD E MELANIE KLEIN .................. 0 
NOSSA HISTÓRIA............................................................................................. 3 
Introdução............................................................................................................ 4 
Sigmund Freud ................................................................................................... 5 
Biografia ........................................................................................................... 5 
Contribuições de Sigmund Freud ................................................................ 6 
Alguns componentes específicos da psicanálise Freudiana................. 10 
Estrutura e dinâmica da personalidade .................................................... 11 
Os níveis da consciência ou modelo topológico da mente (1ª Tópica)
 ................................................................................................................................ 12 
Modelo estrutural da personalidade (2ª Tópica) ................................. 13 
Os mecanismos de defesa ..................................................................... 15 
As fases do desenvolvimento psicossexual......................................... 16 
A fase oral ................................................................................................. 17 
A fase anal................................................................................................. 18 
A fase fálica ............................................................................................... 19 
O período de latência .............................................................................. 21 
A fase genital ............................................................................................ 21 
Teoria do Trauma ......................................................................................... 22 
Teoria Topográfica ....................................................................................... 23 
Teoria Estrutural ........................................................................................... 24 
Conceituações sobre o Narcisismo ........................................................... 25 
file://///192.168.0.2/E$/PostagemNova/PSICOLOGIA/PSICANÁLISE,%20PSICOTERAPIA%20E%20PSICOPATOLOGIA%20DO%20ADOLESCENTE/PSICANÁLISE%20PARA%20SIGMUND%20FREUD%20E%20MELANIE%20KLEIN/PSICANÁLISE%20PARA%20SIGMUND%20FREUD%20E%20MELANIE%20KLEIN.docx%23_Toc56690877
file://///192.168.0.2/E$/PostagemNova/PSICOLOGIA/PSICANÁLISE,%20PSICOTERAPIA%20E%20PSICOPATOLOGIA%20DO%20ADOLESCENTE/PSICANÁLISE%20PARA%20SIGMUND%20FREUD%20E%20MELANIE%20KLEIN/PSICANÁLISE%20PARA%20SIGMUND%20FREUD%20E%20MELANIE%20KLEIN.docx%23_Toc56690878
 
 
 
 
2
 
2 
Dissociação do Ego ..................................................................................... 26 
Melanie Klein..................................................................................................... 27 
Biografia ......................................................................................................... 27 
Contribuições de Melanie Klein ................................................................. 30 
Alguns componentes específicos da psicanálise kleiniana................... 32 
1. Principais desenvolvimentos teóricos em Klein .............................. 32 
2. Características importantes e específicas da psicanálise kleiniana
 ................................................................................................................................ 33 
a) O setting psicanalítico ......................................................................... 33 
b) A interpretação ..................................................................................... 34 
c) O mundo interno .................................................................................. 35 
d) Transferência e contratransferência ................................................. 37 
e) Identificação projetiva e a função de continência do analista ...... 40 
A Escola dos Teóricos das Relações Objetais........................................ 43 
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 49 
 
 
 
 
 
 
 
3
 
3 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4
 
4 
Introdução 
 
 
O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método 
de investigação e a uma prática profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por 
um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida 
psíquica. Freud publicou uma extensa obra, durante toda a sua vida, relatando 
suas descobertas e formulando leis gerais sobre a estrutura e o funcionamento 
da psique humana. 
A Psicanálise, enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo 
método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto por 
meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os sonhos, os 
delírios, as associações livres, os atos falhos. 
A prática profissional refere-se à forma de tratamento — a Análise — que 
busca o autoconhecimento ou a cura, que ocorre através desse 
autoconhecimento. Atualmente, o exercício da Psicanálise ocorre de muitas 
outras formas. Ou seja, é usada como base para psicoterapias, aconselhamento, 
orientação; é aplicada no trabalho com grupos, instituições. A Psicanálise 
também é um instrumento importante para a análise e compreensão de 
fenômenos sociais relevantes: as novas formas de sofrimento psíquico, o 
 
 
 
 
5
 
5 
excesso de individualismo no mundo contemporâneo, a exacerbação da 
violência etc. 
 
Sigmund Freud 
 
Biografia 
 
 
Sigmund Schlomo Freud nasceu no dia 6 
de maio de 1856, na cidade de Freiberg, na 
Morávia (hoje Tchéquia), a 160 km de Viena, 
capital da Áustria. 
Os pais de Freud chamavam-se Jacob e 
Amália. Ele foi o primeiro dos oito filhos do casal. Seu pai era judeu e trabalhava 
como comerciante de lã. A família enfrentava dificuldades econômicas. 
Quando o futuro pai da psicanálise tinha quatro anos, sua família mudou-
se para Viena — à época berço de grandes produções nas áreas de cultura, arte, 
música, literatura e ciências. 
Desde criança, os pais de Freud dedicavam-lhe tratamento especial em 
relação aos irmãos. Sua mãe chamava-o de “meu Sig de ouro”. Ele sempre foi 
muito estudioso, tirava notas altas e estudavalínguas estrangeiras por conta 
própria. 
Autodidata, quando tinha 12 anos Freud já lia obras de William 
Shakespeare. Na adolescência, ele começou a escrever um diário dos seus 
sonhos. 
 
 
 
 
6
 
6 
Entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena em 1873. 
Depois de formar-se, em 1881, queria trabalhar com pesquisa, mas, para juntar 
dinheiro para o seu casamento, escolheu atender em um consultório situado na 
capital (hoje, o Museu Freud de Viena). 
Sigmund Freud com 29 anos de idade, em 1885. 
Aos 26 anos, Freud apaixonou-se por uma moça chamada Martha 
Bernays. Com dois meses de relacionamento, ficaram noivos. O médico casou-
se com ela aos 30 anos e, juntos, tiveram seis filhos. 
O médico austríaco era um homem reservado, tímido e discreto. Tinha 
fobia de viajar, era viciado em charutos e chegava a fumar de 20 a 25 desses 
por dia. Segundo ele, precisava fumar o charuto para manter-se criativo. 
Em 1923, Freud foi diagnosticado com câncer na mandíbula e na boca. 
Passou por várias cirurgias para retirar tumores. Tirou também parte da sua 
mandíbula e passou a usar uma prótese. Nos 16 anos seguintes, continuou 
sofrendo com a doença. 
Quando os nazistas chegaram à Áustria em 1938, Freud e sua família 
tiveram que fugir para Londres. No entanto, quatro das suas irmãs morreram, 
mais tarde, em campos de concentração. Na ocasião, alguns livros de Freud 
foram queimados. 
Sigmund Freud morreu em 23 de setembro 1939, na sua casa, em 
Londres, onde hoje funciona o Museu Freud de Londres. Relatos apontam que 
ele faleceu depois que seu médico aplicou-lhe três doses de morfina. 
 
Contribuições de Sigmund Freud 
 
Tornar consciente o inconsciente sempre foi e continua sendo um dos 
principais objetivos do tratamento psicanalítico. Essa fórmula, originária do 
 
 
 
 
7
 
7 
modelo topográfico da mente, foi reformulada como "onde estava o id, ali estará 
o ego", articulando a ideia de que preencher as lacunas mnêmicas seria o 
objetivo central dos tratamentos psicanalíticos. Freud também descreveu a 
capacidade adquirida ou aumentada do paciente de amar e trabalhar como um 
objetivo terapêutico. Embora Freud tenha escrito, ao longo da sua vasta obra, 
inúmeros textos relevantes para a presente revisão, esta se aterá ao texto de 
1937, "Análise terminável e interminável". 
Freud descreve a finalidade de um tratamento analítico como sendo a 
libertação de alguém de seus sintomas, inibições e anormalidades de caráter 
neurótico, ou seja, para ele, o analista trabalha para devolver ao paciente grande 
parte de sua independência, despertar seu interesse pela vida e ajustar suas 
relações com as pessoas que são importantes para ele. Outra conquista 
considerada por Freud acontece quando o paciente é capaz de se apropriar de 
sua melhora, vencendo as resistências que a doença revela quando está prestes 
a ser dominada. Afinal, costuma-se comentar e justificar imperfeiçoes nas 
pessoas com o argumento de que suas análises não foram terminadas. A 
respeito dos objetivos e marcadores de uma análise bem-sucedida, ele escreve: 
 
A partir desse argumento, pareceria que a tarefa seria da ordem do 
impossível e que, para se obter algum sucesso, ter-se-ia de empreender análises 
intermináveis ou demasiadamente longas. Nesse sentido, Freud pergunta-se: é 
possível que o tratamento analítico promova normalidade psíquica absoluta? E 
por acaso, isso existe? Assim, concluir que a alta ou o término do tratamento 
estejam ligados a alcançar os objetivos firmados no contrato - ou seja, 
 
 
 
 
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8 
transformar queixas e pedidos de ajuda em demanda para tratamento - parece 
razoável e esperado. 
Outro importante fator considerado na teoria freudiana para a análise de 
resultados terapêuticos se refere ao tipo de sofrimento do paciente, à estrutura 
psicopatológica e à etiologia da doença (endógena - pulsões resistentes; 
exógena - trauma). A única análise que poderia ser completamente terminada 
seria a que se dispõe a tratar fatores exógenos ou traumáticos, a qual substitui 
a resolução do trauma criadora de sintomas e inibições por outra mais adequada. 
O problema reside na ausência de um caráter profilático para tais tratamentos, 
pois a saúde do indivíduo dependeria em princípio de que sua vida fosse 
poupada de quaisquer acontecimentos penosos. 
Assim, questiona-se: seria objetivo de um tratamento psicanalítico livrar o 
paciente de qualquer moléstia emocional até o fim de sua vida? Acredita-se que, 
para um tratamento ser bem-sucedido, o paciente, após a alta, não pode 
adoecer, atrapalhar-se ou deprimir-se? Quando se fala em melhora ou cura 
como um objetivo terapêutico, pode ser útil tomar de empréstimo as experiências 
das outras modalidades de tratamento. Quando um pneumologista cura uma 
pneumonia, por exemplo, há alguma garantia de que essa doença não 
acometerá aquele paciente novamente? Seria coerente, então, falar de profilaxia 
psíquica? Ao separar a noção de cura das ideias de prevenção e estabilidade 
dos resultados, Freud dá um grande passo para conceituar o objetivo de um 
tratamento. 
O caráter preventivo e permanente que variadas pesquisas de follow-up 
buscam como indicador de um tratamento bem-sucedido, assim como a opinião 
geral da sociedade, segundo Freud, é o que pode acabar ofuscando o 
estabelecimento dos objetivos do tratamento. Se terapeuta e paciente estão 
lidando com forças pulsionais que devem ser amansadas, conteúdos 
inconscientes que devem emergir e inibições que devem ser vencidas, mas essa 
luta toda deve ocorrer à mercê das intempéries da vida, a ideia de profilaxia 
 
 
 
 
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9 
produz algo como um curto-circuito de conceitos. Quando o objetivo está 
associado a uma conquista permanente, não parece ser possível diferenciar 
fantasia de cura de objetivos terapêuticos. O objetivo da análise para Freud, em 
1937, era fazer com que o sujeito tivesse direito de participar da vida. 
A vida em si pode enfraquecer o eu de diversas maneiras, como por 
exaustão, acidente ou doença. Nesses casos, a pulsão pode renovar suas 
exigências de formas mais ou menos traumáticas. Para Freud, o tratamento 
deveria então: 
1) capacitar o eu para atingir certo grau de maturidade que lhe permita 
revisar antigas repressões geradas na primeira infância, 
2) substituir medidas de defesa primitivas criadas por um eu imaturo por 
mecanismos de maior firmeza e confiabilidade, 
3) trocar repressões inseguras por controles egossintônicos confiáveis e, 
finalmente, 
4) recrutar no potencial para a saúde do paciente ferramentas para 
enfrentar tanto o ambiente em si, que clama por adaptação, quanto a reação do 
eu e de suas pulsões a esse mesmo ambiente. 
Ademais, prevenir significa antecipar conflitos que não estão na demanda 
atual do paciente. Para que a regra essencial da abstinência seja preservada, 
não se deve criar material no campo analítico que não tenha sido trazido pelo 
paciente, pois demandas unilaterais criam um clima inamistoso e prejudicial à 
transferência. Em suma, para Freud, o tratamento psicanalítico pode resolver os 
sofrimentos neuróticos, mas jamais os infortúnios da vida. 
 
 
 
 
 
 
 
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Alguns componentes específicos da psicanálise Freudiana 
 
Depois de ter contato com a hipnose como forma de tratamento, Freud 
procurou utilizá-la em seus pacientes. Isso aconteceu depois de ter aberto um 
consultório em Viena para tratar de “doenças nervosas”. O contato com a 
hipnose levou Freud a concluir, tempos depois, que as doenças mentais eram, 
de fato, causadas por distúrbios em uma parte que ele chamou de inconsciente. 
Freud passou a defender a ideia de que a forma de tratar essas doenças 
deveria acontecer por meio das palavras. Inicialmente,Freud hipnotizava seus 
pacientes e os incentivava a falar sobre todos os seus traumas. Esse 
procedimento ficou conhecido como “cura pela palavra” e foi resultado da 
influência de um neurologista chamado Josef Breuer. 
Breuer era um dos mais importantes neurologistas de Viena, e o relato 
dele a respeito de uma de suas pacientes teve grande impacto em Freud. Essa 
paciente, que sofria de depressão, era Bertha Pappenheim, também conhecida 
como Anna O. Breuer hipnotizava sua paciente e a orientava a falar sobre os 
seus sintomas e traumas, tendo como resultado a melhora do quadro de Anna 
O. 
Após esse caso, Freud passou a aplicar a “cura pela palavra” em seus 
próprios pacientes. Ele os incentivava a falar sobre os traumas e anotava tudo o 
que era dito pelos seus pacientes. Com o tempo, começou a identificar que a 
parte consciente da mente humana não tinha acesso a todas as lembranças e 
grande parte dos pensamentos ficava reprimida no “inconsciente”. Assim, o 
tratamento por meio da psicanálise só seria de fato eficaz se fosse possível 
acessar os pensamentos e traumas do inconsciente, levando-os para a 
consciência do paciente. 
 
 
 
 
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Os atendimentos realizados por Freud aconteciam em um apartamento 
localizado no mesmo prédio (Berggasse 19) que ficava sua casa. Freud colocava 
seus pacientes em um sofá (chamado de divã), em uma posição em que não 
havia contato visual com os pacientes. Os resultados foram mostrando-se 
satisfatórios, e Freud começou a ganhar popularidade. Esses resultados foram 
importantes porque conseguiram provar a teoria de Freud a respeito da 
existência do inconsciente na mente humana. 
 
Estrutura e dinâmica da personalidade 
 
Freud imaginava a psique (ou aparelho psíquico) do ser humano como 
um sistema de energia: cada pessoa é movida, segundo ele, por uma quantidade 
limitada de energia psíquica. Isso significa, por um lado, que se grande parte da 
energia for necessária para a realização de determinado objetivo (ex. expressão 
artística) ela não estará disponível para outros objetivos (ex. sexualidade); por 
outro lado, se a pessoa não puder dar vazão à sua energia por um canal (ex. 
sexualidade), terá de fazê-lo por outro (ex. expressão artística). 
Essa energia provém das pulsões (às vezes chamadas incorretamente de 
instintos). Segundo o autor, o ser humano possui duas pulsões inatas, a de vida 
(Eros) e a de morte. 
Essas duas pulsões opõem-se ao ideal da sociedade e, por isso, precisam 
ser controladas através da educação, considerando que a energia gerada pelas 
pulsões não é liberada de maneira direta. O ser humano é, assim, sexual e 
agressivo por natureza e a função da sociedade é amansar essas tendências 
naturais do homem. A situação de não poder dar vazão a essa energia gera no 
indivíduo um estado de tensão interna que necessita ser resolvido. Toda ação 
do homem é motivada, assim, pela busca hedonista de dar vazão à energia 
psíquica acumulada. 
 
 
 
 
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Os níveis da consciência ou modelo topológico da mente (1ª Tópica) 
 
O ser humano, no entanto, não se dá conta de todo esse processo de 
geração e liberação de energia. Para explicar esse fato, Freud descreve três 
níveis de consciência: 
 O consciente, que abarca todos os fenômenos que em determinado 
momento podem ser percebidos de maneira consciente pelo indivíduo; 
 O pré-consciente, refere-se aos fenômenos que não estão conscientes 
em determinado momento, mas podem tornar-se, se o indivíduo desejar se 
ocupar com eles; 
 O inconsciente, que diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não são 
conscientes e somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se. (O 
termo subconsciente é muitas vezes usado como sinônimo, apesar de ter sido 
abandonado pelo próprio Freud.) 
Freud não foi o primeiro a propor que parte da vida psíquica se desenvolve 
inconscientemente. Ele foi, no entanto, o primeiro a pesquisar profundamente 
esse território. Segundo ele, os desejos e pensamentos humanos produzem 
muitas vezes conteúdos que causariam medo ao indivíduo, se não fossem 
armazenados no inconsciente. Este tem assim uma função importantíssima de 
estabilização da vida consciente. Sua investigação levou-o a propor que o 
inconsciente é alógico (e por isso aberto a contradições); atemporal e aespacial 
(ou seja, conteúdos pertencentes a épocas ou espaços diferentes podem estar 
próximas). Os sonhos são vistos como expressão simbólica dos conteúdos 
inconscientes. 
Através da compreensão do conceito de inconsciente torna-se clara a 
compreensão da motivação na psicanálise clássica: muitos desejos, sentimentos 
e motivos são inconscientes, por serem muito dolorosos para se tornarem 
 
 
 
 
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conscientes. No entanto esse conteúdo inconsciente influencia a experiência 
consciente da pessoa, por exemplo, através de atos falhos, comportamentos 
aparentemente irracionais, emoções inexplicáveis, medo, depressão, 
sentimento de culpa. Assim, os sentimentos, sonhos, desejos e motivos 
inconscientes influenciam e guiam o comportamento consciente. 
 
Modelo estrutural da personalidade (2ª Tópica) 
 
Freud desenvolveu mais tarde, (1923) um modelo estrutural da 
personalidade, em que o aparelho psíquico se organiza em três estruturas: 
 Id (em alemão: es, "ele, isso"): O id é a fonte da energia psíquica, 
a libido. O id é formado pelas pulsões, instintos, impulsos orgânicos e desejos 
inconscientes. Ele funciona segundo o princípio do prazer (Lustprinzip), ou seja, 
busca sempre o que produz prazer e evita o desprazer. Não faz planos, não 
espera, busca uma solução imediata para as tensões, não aceita frustrações e 
não conhece inibição. Ele não tem contato com a realidade e uma satisfação na 
fantasia pode ter o mesmo efeito de uma atingida través de uma ação. O id 
 
 
 
 
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desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo exigente, impulsivo, 
cego, irracional, antissocial e dirigido ao prazer. O id é completamente 
inconsciente. 
 Ego (ich, "eu"): O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo 
de permitir que seus impulsos sejam eficientes, ou seja, levando em conta o 
mundo externo, por intermédio do chamado princípio da realidade. É esse 
princípio que introduz a razão, o planejamento e a espera ao comportamento 
humano. A satisfação das pulsões é retardada até o momento em que a 
realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de 
consequências negativas. A principal função do ego é buscar uma harmonização 
inicialmente entre os desejos do id e a supervisão/realidade/repressão do 
superego. 
 Superego (Über-Ich, "super-eu", "além-do-eu"): É a parte moral da 
mente humana e representa os valores da sociedade. 
O superego tem três objetivos: 
(1) reprimir, através de punição ou sentimento de culpa, qualquer impulso 
contrário às regras e ideais por ele ditados; 
(2) forçar o ego a se comportar de maneira moral, mesmo que irracional; 
e, 
(3) conduzir o indivíduo à perfeição, em gestos, pensamentos e palavras. 
O superego forma-se após o ego, durante o esforço da criança de introjetar os 
valores recebidos dos pais e da sociedade a fim de receber amor e afeição. Ele 
pode funcionar de uma maneira bastante primitiva, punindo o indivíduo não 
apenas por ações praticadas, mas também por pensamentos inaceitáveis; outra 
característica sua é o pensamento dualista (tudo ou nada, certo ou errado, sem 
meio-termo). O superego divide-se em dois subsistemas: o ego ideal, que dita o 
bem a ser procurado, e a consciência (Gewissen), que determina o mal a ser 
evitado. 
 
 
 
 
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Os mecanismos de defesa 
 
O ego está constantemente sob tensão, nas suas tentativas de 
harmonizar os impulsos do id no mundo exterior eadequando-os à repressão do 
superego. Quando essa tensão (normalmente sob a forma de medo) se torna 
grande demais, ameaça a estabilidade do ego, que pode fazer uso dos 
mecanismos de defesa ou ajustamentos. Estas são estratégias do ego para 
diminuir o medo através de uma deformação da realidade - dessa forma o ego 
exclui da consciência conteúdos indesejados. Os mecanismos de defesa 
satisfazem os desejos do id apenas parcialmente, mas, para este, uma 
satisfação parcial é melhor do que nenhuma. 
Entre os mecanismos de defesa é preciso considerar, por um lado, os 
mecanismos bastante elaborados para defender o eu (ego), e por outro lado, os 
que estão simplesmente encarregados de defender a existência do narcisismo. 
Freud (1937) diz que mecanismos defensivos falsificam a percepção interna do 
sujeito fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada. 
Freud descreveu muitos mecanismos de defesa no decorrer da sua obra 
e seu trabalho foi continuado por sua filha Anna Freud; os principais mecanismos 
são: 
 Repressão é o processo pelo qual se afastam da consciência 
conflitos e frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados 
ou lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente; o que é 
desagradável é, assim, esquecido; 
 Formação reativa consiste em ostentar um procedimento e externar 
sentimentos opostos aos impulsos verdadeiros, indesejados. 
 Projeção consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o 
sujeito não pode admitir como suas. 
 
 
 
 
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 Regressão consiste em a pessoa retornar a comportamentos 
imaturos, característicos de fase de desenvolvimento que a pessoa já passou. 
 Fixação é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido 
de continuar. Uma parte da líbido permanece ligada a um determinado estágio 
do desenvolvimento e não permite que a criança passe completamente para o 
próximo estágio. A fixação está relacionada com a regressão, uma vez que a 
probabilidade de uma regressão a um determinado estágio do desenvolvimento 
aumenta se a pessoa desenvolveu uma fixação por este. 
 Sublimação é a satisfação de um impulso inaceitável através de um 
comportamento socialmente aceito. 
 Identificação é o processo pelo qual um indivíduo assume uma 
característica de outro. Uma forma especial de identificação é a identificação 
com o agressor. 
 Deslocamento é o processo pelo qual agressões ou outros 
impulsos indesejáveis, não podendo ser direcionados à(s) pessoa(s) a que se 
referem, são direcionadas a terceiros. 
 
As fases do desenvolvimento psicossexual 
 
Uma importante parte da teoria freudiana é dedicada ao desenvolvimento 
da personalidade. Duas hipóteses caracterizam sua teoria: 
Freud foi o primeiro a afirmar que os primeiros anos das vida são os mais 
importantes para o desenvolvimento da pessoa e o desenvolvimento do 
indivíduo se dá em fases ou estádios psico-sexuais. Freud foi, assim, o primeiro 
autor a afirmar que as crianças também têm uma sexualidade. 
Freud descreve quatro fases distintas, pelas quais a criança passa em seu 
desenvolvimento. Cada uma dessas fases é definida pela região do corpo a que 
as pulsões se direcionam. Em cada fase surgem novas necessidades que 
 
 
 
 
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exigem satisfação; a maneira como essas necessidades são satisfeitas 
determina como a criança se relaciona com outras pessoas e quais sentimentos 
ela tem para consigo mesma. A transição de uma fase para outra é 
biologicamente determinada, de tal forma que uma nova fase pode iniciar sem 
que os processos da fase anterior tenha se completado. As fases se seguem 
umas às outras em uma ordem fixa e, apesar de uma fase se desenvolver a partir 
da anterior, os processos desencadeados em uma fase nunca estão plenamente 
completos e continuam agindo durante toda a vida da pessoa. 
 
A fase oral 
 
A primeira fase do desenvolvimento é a fase oral, que se estende desde 
o nascimento até aproximadamente dois anos de vida. Nessa fase a criança 
vivencia prazer e dor através da satisfação (ou frustração) de pulsões orais, ou 
seja, pela boca. Essa satisfação se dá independente da satisfação da fome, mas 
inicialmente por ela. Assim, para a criança sugar, mastigar, comer, morder, 
cuspir etc. têm uma função ligada ao prazer, além de servirem à alimentação. 
Ao ser confrontada com frustrações a criança é obrigada a desenvolver 
mecanismos para lidar com tais frustrações. Esses mecanismos são a base da 
futura personalidade da pessoa. Assim, uma satisfação insuficiente das pulsões 
orais pode conduzir a uma tendência para ansiedade e pessimismo; já uma 
excessiva satisfação pode levar, através de uma fixação nessa fase, a 
dificuldades de aceitar novos objetos como fonte de prazer/dor em fases 
posteriores, aumentando assim a probabilidade de uma regressão. 
A fase oral se divide em duas fases menores, definidas pelo nascimento 
dos dentes. Até então a criança se encontra em uma fase passiva-receptiva; com 
os primeiros dentes a criança passa a uma fase sádica-ativa através da 
possibilidade de morder. O principal objeto de ambas as fases, o seio materno, 
 
 
 
 
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se torna, assim, um objeto ambivalente. Essa ambivalência caracteriza a maior 
parte dos relacionamentos humanos, tanto com pessoas como com objetos. 
A fase oral apresenta, assim, cinco modos de funcionamento que podem 
se desenvolver em características da personalidade adulta: 
 O incorporar do alimento se mostra no adulto como um "incorporar" 
de saber ou poder, ou ainda como a capacidade de se identificar com outras 
pessoas ou de se integrar em grupos; 
 O segurar o seio, não querendo se separar dele, se mostram 
posteriormente como persistência e perseverança ou ainda como decisão; 
 Morder é o protótipo da destrutividade, assim do sarcasmo, cinismo 
e tirania; 
 Cuspir se transforma em rejeição e 
 O fechar a boca, impedindo a alimentação, conduz a rejeição, 
negatividade ou introversão. 
 O principal processo na fase oral é a criação da ligação entre mãe 
e filho. 
 
A fase anal 
 
A segunda fase, segundo Freud, é a fase anal, que vai aproximadamente 
do primeiro ao terceiro ano de vida. Nessa fase a satisfação das pulsões se dirige 
ao ânus, ao controle da tensão intestinal. Nessa fase a criança tem de aprender 
o controle dos esfincteres sobre o ato de defecar e, dessa forma, deve aprender 
a lidar com a frustração do desejo de satisfazer suas necessidades 
imediatamente. 
Como na fase oral, também os mecanismos desenvolvidos nesta fase 
influenciam o desenvolvimento da personalidade. O defecar imediato e 
descontrolado é o protótipo dos ataques de raiva; já uma educação muito rígida 
 
 
 
 
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com relação à higiene pode conduzir tanto a uma tendência ao caos, aos 
descuido, à bagunça quanto a uma tendência a uma organização compulsiva e 
exageradamente controlada. 
Se a mãe faz elogios demais ao fato de a criança conseguir esperar até o 
banheiro, pode surgir uma ligação entre dar (as fezes) e receber amor, e a 
pessoa pode desenvolver generosidade; se a mãe supervaloriza essas 
necessidades biológicas, a criança pode se desenvolver criativa e produtiva ou, 
pelo contrário, se tornar depressiva, caso ela não corresponda às expectativas; 
crianças que se recusam a defecar podem se desenvolver como colecionadores, 
coletores ou avaros. 
 
A fase fálica 
 
A fase fálica, que vai dos três aos cinco anos de vida, se caracteriza 
segundo Freud pela importância da presença (ou, nas meninas, da ausência) do 
falo ou pênis; nessa fase prazer e desprazer estão, assim, centrados na região 
genital. As dificuldades dessa fase estão ligadas ao direcionamento da pulsão 
sexual ou libidinosa ao genitor do sexo oposto e aos problemas resultantes. A 
resolução desse conflitoestá relacionada ao complexo de Édipo e à identificação 
com o genitor de mesmo sexo. 
Freud desenvolveu sua teoria tendo sobretudo os meninos em vista, uma 
vez que, para ele, estes vivenciariam o conflito da fase fálica de maneira mais 
intensa e ameaçadora. Segundo Freud o menino deseja nessa fase ter a mãe 
só para si e não partilhá-la mais com o pai; ao mesmo tempo ele teme que o pai 
se vingue, castrando-o. A solução para esse conflito consiste na repressão tanto 
do desejo libidinoso com relação à mãe como dos sentimentos agressivos para 
com o pai; em um segundo momento realiza-se a identificação do menino com 
 
 
 
 
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seu pai, o que os aproxima e conduz, assim, a uma internalização por parte do 
menino dos valores, convicções, interesses e posturas do pai. 
O complexo de Édipo representa um importante passo na formação do 
superego e na socialização dos meninos, uma vez que o menino aprende a 
seguir os valores dos pais. Essa solução de compromisso permite que tanto o 
ego (através da diminuição do medo) e o id (por o menino poder possuir a mãe 
indiretamente através do pai, com o qual ele se identifica) sejam parcialmente 
satisfeitos. 
O conflito vivenciado pelas meninas é parecido, contudo com mais 
possibilidades de solução. A menina deseja o próprio pai, em parte devido à 
inveja que sente por não ter um pênis (al. Penisneid); ela sente-se castrada e 
culpa à própria mãe por tê-la privado de um falo. Por outro lado, a mãe 
representa uma ameaça menos séria, uma vez que uma castração não é 
possível. Devido a essa situação diferente, a identificação da menina com a 
própria mãe é menos forte do que a do menino com seu pai e, por isso, as 
meninas teriam uma consciência menos desenvolvida - afirmação esta que foi 
rejeitada pela pesquisa empírica. 
Freud usou o termo "complexo de Édipo" para ambos os sexos; autores 
posteriores limitaram o uso da expressão aos meninos, reservando para as 
meninas o termo "complexo de Electra", mas que foi rejeitado por Freud no texto 
"Sobre a Sexualidade Feminina" de 1931. 
A apresentação do complexo de Édipo dada acima é, no entanto, 
simplificada. Na realidade o resultado da resolução do complexo de Édipo é 
sempre uma identificação como ambos os pais e a força de cada uma dessas 
identificações depende de diferentes fatores, como a relação entre os elementos 
masculinos e femininos na predisposição fisiológica da criança ou a intensidade 
do medo de castração ou da inveja do pênis. Além disso, a mãe mantém em 
ambos os sexos um papel primordial, permanecendo sempre o principal objeto 
da libido. 
 
 
 
 
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O período de latência 
 
Depois da agitação dos primeiros anos de vida segue-se uma fase mais 
tranquila que se estende até a puberdade. Nessa fase a libido é desinvestida das 
fantasias e da sexualidade, tornando-as secundárias, mas reinvestida em outros 
meios como o desenvolvimento cognitivo, aprendizado, a assimilação de valores 
e normas sociais que se tornam as atividades principais da criança, continuando 
o desenvolvimento do ego e do superego. 
 
A fase genital 
 
A última fase do desenvolvimento psicossocial é a fase genital, que se dá 
durante a adolescência. Nessa fase as pulsões sexuais, depois da longa fase de 
latência e acompanhando as mudanças corporais, despertam-se novamente, 
mas desta vez se dirigem a uma pessoa do sexo oposto, ou não (onde entra a 
questão da homossexualidade). 
Como se depreende da explanação anterior, a escolha do parceiro não se 
dá independente dos processos de desenvolvimento anteriores, mas é 
influenciada pela vivência nas fases anteriores. Além disso, apesar de 
continuarem agindo durante toda a vida do indivíduo, os conflitos internos típicos 
das fases anteriores atingem na fase genital uma relativa estabilidade 
conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os 
desafios da idade adulta. 
 
 
 
 
 
 
 
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Teoria do Trauma 
 
Durante muito tempo, o aspecto mais conhecido e discutido da obra de 
Freud era o da teoria da libido, que ele elaborou inspirado nos modelos da 
eletrodinâmica ou da hidrodinâmica vigentes na ciência da época. 
Assim, o conceito de libido, que Freud concebeu como sendo a 
manifestação psicológica do instinto sexual, recebeu sua origem na tentativa de 
explicar fenômenos, tais como os da histeria, que Freud explicava como sendo 
resultantes do fato de que a energia sexual era impedida de expandir-se através 
de sua saída natural e fluía, então, para outros órgãos, ficando restringida ou 
contida em certos pontos e manifestando-se através de sintomas vá- rios. 
Freud chegara à conclusão de que as neuroses, como a histeria, a 
neurose obsessiva, a neurastenia e a neurose de angústia (fobia), teriam sua 
causa imediata no aspecto “econômico” da energia psíquica, ou seja, num 
represamento quantitativo da libido sexual. 
Na neurastenia e na neurose de angústia, somente o represamento da 
libido sexual é o que estaria em jogo, enquanto nas demais neuroses traumáticas 
outros acontecimentos da vida passada também seriam fatores causadores dos 
transtornos neuróticos. 
Partindo inicialmente da concepção inicial de que o conflito psíquico era 
resultante das repressões impostas pelos traumas de sedução sexual que 
realmente teriam acontecido no passado, e que retornavam sob a forma de 
sintomas, Freud postulou que os “neuróticos sofrem de reminiscências”, e que a 
cura consistiria em “lembrar o que estava esquecido”. Penso que, para certos 
casos, esta fórmula persiste na psicanálise atual como plenamente válida, 
porquanto é bem sabido que “a melhor forma de esquecer é lembrar” ou, dizendo 
de outra forma, “o sujeito não consegue esquecer daquilo que ele não consegue 
lembrar”. 
 
 
 
 
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A diferença é que na época de Freud este relembrar visava unicamente a 
uma ab-reação, uma catarse por meio da verbalização dos fatos traumáticos e 
os respectivos sentimentos contidos nas lembranças, enquanto hoje os analistas 
vão, além disso, e objetivam uma ressignificação dos significados atribuídos aos 
traumas que o paciente está rememorando na situação psicanalítica. Assim, a 
necessidade de desfazer as repressões introduziu dois elementos essenciais à 
teoria e à técnica da psicanálise: a descoberta das resistências inconscientes e 
o uso das interpretações por parte do psicanalista. 
 
Teoria Topográfica 
 
A teoria anterior perdurou até 1897, quando então Freud deu-se conta de 
que a teoria do trauma era insuficiente para explicar tudo, e que os relatos das 
suas pacientes histéricas não traduziam a verdade factual; mas sim que eles 
estavam contaminados com as fantasias inconscientes que provinham de seus 
desejos proibidos e ocultos. Daí, ele propôs a divisão da mente em três “lugares” 
(a palavra “lugar”, em grego, é “topos”, daí teoria topográfica). A estes diferentes 
lugares ele denominou: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente, sendo que 
o paradigma técnico passou a ser: “tornar consciente o que estiver no 
inconsciente”. 
Em 1900, Freud publicou A interpretação de sonhos, no qual ele comprova 
que o conteúdo do sonho “manifesto” pode ser visto como um modo disfarçado 
e “censurado” da satisfação de proibidos desejos inconscientes. 
A propósito, essa fase teórica de Freud pode ser resumida com a sua 
afirmativa de que “todo sonho, e sintoma, tem um umbigo que conduz ao 
desconhecido do inconsciente”, sendo que, pode-se acrescentar, é a descoberta 
do significado simbólico dos sonhos e sintomas que inaugura a psicanálise como 
ciência propriamente dita. 
 
 
 
 
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A partir do seu fracasso com a análise de “Dora” – escrito em 1901, mas 
que somente foi publicado em 1905, por razões de sigilo profissional–, Freud 
obrigou-se a fazer profundas reflexões, sendo que ele chegou a afirmar que, 
desde então, a técnica psicanalítica foi profundamente transformada. Pode-se 
dizer que as principais transformações que se processaram nessa época foram: 
a) a psicanálise deixou de ser uma detida investigação e busca de solução 
de, separadamente, sintoma por sintoma; 
b) a descoberta e a formulação do “princípio da multideterminação” dos 
sintomas; 
c) o próprio paciente é quem passou a tomar a iniciativa de propor o 
assunto de sua sessão; 
d) o analista substituiu a atitude de comportar-se como um investigador 
ativo e diretivo por uma atitude mais compreensiva da dinâmica do sofrimento 
do analisando; 
e) abandono total da técnica da hipnose e da sugestão devido à 
percepção de Freud de que as elas encobriam a existência de “resistências”; 
f) estas últimas resultam de repressões, sendo que o retorno do reprimido 
manifesta-se pelo fenômeno da “transferência”; 
g) sobretudo, o “caso Dora” ensinou a Freud a existência e a importância 
de o analista reconhecer e trabalhar com a “transferência negativa”. 
 
Teoria Estrutural 
 
À medida que se aprofundava na dinâmica psíquica, Freud tropeçava com 
o campo restrito da teoria topográfica, por demais estática, e ampliou-a com a 
concepção de que a mente comportava-se como uma estrutura no qual distintas 
 
 
 
 
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demandas, funções e proibições, quer provindas do consciente ou do 
inconsciente, interagiam de forma permanente e sistemática entre si e com a 
realidade externa. Desta forma, mais precisamente a partir do trabalho O ego e 
o id (1923), ele concebeu a estrutura tripartite, composta pelas instâncias do id 
(com as respectivas pulsões), do ego (com o seu conjunto de funções e de 
representações) e do superego (com as ameaças, castigos, etc.). O paradigma 
técnico da psicanálise foi formulado por Freud como: “onde houver id (e 
superego), o ego deve estar”. 
 
Conceituações sobre o Narcisismo 
 
Embora não tenha sido formulado como uma teoria, os estudos de Freud 
sobre o narcisismo abriram as portas para uma mais profunda compreensão do 
psiquismo primitivo e constituíram-se como sementes que continuam 
germinando e propiciando inúmeros vértices de abordagem por parte de autores 
de todas correntes psicanalíticas. De acordo com o pensamento mais vigente 
entre os autores, pode-se dizer que, na atualidade, um importante paradigma da 
psicanálise atual pode ser formulado como “onde houver Narciso, Édipo deve 
estar”. (Grunberger, 1979). 
 
 
 
 
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Dissociação do Ego 
 
Aquele jovem Freud que ficara perplexo ao perceber uma dissociação da 
mente que se manifestava nas pacientes histéricas durante o transe hipnótico 
induzido por Charcot, foi aprofundando suas pesquisas sobre este fascinante 
enigma até que ele ficou convencido de que esta clivagem da mente em regiões 
conscientes e inconscientes não era específica e restrita às psicoses e neuroses, 
mas que ela ocorria com todos os indivíduos. Assim, desde os seus primeiros 
trabalhos com pacientes histéricas, Freud já falava de uma cisão interssistêmica 
da qual resultam núcleos psíquicos independentes. 
No entanto, é a partir de seu trabalho sobre Fetichismo (1927) e, de forma 
mais consistente, em Clivagem do ego no processo de defesa (1940), que 
escreveu ao apagar das luzes de sua imensa obra, é que Freud estudou a cisão 
ativa, intrassistêmica, que ocorre no próprio seio do ego e não unicamente entre 
as instâncias psíquicas. Com isso, Freud lançou novas sementes que 
possibilitaram aos pósteros autores desenvolverem uma concepção inovadora 
da conflitiva intrapsíquica, o que, creio, pode ser exemplificado com os trabalhos 
de Bion (1967) sobre a existência concomitante em qualquer pessoa da “parte 
psicótica e da parte não psicótica da personalidade” e cuja compreensão, por 
parte do psicanalista, representa um enorme avanço na técnica e na prática 
clínica. 
Diante do exposto, o gênio de Freud possibilitou que, entre avanços, 
recuos e sucessivas transformações, ele construísse os alicerces essenciais do 
edifício metapsicológico e prático da psicanálise, sempre estabelecendo inter-
relações entre a teoria, a técnica, a ética e a prática clínica. 
 
 
 
 
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Melanie Klein 
 
Biografia 
 
A psicoterapeuta austríaca Melanie née 
Reizes, posteriormente conhecida como Melanie 
Klein, nasceu na cidade de Viena, no dia 30 de 
março de 1882. Era filha do médico Moritz Reizes, 
judeu de origem polonesa, provindo de Lemberg, 
situada na Galícia – descendente de família 
ortodoxa, rompe com ela e segue a Medicina -, e 
de Libussa Reizes, fruto de um meio instruído e ilustrado, no qual preponderava 
a linhagem feminina, mas obrigada a trabalhar com a venda de plantas e répteis 
para ajudar na sobrevivência familiar. 
Ela não foi uma filha muito esperada, nascendo depois de três filhos, em 
um ambiente dominado pelo desentendimento entre os pais. Sua mãe tinha uma 
natureza dominadora, e posteriormente transformaria o matrimônio e a vida 
familiar de Melanie em terrível suplício. Ela cresceu entre mortes e perdas 
dolorosas; aos quatro anos viu sua irmã Sidonie partir, vítima de uma 
tuberculose, com apenas 8 anos; aos 18 ela perdeu o pai, permanecendo sob o 
domínio materno; e quando ainda contava 20 anos de idade, Emmanuel, seu 
irmão preferido, com quem mantinha um relacionamento ambíguo, marcado por 
nuances incestuosas, faleceu ao não suportar mais a enfermidade, o peso das 
drogas e da angústia. 
Estes desaparecimentos constantes deixaram como herança para 
Melanie um persistente sentimento de culpa, do qual se encontram traços em 
sua produção intelectual. Alguns estudiosos defendem que ela teria se casado 
pouco tempo depois da morte do irmão justamente por se sentir responsável por 
 
 
 
 
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ela. Sua união com o engenheiro químico Arthur Klein, de personalidade severa, 
em 1903, pode também ter ocorrido por sua família estar enfrentando uma crise 
financeira, a mesma que teria motivado a jovem a abandonar o curso de 
Medicina, depois de se dedicar ao aprendizado de arte e história na Universidade 
de Viena. Outros estudiosos de sua vida alegam que ela teria realizado estes 
cursos depois da tentativa frustrada com a Medicina, que ela teria deixado ao se 
casar. 
O trabalho de Arthur levava o casal a viagens constantes, durante as quais 
Melanie pode conquistar o conhecimento de diversos idiomas. O casal, depois 
de muitas desavenças, intensificadas pelas invasões da mãe dela, se divorciaria 
em 1926. Deste matrimônio nasceram três filhos: Hans, Melitta e Erich Klein, 
posteriormente conhecido como Eric Clyne, nascido no mesmo ano em que a 
tirânica genitora de Melanie morre, criança que ela viria a analisar, atribuindo a 
ela outra identidade, chamando-o de Fritz. Nesta mesma época, em 1914, ela 
entra em contato com a obra de Freud, mais precisamente com seu texto Sobre 
os Sonhos, ao mesmo tempo em que começa a fazer terapia com Sandor 
Ferenczi, a qual ela tem que suspender por causa da guerra. Em 1924 ela 
retomará esse processo, desta vez com K. Abraham, na cidade de Berlim, mas 
um ano depois ele falece, obrigando-a a prosseguir a análise em Londres, com 
Payne. 
Incentivada por seu terapeuta, ela se devota ao tratamento de crianças. 
Em 1919 ela passa a integrar a Sociedade de Psicanálise de Budapeste, para 
onde havia se mudado com o marido, tentando salvar o casamento. Um ano 
depois ela conhece Freud durante o V Congresso da International 
Psychoanalytical Association (IPA), e neste mesmo evento toma contato com 
seu futuro analista e mentor, Karl Abraham, em Haia. Este novo amigo lhe 
propõe assumir um trabalho em Berlim, onde ela passa a residir depois que o 
marido seguepara a Suécia, pois em Budapeste imperava então um avassalador 
movimento antissemita. 
 
 
 
 
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29 
O caso por ela apresentado diante da Sociedade Psicanalítica de 
Budapeste foi realizado com base na análise de seu próprio filho de cinco anos 
que, como dito acima, foi denominado Fritz. Uma interpretação mais completa 
desta ingerência deu origem ao seu primeiro artigo, transcrito no veículo 
“Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse”. Ela se devotou completamente ao 
ofício psicanalítico a partir de 1923, aos 42 anos. Um ano depois Melanie expôs, 
no VIII Congresso Internacional de Psicanálise, o texto A técnica da análise de 
crianças pequenas, colocando em questão o conceito freudiano conhecido como 
Complexo de Édipo. Logo depois, em 1927, ela rompe com Anna Freud, dando 
origem assim a um grupo fundado por discípulos kleinianos na Sociedade 
Britânica de Psicanálise, da qual ela passou a fazer parte neste mesmo período. 
Melanie passa a atuar também nos polêmicos debates sobre as questões 
sexuais femininas, quando as teorias freudianas passam a ser criticadas por 
Karen Horney. Em 1930 ela começa a se voltar para a análise de adultos, mas 
não abandona a preocupação com o universo infantil, lançando em 1932 a obra 
A psicanálise da criança, desenvolvendo em 1936 uma conferência sobre O 
desmame. Lançou também em 1937 o livro Amor, ódio e reparação, ao lado de 
Joan Riviére. Sua teoria foi produzida de 1942 a 1944, com a ajuda de seus 
seguidores. 
Entre Anna Freud e Melanie Klein, considerada nada ortodoxa e rejeitada 
pelos psicanalistas vienenses, estava em jogo que psicanálise de crianças seria 
adotada – um burilamento das questões pedagógicas, como sustentava Anna, 
ou uma profunda investigação do mecanismo mental infantil desde o momento 
do nascimento, como desejava Melanie. 
Esta controvérsia atingiu o auge quando foi proposta a exclusão dos 
discípulos de Klein da Sociedade Britânica de Psicanálise, a qual não é levada 
a efeito. Pouco antes, Melitta rompera com a mãe, Melanie, depois que esta 
começara a reproduzir com a filha o mesmo papel que sua genitora 
desempenhara com ela, episódio que repercutiu na sua esfera profissional, pois 
 
 
 
 
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o terapeuta de Melitta, Edward Glover, manipula a situação para se afirmar 
teoricamente diante de Melanie, uma vez que integravam escolas distintas e 
adversárias. A Fundação Melanie Klein é instituída em 1955, mesmo ano em que 
ela lança o texto A técnica psicanalítica através do brinquedo; sua história, sua 
significação, elaborado a partir de uma conferência realizada em 1953. No dia 
22 de setembro de 1960 Melanie morre, vítima de um câncer no cólon, aos 78 
anos. 
 
Contribuições de Melanie Klein 
 
A contribuição de Melanie Klein selecionada no recorte desta revisão 
refere-se ao artigo de 1950, "Sobre os critérios para o término de uma 
psicanálise". Sua inovação teórica está no postulado de que o final da análise, 
como experiência emocional, oportuniza o término do trabalho com as 
ansiedades persecutórias e depressivas, as quais são reativadas pelo 
rompimento da relação analítica e oferece a finalização da elaboração das 
posições infantis esquizo-paranoide e depressiva. 
Para a autora, posições emocionais que surgem precocemente na vida do 
bebê vão se interpondo ao longo do desenvolvimento, marcando o processo de 
saúde e/ou adoecimento. A posição esquizoparanoide surge durante os 
primeiros meses de vida e é marcada por ansiedades persecutórias relacionadas 
a perigos e ameaças contra o eu. Essas ansiedades podem ter origem tanto 
interna quanto externa. A medida que o ego se desenvolve, por volta da metade 
do primeiro ano, vai se criando na mente do recém-nascido o medo da ameaça 
ao objeto amado, que é constantemente operada pela agressividade própria do 
bebê. Quando os aspectos bons e ruins dos objetos e do próprio sujeito podem 
começar a se integrar dentro de um processo de síntese, alcança-se uma maior 
integração no ego e entra-se na posição depressiva. Nesse estágio, a mãe pode 
ser representada como um objeto total, formado por defeitos e qualidades. Essa 
 
 
 
 
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harmonização dos aspectos dos objetos internos diminui a ansiedade 
persecutória, porém desenvolve um sentimento de culpa, originado nas fantasias 
de ataques destrutivos e de inveja. Dessa ansiedade depressiva manifesta na 
culpa pela agressão surge a superação da experiência de reparação, a qual é 
responsável pela criação da possibilidade de relações de objeto maduras e de 
aprofundamento dos sentimentos. 
Portanto, pode-se considerar como meta principal a ser atingida dentro de 
um tratamento analítico alcançar e manter a posição depressiva, pois isso 
tornaria possível que o sujeito se identificasse com seus objetos de amor e fosse 
capaz de ter um relacionamento amoroso feliz, ficar satisfeito com a 
maternidade/paternidade, conquistar sua independência, desenvolver amizades 
ao longo da vida e ser criativo. Ao se identificar com as pessoas que ama, o 
sujeito demonstra sua capacidade de satisfação com aquilo que pode oferecer 
aos outros, pois a possibilidade de se colocar no lugar de alguém exige a 
suspensão temporária de seus próprios interesses e ambições pessoais em prol 
dos de outra pessoa. Em um relacionamento amoroso feliz, deve existir, para 
Klein, forte apego, capacidade mútua para sacrifícios e grande habilidade para 
compartilhar interesses, dor e prazer. Nas questões tocantes à luta pela 
independência, o sujeito deve ser capaz de substituir aquele primeiro alimento, 
cujo símbolo é o leite materno, representante das primeiras sensações de bem-
estar e segurança, por derivados adequados a cada fase da vida. Assim, a 
experiência do desmame deve estar analisada suficientemente até o ponto de 
não existir mais ódio intenso por sua privação, sob pena de o sujeito não 
conseguir se adaptar a outras frustrações no futuro, ficando indevidamente preso 
à segurança artificial da dependência. Na criatividade, a presença de um 
sentimento de culpa mitigado pela capacidade de reparação produz a sensação 
de uma ação criadora e transformadora das relações e do mundo interno dos 
sujeitos. As sensações de bem-estar são entendidas intrapsiquicamente como 
genitores bons e generosos, capazes de dar vida. 
 
 
 
 
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Para que a análise das ansiedades depressivas e persecutórias possa 
promover redução e modificação das angústias a ponto de se indicar alta ao 
paciente, deve ter ocorrido uma análise das experiências primitivas de luto 
durante o tratamento. Porém, a advertência é feita: 
Mesmo que a análise retroceda aos estágios mais antigos do 
desenvolvimento (...), os resultados ainda assim poderão variar de acordo com 
a severidade e estrutura do caso. Em outras palavras, apesar do progresso feito 
em nossa teoria e nossa técnica, devemos ter em mente as limitações da terapia 
psicanalítica. 
Dessa forma, os psicoterapeutas psicanalíticos reavaliam suas 
expectativas juntamente com Klein e percebem como metas para o tratamento: 
1) que as ansiedades persecutória e depressiva não sejam excessivas; 
2) que o ego seja estável; 
3) que o paciente tenha senso de realidade e profundidade (riqueza da 
vida de fantasia e capacidade para experienciar emoções livremente); e 
4) que a vivência do término do tratamento, a dessidealizaçao do analista 
e o trabalho exaustivo da transferência negativa sejam alcançados. 
 
Alguns componentes específicos da psicanálise kleiniana 
 
1. Principais desenvolvimentos teóricos em Klein 
 
Classicamente, são consideradas como as principais contribuições de 
Klein à psicanálise as seguintes formulações: 
 
 
 
 
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1. Conceitos sobre as etapas mais primitivas do desenvolvimentopsicossexual, à luz da segunda teoria dos instintos de Freud, sobre as fantasias 
inconscientes e as primeiras defesas contra a angústia. 
2. O conceito de posição. 
3. Os conceitos sobre a formação do ego, do superego e sobre a situação 
edipiana. 
4. O conceito de mundo interno. 
5. O novo status dado ao objeto e, sobretudo, às relações internas de 
objeto. 
6. O conceito dos mecanismos de introjeção e projeção como atuantes 
desde o início da vida psíquica em bebês. 
A interação entre introjeção e projeção foi posteriormente desenvolvida 
intensivamente nos estudos que culminaram na conceituação da identificação 
projetiva. 
 
2. Características importantes e específicas da psicanálise kleiniana 
 
a) O setting psicanalítico 
 
Este é um conceito técnico muito caro aos analistas da escola inglesa em 
geral e se refere ao cenário onde a análise acontece. É o conjunto de recursos 
e procedimentos colocados no atendimento e oferecidos ao paciente, desde o 
início o espaço físico do consultório com seus móveis e objetos, o número de 
sessões semanais com seu ritmo próprio, até a pessoa do analista com sua 
atitude adequada e as interpretações que ele dá ao analisando. 
 
 
 
 
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Segall (1982), ao escrever sobre a técnica de Melanie Klein, diz que "a 
técnica kleiniana é psicanalítica e se fundamenta rigorosamente em conceitos 
psicanalíticos freudianos, sendo seu contexto formal o mesmo da análise 
freudiana... Não é só o cenário formal que é o mesmo da análise clássica: 
respeita-se também, em todos os aspectos essenciais, os princípios 
psicanalíticos tal como foram apresentados por Freud". 
Segall cita como fatores constituintes da psicanálise kleiniana o setting 
psicanalítico, a frequência de sessões semanais (ideal o número de cinco 
sessões), o uso do divã, e ressalta a interpretação como o instrumento essencial 
de trabalho do analista, que deve evitar rigorosamente todas as formas de crítica, 
apoio, conselho, julgamento, encorajamento e reasseguramento. 
 
b) A interpretação 
 
Na psicanálise kleiniana a interpretação visa buscar e possibilitar contato 
que seja emocionalmente vivo com relação a experiências vivenciadas pelo 
analisando. Melanie Klein considera a experiência emocional como a base da 
vida psíquica, como o que lhe dá significado e que existe e acontece tanto no 
consciente como no inconsciente. Para Freud, a emoção é um subproduto da 
vida pulsional, constituindo-se como uma vivência consciente, isto é, um 
elemento que indica a presença de um conflito pulsional inconsciente. 
A importância conferida às emoções inconscientes como fator central da 
vida psíquica dos indivíduos, que a organiza e lhe dá significado, é uma 
característica básica do sistema kleiniano que o diferencia de outras linhas de 
psicanálise. Depois de Klein, Bion enfatizou o fato de que, para que a mente 
possa desenvolver-se, é necessário que a experiência emocional das relações 
seja pensada. 
 
 
 
 
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O objeto da interpretação é a fantasia inconsciente, que pode ser 
apreendida basicamente pelo que o paciente diz na associação livre (incluindo -
se aqui o relato dos sonhos), através da transferência e através da 
contratransferência. Em síntese, a interpretação deve abranger tudo que, de 
alguma maneira, o paciente mostra ao analista, tudo que faz parte de um convite 
que o paciente faz ao analista para que este conheça e participe do seu mundo 
interno, tal como o paciente o conhece e experimenta. 
As fantasias inconscientes devem ser interpretadas e trabalhadas no aqui 
e agora dentro da sessão e, sempre, as interpretações devem abranger a 
situação transferencial global: fantasias relacionadas ao analista, à análise, e ao 
setting. Ao interpretar, o analista deve procurar no material inconsciente as 
relações entre a experiência emocional do paciente e o movimento da sessão. 
Esta é a forma de interpretação considerada como a mais terapêutica. 
É a que Strache denominou "interpretação mutativa", a que tem condições 
de colocar o paciente em contato direto com uma fantasia que está em ação 
naquele instante, possibilitando assim conexões e insights que propiciam 
autêntica mudança psíquica. Mudanças nas fantasias inconscientes se 
relacionam com mudanças psíquicas e com o funcionamento global do paciente. 
A interpretação deve ser descritiva dos movimentos e da dinâmica interna do 
paciente. Então, sabemos que em seu mundo interno, a pessoa tem tudo: 
representação de si mesma, objetos, relações e conflitos causados pelos mais 
diversos estados e experiências emocionais. 
 
c) O mundo interno 
 
Mundo interno é uma descoberta essencial da psicanálise de Freud: a 
dimensão da realidade psíquica correlativa à existência consciente e consensual 
da realidade externa e, ao mesmo tempo, seu negativo e sua origem. Este é um 
 
 
 
 
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conceito que Melanie Klein toma diretamente de Freud e amplia de modo genial. 
Caper (1988)6 faz um estudo muito interessante sobre a constituição e a 
evolução do conceito de mundo interno, inicialmente em Freud e, depois, em 
Klein. Este autor usa como elemento condutor de investigação desta evolução 
conceitual a teoria da ansiedade em Freud (ansiedade como efeito e 
consequência da repressão da libido e posteriormente da ansiedade como sinal) 
e em Klein (ansiedade como efeito da pulsão de morte no ego), articulando a 
ansiedade com a formação das fantasias e com a identificação, e usa o caso do 
pequeno Hans como material ilustrativo. 
Segundo Klein, o mundo interno é um espaço povoado por objetos e 
carregado de pulsões, instintos, funções e relações. Com os objetos internos, 
totais ou parciais, o sujeito vive relações pessoais marcadas pelas identificações. 
É um lugar onde predomina a onipotência do pensamento mágico infanti l 
primitivo, o que lhe confere ora os mais deslumbrantes aspectos de magia, ora 
o mais intenso colorido de terror. É um lugar onde nada é caracterizado com 
nitidez e estabilidade, podendo objetos, impulsos e funções passar de um 
extremo a outro, do prazer mais intenso ao horror mais insuportável. 
O mundo interno da psicanálise kleiniana é um espaço, uma dimensão 
que, embora relacionada com as funções do id, do ego e do superego, não 
coincide com estas instâncias psíquicas, mas como que as supera e as contém. 
Nas etapas mais primitivas do desenvolvimento, o mundo interno é 
essencialmente corporal, com movimentos de fusão e de sincretismo com os 
objetos e até mesmo com partes do mundo externo. Com o desenvolvimento, vai 
se fazendo alguma diferenciação entre corpo próprio, objetos internos ou 
externos, mundo externo, eu e não eu, diferenciação esta que progressivamente 
se torna mais nítida. 
Aqui, cabe lembrar a diferença existente entre Freud e Klein em relação 
às pulsões e como estas são consideradas no processo psicanalítico. Para 
Freud, as pulsões são sempre inconscientes, podendo ser representadas por 
 
 
 
 
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ideias inconscientes ou serem manifestadas através de um estado afetivo. Em 
relação a este estado, quando se fala de "emoções inconscientes", fala-se das 
vicissitudes do fator quantitativo associado ao impulso, como resultado da 
repressão. Em seu texto sobre o inconsciente, Freud diz que "idéias 
inconscientes continuam a existir depois da repressão como estruturas vigentes 
no sistema Ics, enquanto tudo que corresponde neste sistema aos afetos 
inconscientes é um começo potencial que fica impedido de desenvolver-se". 
Melanie Klein não admitia a possibilidade de serem consideradas as 
pulsões dissociadas de um objeto. Ao longo de toda a sua obra, ela nunca se 
refere às pulsões como tendo vida e atividade isoladas de um objeto ao qual se 
dirigem. Segundo Klein, a pulsão atua sobre o objeto, criando, assim,tanto uma 
relação com este objeto como uma experiência emocional inconsciente. Isto tem 
uma consequência importante, tanto teórica como clínica: ao não colocar a 
pulsão como foco primordial de seu interesse, ela toma a experiência emocional 
como elemento privilegiado do trabalho psicanalítico, atribuindo à ansiedade um 
papel preponderante na estruturação da vida psíquica do indivíduo. 
Daí, surgem algumas diferenças fundamentais entre os dois sistemas, o 
freudiano e o kleiniano: para Freud, a emoção é uma derivação da atividade 
pulsional, constituindo-se como uma vivência consciente, isto é, um elemento 
indicador da presença de um conflito pulsional inconsciente. Para Klein a 
emoção é a base da vida mental, aquilo que lhe dá significado e que existe tanto 
no consciente como no inconsciente. 
 
d) Transferência e contratransferência 
 
Freud conceitua a transferência como o processo por meio do qual certas 
relações e acontecimentos do passado, junto com seus componentes afetivos, 
são repetidos (ou reeditados) na relação com o analista, sob a influência do 
 
 
 
 
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princípio da compulsão à repetição. No caso Dora (1905) Freud já define e 
caracteriza o fenômeno transferencial em seus componentes essenciais8. 
Melanie Kelin considera a transferência como o resultado da 
externalização de relações internas de objeto sob a pressão exercida pela 
ansiedade e cujas origens remontam aos mesmos processos que, no passado, 
promoveram as primeiras relações objetais, ou seja, introjeção e projeção, cisão, 
identificação projetiva, idealização, etc. 
Para os analistas kleinianos o essencial na transferência não reside na 
relação entre passado e presente, mas sim na relação existente entre mundo 
interno e mundo externo. Daí, pode ser inferido que as relações com as figuras 
parentais reais já contêm elementos de uma transferência porque a criança não 
se relaciona nem reage aos pais reais tal qual eles são e como existem, mas sua 
percepção deles já está colorida e marcada por suas introjeções e projeções. 
Assim, o que está em jogo na transferência não são as imagos dos pais (ou de 
quaisquer objetos) como representações de lembranças e de vivências reais 
acontecidas no passado. 
Melanie Klein (1952) afirma que "minha concepção de transferência como 
algo enraizado nos estágios iniciais do desenvolvimento e nas camadas mais 
profundas do inconsciente é muito mais ampla, envolvendo uma técnica através 
da qual, a partir da totalidade do material apresentado, são deduzidos os 
elementos inconscientes da transferência. Por exemplo, relatos de pacientes 
sobre suas vidas, relações e atividades cotidianas não só nos oferecem uma 
compreensão do funcionamento do ego, mas revelam igualmente as defesas 
contra a ansiedade suscitadas na situação de transferência, caso exploremos 
seu conteúdo inconsciente. 
O paciente está fadado a lidar com conflitos e ansiedades, revividos na 
relação com o analista, empregando os mesmos métodos a que recorreu no 
passado. Isto quer dizer que ele se afasta do analista como tentou se afastar de 
seus objetos primários; tenta cindir a relação com eles, mantendo-os como 
 
 
 
 
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figuras boas ou más; deflete alguns dos sentimentos e atitudes vividos em 
relação ao analista para outras pessoas em sua vida cotidiana, e isto é parte da 
situação". 
A partir da conceituação inicial de Melanie Klein, a psicanálise kleiniana 
vê a transferência como uma situação total e não só o que aparece no material 
verbalizado na sessão, relacionando-se a conflitos, sentimentos relativos a 
situações repetidas, etc. A partir de Klein, a transferência é sempre vista como 
dirigida ao analista, que deve então interpretar a e na transferência, mostrando 
que o que aparece na análise é a realidade do mundo interno emergindo, se 
expressando e sendo experimentada naquele momento. 
Esta é a questão mais básica e essencial da análise kleiniana: a 
perenidade e a dimensão ampla da experiência emocional como material 
primordial e contínuo do trabalho da análise. Assim, além do material falado, há 
o material não verbal (gestos, mímica facial, movimentos). Enfim, tudo que, de 
alguma maneira, o paciente mostra ao analista. Somente assim o analista poderá 
perceber e sentir o mundo interno do paciente, como ele funciona, e como se 
dão as relações entre o paciente (seu ego), seus objetos e também as relações 
dos objetos entre si. É esta visão de conjunto que dá à transferência uma 
concepção dinâmica de movimento ininterrupto, do mesmo modo como se dá a 
emergência e o funcionamento das fantasias. 
Freud descreve a contratransferência como o resultado de aspectos do 
analista que interferem na análise. Esta concepção tem uma conotação negativa, 
de entrave ou de impedimento para o andamento da análise. O exemplo clássico 
desta visão é o caso da reação de Breuer a Anna O., analisada posteriormente 
por Freud que identificou a transferência amorosa da paciente e a reação não 
elaborada e atuada do analista a ela10. 
Aos poucos, vários autores ampliaram o conceito de contratransferência, 
que cresceu, se expandiu e passou a abarcar outras coisas. Paula Heimann 
(1950) foi a primeira psicanalista a apresentar esta nova visão em um congresso 
 
 
 
 
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internacional da IPA, causando surpresa e até mesmo reações violentas de 
analistas conservadores. Heimann abriu um caminho de investigação que foi 
percorrido por vários analistas que trouxeram contribuições importantíssimas 
para este conceito. 
Contratransferência passou a ser considerado como tudo o que o analista 
vive e experimenta em sua relação com o paciente. Em determinado ponto de 
seu artigo, Heimann diz: "Do ponto de vista que estou ressaltando, a 
contratransferência do analista não é somente parte integrante da relação 
analítica, mas é criada pelo paciente, é parte da personalidade do paciente". A 
pergunta fundamental é: como usar isto? Se o analista experimenta algo, é 
porque algo do paciente o atingiu. Se o analista é capaz de perceber o que ele 
experimenta e se é capaz de compreender o que viveu, separar o que é dele do 
que é do paciente ou até mesmo do que não é dele, ele passa a ter uma visão 
de alguma coisa do paciente espelhada por sua própria introspecção. Algo como 
se acontecesse uma visão em duas direções, servindo para detectar aspectos 
internos que se passam na relação e que causam impacto no analista. O uso da 
contratransferência é muito importante, devendo o analista ser capaz de utilizar 
o que ele experimenta e não apenas dizer ao paciente o que ele percebeu e 
identificou. 
 
e) Identificação projetiva e a função de continência do analista 
 
Devido às limitações do tempo e para encerrar, penso ser importante dizer 
algo sobre estes dois tópicos, importantíssimos na dinâmica da psicanálise 
kleiniana de nossos dias. Os principais desenvolvimentos sobre a identificação 
projetiva, a função do pensamento e a função continente do analista devem-se 
a Wilfred Bion, que foi discípulo de Melanie Klein. Graças a suas ideias e 
formulações originais, Bion tornou-se a maior referência para grande número de 
analistas kleinianos contemporâneos. Pode-se dizer que os chamados 
 
 
 
 
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"bionianos" formam um grupo bem definido e caracterizado dentro da psicanálise 
kleiniana hoje. De novo, repete-se a coisa dos nomes: se antes havia a questão 
sobre ser "freudiano" ou "kleiniano", hoje agrega-se a questão de ser "bioniano" 
como um "kleiniano" que tecnicamente trabalha primordialmente utilizando as 
ideias de Bion. 
Em seu artigo "Attacks on linking" (1959), Bion introduz e começa a 
desenvolver seu modelo de identificação projetiva como meio de comunicação 
na relação de alguém (bebê ou paciente) com um objeto do tiporecipiente, que 
ele denomina continente. A situação é descrita em termos de uma relação entre 
conteúdo e continente, ou em uma terminologia mais atual, entre continente e 
contido. Enquanto continente, o analista deve exercer ativamente uma função de 
receber, processar, elaborar e devolver aquilo que o paciente projeta para dentro 
de sua mente. O mecanismo psicodinâmico deste modelo de relação é a 
identificação projetiva e, historicamente, ele se baseia na relação mãe-bebê. 
Dizendo em outras palavras, a relação da dupla analítica repete a relação 
primitiva do bebê com sua mãe, na qual a forma de comunicação era 
essencialmente pré-verbal. 
Bion criou uma expressão para designar a função materna que atua 
dentro desta relação: a "capacidade de revêrie". Esta função pode ser 
compreendida como a capacidade da mãe de, recebendo os conteúdos 
emocionais do bebê com toda sua carga de ansiedade associada, relacioná-los 
à sua própria capacidade de processar este conteúdo, inicialmente intolerável 
(por isto mesmo excindido e projetado pelo bebê), por meio da função do 
pensamento. Depois disto, a mãe deve dar uma devolução adequada e aceitável 
que possa ser reintrojetada pelo bebê sem causar ansiedade insuportável, 
vivência catastrófica de horror ou de aniquilamento dentro dele. 
Ao introduzir este modelo, Bion nos mostra a enorme importância do 
ambiente representado pela mãe para a sobrevivência psíquica e para o 
posterior desenvolvimento da criança. É através da experiência repetida das 
 
 
 
 
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constantes projeções de seus conteúdos para dentro da mãe, seguida pela 
elaboração e transformação da experiência emocional inicialmente insuportável 
em outra experiência mais assimilável, que o bebê vai constituindo um núcleo do 
objeto bom que, por seu turno, vai constituir o núcleo de base de um ego 
integrado. Fica claro, a partir destas ideias, que a função analítica se torna 
essencialmente algo da ordem da função de conter. Para Bion, a função de 
conter é algo ativo, uma capacidade de transformar, por meio da função do 
pensamento, experiências emocionais inicialmente insuportáveis em 
experiências assimiláveis, pois a transformação lhes confere uma significação 
mutativa. 
O instrumento que permite ao analista o exercício da continência é a 
interpretação. Transformando-se num objeto continente por meio de sua 
capacidade de interpretar, que dá um significado às experiências emocionais do 
paciente, o analista, na análise, se torna o núcleo do objeto bom introjetado. Na 
condição de objeto pensante e capaz de transformar a experiência emocional do 
paciente, o analista torna-se então desejável para o paciente. Sua presença é 
sentida como importante e necessária, como facilitadora dos processos de 
mudança psíquica autêntica. Se não existe uma constância e um ritmo intensivo 
no trabalho analítico, o analista é vivido como objeto ausente, experimentado 
como atacado, danificado, morto e perdido. Dizendo de outra forma, pela 
identificação projetiva, o objeto ausente é transformado num objeto mau, 
representado internamente como abandonando a criança (ou o paciente). Como 
se trata de um processo dinâmico, uma infinidade de combinações é possível 
nestas experiências emocionais. 
Em um de seus últimos trabalhos, que foi publicado depois de sua morte 
em 22 de setembro de 1960, "Sobre a saúde mental" (1960), Melanie Klein faz 
uma revisão de suas ideias sobre o desenvolvimento da personalidade e suas 
vicissitudes. Revê os mecanismos mais básicos do desenvolvimento da criança, 
fala da importância inicial da mãe e dos objetos e, no último parágrafo do texto, 
 
 
 
 
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ela trata do que chama de impulso à integração. Klein diz que este impulso se 
origina de um sentimento de que as diferentes partes do self são distantes e 
estranhas umas às outras. Também faz parte dele "o conhecimento inconsciente 
de que o ódio só pode ser mitigado pelo amor e se os dois sentimentos forem 
mantidos separados, esta mitigação não pode se dar. Klein diz que todo 
processo de mudança e de integração implica numa experiência de dor, pois a 
excisão do ódio, da destrutividade e suas consequências acarreta sentimentos 
de angústia e sofrimento. Ela diz ainda que, numa pessoa normal, mesmo 
quando há alguma oscilação entre os efeitos causados por experiências 
perturbadoras, internas ou externas, o impulso à integração entra em ação, 
conduzindo-a de volta ao equilíbrio. É tudo muito dinâmico e não existe a 
integração completa, mas quanto mais o indivíduo se esforça nesta direção, mais 
insight ele terá sobre seus impulsos e sobre suas ansiedades, mais forte será o 
seu caráter e maior seu equilíbrio mental. 
A psicanálise kleiniana tem como objetivo proporcionar aos analisandos 
um meio de obtenção de mudança psíquica. Somente através do trabalho 
reiterado das fantasias inconscientes, do vivido transferencial e da redução das 
dissociações internas com a consequente integração do ego e melhor 
capacidade para lidar com a realidade, torna-se possível um ganho de qualidade 
no viver, nas relações com as pessoas, no trabalho e na criatividade. Em outras 
palavras, a análise visa proporcionar o predomínio de Eros sobre Tânatos. Isto 
é crescimento pessoal e só pode ser conseguido com muito trabalho e não sem 
sofrimento. Porque na vida nada é de graça. 
 
A Escola dos Teóricos das Relações Objetais 
 
A Escola dos Teóricos das Relações Objetais, com Melanie Klein, como 
um dos seus maiores representantes, transforma-se no berço de uma nova visão 
da práxis psicanalítica, ao desenvolver formas diferentes de interpretação dos 
 
 
 
 
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conceitos enunciados por Freud, abrindo espaço para a formulação de novas 
propostas de trabalho. Neste contexto, a escola kleiniana valoriza fortemente, a 
existência de um ego primitivo, já desde o nascimento, a fim de que este 
mobilizasse defesas arcaicas – dissociações, projeções, negação onipotente, 
idealização, etc. 
Tudo isso, para contra restar as terríveis ansiedades primitivas advindas 
da inata pulsão de morte, isto é, da inveja primária, com as respectivas fantasias 
inconscientes. M. Klein conservou o complexo de Édipo como o eixo central da 
psicanálise, porém o fez recuar para os primórdios da vida, assim 
descaracterizando o enfoque triangular edípico, medular da obra freudiana. 
A observação dos adultos e o emprego da técnica psicanalítica a 
induziram a investigar os estágios iniciais do desenvolvimento infantil. O trabalho 
dela, tomando como base a teoria psicanalítica de Freud, foi criar a técnica de 
brincar com as crianças e, através do brinquedo, compreendê-las. 
Em 1919, ela escreve: “O Desenvolvimento de uma criança” sendo este o 
trabalho que a titulou como membro da Sociedade Psicanalítica da Hungria. De 
1920 a 1925 Melanie Klein fez análise com K. Abraham, a qual fora interrompida 
pela morte inesperada do analista. Nesse ano, Melanie Klein fora convidada por 
Ernest Jones para pronunciar algumas conferências em Londres, causando forte 
impacto e entusiasmo em muitos psicanalistas britânicos. 
Tal acontecimento a levou a fixar residência definitiva na Inglaterra, onde 
trabalhou como psicanalista pelo restante de sua vida. Freud desenvolveu sua 
teoria psicanalítica a partir da observação de adultos, enquanto Melanie Klein 
elabora seu pensamento através da observação de crianças. Conforme sua 
observação, postula que tanto o complexo de Édipo quanto o Superego estão 
estabelecidos em uma fase muito mais remota da vida do indivíduo do que se 
presumia até então. 
 
 
 
 
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Estudos posteriores contribuíram para o melhor entendimento do 
complexo de Édipo, posição depressiva e, finalmente, sobre a posição esquizo-
paranoide, o que tornou mais claras as ligações

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