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Poliartrite 1 🦴 Poliartrite O envolvimento de mais de quatro articulações é definido como poliartrite, presente em grande variedade de doenças inflamatórias e não inflamatórias Entre as doenças inflamatórias poliarticulares, a que mais chama atenção é a artrite reumatoide AR, caracterizada por poliartrite de pequenas articulações das mãos (interfalângicas proximais e metacarpofalângicas), punhos, pés (interfalângicas e metatarsofalângicas), tornozelos, joelhos e outras. Na maioria das vezes, o processo é crônico, bilateral, simétrico e fixo, evoluindo para deformidades articulares, como desvio ulnar, subluxação, dedo em pescoço de cisne e em botoeira. O diagnóstico se dá a partir de alguns critérios, dos quais rigidez matinal duradoura, artrite de três ou mais articulações, artrite fixa e artrite bilateral compreendem os dados clínicos mais importantes para essa Causas mais frequentes de poliartrite Poliartrite 2 definição. Além disso, a artrite deve ter duração de pelo menos 6 semanas. Outros critérios compreendem: nódulo subcutâneo, em aproximadamente 20% dos casos, com frequência associado ao fator reumatoide FR, podendo indicar um pior prognóstico da doença; FR, o critério laboratorial mais específico, positivo em cerca de 70% dos pacientes; Alterações radiográficas, como aumento de partes moles, diminuição do espaço articular de maneira simétrica, erosões justarticulares, osteoporose subcondral e outras alterações que dependerão da agressividade da doença (subluxação, luxação, anquilose etc.). Quatro desses critérios firmam o diagnóstico de AR, mas deve- se lembrar dos casos com envolvimento monoarticular e oligoarticular, que podem não somar critérios suficientes para o estabelecimento do diagnóstico. É importante saber que pacientes com diagnóstico estabelecido de AR, que desenvolvem um quadro de monoartrite intensa, desproporcional ao das outras articulações, devem sempre ser avaliados quanto à artrite infecciosa. Artrite reumatoide (AR) É uma doença sistêmica autoimune do tecido conjuntivo cujas alterações predominantes ocorrem nas estruturas articulares. periarticulares e tendíneas. Se manifesta por meio dos sinais cardinais de inflamação, principalmente, na membrana sinovial. É uma doença sistêmica e existe uma grande variedade de manifestações, variando desde desconforto que dura semanas até anos de profunda incapacidade. Epidemiologia Uma das doenças reumáticas mais frequentes, com prevalência de 1% no mundo. Acomete ambos os sexos, mas há predomínio na população feminina 31; Mais frequente na faixa dos 30 aos 50 anos, mas pode se iniciar em qualquer idade; Poliartrite 3 Por acometer pacientes na idade reprodutiva e determinar limitação funcional e laboral, os custos indiretos (como interrupção do trabalho) são elevados As DCV (doenças cardiovasculares) podem ser consideradas a principal causa de mortalidade na população com AR Etiopatogênese A AR é uma doença de patogênese complexa, com participação de faotres genéticos, hormonais e ambientais. O fator que desencadeia o processo inflamatório sinovial pode ser um antígeno (exógeno, endógeno ou combinação de ambos). A resposta autoimune na AR é constante com linfócitos T CD4 hiperestimulados que migram para a sinóvia e atraem e ativam macrófagos e linfócitos B. Ocorre produção desordenada de citocinas que contribuem com perpetuação do processo inflamatório e estimulam a proliferação das células sinoviais, levando a uma expansão progressiva do pannus. Além disso, o paciente apresenta uma ativação dos linfócitos B em plasmócitos, podendo produzir uma série de autoanticorpos. Um dos mais encontrados é o Fator Reumatoide FR e os Autoanticorpos contra peptídeos citrulinados. As quimiocinas atraem neutrófilos para o líquido sinovial. Antígeno → linfócitos TCD4 vão para sinóvia → ativam macrófagos e linfócitos B hiperprodução de citocinas → processo inflamatório → estimulação da produção de células sinoviais → expansão do pannus Poliartrite 4 Principais mediadores da inflamação sinovial crônica: citocinas interleucinas IL 1 e 17 e o fator de necrose tumoral alfa TNF-alfa) Principal predisponente genético: HLADRB1 Resultados histopatológicos: destruição da cartilagem articular e a erosão óssea mediadas por fibroblastos, condrócitos e osteoclastos Resultados clínicos: deformidades e incapacidade funcional O FR (que pode ser de qualquer classe de imunoglobulina) promove a ativação do complemento por meio da formação de imunocomplexos estimulando a inflamação e a sinovite crônica. Poliartrite 5 Embora não seja específico para AR, o FR simultâneo ao anti-CCP constitui forte preditor para o desenvolvimento de AR. A sinovite Pode ser caracterizada por 3 fases � Fase de exsudação → congestão e edema acentuados na superfície interna da membrana sinovial; sua contrapartida é a formação de derrame no espaço articular. � Fase de infiltração celular → a célula predominante é o linfócito T CD4 � Formação de tecido de granulação → membrana sinovial hiperplasiada, com formação do tecido de granulação que recobre a cartilagem e o osso subcondral (pannus) Pannus → tecido invasivo composto por células que produzem grandes quantidades de enzimas destrutivas que progressivamente substitui a cartilagem hialina O novo tecido apresenta uma rica formação vascular (angiogênese) → fundamental para o desenvolvimento e a manutenção da fase crônica O resultado final é a anquilose fibrosa ou óssea. Poliartrite 6 Manifestações clínicas 1) Articulares e periarticulares A AR instala-se de maneira insidiosa e progressiva na maioria das ocasiões. Os sintomas iniciais podem ser articulares e/ou sistêmicos. Sintomas iniciais: astenia, fadiga, mal-estar, febre baixa ou dores musculoesqueléticas vagas (antes do início das queixas articulares) ou poliartrite aditiva, simétrica, associada a edema e rigidez articular. Articulações mais acometidas na enfermidade precoce: MCF (metacarpofalângicas) e IFP (interfalângicas proximais) das mãos, interfalângicas dos polegares, os punhos, as articulações metatarsofalângicas MTF, ombros e joelhos. A intensidade da dor depende da fase evolutiva da doença Dor: de ritmo inflamatório (pior pela manhã e à noite) e, em geral, o paciente se queixa de rigidez articular ao se levantar pela manhã e após períodos de imobilização prolongada. Poucas doenças reumáticas inflamatórias tem rigidez matinal superior a 60min, como na AR Alterações locais de inflamação articular: � Calor � Edema (com ou sem efusão- derrame articular) Rubor (geralmente leve) � Limitação dos movimentos articulares Em mãos e punhos pode-se observar tumefação das articulações MCF 2a e 3a) e tumefação dos punhos. Essas manifestações se associam com hipotrofia dos músculos interósseos do dorso das mãos →mãos em dorso de camelo. Mão reumatoide: semiflexão dos punhos, com saliência da ulna e o desvio ulnar dos dedos, ligado a um afrouxamento dos meios de contenção das articulações MCF Poliartrite 7 Joelhos Acometidos precocemente e quase sempre apresentam efusões articulares de intensidade variável. A artrite ativa e persistente dessas articulações podem levar a deformidades em valgo ou varo. Coluna vertebral Na maioria das vezes, é limitado à coluna cervical (principalmente na porção superior). Pode haver envolvimento da articulação sinovial entre o ligamento transverso do Atlas C1 e o aspectoposterior do processo odontoide de C2. Coxofemorais Raro na AR. A artrite dessa articulação tende a levar a uma atitude de semiflexão e adução → muito incapacitante para marcha, relação sexual e para o parto. Deformidades vistas na AR � Dedos em fuso → secundários à tumefação das articulações IFP � Dedos em pescoço de cisne → hiperextensão das IFP e flexão das IFD � Dedos em botoeira → flexãodas IFP e hiperextensão das IFD � Dedos em martelo → formados pela flexão permanente das IFD Mão reumatoide mostrando dedos em fuso, tumefação da segunda e da terceira articulação metacarpofalângica e hipotrofia de músculos interósseos dorsais. Poliartrite 8 A sinovite das articulações subtalar e talonavicular causa dor e rigidez → à medida que ocorre a perda da cartilagem e erosão óssea aparece a deformidade em valgo com progressivo achatamento do arco plantar longitudinal Paciente com artrite reumatoide apresentando aumento de volume dos joelhos, hipotrofia dos quadríceps e desvio em valgo. Mão reumatoide mostrando dedos em pescoço de cisne, polegar em Z e desvio ulnar dos dedos Poliartrite 9 As manifestações periarticulares são resultantes da extensão do processo inflamatório articular para outras estruturas do tecido conjuntivo. Como consequência, podem ocorrer: Tenossinovite estenosante estilorradial Tenossinovite estenosante dos flexores dos dedos das mãos (ˮmãos em gatilhoˮ) Síndrome do túnel do carpo Ruptura dos tendões extensores nas mãos → impotência na extensão dos dedos Bursites e cistos sinoviais AR com padrão palindrômico → artrite mono ou oligoarticular e o início dos sintomas é súbito, de forte intensidade e acompanhado por calor, edema e rubor. 2) Extra-articulares e sistêmicas No início da enfermidade são encontrados sinais, como: astenia, hiporexia, ansiedade, mialgia e emagrecimento leve. Pode haver linfadenopatia e febre baixa a moderada. AR é frequentemente associada a anemia de doença crônica. A pele pode ser modificada por hipotrofias, eritemas, alterações secundárias e vasculites e, com menos frequência, fenômeno de Raynaud, além disso, as unhas podem se tornar quebradiças. Nódulos reumatoides (NR) subcutâneo Mão reumatoide mostrando semiflexão e tumefação do punho com saliência da cabeça da ulna e hipotrofia da musculatura interóssea Poliartrite 10 É a manifestação extra-articular mais frequente 20 a 40%. Os NR são firmes, não dolorosos e móveis no tecido subcutâneo. A maioria deles são encontrados em proeminências ósseas, superfícies extensoras, áreas submetidas à pressão ou adjacentes a articulações. Os NR apresentam-se como reação granulomatosa não caseasa em paliçada. Vasculite reumatoide (VR) Complicação temida da doença e sua expressão clínica é de natureza proteiforme. Costuma estar relacionada à AR grave, ativa e com anos de evolução. Afeta, sobretudo, vasos sanguíneos de pequeno e médio calibre. Afeta mais o sexo masculino, tabagistas e imunossuprimidos. Manifestações oculares Ceratoconjutivite seca é a manifestaçaõ ocular mais frequente na AR (doença multifatorial que reduz a produção e altera a composição das lágrimas e inflama a superfície ocular). Outras: escleriste, episclerite, ceratite em faixa, paralisia transitórias do nervo oculomotor… Nódulo reumatoide em superfície extensora de cotovelo, na região lombar e na parede lateral do tórax. Poliartrite 11 Eventos cardiovasculares Ocorrem com maior frequência nos pacientes com AR. É fator de risco independente e significativo para a doença arterial coronariana DAC. A causa da aterosclerose precoce e acelerada não está completamente elucidada. Manifestações pulmonares Doença das vias aéreas: comum na AR, pode ser a manifestação pulmonar mais frequente. Síndrome de Caplan → rápido desenvolvimento de múltiplos nódulos pulmonares. 3) Laboratoriais As alterações carecem de especificidade. Hemograma: anemia moderada, normocítica e hipocrômica ou normocrômica Marcadores inflamatórios: VHS e PCR Fator reumatoide: positivo em 7080% dos pacientes com AR e é constituído por autoanticorpos de diferentes classes de imunoglobulinas. A negatividade de FR não exclui AR. Níveis mais elevados associam-se a doença agressiva, presença de nódulos reumatoides e manifestações extra-articulares Anticorpos mais específicos para AR são os ACPA A presença de anticorpos anti-CPP tem correlação com evolução mais grave da AR 4) Exames de imagem Cada mão e pé deve ser radiografado individualmente em posição posteroanterior. As alterações à radiografia convencional na AR repetem as Poliartrite 12 características do acometimento simétrico das articulações sinoviais. Esqueleto axial: acometimento cervical (atlas-áxis) é o mais frequente. A coluna toracolombar e as articulações sacroilíacas são raramente acometidas. Manifestações radiográficas na AR � Simetria: importante critério diagnóstico; � Osteopenia: alteração característica e precoce; � Aumento das partes moles: acometimento periarticular ou efusões intra- articulares; precoce. � Redução do espaço articular: pela destruição progressiva da cartilagem articular; � Erosões ósseas: destruição da cartilagem articular; casos mais avançados da doença; � Cistos ósseos: áreas translúcidas subcondrais; invasão sa cartilagem e do osso pelo pannus; � Deformidades e instabilidades: lesões tendíneas (frouxidão e rupturas); Poliartrite 13 Sistema de Larsen → mais global, aplicado também para grandes articulações e se baseia na presença de erosão óssea; Sistema de Sharp → soma total do escore em mãos e pés, principalmente; mais sensível. Diagnóstico Basicamente clínico, não existindo exame complementar, seja laboratorial, de imagem ou histopatológico, que isoladamente possa confirmá-lo ou descartá- lo. Pode ser díficil diagnosticar no início da doença → alterações sorológicas e radiográficas ausentes Paciente típico: poliartrite de início recente, rigidez matinal e testes laboratoriais alterados (como elevado PCR e VHS inespecífico para AR Outras causas de artrite que devem ser consideradas: artrite reativa, osteoartrite, artrite psoriásica, artrite infecciosa ou outras condições Radiografia de mão reumatoide em incidência posteroanterior PA em que se observam: osteopenia periarticular; redução dos espaços articulares das articulações interfalângicas proximais, das metacarpofalângicas, dos ossos do carpo e da rticulação radiocarpal; erosão periarticular na segunda articulação metacarpofalângica, cistos ósseos na primeira, segunda e quarta articulações metacarpofalângicas. Poliartrite 14 autoimunes. American College of Rheumatology (ACR) Em 1987 a ACR elaborou critérios para a AR. Um paciente é considerado reumatoide se apresentar pelo menos 4/7 critérios. Os critérios de 1 a 4 devem estar presentes por um período mínimo de 6 semanas, e pacientes om 3 ou 2 critérios clínicos não são excluídos AR possível ou provável). Tendo em vista a menor sensibilidade para a doença precoce e a descoberta dos novos anticorpos anti-CPP, o ACR e a EULAR American League Against Rheumatism) desenvolveu, em 2010, novos critérios para classificação. Pontuação > ou igual a 6 é necessária para a classificação definitiva da doença de um paciente como AR Critérios de 2010 devem ser aplicados somente em indivíduos que apresentem pelo menos uma articulação com sinovite clínica definida (edema) que não seja mais bem explicada por outra doneça. Se o paciente apresentar histórica compatível com AR, mesmo que não documentada, e erosões radiográficas típicas, pode-se proceder Poliartrite 15 diretamente à classificação como AR, independente do preenchimento dos critérios. Acometimento articular: qualquer articulação dolorosa ou inchada Pequenas articulações: MCF, IFP, MTF, primeira interfalângica e punhos. Grandes articulações: ombros, cotovelos, coxofemorais, joelhos e tornozelos. Tratamento O objetivo principal do tratamento é a remissão ou a baixa atividade da doença. Com frequência consegue-se a regressão total da enfermidade por tempoindeterminado (ˮregressão espontâneaˮ); Características que são associadas a melhor prognóstico e, portanto, com maior probabilidade de alcançar a remissão com a utilização de medicamento modificador do curso da doença MMCD Doença com pequena atividade nos primeiros meses de evolução Poliartrite 16 Menor incapacidade inicial Baixos níveis de reagentes de fase aguda Ausência de FR e de ACPA Pouco ou nenhum dano articular ao estudo radiográfico inicial Tratamento precoce com uso de MMCD Poliartrite 17 Diagnóstico diferencial Antes de se concluir um diagnóstico de AR, deve-se excluir uma ampla gama de doenças que podem simular a enfermidade, por também cursarem com artrite. LES Doença que mais mimetiza AR. O acometimento articular e periarticular no LES pode levar a deformidades semelhantes às da AR, mas a radiologia das articulações envolvidas no LES não mostram as erosões vistas na AR. Espondiloartrites Comum o acometimento das articulações sacroilíacas e da coluna lombar, diferindo-se da AR, que raramente acomete essas articulações. Além disso, as espondiloatrites têm o acometimento articular assimétrico, preferência por grandes articulações e a presença de entesites. Reumatismo palindrômico Poliartrite 18 Caracterizado por artrite de uma ou várias articulações acometidas de modo sequencial (de algumas horas a dias), com período livre de sintomatologia. Muitos apresentam a mesma predisposição que a AR e têm anticorpos anti- CCP positivos. Entretanto, a artrite do reumatismo palindrômico não é deformante. Artrites sépticas Mono ou oligoarticular e a presença de acometimento sistêmico mais exuberantes auxiliam no diagnóstico, assim como as alterações no líquido sinovial. Infecções virais Sobretudo, a rubéola, a parvovirose e as hepatites B e C podem causar poliartrite aguda com duração variável. Devem ser diferenciadas pela história clínica e pela presença de rash cutâneo, de anticorpos antivirais IgM e pelo curso tipicamente autolimitado. Polimialgia reumática Ocorre em pacientes mais idosos e se caracteriza por dor e rigidez em cintura escapular, cintura pélvica e coluna cervical, podendo haver ou não acometimento de articulações periféricas. Artrite reativa Joelhos, tornozelos e articulações MTF são mais frequentemente acometidas, sendo as articulações de mãos e punhos mais raramente afetadas, diferindo- se da AR. Artrite psoriásica Além das típicas lesões de pele e unhas, o acometimento de IFD e sacroilíacas, a presença de entesites e lesões de osteoproliferação caracterizam a artrite psoriásica. Artropatia por cristais Apresentam episódios recorrentes autolimitados de inchaço agudo das articulações. Das artrites microcristalinas, a condrocalcinose é a que mais simula AR, principalmente em pacientes mais idosos. A presença de calcificações articulares nas radiografias auxiliam no dd. Poliartrite 19 Morgana Rodrigues Duarte- TXI
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