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Fundamentos das ciências sociais Aula 3 - A análise antropológica da cultura INTRODUÇÃO Fulano não tem cultura! Sicrano é muito culto! O governo não investe em cultura! Acima temos exemplos da maneira que utilizamos a palavra cultura no nosso dia a dia, enquanto instrução, saber, estudo. Mas esta é apenas uma maneira de utilizar a palavra cultura. Portanto, o objeto de investigação da Antropologia constitui-se nos "usos e abusos" do conceito de cultura e suas implicações na vida social. Compreender estes "usos e abusos" é o objetivo desta aula. OBJETIVOS Explicar o conceito de cultura como objeto de estudo privilegiado da análise antropológica. Analisar a cultura como elemento condicionador da visão de mundo. Descrever as práticas antropológicas utilizadas para categorizar comportamentos culturais. Demonstrar a importância do princípio de relativismo cultural, em contraposição ao etnocentrismo. Vamos iniciar nossos estudos com uma re�exão: O que é cultura pra você? Resposta Correta Assista ao vídeo “O que é cultura?” VÍDEO DIVERSIDADE CULTURAL Lembra que na aula 1 tratamos brevemente sobre diversidade cultural? Agora, iremos explorar um pouco mais esse conceito. Primeiramente vamos relembrar o seu signi�cado: desde sempre os homens se preocuparam em entender por que outros homens possuíam hábitos alimentares, formas de se vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de "diversidade cultural". Foi a partir da descoberta do “Novo Mundo”, nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes. É fundamental termos em mente que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus também se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e tomando posse de seu território. Infelizmente não temos muitos relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos brancos. Existem relatos esparsos, como o de povos que, após a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles. Fonte: SantiPhotoSS / Shutterstock, Filipe Frazao / Shutterstock, India Picture / Shutterstock e Zurijeta / Shutterstock O OLHAR EUROCÊNTRICO SOBRE A CULTURA De onde surge a preocupação com o tema da cultura? Vamos posicionar nosso olhar. Toda construção cientí�ca nasce na Europa. A re�exão teórico-cientí�ca sobre a humanidade se iniciou neste ambiente e nesta perspectiva. Logo, a noção de ser humano de referência para todas as Ciências Humanas e Sociais é a do homem europeu e da sociedade europeia. No entanto, a partir dos esforços de conquista de outros continentes, os europeus “encontraram-se” com “seres” diferentes o su�ciente para causarem estranhamento, mas “parecidos” o su�ciente para produzirem o seguinte incômodo: serão estes seres “humanos”? A relação com agrupamentos humanos de localidades até então desconhecidas como as que hoje denominamos África, América, Austrália, �zeram com que os europeus se questionassem sobre as características peculiares ao humano e as razões de tanta diferença entre os componentes de uma mesma espécie. O movimento pré-cientí�co, que domina o campo da diversidade cultural até o século XVIII, é aquele que oscilava entre conceber o “diferente” ora como humano, ora como não humano, provido ou desprovido de alma, bom ou mau selvagem, etc. Na ótica dos europeus, estes “maus selvagens” eram vistos como perigosos, mais próximos aos animais, brutos, imbuídos de uma sexualidade descontrolada, primitivos, com uma inteligência restrita, iludidos pela magia, en�m, seres limitados que precisavam ser “civilizados” pela cultura europeia. Veja, a seguir, o trailer do �lme "Hans Staden", sobre um imigrante alemão que naufragou no litoral de Santa Catarina, sendo encontrado por índios Tupinambás, que o prendem com o intuito de matá-lo e devorá-lo. Ele então precisa arranjar meios para convencer os índios a não devorá-lo e permanecer vivo: VÍDEO ALTERIDADE Observe a charge. Em seguida responda: Você sabe o que signi�ca o termo "alteridade"? Fonte: SantiPhotoSS / Shutterstock, Filipe Frazao / Shutterstock, India Picture / Shutterstock e Zurijeta / Shutterstock Fonte: //sarauxyz.blogspot.com.br (glossário) Acessado em 16/05/2017 Resposta Correta A alteridade não é possível sem o etnocentrismo... Porém, a alteridade é também a condição fundamental para compreender o "outro", os outros grupos e a si mesmo. Por isso, a antropologia con�gura-se como a ciência da alteridade, pois busca a compreensão do "outro" em seu contexto cultural, para então elaborar teorias que possam ser úteis na compreensão não apenas daquele contexto, mas também de outros contextos culturais, inclusive o do próprio pesquisador. ANTROPOLOGIA DE GABINETE Entramos no século XIX. Os antropólogos estudam culturas "exóticas" buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver o mundo (cosmovisão). No entanto, eles não iam ao campo; não eram os antropólogos que experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos "selvagens". Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocadas para essas "tribos" e ali �cavam por um certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a �m de entregar este material aos antropólogos que aí sim analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada "antropologia de gabinete". ETNOCENTRISMO Segundo Everardo Rocha, em “O que é Etnocentrismo”, trata-se da “visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas de�nições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a di�culdade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.” Podemos observar essa ideia nas ilustrações a seguir: http://sarauxyz.blogspot.com.br/ O autor nos alerta ainda para a questão do choque cultural. Como ele a�rma, “de um lado conhecemos o "nosso" grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida signi�cados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um "outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro" também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe.”. Na sua opinião, o etnocentrismo é positivo ou negativo? E que benefícios a Antropologia pode trazer para esta visão? Resposta Correta Darcy Ribeiro (Montes Claros, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997) foi um antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no país. Fonte: Wikipedia. (glossário) RELATIVISMO CULTURAL É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do outro. Parte do pressuposto de que cada cultura se expressa de forma diferente. Dessa forma, trata-se de pregar que a atividade humana individual deve ser interpretada em contexto, nos termos da cultura em que está inserida. As palavras de uma das mais notáveis antropólogas conhecidas, a americana Margaret Mead, que no prefácio de Sexo e Temperamento a�rmou: "toda diferença é preciosa e precisa ser tratada com muito carinho". E como nos diz Roberto da Matta em seu artigo "Você tem cultura?“: “O conceito de cultura permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e con�gurações culturaiscomo entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e inferiores". Annasunny24 / Shutterstock Leia a tirinha abaixo: https://pt.wikipedia.org/wiki/Darcy_Ribeiro A partir do conhecimento adquirido nesta aula, responda se, de acordo com a história em quadrinhos protagonizada por Hagar e seu �lho Hamlet, a postura de Hagar é etnocêntrica ou relativista? Justi�que. Resposta Correta Saiba Mais , Assista ao vídeo da música "O Estrangeiro (https://www.youtube.com/watch?v=6i7r3wn8ICw)", de Caetano Veloso e acompanhe a letra (https://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/o-estrangeiro.html). Compare as visões etnocêntricas e relativistas observadas na canção. Glossário https://www.youtube.com/watch?v=6i7r3wn8ICw https://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/o-estrangeiro.html
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