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Concepções e práticas de leitura em sala de aula de História o que nos diz o trabalho colaborativo Andrielly Karolina Duarte Braz Crislane Barbosa Azevedo Concepções e práticas de leitura em sala de aula de História - o que nos diz o trabalho colaborativo Reitor José Daniel Diniz Melo Vice-Reitor Henio Ferreira de Miranda Diretoria Administrativa da EDUFRN Maria da Penha Casado Alves (Diretora) Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto) Bruno Francisco Xavier (Secretário) Conselho Editorial Maria da Penha Casado Alves (Presidente) Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Adriana Rosa Carvalho Alexandro Teixeira Gomes Elaine Cristina Gavioli Everton Rodrigues Barbosa Fabrício Germano Alves Francisco Wildson Confessor Gilberto Corso Gleydson Pinheiro Albano Gustavo Zampier dos Santos Lima Izabel Souza do Nascimento Josenildo Soares Bezerra Ligia Rejane Siqueira Garcia Lucélio Dantas de Aquino Marcelo de Sousa da Silva Márcia Maria de Cruz Castro Márcio Dias Pereira Martin Pablo Cammarota Nereida Soares Martins Roberval Edson Pinheiro de Lima Tatyana Mabel Nobre Barbosa Tercia Maria Souza de Moura Marques Secretária de Educação a Distância Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Secretária Adjunta de Educação a Distância Ione Rodrigues Diniz Morais Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Coordenadora de Revisão Aline Pinho Dias Coordenador Editorial Kaline Sampaio Gestão do Fluxo de Revisão Edineide Marques Gestão do Fluxo de Editoração Rosilene Paiva Conselho Técnico-Científico – SEDIS Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente) Aline de Pinho Dias – SEDIS André Morais Gurgel – CCSA Antônio de Pádua dos Santos – CS Célia Maria de Araújo – SEDIS Eugênia Maria Dantas – CCHLA Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS Isabel Dillmann Nunes – IMD Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ Jefferson Fernandes Alves – SEDIS José Querginaldo Bezerra – CCET Lilian Giotto Zaros – CB Marcos Aurélio Felipe – SEDIS Maria Cristina Leandro de Paiva – CE Maria da Penha Casado Alves – SEDIS Nedja Suely Fernandes – CCET Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS Sulemi Fabiano Campos – CCHLA Wicliffe de Andrade Costa – CCHLA Revisão Linguístico-textual Ana Paula da Motta Botelho Gadelha Revisão de ABNT Edineide da Silva Marques Revisão Tipográfica Ilana Lamas Diagramação Dickson Tavares Capa Saulo Ubarana Centro de Educação Diretor: Jefferson Fernandes Alves Vice-Diretora: Cynara Teixeira Ribeiro Programa de Pós-Graduação em Educação Coordenadora: Claudianny Amorim Noronha Vice-coordenadora: Luciane Terra dos Santos Garcia Comissão editorial responsável pela avaliação dos correspondentes à Chamada nº.03/2020 – PPGEd/ UFRN Adir Luiz Ferreira (UFRN) André Augusto Diniz Lira (ad hoc - UFCG) Carla Mary da Silva Oliveira (ad hoc - UFPb) Claudianny Amorim Noronha (UFRN) Cristiane Soares de Santana (ad hoc - UNESB) Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin (ad hoc - UFC) Gessica Fabiely Fonseca (UFRN) Giliard da Silva Prado (ad hoc – UFU) José Hélder Pinheiro Alves (ad hoc – UFCG) Laêda Bezerra Machado (ad hoc - UFPE) Marcilio De Souza Vieira (UFRN) Maria Aparecida de Queiroz (UFRN) Maria da Paz Cavalcante (ad hoc – UERN) Maria Ines Sucupira Stamatto (UFRN) Mariangela Momo (UFRN) Natália Conceição Silva Barros Cavalcanti (ad hoc – IFPa) Patrícia Ignácio (ad hoc - FURG) Rosa Aparecida Pinheiro (ad hoc - UFSCar) Rossana Carla Rameh de Albuquerque (ad hoc – FPS) Tatyana Mabel Nobre Barbosa (UFRN) Apoio Esta publicação contou com o financiamento do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a partir da Chamada 03/2020 – PPGEd, contemplada após análise pela Comissão Editorial do PPGEd. Também são apoiadores: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a Pro-Reitoria de Pós-Graduação (PPG/ UFRN) e a Secretaria de Educação a Distância (SEDIS/UFRN). Braz, Andrielly Karolina Duarte. Concepções e práticas de leitura em sala de aula de História – o que nos diz o trabalho colaborativo / Andrielly Karolina Duarte Braz e Crislane Barbosa Azevedo. – 1. ed. – Natal: EDUFRN, 2022. 231 p. : il., PDF ; 1,6Mb ISBN no 978-65-5569-210-5 1. História - Educação. 2. História - Leitura. 3. Ensino. I. Azevedo, Crislane Barbosa. II. Título. CDU Bc Catalogação da publicação na fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte Secretaria de Educação a Distância Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488. Fundada em 1962, a EDUFRN permanece dedicada à sua principal missão: produzir livros com qualidade editorial, a fim de promover o conhecimento gerado na Universidade, além de divulgar expressões culturais do Rio Grande do Norte. Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br Telefone: 84 3342 2221 Publicação financiada com recursos do Fundo de Pós-graduação (PPg-UFRN). A seleção da obra foi realizada pela Comissão de Pós-graduação, com decisão homologada pelo conselho Editorial da UDFRN, confrome Edital no 2/2019-PPG/EDUFRN/SEDIS, para a linha editorial Técnico-científica. Concepções e práticas de leitura em sala de aula de História - o que nos diz o trabalho colaborativo ANDRIELLY KAROLINA DUARTE BRAZ CRISLANE BARBOSA AZEVEDO Natal, 2022 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ............................................................................ 9 PREFÁCIO ...................................................................................... 15 CAPÍTULO 1 – A DESAFIANTE BUSCA PELA DEFINIÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA .................................................... 37 1.1 – ANTES DE TUDO É PRECISO QUESTIONAR: E A RESPONSABILIDADE DOS ALUNOS?........................................................... 41 1.2 – O APORTE TEÓRICO VISTO COMO ROTULAÇÃO: SEGUINDO TUDO E NADA AO MESMO TEMPO............................................................. 67 1.3 – A SECUNDARIZAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS.................................................................................................... 97 1.4 – AFINAL, OS ALUNOS APRENDEM?................................................... 105 CAPÍTULO 2 – A LEITURA PARA JOSÉ E SEUS ALUNOS ...........................................................................................................114 2.1 – A LEITURA COMO CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS.................... 115 2.2 – A FORMAÇÃO DO BOM LEITOR....................................................... 131 2.3 – MEUS ALUNOS NÃO LEEM!................................................................. 148 2.4 – A LEITURA PARA OS ALUNOS........................................................... 156 CAPÍTULO 3 – LENDO HISTÓRIA SE APRENDE HISTÓRIA: A MEDIAÇÃO DOCENTE NAS PRÁTICAS DE LEITURA EM SALA DE AULA ...........................................175 3.1 – O LIVRO DIDÁTICO E A LEITURA OBRIGATÓRIA NAS AULAS DE HISTÓRIA..................................................................................................... 176 3.2 – FORMANDO LEITORES PARA LER HISTORICAMENTE........... 196 CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................214 REFERÊNCIAS ............................................................................. 222 SOBRE AS AUTORAS ................................................................. 230 APRESENTAÇÃO Que ler é importante,isso ninguém duvida. Da mesma forma, não há quem discorde que é função das aulas de Língua Portuguesa proceder ao processo de alfabetização e letramento dos sujeitos. Mas, em se tratando do processo ensino-apren- dizagem em História, o que dizer a respeito? Foi a partir da identificação de problemas quanto à capa- cidade leitora dos alunos de Educação Básica bem como no contato com apreciações de professores de diferentes áreas acerca das dificuldades dos alunos com a leitura, sobretudo de textos escritos, que iniciamos nossas pesquisas com atenção às práticas de leitura em sala de aula de História. É patente que em sala de aula de História devemos levar os alunos a ler textos; interpretar vivências humanas; desenvolver pensamentos, reflexões e sínteses históricas, elementos de práticas investigativas capazes de dar ao aluno condições de leitura de mundo e, logo, de desenvolvimento pleno. Dessa forma é que, nesse trabalho, não perdemos de vista a com- preensão da formação integral dos alunos, cidadãos, leitores autônomos de diferentes fontes e linguagens. 10 Não é raro encontrarmos docentes com queixas e expli- cações para a ausência ou limitações de práticas de leitura entre os alunos e da associada falta de interesse em aprender História. Onde estaria a origem do problema? Na falta de acesso a uma formação leitora no espaço familiar? No desin- teresse pelos livros em função das novas tecnologias? Na insuficiência ou desatualização do acervo das escolas? Nas dificuldades de leitura decorrentes de fragilidades do processo de alfabetização? Ou estariam na ausência de conteúdos e práticas contextualizados em sala de aula? Na distância entre teoria e prática nas dinâmicas de aula dos atuais docentes? Na fragilidade da formação ou da disposição do professor? Na falta de reflexão sobre a própria prática profissional? Na insuficiente fundamentação teórica e metodológica das aulas? Essas e outras questões orientaram-nos no desenvol- vimento desse trabalho que, agora, segue em formato de livro. Neste, os leitores encontram tanto os resultados de uma investigação sobre práticas pedagógicas em História, com foco nas atividades de leitura quanto a análise de um processo de formação continuada orientado pela colaboração como princípio metodológico. Colaborar, como princípio investigativo, está para muito além da interpretação sobre determinada situação seguida da proposição de pretensas soluções. Exige a compreensão dos 11 fundamentos das práticas docentes tomando por base um mais aprofundado e possível processo de reflexão desenvolvido conjuntamente com os sujeitos cujas práticas são investigadas. Para muito além de pesquisar sobre o professor de História e suas práticas de leitura desenvolvidas junto aos seus alunos de Educação Básica, colaborar, aqui, significou pesquisar com o professor acerca de seus procedimentos docentes em sala de aula em turma de Ensino Médio de uma escola pública da rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte. Buscamos verificar, junto com o professor colaborador, como as concepções e práticas de leitura por ele coordenadas contribuíram para promover ou inibir o processo ensino- -aprendizagem em História. Assim, buscamos interpretar os princípios teóricos e metodológicos (historiográficos e pedagógicos) orientadores das práticas do professor, discutir as percepções sobre leitura para o docente e seus alunos e suas relações com as práticas de leitura desenvolvidas em meio às aulas de História e analisar aspectos da mediação docente nas práticas de leitura desenvolvidas em sala de aula. Pesquisar colaborativamente, como se pode ver nesta obra, é apostar na pesquisa como instrumentalizadora das práticas pedagógicas, é defender a autonomia docente calcada na capacidade de reflexividade do professor, é não renunciar à articulação entre teoria e prática, entre ensino e pesquisa, 12 entre formação continuada e ensino de qualidade. Poder divulgar o resultado da pesquisa, agora, em formato de livro e, assim, a um público leitor mais amplo é motivo de alegria. Nas páginas que se seguem, os leitores poderão compar- tilhar conosco o complexo processo de pesquisar colabo- rativamente. A colaboração, como princípio investigativo, é algo denso e que requer do pesquisador disponibilidade e disposição pelo grau de comprometimento que exige em termos científicos (teórico e metodológico), mas, também, pessoais, sociais, humanos e, até mesmo, físicos. Por isso, o processo é por vezes não só desafiante, mas, também, assus- tador, sem deixar de ser gratificante. Aprendemos a cuidar da linguagem, a lidar com a incompletude e a fortalecer nosso compromisso ético e político com as práticas de ensino de História e com a pesquisa em Educação. Ao analisar as propostas das práticas de leitura desen- volvidas no contexto da sala de aula de História, seja com o livro didático, seja com diferentes fontes históricas e tipos de linguagem, destacamos a potencialidade dos diálogos históricos possíveis por meio do ato de ler. Ao mesmo tempo afirmamos que, enquanto as práticas de leitura desenvolvidas nas aulas de História estiverem pautadas em imposições e atividades sem finalidades claras - desprezando as relações entre linguagem e a realidade dos alunos, desconsiderando 13 a apreensão de noções históricas e negligenciando o desen- volvimento das habilidades investigativas possíveis de serem desenvolvidas na leitura de textos históricos - as práticas permanecerão desfavorecendo a aprendizagem em História e esvaziadas de sentido e possibilidades de êxito. Apesar de focado na sala de aula de História, esse não é um trabalho que beneficia, apenas, os profissionais dessa área. Consideramos possível que todos aqueles envolvidos com a Educação podem muito aprender sobre: ser professor, o que é uma sala de aula de Educação Básica, a importância da forma- ção do leitor, o papel do referencial teórico e metodológico do professor para a coerência e sucesso das práticas pedagógicas, e, obviamente, a importância do processo reflexivo como elemento da formação continuada. O profissional da História, por sua vez, encontrará possi- bilidades de (re)pensar sobre o que faz com o processo ensi- no-aprendizagem que coordena diariamente junto a crianças, adolescentes, jovens e adultos a fim de que os conhecimentos trabalhados sejam, de fato, como pontos de partida para a promoção de interpretações, análises, reflexões e produção de sínteses de teor histórico. Gostaríamos de destacar nossa compreensão da escola como espaço de produção de reflexões e de saberes na qual se deve difundir uma cultura de análise das práticas docentes 14 pelos próprios profissionais do ensino. Essa premissa acom- panhou-nos durante toda a trajetória da pesquisa. Com essa observação, fechamos a apresentação dessa obra com refor- çando o convite para leitura. Esperamos que o leitor, ao nos acompanhar na leitura do livro, possa parar, pensar, problematizar nossas interpretações e ampliar as discussões sobre o tema, ao mesmo tempo em que possa aprofundar seu processo formativo no âmbito da docência e da pesquisa. As autoras. Natal (RN), outubro de 2019. PREFÁCIO SOMOS NATURALMENTE DOTADOS PARA LER? O QUE NOS DIZEM AS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS? Nossa capacidade de aprender a ler coloca um curioso enigma, que denomino o paradoxo da leitura: como pode ser que o nosso cérebro de homo sapiens pareça finamente adaptado à leitura, quando esta atividade inventada em todos os seus componentes, não existe senão há alguns milhares de anos? Dehaene (2012) O convite para prefaciar esse livro que trata da problemática do domínio da leitura e sua mediação no aprendizado de História instigou-me a refletir sobre o que seria relevante considerar. Nele as autoras discutem questões relativas às concepções de leitura, assim como as suas práticas, em particular, aquelas 16 desenvolvidas em processos de escolarização. Então,ao reto- mar aspectos referentes à própria evolução da linguagem em geral e a leitura, em particular, a questão posta por Dehaene (em “Os neurônios da leitura: como a ciência explica nossa capacidade de ler”) parece-nos pertinente. Estudos e pesquisas sobre a linguagem apontam o desen- volvimento da capacidade linguística, assim como a produção de ferramentas como os fatores essenciais para a evolução do ser humano. No que se refere à linguagem, seu surgimento tem sido objeto de hipóteses e teorias. Algumas teorias lhes atribuem origem divina, outras a consideram resultante da evolução animal, tendo como argumento a comunicação entre as outras espécies animais. Considerando (início do século XX) que as teorias vigentes não representavam uma satisfatória da psicologia humana, estudiosos soviéticos do materialismo histórico dialético (Vigotski, Luria, Leontiev) buscam os fundamentos teóricos de uma ciência psicológica que rompe com as concepções idealistas e mecanicistas e, assim, propõem que os fenôme- nos psicológicos sejam estudados, considerando-se, por um lado, os processos históricos e socioculturais e, por outro, a estrutura e funcionamento do cérebro e suas interações. Naquela época, Vigotski (1988) defendia o materialismo histórico-dialético como método a fim de descobrir a essência 17 dos fenômenos psíquicos, as leis que regulam sua essência, suas características, mudanças e transformações qualitativas e quantitativas, assim como, suas causas, além de formular categorias e conceitos relevantes que lhes dessem sustentação científica. Luria (1991), por sua vez, defendia que a linguagem humana se desenvolve a partir da necessidade prática de nossos ancestrais de transmitir aos outros as informações que garantissem a sua sobrevivência. No contexto da unidade dialética entre realidade, necessidade e casualidade, a passa- gem do apontar para o grito e deste para a fala constitui-se um marco considerável. Nesse sentido, destaca três mudanças essenciais provocadas no ser humano pelo desenvolvimento da linguagem: • Produção de imagens interiores; • Capacidade de abstração e generalização – a designa- ção de objetos e fatos com palavras possibilitou lidar com esses elementos sem a sua existência perceptível, apreender seus atributos essenciais e categorizá-los; • Meio de comunicação e de expressão do pensamento. Mudanças constatadas, também, pela neurociência, com- provam a contemporaneidade e validade dessas descobertas. Como assinala Changeux (2012, p. 10): 18 [...] o uso da linguagem falada fez progredir a conquista do homem sobre si mesmo e suas obras, propiciando- -lhe o acesso a um enriquecimento suplementar maior: tendo acesso ao domínio sonoro, foi possível categorizar e classificar designar e nomear, unir o som ao sentido, o significado ao significante. Isso acarretou mudanças significativas nas funções, processos e procedimentos psíquicos da espécie humana, uma vez que a linguagem passa a mediar toda a atividade do ser humano, inclusive, a atividade psíquica. Desse modo, a mediação da linguagem permite: • reorganizar os processos perceptivos, aprofundando e ampliando a percepção; • a atenção e a atividade mnemônica serem direcionadas conscientemente; • assegurar o emergir da imaginação e das formas mais complexas de pensamento (funções exclusivamente humanas); • elevar a afetividade além das emoções, dando origem aos sentimentos e estados de espíritos; • ocorrer as transformações que Vigotski (2001) deno- mina de superiores, ou seja, o uso consciente e volun- tário das funções mentais. 19 O exposto torna evidentes as interconexões entre o desen- volvimento da linguagem e o salto qualitativo que se efetivou na evolução do ser humano em relação aos demais seres vivos. A extrema compactação e as múltiplas propriedades da designação sonora facilitaram, com certeza, a articulação dos objetos de sentido no espaço consciente. Permitiram também a organização, sob a forma ritmada e imaginária, da poesia e, sob a forma lógica e racional, do conhecimento objetivo e, em seguida, da ciência (CHANGEUX, 2012, p. 10). Como podemos observar, por meio da linguagem, a forma de o ser humano compreender e interpretar o mundo se ampliou e se diversificou. Para isso ocorrer, fez-se necessário torná-la mais visível e transmissível, criando formas que fossem além da oralidade. Assim, o ser humano inventou a escrita permitindo a preservação do que é produzido e a superação da vulnerabilidade da memória e sobrevivência dos indivíduos. Se o desenvolvimento da oralidade permitiu avanços extraordinários no desenvolvimento humano, a linguagem escrita e a capacidade de decodificá-la e interpretá-la poten- cializa esse desenvolvimento. Porém, estudos atuais sobre o cérebro humano, particu- larmente, os de Dehaene (2012), demonstram que a evolução biológica não é suficiente para explicar a capacidade de ler. Como o próprio autor adverte (2012, p. 17): 20 Nosso genoma não teve tempo de se modificar para desen- volver os circuitos cerebrais próprios à leitura. Nosso cérebro de leitor se constrói, portanto, com a ajuda de instruções genéticas idênticas àquelas que, há dezenas de milhares de anos, permitiram a nossos ancestrais caça- dores-coletores subsistirem [...]. Essa comprovação genética, de certa forma, explica as dificuldades que as crianças apresentam no momento de aprender a ler. No entanto, é importante lembrar que as mudanças ocorridas no desenvolvimento evolutivo, em geral e, nas formas de linguagem, em particular, efetivaram-se via interação do ser humano com seu entorno e seus semelhantes. Esse processo de interação se encontra presente, também, na produção da linguagem escrita e no desenvolvimento da capacidade de aprender a ler. Segundo Dehaene (2012, p. 31), o olho humano é um captor imperfeito. Ele impõe sérios limites ao ato de ler. Reportando-se a esses limites o autor afirma: A estrutura do nosso captor visual nos obriga a percorrer as frases em sacada, deslocando o olhar a cada dois ou três décimos de segundos. A leitura não é senão uma sucessão de tomadas do texto, que é apreendido palavra por palavra. [...] enquanto o texto continuar apresentado em páginas e em linhas o que ocorre é que é a aquisição 21 pelo olhar que diminui a velocidade da leitura e constitui um limite incontornável. Como o próprio autor denomina, o olho é apenas um captor. Limita, mas não impede que os indivíduos aprendam a ler. Assim, ele sugere que, para compreender esse fenômeno, nos voltemos para o conhecimento das conexões neuronais ativadas no aprendizado da leitura, pois é no cérebro que o processo se efetiva, numa interconexão em que, via esse aprendizado, o cérebro se modifica ampliando suas conexões pela transposição neuronal na execução de atividades para as quais não haviam evoluído. No bojo dessa discussão é que a pertinência do trabalho das professoras ANDRIELLY KAROLINA BRAZ e CRISLANE AZEVEDO se torna evidente. Ao se confrontarem com a realidade, seja da forma como os professores se colocam em relação à leitura, seja das práticas que se efetivam nas escolas, suas ambiguidades, disfunções, contradições e constatarem como o sistema educacional bra- sileiro está em débito com milhares de crianças que não têm acesso à escolaridade, como também com aquelas que entram na escola e, após vários anos, dela se afastam sem o domínio de uma das capacidades imprescindível ao desenvolvimento do nosso cérebro – o ato de ler, procuraram novos meios de enfrentamento dessa problemática. 22 Como afirma Morin (1989, p. 62), “O ambiente não traz as informações, mas a condição de extração das informações; por isso mesmo cria as condições do conhecimento vivo”. Nessa direção as professoras Andrielly e Crislane enveredam por novos caminhos de pesquisa, como deixam explícito no seu próprio texto, sendo a preocupação central o professor como ser capaz de conhecer, produzir saberes,considerando suas subjetividades e experiências de vida. Nesse sentido, desenvolveram uma pesquisa respaldada na prática e metodologicamente na abordagem colaborativa crítico-reflexiva que dá vez e voz ao professor partícipe do estudo, desencadeando um processo que lhes oferece as con- dições para desenvolver a capacidade de refletir criticamente sobre sua função mediadora dos processos de aprendizagem. Assim, foi viabilizada a possibilidade de rever valores, concepções e práticas, assim como elaborar conhecimentos que superem a forma redutora do senso comum e a concepção dicotômica que impede a compreensão da unidade dialética entre a teoria e prática. A consistência das análises reflete a pertinência da meto- dologia que orienta o movimento da reflexão, uma vez que ocorre num contexto multiforme e complexo das trajetórias e ações dos sujeitos implicados. A elaboração de novos saberes foi tecida numa trama per- meada por conflitos e contradições, com sucessivas rupturas 23 ao longo do tempo, mediada por negociações, de posiciona- mentos recíprocos dos partícipes, num fluxo e refluxo na busca de práticas educativas mais efetivas. O exposto pelas autoras nesse livro, generosamente par- tilhado, caro leitor, poderá impulsionar formas renovadoras de compreensão da função do aprendizado da leitura pela possibilidade de ampliar suas reflexões referentes a práticas de ensino e aprendizagem que exigem a denegação da fragmen- tação relativista, a busca da universalidade sem a negação da diversidade e a unidade sem a perda da identidade. E, ainda, de esclarecer motivações do agir, de apreender a complexidade do cotidiano e os elementos que propiciam a inteligibilidade de práticas educativas particulares. Não poderíamos deixar de enfatizar a importância da obra no que se refere ao papel que poderá exercer na compreensão mais aprofundada acerca da educação, da escola e da função que poderá desempenhar seus atores, à medida que oferece a possibilidade de cada educador refletir sobre orientações epistemológicas e pedagógicas, avaliar e significar o seu fazer como mediador do desenvolvimento do ser humano em toda sua amplitude. Maria Salonilde Ferreira Professora Doutora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal, novembro de 2019. 24 Referências CHANGEAUX, Jean-Pierre. Prefácio. In: DEHAENE, Stanislas. Os Neurônios da Leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Trado: Leonor Scliar-Cabral; Porto Alegre: Penso, 2012. p. 10. DEHAENE, Stanislas. Os Neurônios da Leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Trado: Leonor Scliar-Cabral; Porto Alegre: Penso, 2012. LURIA, Alexander Romanovich. Curso de Psicologia Geral. Introdução Evolucionista à Psicologia. Trado: Paulo Bezerra; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. v. 1. MORIN, Edgar. O Método II: a vida da Vida. Trado: Maria Gabriela de Bragança; Portugal: Publicações Europa-América, 1989. VIGOTSKI, Lev Semenovich. A Construção do Pensamento e da Linguagem. Trado: Paulo Bezerra; São Paulo: Martins Fontes, 2001. VIGOTSKI, Lev Semenovich. Formação Social da Mente. Trado: José Cipolla Neto, et al; São Paulo: Martins Fontes, 1988. SOBRE PRÁTICAS DE LEITURA NA ESCOLA E O DESAFIO DE REFLETIR SOBRE ELAS A problemática que envolve as práticas de leitura desenvolvidas nos contextos escolares é ampla e complexa. Em meio aos baixos indicadores que atestam a fragilidade da formação leitora entre os estudantes brasileiros, encontramos, em nossas experiências de ensino e pesquisa, a validação desse discurso entre os professores que estão diariamente em contato com essa desafiante realidade. A LEITURA NA ESCOLA E SEUS DESAFIOS É comum ouvir dos nossos pares o quanto as dificuldades de leitura e interpretação prejudicam o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Nas pesquisas que realizamos e, atualmente, na vivência do espaço escolar como docente, percebemos que os motivos que dificultam o desenvolvimento da competência leitora entre os alunos são de naturezas diversas. 26 Pesquisando e lecionando em contextos de vulnerabilidade social, identificamos que um dos principais motivos, para os professores, fundamenta-se na inacessibilidade de uma forma- ção leitora no espaço familiar desses sujeitos. Sem acesso aos livros, famílias com baixos níveis de escolaridade, estudantes dividindo-se entre trabalho e escola, a realidade é a de um distanciamento cada vez maior entre eles e a cultura letrada. Outros motivos são elencados como dificultadores dessa aproximação: o desinteresse pelos livros em razão das novas tecnologias; o desinteresse pela escola e pelo estudo; a insufi- ciência de acervo e material adequado nas escolas para reali- zação de atividades e projetos de leitura; as lacunas geradas por um processo de alfabetização e letramento deficitários. Em meio a tantos desafios, constatamos entre os alunos um processo de desenvolvimento intelectual com dificuldades para expressar opiniões, organizar pensamentos de maneira significativa, argumentar e defender seus pontos de vista de maneira crítica, dialogar e analisar diferentes tipos de linguagem, apreender um universo vocabular mais amplo. Diante desse cenário e em meio aos fatores que afligem e parecem fugir do controle dos professores, consideramos que a escola segue atuando como principal meio de inserção à cultura letrada e é para muitos alunos o principal, se não o único, espaço de aproximação com práticas sistematizadas 27 de leitura. Dessa forma, defendemos que as instituições de ensino cumpram seu papel social e se estabeleçam como eficientes mediadoras na formação de leitores críticos, já que compreendemos a leitura como instrumento de inserção e participação social. A problemática brevemente descrita afeta todas as áreas de conhecimento e é responsabilidade de todas elas proble- matizá-la e constituírem-se como vias de superação. Muitas análises e reflexões tecidas aqui privilegiarão a nossa área de formação e atuação – História –, mas não deixam de ser pertinentes para pensar o problema das práticas de leitura desenvolvidas nas outras disciplinas escolares. A leitura exerce um papel relevante para o desenvolvi- mento do conhecimento histórico. Como lembra Audigier apud Ainserberg (2005, p. 2): A compreensão da História depende da capacidade do indivíduo de entrar no texto, ou por intermédio do texto, no mundo das experiências, das ações, das motivações, das causas ou das consequências das quais fala o texto. Uma das dificuldades do ensino de História reside em que é preciso, em um mesmo movimento, introduzir esses mundos e fazer com que os alunos os construam em seu pensamento. 28 Assim, a leitura constitui-se como um eficiente meio para ensinar determinados conteúdos e desenvolver habilidades e competências necessárias à aprendizagem em História. Por intermédio da leitura, o diálogo histórico – muitas vezes considerado abstrato demais para os alunos, em razão das distâncias espaciais e temporais – torna-se mais viável na medida em que possibilita desenvolver habilidades inves- tigativas, incentivar capacidades de pesquisa a partir das diferentes tecnologias – buscando, selecionando e analisando informações – refletir sobre as mudanças e permanências, comparar versões trazendo a possibilidade da multiplicidade de interpretações, ler diferentes linguagens, viabilizar o con- tato com os mundos distantes. Contudo, mesmo vislumbrando a potencialidade da leitura para o desenvolvimento do conhecimento histórico escolar, o que identificamos nas pesquisas desenvolvidas por nós é o distanciamento dessa concretização nas práticas de leitura empreendidas nas aulas de História. Certamente não podemos desconsiderar os fatores que dificultam o trabalho dos professores e que já foram citados anteriormente, mas também não podemos isentá-los de suas responsabilidades como sujeitos mediadores do processode aprendizagem. Quando identificamos e analisamos tais práticas o que encontramos é uma realidade marcada por automatismos 29 e pouca ou nenhuma produtividade. É comum encontrar práticas de leitura realizadas durante todo o ano letivo, ano após ano, única e exclusivamente por meio da imposição de resumos dos capítulos e resolução dos exercícios do livro didático como forma de impor aos alunos o exercício fre- quente do ato de ler. O resultado dessas atividades aumenta a aversão às práticas escolarizadas de leitura, limita-se a mera reprodução dos textos do livro e estimula o compartilhamento de cópias entre os colegas com a única finalidade de obtenção das notas bimestrais. Quando as possibilidades se ampliam envolvendo o tra- balho com diferentes linguagens para além do livro didático, também não é raro identificar práticas reducionistas ou ilus- trativas que não privilegiam o desenvolvimento de habilidades investigativas indispensáveis para o desenvolvimento do conhecimento histórico e a formação crítica dos sujeitos. Em meio a um cenário marcado por autojustificações e um jogo de culpa – a família não estimula a leitura, os alunos preferem as tecnologias aos livros, a escola não possui acervo suficiente para desenvolver projetos com leitura – as experiências relatadas resultam, exclusivamente, de uma prática docente fundamentada em crenças, contradições e automatismos que em nada contribuem para efetivar o gosto pela leitura, nem tampouco a aprendizagem em História. 30 Tais automatismos são resultados de um distanciamento profundo entre teoria e prática, das fragilidades no processo de formação da identidade profissional, da falta de apreensão sobre a necessidade de práticas contextualizadas com as realidades sociais dos alunos e, principalmente, da ausência do refletir criticamente sobre o que se faz, como se faz e aonde se quer chegar. É PRECISO REFLETIR CRITICAMENTE SOBRE O QUE SE FAZ Quando constatamos entre os professores os fatores que contribuem para a aversão dos alunos à leitura, quase sempre o que vemos é um olhar distanciado sobre a importância da sua própria avaliação como um eficiente mediador de leitura. Nessa problemática, a escola é a principal mediadora entre a sociedade e a cultura letrada, os professores exercem nesse contexto um papel fundamental e devem ser conscientes dos papéis que podem desempenhar para superar o problema, para além dos fatores externos à sua atuação. Para essa tomada de consciência e o vislumbre das possibilidades de transformação, só há um caminho: refletir criticamente sobre o próprio fazer. Uma via de possibilidade para a concretização dessa tomada de consciência é a perspectiva da colaboração. Adotamos a pesquisa colaborativa como percurso metodo- lógico para desenvolver nossa pesquisa de mestrado, da qual 31 resultam as reflexões apresentadas nesse livro. A escolha por tal perspectiva se dá em razão do seu caráter formativo que propõe aos professores envolvidos a aproximação entre teoria e prática, universidade e escola e o exercício constante de pensar, problematizar e reconstruir suas práticas para além da institucionalização e burocratização escolar. A pesquisa colaborativa permite criar condições para problematizar a racionalidade técnica que ainda permeia o espaço escolar – a ideia de que a universidade produz conhecimento e a escola reproduz, de que na prática a teoria é outra – aproximando e proporcionando o diálogo entre esses dois espaços de construção de conhecimento. Segundo Ibiapina (2008), a preocupação dessa linha de investigação gira em torno da análise das práticas docentes movida por uma reflexão crítica desencadeadora de intervenções que possam melhorar o trabalho do professor. De acordo com a autora, o processo é desencadeado por meio de ciclos de reflexão que proporcionam condições para desestabilizar as práticas de ensino convencionais e automa- tizadas e valorizar o professor como parceiro de investigação, como partícipe do processo de pesquisa, na medida em que ele colabora com o pesquisador no desenvolvimento de práticas investigativas. Contudo, Ferreira e Ibiapina (2005) lembram que esse processo não avançará se professores e pesquisadores 32 não assumirem de forma conjunta a responsabilidade de problematizar, refletir e transformar as práticas alienantes. Por intermédio da partilha de conhecimentos, metas, objetivos e ideias, podemos trazer resultados bastante sig- nificativos para o trabalho que realizamos, possibilitando uma formação dos profissionais envolvidos na pesquisa. Para Ferreira (2007, p. 24): “[...] a pesquisa colaborativa em educação, além de desen- volver o sentido social da aproximação entre os pesquisa- dores acadêmicos e as carências da prática de ensino dos professores, abre caminhos para a autoformação de ambos”. Nesse sentido, a colaboração – um dos conceitos-chaves da pesquisa colaborativa – reside na pressuposição de que todos os agentes envolvidos, tanto professores quanto pesquisadores, tenham voz para colocar suas experiências, compreensões, concordâncias e discordâncias com relação aos discursos do outros e os próprios discursos. Contudo, sem reflexão não há colaboração. O espírito reflexivo que fundamenta a colaboração é o baseado na racio- nalidade crítica. Uma racionalidade que permite a reeducação do olhar, a superação dos discursos prontos e acabados, um processo de autorreflexão e análise que permite a compre- ensão, o confronto e a reconstrução das próprias práticas constantemente, moldando o olhar dos professores para não 33 mais se conformar com o que é imposto pela institucionali- zação e burocratização com que sofre a educação. Segundo Ibiapina (2008), há quatro fases para o desen- cadeamento desse processo reflexivo orientado, por meio de perguntas pedagógicas, pela seguinte ordem: Descrever: o que estou fazendo? Informar: que significado tem o que eu faço? Confrontar: como cheguei a ser ou agir desta maneira? Reconstruir: como poderia fazer as coisas de modo diferente? Na busca por desencadear esse processo reflexivo, aden- tramos o universo de uma escola da educação básica que, assim como tantas outras, enfrenta os desafios que envolvem o desenvolvimento da competência leitora e a intrínseca relação deles com a ausência de práticas reflexivas e transformadoras dessa realidade. A pesquisa desenvolvida entre os anos de 2015 e 2016 contou com a participação de José, professor-colaborador, atuando como professor de História dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio, na Escola Estadual General Dióscoro Vale, localizada na zona norte da cidade do Natal – RN. Para enriquecer o processo reflexivo crítico, tivemos a participação dos alunos de José, uma turma de 3° ano do Ensino Médio, falando sobre suas relações com a leitura e as impressões que tinham sobre as práticas de leitura desenvol- vidas nas aulas de História. 34 Para materializar esse processo, podemos empreender diferentes procedimentos de pesquisa. Os adotados em nosso processo de investigação foram a entrevista, os grupos focais reflexivos e a videoformação. Com a entrevista, buscamos identificar necessidades formativas a serem trabalhadas no processo da colaboração. Foram realizados seis grupos focais reflexivos que buscaram aproximar teoria e prática por meio de estudos teóricos acerca dos seguintes temas: Colaboração e pesquisa colaborativa; A importância da pesquisa para a prática e profissionalização docente; As práticas escolarizadas de leitura; Correntes historiográficas e pedagógicas – o lugar da teoria na prática docente do professor de História; Professor mediador – elementos para a atuação docente envolvendo a leitura; Ensino de História e leitura. A videoformação tinha como objetivo proporcionar a análise da própria prática – por meio do registro das aulas em vídeo – intermediada por um olhar distanciado que permitisse analisar as automatizações, o entendimentodas ações e opções tomadas, as experiências espontâneas do ato de ensinar. José permitiu que as aulas fossem gravadas, mas recusou-se – por motivações pessoais – a assistir e examinar o próprio desempenho. Consideramos que mesmo não atingido os objetivos pre- tendidos, a realização das gravações e a inspiração no modelo da técnica da videoformação nos trouxeram a capacidade 35 de lidar com imprevisibilidades, exercitar a construção de um espaço democrático dentro da pesquisa ao ir somente até onde o colaborador permitiu, vivenciar os limites do processo formativo e se colocar também no lugar de José, refletindo sobre a vulnerabilidade do se ver, do desafio que é o confrontar-se consigo mesmo. Todos os procedimentos foram orientados pelas quatro fases do processo reflexivo já descritas. Em razão das espe- cificidades das interações dialógicas desenvolvidas em nossa pesquisa, não foi possível segui-lo tão sistematicamente como previsto. Contudo, o processo de busca pela reflexão crítica não foi comprometido, tendo em vista a potencialidade do agir comunicativo para a tomada de consciência. O processo reflexivo desencadeou a construção de valio- sas contribuições para pensar a problemática da leitura no ensino de História e nas demais áreas de conhecimento. Esse processo procurou responder a seguinte questão: Como as práticas escolarizadas de leitura, coordenadas pelo professor, contribuem para promover ou inibir o processo de ensino- -aprendizagem em História? Para responder tal problema de pesquisa, traçamos como objetivo geral analisar as concepções e práticas de leitura, coordenadas pelo professor de História, em uma sala de aula de Ensino Médio. A partir dele, elencamos como objetivos 36 específicos identificar os princípios teóricos e metodológicos – historiográficos e pedagógicos – que orientam a prática docente do professor de História, discutir as concepções de leitura para o docente e seus discentes e suas relações com as práticas de leitura desenvolvidas em sala de aula e analisar aspectos da mediação docente nas práticas de leitura desenvolvidas nas aulas de História. Nesse sentido, é preciso considerar que para refletir criti- camente sobre as práticas de leitura desenvolvidas nas aulas de História, faz-se necessário analisar os variados aspectos que envolvem o processo de ensino-aprendizagem. Entre eles, dedicamos uma atenção especial aos fundamentos que devem orientar as práticas de qualquer professor: os princípios teóricos e metodológicos. No capítulo seguinte, analisaremos as concepções teó- rico-metodológicas, envolvendo a área de conhecimento em História e os saberes pedagógicos, para compreender em quais bases teóricas estaria fundamentada e orientada a prática docente de José, discutindo, dessa maneira, a relação entre teoria e prática, sua implicação no processo reflexivo e a concretização dessa relação na condução das práticas de leitura coordenadas por José junto aos seus alunos. CAPÍTULO 1 – A DESAFIANTE BUSCA PELA DEFINIÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA Entre os saberes necessários à prática educativa do ensino de História, consideramos a importância de dominar diferentes correntes historiográficas e pedagógicas para, a partir desse domínio, identificar aquelas que mais se adequam às próprias concepções e agir de forma adequada e coerente com relação ao que se acredita, o que se propõe fazer e o que realmente se efetiva em sala de aula. Se ao professor falta a clareza e domínio sobre as próprias concepções, como será possível realizar um trabalho que prime e efetive o desenvolvimento intelectual dos alunos? É preciso que os docentes se questionem: • O que é História para mim? • Para quê ensino História? • Que tipo de conhecimento histórico estou desenvol- vendo com meus alunos? • Como, a partir do exercício da leitura, estou mediando essa formação? 38 • O que tenho construído com minhas experiências e como elas podem dialogar com os objetivos, os conteú- dos, as metodologias e as atuais propostas curriculares para o ensino de História? • Qual espaço os saberes pedagógicos têm na minha prática? Tenho dado a devida atenção a esses saberes? Levantar questões como essas é fundamental para o processo de constituição de uma identidade profissional, para se conhecer e reconhecer a própria função social. A necessidade desses questionamentos não está limitada ao conhecimento histórico, mas amplia-se a todas as áreas de conhecimento. Contudo, não é raro ouvir entre os nossos pares que o conhecimento produzido pela universidade não se aplica às desafiadoras realidades escolares. Em tom de aversão, muitos professores insistem nessa representação baseados em diferentes justificativas que em nada contribuem para o fortalecimento da sua responsabilidade profissional. Como lembra Tardif (2000, p. 11): Essa distância pode assumir diversas formas, podendo ir da ruptura à rejeição da formação teórica pelos profissionais, ou então assumir formas mais atenuadas como adapta- ções, transformações, seleção de certos conhecimentos universitários a fim de incorporá-los à prática. Desse ponto de vista, a prática profissional nunca é um espaço 39 de aplicação dos conhecimentos universitários. Ela é, na melhor das hipóteses, um processo de filtração que os dilui e os transforma em função das exigências do trabalho; ela é, na pior das hipóteses, um muro contra o qual se vêm jogar e morrer conhecimentos universitários considerados inúteis, sem relação com a realidade do trabalho docente diário nem com os contextos concretos de exercício da função docente. Compreendemos que por diversos motivos forjados no processo de formação inicial e continuada – entre eles, essa distância entre conhecimentos universitários e saberes pro- fissionais – os professores podem chegar à sala de aula sem clareza e domínio sobre as próprias concepções, ideias e princípios. O que não significa que não possuam essas con- cepções. Os docentes são orientados por saberes construídos ao longo de suas vidas, no âmbito pessoal e profissional, exercem e recebem múltiplas interferências ligadas ao poder da administração escolar, às demandas sociais e, obviamente, orientam-se por essas demandas, ideias, princípios construídos e reconstruídos continuamente nos espaços de formação em que circulam. No entanto, o que vimos percebendo em nossas experiên- cias de pesquisa é que, frequentemente, a prática profissional dos professores vem se transformando no muro do qual fala Tardif (2000), no qual os conhecimentos universitários 40 envolvendo os estudos teóricos são negados e abandonados por serem vistos como inúteis. Entendemos que optar por essa crença é um ato de irresponsabilidade com o próprio fazer, na medida em que não se questionar, refletir, debater sobre as bases que sustentam o processo de ensino compromete o caráter profissional da docência. Se a proposta é a de uma prática pedagógica que estimule o debate, a investigação, a problematização, a diversidade, a criação, que perspectivas historiográficas e pedagógicas podem torná-la possível? Se as práticas de leitura têm por objetivo o desenvolvimento da criticidade, da capacidade de argumentação e síntese, de quais bases teóricas elas se apro- ximam ou se distanciam? O que acontece, muitas vezes, é que ao não reconhecer a importância dos conhecimentos teóricos os professores acabam por desejar alcançar determinados objetivos, mas seguir caminhos incoerentes para essa concre- tização, caminhos baseados em achismos ou reprodutivismos incompatíveis com a sua realidade de trabalho. Essa incompatibilidade reside, sobretudo, na ausência de uma prática reflexiva crítica sobre o próprio fazer. Na tenta- tiva de levantar essas reflexões e colaborar com o processo formativo de José, levamos a discussão sobre a importância dos saberes historiográficos e pedagógicos na coordenação de práticas de leitura mais produtivas para o processo deaprendizagem dos seus alunos. 41 Para tanto, coordenamos o quarto grupo focal reflexivo que teve por temática a relação entre as correntes historio- gráficas e pedagógicas e suas influências na prática docente. A discussão foi orientada pelo texto de Azevedo e Stamatto (2010) que caracteriza diferentes teorias pedagógicas e his- toriográficas e relaciona essas ao ensino de História voltado para os quatro últimos anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio. As discussões apresentadas a seguir foram construídas com base no processo reflexivo desencadeado no referido grupo focal, mas também analisa dados de outros momentos da pesquisa. 1.1 – ANTES DE TUDO É PRECISO QUESTIONAR: E A RESPONSABILIDADE DOS ALUNOS? Já nos primeiros momentos da nossa trajetória colabo- rativa tínhamos como objetivo identificar os referenciais, os fundamentos, as concepções de José sobre História e sobre o processo de ensino-aprendizagem. Não poderíamos discutir e refletir com ele sobre as práticas de leitura que desenvolvia sem entender quais eram os fundamentos dessas práticas. Desde os primeiros encontros sentimos que o professor colaborador apresentava dificuldade para estabelecer suas definições teórico-metodológicas e, ao falar das bases da 42 própria prática, dava especial enfoque às difíceis experiências que vivia na docência. Na entrevista que realizamos inicialmente, questionamos José sobre qual seria a sua concepção relativa à História ou quais seriam as perspectivas historiográficas que orientavam sua prática docente: Pesquisadora: E sobre a sua concepção de História, professor, quais os fundamentos, o referencial teórico-metodológico que embasa o seu trabalho com a área de conhecimento em História? José: Em relação à base, a base teórica é... é muito aquilo que nós acabamos herdando da própria universidade. (Entrevista – 27/05/2015 – 3ª Parte – Concepção de ensino de História e do ato educativo) Desde a entrevista, a dificuldade para identificar a con- cepção referente à História ficou clara e já demarcava uma confusão nas compreensões do professor sobre as suas con- cepções relativas ao conhecimento histórico e às concepções concernentes ao processo de ensino-aprendizagem. A pergunta estava direcionada a identificar seus princípios teóricos com a área do conhecimento em História, mas a resposta rapida- mente privilegiou outros aspectos. Marcada por considerações genéricas, a resposta de José delineou compreensões que precisávamos aprofundar com outros questionamentos. 43 Quando fala da base teórica, imediatamente José faz men- ção aos conhecimentos universitários oriundos da formação inicial. Formado em 2012 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é bem provável que sua formação tenha sido marcada pela influência da perspectiva teórico- -metodológica desenvolvida a partir da escola dos Annales: Percebemos influência do movimento historiográfico contemporâneo no ensino escolar básico, especialmente da historiografia social inglesa e da Nova história francesa. Essa proposta busca as múltiplas experiências vividas pelos sujeitos históricos em diversos tempos e lugares. Suas raízes remontam ao movimento dos Annales. [...] A partir, principalmente dos anos de 1970, o que se observa é o surgimento de uma nova orientação marcada por uma fragmentação teórica a partir das propostas de Le Goff, Le Roy Ladurie e Pierre Nora e outros. Há um rompimento com a preocupação com a totalidade do social, da história total, como postulava o projeto original dos Annales. [...] Passa-se a pesquisas sobre novos e por vezes especí- ficos temas: mulheres, crianças, famílias, entre outros. A história, no Brasil, sofre no ensino a influência dos Annales em sua 3ª etapa – a Nova História – no final do século XX, momento em que o novo público escolar, maior e mais diversificado a partir de 1970, passa a exigir da escola, respostas para as suas inquietações. A história antes centrada nos feitos dos heróis e dos administradores públicos passa a partir de então a ceder lugar para uma 44 história ensinada preocupada com a compreensão da realidade social e histórica. [...] Três de suas características e suas consequentes contribuições no ensino de História são: perspectiva da história global, noções de múltiplas temporalidades e a história a partir de questões-problema (AZEVEDO; STAMATTO, 2010, p. 81). Mesmo sem detalhar em que aspectos estaria mais fun- damentada sua base teórica com relação à História, podemos relacionar automaticamente a referência que José faz à herança dos conhecimentos universitários à influência teórico-meto- dológica da Nova História e da Historiografia Social Inglesa, que se destacam no cenário de pesquisas historiográficas e propostas curriculares. Assim, as práticas de leitura e as outras práticas pedagó- gicas coordenadas por José deveriam estar, coerentemente, construindo junto aos seus alunos uma concepção de história múltipla, problematizadora, capaz de desenvolver diferentes noções temporais, interdisciplinares, ampliando os temas de discussão, desenvolvendo habilidades de investigação, reformulando os conceitos de sujeito e fonte histórica, diver- sificando as fontes e linguagens utilizadas em sala de aula. Em que medida ele estaria filtrando e transformando essa herança em função das exigências do seu trabalho? Em sua fala inicial essas relações não ficam claras. 45 Seguimos investigando em busca de esclarecer essa defi- nição. Para isso, o questionamos mais precisamente sobre a base teórica herdada da formação universitária. Pesquisadora: E a base teórica, que você fala que vem basicamente da Universidade. Como é que ela se constitui, em que ela se constitui? José: Ela se constitui em pensar, justamente, em refletir acerca dessas situações, acerca de um novo modelo, uma proposta de ensinar, pensar e pesquisar. (Entrevista – 27/05/2015 – 3ª Parte – Concepção de ensino de história e do ato educativo) O desafio persistia. Na busca por esclarecer suas respostas, partíamos para questionamentos mais diretos. Contudo, o esforço parecia não trazer resultados mais significativos. Além da confusão entre a concepção referente à História e a concepção referente ao processo de ensino-aprendizagem, José respondia de forma muito genérica, baseada em sentidos que não estavam muito claros para nós naquele momento. Qual seria o novo modelo? Um modelo tradicional é tão capaz de fazer os alunos pensarem, raciocinarem, oralizarem quanto um modelo dito construtivista, se forem bem desenvolvidos. No entanto, o termo novo, apresentado em sua fala, pode nos remeter ao processo de renovação do ensino de História. Uma nova proposta de ensinar baseada em uma concepção da Nova História? Baseada em uma nova configuração dos papéis do 46 professor e do aluno? Estaríamos conseguindo esquadrinhar o diálogo de José com os saberes relativos à História? Aspecto que chama a atenção na declaração do professor é o destaque dado ao termo pesquisa nessa base teórica que, segundo ele, vem da Universidade. O destaque dado à pesquisa nos levou a inferir que ela embasaria, de alguma forma, suas concepções. Tendo conhecimento da sua formação ainda recente e sabendo da sua experiência em atividades de formação pro- fissional através dos Estágios Supervisionados para Formação de Professores de História da UFRN (AZEVEDO, 2011, 2012), passamos a nos questionar se a pesquisa mencionada por José faria algum tipo de referência à perspectiva do professor pesquisador. Essa perspectiva de formação “[...] volta-se para a concep- ção do professor reflexivo, que pensa-na-ação. Nesse sentido, a docência alia-se à pesquisa” (AZEVEDO, 2012, p. 110). Inferindo sobre os efeitos da participação nesse projeto for- mativo, consideramos a possibilidade de que, ao se remeter à pesquisa, José pudesse estar fazendo algum tipo de referência a tal etapa de sua formação. Tal perspectiva de formaçãovai ao encontro dos pressupos- tos e objetivos da pesquisa colaborativa, pois retoma o conceito de professor pesquisador desenvolvido por Elliot (2003), que o situa como profissional reflexivo, compreendendo a prática 47 docente em uma perspectiva de aperfeiçoamento contínuo (IBIAPINA, 2008). Para tentar entender com mais precisão as influências que os conhecimentos universitários exerciam na prática de José e tentar clarificar o sentido do termo pesquisa em sua fala, propusemos a realização do segundo grupo focal reflexivo que teve como tema A Importância da Pesquisa para a Prática e Profissionalização Docente, com base na discussão do texto de Galiazi (2002). O texto narra a experiência prática de um professor pesquisador. Antes que pudéssemos lançar qualquer questionamento, José já demonstrou suas inquietações com relação a tal perspectiva teórico-metodológica: É bom o texto, a ideia do professor pesquisador é muito interessante, eu acho... Apesar que depois eu até revi algumas coisas, mas... é que ele parte de... É que o problema, às vezes, quando eu leio esses textos, é pensar que a culpa sempre cai pra o lado do professor, nunca se... nunca se busca ver até que ponto essa responsabilidade também é do aluno. (José – 2° Grupo Focal Reflexivo – 28/08/2015 – Eixo Temático: A impor- tância da pesquisa para a prática e a profissionalização docente). A primeira declaração de José sobre o texto vem carregada de uma lógica que permeou grande parte das nossas discus- sões: até que ponto vai a responsabilidade do aluno? Sua crítica revela uma tensão existente entre professor e aluno e nas lógi- cas que cada um atribui ao processo de ensino-aprendizagem. 48 A fala de José não é isolada. Esse pensamento ecoa e é repro- duzido, frequentemente, entre muitos docentes. O problema desse pensamento é a consequência dele para as práticas pedagógicas e o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, enquanto o foco deveria estar na análise das suas ações e tentávamos discutir como a pesquisa na sala de aula poderia ser uma atividade valiosa para o desenvolvimento profissional do professor e dos alunos, havia uma questão complexa que focalizava aquilo que o aluno deveria fazer e não faz. Ao focar na responsabilidade dos alunos, a responsabilidade profissional fica condicionada e limitada ao que os discentes permitem fazer, perdendo assim o seu sentido. Para José, a responsabilidade dos alunos estaria funda- mentada no compromisso em estudar: Infelizmente os nossos alunos acham que nada, absolutamente nada, a maioria deles acha que é importante. Já falei e torno a dizer, pra eles qualquer coisa é mais importante que a educação, que a formação. Eles estão aqui muitas vezes, e eu falo sem medo algum de errar, muitos estão fugindo até de casa para evitar problemas, situações que têm no seio familiar. Para muitos alunos, e não são poucos, aqui é uma espécie de refúgio pra eles. Aqui também é um ambiente onde eles vêm apenas para lazer. Torno a dizer, se faz necessário investigar o papel, a questão da reflexão dos próprios alunos. Ficar, desculpe o termo, massacrando os 49 professores a todo o momento achando que somente eles são os culpados, que eles não refletem, que eles não pensam, que eles não buscam outras abordagens, outras alternativas. Nós buscamos, só que mesmo a gente usando todos esses recursos, falta algo neles. [...] Quando nós não tínhamos qualquer tecnologia, nós éramos excelentes alunos. Eu não sei dizer se eu e você, se nós tivéssemos acesso a todos os recursos que os alunos têm hoje, se nós seríamos tão bons alunos, tão bons profissionais. Talvez sim, talvez não. Não dá pra saber. Agora, o fato é: uma sala com computadores, data show, tudo isso também não é uma garantia. Torno a dizer, para mim o mais importante é que o aluno ele crie dentro de si esse compromisso. Nós temos, nós pensamos, nós refletimos, nós somos autônomos, nós buscamos estratégias. Só que não há essa busca de interesse por parte deles. É complicado sempre jogar o professor, o professor, o professor... (José – 2° Grupo Focal Reflexivo – 28/08/2015 – Eixo Temático: A impor- tância da pesquisa para a prática e a profissionalização docente). A prática reflexiva que deveria ser de José é redirecionada aos alunos. O emblema da profissionalização docente, como lembra Perrenoud (2002), é condicionado e limitado. Se os alunos não querem aprender, não se comprometem, não refletem sobre o que estão fazendo na escola, ao professor não restará muitas alternativas. Há na fala de José um sentimento de desconforto que precisa ser compreendido. Mas, há também um sentimento de completude que mina as possibilidades do processo reflexivo. 50 Tendo a pesquisa colaborativa – na qual estávamos imersos – o objetivo de criar uma cultura de análise das práticas, desenvolvendo um processo reflexivo crítico a respeito do que se faz com vistas a transformar a educação, como refletir ou levar alguém a refletir quando esse alguém pressupõe que já reflete o suficiente? Para José, assim como para muitos outros professores, as crenças revelam uma dificuldade de olhar para si mesmo e dar-se conta da própria parcialidade, incompletude e do seu papel profissional. O problema não está no professor, mas nos alunos: são eles que não acreditam que nada relacionado à educação e à formação seja importante; vão à escola só para se divertir; não refletem sobre o seu próprio compromisso; são desinteressados, independentemente da estrutura e recursos tecnológicos que a escola ofereça. O cenário é desmotivador para o professor. Contudo, um profissional que se diz reflexivo e autônomo não pode coisificar e unificar os valores e pretensões educativas em certezas absolutas. Ao se declarar reflexivo e autônomo, José parece entender que a autonomia estaria baseada em um princípio de iniciativa. Ao buscar ferramentas, estratégias, inserir tecnologia e “renovar” o ensino, o compromisso do professor estaria completo diante dos seus alunos. Daí em diante, os discentes precisavam buscar mais. 51 No entanto, o espírito da autonomia que busca transformar os professores em seres epistêmicos e empoderados, que é construído socialmente na interação com a comunidade e na discussão com os outros, nada tem a ver com a concepção solitária e tecnicista que permeava o imaginário de José. Para Contreras (2002, p. 207): A autonomia profissional, em um trabalho de responsa- bilidades, de multiplicidade de perspectivas e de valores educativos como é o ensino, só pode ser construída no contraste e discussão, na comparação de pontos de vista, na descentralização em relação a nós mesmos, comparti- lhando dúvidas e preocupações. Embora se suponha que a autonomia profissional questione o sentido educativo de nossas práticas e daquilo que dificulta sua realização, também significa a segurança de que a resposta a essa pergunta é sempre parcial (no sentido de incompleta e partidária). Embora possa parecer paradoxal, a autonomia está sempre ligada à consciência da nossa insuficiência. Entendendo a autonomia profissional dos professores como resultado da consciência da própria insuficiência, a pesquisa colaborativa possibilitaria o desvelar dessas incompletudes na medida em que os questionamentos, tensionamentos e distinção de pontos de vista fossem sendo expostos e provo- cados nas interações dialógicas entre professor e pesquisadora. 52 Éramos, certamente, partidários em nossas respostas para os problemas postos por José. Precisávamos, da mesma forma, estar abertos e nos conscientizar das nossas certezas e incompletudes. O grande desafio, porém, era promover com José essa autoconsciência de que os sentidos das suas práticas e as dificuldades encontradas não tinham uma única resposta, portanto, não eram só responsabilidade dos alunos. A reflexão que José acreditava realizar assemelha-se muito mais a uma açãorotineira e inconsciente do que propriamente uma ação reflexiva. Fundamentado em uma reflexão prática, José compreende suas ações a partir das suas experiências, conhecimento de mundo e senso comum. Não há qualquer referencial teórico que embase suas colocações, sustentando a ideia de uma dicotomização cada vez maior entre a teoria e a prática. As certezas e crenças construídas a partir das experiências pessoais de José são colocadas a priori sem que haja diálogo com os contextos sócio-históricos e o contexto educacional em termos amplos. A ação que se diz verdadei- ramente reflexiva precisa estar apta a considerar e questionar de forma cuidadosa qualquer crença ou suposta forma de conhecimento. Para Caleffe e Moreira (2008, p. 13): Estimulado por um sentimento de incerteza ou descon- forto, o prático reflexivo reexamina suas experiências. Qual a natureza do problema? Quais eram as minhas intenções? O que eu fiz? O que aconteceu? No processo de observar e analisar estas experiências emergem os problemas. O 53 problema – uma discrepância entre o ideal e o real, entre a intenção e a ação ou entre ação e efeito – estimula a inves- tigação e motiva absorção da nova informação como parte de uma busca ativa por melhores respostas e estratégias mais efetivas. Em resumo, ao ser questionada a prática, tem início um processo de aprendizagem que leva a uma mudança comportamental. Assim, para que se efetive o processo de aprendizagem e de mudança do qual falam os autores, José deveria a priori questionar as próprias certezas. Acreditando que o possível já foi realizado, como haverá processo de questionamento? Reexame de experiências? O que há é o vislumbre dos resul- tados, a identificação do problema, e uma análise do processo baseada em avaliações puramente pessoais. Ao se deparar com o sentimento de incerteza e desconforto descrito pelos autores, a saída de José era redirecionar o holofote para fatores que muitas vezes estavam fora do seu controle, em vez de dire- cioná-lo para o que era realmente possível. Inevitavelmente, suas compreensões o eximiam das próprias responsabilidades. A prática reflexiva é um processo desafiador, exigente e penoso. Afinal, questionar as próprias certezas é questio- nar os modos de sobrevivência que sustentavam José diante dos dilemas e angústias que permeavam sua prática diária. Preocupados com os efeitos das compreensões do professor colaborador para a limitação do seu processo reflexivo, expo- mos para ele a nossa inquietação: 54 Pesquisadora: Eu penso que colocar, entravar, digamos assim, essa coisa das dificuldades que a gente tem no processo de ensino-aprendizagem, transferir para o aluno, porque ele não quer aprender, porque ele não se interessa, porque ele não gosta, enfim. Quando a gente cria um entrave, quando a gente coloca isso como obstáculo, a gente acaba entravando ainda mais o processo. E não é só isso. Não podemos nos prender só a isso. José: Sim, sim. Claro. Pesquisadora: O professor se torna competente, política e socialmente, com seu aluno e consigo mesmo quando ele exercita isso, essa reflexão, o tempo todo. [...] Eu acho que quando a gente parte desse princípio a gente acaba ampliando as nossas próprias possibilidades, sabe? Ao invés de dizer que simplesmente o aluno não quer. A gente acaba se defendendo das nossas futuras frustrações, porque a gente as transforma em novos questionamentos. Porque se a gente se prende, de alguma forma a isso, eu acho que isso acaba tirando, acaba minando um pouco o nosso próprio horizonte, de que a gente pode ir mais, de que a gente pode fazer mais. Entende? José: Sim, sim. Entendo. Temos que nos questionar. (2° Grupo Focal Reflexivo – 28/08/2015 – Eixo Temático: A importância da pesquisa para a prática e a profissionalização docente). Mas que questionar seria esse? Caleffe e Moreira (2008) ressaltam: refletir não é prática de meditação. Quais seriam os efeitos práticos desse questionamento que José assume ser necessário? É possível que um professor possa trabalhar sem refletir? Talvez o que José chame de questionamento e reflexão se aproxime muito mais de uma ação rotineira, como lembra Liberali (2008). Para expor o que entendia por reflexão, José destacou os questionamentos que se fazia constantemente: 55 É claro que nós, professores, a gente conversa muito aqui sobre isso, principalmente os professores da manhã. Como é que anda a nossa aula? Como é que anda a nossa metodologia? O que é que nós podemos fazer para melhorar. A gente sempre faz isso. É uma prática nossa. Por quê? Porque a gente vê que existe alguns professores aqui que tiveram outra formação, já têm muitos anos de carreira e muitas vezes eles já estão viciados com suas práticas. Eu me questiono o tempo todinho, que material usar, que texto usar, que filme usar, se tá dando certo ou tá dando errado, eu me questiono sim e esse texto também ele vai muito nesse sentido, de até que ponto a minha forma de lecionar, a minha forma de transmitir o conhecimento está surtindo efeito ou não. O que eu percebo é que muitas vezes, sim. Eu falho? Eu falho. Eu acerto? Eu acerto. Mas que esse aprendizado ele precisa ser passado pela questão do aluno. O aluno ele também precisa começar a se interrogar: Eu tô aqui pra fazer o quê? Eu estou aqui para aprender. Aprender o quê? Eu estou aqui para me divertir? Me divertir como? (José – 2° Grupo Focal Reflexivo – 28/08/2015 – Eixo Temático: A impor- tância da pesquisa para a prática e a profissionalização docente). Mais uma vez, notamos na fala de José um mergulho profundo no mundo das experiências e um distanciamento de qualquer respaldo teórico que sustente sua fala, quando na realidade o verdadeiro processo reflexivo exige o mergulho tanto no conhecimento teórico quanto na experiência, para que se possa desvelar a que interesses servem as suas próprias práticas. 56 Como destaca Ibiapina (2008), para que o professor possa mudar a teoria educacional, a política e a prática, é necessário mudar a própria forma de pensar e agir. Logo, a experiência sem reflexão crítica não é conhecimento, não pode ser conside- rada um saber que integra a prática profissional do professor. Mesmo afirmando se questionar sobre a sua metodologia, sobre a escolha dos melhores materiais e recursos didáticos, sobre a maneira de transmitir conhecimento, sobre a ideia de não terminar como os colegas de profissão que já automa- tizaram suas práticas, sobre os próprios erros e acertos, José afirma veementemente: a reflexão não pode ser só minha, ela precisa ser feita pelo aluno! O que se tem é um olhar indignado, mas acomodado, que procura a culpa e a divisão das responsabilidades com os outros. O que isso pode gerar? Nada mais que continuar aprisionado nos mesmos problemas. É frustrante para José? Não temos dúvidas que sim. É estar perdido e lutando contra a maré? Certamente. E é de tanto lutar pelas vias mais difí- ceis, usando as estratégias ineficientes para um determinado contexto escolar, limitando o olhar para apenas um lado, que os professores caem no discurso fácil, reproduzem o discurso de que não importa o que se faça, se os alunos não querem, não há o que fazer. Precisamos questionar: partindo da premissa de que há uma responsabilidade fundamental do aluno para o sucesso 57 do processo de ensino-aprendizagem, quando deixará de ser importante pensar sobre a escolha do texto, sobre o melhor filme, sobre os erros e acertos? Quando não será mais neces- sário pensar sobre isso, pois os alunos, ano após ano, não querem aprender? Quando não será mais preciso se questionar, pois, absolutamente, tudo já foi feito? Ao participar de uma colaboração, José encontrava-se ine- vitavelmente com esses questionamentos que não se permitia fazer. Mesmo estando no começo da sua trajetória profissional, chegará o momento em que tal discurso se naturalizará ao ponto de não ser mais passível de questionamento para ele?Quando tiver muitos anos de carreira, como os colegas citados, e já tiver esgotado suas estratégias, os melhores filmes, os melhores textos, seus melhores acertos, terminará viciado na própria prática? Trazendo essa discussão para o contexto da pesquisa, tentamos conduzir o olhar de José para outros horizontes: Pesquisadora: Você não é obrigado a querer ser professor pesquisador. José: Não! Claro que não. Pesquisadora: Mas, há a importância de refletir, a importância de pro- blematizar, a importância de não cair no discurso comum... José: Na mesmice. De seguir o caminho mais fácil? Pesquisadora: não cair no discurso fácil. Porque, veja, quando você coloca... É quase automático. Quando você coloca a culpa: “Eu faço tudo! Mas é o aluno que não quer”. Você limita e transfere uma responsabilidade. 58 Não podemos deslegitimar os desafios enfrentados por José. As tensões sinalizadas pelo professor estão envoltas em uma problemática muito maior do que a que nos propusemos investigar. José afirma que é preciso que o Estado, a família e os alunos estejam aptos a assumir suas parcelas de respon- sabilidade no bolo da Educação. José: Não. Eu não acho que esteja transferindo, eu estou... dividindo a responsabilidade. Eu tenho a minha parte: 50%, ele tem 50%. Eu não sei se é um discurso fácil, mas é que eu vejo assim: se não houver um comprometimento, não só na educação, mas em tudo na vida de uma pessoa, você não segue em frente. É como eu falei. Eu sempre busco o quê? Analisar e pensar minha prática, as minhas atitudes. Eu falo isso com várias pessoas. Mas eu não sou o único (enfaticamente) responsável pelo fracasso. Os alunos têm a sua parte de responsabilidade. Educação é como um bolo. Cada segmento tem sua fatia: a família, a escola, os professores, o governo, o aluno. É isso que eu quero que fique muito claro! Há uma parcela que cabe ao aluno. Pode ser que de forma inconsciente eu tenha é... Passado essa ideia. Mas, não! Eu não quero jogar a culpa nele. Porque eu estou assumindo aqui, está gravado que eu também erro, que eu também fracasso, que eu também... Que a minha abordagem muitas vezes não é a melhor. Mas, mesmo assim... E quando eu faço tudo ao contrário? E quando eu trago tudo bem-organizado, tudo bem pensado, tudo bem estruturado? E em ambos os casos há o desinteresse? (2° Grupo Focal Reflexivo – 28/08/2015 – Eixo Temático: A importância da pesquisa para a prática e a profissionalização docente). 59 Concordamos com o professor quando ele aponta que a Educação não se faz sozinha. Mas, a partir de que lógica ele supõe esse entendimento? Os pais devem cobrar dos alunos empenho e compromisso com a Educação; o Estado deve suprir estruturalmente as escolas e a formação dos professores; os alunos devem estudar. Em que contexto estaria definida essa lógica? Em um sistema centralizado e burocrático. Pensar dessa maneira é como pensar em uma desintegração social, sem perceber a que interesses servem tal lógica. De acordo com Nóvoa (1999, p. 9): O novo papel dos pais e das comunidades na gestão dos assuntos educacionais é uma das realidades decisivas da fase que agora se abre. Mas é impensável que a mudança leve a uma redução do poder dos professores. Não estamos afirmando que os professores devem ser res- ponsabilizados por todos os aspectos relacionados à Educação e ao fracasso escolar. Mas, o que cabe a José estaria sendo bem desenvolvido, problematizado, reconstruído? Para cla- rificar nosso entendimento, buscamos apoio no conceito de autonomia explicitado por Contreras (2002, p. 269): A autonomia não consiste nem no isolamento nem no abandono de escolas e professores à própria sorte. Parte, mais precisamente, de conhecer as relações entre pro- fessores e sociedade sob outras bases (as da constituição comunitária), de forma que os vínculos não sejam de 60 natureza burocrática nem mercadológica, mas política e pessoal. José assegura que não era discurso fácil. Mas, em sua fala, não é possível notar a busca pelo estabelecimento de vínculos políticos e pessoais nas relações que envolvem a Educação. É quase um: faça o seu, que eu faço o meu. Eu não tô jogando a culpa em ninguém. Eu sei que alguns dos meus alunos são muito bons em História, outros não. Por que não gostam, por que não se identificam, por que não entendem? São vários fatores. Eu tô falando de parcela de responsabilidade, que aliás é uma palavra que está em desuso hoje em dia, das famílias, dos alunos. Eles têm que ter a sua parcela de responsabilidade. Quando eu digo que não se possa jogar a culpa no professor, é isso. Ele tem a sua contribuição positiva e negativa? Tem! Como qualquer outro segmento da sociedade. É isso que precisa ficar claro, não é um discurso fácil. É dizer o que a gente tá vivendo. Eu não estou falando nada de teoria, eu estou sendo muito concreto, eu estou sendo muito humano, muito eu aqui em toda a minha fala. Eu acredito piamente, que se houvesse um interesse maior dos alunos...Ah! A coisa era outra! (2° Grupo Focal Reflexivo – 28/08/2015 – Eixo Temático: A importância da pesquisa para a prática e a profissionalização docente). Como lembra Charlot (2005), os professores possuem conhecimentos criados a partir de suas práticas, o grande problema está nas categorias que os professores usam para dizer e interpretar tais práticas. Assim como José, não negamos o papel da família, das políticas educacionais, das escolas, 61 nem, tampouco, dos alunos. O próprio José sinaliza que muitos são os fatores para o desinteresse dos discentes, entre eles, a falta de identificação e entendimento com relação ao estudo da História. Contudo, isso não seria exatamente um problema, pois mesmo trazendo uma leitura histórica mais contextualizada e próxima da realidade dos alunos, o desinteresse permanece. Vale à pena refletir sobre esse sofrimento do professor? Sim, vale à pena. Mas o exercício reflexivo se concretiza e legitima na medida em que o problema é identificado e, em vez de um jogo de divisão de responsabilidades, se pensa sobre o que efetivamente é responsabilidade própria. Quando afirma não estar falando nada de teoria, na ver- dade José fala daquilo que Charlot (2012, p.111) denomina de teorismo da prática: “Eu sei porque eu tenho a minha experiência de sala de aula”. Mas no que essa experiência efetivamente o ajuda? Provar para a teoria que nada do que ela diz é viável? Transformá-la no muro do qual falou Tardif (2000)? O cerne da questão para o professor colaborador é o com- prometimento. Seu, da Escola, da sociedade, do Estado, dos alunos. Mas, a intensidade da sua fala paira principalmente sobre o comprometimento destes últimos. Na medida em que expõe seus pensamentos, as contradições vêm à tona. 62 Em um momento, o professor precisa mostrar o sentido de estudar História, em outro os alunos precisam se interessar, ter compromisso, desenvolver o prazer. E, mais uma vez, voltamos ao cerne de toda a problemática: como a Escola e o processo de ensino-aprendizagem conduzido por José estão contribuindo para mostrar ao aluno o sentido de estar na escola? Como as ações de José, a escolha daqueles textos, daqueles filmes, estão contribuindo para que os alunos vejam um sentido em aprender História? Em que medida suas escolhas e concepções teóricas têm andado em conformidade com o que realmente se efetiva em sala de aula? E mais uma vez questionamos: Como será possível pensar sobre todas essas questões se o olhar está focado na ideia de que: Infelizmente os nossos alunos nada, absolutamente nada, a maioria deles, eles acham que é importante. Já falei e torno a dizer, pra eles qualquer coisa é mais importante do que educação, do que formação? (José – 2° Grupo Focal Reflexivo – 28/08/2015 – Eixo Temático: A importância da pesquisa para a prática e profissionalização docente). As confusas e contingentes declarações de José a respeito da perspectiva do professor
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