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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOFÍSICA E FARMACOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS JOSÉ HENRIQUE DOS SANTOS NETO PERFIL DE APREENSÃO DE DROGAS DE ABUSO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NO PERÍODO DE JANEIRO A JULHO DE 2022 Natal 2023 JOSÉ HENRIQUE DOS SANTOS NETO PERFIL DE APREENSÃO DE DROGAS DE ABUSO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NO PERÍODO DE JANEIRO A JULHO DE 2022 Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade Monografia, submetido ao Departamento de Biofísica e Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. Orientadora: Vanessa de Paula Soares Rachetti UFRN Coorientadora: Karine Coradini ITEP/RN Natal 2023 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429 Santos Neto, Jose Henrique Dos. Perfil de apreensão de drogas de abuso no estado do Rio Grande do Norte no período de janeiro a julho de 2022 / Jose Henrique Dos Santos Neto. - 2023. 72f.: il. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Curso de Ciências Biológicas, Natal, 2023. Orientadora: Dra. Vanessa de Paula Soares Rachetti. Coorientadora: Dra. Karine Coradini. 1. Droga de abuso - Monografia. 2. Ilícitas - Monografia. 3. Adulterantes - Monografia. 4. Perfil de apreensão - Monografia. I. Rachetti, Vanessa de Paula Soares. II. Coradini, Karine. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 573 JOSÉ HENRIQUE DOS SANTOS NETO PERFIL DE APREENSÃO DE DROGAS DE ABUSO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NO PERÍODO DE JANEIRO A JULHO DE 2022 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas BANCA EXAMINADORA Prof. Dra. Vanessa de Paula Soares Rachetti - Orientador Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Edilson Dantas da Silva Junior Universidade Federal do Rio Grande do Norte MSc. Maryelle de Cássia Albino Universidade Federal do Rio Grande do Norte Minha dedicatória vai para todas as pessoas que estiveram comigo durante a elaboração deste trabalho, me ajudando, me fortalecendo. Para minha mãe. Minha namorada. Minha orientadora. Meus amigos. E para as pessoas que possam fazer um bom uso desses dados, da segurança pública à pesquisadores. Dedico. AGRADECIMENTOS Meus mais sinceros agradecimentos ao ITEP/RN, por confiar seus dados a mim e me permitir trabalhar num projeto lado a lado a um instituto tão nobre e essencial para todos. Agradeço também à minha orientadora, Vanessa Rachetti, por acreditar em mim, me proporcionando a incrível experiência de trabalhar num projeto tão importante e especial. À Bruna e Thaís, que me ajudaram no processo de coleta de dados, de entendimento dos mesmos, enquanto tinham seus próprios projetos em andamento. E em especial às pessoas mais próximas a mim. Minha mãe, Maria Angélica. Minha namorada, Layla Paiva. E a todos os meus amigos, que proporcionaram, todos, um ambiente calmo, leve, me ajudando em momentos que tanto precisei. Sem todos vocês, tenho certeza que nada disso seria possível. E, por isso, gostaria de agradecê-los. De coração. “Nada era certo, mas parecia tão normal Me acostumei com a incerteza ideal Nos faz querer o tudo, o pouco não é opção Será surreal ter o mundo em minhas mãos?” Scalene - Surreal RESUMO O transtorno relacionado ao uso e abuso de substâncias é uma doença mental que acomete parte da população mundial. O entendimento dos princípios ativos, locais de apreensão e presença de adulterantes nas substâncias de abuso pode facilitar o enfrentamento ao tráfico e ao acesso dos indivíduos de drogas. Este estudo tem como objetivo analisar o perfil de apreensão de drogas no Estado do Rio Grande do Norte no período de janeiro a julho de 2022. Os resultados foram obtidos através da análise de 1553 laudos periciais, resultando no número de 1509 apreensões de substância ilícitas, com dados como o órgão apreensor, data da apreensão, cidade, quantidade de diferentes materiais apreendidos, característica física do material, peso, resultado do laudo, e adulterantes. O estudo apontou a cocaína como a substância mais apreendida em unidades, seguida da maconha e dos alucinógenos. Entre os contaminantes mais apreendidos estão a cafeína e a tetracaína. O número de apreensões ilustra um pico no mês de março e o domingo foi o dia com o menor número de apreensões. O órgão de segurança pública responsável pelo maior número de apreensões foi a Polícia Civil, com um total de 87,14% do total de apreensões. Por fim, o mapeamento das apreensões pelo Estado do RN evidencia Mossoró, Natal e região metropolitana como os locais com maior incidência de apreensões de substâncias ilícitas. Este estudo poderá somar-se a outros estudos que investigam o perfil de apreensões de drogas no RN, o que favorecerá o conhecimento e o enfrentamento ao tráfico de drogas no Estado. Palavras-chave: droga de abuso; ilícitas; Rio Grande do Norte; adulterantes; perfil de apreensão. ABSTRACT Substance use and abuse disorder is a mental illness that affects part of the global population. The understanding of the active compounds, places of apprehension and presence of adulterants in the substances of abuse can facilitate the confrontation with drug trafficking and the access of individuals to drugs. This study aims to analyze the drug seizure profile in the State of Rio Grande do Norte from January to July 2022. The results were obtained through the analysis of 1553 forensic reports, resulting in 1509 seizures of illicit substances, including data such as the seizing authority, seizure date, city, quantity of different seized materials, physical characteristics of the materials, weight, report outcome, and adulterants. The study identified cocaine as the most seized substance in terms of units, followed by marijuana and hallucinogens. Caffeine and tetracaine were among the most frequently seized adulterants. The number of seizures illustrate a peak in March and Sunday had the lowest number of seizures. The law enforcement agency responsible for the highest number of seizures was the Civil Police, accounting for 87.14% of the total seizures. Finally, the mapping of seizures across the state of Rio Grande do Norte highlights Mossoró, Natal, and the metropolitan region as the areas with the highest incidence of illicit substance seizures. This study can contribute to other research investigating the drug seizure profile in Rio Grande do Norte, facilitating knowledge and efforts to combat drug trafficking in the State. Keywords: drug of abuse; illicit; Rio Grande do Norte; adulterants; apprehension profile. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11 1.1. Panorama das drogas de abuso e suas implicações ......................................11 1.2. Classificação das drogas de abuso ................................................................. 13 1.3. Adulterantes encontrados em drogas ilícitas................................................... 15 1.4. Drogas ilícitas e os prejuízos na saúde pública .............................................. 17 2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 19 2.1. Objetivo geral .................................................................................................. 19 2.2. Objetivos específicos ...................................................................................... 19 3. METODOLOGIA .............................................................................................................. 20 3.1. Aprovação da pesquisa no Comitê de Ética ................................................... 20 3.2. Coleta de dados .............................................................................................. 20 3.3. Critérios de Inclusão ....................................................................................... 20 3.4. Critérios de exclusão ....................................................................................... 21 3.5. Análises estatísticas ........................................................................................ 21 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 22 4.1. Apreensões mensais e semanais ................................................................... 22 4.2. Órgãos responsáveis pelas apreensões ......................................................... 24 4.3. Mapeamento geográfico das apreensões ....................................................... 26 4.4. Alguns dos princípios ativos e as apreensões geográficas ............................. 28 4.5. Tabela de todos os princípios ativos apreendidos .......................................... 33 4.6. Contaminantes encontrados em substâncias apreendidas ............................. 37 4.7. Perfil geral das apreensões............................................................................. 39 6. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 42 7. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 43 6. ANEXO 1 ......................................................................................................................... 50 7. ANEXO 2 ......................................................................................................................... 55 11 1. INTRODUÇÃO 1.1. Panorama das drogas de abuso e suas implicações Quando debatido, o tema das drogas de abuso traz à tona uma variedade de opiniões diferentes, abrangendo desde as mais embasadas cientificamente até aquelas impregnadas de preconceitos e informações questionáveis. Portanto, dada a delicadeza do assunto, torna-se essencial, em primeiro lugar, compreender os fundamentos que sustentam essa temática. Segundo o Ministério da Saúde (MS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dependência de drogas, classificada de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais de 2022 (DSM- 5-TR) como “transtornos relacionados ao uso ou abuso de substâncias”, é considerada uma doença que acomete indivíduos dos 15 aos 64 anos de idade, representando cerca de 5,5% da população mundial (aproximadamente 440.000.000 de pessoas) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [s.d.]; AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2023). A separação do que é lícito e o que é ilícito é feita pela legislação local de cada país, variando de região para região. No Brasil, a Portaria Nº 344, de 12 de maio de 1998, delimita as substâncias que cabem a ser lícitas ou ilícitas, sejam elas para a elaboração de medicamentos utilizados por profissionais da saúde, ou na fabricação de substâncias entorpecentes ou psicotrópicas, por exemplo. Como algumas das substâncias consideradas por lei como lícitas, podemos citar o tabaco e o álcool. Mesmo que lícitas, essas substâncias são constantemente repreendidas por profissionais da saúde e do Estado, de modo que, como citado no Decreto Nº 9.761, de 11 de abril de 2019, dado os prejuízos à saúde, sociais e econômicos, produtos como o tabaco e o álcool possuem suas diretrizes de advertência e cuidados que devem ser considerados antes do uso. Tal decreto não só aprova, como também estabelece uma política nacional sobre drogas (BRASIL, 1998, 2019). No fim deste documento é possível visualizar a listagem das substâncias através do ANEXO 2, retirado diretamente da Portaria nº 344/98. Já como algumas das substâncias ilícitas e proibidas por lei, podemos citar a maconha, a cocaína, e o 3,4-metilenodioxianfetamina (MDA), com efeitos distintos, detalhados posteriormente neste trabalho. Na referida portaria é possível visualizar, 12 também, a listagem das substâncias modificadas sinteticamente, como os canabinóides sintéticos, as catinonas sintéticas, dentre outras substâncias (BRASIL, 1998, 2019). Contudo, dentro desse grupo das substâncias sintéticas, algumas são conhecidas por passar despercebidas pela lei, substâncias estas que mimetizam os efeitos de outras já existentes, como a cannabis ou a cocaína. Essas substâncias são denominadas de New Psychoactive Substances (NPS), ou Novas Substâncias Psicoativas, na tradução literal, e estão sendo, pouco a pouco, reconhecidas e regulamentadas por lei. Com o intuito de ilustrar a proliferação significativa dessas substâncias, um estudo conduzido em 2023 pelo European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (EMCDDA) revelou que cerca de 1 (uma) NPS é criada a cada semana, totalizando, até o momento do estudo, uma descrição de mais de 930 substâncias existentes. Até ao presente, observa-se uma maior incidência das NPS na classe das catinonas e canabinoides sintéticos. (CUNHA et al., 2021). O Brasil tem um posicionamento geográfico que facilita o transporte de várias substâncias, como, por exemplo, a cocaína para o interior do país. Na América Latina a Colômbia, o Peru, e a Bolívia possuem os maiores índices de produção de cocaína. Nesse sentido, o Brasil, ao possuir uma larga fronteira com esses países, é um ponto central para o tráfico de drogas. Em 2011, mais da metade da cocaína apreendida no Brasil teve como origem a Bolívia (54%), o Peru (38%) e a Colômbia (7,5%). O litoral brasileiro é responsável por facilitar o acesso a diferentes países europeus e africanos através do Oceano Atlântico, e, somado a aproximação cultural e linguística com Portugal e alguns países africanos falantes da Língua Portuguesa, esses canais de transporte e as similaridades culturais justificam uma preferência advinda desse mercado ilegal (MIRAGLIA, 2015). Somado a isso, esses fatores influenciam no consumo interno das drogas de abuso no Brasil. O uso, tanto de substância lícitas, como de substâncias ilícitas, têm sido considerado um problema de saúde pública, tendo em vista que o consumo predispõe ao acontecimento de acidentes, de violência interpessoal, de comportamentos de risco, de distúrbios do sono, de dependência física ou psicológica, e até mesmo à ocorrência de óbitos. Neste contexto, existem pesquisas que investigam os impactos do uso de substâncias lícitas e ilícitas, tanto entre os indivíduos do meio acadêmico como, também, por parte de profissionais em contexto 13 laboral (FERNANDES et al., 2017; SILVA e YONAMINE, 2004). Porém, embora sejam extremamente necessários para a saúde mental e física dos indivíduos em diferentes contextos e áreas de atuação, tais estudos são escassos. 1.2. Classificação das drogas de abuso De acordo com o NationalInstitute on Drug Abuse (NIDA), as drogas de abuso podem ser classificadas em diferentes categorias, sendo as 3 (três) categorias mais citadas na literatura: as depressoras do sistema nervoso central (SNC), as estimulantes do SNC e as alucinógenas. As depressoras, como o álcool, são substâncias que diminuem a atividade encefálica, tornando o indivíduo mais calmo e com uma sensação de relaxamento. As estimulantes, por outro lado, são responsáveis por aumentar a atividade encefálica, tornando o usuário mais ativo, agitado e em estado de alerta. Por fim, os alucinógenos, também conhecidos como perturbadores do SNC, agem de maneira qualitativa, nem aumentando nem diminuindo a atividade encefálica, responsáveis por causar profundas distorções na percepção e realidade do indivíduo que as utilizam (NIDA, 2020; THIESEN e BORGES, 2020). Dentre as substâncias depressoras do SNC, pode-se citar a cannabis, popularmente conhecida como maconha. Neste estudo, será utilizada a sigla “THC” para se referir a Cannabis, motivo este devido aos métodos laboratoriais detectarem o tetrahidrocanabinol como a substância psicotrópica associada a Cannabis. Apesar da classificação aqui feita, frequentemente a literatura a classifica como alucinógena, devido aos efeitos ansiogênicos e sentidos alterados de espaço e tempo. A Cannabis sativa L. é uma das plantas mais antigas que o homem tem conhecimento, tendo relatos de seu uso há mais de 4.000 (quatro mil) anos atrás. Bordin e colaboradores (2012) afirmam que a cannabis possui mais de 480 (quatrocentos e oitenta) substâncias químicas diferentes, distribuídos em 18 classes químicas, podendo ser destacados o -9-tetrahidrocanabinol (THC), uma substância psicoativa, e o canabidiol (CBD), uma substância não psicoativa. Dados estatísticos da Polícia Federal apontam que, nos últimos anos, a maconha tem sido a droga com o maior número de apreensões em todas as regiões do país, sendo a principal região o Centro- Oeste, seguida pela região Sul, Sudeste, Norte e Nordeste do Brasil. A Polícia Civil, 14 por sua vez, apresenta um quadro de apreensões mais equilibrado entre a maconha e a cocaína e seus derivados (BORDIN et al., 2012; BURGESS, 2023). No Brasil, a cannabis não é regulamentada para uso como medicamento, como acontece em outros países (Canadá e Holanda), mas um produto ilegal, contrabandeado, com qualidade suspeita pode resultar em mais prejuízos do que benefícios aos usuários crônicos (ALARCON, 2012). Os efeitos do THC, o princípio ativo mais conhecido da cannabis, explicam-se, pelo menos parte deles, pela existência, em seres humanos, dos receptores endocanabinóides. Esses receptores são o CB1, com distribuição principalmente no SNC, e o CB2, localizado principalmente no sistema nervoso periférico (SNP). Os receptores CB1 influenciam neurotransmissores como o GABA, glutamato, noradrenalina, serotonina e dopamina, potencializando suas ações. Essas ações podem acabar influenciando na cognição, percepção, funcionamento motor, apetite, sono, neuroproteção, neurodesenvolvimento e liberação hormonal (CRIPPA et al., 2005). A cocaína, por sua vez, é um dos alcalóides extraídos das plantas de gênero Erythroxylum, uma planta que possui ação anestésica local além de estimulante do SNC. A cocaína possui basicamente três diferentes formas: a pasta base, o crack e o cloridrato de cocaína. Quando tratada com bicarbonato de sódio ou carbonato de amônio, o cloridrato de cocaína se transforma no “crack”, um composto que, quando fumado, atinge os pulmões, rapidamente é absorvido, interferindo na recaptação dos neurotransmissores (dopamina, serotonina e noradrenalina) e resultando em sensações de euforia intensa, aumento da pressão cardíaca e pressão arterial, entre outros efeitos (GOMES, 2010). Uma substância natural, obtida através das folhas da planta Erythroxylum coca, a cocaína é uma substância de ação dopaminérgica, responsável por um alto índice de dependência, conhecida por ser um complexo problema de saúde pública. Ao ser absorvida, a substância segue pela corrente sanguínea até seu local de ação, os receptores dopaminérgicos (tipo D1 e tipo D2). Sua alta toxicidade e potencial abusivo estão associados ao bloqueio na recaptação de catecolaminas (como a dopamina e noradrenalina) e serotonina no SNC e SNP. Devido a essa recaptação da dopamina no SNC é possível justificar os efeitos euforizantes da substância. A ativação de receptores do tipo D1 parece diminuir a fissura, enquanto o receptor D2 parece intensificar a mesma. Dessa forma, medicamentes agonistas do receptor D1 seriam 15 essenciais para diminuir e procura do indivíduo, além de ajudar em recaídas (LEMOS, 2019; DE MELO, 2017). A cocaína pode ser utilizada por meio do fumo, aplicação intravenosa, inalação, ou via oral. De acordo com a farmacocinética, a rota de administração determina em quanto tempo aquela substância irá agir no organismo, variando de 1 a 5 minutos se injetado ou fumado, para até mesmo 180 minutos, se aplicado pela via oral (KIM; PARK, 2019). Finalmente, Pimentel (2014) em seu estudo afirma que o 3,4- metilenodioximetanfetamina (MDMA) é uma droga sintética, alucinógena, com elevado grau de abuso. Desde o século XX, tornou-se uma das substâncias psicotrópicas mais populares, sendo o seu consumo um problema de saúde pública na sociedade atual. Apresentado muitas vezes sob a forma de comprimidos, com diversas cores e formas, produz como efeitos conhecidos sensações de relaxamento, euforia e energia, além da exacerbação de todos os sentidos, através da intensificação das cores e sons (PIMENTEL, 2014). O MDA e o MDMA são substâncias derivadas da anfetamina, classificadas como derivados anfetamínicos. Possuem tanto efeitos alucinógenos, como efeitos estimulantes no sistema nervoso central. Para tais, atuam como substrato de proteínas transportadoras de monoaminas, responsáveis pela recaptação de neurotransmissores. Quando ligadas a essas proteínas, inibem esse processo de recaptação, aumentando os níveis de neurotransmissores (serotonina, dopamina e noradrenalina) no sistema nervoso central e periférico (SCHENK; HIGHGATE, 2021; PETERS et al., 2003). 1.3. Adulterantes encontrados em drogas ilícitas Adulterantes são substâncias adicionadas à droga em questão, frequentemente sem o conhecimento prévio do usuário. Essas substâncias apresentam uma variedade de efeitos e reações tóxicas distintas no organismo do indivíduo. Apesar de muito comumente encontrados na cocaína, os adulterantes também podem estar presentes em outros tipos de entorpecentes, como em selos ou nos comprimidos, frequentemente associados às substâncias alucinógenas. Os adulterantes também têm o propósito de aumentar o volume da droga, além da 16 tentativa de potencializar os efeitos do princípio ativo. Apesar de relatado que alguns adulterantes aparecem acidentalmente durante o refino ou produção da droga, é importante salientar que essa prática também está associada com a própria necessidade do traficante, e por isso, muitas vezes é, sim, proposital, sendo, então, utilizadas para incrementar na obtenção de lucro, disfarçar sabor/cheiro, disfarçar a péssima qualidade da droga, mimetizar os efeitos nocivos de uma substância de abuso, e, em alguns casos, combinar todas essas características simultaneamente (ALCÂNTARA, 2016). É importante separar os diluentes dos adulterantes, pois são agentes citados separadamente na literatura. Os adulterantes estão relacionados a um efeito farmacológico, ligado muitas vezes ao tipo de efeito da substância, e por isso podem contribuir para potencializar os efeitos de uma determinada droga de abuso. Os diluentes por sua vez são substâncias como o açúcar, a sacarose, a manose, geralmente utilizados para simplesmente aumentar o volume do entorpecente, minimizando os prejuízos na composiçãoquímica e idealizando o aumento do preço ao usuário (LAPACHINSKE et al., 2015). Existe uma grande variedade de substâncias das quais os adulterantes podem fazer parte. Contudo, os adulterantes são mais comumente encontrados na cocaína, que muitas vezes acabam por passar despercebidos pelos testes realizados em laboratório, como o teste de Scott ou pelo teste colorimétrico (CONCEIÇÃO et al., 2014). Os adulterantes mais encontrados em amostras de cocaína são a cafeína, lidocaína, benzocaína, diltiazem, levamisol, procaína e fenacetina. De acordo com alguns autores, a lidocaína, apesar de seu alto nível de toxicidade, é o adulterante mais encontrado em amostras de cocaína em países diferentes (MAGALHÃES et al., 2013). Identificar e quantificar adulterantes e diluentes é extremamente benéfico para a fiscalização do tráfico dessas substâncias. Em 2006 a Polícia Federal Brasileira realizou a implementação do PeQui (Perfil Químico das Drogas), um projeto com o marco de ajudar nas investigações envolvendo entorpecentes, utilizando como fundamento a composição das próprias substâncias apreendidas. Boa parte do projeto PeQui é direcionada às apreensões e investigações envolvendo a cocaína visto que o Brasil é um dos principais pontos da rota de tráfico. Através desse projeto, os peritos criminais conseguiam distinguir até mesmo o país de origem das substâncias 17 apreendidas, devido às suas características únicas, especificidades dos adulterantes e diluentes, variações estas que pertenciam exclusivamente a um padrão de uma determinada rota (ZACCA et al., 2014). 1.4. Drogas ilícitas e os prejuízos na saúde pública A situação das drogas ilícitas na saúde pública é complicada, pois os problemas acerca do tema são inúmeros e complexos. Dentre alguns dos problemas envolvendo o uso de substâncias ilícitas na sociedade estão as guerras contra as drogas, a utilização de sintéticos, transtornos por uso de substâncias, e a associação com doenças sexualmente transmissíveis. A epidemia de HIV/AIDS levou a uma reconceituação da política de drogas na Inglaterra nas décadas de 1980 e 1990, com foco na redução de danos e redução de riscos. Essa abordagem reconhece que o uso de drogas pode aumentar o risco de transmissão do HIV e busca minimizar esse risco por meio de intervenções, como programas de troca de agulhas e terapia de substituição de opioides (STIMSON, 1991). A guerra contra as drogas é caracterizada por um discurso erradicador que se concentra na culpa e na punição. Esta abordagem tem sido a resposta dominante às questões relacionadas com o tráfico e o aprisionamento relacionado ao porte de drogas. Além disso, os transtornos relacionados ao uso de substâncias, incluindo aqueles que envolvem drogas ilícitas, representam um fardo pesado para a sociedade e a saúde pública. No entanto, o acesso aos cuidados para essas condições é muitas vezes limitado. Muitos indivíduos que precisam de tratamento para transtornos relacionados ao uso de drogas, incluindo aqueles que estão encarcerados, não recebem os cuidados necessários (DEBBAUT; KAMMERSGAARD, 2022; CROWLEY et al., 2017). Quanto aos uso dos sintéticos, Cohen e Weinstein (2018) evidenciam os problemas relacionados à utilização, especificamente, dos canabinoides sintéticos. Os produtos canabinoides sintéticos têm efeitos semelhantes aos da cannabis natural, mas são mais potentes e perigosos. Eles têm sido associados a graves efeitos adversos, incluindo dificuldades respiratórias, hipertensão, taquicardia, dor torácica, contrações musculares, insuficiência renal aguda, ansiedade, agitação, psicose, 18 ideação suicida e comprometimento cognitivo. O uso crônico dessas substâncias tem sido associado a condições psiquiátricas e médicas graves e até mesmo à morte (COHEN; WEINSTEIN, 2018). Ainda, tendo em vista a posição geográfica a qual o Rio Grande do Norte se situa na geografia do país, e sua aproximação a países europeus e africanos através do oceano Atlântico, essa situação torna o Estado do RN ainda mais propício à circulação de drogas em seu interior. Por exemplo, uma notícia reportada no portal da G1, em janeiro de 2023, relata a apreensão de 11 (onze) quilos de cocaína no Porto de Natal, substância essa que estava a bordo de um navio com destino à Holanda. São representações como essas que reafirmam a forte possibilidade do tráfico de drogas no Estado do Rio Grande do Norte ser uma ligação direta com o fornecimento e distribuição dessas substâncias em países europeus e africanos (G1, 2023). Tendo em vista todos os tópicos discutidos até então, esse trabalho mostra-se imprescindível para o entendimento do panorama parcial do perfil de apreensão de drogas no estado do Rio Grande do Norte. A discussão aqui retratada auxilia na informação sobre os possíveis padrões e tendências do tráfico de drogas, a possibilidade da identificação de rotas e redes de distribuição, o apoio à formulação de políticas de segurança pública, o monitoramento do impacto das políticas de combate às drogas, o monitoramento do impacto das políticas de combate às drogas, e os impactos do mercado ilícito na sociedade e na saúde pública. Sendo assim, este estudo mostra-se de extrema importância na discussão destes temas, na comparação com anos anteriores e posteriores, e no desenvolvimento de comparações com outros perfis de apreensões de drogas de diferentes Estados brasileiros. 19 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Analisar o perfil de apreensão das drogas ilícitas no período de janeiro a julho de 2022, através da coleta de dados disponíveis em laudos periciais de substâncias ilícitas proporcionado pelo Instituto Técnico-Científico de Perícia do Rio Grande do Norte (ITEP/RN). 2.2. Objetivos específicos ● Determinar a localização geográfica para as diferentes apreensões das substâncias apreendidas e relatadas por meio dos laudos periciais no período de janeiro a julho de 2022; ● Analisar os principais princípios ativos apreendidos e relatados por meio dos laudos periciais no período de janeiro a julho de 2022; ● Analisar os principais adulterantes presentes nas substâncias apreendidas e relatadas por meio dos laudos periciais no período de janeiro a julho de 2022. ● Analisar os padrões de apreensões de substâncias no intervalo dos meses e semanas no período de janeiro a julho de 2022. 20 3. METODOLOGIA 3.1. Aprovação da pesquisa no Comitê de Ética Este documento trata-se de uma pesquisa documental, informativa e retrospectiva, com o intuito de analisar os dados coletados entre o período de janeiro a julho de 2022 na instituição ITEP/RN na cidade de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Inicialmente, o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), e conforme a Resolução nº 510/2016, foi garantida a preservação de dados diretos referentes aos indivíduos, como o nome e a idade, a partir da assinatura do termo de confidencialidade pelos pesquisadores. Além disso, o termo de consentimento foi assinado pelo diretor geral do ITEP/RN, autorizando a coleta de dados no Instituto. A partir da aprovação no CEP (documento apresentado no ANEXO I), iniciou-se o levantamento dos dados. 3.2. Coleta de dados A coleta dos dados foi realizada através do Sistema Integrado de Gestão de Perícias (SIGEP), de forma que, através de uma ferramenta de busca, obteve-se acesso aos documentos elaborados pelos peritos, nos quais encontram-se as análises periciais das drogas apreendidas. Os seguintes dados foram coletados durante o trabalho: protocolo do ofício; número do laudo; órgão apreensor; data da apreensão; cidade; se houve ou não indiciado; quantidade de diferentes materiais apreendidos; característica física do material; peso; volume; resultado do laudo; adulterantes. É importante salientar que, em raríssimos casos,algumas dessas informações poderiam não constar no ofício, o que será sinalizado na apresentação dos resultados. 3.3. Critérios de Inclusão Foram analisados, ao todo, 1553 laudos. Foram incluídos todos os laudos com o órgão apreensor, quantidade da substância apreendida, peso, droga de abuso e/ou adulterante(s), com resultado confirmado após análises periciais. 21 3.4. Critérios de exclusão Laudos que não se encaixavam como apreensão de drogas ilícitas e/ou adulterantes; substâncias classificadas como agrotóxicos, medicamentos, ou fármacos de uso prescrito; substâncias que não possuíam resultados periciais por motivos técnicos; substâncias com a ausência de informações de quantidade e peso; laudos classificados como “CANCELADO”, “REGISTRADO” ou “AGUARDANDO DIGITAÇÃO”. 3.5. Análises estatísticas Os dados foram armazenados em uma planilha no Google Sheets. As análises estatísticas e gráficos foram todos produzidos com o auxílio do site InfoGram. Os mapas geográficos com as apreensões nos diferentes municípios do RN foram retirados do banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e personalizados conforme as necessidades deste trabalho. 22 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Apreensões mensais e semanais Entre o período de janeiro a julho de 2022, foram confirmadas 1509 apreensões de substâncias ilícitas em todo o Estado do Rio Grande do Norte. O gráfico 1 ilustra as apreensões mensais ao longo de todo o período. O mês com o maior número de apreensões foi o mês de março, com um total de 295 apreensões. Já o mês com o menor número de apreensões foi o mês de janeiro, com um total de 184 apreensões, apresentando uma média de 215,57 apreensões por mês. Gráfico 1: Total das apreensões mensais das drogas de abuso admitidas pelo ITEP/RN. Fonte: Autoria própria. O gráfico 2 foi elaborado agrupando todas as segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos de cada mês. Ou seja, cada conjunto de barras simboliza um mês específico e sua quantidade de apreensões do dia evidenciado. O dia com o maior número de apreensões foi a terça-feira, com um total de 281 apreensões, se contabilizado todas as terças de todos os meses do período citado. A seguir, a quinta-feira teve um total de 278 apreensões. O dia com 23 o menor número de apreensões foi o domingo, com um total de 103 apreensões de substâncias ilícitas. Gráfico 2: Total das apreensões semanais das drogas de abuso admitidas pelo ITEP/RN. Fonte: Autoria própria. As apreensões mensais, demonstradas através do gráfico 1, possuem um padrão bastante homogêneo, tendo como exceção apenas o mês de março, com um pico de quase 300 apreensões registradas. Esse pico de apreensões coincide diretamente com a data do período do Carnaval, o qual ocorreu do primeiro ao quinto dia de março no ano de 2022. Na Austrália, Lai e colaboradores (2013) realizaram um estudo comparativo do uso de substâncias ilícitas em períodos festivos e períodos controle, e perceberam um aumento significativo do uso dessas substâncias durante os períodos festivos. Dessa forma, faz-se possível a comparação do período do Carnaval com o pico de apreensões no mês de março evidenciado através do gráfico 1, visto que, culturalmente, o Carnaval representa para o Brasil uma das maiores datas festivas do país (LAI et al., 2012). Os demais meses visualizados no gráfico 1 seguem uma linha mais homogênea, com números levemente mais próximos aos da média encontrada, 215,57 apreensões por mês. Sendo assim, são mínimas as discrepâncias das apreensões mensais, mantendo uma quantidade de apreensões bem próximas umas às outras. 24 Por outro lado, as apreensões semanais (gráfico 2) demonstram padrões diferentes para alguns dias específicos da semana. O domingo foi o dia com menor número de apreensões. Esse dado pode estar diretamente relacionado tanto com a possibilidade de uma menor atividade de circulação de drogas nas ruas, e, consequentemente, uma diminuição no número de apreensões, quanto ao fato de uma menor atividade dos órgãos de segurança pública no domingo, visto que, segundo a Lei Nº 605, de 5 de janeiro de 1949, todo funcionário tem direito a folga, sendo preferencialmente a folga aos domingos. Dessa forma, com um maior número de funcionários folgando aos domingos, o número de apreensões tende a ser menor (BRASIL, 1949). 4.2. Órgãos responsáveis pelas apreensões Os órgãos de segurança pública responsáveis pelas as apreensões visualizadas ao longo deste trabalho foram: a Polícia Civil (PC), a Polícia Militar (PM), a Polícia Federal (PF), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o próprio ITEP/RN. A tabela 1 demonstra as apreensões de cada órgão apreensor ao longo dos meses. A Polícia Civil (PC) ilustra o órgão com o maior número de apreensões, um total de 1316 ao longo de todo o intervalo em estudo. O gráfico 3, por sua vez, apresenta em porcentagem quais órgãos fizeram mais apreensões de substâncias ilícitas no Estado do RN e as enviaram ao ITEP/RN para a realização das análises periciais. A Polícia Civil foi o órgão que realizou o maior número de apreensões de drogas de abuso, totalizando 87,14% do total de detenções relatadas neste estudo. Por outro lado, a Polícia Federal e o ITEP seguem com o menor número de apreensões de substâncias ilícitas, totalizando 0% e 0,33% do total de apreensões, respectivamente. Tabela 1: Quantidade de apreensões por órgão apreensor admitidas pelo ITEP/RN ao longo dos meses. 25 Fonte: Autoria própria. Gráfico 3: Porcentagem do total das apreensões por órgão apreensor admitidas pelo ITEP/RN. Legenda: PC = Polícia Civil; PM = Polícia Militar; PF = Polícia Federal; PRF = Polícia Rodoviária Federal; ITEP = Instituto Técnico-Científico de Perícia. Fonte: Autoria própria. Os órgãos federativos e governamentais de segurança pública relatados neste trabalho fizeram, cada um, suas contribuições para o total de apreensões de drogas ilícitas aqui listadas. Conforme ilustrado na tabela 1, alguns órgãos influenciaram mais com o número total de apreensões, como é o caso da Polícia Civil, que totalizou 1.315 apreensões do total, 87,14% do total das apreensões (gráfico 3). Por outro lado, órgãos como a Polícia Federal e o ITEP aparecem com 0 e 5 apreensões de substâncias ilícitas, respectivamente. Dessa forma, conforme 26 citado pelo Instituto Sou da Paz (2018), é importante problematizar que apesar da quantidade apreendida, é interessante que estas apreensões estejam diretamente relacionadas com um processo de investigação mais duradouro, envolvendo técnicas de escuta telefônica, campana e acompanhamento, dentre outros. Ações que demandam maior tempo e esforço, com um potencial de atingir maiores quantidades de apreensões, bem como a identificação de membros de alto escalão com entendimento mais completo do crime, buscando possíveis fornecedores e distribuidores (INSTITUTO SOU DA PAZ, 2018). Contudo, é importante afirmar que o processo de coleta dos dados sob a dinâmica criminal não está integrado e padronizado, visto que os diferentes órgãos representativos nas apreensões de substâncias ilícitas, citados anteriormente, aplicam metodologias e critérios de apreensão próprios. Consequentemente, não há relação maior na diversidade dos indicadores e das variáveis, dificultando não só a capacidade de comparação entre as informações, mas a possibilidade de produzir análises mais aprofundadas acerca do tema (BAPTISTA; NASCIMENTO; ANDREUCCETTI, 2022). 4.3. Mapeamento geográfico das apreensões O Estado do Rio Grande do Norte tem, ao todo, 167 municípios, sendo sua capital o município de Natal. No gráfico 4, é possível visualizar todas as apreensões no RN, representadas por meio de cores, ao longo do intervalo de janeiroa julho do ano de 2022. Os municípios com a maior incidência de tráfico de drogas foram os municípios de Natal e Mossoró, com 872 e 112 apreensões, respectivamente. O município de Natal representa 57,36% do número total de apreensões em todo o Estado. As cidades não representadas com cores refletem as regiões com nenhum relato de apreensão no município. 27 Gráfico 4: Mapeamento geográfico do total de apreensões de drogas no Estado do Rio Grande do Norte, admitidas pelo ITEP/RN. Cada cor representa o intervalo do total de apreensões de substâncias ilícitas no município. Fonte: Autoria própria. As apreensões de substâncias ilícitas no Estado do Rio Grande do Norte, no período de janeiro a julho de 2022, apresentaram uma variedade numérica ao longo de todo seu território. As cidades com maior número de apreensões, segundo o gráfico 4, foram Natal e Mossoró, com um total de 872 e 112 apreensões, respectivamente. Segundo os estudos do Instituto Sou da Paz (2018) e de Araújo (2022), é possível verificar que o resultado de ambos converge com os deste estudo, corroborando com o fato de um maior índice de apreensões de drogas de abuso na capital do Estado e regiões metropolitanas. Contudo, vale ressaltar que a metodologia desses estudos diverge um pouco com a premissa deste, tendo em vista que o perfil de apreensão realizado pelo Instituto Sou da Paz refere-se aos anos de 2015, 2016 e 2017 (até setembro), e o trabalho de Araújo evidencia apenas as substâncias classificadas como Novas Substâncias Psicoativas (NSP). Mesmo com tais divergências, as pesquisas se reafirmam ao expor o mesmo padrão do tráfico de drogas na capital e regiões metropolitanas quando comparadas com os municípios interioranos (ARAÚJO, 2022; INSTITUTO SOU DA PAZ, 2018). 28 No escopo geral das substâncias apreendidas no RN, é possível identificar uma maior incidência de substâncias identificadas como THC e cocaína. A tabela 2 mostra que, apenas para o THC, há um total de 12.223 (doze mil, duzentas e vinte e três) unidades apreendidas. Enquanto para a cocaína, há um total de 19.533 (dezenove mil, quinhentas e trinta e três) unidades apreendidas. Essas informações vão ao encontro dos resultados das apreensões obtidas em Pernambuco. No Estado de Pernambuco, as principais drogas encontradas no Estado foram a maconha e a cocaína (incluindo o crack), com o número reduzido de apreensões de drogas sintéticas uma vez comparados à maconha e à cocaína. Esse cenário é bem similar ao do Estado do RN, que além dos números citados para as substâncias identificadas como THC e cocaína, as apreensões dos sintéticos também foi menor, com 250 unidades de MDA apreendidas, 84 de MDMA, e nenhuma de LSD (CDE, 2022). 4.4. Alguns dos princípios ativos e as apreensões geográficas No gráfico 5 é possível identificar todos os locais de apreensão de THC identificados por métodos laboratoriais, feitos pelo ITEP/RN, sendo possível a localização da apreensão por meio dos laudos criminais. Os municípios com os maiores índices de apreensão de THC no Estado do RN foram Natal e Mossoró, com 564 apreensões em Natal, e 71 apreensões em Mossoró. A média de apreensões por município foi de 16,35. 29 Gráfico 5: Mapeamento geográfico do total de apreensões de substâncias identificadas como THC no Estado do Rio Grande do Norte, admitidas pelo ITEP/RN. Em 20 casos de apreensão de THC o local de apreensão não foi informado no laudo, e, portanto, não foram incluídos no gráfico. Todos os locais que não possuem cores não possuem registro de apreensão. Fonte: Autoria própria. Em seguida o gráfico 6 consiste no total de apreensões da cocaína no Estado do RN, tendo em vista a identificação da substância por exames laboratoriais do ITEP/RN, e a possibilidade da localização precisa de cada apreensão graças aos laudos periciais dos exames toxicológicos de tais substâncias. No caso da cocaína, o município com o maior número de apreensões foi Natal, com um total de 275 apreensões ao longo do intervalo aqui estudado. Ao todo, 18 cidades tiveram o total de apenas 1 apreensão da cocaína, dentre elas Acari, Touros, São José de Mipibu, Jardim do Seridó, entre outras cidades. A média geral de apreensão por municípios com relatos foi de 9,66 apreensões por município. Em relação à cocaína, não houve casos sem identificação da cidade no ofício, e, por isso, todos casos de apreensão de cocaína estão registrados no gráfico em questão (Gráfico 6). 30 Gráfico 6: Mapeamento geográfico do total de apreensões de substâncias identificadas como cocaína no Estado do Rio Grande do Norte, admitidas pelo ITEP/RN. Na legenda, o intervalo de apreensões que determina a cor para cada município. Fonte: Autoria própria. Os próximos gráficos (Gráfico 7 e 8) evidenciam o número de apreensões para as substâncias MDA e MDMA. Ao todo, foram 6 municípios com relatos de apreensões do MDA, com Natal tendo 9 apreensões no intervalo de janeiro a julho de 2022. Ao todo, foram 18 apreensões de MDA no intervalo mencionado. Monte Alegre, Nova Cruz, Extremoz e Currais Novos com o total de 1 apreensão de MDA, e São José de Mipibu com 2 apreensões. 31 Gráfico 7: Mapeamento geográfico do total de apreensões de substâncias identificadas como MDA no Estado do Rio Grande do Norte, admitidas pelo ITEP/RN. Na legenda, o total de apreensões por município determinando sua cor. Houve 3 casos de apreensão de MDA cujos laudos não informaram a localização da apreensão dessas substâncias, e, por isso, esses casos não estão incluídos no gráfico em questão. Fonte: Autoria própria. O número de apreensões do MDMA foi de 13 apreensões no intervalo de janeiro a julho de 2022. Natal apresenta o maior número de apreensões de substâncias ilícitas, com um total de 9 apreensões. As cidades de Currais Novos, Goianinha, São José de Mipibu e Tibau do Sul tiveram apenas 1 apreensão dessas substâncias psicotrópicas, cada. Não houve situação de ausência do local de apreensão nesses casos. 32 Gráfico 8: Mapeamento geográfico do total de apreensões de substâncias identificadas como MDMA no Estado do Rio Grande do Norte, admitidas pelo ITEP/RN. Na legenda, o total de apreensões por município determinando sua cor. Fonte: Autoria própria. Em relação as feniletilaminas substituídas, como o 2,5-dimetoxi-4- bromofenetilamina (2C-B) e o N-benziloxi (NBOH) e suas variações, por fazerem parte de um pequeno número de apreensões, estão no formato de gráfico de linha, e não de mapa de apreensões (Gráfico 9), para facilitar a visualização e, posteriormente, a discussão destes dados. Dentre as feniletilaminas substituídas apreendidas no período de janeiro a julho de 2022, estão o 2C-B, o 25B-NBOH, e o 25E-NBOH. Ao todo, foram apreendidos 1, 12, e 1 unidades dessas substâncias, respectivamente. O maior número dessas apreensões foi em Natal, totalizando 8 apreensões de feniletilaminas na capital. Contudo, a única apreensão da substância 25E-NBOH teve como local o município de Santa Cruz. 33 Gráfico 9: Mapeamento geográfico do total de apreensões de substâncias identificadas como feniletilaminas no Estado do Rio Grande do Norte, admitidas pelo ITEP/RN. Na legenda, o total de apreensões por município determinando sua cor. Fonte: Autoria própria. 4.5. Tabela de todos os princípios ativos apreendidos Na tabela 2 estão listadas as substâncias ilícitas mais apreendidas ao longo deste estudo. Ao todo, foram 9 (nove) substâncias ilícitas com o maior número de recorrência, além de substância que testaram negativo aos exames periciais, mas que apresentaram algum tipo de adulterante em sua composição química. É importante salientar que,na coluna de “Contaminantes”, há uma listagem de todos os adulterantes encontrados nas mais diferentes amostras dessas substâncias. Contudo, não são todas as substâncias que possuem os contaminantes apresentados, apenas uma fração delas. A coluna serve para visualizar a incidência desses adulterantes (tabela 3). 34 A tabela 2 permite visualizar informações importantes, como a quantidade, em unidades, de substâncias apreendidas, as características físicas no momento da apreensão, o peso médio dentre o total dessas substâncias, e os possíveis adulterantes encontrados. Além disso, a característica física dos materiais foi variável. A cocaína, por exemplo, foi descrita em diferentes apreensões como “pedra”, “pastoso”, “cristal”, “pedra amarelada” ou “pó”. Quanto aos alucinógenos, como o MDA e o MDMA, foram encontradas descrições como “Selo” e “Comprimido”. O MDMA foi a única droga com a aparição de um único adulterante. Tabela 2: Princípios ativos das substâncias apreendidas, quantidade apreendida em unidades, caraterística física dos materiais apreendidos, e peso médio do total das substâncias apreendidas. Fonte: Autoria própria. 35 Uma das substâncias mais apreendidas no RN foi a cannabis, com apreensões não só nas regiões mais populosas do Estado (Natal e Mossoró), como também em cidades interioranas. A demanda pela cannabis, no Brasil, segundo uma pesquisa realizada em 2005, indica-a como a droga ilícita mais consumida no país. Tendo em vista os efeitos relaxantes da substância, além da capacidade de motivar e transformar positivamente os encontros sociais, essas características podem justificar os altos números de apreensões dessa substância não só no Brasil, mas também no próprio território do Estado do Rio Grande do Norte (BOITEUX, 2009; ALARCON, 2012). Para entender como esses efeitos afetam a saúde pública do nosso Estado, a UNODC (2023) em seu mais recente World Drug Report 2023 afirma que é estimado que cerca de 41% dos casos de transtornos por drogas são desordens causadas pelo uso da cannabis. Além disso, outros estudos também apontam os prejuízos que a cannabis pode causar no desenvolvimento de adolescentes e no desenvolvimento neuronal pré-natal. Sendo assim, o número de apreensões pode, sim ser preocupante uma vez que reflete diretamente a circulação dessas substâncias entre a população do Estado do Rio Grande do Norte. Porém, o alto número de apreensões de substâncias caracterizadas como THC no RN demonstra uma forte frente de combate ao tráfico dessas substâncias (UNODC, 2023; VOLKOW et al., 2014). A cocaína, por sua vez, apesar de menos apreensões (gráfico 6) quando comparada com as apreensões do THC (gráfico 5), teve uma maior quantidade de unidades apreendidas, totalizando 19.553 (dezenove mil, quinhentas e cinquenta e três) unidades apreendidas (tabela 2). A cocaína apreendida foi caracterizada em diversos aspectos, como pó, pedra, pedra amarelada, pastoso e cristal. Segundo a UNODC (2017), a quantidade de cocaína apreendida mais do que duplicou na América do Sul durante o período entre o ano de 1998 a 2014. De 2009 a 2014, o Brasil vem simbolizando 7% das apreensões globais da cocaína. O crescimento na quantidade de apreensões dessa substância está, provavelmente, diretamente relacionado com uma melhor aplicação da lei e esforços dos órgãos de segurança pública (UNODC, 2017). Dessa forma, esses dados podem simbolizar que o alto número de apreensões de unidades de cocaína no RN remete 36 diretamente ao intensificado combate ao tráfico e o esforço dos órgãos locais de segurança pública. Essa substância é caracterizada como uma droga de alto risco de potencial de abuso, podendo levar a uma dependência severa. Dessa forma, essa substância pode levar aos mais diversos problemas de saúde, por exemplo, nos Estados Unidos, cerca de 40% das emergências hospitalares envolvendo substâncias de abuso estão relacionadas com a cocaína (KIM; PARK, 2019). Outros trabalhos afirmam que a cocaína está entre as drogas favoritas de adolescentes e jovens universitários. Por isso, o alto número de unidades apreendidas no RN chega a ser preocupante, visto que, no Estado, existem 78 universidades diferentes, e uma possível circulação dessas substâncias no meio acadêmico prejudicaria a saúde e o ensino desses jovens. Madu e colaboradores (2003) encontraram correlação com o aumento do uso de drogas ilícitas quando os alunos de uma universidade estão mais cansados, estressados, deprimidos, em festas ou durante os finais de semana e horários livres (KRAČMAROVÁ, 2011; MADU; MATLA, 2003). Conforme ilustram os gráficos 7, 8, e 9, o perfil de apreensão das substâncias perturbadoras do SNC foi menor do que as apreensões da cannabis e da cocaína. As apreensões do MDA, do MDMA, do 2C-B, e do NBOH e suas variações foram significativamente maiores em Natal. Contudo, é interessante notar que as apreensões que não foram em Natal estão em cidades que são relativamente perto de Natal, como Ceará-Mirim, Nova Cruz, e São José de Mipibu. Segundo a Polícia Federal no relatório levantando pela MJSP-PF (2021), uma característica das apreensões do MDA e do MDMA, no Brasil, é que o número de unidades de MDMA, nos últimos anos, vêm sendo sempre maior que o número de apreensões do MDA. Contudo, ainda no Brasil, o relatório levantado no ano de 2021 relatou que as apreensões de MDA foram acima do dobro das unidades apreendidas de MDMA. Esse perfil condiz com o encontrado neste estudo, de modo que, ao todo, foram apreendidas 250 unidades de MDA, enquanto apenas 84 unidades de MDMA (MJSP-PF, 2021). Apesar de poucas apreensões se comparadas com as demais substâncias previamente citadas aqui nesse estudo, essas substâncias conferem um problema de saúde pública, seja de um ponto de vista agudo ou crônico. Diferentes estudos 37 feitos em ratos e camundongos mostraram que os efeitos negativos do MDA e do MDMA no sistema serotoninérgico desses animais podem justificar o humor e os transtornos cognitivos frequentemente relacionados aos usuários dessas substâncias (O’HEARN et al., 1988; RENOIR et al., 2008). Por fim, as substâncias 2C-B e NBOH e suas variações vêm sendo cada vez mais apreendidas pelos órgãos de segurança pública. A família NBOH foi a classe de substâncias psicodélicas mais apreendida no país no ano de 2021 (MJSP-PF, 2021). Mesmo com essa suposta popularidade, ainda é escasso o número de estudos acerca das propriedades farmacológicas das NBOH e suas variações, tornando essa uma substância extremamente perigosa. É notório que tais compostos são potentes agonistas de vários receptores da serotonina, em especial do 5-HT2A, mas não se sabe ao certo como são induzidos os episódios alucinógenos dessa substância. Apesar das poucas apreensões no Estado do RN, a escassez de informações e os relatos nos canais midiáticos a respeito de óbitos relacionados com essas substâncias faz-se necessário uma atenção redobrada ao monitoramento das mesmas (MJSP-PF, 2021). 4.6. Contaminantes encontrados em substâncias apreendidas Por fim, a tabela 3 evidencia todos os adulterantes encontrados em todos os tipos de substâncias ilícitas apreendidas. Em alguns casos, conforme mostrado na tabela 2, mesmo após testar negativo para algum tipo de princípio ativo, uma substância pode ter adulterantes em sua composição. Descrito em unidades, a substância mais encontrada nas análises de laboratório foi a cafeína, encontrada em 214 substâncias apreendidas. Tendo em vista o total de 337 adulterantes encontrados no intervalo de estudo deste trabalho, a cafeína é o adulterante que compõe cerca de 63,5% do total de adulterantes encontrados nas amostras de substâncias apreendidas. 38 Tabela 3: Contaminantes encontrados em substâncias apreendidas e suas quantidades. Fonte:Autoria própria. A tabela de contaminantes encontrados (tabela 3) nas substâncias ilícitas apreendidas é amplo, destacando a cafeína como a substância mais encontrada nas amostras coletadas, seguida da tetracaína e da fenacetina. Ribeiro e colaboradores (2019), em estudos realizados na Holanda, mostraram que 40,6% das amostras de cocaína apreendidas continham adulterantes, e, dentre esses, destacaram-se a benzocaína, a cafeína, a lidocaína, entre outras substâncias. Já na Espanha, a lidocaína era a substância mais apreendida entre os anos de 1985 a 1987, presente em 69,6% do total de amostras de cocaína coletadas. Foi apenas no ano de 1992 e 1993 que a cafeína foi a substância mais encontrada, se tornando a substância mais comumente encontrada nas amostras desde então. Esses dados relacionam-se com os aqui encontrados, tendo em vista que a lidocaína, apesar de não ter sido substancialmente encontrada de forma individual, foi bastante associada com outras substâncias como a própria cafeína (RIBEIRO et al., 2019). Um estudo realizado pelo CSFRE (2023) retratou a tetracaína como uma das substâncias menos encontradas ao redor do mundo em amostras de drogas ilícitas entre os anos de 2016 a 2021, com nenhuma aparição da mesma associada com a cocaína. Esse panorama pode assustar quando comparado com o Estado do RN, que representa um total de 42 unidades apreendidas de substâncias ilícitas com a presença da tetracaína, e mais 31 substâncias que continham a tetracaína em associação com outros adulterantes. A pesquisa de 2023 afirma que é raro o 39 achado da tetracaína em associação com drogas ilícitas. Contudo, o cenário do Rio Grande do Norte coloca essa substância como o segundo adulterante mais apreendido nas substâncias ilícitas, distanciando-se da ideia das apreensões mundiais e caracterizando uma perspectiva diferente que deve ser considerada e investigada com atenção (CSFRE, 2023). 4.7. Perfil geral das apreensões Mediante todos os dados aqui já discutidos, existem alguns os quais a discussão é mais escassa, e, por isso, torna-se ideal reconhecer essas substâncias e entender como cada uma funciona. Por meio da tabela 2 é possível identificar uma série de inalantes diferentes apreendidos, como o etanol, o diclorometano, o clorofórmio e o tricloroetileno. Os inalantes são substâncias que podem existir na forma gasosa, líquida, aerossol, ou até sólida, sendo inalados como gases ou vapores e rapidamente absorvidos pelos pulmões. Possuem toxicidade aguda e crônica, podendo gerar dependência e crise de abstinência. Um problema comumente associado com crianças e adolescentes, pelo fato de serem produtos frequentemente encontrados no dia-a-dia, tornando-as uma das primeiras drogas de abuso utilizadas. Sendo assim, apesar de, individualmente, apresentarem poucas unidades apreendidas, quando somados, os inalantes representam um número significativo no Estado do RN. É notório que outras substâncias, como a maconha e a cocaína, são mais recorrentes na literatura e mais comparadas com diversos estudos, entretanto, pensando nos inalantes como uma porta de entrada para as demais substâncias, é interessante, e necessário, que surjam cada vez mais pesquisas e discussões acerca do tema (SOUZA; PANIZZA; MAGALHÃES, 2016). Outra substância com alto número de apreensões foi o clobenzorex. Ilícita em diversos países, inclusive no Brasil, essa droga é muito comum em contexto de festas, trata-se de um estimulante do SNC, estruturalmente relacionada com a anfetamina. O clobenzorex, antes de 2021, era uma substância lícita, utilizada em casos de necessidade na supressão do apetite. Contudo, a partir do dia 23 de fevereiro de 2021 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) mudou a classificação do clobenzorex da lista A3 (substâncias psicotrópicas) para a lista F2 40 (substância psicotrópica com uso proscrito no Brasil). A mudança foi visando proibir a produção, fabricação, importação, exportação, comércio e uso da substância, tornando possível a utilização da substância apenas mediante autorização da ANVISA com a estrita finalidade de desenvolver pesquisas e trabalhos médicos e científicos (ANVISA, 2021; MJSP-PF, 2021). Ainda, algumas substâncias restantes na lista de apreensões da tabela 2 merecem uma maior atenção, como é o caso da tenanfetamina e a metanfetamina. Apesar de ambos serem derivados anfetamínicos, as duas substâncias possuem princípios ativos totalmente diferentes, agindo de forma diferente no sistema nervoso central. A tenanfetamina é uma substância frequentemente associada ao MDA, um composto alucinógeno que inibe a recaptação de catecolaminas, aumentando os níveis de adrenalina e noradrenalina no corpo. Assim como o MDA, a tenanfetamina é um alucinógeno, sendo menos tóxico que seu derivado, mas em determinadas doses ainda pode destruir neurônios serotoninérgicos (PUBCHEM, 2023). Os dados acerca dessa substância são extremamente escassos, e por isso, mesmo que apreendido em poucas quantidades, é um alerta para os órgãos de segurança pública. A metanfetamina, segundo relatórios da Polícia Federal, é uma substância que, ano após ano, vem sendo cada vez mais apreendida no Brasil. Nos Estados Unidos, continua sendo a substância com o maior número de identificações entre os 283 laboratórios que compõem o Sistema Nacional de Informações de Laboratórios Forenses, com 433.740 casos positivos somente em 2020. Apesar de poucas apreensões da metanfetamina no RN, quando comparadas com as demais substâncias listadas (tabela 2), há a possibilidade de que a metanfetamina esteja se tornando um problema de saúde pública no Brasil, sendo preciso monitorar como será o avanço das apreensões dessa substância nos próximos anos, tendo em vista suas potentes ações como estimulante do SNC e, consequentemente, seus graves danos colaterais (MJSP-PF, 2021). Por fim, houveram casos os quais as substâncias testadas em laboratório, através dos métodos de análise de drogas disponíveis no ITEP/RN, apresentaram resultado negativo na identificação de uma substância. Existem razões pelas quais um teste de análise de drogas pode apresentar o resultado negativo, como a especificidade e a qualidade da substância. Os testes forenses são projetados para 41 detectar drogas específicas ou metabólitos de drogas, mas podem não ser capazes de distinguir entre compostos estruturalmente semelhantes (NASH et al., 2018). Por exemplo, um teste colorimétrico pode produzir falso positivo para a cocaína ao testar difenidramina, e pode não detectar tão facilmente outro composto como a benzilpiperazina. Referente a qualidade, a amostra a ser testada também pode afetar a precisão dos testes forenses. Em um caso de amostras contaminadas demais ou degradadas demais, os resultados podem ser imprecisos (BECK; ULLAH; KRONSTRAND, 2019). 42 6. CONCLUSÃO Com a análise dos resultados obtidos, é possível visualizar que o perfil das apreensões no Rio Grande do Norte se encaixa em diversos estudos e perfis de apreensão de substâncias de abuso realizados ao redor do mundo. Apesar de divergir, em partes, dos estudos relacionados aos contaminantes e aos números de substâncias apreendidas, o Rio Grande do Norte tem se mostrado forte no combate ao tráfico de drogas, priorizando a saúde e o bem-estar da população norte-riograndense. Entretanto, faz-se necessário levar em consideração que os dados foram coletados apenas entre os meses de janeiro a julho de 2022 e, por isso, não representam um panorama geral da apreensão de substâncias ilícitas no Estado do Rio Grande do Norte. Dessa forma, para posteriores comparações, ou comparações retrógradas com o próprio Estado ou para regiões diferentes, é imprescindível ampliar a coleta de dados ao longo de um período mais extenso, a fim de obter uma visão abrangentee precisa das tendências e variações relacionadas às apreensões de substâncias ilícitas. Finalmente, é notável os altos números de apreensões e, consequentemente, número de substâncias que circulam as ruas do RN, fato esse preocupante pelos danos que podem ser gerados aos usuários e à sociedade. Sendo assim, entende-se que o trabalho da segurança pública é indispensável nas medidas tomadas para o combate na produção e no uso das drogas de abuso, além do controle especial das próprias substâncias legalizadas, com o intuito de reduzir seus usos em fins criminais. A toxicologia forense emerge como uma área inegavelmente essencial para a elucidação de delitos, responsabilização de envolvidos, e na transparência na divulgação de seus resultados à sociedade, a qual se beneficia de seu valioso serviço. 43 7. REFERÊNCIAS ALARCON, Sergio. Drogas Psicoativas: classificação e bulário das principais drogas de abuso. In: Álcool e outras drogas: diálogos sobre um mal-estar contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2012. p. 103-129. ALCÂNTARA, Lucas Takeji Aoki. ADULTERANTES ENCONTRADOS EM DROGAS ILÍCITAS: UMA ABORDAGEM FORENSE. Acta de Ciências e Saúde, v. 02, n. 05, 2016. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. 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Terá um plano de trabalho que a pesquisadora pretende avaliar o perfil de drogas de abuso apreendidas e admitidas no ITEP/RN nos anos de 2018, 2019, 2020 e 2021, comparando os anos anteriores e posteriores à pandemia. Será realizada uma análise retrospectiva dos dados obtidos nos anos de 2018, 2019, 2020 e 2021. Objetivo da Pesquisa: Avaliar o perfil de drogas de abuso apreendidas e admitidas no ITEP/RN nos anos de 2018, 2019, 2020 e 2021, comparando os anos anteriores e posteriores à pandemia. Avaliação dos Riscos e Benefícios: Os riscos podem ser considerados como mínimos e os benefícios indiretos. Comentários e Considerações sobre a Pesquisa: A partir dos dados arquivados em ofício no ITEP/RN, serão coletadas informações referentes às 51 Página 01 de características físico-químicas, presença de contaminantes e quantidade das drogas apreendidas. Ainda, considerando a regionalização do Estado do Rio Grande do Norte proposto por Barbosa e colaboradores (2017), serão coletados dados referentes ao local de apreensão das amostras. A pesquisa terá uma análise retrospectiva dos dados obtidos nos anos de 2018, 2019, 2020 e 2021. Os dados serão apresentados como média ± EPM e porcentagem. Para a primeira análise será utilizado t-teste de Student para comparação entre os períodos, sendo considerada p<0,05 para associações. Após, será realizada análise multivariada a fim de verificar o efeito das variáveis independentes (classe de droga, região, quantidade) sobre a apreensão de drogas nesses dois períodos (antes e após a pandemia). Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória: Foram apresentados: folha de rosto, folha de identificação do pesquisador, termo de concessão, cronograma, orçamento financeiro, carta de anuência, declaração de não início, projeto PB, projeto completo, justificativa para liberação do TCLE. Recomendações: Ver o campo "Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações". Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações: O projeto de pesquisa tinha duas pendências: 1) Na folha de identificação do pesquisador foi mencionado que a pesquisa corresponde a uma monografia,trabalho de mestrado e de doutorado. Entretanto no projeto PB e no termo de confidencialidade só encontra o nome da pesquisadora, e a equipe? Os nomes devem estar presentes no projeto PB e eles devem assinar o termo de confidencialidade. PENDÊNCIA ATENDIDA 2) Qual será o tipo de documento que a pesquisadora irá utilizar? Pois se for um dado de acesso públiconão há problema. Porém, se for um banco de dados que precisa ter acesso pelo ITEP e que irá ter acesso ao nome, escolaridade, sexo, idade, etnia, profissão e escolaridade, estes dados, e 52 Página 02 de este documento, pertencem a família ou responsáveis do participante, assim não pode pedir a dispensa do TCLE. - Objetivo modificado
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