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RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 1 SP 1.5 – MAS CRIANÇA TEM HIPERTENSÃO? DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMA 1. DEFINIR EDEMA, IDENTIFICANDO SUAS DIFERENTES CAUSAS E MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS. Cerca de dois terços da água corporal total está em nível intracelular, enquanto um terço é extracelular. Cerca de um quarto dessa última parte está no plasma, enquanto o restante compreende o líquido intersticial. O edema representa um excesso de líquido intersticial que fica evidente clinicamente. O líquido pode ser pobre em proteínas (transudato) ou rico em proteínas (exsudato) Há trocas constantes de fluidos entre os dois compartimentos de líquido extracelular. A pressão hidrostática dentro dos capilares e a pressão coloidal oncótica no líquido intersticial promovem o movimento de água e solutos passíveis de difusão do plasma para o interstício. → A pressão hidrostática é aquela em que um fluido exerce contra as paredes de seu recipiente, é gerada pelo sangue no interior dos vasos sanguíneos na extremidade arteriolar do leito capilar. → Pressão coloidosmótica é gerada pela quantidade de proteínas plasmáticas no plasma sanguíneo, especialmente pela albumina e pelas globulinas, que aplicam uma pressão sobre o endotélio do vaso para evitar que o solvente o atravesse, ou seja, é a força contrária à osmose. Como a força hidrostática é ligeiramente maior que a oncótica, há uma pequena saída de liquido plasmático do interior do sangue para os tecidos. Esse movimento é mais proeminente na origem arterial dos capilares, caindo progressivamente com o declínio na pressão intracapilar e com a elevação na pressão oncótica em direção à extremidade venular. O líquido retorna do espaço intersticial para o sistema vascular em grande parte através do sistema linfático. Essas trocas de fluidos são normalmente equilibradas de maneira que os volumes dos compartimentos intravascular e intersticial permaneçam constantes. Porém, ocorre um movimento resultante de fluidos do espaço intravascular para o intersticial que pode ser responsável pelo desenvolvimento de edema sob as seguintes condições: (1) aumento na pressão hidrostática intracapilar; (2) drenagem linfática inadequada; (3) redução na pressão oncótica do plasma; (4) dano à barreira endotelial capilar; (5) aumentos na pressão oncótica no espaço intersticial. O volume de sangue arterial efetivo (VSAE) representa o volume de sangue necessário para manter o retorno venoso, a perfusão tecidual e o debito cardíaco dentro dos valores normais e depende do volume sistólico (ejetado pelo coração) que é influenciado pelo retorno venoso ao átrio direito que depende do tônus das grandes veias e do volume de sangue intravascular. A redução do VSAE ativará os mecanismos de controle de volume no sentido da retenção renal de água e sódio. As síndromes dos grandes edemas são acompanhadas de alterações do VSAE ou do seu principal órgão regulador, os rins. ____________________________________________ CAUSAS: AUMENTO DA PRESSÃO HIDROSTÁTICA Ex: Trombo – aumento da pressão hidrostática -> extravasamento de liquido plasmático para tecido intersticial que vai ficar retido nesse tecido, formando edema. DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO COLOIDOSMOTICA A pressão coloidosmótica “contrária” a pressão hidrostática, então quando elas estão ‘’se equilibrando”, se tem um extravasamento normal. Quando há diminuição da pressão coloidosmótica, há aumento da pressão hidrostática, com consequente formação de edema. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 2 Ex: Doença hepática grave: A maior parte da proteína plasmática é representada pela albumina que é produzida no fígado -> diminuição da albumina -> edema (DIMINUIÇÃO DA SÍNTESE) Ex: Síndrome nefrótica: A albumina é perdida na urina através de capilares glomerulares com permeabilidade anormal (AUMENTO DA PERDA) OBSTRUÇÃO LINFÁTICA Normalmente há um extravasamento de líquido para o espaço intersticial, que é reabsorvido pelos vasos linfáticos. Quando há obstrução linfática, esse líquido tende a se acumular, porque a linfa começa a ser retida no tecido Ex: Neoplasias malignas, filariose AUMENTO DA PERMEABILIDADE VASCULAR Em processos inflamatórios, algumas substâncias são liberadas, os mediadores pró-inflamatórios. Eles promovem vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular (ocorre contração das células endoteliais, aumentando o espaço entre elas). Esse aumento da permeabilidade permite a passagem de macromoléculas, saindo do espaço vascular em direção ao interstício. Com isso, há passagem de células, como os leucócitos, e proteínas, como a albumina. E forma-se, então, o exsudato, que é um tipo de líquido do edema, com alta densidade, devido à alta concentração de proteínas e concentração celular. RETENÇÃO DE SÓDIO E ÁGUA O aumento da retenção de sal, associado obrigatoriamente à retenção de água, provoca tanto o aumento da pressão hidrostática (devido à expansão de volume líquido intravascular) quanto a diminuição da pressão coloidosmótica vascular (devido à diluição). A retenção de sal ocorre sempre que a função renal está comprometida, como nos distúrbios primários do rim e nos distúrbios cardiovasculares que diminuem a perfusão renal. ICC: Diminuição da perfusão de sangue nos rins -> ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona -> aumenta retenção de sódio e água -> maior volume sanguíneo -> maior pressão hidrostática -> edema generalizado 2. RELACIONAR AS CAUSAS DE EDEMA (RENAIS, CARDÍACAS, VASCULARES, INFLAMATÓRIAS, HEPÁTICAS, ENDÓCRINAS E NUTRICIONAIS) COM OS MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS ENVOLVIDOS Os distúrbios cardíacos, renais, hepáticos ou nutricionais são responsáveis pela grande maioria de pacientes com edema generalizado. Em consequência, o diagnóstico diferencial do edema generalizado deve ser direcionado à identificação ou à exclusão dessas várias patologias. EDEMA CARDÍACO O edema cardíaco pode ser entendido por uma queda do débito cardíaco ocasionado por uma falência no miocárdio. Desse modo, há uma elevação da pressão venosa sistêmica e redução do volume efetivo de sangue. O aumento da pressão venosa facilita a passagem de líquido para o interstício levando a formação do edema. Com a redução do débito cardíaco a pressão arterial tende a cair o que reduz a filtração glomerular. Consequentemente com a ativação do SRAA há uma redução da excreção de sal e água favorecendo a reabsorção e aumento do edema. O acometimento isolado do lado esquerdo do coração permite o aumento da pressão do átrio esquerdo. Consequentemente menos sangue chega nessa cavidade, ficando “preso” nos capilares pulmonares. A congestão acentuada desse sangue nos capilares pulmonares pode resultar na formação do edema pulmonar pelo acúmulo de líquido nos pulmões. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Na insuficiência cardíaca, o esvaziamento sistólico deficiente do(s) ventrículo(s) e/ou o comprometimento do relaxamento ventricular promovem um acúmulo de sangue na circulação venosa às custas do volume arterial efetivo. Além disso, a ativação do sistema nervoso simpático e do SRAA agem em conjunto causando vasoconstrição renal, redução da filtração glomerular e retenção de sal e água. A retenção de sódio e água continua, e o incremento do volume sanguíneo acumula-se na circulação venosa, aumentando a pressão venosa e intracapilar, resultando em edema. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 3 A presença de uma cardiopatia manifesta, com cardiomegalia e/ou hipertrofia ventricular, junto com evidências clínicas de falência cardíaca, tais como dispneia, estertores basais, distensão venosa e hepatomegalia, geralmente indica que o edema resultade insuficiência cardíaca. Testes não invasivos, como o cardiograma, a ecocardiografia e as medidas de BNP (ou NT-pró-BNP) são úteis no estabelecimento do diagnóstico de doença cardíaca. O edema da insuficiência cardíaca ocorre nas porções dependentes do corpo. Anamnese: Dispneia com esforço notável – frequentemente associada à ortopneia – ou dispneia paroxística noturna Exame físico: Pressão venosa jugular elevada, galope ventricular (B3); ocasionalmente, com ictus cordis discinético ou deslocado; cianose periférica, extremidades frias, pressão de pulso pequena quando grave Exames laboratoriais: Razão entre nitrogênio ureico e creatinina elevada comum; sódio sérico geralmente reduzido; peptídeos natriuréticos elevados. ____________________________________________ EDEMA HEPÁTICO A cirrose hepática pode ocasionar edema pela progressão da fibrose no fígado afetando a função hepática. Inicialmente é observado alteração no funcionamento dos hepatócitos (necrose) acometendo a síntese proteica (albumina). Em seguida a destruição da arquitetura lobular dos hepatócitos causa distorção estrutural que resulta no aumento da dificuldade do fluxo sanguíneo e da linfa nos sinusoides hepáticos. Evoluindo para obstrução do fluxo venoso hepático, que, por sua vez, expande o volume sanguíneo esplâncnico e aumenta a formação hepática de linfa. Consequentemente, observa-se o aumento da pressão no sistema porta e linfático o qual é denominado de hipertensão portal. O aumento da pressão portal faz com que o sangue busque outras vias (formação de circulação colateral e aumento da circulação esplânica) que associado a redução da síntese de albumina provoca a formação de edema. A hipertensão intra-hepática atua como um estímulo à retenção renal de sódio e causa uma redução do volume sanguíneo arterial efetivo. Essas alterações são frequentemente complicadas pela hipoalbuminemia secundária à redução da síntese hepática de albumina, assim como pela vasodilatação arterial periférica. Esses efeitos reduzem o volume sanguíneo arterial efetivo, levando à ativação dos mecanismos de retenção de sódio. A concentração de aldosterona circulante mostra-se frequentemente elevada pela incapacidade do fígado de metabolizar esse hormônio. Inicialmente, o excesso de fluido intersticial se localiza preferencialmente em nível proximal em relação ao sistema venoso portal congestionado. A existência de hipertensão portal torna o território esplânico mais vulnerável a presença de hipoalbuminemia, resultando em transudação e formação de edema (ascite). Nos estágios avançados, particularmente quando há hipoalbuminemia grave, pode ocorrer edema periférico. Um acúmulo considerável de líquido ascítico pode aumentar a pressão intra-abdominal e impedir o retorno venoso dos membros inferiores e contribuir para o acúmulo de edema. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 4 Anamnese: Dispneia rara, exceto se associada a um grau significativo de ascite; na maioria dos casos, existe história de uso abusivo de álcool Exame físico: Frequentemente associada à ascite; pressão venosa jugular normal ou baixa; pressão arterial mais baixa do que a observada na doença renal ou na cardíaca; um ou mais sinais adicionais de doença hepática crônica (icterícia, eritema palmar, contratura de Dupuytren, angioma aracneiforme, ginecomastia masculina, asterixe e outros sinais de encefalopatia) podem estar presentes Exame laboratorial: Quando grave, reduções na albumina sérica, colesterol, outras proteínas hepáticas (transferrina, fibrinogênio); enzimas hepáticas elevadas, dependendo da causa e intensidade da lesão hepática; tendência à hipopotassemia, alcalose respiratória; macrocitose pela deficiência de folato ____________________________________________ EDEMA RENAL O edema renal geralmente está associado com aumento de cloreto de sódio no sangue oriundo de doenças renais que comprometem a excreção urinária desses componentes. A retenção crônica de sódio e água permite que grande fluxo de sal vaze para o interstício e aumente o volume desse espaço. Além disso, podemos observar o aumento da pressão arterial como efeito da ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona. EDEMA NEFRÍTICO As síndromes nefríticas agudas, por exemplo a glomerulonefrite, consiste na presença de edema, hematúria e hipertensão (sem proteinúria importante acima de 3,5 g/dia). A causa fundamental desse tipo de edema é redução da taxa de filtração glomerular. O edema é mais grave quanto maior for a redução da TFG. Observamos nesses pacientes uma redução da excreção de sódio e água acompanhada de um aumento da reabsorção do mesmo. Nessas condições são observados o edema e a hipertensão (lembrar do caso da situação problema). Nos casos de insuficiência renal aguda (necrose tubular) pode haver ou não a formação de edema. Isso decorre do acometimento ou não da filtração glomerular. EDEMA NEFRÓTICO Pacientes com doenças renais que cause lesão específica na membrana basal glomerular resulta em aumento da permeabilidade a macromoléculas. Nesse caso, estamos falando do aumento da passagem de proteínas plasmáticas ultrapassando 3,5 g/dia. Clinicamente os pacientes manifestam uma urina espumosa e edemas. A causa desse tipo de edema decorre da redução da pressão oncótica do plasma que promove uma menor reabsorção do fluido intersticial da extremidade venosa do leito capilar. A hipoproteinemia causada pela perda urinária pode ser agrava pelo catabolismo da albumina, reduzindo ainda mais a pressão oncótica do plasma. Consequentemente podemos observar redução do débito cardíaco e redução da perfusão renal (ativação SRAA e reabsorção de sódio e água). A queda da PA pela perda de volume para o interstício estimula a liberação de hormônio antidiurético que acentua ainda mais a retenção de água e hiponatremia (diluição do sódio plasmático). RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 5 Renal (DRC) Anamnese: Geralmente crônica: pode estar associada a sinais e sintomas urêmicos, incluindo a diminuição do apetite, paladar alterado (metálico ou gosto de peixe), padrão de sono alterado, dificuldade de concentração, pernas inquietas ou mioclonia; a dispneia pode estar presente, mas, em geral, é menos notável do que na insuficiência cardíaca Exame físico: Pressão arterial elevada; retinopatia hipertensiva; odor de amônia; atrito pericárdico em casos avançados com uremia Exames laboratoriais: Elevação da creatinina sérica e cistatina C; albuminúria; hiperpotassemia, acidose metabólica, hiperfosfatemia, hipocalcemia, anemia (geralmente normocítica) ------------------------------------------------------------------------ Renal (Síndrome Nefrótica) Anamnese: Diabetes melito da infância; discrasias das células plasmáticas Exame físico: Edema periorbital; hipertensão Exame laboratorial: Proteinúria (≥ 3,5 g/dia); hipoalbuminemia; hipercolesterolemia; hematúria microscópica ____________________________________________ EDEMA DE ORIGEM NUTRICIONAL Uma dieta francamente pobre em calorias e particularmente em proteínas durante um período prolongado pode produzir hipoproteinemia e edema. Este último pode ser intensificado pelo desenvolvimento da cardiopatia por beribéri, que também é de origem nutricional, em que múltiplas fístulas arteriovenosas periféricas reduzem a perfusão sistêmica e o volume sanguíneo arterial efetivos, aumentando, desse modo, a formação de edema. O edema ocorre ou pode agravar-se quando indivíduos desnutridos recebem pela primeira vez uma dieta adequada. A ingestão de mais alimentos pode aumentar a quantidade de sódio ingerida, que é, então, retida em conjunto com a água. O chamado edema de realimentaçãotambém pode estar relacionado com um aumento da liberação de insulina, que aumenta diretamente a reabsorção tubular de sódio. Além da hipoalbuminemia, a hipopotassemia e o déficit calórico podem estar envolvidos no edema da desnutrição. ____________________________________________ EDEMA INDUZIDO POR FÁRMACOS Um grande número de fármacos amplamente utilizados pode provocar edema. Os mecanismos consistem em vasoconstrição renal (AINEs e ciclosporina), dilatação arteriolar (vasodilatadores), aumento da reabsorção renal de sódio (hormônios esteroides) e lesão capilar. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 6 3. SISTEMATIZAR AS CONDUTAS DIAGNÓSTICAS E TERAPÊUTICAS ADEQUADAS PARA PACIENTES APRESENTANDO EDEMA. Um ganho ponderal de vários quilos costuma preceder a manifestação clínica de edema generalizado. Anasarca é um edema maciço e generalizado. Ascite e hidrotórax referem-se ao acúmulo de excesso de líquido no peritônio e nas cavidades pleurais, respectivamente, e são considerados formas especiais de edema. O edema é reconhecido pela persistência de uma depressão da pele após pressão, conhecido como edema depressível (cacifo). Em sua forma mais sutil, pode ser detectado pela observação de que, após afastar-se o estetoscópio da parede torácica, a campânula deixa uma reentrância na pele do tórax que permanece por alguns minutos. O edema poderá estar presente quando o anel em um dedo fica mais apertado do que antes ou quando um paciente se queixa de dificuldade em calçar os sapatos, particularmente à noite. O edema também pode ser reconhecido pelo inchaço da face, que é mais aparente nas áreas periorbitais. ------------------------------------------------------------------------ DISTRIBUIÇÃO DO EDEMA A distribuição do edema é um indício importante de sua causa. O edema associado à insuficiência cardíaca tende a ser mais extenso nas pernas e acentuado ao anoitecer, característica também determinada primordialmente pela postura. Quando os pacientes com insuficiência cardíaca são mantidos no leito, o edema poderá ser mais acentuado na região pré-sacral. O edema resultante da hipoproteinemia, como ocorre na síndrome nefrótica, é normalmente generalizado, porém é especialmente evidente nos tecidos muito flácidos das pálpebras e da face, tendendo a ser mais pronunciado pela manhã devido à posição de decúbito assumida durante a noite. As causas menos frequentes do edema facial incluem a triquinelose, as reações alérgicas e o mixedema. O edema limitado a uma perna ou a um ou ambos os braços normalmente resulta de obstrução venosa e/ou linfática. A paralisia unilateral reduz a drenagem linfática e venosa no lado acometido e pode também ser responsável por edema unilateral. Nos pacientes com obstrução da veia cava superior, o edema limita-se à face, ao pescoço e aos membros superiores, nos quais a pressão venosa está elevada em comparação com a dos membros inferiores. ------------------------------------------------------------------------ ABORDAGEM AO PACIENTE Uma primeira questão importante consiste em se o edema é localizado ou generalizado. Caso seja localizado, devem-se considerar os fenômenos locais que podem ser identificados. Se o edema for generalizado, deve-se determinar se há hipoalbuminemia grave, por exemplo, albumina sérica < 3,0 g/dL. Em caso positivo, a anamnese, o exame físico, o exame de urina e outros dados laboratoriais ajudarão a avaliar as hipóteses de cirrose, desnutrição grave ou síndrome nefrótica ser a doença básica. Se não houver hipoalbuminemia, deve-se determinar se há evidências de insuficiência cardíaca grave o suficiente para produzir edema generalizado. Finalmente, deve-se verificar se o paciente apresenta ou não um débito urinário adequado ou se há oligúria significativa ou anúria. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 7 ------------------------------------------------------------------------ TRATAMENTO DO EDEMA A terapia para o edema consiste na reversão do distúrbio base, restrição dietética de sódio (minimizar a retenção de líquidos e terapia diurética). Para tanto, precisamos definir quando o edema deve ser tratado, suas consequências e qual a velocidade para remoção do líquido. QUANDO TRATAR: Dentre os tipos de edema o edema pulmonar (congestão pulmonar) é um dos quer apresentam maior risco de vida, por isso seu tratamento deve ser imediato. Nas demais situações a remoção do excesso de líquido podem ser feitas de forma mais lenta (por exemplo, a ascite oriunda de uma cirrose hepática pode precipitar uma síndrome hepatorrenal). CONSEQUÊNCIAS: A remoção do líquido intersticial para o leito vascular decorre de forma compensatória ao uso de diuréticos. Nesse sentido, o diurético reduz o volume vascular, favorecendo o fluxo de líquido do interstício para o vaso. A redução do volume vascular causa por conseguinte redução da PA e DC e da perfusão tecidual (sobretudo nos rins, ocasionando ativação do SRAA reflexa). Normalmente, há um equilíbrio compensatório na transição desses líquidos. Por outro lado, podemos ter um movimento inapropriado quando o paciente apresenta uma hipovolemia acentuada associada a uma insuficiência cardíaca. Sendo assim, a redução do líquido vascular pode acentuar a queda da perfusão e causar sofrimento no paciente. A adequação da perfusão tecidual decorre do monitoramento do nitrogênio ureico no sangue e da concentração de creatinina. Quando esses parâmetros se apresentam constantes não há prejuízo na perfusão, entretanto quando há elevação é sinal de má perfusão. VELOCIDADE: A velocidade na qual o edema é drenado depende do local que ele se encontra. Edemas superficiais são drenados mais rapidamente, em oposição os cavitários (ascite) demora um pouco mais para sua resolução. Pacientes que apresentam edema em membros inferiores oriundos de insuficiência venosa ou por acometimento dos vasos linfáticos a remoção desse líquido é mais lenta ainda, necessitando de monitorização constante dos níveis de creatinina. DROGA: Os diuréticos utilizados para o tratamento de edema são a espirolactona (protege o paciente de realizar uma hipocalemia por poupar o potássio) e a furosemida (ação mais rápida do alívio de sintomas por agir diretamente na alça de Henle). Durante o tratamento devemos avaliar a resposta do paciente frente a terapia o que determina a dose administrada. 4. DESCREVER O DIAGNÓSTICO DE HIPÓXIA NO EDEMA PULMONAR, EXPLICANDO-A FISIOPATOLOGICAMENTE. O edema agudo de pulmão (EAP) é uma síndrome clínica caracterizada pela transudação de líquido para o espaço alveolar, sendo o resultado de um desequilíbrio entre os fatores reguladores do transporte de líquido da microcirculação pulmonar para o espaço intersticial pulmonar, ou seja, desequilíbrio entre as pressões hidrostática e oncótica. Existem dois tipos diferentes de edema pulmonar: o edema pulmonar cardiogênico e o edema pulmonar não cardiogênico. Embora tenham causas distintas, o edema pulmonar cardiogênico e não cardiogênico podem ser de difícil distinção por conta de suas manifestações clínicas semelhantes. No EAP cardiogênico, o desacoplamento entre o volume sistólico do ventrículo direito e esquerdo e a venoconstrição hipóxica contribuem para um aumento da pressão hidrostática nos capilares pulmonares, levando ao aumento das vias de filtragem de fluidos é característico do edema cardiogênico ou de sobrecarga de volume. A pressão hidrostática aumentada nos capilares pulmonares geralmente se deve a elevação da pressão venosa pulmonar decorrente do aumento da pressão diastólica final do ventrículo direito e o aumento na pressão atrial esquerda. Pequenaselevações da pressão atrial esquerda podem causar edema. Com isso, ocorre rompimento do epitélio pulmonar, inundando os alvéolos com líquido pobre em proteínas, ou seja, a transudação de líquido para o interstício pulmonar. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 8 Por outro lado, o edema pulmonar não cardiogênico é causado por um aumento na permeabilidade vascular do pulmão, resultando em um aumento do fluxo de líquido e proteína no interstício pulmonar e espaços aéreos. No EAP não cardiogênico o edema possui um alto teor de proteínas, porque o sistema vascular da membrana é mais permeável ao exterior e ao movimento de proteínas plasmáticas. Dessa forma, no EAP não-cardiogênico, ocorre inflamação e aumento da permeabilidade capilar com exudação de líquido para interstício pulmonar. ____________________________________________ Causas do edema agudo pulmonar Cardiogênico • Isquemia cardíaca • Descompensação da insuficiência cardíaca • Disfunção da valva aórtica ou mitral • Sobrecarga de volume Não cardiogênico • SDRA ou SARA • Pneumonia • Sepse • Aspiração de conteúdo gástrico • Grandes traumas com necessidade de múltiplas transfusões sanguíneas • Intoxicação opióides e salicilatos ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO O quadro clínico do EAP cardiogênio e não cardiogênico é semelhante. O edema intersticial leva a dispneia, o preenchimento alveolar por líquido causa hipoxemia, podendo estar associado a tosse, diaforese, sibilos e, às vezes, escarro espumoso e sanguinolento. A história deve levar em conta a determinação do distúrbio clínico subjacente que levou ao edema pulmonar. Sinais e sintomas que sugerem edema agudo cardiogênico • Dispneia paroxística noturna • Ortopneia • Presença de B3 em galope • Turgência de jugular Sinais e sintomas que sugerem edema agudo não cardiogênico • Sinais e sintomas de infecção • Rebaixamento do nível de consciência e vômitos ____________________________________________ EXAMES COMPLEMENTARES • Avaliação clínica apresentando dispneia grave e estertores pulmonares • Radiografia de tórax • Às vezes, soro peptídeoBNP sérico ou N- terminal pró-BNP (NT-pro-BNP) • ECG, marcadores cardíacos e outros testes para etiologia, caso necessário Radiografia de tórax A realização imediata de radiografia de tórax é geralmente diagnóstica, revelando intenso edema intersticial. Os mecanismos cardiogênicos e não cardiogênicos de edema pulmonar resultam em algumas características distintas na radiografia de tórax. BNP A avaliação à beira do leito dos níveis séricos de BNP/NT-proBNP (elevados no edema pulmonar; normais na exacerbação da DPOC) é muito útil se o diagnóstico for duvidoso. → Um nível de BNP abaixo 100 pg/mL indica que a insuficiência cardíaca é improvável (valor preditivo negativo > 90%). → Um nível de BNP superior a 500 pg/mL indica que é provável a insuficiência cardíaca. → Os níveis de BNP entre 100 e 500 pg/mL não fornecem discriminação diagnóstica adequada. ECG Ecocardiografia pode ser útil para determinar a causa do edema pulmonar (p. ex., infarto do miocárdio, disfunção valvar, doença cardíaca hipertensiva, RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 9 cardiomiopatia dilatada) e pode influenciar a escolha da terapia. Ecocardiograma O ecocardiograma também é útil na investigação do mecanismo/etiologia do EAP, tais como alterações valvulares, avaliação da função ventricular, hipertrofia, dimensões das câmaras cardíacas etc. ____________________________________________ TRATAMENTO O tratamento do EAP é dividido em: → Vasodilatadores e diurético → Suporte ventilatório O paciente deve ficar sentado, de preferência com as pernas para fora do leito, reduzindo assim a pré-carga. Vasodilatadores • Nitratos • Dinitrato de isossorbida Administrar 5mg de dinitrato de isossorbida SL, repetindo a cada 5 minutos até a dose de 15mg • Nitroglicerina EV Apresenta discreta potência de vasodilatação arterial. Contudo, seu grande benefício está na capacidade venodilatadora e coronário-dilatadora. Uma de suas limitações é o desenvolvimento de taquifilaxia (doses maiores são necessárias para se obter o mesmo efeito) e cefaleia em um quinto dos pacientes. Posologia: Nitroglicerina 50 mg diluída em 500 mL de SF 0,9% ou SG 5%) na dose inicial de 5mcg/min. Geralmente 3ml/h em BIC, aumentando 3 a 5 ml a cada 5 minutos até haver melhora clínica ou queda da pressão sistólica até 90 a 100mmHg. Nitroglicerina 0,4 mg sublingual a cada 5 minutos, seguida da infusão IV de 10 a 20 mcg/min, progressivamente ajustada em 10 mcg/min a cada 5 minutos se necessário até a dose máxima de 300 mcg/min se a pressão arterial sistólica estiver > 100 mmHg. (?) • Morfina Utilizada há muito tempo para reduzir a ansiedade grave e o trabalho respiratório, mas é cada vez menos utilizada (exceto no tratamento paliativo). Não está indicado o uso de rotina devido ausência de benefícios comprovados e aos potenciais riscos. Se feita de maneira rápida e, sobretudo, em doses altas, poderá levar à depressão respiratória, bradicardia e hipotensão. A dose recomendada é de 2 a 5 mg, EV, a cada 5 ou 10 minutos. Diuréticos • Furosemida A classe indicada é dos diuréticos de alça (furosemida), em especial por via endovenosa, podendo ou não serem associados à tiazídicos e à espironolactona em caso de resistência glomerular. A dose indicada varia de 20 a 40 mg, endovenoso, em casos leves e moderados de retenção hídrica. Já para retenção grave de fluidos, sugere-se o uso de 5 a 40 mg/h, em bomba de infusão contínua (BIC). Furosemida 0,5 a 1,0 mg/kg IV ou por infusão contínua de 5 a 10 mg/hora. (?) Repete-se a dose em até 10 minutos, caso não haja resposta terapêutica. A furosemida tem efeito benéfico imediato de venodilatação e de estímulo a diurese. Suporte ventilatório não invasivo Diversos estudos mostram benefício da ventilação não invasiva com pressão positiva (VNI/BiPAP/CPAP). A pressão positiva nas vias aéreas reduz o retorno venoso (pré-carga) e melhora a congestão pulmonar. oxigênio a 100%, com máscara facial com reservatório de oxigênio Assistência ventilatória não invasiva com dois níveis com pressão positiva das vias respiratórias (BiPAP) é útil se a hipóxia for significativa. Se houver retenção de dióxido de carbono ou o paciente estiver obnubilado, são necessárias entubação endotraqueal e ventilação mecânica. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 10 5. IDENTIFICAR A SÍNDROME NEFRÍTICA, RELACIONANDO SUAS PRINCIPAIS CAUSAS E POSSÍVEIS PROCESSOS FISIOPATOLÓGICOS IMPLICADOS E DIFERENCIÁ-LA DA SÍNDROME NEFRÓTICA. SÍNDROME NEFRÍTICA A síndrome nefrítica pode ser entendida como sendo o conjunto de sinais e sintomas que surgem quando um indivíduo tem os seus glomérulos renais envolvidos em um processo inflamatório agudo. Essa inflamação dos glomérulos pode ocorrer de forma idiopática, como doença primária dos rins ou secundaria a alguma doença sistêmica, como as infecções e colagenoses. São chamadas de difusas quando o acometimento glomerular ocorre em mais de 50% do total de glomérulos da biópsia, e denominadas focais quando há menos de 50% de glomérulos acometidos. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO As doenças que produzem inflamação glomerular aguda são aquelas que se exteriorizam de forma mais exuberante com síndrome nefrítica, caracterizada por edema, hipertensão arterial, hematúria, oligúria e graus variáveis de insuficiência renal, além de proteinúria leve a moderada (< 3.5 g/dia). O dano inflamatório extenso dos glomérulos causa uma queda da TFG e, por fim, produz sintomas urêmicos, com retenção de sal e água, reduçãodo débito urinário, resultando em edema e hipertensão. A hematúria tem origem nos glomérulos comprometidos, sendo o sinal mais característico e mais comum da síndrome nefrítica. Essa hematúria vai ser detectada pelo exame de sedimento urinário. A hematúria de origem glomerular possui características microscópicas especiais que as diferenciam das hematúrias que se originam em outros locais. Dessa forma, quando encontramos hemácias deformadas, fragmentadas e hipocrômicas, num efeito conhecido como dimorfismo eritrocitário devemos sempre pensar em lesão glomerular. Esse dimorfismo eritrocitário resulta da migração de hemácias através de rupturas ou fendas que surgem nas alças capilares dos glomérulos inflamados, pois essas hemácias acabam se deformando ao passarem por estes poros estreitos. Outro achado comum é a presença de cilindros hemáticos, que é um indício importante de que a lesão renal se localiza no parênquima renal (glomérulo ou túbulos). Diariamente, as células epiteliais que compõem a parede da alça de Henle secreta uma proteína conhecida como Tamm-Horsfall. Essa proteína segue o fluxo urinário e se deposita nos túbulos contorcidos distais, originando uma superfície pegajosa. Como consequência, diversas substâncias podem se aderir a ela, como acontece com as hemácias que se aderem nessas proteínas, formando cilindros hemáticos, e nesses casos, até que se prove o contrário, a localização da injuria é glomerular. A proteinúria é outro achado comum, aparecendo em função de alguns fenômenos como alterações da permeabilidade e rupturas mecânicas na parede dos glomérulos comprometidos. Diz-se que há proteinúria quando os níveis de proteínas ultrapassam 150mg/dia, porem na síndrome nefrítica pura, essa proteinúria não ultrapassa 3,5 g/dia. A oliguria é resultante do prejuízo da superfície de filtração dos glomérulos, devido principalmente, a invasão pelas células inflamatórias. Como os glomérulos filtram menos, sobrevêm retenção hidrossalina, e até azotemia. A retenção volêmica provoca hipertensão arterial e edema generalizado (anasarca). Uma prova de que o edema da síndrome nefrítica é decorrente da retenção renal primária é a presença de níveis plasmáticos de renina baixos. ____________________________________________ ETIOLOGIA A síndrome nefrítica clássica também denominada Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA) tem como protótipo principal a glomerulonefrite pós- estreptocócica. Em termos de patogenia, mais de 70% dos casos de Glomerulonefrite Aguda são decorrentes da deposição glomerular de imunocomplexos contendo imunoglobulinas (IgG, IgM, IgA) e fatores do complemento (C3). Além de causas imunológicas como nefrite lúpica e nefropatia por IgA. Para o diagnóstico das glomerulopatias mais comuns que se exteriorizam sob RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 11 a forma nefrítica, alguns aspectos clínico-sorológicos mais importantes estão listados na Tabela: ____________________________________________ 1) GLOMERULONEFRITE PÓS-ESTREPTOCÓCICA A glomerulonefrite pós-estreptocócica é o protótipo para a glomerulonefrite proliferativa endocapilar aguda. A GNPE pode ser encarada como uma sequela renal tardia de uma infecção por cepas do estreptococo beta- hemolítico do grupo A ou Streptococcus pyogenes. As chamadas cepas nefritogênicas podem estar presentem numa piodermite estreptocócica (M tipo 48), como impetigo crostoso ou erisipela ou numa faringoamigdalite (M-tipo 12). ------------------------------------------------------------------------ EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO A incidência de glomerulonefrite pós estreptocócica diminuiu drasticamente nos países desenvolvidos, onde costuma ser esporádica. Atualmente a maioria dos casos (cerca de 97%) acontece em países pobres. A glomerulonefrite pós-estreptocócica aguda nos países subdesenvolvidos é epidêmica e afeta em geral crianças entre 2 e 14 anos de idade, enquanto nos países desenvolvidos, a sua ocorrência é mais típica no idoso, particularmente em associação a condições debilitantes. É mais comum no sexo masculino, a incidência é maior em meninos do que em meninas (2:1). É mais comum no sexo masculino, e a incidência em familiares ou co- habitantes pode chegar a 40%. As infecções da pele e da garganta por determinados tipos M de estreptococos (cepas nefritogênicas) precedem a doença glomerular; os tipos M 47, 49, 55, 2, 60 e 57 são observados após o impetigo, e os tipos M1, 2, 4, 3, 25, 49 e 12, com a faringite. A glomerulonefrite pós-estreptocócica em consequência de impetigo surge dentro de 2 a 6 semanas (média 21 dias) após uma infecção cutânea, e dentro de 1 a 3 semanas após uma faringite estreptocócica (média 10 dias). ------------------------------------------------------------------------ FISIOPATOLOGIA A glomerulonefrite pós-estreptocócica é uma doença imunomediada que envolve supostos antígenos estreptocócicos, imunocomplexos circulantes e ativação do complemento em associação com uma lesão mediada por células. O mecanismo fisiopatológico envolve a deposição de imunocomplexos nos glomérulos do paciente, o que ativa a cascata do complemento resultando em inflamação local. Foram propostos muitos antígenos candidatos ao longo dos anos. Os candidatos de estreptococos nefritogênicos de interesse no momento são: uma cisteína proteinase catiônica, conhecida como exotoxina pirogênica estreptocócica B (SPEB), que é gerada por proteólise de um precursor zimogênio (zSPEB); e o NAPIr, o receptor de plasmina associado à nefrite. Esses dois antígenos têm afinidade bioquímica pela plasmina, ligam-se como complexos facilitados por essa relação, e ativam a via alternativa do complemento. O antígeno nefritogênico, SPEB, foi demonstrado no interior das “corcovas” subepiteliais na biópsia. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 12 A biópsia renal na glomerulonefrite pós-estreptocócica demonstra hipercelularidade das células mesangiais e endoteliais, infiltrados glomerulares de leucócitos polimorfonucleares, imunodepósitos subendoteliais granulosos de IgG, IgM, C3 , C4 e C5-9 e depósitos subepiteliais (que aparecem como “corcovas”). Existem quatro modos pelos quais os glomérulos podem ser atacados por imunocomplexos: 1) Deposição de imunocomplexos circulantes, formados no sangue por anticorpos do paciente + antígenos estreptocócico; 2) Formação de imunocomplexos in situ*, isto é, antígenos estreptocócicos circulantes são aprisionados pela membrana basal glomerular, com posterior ligação de anticorpos do paciente. 3) Reação cruzada de anticorpos anti-estreptocócico produzidos pelo paciente com constituintes normais do glomérulo (mimetismo molecular); 4) Alterações moleculares em antígenos do glomérulo, tornando-os imunogênicos. ------------------------------------------------------------------------ QUADRO CLÍNICO A manifestação clássica é um quadro nefrítico agudo com hematúria, piúria, cilindros hemáticos, edema, hipertensão e lesão renal aguda oligúrica. O paciente refere urina “presa” e “escura”. Sintomas sistêmicos de cefaleia, mal-estar, anorexia e dor no flanco (devido ao edema da cápsula renal) são relatados em até 50% dos casos. A proteinúria na faixa nefrótica é encontrada em 5% das crianças e 20% dos adultos. Na primeira semana dos sintomas, há depressão de CH50 em 90% dos pacientes, bem como baixos níveis de C3 e níveis normais de C4. ------------------------------------------------------------------------ DIAGNÓSTICO Qualquer paciente que desenvolva síndrome nefrítica deve ser sempre suspeitado para GNPE, especialmente na faixa entre 2-15 anos. Diante de um paciente com síndrome nefrítica, a primeira ação diagnóstica deve ser no sentidode tentar encontrar, pela anamnese e exame físico, a presença de manifestações extrarrenais que possam indicar uma etiologia específica (como rash malar e artrite, para o lúpus eritematoso). Algoritmo diagnóstico da GNPE 1) Questionar o paciente sobre faringite ou piodermite recente. 2) Verificar se o período de incubação é compatível. 3) Documentar a infecção estreptocócica através do laboratório. 4) Demonstrar uma queda transitória típica de complemento, com um retorno ao normal em no máximo oito semanas, a contar dos primeiros sinais de nefropatia. CRITÉRIO 03: A confirmação diagnóstica de GNPE requer evidências claras de infecção estreptocócica. Como a cultura (de pele ou orofaringe) pode estar negativa no momento em que a GNPE se manifesta (pois a GNPE é uma complicação tardia da infecção), a dosagem quantitativa de anticorpos anti-exoenzimas estreptocócicas acaba se tornando o método mais sensível para cumprir este pré-requisito diagnóstico. Na GNPE pós-faringoamigdalite o anticorpo mais encontrado é o ASLO ou ASO, seguido pelo anti-DNAse B. Os títulos aumentados de ASLO (30%) ou de anti- DNAse (70%) podem ajudar a confirmar o diagnóstico. Os níveis de ASLO geralmente se elevam de 2-5 semanas após a infecção estreptocócica, decaindo ao longo de meses. Curiosamente, na GNPE-pós-impetigo o ASLO é, com frequência, negativo. Dessa forma, o melhor anticorpo passa a ser o anti-DNAse B. CRITÉRIO 04: A queda do complemento (C3 e CH50) constitui achado laboratorial obrigatório para o diagnóstico, porém é importante reconhecer que se trata de uma alteração inespecífica. A grande utilidade da dosagem do complemento sérico é no acompanhamento evolutivo, pois espera-se que na GNPE ocorra a normalização do complemento em no máximo 8 semanas. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 13 O diagnóstico de GNPE deve ser suspeitado em todo paciente que desenvolva: → Síndrome nefrítica aparentemente “idiopática” → Que tenha uma história de infecção estreptocócica com período de incubação compatível → Que possa, laboratorialmente, confirmar a infecção → Que possa documentar níveis séricos de C3 transitoriamente reduzidos (máx. oito semanas). BIOPSIA RENAL: Não é necessário a realização de uma biopsia renal para confirmação de GNPE nos pacientes que preenchem os critérios ditos anteriormente. Somente será indicada caso estejam presentes aspectos atípicos que sugiram outra glomerulopatia que não a GNPE. Indicações de Biopsia Renal na suspeita de GNPE, segundo a SBP. 1) Anúria ou oligúria "importante" por mais de 72h. 2) C3 baixo que não melhora em até oito semanas. 3) Proteinúria > 50 mg/kg/24h (faixa nefrótica na criança) por mais de quatro semanas. 4) Hipertensão arterial ou hematúria macroscópica por mais de seis semanas. 5) Azotemia "acentuada” ou “prolongada". Aspecto histopatólogico observado na biopsia renal: • Microscopia Óptica: padrão de glomerulonefrite proliferativa-difusa, isto é, a maioria dos glomérulos (> 50%) apresenta infiltrado inflamatório, com neutrófilos e mononucleares; • Microscopia Eletrônica: revela o aspecto mais característico da GNPE – as “corcovas” ou “gibas” que são nódulos subepiteliais eletrodensos formados por depósitos de imunocomplexos. ------------------------------------------------------------------------ TRATAMENTO O tratamento de suporte para a GNPE baseia-se em: → Repouso e Restrição Hidrossalina (fundamental) → Diuréticos de alça → Vasodilatadores (para a hipertensão, se necessário) → Hemodiálise (se necessário) Os diuréticos de alça (furosemida, ácido etacrínico) são as drogas de escolha para o tratamento do edema, da congestão volêmica e da hipertensão. O diurético de escolha é a furosemida na dose de 1 mg/kg, ser administrada 2 a 3 vezes ao dia. Se a pressão arterial não for controlada com essas medidas, acrescentam-se outros anti-hipertensivos como bloqueadores dos canais de cálcio (ex.: nifedipina), vasodilatadores (ex.: hidralazina) ou inibidores da enzima conversora de angiotensina (ex.: captopril). O nitroprussiato de sódio é indicado nos casos de encefalopatia hipertensiva. A hemodiálise (com ultrafiltração) será indicada na vigência de síndrome urêmica, bem como para tratar a congestão volêmica grave refratária à terapia medicamentosa. O uso de corticoides através da terapia imunossupressora não tem papel confirmado no tratamento da GNPE, porém, pode ser tentada empiricamente (ex.: pulsos de metilprednisolona intravenosa) nos raros pacientes que evoluem com a síndrome de Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva. ANTIMICROBIANOS NA GNPE: A GNPE não é uma infecção, e sim uma complicação aguda de uma infecção estreptocócica. O tratamento das faringites ou dermatites de forma precoce (uso de antibióticos) não previne o desenvolvimento de uma GNPE, muito menos muda o prognóstico da GNPE. A antibioticoterapia deve ser indicada em todos os portadores de GNPE que tem evidências de colonização RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 14 persistente pelo estreptococo (cultura de pele ou orofaringe positiva no momento do diagnóstico). O objetivo não é solucionar o quadro, mas sim eliminar as cepas evitando uma possível recidiva futura, além de servir como uma proteção comunitária para erradicação da bactéria nefrítica. Escolha: Penicilina Benzatina. SÍNDROME NEFRÓTICA É uma síndrome clínico-laboratorial decorrente do aumento de permeabilidade às proteínas plasmáticas, caracterizando-se por proteinúria acima de 3, 5 g/l, 73 m² de superfície corpórea/dia, com consequente hipoalbuminemia e edema, o que equivale a proteinúria > 3-3,5 g/24h no adulto e > 40-50 mg/kg/24h na criança. O achado de hiperlipidemia não é obrigatório, porém é muito comum, assim como os distúrbios relacionados à hipercoagulabilidade por perda de fatores inibidores de coagulação, a desnutrição proteica e a suscetibilidade às infecções. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO e FISIOPATOLOGIA a) PROTEINÚRIA A maioria dos sintomas decorre da proteinúria, nos valores acima de 3,5g/24h. Normalmente, a quantificação da proteinúria pode ser feita pela coleta de urina durante 24h, sendo este o padrão ouro. Entretanto, nos dias de hoje tem sido empregado a amostra urinária, de preferência a primeira urina da manhã, na qual faz-se uma estimativa da proteinuria diária com base na relação proteína total/creatinina. A proteinúria da síndrome nefrótica pode ser do tipo seletiva ou não seletiva, na dependência da doença de base. Isso porque a parede dos glomérulos apresenta dois mecanismos básicos que determinam a seletividade: 1. Fendas de filtração – Barreira Mecânica: Essas fendas são responsáveis pela “barreira de tamanho” que impede a filtração das macromoléculas. Essa barreira permite a livre passagem de proteínas de pequeno peso molecular inferior a 20.000 daltons. Essas proteínas, como a beta2-microglobulina são reabsorvidas no túbulo proximal. Já a albumina, tem um peso molecular superior, e por isso transpõe a barreira de tamanho com certa dificuldade. Por outro lado, as globulinas são impedidas de passar nessa barreira. Quando a lesão glomerular determina perda da “barreira de tamanho” ocorre proteinúria não seletiva, com perda proporcional de todas as macromoléculas do plasma (albumina, globulinas). Nesses casos, a proteinúria não seletiva é um sinal que ocorreram alterações estruturais dos glomérulos, especialmente podócitos lesados, determinando um desarranjo arquitetônico das fendas de filtração, permitindo um escape de proteínas. Um exame chamado eletroforese de proteínas urinárias é capaz de identificar os tipos de proteínasque constituem a proteinúria do paciente, classificando em seletiva ou não seletiva. 2. Carga Negativa – Barreira Química: A carga negativa da membrana basal é a responsável pela “barreira de carga” que dificulta a filtração de qualquer partícula com carga negativa, independentemente do tamanho. Essa barreira é o maior obstáculo à passagem da albumina, já que esta molécula se revela um poliânion (carga negativa). Quando o processo lesivo renal acarreta perda predominante da “barreira de carga” (como no caso da nefropatia mínima), ocorre uma proteinúria seletiva, ou seja, uma proteinuria à custa de albumina. Nesses casos, as condições que levam a esse quadro não costumam cursar com alterações importantes na estrutura física glomerular. ____________________________________________ b) HIPOPROTEINEMIA → HIPOALBUMINEMIA: A albumina é a principal proteína do plasma, sendo a grande responsável pela pressão oncótica, que ajuda a manter o líquido intravascular. Apesar da queda dos níveis de albumina, estimular a síntese hepática desta proteína, esta não é suficiente para evitar que se desenvolva uma hipoalbuminemia acentuada. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 15 → OUTRAS PROTEINAS PLASMÁTICAS: A perda de proteínas nos pacientes com síndrome nefrótica não se limita à albumina. (1) Antitrombina III – a perda deste cofator da heparina resulta em um estado de hipercoagulabilidade, que origina uma complicação importante da síndrome nefrótica: o evento tromboembólico. O estado de hipercoagubilidade da síndrome nefrótica frequentemente resulta em TVP, especialmente das veias renais. A anticoagulação plena está sempre indicada em pacientes nefróticos que tiveram alguma complicação tromboembólica documentada. Até o momento, não há indicação de anticoagulação profilática. (2) Globulina de ligação de tiroxina (TBG) – sua redução sérica pode determinar anormalidades nos exames da tireoide, falsamente sugerindo hipofunção tireoidiana (pelo T4 total baixo), mas com níveis de hormônio livre e TSH normais. (3) Proteína fixadora de Vitamina D – esta proteína transporta a 25(OH) vitamina D, cujos níveis estão reduzidos pela perda urinária. O metabólito ativo calcitriol, ou 1,25(OH2) vitamina D, não costuma estar depletado, mantendo o cálcio ionizado em níveis normais. Alguns poucos casos, entretanto, cursam com hipocalcemia real, hiperparatireoidismo secundário e doença óssea (osteomalácia e osteíte fibrosa). (4) Transferrina – a carência desta proteína transportadora de ferro pode provocar, em alguns casos, uma anemia hipocrômica e microcítica, resistente à reposição de sulfato ferroso. (5) Imunoglobulinas e fatores do complemento – na síndrome nefrótica a perda urinária de IgG provoca hipogamaglobulinemia, que, aliada à perda de dois fatores da via alternativa do complemento (fator B e properdina), predispõe à infecção por bactérias encapsuladas, especialmente o Streptococcus pneumoniae. Uma infecção bastante comum em pacientes nefróticos é a peritonite bacteriana espontânea, que acomete os pacientes com ascite. c) HIPERLIPIDEMIA Na maioria das vezes, o paciente com síndrome nefrótica desenvolve hipercolesterolemia, com aumento da lipoproteína LDL. A hipertrigliceridemia é encontrada em menor escala, predominando nos pacientes com falência renal crônica. O mecanismo da hipercolesterolemia é o aumento da síntese hepática de lipoproteínas, estimulada pela queda da pressão oncótica induzida pela hipoalbuminemia. Ou seja, o mesmo estimulo que faz o fígado produzir mais albumina, também o leva a sintetizar mais lipoproteína, especialmente a LDL. É fácil perceber que a hiperlipidemia nefrótica resulta no aumento da filtração glomerular de lipídios, provocando lipidúria. Hoje já sabemos que a hiperlipidemia nefrótica contribui para a aterogênese e suas complicações. A hiperlipidemia e a lipidúria nefrótica persistente são fatores que aceleram a perda de função renal (provavelmente por induzir lesão tubulointersticial). ____________________________________________ CLASSIFICAÇÃO Dentre as glomerulopatias que mais causam síndrome nefrótica estão, entre as primárias, a glomerulopatia de lesões mínimas, GESF e glomerulonefrite membranosa, e, entre as secundárias, a glomeruloesclerose diabética. 1) DOENÇA DE LESÃO MÍNIMA EPIDEMIOLOGIA: A DLM é a causa mais comum de síndrome nefrótica em crianças de dois a 12 anos. No entanto, também é relativamente comum em adultos. ASSOCIAÇÕES: Muitos pacientes têm história de alergia, incluindo atopia, asma ou eczema. A maioria dos casos são idiopáticos, mas a DLM também se associa a certos tipos de neoplasia, especialmente à RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 16 doença de Hodgkin, na qual pode ser o sintoma de apresentação. A DLM ainda está associada a certos medicamentos, tais como o interferon alfa e drogas anti-inflamatórias não esteroidais (AINEs). FISIOPATOLOGIA: A DLM é definida pela ausência de anormalidades histológicas glomerulares, exceto pela evidência ultraestrutural de fusão e retração dos processos podocitários vistas na ME, em um paciente que se apresenta com síndrome nefrótica tipicamente sensível ao corticosteroide. TRATAMENTO: Síndrome nefrótica sensível ao corticoide é o termo usado para descrever a doença que ocorre em crianças com síndrome nefrótica que respondem aos corticosteroides, mas que não tiveram uma biópsia renal para fornecer a prova histológica da DLM. ................................................................................... 2) GLOMERULOESCLEROSE SEGMENTAR E FOCAL EPIDEMIOLOGIA: Apesar de representar somente uma pequena porcentagem dos casos de síndrome nefrótica idiopática em crianças jovens, a GESF é responsável por até 35% dos casos em adultos. E é levemente mais comum em homens do que em mulheres. ASSOCIAÇÕES: HAS, HIV, anemia falciforme, drogas. FISIOPATOLOGIA: A glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF), um padrão histológico de lesão glomerular, define várias síndromes clínicopatológicas que podem ser primárias (idiopáticas) ou secundárias a diversas etiologias. DIAGNÓSTICO: Biópsia. TRATAMENTO: O tratamento conservador é dirigido para o controle do edema, hipertensão, hiperlipidemia e proteinúria e é semelhante ao utilizado para a síndrome nefrótica de qualquer etiologia Corticoide: a terapia é geralmente com prednisona ou prednisolona, 1 mg/kg/dia ou 1,5 a 2 mg/kg em dias alternados por um período inicial de quatro a oito semanas, com redução subsequente da dose. 1,3,59 A taxa de resposta inicial varia de 40% a 80%. Porém, possui alta taxa de recidiva. Nefroproteção: IECA, BRA, estatina. O controle da pressão arterial é importante tanto para a proteção renal quanto cardiovascular. Para pacientes com proteinúria maior que 1 g/dia, o alvo para a pressão arterial é 125/75 mmHg, a menos que seja contraindicado por razões clínicas. Demonstrou-se, por meio de numerosos estudos, que o inibidor da enzima conversora da angiotensina (IECA) e os bloqueadores do receptor da angiotensina (BRAs) são cardioprotetores e podem reduzir a proteinúria e retardar a progressão da doença renal. O tratamento da GESF secundária deve ser dirigido para a causa subjacente sempre que possível. Para a nefropatia associada ao HIV, o tratamento com terapia antirretroviral altamente ativa (HAART); para nefrotoxicidade por pamidronato, interromper a medicação; e para glomerulopatia relacionada à obesidade, perda de peso. ................................................................................... 3) NEFROPATIA MEMBRANOSA EPIDEMIOLOGIA: A nefropatia membranosa pode ocorrer em qualquer idade e em todos os grupos étnicos, mas a NM primária é mais comumem homens do que em mulheres (2: 1), e é rara em crianças. ASSOCIAÇÕES: Neoplasia oculta, lúpus, , hepatite B, drogas (IECA, sais de ouro, AINES). FISIOPATOLOGIA: A nefropatia membranosa (NM) é uma doença glomerular por imunocomplexos, em que os depósitos imunes de IgG e componentes do complemento desenvolvem-se predominante ou exclusivamente abaixo dos podócitos, na superfície subepitelial da parede capilar glomerular. A lesão podocitária resultante dos depósitos imunes aumenta a permeabilidade glomerular às proteínas plasmáticas, levando à proteinúria e, potencialmente, à síndrome nefrótica. DIAGNÓSTICO: Biópsia. TRATAMENTO: Igual aos outros. Anticoagulação profilática: Pacientes com síndrome nefrótica grave apresentam risco aumentado para complicações tromboembólicas. Demonstrou-se, por revisões retrospectivas, que a anticoagulação profilática é benéfica em reduzir episódios tromboembólicos fatais em pacientes nefróticos com NM, sem aumento concomitante no risco de sangramento. Imunossupressão: A evidência atual orienta que a terapia imunossupressora específica não deve ser RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 17 considerada, a menos que o paciente tenha proteinúria nefrótica persistente (≥ 4 g/dia), e a menos que a proteinúria não tenha diminuído mais de 50% do valor basal, por um período mínimo de observação de seis meses, apesar das terapias anti-hipertensiva e antiproteinúrica otimizadas. ................................................................................... 4) GLOMERULONEFRITE MEMBRANOPROLIFERATIVA FISIOPATOLOGIA: Caracteriza-se por antigenemia persistente e imunocomplexos circulantes, lesões proliferativas difusas envolvendo tanto o mesângio quanto as paredes dos capilares periféricos e alargamento das alças capilares. Muitas vezes, apresenta uma aparência em duplo-contorno expressando o remodelamento das paredes capilares. ASSOCIAÇÕES: Mais propensa a ocorrer em um ambiente de doenças crônicas por imunocomplexos, por exemplo, quando o hospedeiro, apesar da resposta humoral, não consegue eliminar de forma eficaz um antígeno estranho. Isso pode explicar a GNMP observada nas infecções virais crônicas (hepatite C e hepatite B), infecções bacterianas (endocardite, derivação ventriculoatrial infectada) e infecções por malária. ACHADOS LAB.: Com frequência, a GNMP associa-se à redução nos níveis de complemento (C3 e complemento hemolítico total [CH50]). ................................................................................... 5) GLOMERULONEFRITE PROLIFERATIVA MESANGIAL POR IgA FISIOPATOLOGIA: A nefropatia por IgA (NIgA) é uma glomerulonefrite proliferativa mesangial que se caracteriza pela deposição mesangial difusa de IgA. A produção de uma IgA glicosilada de maneira anormal, possivelmente por um superantígeno bacteriano, ou a partir de hiper-reatividade generalizada das mucosas, pode levar à deposição de polímeros de IgA no mesângio. TRATAMENTO: • O paciente com “bom prognóstico”, com pequenas anormalidades urinárias, TFG normal e pressão arterial normal, que somente necessita de acompanhamento esporádico por um período prolongado (> 10 anos); • O paciente com “prognóstico intermediário”, com proteinúria significativa, hipertensão e lenta redução da TFG, que se beneficia de cuidados de suporte abrangentes; • O paciente com “mau prognóstico”, com uma rápida perda da TFG, que pode exigir imunossupressão mais agressiva. ____________________________________________ SÍNDROME NEFRÍTICA X NEFRÓTICA Diferenças clínico-laboratoriais entre síndromes nefrítica e nefrótica O diagnóstico clínico das síndromes nefrítica e nefrótica frequentemente não é fácil, pela superposição de sintomas e sinais entre as duas síndromes. No entanto, como orientação diagnóstica, algumas diferenças podem ser encontradas a seguir: 6. RELACIONAR AS PRINCIPAIS DOENÇAS QUE PODEM EVOLUIR COM INSUFICIÊNCIA RENAL, RELACIONANDO-AS ÀS CONDUTAS DIAGNÓSTICAS E TERAPÊUTICAS APROPRIADAS. A lesão renal aguda (LRA) é definida pelo comprometimento das funções renais de filtração e excreção, que ocorre ao longo de dias a semanas, resultando na retenção de escórias nitrogenadas (ureia e creatinina, azotemia) e outros detritos normalmente eliminados pelos rins. Isso tem sido tradicionalmente referido como insuficiência renal aguda (FRA); porém, nos últimos anos, um esforço tem sido feito para implementar o termo injúria renal aguda e desenvolver uma definição padronizada de IRA. A LRA não é uma única doença, mas é o termo usado para descrever um grupo heterogêneo de condições que têm em comum alguns elementos diagnósticos, especificamente o aumento da concentração sérica de creatinina (CrS), em geral associada à diminuição do volume urinário. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 18 Uma definição proposta para IRA, por exemplo: • Declínio da função renal em 48 horas demonstrado por aumento na creatinina sérica de mais que 0,3 mg/dL, ou • Aumento na creatinina sérica de mais de 50%, ou • Desenvolvimento de oligúria. Critérios de estadiamento também foram desenvolvidos baseados na magnitude do aumento da creatinina sérica e mudanças no volume do débito urinário em uma semana, e estudos validaram que esses critérios de estadiamento são de valor prognóstico. A gravidade da LRA pode variar de alterações transitórias e assintomáticas dos parâmetros laboratoriais da taxa de filtração glomerular (TFG) até os casos de desequilíbrios importantes e rapidamente fatais da regulação do volume circulante efetivo e da composição eletrolítica e acidobásica do plasma. ____________________________________________ ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Tradicionalmente, as etiologias da LRA são subdivididas em três grupos gerais: 1. azotemia pré-renal (hipofluxo) – 55%; 2. doença renal parenquimatosa intrínseca – 40%; 3. pós-renal (obstrutiva) – 5%. 1) AZOTEMIA PRÉ-RENAL: é o tipo mais comum de LRA. Esse termo é usado para descrever a elevação da concentração de CrS ou ureia, em consequência do fluxo plasmático renal inadequado e da pressão hidrostática intraglomerular insuficiente para manter a filtração glomerular normal. Os distúrbios clínicos mais associados à azotemia pré- renal são hipovolemia, redução do débito cardíaco (IC), estado de choque, e fármacos que interferem com as respostas autorreguladoras renais, incluindo anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e inibidores da angiotensina II. A azotemia pré-renal pode coexistir com outras formas de LRA intrínseca associadas a processos que agem diretamente no parênquima renal. Os períodos prolongados de azotemia pré-renal podem causar lesão isquêmica, condição geralmente conhecida como necrose tubular aguda (NTA). Por definição, a azotemia pré-renal não inclui lesão do parênquima renal e pode ser revertida rapidamente tão logo o fluxo sanguíneo parenquimatoso e a hemodinâmica intraglomerular sejam restaurados. ------------------------------------------------------------------------ 2) AZOTEMIA RENAL INTRÍNSECA: A azotemia renal intrínseca, ou IRA por lesão intrínseca, é a disfunção renal aguda causada por lesão no próprio parênquima renal. Pode cursar com oligúria (necrose tubular aguda isquêmica, rabdomiólise, glomerulonefrites ou nefropatias microvasculares), anúria (necrose cortical aguda, algumas glomerulonefrites) ou não oligúria/poliúria (necrose tubular aguda por aminoglicosídeos). O tipo mais comum de IRA intrínseca é a Necrose Tubular Aguda (NTA) que responde por cerca de 90% dos casos, tendo como causas mais comuns: sepse, isquemia e nefrotoxinas endógenas e exógenas. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 19 ------------------------------------------------------------------------3) AZOTEMIA PÓS-RENAL: A LRA pós-renal ocorre quando o fluxo unidirecional normal da urina é bloqueado de forma aguda (parcial ou totalmente), resultando no aumento da pressão hidrostática retrógrada e interferindo com a filtração glomerular. A obstrução do fluxo urinário pode ser causada por distúrbios funcionais ou estruturais em qualquer localização, desde a pelve renal até a extremidade da uretra. Um fluxo urinário normal não exclui a existência de obstrução parcial, porque a TFG normalmente é cerca de duas vezes maior do que o fluxo urinário, e, desse modo, a preservação do débito urinário pode gerar confusão ao esconder a obstrução pós-renal parcial. Para haver LRA em indivíduos que tenham dois rins sadios funcionais, a obstrução deve afetar ambos os rins de modo a serem observadas amplas elevações nos níveis de CrS. A hiperplasia prostática benigna é a causa mais comum de injúria pós-renal. Nesta doença, o tecido prostático que cresce é o interno, comprimindo, assim, em graus variados, a uretra prostática. Eventualmente, a obstrução pode se agravar de maneira súbita ("retenção urinária aguda"), por edema da glândula, espasmo do colo vesical ou disfunção aguda do músculo detrusor, levando à retenção urinária. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO Didaticamente, os achados clínicos podem ser divididos entre os relacionados à causa de base da IRA (extra renais, como edema, uremia, hipertensão) e que, portanto, são fundamentais para se elaborar uma hipótese diagnóstica, e os relacionados à insuficiência renal. A IRA é habitualmente acompanhada por redução de diurese. A oligúria é definida como diurese inferior a 400 mL/24 h e pode anteceder as alterações dos marcadores laboratoriais de filtração glomerular. Quando há manutenção da diurese a despeito da perda de função, denomina-se a IRA como não oligúrica (comum na necrose tubular aguda nefrotóxica). A instalação súbita de anúria, definida como diurese inferior a 50 mL/24 h, é incomum e sugere a ocorrência de obstrução pós-renal total, trombose arterial bilateral, trombose venosa bilateral ou necrose cortical. O quadro clínico da IRA é muito variável. Praticamente todos os órgãos e sistemas do organismo podem ser acometidos como consequência de uremia, hipervolemia ou distúrbios hidreletrolíticos. DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS Sabemos que, com a lesão do rim, sua função de filtrar e reabsorver água e eletrolíticos são perturbadas. Ou seja, há menos filtração dessas substâncias e, consequentemente, menos reabsorção. A IRA cursa com uma série de alterações eletrolíticas, sendo as mais comuns: • Hiponatremia, com risco de alterações sensoriais; • Hipercalemia, com risco de arritmias cardíacas; Hipocalemia acontece em: NTA por aminoglicosídeo, NTA por anfotericina B, Leptospirose e HAS acelerada-maligna. Ou seja, são exceções. • Acidose metabólica, responsável pelo surgimento de náuseas, piora da hipercalemia e risco de arritmias; • Hiperfosfatemia, hipocalcemia e hiperuricemia, à semelhança do que se observa em ne&opatias crônicas; RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 20 • Mais raramente, hipercalcemia (a IRA por rabdomiólise pode cursar inicialmente com hipocalcemia e, posteriormente, com hipercalcemia). UREMIA A elevação da ureia e de inúmeras outras toxinas associa-se à disfunção celular de diversos sistemas: Neurológico: a encefalopatia urêmica é uma manifestação comum da insuficiência renal aguda. Varia entre formas sutis, como alterações intelectuais e de memória, até quadros mais graves, com a presença de alterações sensoriais, hiper-reflexia, tremores, mioclonias, convulsões, mal epiléptico e coma; Cardiovascular: a uremia pode gerar pericardite, com risco de tamponamento e piora de função cardíaca, entidade conhecida como miocardiopatia urêmica. Somam-se aqui as complicações congestivas e hipertensivas; Hematológico: equimoses e outros sangramentos podem ocorrer pela redução da adesividade plaquetária. A anemia também é frequente e secundária à deficiência da eritropoietina e diminuição da vida média das hemácias; Gastrintestinal: anorexia progressiva, náuseas e vômitos são os sintomas mais comuns da insuficiência renal aguda; Respiratório: pleurite e pneumonite podem ocorrer, sendo esta última mais rara. Outra manifestação comum é a respiração de Kusmaull, em função da acidose. HIPERVOLEMIA Com a redução da diurese, passa a ocorrer um balanço positivo diário de água e sódio, resultando em ganho de peso progressivo, edema e congestão. Um dos sinais mais comuns da hipervolemia é a hipertensão, que pode chegar a valores extremos, gerando quadros de emergências hipertensivas. Os quadros congestivos podem ser muito graves, causando edema agudo de pulmão e insuficiência respiratória aguda. Além disso, como é comum ocorrer IRA em pacientes cardiopatas e como a própria uremia piora o desempenho cardíaco, as complicações congestivas são extremamente comuns. A hipervolemia também pode ocorrer como resultado da manutenção de uma expansão intensa, que é recomendada somente para o tratamento precoce da sepse. DISTÚRBIO ÁCIDO-BASE Por outro lado, pacientes com IRA grave tendem a apresentar uma acidose metabólica, que se instaura no organismo quando há retenção de metabólitos proteicos ácidos por conta da falha na sua filtração. Essa acidose da IRA possui o intervalo aniônico (ânion gap) elevado, que se instaurou por conta da diminuição da excreção de ácidos proteicos e da reabsorção de bicarbonato (HCO3-), além do acúmulo de sulfatos, fosfatos, uratos (ácido úrico) e hipuratos (relação com a ureia). Em casos graves, o paciente com acidose metabólica apresenta náuseas e vômitos, letargia e hiperpneia. O diagnóstico de tal quadro sindrômico é medido com gasometria arterial e eletrólitos séricos. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO O diagnóstico etiológico da IRA é essencialmente clínico, mas alguns exames complementares são úteis na diferenciação entre as diferentes etiologias possíveis. 1) EXAME DE FUNÇÃO RENAL: O ideal para avaliar tal critério seria medir a TFG em cada néfron presente em ambos rins, estimando aproximadamente a verdadeira eficácia do funcionamento renal. Embora isso não seja possível na prática, podemos utilizar a depuração ou clearance da creatina para avaliação renal. Foi escolhida essa substância pois ela é totalmente filtrada do sangue, não sendo reabsorvida como as outras. RESUMINDO: A creatinina é totalmente excretada na urina no rim saudável, porém, em um rim lesionado, ela tende a aumentar sua concentração sérica e diminuir na urina, a partir de uma TFG menor que 70%. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 21 Entendido isso, podemos usar a fração entre a concentração de ureia plasmática e de creatina plasmática para avaliarmos se há algum indício de IRA, além de classificar sua etiologia. O valor de referência (VR) normal dessa fração é de 20:1, ou seja, para 20 ureias, tem-se 1 creatinina. Esse valor varia a depender da etiologia da IRA: Injúria pré-renal: Por conta da hipoperfusão renal, menor fluxo de sangue passa pelas arteríolas renais, havendo maior filtração de ureia e creatina. Mas até aí, as proporções se mantêm. No entanto, cerca de 90% da ureia é reabsorvida, por conta da integridade funcional do rim. Assim, a relação ureia/creatina aumenta, alcançando um VR > 40:1. Injúria renal intrínseca: Nesse caso, não há aumento da reabsorção de ureia por conta de uma disfunção das células tubulares proximais. Assim, a relação diminui, chegando a um VR < 15:1. Injúria pós-renal: Geralmente, o VR se encontra igual (20:1) às normais, podendo haver um leveaumento por conta do aumento efetivo de reabsorção da ureia resultante da grande pressão inferida pela obstrução. ____________________________________________ 2) SUMÁRIO DE URINA (EAS): Permite a análise química, física e de sedimentos da urina, além de não ser dispendiosa. Na análise química, avaliaremos pH, concentração de glicose, proteína e outras substâncias que não deviam aparecer na urina, como sangue e secreção purulenta. Já na física, vemos seu aspecto, cloração e densidade. Por fim, em relação a seus sedimentos, pesquisamos a presença de elementos celulares, como células epiteliais e leucócitos, além de cilindros (deposições moléculas ou íons, juntos com células mortas que formam um “tampão” no formato cilíndrico). Injúria pré-renal: Nenhum aspecto químico diferente da urina normal; maior densidade (concentrada) por conta da menor concentração de solvente (água) nela; sedimentos ausentes ou em formato de cilindros hialinos; Injúria renal intrínseca: Por conta de lesões no parênquima, pode haver hematúria, piúria (presença de pus na urina), proteinúria e glicosúria; urina se encontra com menor densidade (diluída) por conta do menor poder de reabsorção do rim; podemos encontrar células epiteliais, leucócitos e cilindros; Injúria pós-renal: Por conta da lesão por conta da obstrução, pode existir hematúria e piúria; a priori, normal, mas pode se tornar mais concentrada caso a obstrução torne a pressão dentro túbulo tamanha; ausentes (pode aparecer pedaços do coágulo ou do cálculo). ____________________________________________ 3) FRAÇÃO DE EXCREÇÃO DO SÓDIO É um exame que ajuda a diferenciar as etiologias da IRA entre pré-renal e renal intrínseca: Injúria pré-renal: nessa patologia, o rim absorve muita água e sódio, por conta do hipofluxo (dá “mais tempo” para as células tubulares os reabsorverem). Sendo assim, a excreção de sódio será < 1%; Injúria renal intrínseca: Excreção > 2%; 4) FRAÇÃO DE EXCREÇÃO DA UREIA Parâmetro utilizado em pacientes hipertensos em uso de furosemida (diurético de alça) ou hidroclorotiazida (diurético tiazídico), já que por conta do uso de diurético, esses pacientes tendem a secretar mais sódio e água que o normal. Injúria pré-renal: Paciente apresenta excreção < 35%; Injúria renal intrínseca: Apresenta excreção > 50%. ____________________________________________ 5) EXAMES DE IMAGEM: Em geral, os exames de imagem auxiliam o diagnóstico de IRA com etiologia pós-renal. O USG das vias urinárias é um exame excelente para avaliarmos a existência de uma IRA pós- renal, principalmente em suspeita de obstrução. Por ele avaliar parênquima renal, sua ecogenicidade, tamanho, presença de hidronefrose, entre outras características, podemos identificar aumento da ecogenicidade dos rins, perda da diferenciação corticomedular e dilatação do sistema coletor. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 22 6) BIÓPSIA RENAL: A biópsia renal está indicada em casos de IRA de etiologia incerta, suspeita de glomerulonefrites, nefrite intersticial e insuficiência renal aguda prolongada (definida como a não recuperação da função renal dentro de quatro a seis semanas após o diagnóstico, sem que ocorram novos insultos renais nesse período). ____________________________________________ TRATAMENTO O que devemos fazer no tratamento de pacientes com IRA é cessar a causa da patologia de base e garantir suporte metabólico ao paciente, corrigindo as complicações sistêmicas resultantes dessa lesão renal. Portanto, pacientes com etiologias diferentes, necessitam de formas diferentes para reverter a IRA, indo sempre na patologia de base. Injúria pré-renal: Normalizar a pressão arterial sistólica, administrar reposição volêmica (infusão de líquido – cristaloides) e suspender o uso de diuréticos (se atentar caso o paciente necessite desse medicamento, como por exemplo, numa ICC); Injúria renal intrínseca: Depende da doença que causou o dano no parênquima e interstício renal. Por exemplo, em caso de infarto por conta de um trombo ou êmbolo, é preconizado medicamentos anticoagulantes junto de estatina; caso seja por intoxicação, é suspendido o agente patógeno; em caso de inflamações, recomenda- se uso de anti-inflamatórios não esteroidais ou glicocorticoides. Injúria pós-renal: Deve ser tratada com o procedimento desobstrutivo adequado, o qual deve ser realizado rapidamente. A IRA é, em geral, prontamente reversível quando a desobstrução é feita em horas a poucos dias. Entretanto, obstruções prolongadas, de semanas a meses, podem determinar lesão crônica, de caráter irreversível. ------------------------------------------------------------------------ Ademais, independente da etiologia, todos os pacientes necessitam do mesmo suporte metabólico, corrigindo as alterações hidroeletrolíticas, a acidose metabólica e a uremia. Dessa forma, é aconselhável que o paciente receba, se necessário: 1. Medidas gerais: Monitoramento constante da concentração sérica de eletrólitos, creatinina e ureia; dieta com baixo teor de sódio e potássio até melhora da função renal; em caso de hiponatremia, restrição do uso de soluções hipotônicas e da ingesta de água; suspensão de fármacos como AINEs, BRAs e IECAs (interferem na perfusão renal); evitar fármacos nefrotóxicos, como aminoglicosídeos, e contrastes radiológicos; 2. Medidas farmacêuticas: Embora os diuréticos não melhorem a função renal e o prognóstico do paciente, é recomendado seu uso no controle volêmico de ALGUNS pacientes nas fases iniciais do tratamento. Sempre em dose controladas, evitando seu uso por tempo prolongado. 3. Terapia dialítica: A diálise assume a função filtradora do rim lesionado, resolvendo algumas das complicações dessa lesão. No entanto, ela também não melhora o prognóstico. Em caso de acidose metabólica, hipovolemia e hipercalemia grave e refratárias, síndrome urêmica, edema pulmonar não responsivo a diurético e intoxicações, deve-se iniciada a diálise de urgência. Caso essas medidas gerais sejam ineficientes, podemos lançar mão da terapia de substituição renal (TSR) que atuam na correção das anormalidades metabólicas decorrentes da disfunção renal, a regulação do equilíbrio e balanços influenciados pelos rins. Além disso, a TSR também interfere no manejo de líquido extracelular e na recuperação das funções orgânicas sistêmicas. Essa tríade pode ser feita pelos seguintes métodos: diálise peritoneal, hemodiálise. Caso não haja melhoram da função renal após o término TSR, podemos suspeitar de uma cronificação da lesão renal aguda. Dessa forma, realiza-se novamente os exames laboratoriais para o diagnóstico do paciente com doença renal crônica, que pode progredir ao ponto dele depender da TRS até ser eleito para uma cirurgia de transplante renal. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 23 7. RECONHECER A IMPORTÂNCIA DA ADERÊNCIA AO TRATAMENTO PARA PREVENÇÃO DE EVENTOS ADVERSOS RELACIONADOS À CORTICOTERAPIA. Os glicocorticóides são divididos em três grupos de acordo com a duração da supressão do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) com base em uma dose padrão (equivalente a 50mg de predinisona): os de ação curta, que suprimem por menos de 36 horas (ex: hidrocortisona); os de ação intermediária que suprimem por cerca de 48 horas (ex: predinisona, predinisolona); e os de ação prolongada que suprime por mais de 48 horas (dexametasona, betametasona). MINIMIZANDO EFEITOS COLATERAIS Os princípios gerais que devem ser utilizados para que se minimizem os efeitos indesejáveis da corticoterapia incluem: a) indicação rígida para os casos em que o uso do glicocorticóide seja essencial; b) evitar o uso de glicocorticóides de ação prolongada, preferindo glicocorticóide
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