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50 Estudos Estratégicos Capital empreendedor Entretanto, os autores apontam que a arraigada noção de que o venture capital acar- reta inovação foi questionada pelo artigo de Hirukawa; Ueda (2011), comentado no item 4.2.1 deste texto, que analisa dados referentes aos Estados Unidos, muito embora a relação de causalidade no sentido da inovação para venture capital não tivesse sido observada quando utilizados os dados relativos a pedidos de patentes nos EUA, mas apenas quando empregados dados relativos aos fatores de produtividade como proxy do progresso tecnológico. Nesse contexto, Geronikolaou; Papachristou (2012) analisaram o mercado europeu. A partir dos estudos econométricos efetuados, os autores concluem que há evidências de que a causalidade é no sentido de que as patentes conduzem ao venture capital, o que sugere que, na Europa, a inovação parece criar a demanda para essa modalidade de investimentos, e não que o venture capital atue como uma fonte de inovação. Os autores ainda verificaram, utilizando uma defasagem temporal de um ano entre investimentos e patentes, que a correlação é negativa, ou seja, que o número de patentes apresentaria decréscimo após a realização de investimentos em venture capital, o que estaria consis- tente com observação similar de Hirukawa; Ueda (2011). Assim, Geronikolaou; Papachristou (2012) mencionam que a explicação de Hirukawa; Ueda (2011) para o fenômeno seria no sentido de que um boom em novas tecnologias pode levar ao surgimento de novas start-ups, expandindo assim a demanda para finan- ciamentos por meio de venture capital. Entretanto, Geronikolaou; Papachristou (2012) propõem que o fenômeno também poderia ser explicado com base em considerações sobre informação assimétrica e irreversibilidade dos investimentos em venture capital. Mais especificamente, ponderam que investimentos em venture capital podem ser con- tidos na presença de severos problemas relativos à seleção adversa, em razão do risco de financiar empreendimentos cujo risco ex post venha a ser considerado inaceitável. Nessas circunstâncias, a patente poderia ser considerada como um sinal que indique a qualidade superior do empreendedor, o que reduziria o custo de procedimentos de due diligence e, como consequência, atrairia investimentos de capital de risco. Adicionalmente, o venture capital, especialmente quando direcionado a firmas em está- gios iniciais de desenvolvimento, pode ser considerado investimento irreversível e, assim sendo, a decisão de investimento pode ser refreada na presença de incerteza quanto ao fluxo de caixa futuro do empreendimento13. Os autores apontam que, especialmente no caso dos empreendimentos em fase inicial de desenvolvimento, os aportes de recursos via venture capital seriam claramente considerados um custo perdido (sunk cost), uma vez que se destinam a empresas que ainda não dispõem de produção e não há qualquer 13 Sobre o tema, os autores apontam a referência “A. K. Dixit and R. S. Pindyck, “Investment under Uncertainty,” Princeton University Press, Princeton, 1994. 51 mercado secundário para os ativos de que dispõem. A irreversibilidade, ademais, torna ainda mais severo o custo de seleção adversa, de maneira que o efeito sinalizador confe- rido pelas patentes torna-se ainda mais relevante. Por sua vez, as pequenas firmas e os empreendedores sabem que têm, de alguma forma, de indicar a qualidade de seu projeto de maneira a serem considerados bons candidatos a receber recursos de venture capital. Por esse motivo, apesar de os procedimentos de requisição para uma patente serem dispendiosos tanto em termos de recursos financei- ros como em termos de tempo, o processo é efetuado de forma que a própria requisição (patent application) sinalize uma qualidade superior em relação aos empreendedores competidores que sequer tenham efetuado tal requerimento. Além desse aspecto, os autores mencionam especificamente que as diferenças entre a relevância do venture capital entre os diversos países da Europa são induzidas não pelo lado da oferta, mas pelo lado da demanda, de maneira que, nos mercados europeus menos relevantes, as ideias inovadoras e criadoras de valor são escassas, mas não os recursos financeiros. Por fim, os autores apontam que, embora o trabalho tenha sido desenvolvido em nível de análise de países, e não de análise de empresas, não são vislumbradas razões pelas quais os resultados advindos de estudos que analisem dados em nível das empresas po- deriam gerar resultados conflitantes no que se refere à relação entre investimentos em venture capital e patentes. 4.2.3 O impacto do venture capital sobre a inovação e o crescimento das empresas na Áustria Peneder (2010) analisa o impacto do venture capital sobre a inovação e o crescimento das empresas investidas na Áustria. Um dos aspectos apontados refere-se ao fato de que se trata da análise de uma economia que ainda conta com um mercado pouco desen- volvido de venture capital. Muito embora os países com mercados mais relevantes dessa modalidade de investimentos disponham de dados mais amplos e de maior qualidade sobre essa indústria, os países com mercados em desenvolvimento, como a Áustria, ainda seriam pouco mencionados pela literatura. Sob esse aspecto, para muitos investi- dores o caso da Áustria pode refletir melhor a sua situação do que o caso de economias onde o venture capital já é relevante e maduro. O autor menciona que seu estudo fornece suporte para três conclusões gerais. A pri- meira refere-se ao fato de que as companhias austríacas que obtêm suporte de venture capital apresentam restrições na sua capacidade em obter financiamentos pelos ca- nais tradicionais.
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