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Impacto do Venture Capital

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Estudos Estratégicos
Capital empreendedor
Entretanto, os autores apontam que a arraigada noção de que o venture capital acar-
reta inovação foi questionada pelo artigo de Hirukawa; Ueda (2011), comentado no 
item 4.2.1 deste texto, que analisa dados referentes aos Estados Unidos, muito embora 
a relação de causalidade no sentido da inovação para venture capital não tivesse sido 
observada quando utilizados os dados relativos a pedidos de patentes nos EUA, mas 
apenas quando empregados dados relativos aos fatores de produtividade como proxy do 
progresso tecnológico. 
Nesse contexto, Geronikolaou; Papachristou (2012) analisaram o mercado europeu. A 
partir dos estudos econométricos efetuados, os autores concluem que há evidências de 
que a causalidade é no sentido de que as patentes conduzem ao venture capital, o que 
sugere que, na Europa, a inovação parece criar a demanda para essa modalidade de 
investimentos, e não que o venture capital atue como uma fonte de inovação. Os autores 
ainda verificaram, utilizando uma defasagem temporal de um ano entre investimentos 
e patentes, que a correlação é negativa, ou seja, que o número de patentes apresentaria 
decréscimo após a realização de investimentos em venture capital, o que estaria consis-
tente com observação similar de Hirukawa; Ueda (2011).
Assim, Geronikolaou; Papachristou (2012) mencionam que a explicação de Hirukawa; 
Ueda (2011) para o fenômeno seria no sentido de que um boom em novas tecnologias 
pode levar ao surgimento de novas start-ups, expandindo assim a demanda para finan-
ciamentos por meio de venture capital. Entretanto, Geronikolaou; Papachristou (2012) 
propõem que o fenômeno também poderia ser explicado com base em considerações 
sobre informação assimétrica e irreversibilidade dos investimentos em venture capital. 
Mais especificamente, ponderam que investimentos em venture capital podem ser con-
tidos na presença de severos problemas relativos à seleção adversa, em razão do risco 
de financiar empreendimentos cujo risco ex post venha a ser considerado inaceitável. 
Nessas circunstâncias, a patente poderia ser considerada como um sinal que indique a 
qualidade superior do empreendedor, o que reduziria o custo de procedimentos de due 
diligence e, como consequência, atrairia investimentos de capital de risco.
Adicionalmente, o venture capital, especialmente quando direcionado a firmas em está-
gios iniciais de desenvolvimento, pode ser considerado investimento irreversível e, assim 
sendo, a decisão de investimento pode ser refreada na presença de incerteza quanto ao 
fluxo de caixa futuro do empreendimento13. Os autores apontam que, especialmente no 
caso dos empreendimentos em fase inicial de desenvolvimento, os aportes de recursos 
via venture capital seriam claramente considerados um custo perdido (sunk cost), uma 
vez que se destinam a empresas que ainda não dispõem de produção e não há qualquer 
13 Sobre o tema, os autores apontam a referência “A. K. Dixit and R. S. Pindyck, “Investment under 
Uncertainty,” Princeton University Press, Princeton, 1994.
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mercado secundário para os ativos de que dispõem. A irreversibilidade, ademais, torna 
ainda mais severo o custo de seleção adversa, de maneira que o efeito sinalizador confe-
rido pelas patentes torna-se ainda mais relevante. 
Por sua vez, as pequenas firmas e os empreendedores sabem que têm, de alguma forma, 
de indicar a qualidade de seu projeto de maneira a serem considerados bons candidatos 
a receber recursos de venture capital. Por esse motivo, apesar de os procedimentos de 
requisição para uma patente serem dispendiosos tanto em termos de recursos financei-
ros como em termos de tempo, o processo é efetuado de forma que a própria requisição 
(patent application) sinalize uma qualidade superior em relação aos empreendedores 
competidores que sequer tenham efetuado tal requerimento.
Além desse aspecto, os autores mencionam especificamente que as diferenças entre a 
relevância do venture capital entre os diversos países da Europa são induzidas não pelo 
lado da oferta, mas pelo lado da demanda, de maneira que, nos mercados europeus 
menos relevantes, as ideias inovadoras e criadoras de valor são escassas, mas não os 
recursos financeiros. 
Por fim, os autores apontam que, embora o trabalho tenha sido desenvolvido em nível 
de análise de países, e não de análise de empresas, não são vislumbradas razões pelas 
quais os resultados advindos de estudos que analisem dados em nível das empresas po-
deriam gerar resultados conflitantes no que se refere à relação entre investimentos em 
venture capital e patentes.
 4.2.3 O impacto do venture capital sobre a inovação 
e o crescimento das empresas na Áustria
Peneder (2010) analisa o impacto do venture capital sobre a inovação e o crescimento 
das empresas investidas na Áustria. Um dos aspectos apontados refere-se ao fato de que 
se trata da análise de uma economia que ainda conta com um mercado pouco desen-
volvido de venture capital. Muito embora os países com mercados mais relevantes dessa 
modalidade de investimentos disponham de dados mais amplos e de maior qualidade 
sobre essa indústria, os países com mercados em desenvolvimento, como a Áustria, 
ainda seriam pouco mencionados pela literatura. Sob esse aspecto, para muitos investi-
dores o caso da Áustria pode refletir melhor a sua situação do que o caso de economias 
onde o venture capital já é relevante e maduro.
O autor menciona que seu estudo fornece suporte para três conclusões gerais. A pri-
meira refere-se ao fato de que as companhias austríacas que obtêm suporte de venture 
capital apresentam restrições na sua capacidade em obter financiamentos pelos ca-
nais tradicionais.

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