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Nutrição na crianaça cardiopata

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Nutrição na criança cardiopata
Chapter · April 2019
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Nutrition in children with intestinal failure View project
Whole blood thiamine concentrations in criticall y ill children View project
Heitor Pons Leite
Universidade Federal de São Paulo
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Silvana Benzecry
Universidade do Estado do Amazonas
15 PUBLICATIONS   335 CITATIONS   
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1 
 
SUPORTE NUTRICIONAL NA CRIANÇA CARDIOPATA 
 
Heitor Pons Leite 
Silvana Gomes Benzecry 
 
As cardiopatas congênitas são a causa mais comum de anomalias congênitas, tendo 
prevalência mundial estimada de em 8 casos por 1000 nascimentos (1). Os distúrbios 
nutricionais são frequentes em crianças cardiopatas e estão associados a diferentes fatores. 
Alguns são potencialmente modificáveis, como a qualidade da alimentação, do tratamento 
clínico e o tempo de espera para a correção cirúrgica (2), além da condição 
socioeconômica. 
Efeitos negativos da cardiopatia sobre o estado nutricional 
A insuficiência cardíaca prejudica produção e a utilização de energia, o que pode 
resultar em desarranjo metabólico e disfunção de tecidos e órgãos. Quando ocorrem em 
grande magnitude, estas alterações causam um quadro de desnutrição grave chamado de 
caquexia cardíaca. Os principais mecanismos envolvidos na gênese da caquexia cardíaca 
são a ingestão alimentar deficiente, o hipermetabolismo, a hipóxia celular e redução da 
absorção intestinal de nutrientes. (3). Outro mecanismo aventado seria a interação entre os 
sistemas neuroendócrino e imune, gerando desequilíbrio entre as vias metabólicas e 
anabólicas (4). Além disso, o crescimento da criança cardiopata pode ser influenciado por 
fatores genéticos - crianças com síndrome de Down, por exemplo, tem curvas de 
crescimento diferentes em relação à população normal. 
A desnutrição associa-se ao pior prognóstico no período pós-operatório de cirurgia 
cardíaca, havendo maior necessidade de ventilação mecânica, maior tempo de infusão de 
drogas inotrópicas e vasoativas e de internação hospitalar (5). Deve-se notar, porém, que a 
obesidade vem crescendo como fator de risco potencial para evolução desfavorável em 
longo prazo de pacientes com cardiopatia congênita. Devido à alimentação inadequada e à 
restrição da atividade física, algumas crianças cardiopatas tem maior risco de desenvolver 
obesidade (6). 
 
 
 
2 
 
Suporte nutricional no pré-operatório 
O suporte nutricional no pré-operatório permite melhorar o estado nutricional para 
propiciar à criança melhores condições para enfrentar o estresse cirúrgico. No quadro são 
mostradas peculiaridades que tornam a criança cardiopata mais propensa às complicações 
do suporte nutricional. 
Quadro1 – Características da criança cardiopata que devem ser consideradas no suporte 
nutricional. 
Problema Conduta 
Anorexia. 
 
Fracionar a dieta, oferecendo 
primeiro alimentos com maior 
densidade energética e de maior 
preferência da criança. 
Taquipnéia e infecções frequentes de vias aéreas 
causam astenia e diminuição da ingestão alimentar. 
Durante a alimentação, a criança 
deve ficar em posição sentada. 
Diminuir o volume (ou o tempo de 
mamada) e aumentar a frequência. 
Risco de descompensação cardíaca por oferta 
hídrica excessiva, ou de desidratação por aumento 
das perdas insensíveis de água e uso de diuréticos. 
Ajustar a oferta hídrica conforme a 
recomendação do cardiologista 
A oferta excessiva de carboidratos aumenta a 
secreção de insulina que, por seu efeito 
antinatriurético, promove retenção de sódio e água. 
 
Evitar excesso de açúcar, sal e 
temperos industrializados. 
A hiperalimentação pode aumentar o gasto 
energético, a frequência cardíaca e o consumo 
miocárdico de oxigênio. 
Adotar medidas para prevenir a 
síndrome da realimentação: 
aumentar a oferta gradativamente; 
monitorar concentrações séricas de 
potássio, fósforo, magnésio e 
tiamina; suplementar, se necessário. 
Pode haver maior necessidade de potássio, cálcio, 
magnésio e fósforo, eletrólitos cuja deficiência 
pode prejudicar a função cardíaca. 
 
Monitorar a concentração sérica de 
eletrólitos. Deve-se suplementar 
quando a ingestão não satisfaz as 
recomendações e/ou a criançarecebe 
doses elevadas de diuréticos 
 
A alimentação deve ser oferecida preferencialmente por via oral, com o cuidado de 
se adotar medidas posturais anti-refluxo para prevenir aspiração. Para lactentes, recomenda-
se ofertar de 120 a 150 kcal/kg/dia (7). A oferta pode ser aumentada sem o risco de 
sobrecarga cardíaca, acrescentando-se à dieta módulos de carboidrato (até 5%) e lipídio 
3 
 
(triglicérides de cadeia média ou óleo de soja). Gorduras saturadas e os ácidos graxos trans 
devem ser evitados. 
 A criança deve ser reavaliada com periodicidade mensal ou até semanal, conforme a 
necessidade. A orientação clínica e nutricional periódica e sistemática das crianças 
cardiopatas em acompanhamento ambulatorial multidisciplinar é necessária para a 
adequação da oferta de micronutrientes e a melhora de peso e estatura (8). 
Nutrição por sonda enteral 
 Quando a alimentação via oral apenas não é suficiente para promover ganho 
ponderal, está indicado o uso da sonda enteral, que permite a oferta de maior quantidade de 
energia. Quando a dieta é infundida de modo contínuo ou lentamente, há menor oscilação 
do gasto energético e melhor aproveitamento dos nutrientes. (9). A infusão da dieta em 
bolus ou por “gavagem” pode causar distensão gástrica, reduzir a complacência pulmonar 
no paciente em ventilação pulmonar mecânica. Além disso, o aproveitamento energético é 
menor em relação à infusão contínua. Em neonatos prematuros em tratamento de canal 
arterial persistente com indometacina a nutrição enteral trófica (15 ml/kg), associou-se ao 
menor tempo para se atingir a oferta plena de nutrientes (10) 
 Não se deve tentar recuperar o estado nutricional muito rapidamente, pois isso traz 
o risco de desencadear insuficiência cardíaca como parte da síndrome da realimentação, 
que é atribuída aos seguintes fatores: 
- Aumentos excessivos da volemia e da taxa metabólica, o que resulta em aumentos do 
consumo de oxigênio e do débito cardíaco; 
- Retenção excessiva de sódio e consequente aumento da volemia; 
- Deficiência de vitaminas (tiamina) e minerais (potássio, fósforo e magnésio), o que 
diminui a contratilidade miocárdica. 
Portanto, a realimentação deve ser gradual, monitorando-se a tolerância à oferta de 
nutrientes para evitar a descompensação cardíaca. Durante o processo de recuperação 
nutricional pode ser necessário monitorar as concentrações séricas de potássio, fósforo e 
magnésio e suplementar vitaminas hidrossolúveis, especialmente a tiamina (vitamina B1). 
Em algumas cardiopatias com repercussão hemodinâmica importante, a criança não 
consegue ganhar peso, provavelmente em função do gasto energético muito acentuado e do 
não aproveitamento dos nutrientes administrados por via digestiva. Nestes casos, 
4 
 
excepcionalmente, a nutrição parenteral pode ser utilizada para complementar a oferta. 
Suplementação de micronutrientes 
Os micronutrientes são essenciais para o metabolismo intermediário e oxidativo. É 
provável que, nos cardiopatas, a oferta habitualmente recomendada não seja suficiente para 
atender as necessidades aumentadas, em especial da tiamina (vitamina B1). A 
suplementação de micronutrientes cuja ingestão está deficiente pode melhorar a função 
miocárdica. 
A tiamina é uma vitamina hidrossolúvel que atua como coenzima essencial na 
conversão do piruvato, a partir da glicose, em acetil coenzima A, para entrada no ciclo de 
Krebs e geração de energia. Sua deficiência resulta em acidose láctica refratária. Como os 
estoques são muito pequenos, a oferta insuficiente pode predispor, em curto prazo, ao risco 
de deficiência, que pode ser maior devido ao uso de doses altas de furosemida. A 
deficiência grave de tiamina pode causar um quadro de insuficiência cardíaca 
descompensada chamado ‘shoshin beribéri’ que, se não for prontamente reconhecido e 
tratado, resulta choque hemodinâmico e morte. O tratamento é feito com tiamina na dose de 
25mg a 100mg via intravenosa, lentamente e diluída em 100 ml de solução salina ou 
glicosada, durante uma semana, seguida de 35 mg/dia via oral por mais 6 semanas (11). 
 O selênio protege o miocárdio contra o estresse oxidativo. As recomendações, 
segundo a faixa etária, são de 15µ até 6 meses, 20 µg de 7 meses a 3 anos, 30µ de 4 a 8 
anos, 40µg de 9 a 14 anos e 55 µg para idade acima de 14 anos (12). 
 A hemoglobina, os índices hematimétricos e a ferritina sérica são parâmetros 
suficientes para diagnosticar a deficiência de ferro e indicar o tratamento. Não se deve 
esquecer, entretanto, que o ferro, quando suplementado em excesso pode induzir ao estresse 
oxidativo e favorecer a proliferação bacteriana. 
Crianças com cardiopatia congênita tem menor massa mineral óssea quando 
comparadas às saudáveis, independente do estado nutricional antropométrico (13). 
Portanto, o médico deve monitorar vitamina D, cálcio e fósforo séricos e suplementar se 
necessário. 
 A contratilidade miocárdica depende primariamente do metabolismo lipídico. A 
carnitina - um composto amônio quartenário presente em produtos de origem animal – 
transporta os ácidos graxos de cadeia longa para dentro da mitocôndria, onde sofrem beta-
5 
 
oxidação e são convertidos em acetil coenzima A, para entrada no ciclo de Krebs e 
produção de energia. Na miocardiopatia dilatada secundária à deficiência primária de 
carnitina, a suplementação de carnitina é curativa (14). Nos demais casos de cardiomiopatia 
dilatada em que não há este diagnóstico específico, os sintomas de insuficiência cardíaca 
costumam melhorar com a suplementação de L-carnitina na dose de 100mg/kg/dia, com 
resultado superior em relação ao tratamento convencional. Porém, como os estudos são 
heterogêneos quanto ao delineamento e aos métodos, indicação da L-carnitina para esta 
finalidade ainda não está bem definida. 
 
Cuidados com o uso de medicamentos e a alimentação 
- Os medicamentos comumente utilizados para controlar a insuficiência cardíaca, como 
inotrópicos e diuréticos, em geral não interferem na alimentação. 
- A mãe deve ser orientada para dar as medicações antes da alimentação e usando seringa 
ou conta gotas. Não se deve misturá-las na mamadeira, pois a criança pode não querer 
mamar todo o conteúdo. 
- Se a criança vomitar após a medicação, não se deve administrá-la de novo, mas esperar 
até o próximo horário. 
Suporte nutricional no pós-operatório 
As dificuldades do suporte nutricional no período pós-operatório dependem do risco 
cirúrgico. Pacientes de médio e baixo risco cirúrgico, em geral recebem alta da UTI nos 
primeiros dias após a cirurgia e são realimentados por via oral sem intercorrências. Os de 
alto risco cirúrgico podem desenvolver sobrecarga hídrica consequente 1) ao aumento da 
permeabilidade capilar secundário à resposta inflamatória sistêmica, 2) à instabilidade 
hemodinâmica - que requer infusão de líquidos e, provavelmente 3) à lesão renal aguda. 
Deve-se ressaltar que a sobrecarga hídrica que ocorre nas primeiras 72 h após a cirurgia 
cardíaca está associada à maior mortalidade e morbidade (15). 
 O diagnóstico de cardiopatia é por si só, um fator de risco para não se atingir as 
recomendações nutricionais em crianças internadas em unidade de terapia intensiva 
6 
 
(16). Em geral, consegue-se ofertar aproximadamente dois terços das recomendações de 
energia e proteína até a primeira semana do período pós-operatório (17). 
Nutrição enteral no período pós-operatório 
 A nutrição por sonda enteral deve ser iniciada, se possível, nas primeiras 24 a 48h, 
posicionando-se o paciente em proclive de 30-45 graus. 
Critérios para a escolha da dieta 
Para a seleção de uma dieta adequada às necessidades do paciente é preciso 
conhecer as potenciais alterações nos processos fisiológicos de digestão e absorção 
acarretados pela cardiopatia. Em relação ao paciente, os seguintes fatores devem ser 
considerados: capacidade digestiva eabsortiva do trato gastrintestinal, necessidades 
nutricionais conforme a situação clínica, e necessidade de restrição hídrica e de eletrólitos. 
Em relação à fórmula é importante conhecer, além da composição, a osmolaridade e a carga 
renal de solutos. 
Carga renal potencial de solutos 
 A carga renal potencial de solutos (CRPS) é a quantidade de solutos endógenos ou 
da dieta que precisaria ser excretada pela urina se nenhum deles fosse utilizado na síntese 
de novos tecidos ou excretado por vias extra renais (18). É expressa pela seguinte fórmula: 
CRPS = Na [mEq] + K [mEq] + Cl [mEq] + P (mEq) + proteína [g]/0,175 
 A carga renal de soluto (CRS) é a CRPS subtraída da parcela da CRPS que é 
excretada por vias extrarrenais e dos nutrientes utilizados para síntese de novos tecidos. 
Exceto quando há diarreia, as perdas extrarrenais são pequenas e podem ser ignoradas. 
Então, a estimativa da carga renal de soluto (CRS) é: CSR = CRPS – (0,9x ganho ponderal 
diário em g). A CRS é um fator importante para a manutenção do equilíbrio hídrico, 
principalmente nas seguintes situações: 
1) Na fase aguda das doenças, quando a ingestão hídrica estiver diminuída, especialmente 
na presença de febre; 
2) Uso de dietas de alta densidade energética; 
3) Temperatura ambiente elevada, que resulta em aumento da perda insensível de água; 
4) Quando a capacidade de concentração renal está diminuída, como na doença renal 
crônica e na desnutrição grave; 
5) Se, em função da restrição de oferta hídrica, a dieta é concentrada para se aumentar o 
7 
 
teor proteico-calórico. 
Recomenda-se que a osmolalidade das fórmulas infantis, para administração oral ou 
intragástrica, seja inferior a 460 mOsm/kg, o que equivale à osmolaridade de 400 mOsm/l. 
Fórmulas com osmolaridade maior que 300 mOsm/l podem causar diarreia quando 
administradas por sonda pós-pilórica. 
Em criança com idade maior que 1 ano devem ser utilizadas dietas pediátricas; nas 
menores, leite materno ordenhado ou, na ausência deste, fórmulas modificadas para 
lactentes. Fórmulas à base de hidrolisado proteico podem ser consideradas inicialmente nos 
pacientes com desnutrição grave, submetidos ao tempo de circulação extracorpórea 
prolongado ou se houve choque no período intra ou pós-operatório. Existem dietas enterais 
industrializadas, feitas especificamente para crianças menores de doze meses, que têm 
maior teor energético (1kcal/ml), mas também proteico e de eletrólitos. Nas situações em 
que coexistem restrição de oferta hídrica e aumento das perdas insensíveis de água, a 
conduta de aumentar a concentração da dieta pode predispor à sobrecarga renal de solutos e 
ao risco desidratação hipertônica. No caso de serem usadas dietas mais concentradas em 
relação ao que é recomendado, o médico pediatra deve estar atento a esse risco e monitorar 
balanço hídrico, eletrólitos séricos, ureia, diurese e densidade urinária. 
Quando o estresse metabólico decorrente da cirurgia entrar em fase de resolução, o 
que geralmente ocorre após 7 a 10 dias, a oferta de energia deverá ser aumentada 
gradativamente visando alcançar o anabolismo. 
 
Nutrição parenteral no período pós-operatório 
 Se o paciente não puder receber nutrição oral ou enteral efetiva em até 5 dias, 
A nutrição parenteral é indicada, de modo a satisfazer as seguintes recomendações durante 
fase de estresse metabólico: 
- Energia: 1,0 a 1,2 vezes a taxa metabólica basal (TMB). A TMB (expressa em 
kcal/kg/dia) é estimada pela fórmula: 55 - (2x idade em anos) 
- Aminoácidos: 2,5 g/kg/dia. 
- Lipídios: 1 a 2 g/kg, com emulsões a 20% contendo triglicérides de cadeia longa e cadeia 
média em proporções iguais. 
- Relação nitrogênio/calorias não proteicas entre 1:150 e 1:100. 
8 
 
- Eletrólitos: conforme recomendações para a faixa etária e condição cínica 
- Vitaminas e oligoelementos: nas doses recomendadas para crianças, inclusive selênio 
Monitoração nutricional após a alta hospitalar 
 O acompanhamento nutricional por equipe multidisciplinar deve continuar após a 
alta hospitalar. Em lactentes, a evolução ponderal insatisfatória após a cirurgia cardíaca 
associou-se à maior mortalidade a longo prazo. Verificou-se que a diminuição 
superior a 0,67 escore no escore z de peso para a idade nos primeiros meses após a cirurgia 
cardíaca (que corresponde à queda de pelo menos uma linha na curva de percentis) 
associou-se à maior mortalidade em lactentes com cardiopatias congênitas (19). Portanto, 
é importante investigar e monitorar mais frequentemente tais crianças quanto aos fatores 
(cardíacos e não cardíacos) que possam afetar seu o crescimento após a cirurgia. Ressalte- 
se que nos pacientes com cardiopatia congênita o risco de desenvolver sobrepeso ou 
obesidade é similar ao da população geral. Portanto, é preciso haver aconselhamento 
dietético e atividade física segura após a cirurgia cardíaca (6) (20) (21). 
 
Situações especiais 
Enteropatia perdedora de proteínas 
 É uma doença caracterizada por dilatação de vasos linfáticos intestinais com 
consequente perda de proteínas, hipoalbuminemia, linfopenia, efusões pleurais e 
pericárdicas, diarreia, esteatorréia e distúrbios hidroeletrolíticos. Esta enteropatia ocorre em 
3 a 18% dos pacientes submetidos à cirurgia de Fontan, devido ao aumento da pressão dos 
vasos linfáticos e consequente diminuição da absorção de nutrientes pelo intestino. Pode 
também ser secundária à pericardite constritiva, miocardiopatia e estenose de valva 
tricúspide. A diminuição da absorção de nutrientes (especialmente ácidos graxos de cadeia 
longa) aliada à constante demanda por resíntese proteica aumenta o risco de ocorrer 
desnutrição. O tempo de aparecimento é variável (semanas a anos), sendo em média três 
anos e meio após a cirurgia. Recomenda-se que após a cirurgia o paciente seja avaliado 
periodicamente para verificar se há perda proteica fecal, mesmo quando não há sintomas, 
com o clearance de 24h de α-1-antitripsina nas fezes (22). 
9 
 
 Deve-se prescrever uma fórmula láctea desengordurada (pobre em ácidos graxos de 
cadeia longa), acrescida de triglicérides de cadeia média, módulos de carboidratos e de 
proteínas. Estes módulos devem ser utilizados em proporções adequadas, para se 
reconstituir o teor de energia de modo similar ao das fórmulas poliméricas completas. 
Quilotórax 
 O quilotórax é uma complicação rara da cirurgia cardíaca. Ocorre por lesão direta 
do ducto torácico na cirurgia corretiva de coarctação da aorta, ligadura de canal arterial, ou 
colocação de shunts arteriais sistemico-pulmonares extracardíacos. Pode ainda ser 
secundário à oclusão da veia cava superior por trombo e em situações em que há aumento 
de pressão venosa, como as cirurgias que envolvem anastomose cavo-pulmonar para o 
tratamento paliativo da síndrome do coração esquerdo hipoplásico. As cirurgias mais 
comuns associadas a esta complicação são, as cirurgias de Fontan, de Glenn, a correção 
total da tetralogia de Fallot e o transplante cardíaco. O paciente pode se desnutrir por perda 
de proteína no líquido quiloso; há também perdas sódio, cálcio e bicarbonato e risco de 
imunodeficiência por diminuição de linfócitos e hipogamaglobulinemia. De modo similar 
ao tratamento da enteropatia perdedora de proteínas deve ser utilizado fórmula láctea 
desengordurada enriquecida com triglicerídeos de cadeia média (que entram diretamente na 
circulação portal sem passar pelo sistema linfático), módulos de carboidratos e de proteína. 
Se o quilotórax for muito importante e não reverter com as modificações na dieta, 
recomenda-se o jejum por via digestiva e a nutrição parenteral, cujo objetivo é não apenas 
manter o estado nutricional, mas repor as perdas de eletrólitos pelo líquido quiloso. 
 
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