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Crônica post mortem a vida e a obra de Primitivo Moacyr pela memória de Afonso DEscragnolle Taunay

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1
ROSANA AREAL DE CARVALHO2
https://orcid.org/0000-0002-0114-4239
Universidade Federal de Ouro Preto / Ouro Preto, MG, Brasil
RAPHAEL RIBEIRO MACHADO3
https://orcid.org/0000-0001-6252-0982
Universidade Federal de Ouro Preto / Ouro Preto, MG, Brasil
ESTUDOS DE CULTURA MATERIAL
ANAIS DO MUSEU PAULISTA São Paulo, Nova Série, vol. 29, 2021, p. 1-35. e51
1. O desenvolvimento deste 
trabalho contou com o 
apoio da Coordenação de 
Avaliação de Pessoal de Ní-
vel Superior (Capes), na mo-
dalidade de bolsa de estudo.
2. Doutora em ciências hu-
manas pela Universidade de 
São Paulo (USP), com pós-
-doutorado em história da 
educação pelo Grupo de 
Estudos e Pesquisa em His-
tória da Educação da Facul-
dade de Educação da Uni-
versidade Federal de Minas 
Gerais (UFMG). Professora 
do Departamento de Educa-
ção e do Programa de Pós-
-Graduação em Educação 
(PPGE) da Universidade 
Federal de Ouro Preto 
(Ufop) e pesquisadora na 
área de história da educa-
ção: instituições e sujeitos 
escolares, educação e polí-
tica, intelectuais. Coordena 
o Grupo de História da 
Educação da Ufop e partici-
pa do Gephe/FAE/UFMG. 
E-mail: <rosanareal@ufop.
edu.br>.
3. Doutorando em educa-
ção pelo PPGE/Ufop. Mes-
trado em educação tecnoló-
gica pelo Centro Federal de 
Educação Tecnológica de 
Minas Gerais (Cefet-MG). 
Crônica post mortem: a vida e a obra de 
Primitivo Moacyr pela memória de Afonso 
D’Escragnolle Taunay1
Post-mortem chronicle: the life and work of Primitivo Moacyr through the memory 
of Afonso D’Escragnolle Taunay 
https://doi.org/10.1590/1982-02672021v29e51
RESUMO: Este trabalho tem por intuito apresentar reflexões sobre a crônica fúnebre de Afonso 
D’Escragnolle Taunay sobre Primitivo Moacyr, publicada no Jornal do Commercio em outubro 
de 1942. Problematizamos o texto como objeto histórico nos debruçando sobre as condições 
e hipóteses inspiradas pela leitura. A crônica é entendida como produto, lugar de memória 
e como objeto impresso circunscrito à cultura material brasileira, sendo assim, colabora com 
a compreensão da relação da escrita com a memória e dialoga com o espaço no qual 
circulou e fora lida, atuando como discurso de verdade e podendo modificar, historicamente, 
as referências que os sujeitos possuem do passado. A crônica de Taunay contribui para o 
entendimento das redes de sociabilidades, dos valores incutidos no contexto e do que sabiam 
e pensavam sobre o protagonista. A existência de tal escrito ilumina o lugar de Moacyr como 
intelectual na produção das pesquisas sobre a história da educação brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Afonso Taunay. Primitivo Moacyr. Lugar de memória.
2 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
ABSTRACT: This paper aims to reflect on the funeral chronicle of Afonso D’Escragnolle Taunay 
on Primitivo Moacyr, published in October 1942 in Jornal do Commercio. From the conditions 
and hypothesis inspired by the reading, this work problematizes the text as an historical object, 
representing a product, a “place of memory,” and a printed object restricted to Brazilian material 
culture. Thus, it corroborates to the understanding of the writing–memory association, dialoguing 
with the context in which it circulated and was read, acting as a speech of truth and being able 
to modify, historically, the references about the past. The chronicle helps understanding the social 
network, the values instilled in the context, and what was known and thought about the protagonist. 
Such writing sheds light on Moacyr’s place as an intellectual in the history of education in Brazil.
KEYWORDS: Afonso Taunay. Primitivo Moacyr. Memory place.
E-mail: <machado.ribeiro.
raphael@gmail.com>.
3ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
4. Galeano (2007, p. 121).
5. Para refletir sobre a ca-
tegoria de intelectual, utili-
zamos as ideias de Sirinelli 
(2003) e Vieira (2015), as-
sim caracterizado: gosto e 
familiaridade com a cultu-
ra; sentimento de missão 
ou de dever social; produ-
tor de conhecimento e me-
diador social.
ENTRE A MEMÓRIA, A HISTÓRIA E O TEXTO: A CRÔNICA DE TAUNAY COMO LUGAR 
DE MEMÓRIA PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Sob o nome de “Celebração das contradições/1”, o pequeno texto que 
compõe o Livro dos abraços (2007), do jornalista e escritor uruguaio Eduardo 
Galeano, nos diz muito:
Como trágica ladainha a memória boba se repete. A memória, viva, porém, nasce a cada 
dia, porque ela vem do que foi e é contra o que foi.
Aufheben era o verbo que Hegel preferia, entre todos os verbos do idioma alemão. Aufhe-
ben significa, ao mesmo tempo, conservar e anular; e assim presta homenagem à história 
humana, que morrendo nasce e rompendo cria.4
A obra de Galeano se situa no contexto da redemocratização na América 
Latina após anos de ditaduras civis-militares. Neste livro, sua reflexão sobre a cultura 
do esquecimento entre os povos latino-americanos incide sobre a necessidade de 
tomada de consciência de si, conhecimento da própria cultura e valorização dela 
por meio da História. No fragmento acima, as contradições celebradas residem 
sobre o conceito de memória viva que ele define a partir do verbo alemão Aufheben 
e seu significado dúbio de conservação e anulação. O fim gera a possibilidade 
de um novo início; o velho dá lugar ao novo; a memória viva é fruto da contradição 
do que foi e do que será, do que ainda está por vir. Dito de outra forma, a 
memória, enquanto morte, possibilita a vida, posiciona a História enquanto 
possibilidade de entendimento sobre o antes enquanto hoje. Para tanto, é preciso 
renunciar à memória boba, uma “trágica ladainha”. Aqui, a repetição é tomada 
como ruim, como duas concepções de memória postas em comparação a fim de 
louvar a ruptura e o fim daquilo que estava posto na América Latina.
Pode-se abrir mão da memória? Toda memória é válida para o estudo 
histórico? A memória é tomada por Galeano enquanto parte fundamental da 
História e do futuro da sociedade, desde que seja objeto de produção de um 
tornar-se novo. De que maneira uma memória produzida por um intelectual5 sobre 
outro poderia ser tomada como objeto de estudo histórico?
Tais indagações surgiram após a leitura do texto de Afonso D’Escragnolle 
Taunay intitulado “Preito de Muita Saudade”, escrito em tom memorialista e publicado 
no Jornal do Commercio em outubro de 1942, dias após o falecimento de Primitivo 
Moacyr. A leitura sugeriu proximidades para além do texto, nos informando sobre a 
4 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
6. Cf. Sirinelli, op. cit.
7. Este texto é necessário 
para entender toda a opera-
ção historiográfica que le-
vanta as questões em torno 
das relações entre memória 
e história. Além disso, sua 
leitura é importante para 
compreender as categoriza-
ções relacionadas às memó-
rias individual e coletiva, 
que não cabem neste texto.
8. Sobre esse assunto, Bar-
ros (2009) indica a leitura, 
entre outras, de Halbwachs, 
Maurice. Mémoire Collec-
tive. Paris: PUF, (1950).
9. Le Goff (1990).
10. Bosi (1994).
vida do historiador da educação brasileira, sua trajetória intelectual e as sociabilidades6 
com sujeitos diretamente ligados à produção cultural e histórica brasileira.
Sabemos que a memória e a História são coisas distintas e que geram 
espaços de saber diferenciados, colocando questionamentos sobre o funcionamento 
e existência das relações entre o espaço, o tempo e a memória, como nos informa 
José D’Assunção Barros (2009)7 a partir dos estudos pioneiros de Maurice Halbwachs8 
desenvolvidos em meados do século XX. Porém, o estudo de Michael Pollak (1989), 
ao considerar os aspectos dos usos da memória enquanto fonte histórica, questiona 
a validade do pensamento de Halbwachs de que toda memória individual é coletiva, 
o que inviabilizaria a autonomia do sujeito em relação ao mundo social.
O historiador Jacques Le Goff, em História e memória,9 problematizou a 
relação entre o passado e a memória para a escrita da História, demonstrando 
que a sobrevivência da memória chega até nós por meio das escolhas feitas aolongo do tempo, tanto pela operação executada no desenvolvimento da 
humanidade quanto pela atuação daqueles que se dedicam à ciência histórica. 
Isso quer dizer que a percepção que se tem da existência da memória no tempo 
presente é fruto das narrativas que se construíram e reconstruíram por meio das 
lembranças e resquícios do que foi, pois se prende a um determinado espaço e 
temporalidade do passado não mais existente. De tal maneira, como Galeano, Le 
Goff projeta sobre o presente o lugar de continuidade possível da memória a partir 
dos usos daquilo que sobreviveu.
Esse tipo de afirmação pode produzir discursos que justificariam a necessidade 
da preservação da memória enquanto garantia da continuidade da existência da 
história, o que leva ao esvaziamento da palavra e do sentido da memória, que 
acabaria se ajustando ao caminho descuidado da retrospectiva, reprodutiva e/ou 
seletiva que Galeano chamou de “memória boba”. A existência da memória 
pressupõe que haja um tempo possível para a execução de uma síntese. A história 
vivida, portanto, é o que garante a possibilidade de algo se tornar objeto de 
memória, e isso necessita de um suporte, como arquivos, registros, cartas, diários 
pessoais e relatos de viagens, objetos que possam, de muitas maneiras, ser um 
mecanismo conservador das possibilidades de relembrar aquilo que se foi.
Ao discorrer sobre a memória coletiva, Ecléa Bosi10 afirma que esta pode 
ser desenvolvida por meio de laços de convivência profissionais, escolares e 
familiares, interligando a memória individual de seus membros, acrescentando, 
unificando e corrigindo lembranças do passado, estabelecendo uma forte 
dependência da interação do grupo. De tal maneira, o indivíduo recorda e 
memoriza, retendo objetos que são, para ele, em sua lógica representativa de 
mundo, significativos dentro de um tesouro comum.
5ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
11. Chartier (2017).
12. Ariès (1998).
13. Cf. Borges (1979).
14. Nora (1993, p. 13).
15. Ibid., p. 9.
16. Ibid., p. 12.
17. Ibid., p. 18.
18. Ibid., p. 9.
Existem aproximações possíveis, portanto, entre a História e a memória, 
mesmo que tenham condições de existência diferentes. Roger Chartier11 nos indica 
que a memória necessita da presença do passado no presente para tornar legítimos 
determinados conhecimentos e hierarquias na organização das narrativas do 
passado em relação ao que se pretende ser no presente. A História, entretanto, 
está fundamentada em um saber universal e aceito.
Vencer a morte, mesmo que seja parcialmente, é o que aproxima a memória 
da História. Conforme Philippe Ariès,12 a partir da segunda metade do século XIX, 
a humanidade, desejosa de impedir o apagamento pela passagem do tempo 
manifestou a necessidade de construir lugares de memória, de desnaturalizar o 
esquecimento. A escrita da História e dos trabalhos da memória como exercício 
sistemático para minimizar as perdas é o resultado de uma nova sensibilidade em 
relação à morte em que a esperança reside na possibilidade de ser lembrado, lido, 
revivido nas reminiscências de sua vida e que o defunto levará para o além.
Muito mais do que vivenciar a percepção absoluta e uma memória fantástica 
como a de “Funes, o memorioso”,13 o texto de Taunay revela a necessidade de 
manter viva a vida e a obra de Primitivo Moacyr. Como nos sugere Pierre Nora, 
os arquivos, as celebrações, sejam elas familiares, cívicas ou políticas, registrar 
atas, entre outras ações, são práticas dos sentimentos que estabelecem “os lugares 
de memória”.14 De forma precisa, Nora nos mostra que
A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em 
permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de 
suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, suscetível de lon-
gas latências e de repentinas revitalizações.15
Não existe mais memória, ela só é revivida e ritualizada numa tentativa 
de identificação por parte dos indivíduos. A História executa esta ação conferindo-
lhe lugares onde se projeta sobre os humanos a ideia de que somos feitos de 
lembranças e não de esquecimentos. Nora afirma que “os lugares de memória 
são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência 
comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora”.16 Uma História 
que é tomada enquanto narrativa que unifica o tempo e lhe dá sentido tratando 
o passado como processo que não está morto. Para Nora “a verdadeira 
percepção do passado consistia em considerar que ele não era verdadeiramente 
passado”,17 atuando sobre a memória que se enraizará no concreto, no espaço, 
“no gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga a continuidades temporais, 
às evoluções, e às relações das coisas”.18
6 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
19. Ibid., p. 21-22.
20. Le Goff, op. cit., p. 473.
Assim, os lugares de memória são os espaços onde a ritualização de uma 
memória-história pode ressuscitar a lembrança, tradicional meio de acesso a esta. 
Os lugares de memória estão, portanto, definidos por este critério.
No ato de criar lugares de memória, os indivíduos modernos se unificam e 
se reconhecem enquanto agentes de seu tempo. Tal ação no presente indica uma 
concepção da História como processo que encadeia passado, presente e futuro, 
obriga cada um a se relembrar e a reencontrar o pertencimento, princípio e segredo 
da identidade. Esse pertencimento, em troca, o engaja inteiramente. Qual seria 
então a função do ritual nas sociedades? Quais são os lugares de memória?
Os lugares de memória, para Nora, são lugares em todos os sentidos do 
termo, vão do objeto material e concreto ao mais abstrato, simbólico e funcional, 
simultaneamente e em graus diversos, e esses aspectos devem coexistir sempre.
Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é 
lugar de memória se a imaginação o investe de aura simbólica. Mesmo um lugar puramen-
te funcional, como um manual de aula, um testamento, uma associação de antigos comba-
tentes, só entra na categoria se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio, que 
parece o extremo de uma significação simbólica, é, ao mesmo tempo, um corte material de 
uma unidade temporal e serve, periodicamente, a um lembrete concentrado de lembrar. Os 
três aspectos coexistem sempre […]. É material por seu conteúdo demográfico; funcional 
por hipótese, pois garante ao mesmo tempo a cristalização da lembrança e sua transmis-
são; mas simbólica por definição visto que caracteriza por um acontecimento ou uma expe-
riência vivida por pequeno número uma maioria que deles não participou.19
Para além destes, existem também os “lugares por trás dos lugares”, que 
seriam “os Estados, os meios sociais e políticos, as comunidades de experiências 
históricas ou de gerações, levadas a constituir os seus arquivos em função dos usos 
diferentes que fazem da memória”, segundo Le Goff.20 Neles, encontramos os 
criadores maiores da memória coletiva, além das forças que a impõem de diversas 
maneiras, gerando os lugares de memória mais específicos.
O texto de Afonso Taunay nos instiga a pensar o quanto as lembranças 
individuais se misturam às coletivas na medida em que tratam de situações vividas 
pelo autor, porém, nunca sozinho. Os textos de memórias estabelecem 
aproximações entre a história e a memória quando, na organização dos discursos, 
o memorialista seleciona o que deseja ou não ser conhecido, materializando o 
passado nas folhas de papel do presente na produção de um texto. Esta memória, 
tomada enquanto texto, revela aspectos do cotidiano de quem escreve e outros 
cotidianos, na medida em que promovem relações íntimas entre a memória 
7ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
21. Essa obra fez parte das 
comemorações do IV Cen-
tenário da Cidade de São 
Paulo.
22. Cf. «Afonso d´E. Taunay 
| Academia Brasileira de 
Letras». Academia Brasilei-
ra de Letras. Consultado em 
20 de outubro de 2019.
23. O textoestá disposto em 
duas colunas e meia, no can-
to superior esquerdo da pá-
gina com sete colunas, per-
fazendo 16.450 caracteres.
24. As publicações do Men-
sario do Jornal do Com-
mercio circularam entre 
1938 e 1946, em 33 tomos 
com 99 números ao todo e 
reunia a coletânea dos ar-
tigos de colaboração publi-
cados aos domingos. Entre 
seus muitos colaboradores, 
Afonso Taunay foi o mais 
frequente, com 398 dos 
4.358 artigos publicados.
individual e a presença das experiências vividas pelo sujeito nos seus grupos 
sociais. Taunay e Moacyr participaram de um mesmo cenário intelectual e social, 
implicando na partilha de uma memória coletiva entre o escritor e o objeto da 
memória escrita, propiciando a consolidação das identidades e a integração dos 
sujeitos e dos grupos e a própria continuidade destas.
Considerar um texto memorialista enquanto fonte de pesquisa permite vislumbrar 
outras possibilidades de compreensão das ações dos sujeitos, visto que estas revelam 
a intimidade das relações e formas de pensar e materializar esses acontecimentos, 
registrando situações pessoais e individuais de ver o mundo; operam significativas 
maneiras de perceber e representar situações da vida social, oriundas das trajetórias 
de vida de pessoas cuja memória aparece perpetuada na palavra escrita.
Tratando-se do texto de Taunay, nos possibilita questionar os motivos de se 
produzir uma memória sobre Primitivo Moacyr logo após seu falecimento. Entendemos 
que a produção do texto fúnebre responde à necessidade de preservação e defesa 
de Moacyr e sua obra, bem como do próprio grupo ao qual ele pertencia.
A PUBLICAÇÃO E AS CONDIÇÕES PARA A PRODUÇÃO DE UM LUGAR DE MEMÓRIA
Afonso D’Escragnolle Taunay viveu entre 1876 e 1958 e, além de 
historiador, foi biógrafo, ensaísta, tradutor, romancista, professor e dedicou parte 
de sua vida aos trabalhos no Museu Paulista. Imortal pela Academia Brasileira de 
Letras (ABL) desde 1929, associou-se a outros importantes institutos intelectuais. 
Entre suas principais obras, destacamos A História Geral das Bandeiras Paulistas 
(sete volumes),21 publicada entre 1924 e 1936, e História do Café no Brasil (onze 
volumes), publicada entre 1929 e 1941.22
O texto de Taunay intitulado “Preito de Muita Saudade” pode ser lido em 
dois suportes impressos diferentes. Publicado no Jornal do Commercio em 25 de 
outubro de 1942,23 foi, posteriormente, reproduzido no Mensario do Jornal do 
Commercio, Tomo XX, Vol. I, número 58, em 24 de fevereiro de 1943, nas páginas 
117 a 120.24 Ambos eram impressos pela tipografia do Jornal do Commercio. O 
Mensario foi publicado entre 1938 e 1946, totalizando 99 números. Nestes, 
encontramos 365 artigos assinados por Afonso D’Escragnolle Taunay, o colaborador 
com o maior número de trabalhos inscritos nessa publicação.
Fundado em 1º de outubro de 1827 por Pierre René François Plancher de 
La Noé, o Jornal do Commercio foi um dos mais longevos órgãos de imprensa da 
http://www.academia.org.br/academicos/afonso-de-taunay/biografia
http://www.academia.org.br/academicos/afonso-de-taunay/biografia
http://www.academia.org.br/academicos/afonso-de-taunay/biografia
8 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
25. Entre elas: Associação 
Brasileira de Letras (ABL), 
Associação Brasileira de 
Educação (ABE) e Instituto 
Histórico e Geográfico Bra-
sileiro (IHGB).
América Latina, encerrando sua versão impressa e digital em 29 de abril de 2016. 
O conteúdo editorial e noticioso era conciliador com o staff no poder, mostrando 
apoio, em geral, a cada presidente, governador ou prefeito, expondo o caráter 
conservador com o qual é conhecido. Entretanto, sisudo no cenário sensacionalista 
da imprensa dos anos de 1920 e 1930, fugia ao apelo das fotografias sangrentas 
e das manchetes provocativas, o que cercava suas páginas de uma aura de 
confiabilidade e muito a gosto da elite brasileira. Como informa Marialva Barbosa 
(2007), era formado e formava o pensamento dos homens que davam sustento 
econômico e intelectual à nova república.
O escrito post mortem, em tom memorialista, narra a trajetória de vida de 
Primitivo Moacyr. Ao discorrer sobre a importância de Moacyr para o cenário da 
História e da educação brasileira, o texto parece cumprir uma missão justiceira: 
reparar o erro das instituições intelectuais25 que não auferiram à figura do sujeito, 
objeto de memória, a condição que sua vida e obra mereceriam. O texto se insere 
num contexto em que outros elementos da sociedade buscam na produção da 
memória a eternidade dos feitos de Moacyr. Referimo-nos aos atores sociais e 
políticos que estiveram presentes nas sociabilidades do falecido, como Gustavo 
Capanema, então ministro da Educação e Saúde; e Francisco Venâncio Filho, um 
dos fundadores da Associação Brasileira de Educação (ABE).
Importante notar também as semelhanças de palavras e informações 
presentes no texto de Taunay e na nota publicada na página 05, seção “Registro” 
da edição n. 3, Anno 116, do Jornal do Commercio de 3 de outubro de 1942, 
sem autoria direta, provavelmente produzida pelos redatores da folha. Se tal nota 
não é de Taunay, fora lida e utilizada em sua crônica. Implica dizer que o texto 
analisado faz parte de um universo da imprensa brasileira na qual intelectuais, 
políticos e jornalistas desfrutaram das posições e relações advindas daquelas 
presentes no ato de tornar público uma memória de um sujeito a ser lida e 
eternizada nas páginas daquele impresso.
Baiano de Salvador, nascido em 1867 e falecido no Rio de Janeiro em 
1942, Moacyr teve seus primeiros contatos com a instrução pública como professor 
de primeiras letras em Lençóis, no interior da Bahia. Em seguida, transferindo-se 
para Pernambuco, trabalhou no liceu da capital do estado. Em 1894, diplomou-se 
em Direito pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro (FLDRJ) e, em 1898, 
em Ciências Sociais pela mesma instituição. Trabalhou na Comissão de Redação 
da Câmara dos Deputados Federais, entre 1895 e 1932, ora por indicação da 
Comissão de Polícia da Mesa Diretora da Casa Legislativa, ora por concursos. 
Entre 1904 e 1911, ocupou o cargo de Promotor dos Feitos da Saúde Pública.
9ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
As publicações de seus livros iniciaram com o volume O Ensino Público no 
Congresso Nacional: breve notícia, publicado pela tipografia do Jornal do 
Commercio do Rio de Janeiro, em 1916. Posteriormente, entre os anos de 1936 
e 1942, foram publicadas A Instrução e o Império e A Instrução e as Províncias, 
ambas com três volumes, e A Instrução Pública no Estado de São Paulo: 1ª década 
Republicana 1890-1893, com dois volumes, sob a égide de Fernando de Azevedo 
e da Companhia Editora Nacional, na Coleção Brasiliana. Pela Imprensa Oficial, 
entre os anos de 1940 e 1944, com a chancela do Instituto Nacional de Estudos 
Pedagógicos (INEP), foram publicados os sete volumes de A Instrução e a República.
Apresentou trabalhos em dois congressos nacionais: O ensino comum e as 
primeiras tentativas de sua nacionalização na província de S. Pedro de Rio G. do 
Sul (1835-1889), no III Congresso Sul-Riograndense de História e Geografia, em 
Porto Alegre, e publicado, na íntegra no Jornal do Commercio de 17 novembro de 
1940; e A instrução primária e secundária no município da Corte na Regência e 
Maioridade no III Congresso de História Nacional em 1942, no Rio de Janeiro. 
Além disso, publicou, em 1939, o artigo “A instrução rural e o Império” na Revista 
do Professor(SP), edição 022, organizada por Sud Mennucci. No Jornal do 
Commercio, encontramos quase duas centenas de artigos assinados por Moacyr.
Mesmo com este amplo volume de trabalho historiográfico, ao longo de 
três décadas, não são muitos os trabalhos sobre a vida de Moacyr. Quando muito, 
tratam da trajetória profissional, das obras publicadas, ou a citação destas como 
fontes, com apenas duas exceções. Os trabalhos desenvolvidos por Guaraci 
Fernandes Marques de Melo: sua monografia de finalização da graduação, com 
o título PrimitivoMoacyr: a arte de produzir material historiográfico, de 2012; e a 
dissertação de mestrado, defendida em 2018, Primitivo Moacyr: de professor a 
dândi, uma vida dedicada à escrita da instrução pública, ambas no âmbito da 
Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, se estendem 
na perspectiva da convivência familiar de Primitivo Moacyr. Na Universidade 
Federal de Ouro Preto, alguns trabalhos têm sido desenvolvidos com o objetivo de 
identificar a presença de Moacyr na imprensa, inclusive a imprensa de 
entretenimento, para delinear suas redes de sociabilidade.
Todos esses trabalhos tiveram como fonte inicial o texto de Francisco 
Venâncio Filho, publicado na Revista Cultura Política, em 1943, tratando da 
contribuição de Moacyr para a história da educação; e o verbete Primitivo Moacyr 
de Teresa Levi Cardoso, no Dicionário de Educadores, de 1999.
O texto memorialístico de Taunay sedimenta sua importância por discorrer sobre 
vínculos familiares e outras particularidades do historiador da educação, trazendo à 
10 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
26. Taunay (1942, p. 2).
27. Ibid., p. 2.
28. Cf. Registro… (1942).
tona o homem, o pai, o amigo, para além do pesquisador “a quem apavora a 
possibilidade da surpresa das relações acaso provindas de alguma fonte desdenhada”.26
A MEMÓRIA QUE NOS INSTIGOU E ESTABELECE UM OUTRO PASSADO E PROPAGA 
O FUTURO
É assim que Afonso Taunay inicia seu texto intitulado “Preito de muita saudade”:
Ao redigir estas linhas de saudade e rememoração afetiva, verdadeiro aperto do coração 
assalta-me ao considerar que de Primitivo Moacyr só me resta a recordação de um convívio 
para sempre extinto. Quanto reconforto perdido com a irreparável ausência desse homem 
de tamanha cordealidade e tão completa lealdade!27
“Preito” significa homenagem, manifestação de veneração. Taunay escreve 
sob o tom da saudade, levando em conta que Primitivo Moacyr falecera três 
semanas antes da publicação do necrológio. Em sua escrita, fica assinalada a 
intenção de laurear a vida e obra desse sujeito, um amigo próximo. Marcado pela 
ausência, o texto projeta a imortalidade de Moacyr por meio da produção da 
memória histórica de sua trajetória de vida, ou melhor, por aquilo que Taunay 
conhecia da vida e da obra de Moacyr.
Ao escrever sobre ele, Taunay recorreu a suas lembranças afetivas e outras 
referências que serão apresentadas posteriormente, desde situações vividas junto de 
Moacyr até textos lidos sobre ele. Para recordar o amigo, Taunay volta-se à memória 
individual e coletiva sobre a vida e obra do falecido, projetando sobre seu escrito 
uma espécie de síntese e, com isso, produzindo representações que incidem 
diretamente na leitura sobre Primitivo Moacyr e a história da educação brasileira. Por 
fim, a escrita apresenta um pouco do próprio Taunay, visto que os elementos evocados 
na retórica discursiva a fim de convencer o leitor da validade da leitura do texto 
perpassam condições da existência na primeira pessoa do sujeito que escreve.
Primitivo Moacyr faleceu em 2 de outubro de 1942, aos 75 anos de idade. 
A declaração de óbito foi feita pelo filho, Primitivo Bueno Moacyr. O texto de 
Taunay fora produzido e posto a circular muito próximo ao falecimento e período 
de luto de Moacyr, funcionando como um tributo à imagem e obra daquele que 
partira do mundo físico. O Jornal do Commercio noticiou o falecimento no dia 3 
de outubro.28 No mesmo dia, o então ministro da Educação, Gustavo Capanema, 
11ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
29. Cf. Registro: Dr. Primiti-
vo Moacyr... (1942).
30. Notas… (1942).
31. Taunay, op. cit., p. 2.
32. Telegramas… (1909, 
p. 1). Na certidão de óbito 
consta Amélia Horta.
pronunciou em discurso na Hora do Brasil uma breve homenagem a Moacyr, que 
foi publicada em nota29 no mesmo jornal, no dia 4 de outubro. Nesse mesmo dia 
O Jornal também publicou a notícia sobre o falecimento.30
Sobre os anos anteriores a sua chegada ao Rio de Janeiro, pouco se sabe. 
O texto de Taunay silencia sobre isso também, mas intercede sob esta demanda 
ao ratificar as informações presentes no artigo de Venâncio Filho (1943). Afonso 
Taunay discorre sobre este período da vida de Moacyr:
Correram-lhe difíceis os primeiros anos de vida, muito difíceis até na infância, na adoles-
cência, no limiar da vida virilidade. Nascera de muito pobre berço e vira-se desde peque-
nino, privado da proteção paterna e do afeto materno.
Desde muito cedo compreendeu que só podia contar consigo, com o que de si poderia 
dar. Admiravel sensatez norteava dentro da perfeita intuição do que representa a essencial 
salvaguarda da dignidade humana.
Em vês de se converter num revoltado contra as condições de dureza da existência que o 
Destino lhe impunha, aplicou-se com todo o afinco, em fazer valer os elementos de triunfo 
de que podia dispor: os da inteligência e do amor ao trabalho, em busca da merecida 
melhoria da situação social. Bravio estímulo de independência não lhe permitia pensar que 
tal mudança viesse proporcionar-lhe a subserviência e o favoritismo.
Educado pobremente em uma casa de órfãos, a carreira que lhe antolhava era a do pro-
fessorado primário. Enquanto conquistou o singelo diploma que lhe proporcionaria os recur-
sos para viver sobre si, aspiração de todos os momentos, procurava, e de todos os modos 
ao seu alcance, ilustrar-se. Lia imenso, aprendia e retinha.31
Em primeiro lugar, o texto de Taunay pode ser visto enquanto fonte, pois 
trata, por meio da memória do autor, de um período desconhecido e sem outras 
informações. “Nascera de muito pobre berço e vira-se desde pequenino, privado 
da proteção paterna e do afeto materno”, afirma o autor. A ausência da proteção 
paterna nos induz a pensar que fora órfão de pai, enquanto sua mãe, Amelia da 
Purificação, só veio a falecer em 23 de dezembro de 1909.32 Outro ponto 
importante da passagem acima é a retórica incutida sobre o valor do esforço 
individual enquanto recompensa se tomado ao sabor da melhoria das suas 
condições de vida. No caso, o autor conheceu a última década da vida de 
Moacyr e valorizava o esforço de estudos e conhecimento que este adquiriu a partir 
de uma realidade cuja trajetória poderia ter tomado outras direções.
Na passagem em destaque, Afonso Taunay valoriza o percurso de vida de 
um pobre brasileiro que ascendeu até onde foi possível sob suas condições, já que 
ser professor era o limite naquele cenário. Esta é a primeira marca do texto: a 
12 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
33. Cf. Carvalho e Machado 
(2016, 2018).
34. Taunay, op. cit., p. 2.
formação enquanto professor como a que lhe fora possível, mas não desvalorizada, 
pois foi obtida por meio de esforço e de uma intensa leitura e aprendizado.
Esse traço, ou representação, se estende na forma como Taunay se refere 
a Moacyr ao longo do texto, referindo-se à figura do intelectual com inúmeras 
expressões de classificação, qualificação e adjetivação: “homem de tamanha 
cordealidade e tão completa lealdade”; “nobre figura cuja presença tanto nos 
infundia a segurança da discreção e o interesse da amizade”; “Admiravel sensatez 
norteava dentro da perfeita intuição do que representa a essencial salvaguarda da 
dignidade humana”; “Inteligente e simpático homem de bela presença, comunicativo 
e amável não teve dificuldades de obter a colocação modesta que almejava”; “Era 
muito conformado e paciente”; “de vida singela e de homem organizado”; 
“educado monografista”; “entusiástico da Natureza”; “amigo, cavalheiro, erudito”; 
“trabalhador valoroso”; “brasileiro apaixonado das coisas brasileiras”; “entusiasta 
da cultura, devoto da penumbra e do recolhimento”.
Nobreza de espírito e cordialidade marcam a narrativa de Taunay. Nota-se 
um olhar sobre o outro produzido por meio da análise da figura falecida. Moacyr é 
retratado como um sujeito que sabia seu lugar, sabia se relacionar, tanto no trato como 
nas aspirações finais. As representações colocam Moacyr como sujeito quedeveria 
ser admirado e devotado pelos seus contemporâneos. No campo intelectual, sua figura 
é delineada enquanto monografista, erudito, inteligente, entusiasta da cultura e daquilo 
que é brasileiro. A produção historiográfica de Moacyr corrobora tal posicionamento. 
Afonso Taunay estava, por meio de seu texto, produzindo uma representação de 
Primitivo Moacyr, que indicava ser fruto de seu relacionamento com ele ou que gostaria 
que fosse e, portanto, não correspondendo exatamente à realidade. A passagem 
abaixo, inclusive, reitera esta visão conflitante entre a trajetória de vida delineada por 
outros estudos33 e a representação que se produzia em torno da figura dele.
Nomeado professor de primeiras letras, no interior de sua província natal, a Bahia, assás 
largo tempo viveu, conforme relatava a lecionar tabareusinhos e a dilatar, pela leitura, o 
âmbito dos conhecimentos.
Enquanto isto, e com a maior constância amealhava as pequeninas economias.
– Informei-me com a possível segurança de quanto precisaria para no Rio de Janeiro poder 
esperar por uns meses uma colocação que me permitisse viver do modo mais modesto, 
contou-me certa vês. E quando consegui tal quantia ajuntada à custa de sacrifícios (bem 
avalia o senhor o quanto me pagavam em minha primeira mocidade como mestre-escola 
no interior da Bahia) quando consegui aquele dinheirinho armei-me de coragem e dispuz-
-me ao arriscado passo. Era só e habituado a viver do modo mais singelo tinha algumas 
ensanchas de êxito. Assim parti confiante e jamais poderia ter dado mais acertado passo.34
13ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
35. Ibid.
36. Cf. Ferreira (1895).
37. Cf. Cavalcanti (1898).
38. Annaes da Camara dos 
Deputados (1895).
39. Cf. A revolta… (1893).
40. Cf. O aviso… (1893).
Nos escritos de Taunay, Moacyr é posto como sujeito que atuou em prol da 
elevação de sua condição de intelectual. Ser professor não era seu objetivo final. 
As “pequeninas economias” representam o esforço pela formação continuada no 
Rio de Janeiro. Esta passagem coloca a memória de Taunay a serviço da produção 
da fala na primeira pessoa, Moacyr, como se estivéssemos lendo o próprio sujeito 
falando sobre si. Atua como chancela de que a informação é verídica, pois o 
próprio Moacyr teria dito. Ao mesmo tempo, a projeção do passo dado em direção 
à vivência na capital federal só é possível saber como positiva depois de finda a 
trajetória. Mesmo que seja um ponto importante para o texto, ela tem por atenuante 
a vivência entre os dois, iniciada após 1933, conforme consta ao final do artigo. 
Tal informação, portanto, pode ter sido romantizada por Moacyr a fim de valorizar 
sua trajetória de vida de homem do interior baiano frente à intelectualidade brasileira 
e que tem íntima relação com o universo profissional no qual ele estava inserido.
Taunay anuncia também a forma como Moacyr se organizou em direção 
a um horizonte mais amplo do que aquele delineado pela condição de “nascer 
em muito pobre berço”. Paciente, amável e estudioso foram qualidades incutidas 
sobre a figura do intelectual baiano para construir o perfil do sujeito que 
alcançou objetivos para além do definido a priori para si. As informações 
abaixo chancelam essa exposição:
Já possuía boa bagagem de humanidades quase toda adquirida à própria custa e assim 
poude dedicar-se ao ensino secundário. Ensinou e estudou, completou preparatórios e ma-
triculou-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, onde se bacharelou já mais que ho-
mem feito como era de esperar de quem sempre vivera desajudado da fortuna.35
Para Afonso Taunay, as qualidades pessoais de Moacyr atuam como 
justificativa para o sucesso nas escolhas. Uma relação de tempo do futuro que 
determina o olhar para o passado. Em 1894, formou-se em Ciências Jurídicas36 
e, em 1898, recebeu o grau em Ciências Sociais,37 ambos pela Faculdade 
Livre de Direito do Rio de Janeiro. Os Annaes da Câmara dos Deputados,38 de 
1894, informam sua atuação no grêmio estudantil, também noticiada nos 
jornais O Paiz,39 Gazeta de Notícias,40 bem como sua trajetória acadêmica 
entre 1893 e 1894. A atuação no grêmio estudantil aponta para a figura de 
Moacyr como central nesse meio; e a formação em Ciências Jurídicas e Sociais 
era fundamental para a ocupação em cargos públicos no contexto da virada 
do século  XIX para o XX. Tais espaços sociais conferiam a Moacyr a 
possibilidade de introdução a um círculo de relações amplo e dinâmico que 
tinha na figura do bacharel o posto inicial de formação.
14 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
41. Taunay, op. cit., p. 2.
42. Consta a notícia na se-
ção sobre os trabalhos no 
Congresso Federal que “a 
Mesa da Camara dos Depu-
tados, reunida hontem, 
após a eleição, reorganisou 
os serviços dos debates, ele-
vando a seis o numero de 
redactores e constituindo 
sob a chefia do Sr. Felix Fer-
reira, decano do jornalismo, 
na Camara dos Deputados, 
a seguinte redacção dos de-
bates: Drs. Gervasio Sarai-
va, Primitivo Moacyr, Fonse-
ca Hermes, Agenor de 
Roure e Alvaro Fernandes” 
(CONGRESSO NACIONAL 
[1895, p. 2]).
Sobre a atuação enquanto redator da Câmara dos Deputados, é 
importante frisar que não bastava ser bacharel em Direito para consolidar uma 
posição: era necessário ter sucesso também nas relações que garantisse uma 
avaliação positiva, particularmente frente aos casos de concorrência na ocupação 
dos melhores cargos. É preciso lembrar que, à época, o acesso aos cargos 
públicos nem sempre se fazia mediante concurso.
Taunay, em dois distintos momentos, discorre sobre as relações políticas 
de Moacyr. Uma delas, com o deputado Arthur Rios, o teria inserido na comissão 
de redação da Câmara dos Deputados federais e a outra adviria da qualidade 
de seu trabalho.
Cada vês mais relacionado e simpatizado, passou a conta com excelentes amizades nas 
rodas do Ministério da Política, de todos estimado pela correção da vida e as demonstra-
ções continuas da altivez do carater.
Mostrava-se sempre sobremodo grato a um amigo, Dr. Artur Cesar Rios: baiano como ele, 
e personalidade que então desfrutava alta situação política. Deveu-lhe, segundo me pare-
ce, a nomeação para o quadro de secretário da Câmara dos Deputados. Trabalhador 
metódico e incansável tratou desde os primeiros dias de se apropriar do mecanismo dos 
negócios parlamentares. Adquiriu notável cabedal de informes que a miúdo o habilitava a 
socorrer numerosos congressistas ansiosos pelo conhecimento dos antecedentes das ques-
tões debatidas. Relator dos debates parlamentares destacou-se pela exação dos apanha-
dos, o critério da forma que lhes dava, a imparcialidade, a fidedignidade dos relatos.41
Novamente, notamos o uso das qualidades pessoais que Taunay via em 
Moacyr para justificar o acesso e a manutenção no posto. Muito mais do que 
as qualidades do indivíduo, era sua maneira de se comportar socialmente que 
garantiria tal sucesso profissional. Qualidades como imparcialidade, criterioso 
e fidedigno aos relatos parecem ser características representativas tanto do 
redator dos debates parlamentares quanto do estudioso da história da 
educação, entrelaçadas sob a maneira como Afonso Taunay via o amigo, de 
seu presente para o passado.
Moacyr ingressou na Câmara de Deputados do Congresso Nacional como 
relator dos debates parlamentares em 16 de maio de 1895,42 sem concurso ou 
prova, e sim por indicação. A formação em Direito o preparou para a função, 
enquanto os contatos anteriores à vida universitária, bem como os novos, 
proporcionaram as condições para que adentrasse ao posto de trabalho no qual 
ficaria até 1932, e o exercício desse ofício o teria estimulado à obtenção do novo 
grau em Ciências Sociais, em 1898.
15ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
Não é possível precisar quem indicou Primitivo Moacyr para a função de 
redator, porém, é plausível pensar que seja Arthur Rios, dada a proximidade entre 
eles, confirmada por Afonso Taunay. A Comissão de Redação dos Debates era 
escolhida pela Comissãode Polícia da Câmara de Deputados, formada pela 
Mesa da Câmara (presidente e os secretários). Em 1895, era presidente Francisco 
de Assis Rosa e Silva, o vice-presidente era Arthur Rios, como observado em O 
Paiz43 quando foi aberta a sessão, às 12:30, e apresentado os nomes para a 
comissão de redação dos debates.
Mais do que ocupar o cargo, era importante criar laços afetivos e 
profissionais que pudessem criar as condições para a permanência. Quanto a 
isso, a suspeita é de que tenham sido suas relações com proeminentes políticos, 
como Arthur Rios, já citado, J. J. Seabra e Carlos Peixoto Filho que o ajudou. Em 
nota publicada em 27 de julho de 1899 pelo jornal Cidade do Rio, Moacyr 
esteve presente em um jantar oferecido a Luiz Vianna, então presidente do estado 
da Bahia, no qual figuravam parte desse grupo, formado por pessoas oriundas 
desse e de outros estados do Nordeste, provando sua inserção definitiva nos 
locais de poder da capital federal.44
Em outro jantar, novamente oferecido a Luiz Vianna, no dia 28 de julho 
de 1899, realizado no Theatro São Pedro de Alcantara, próximo à Praça 
Tiradentes, estavam presentes Moacyr e Arthur Rios. Oferecido pelas “classes 
conservadoras da capital federal”, o jantar teria tido caráter de festa, como dito 
pelo jornal A Imprensa: “A festa hontem teve o caracter notavel de uma affirmação 
gloriosa da pujança do sentimento nacional ao lado da reorganização ordeira 
da Republica”. Entre os muitos convidados, nos camarotes, “entre outras as 
seguintes famílias: Hasselman, Aguiar, Arthur Rios, Alves Barbosa, Primitivo 
Moacyr, Muniz do Souza […]”.45
A relação com Carlos Peixoto Filho teria definido a continuidade no cenário 
das indicações à Câmara.
Não tardou portanto que por parte dos mais prestigiosos parlamentares merecesse as pro-
vas de um apreço a crescer. Passou a ser figura indispensável em muitas das rodas de 
destaque na primeira casa do Congresso. Foi então que conviveu intimamente com um dos 
vultos mais brilhantes dos parlamentares republicanos. Carlos Peixoto. Pela sua memória 
conservava verdadeiro culto e uma das demonstrações, da moderação de suas aspirações 
foi a de jámais ter querido valer-se do amigo poderoso daí usufruir proventos. Era visceral-
mente infenso à retribuição dos serviços da amizade.46
43. Cf. Camara dos Deputa-
dos (1895).
44. Cf. Doutor… (1899).
45. O banquete… (1899, 
p. 1).
46. Taunay, op. cit., p. 2.
16 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
Se Moacyr não demandou proventos desta amizade, provavelmente 
auferiu posição de destaque no grupo do qual Carlos Peixoto Filho participava. 
No ano de 1906, em 29 de dezembro, ocorreu o concurso para provimento das 
funções de taquígrafos e redatores do Congresso Nacional, a fim de atenuar os 
calorosos questionamentos da imprensa sobre a antiga forma de contratação dos 
funcionários públicos. Presidido pelo primeiro secretário da Câmara, James Darcy, 
e por Carlos Peixoto Filho, os examinadores foram os deputados Medeiros e 
Albuquerque e Paula Ramos.47 Segundo informação do jornal A Federação: 
Orgam do Partido Republicano,48 Medeiros e Albuquerque era o diretor-fiscal dos 
serviços dos debates da Câmara.
Na edição de 31 de dezembro de 1906, página 3, do jornal O Seculo 
(RJ)49 foi divulgada uma carta reportando a solução arranjada no concurso na 
Câmara: os candidatos, entre os quais Primitivo Moacyr, teriam usado de meios 
ilícitos.50 Sua índole fora colocada em cheque e, mais tarde, foi constantemente 
atacado pela frequência com que era visto ao lado de Carlos Peixoto Filho e James 
Darcy, principalmente durante a campanha para as eleições presidenciais na qual 
concorriam Rui Barbosa e Hermes da Fonseca. Carlos Peixoto liderou um movimento 
de apoio à candidatura do primeiro. Considerando que os nomes mencionados 
na prova, bem como os sujeitos que estavam envolvidos em sua aplicação e 
correção, correspondiam aos mesmos indivíduos presentes no concurso anterior, 
em 1903, e em outros cenários cariocas de marcada circulação de Primitivo 
Moacyr, as dúvidas que pairavam eram bastante plausíveis.
Seu casamento é outro símbolo da ascensão social e proximidade com as 
elites. Afonso Taunay referencia o fato como um casamento “muito felizmente, com 
uma senhora da familia do Marquez de São Vicente. E ao cabo de pequeno 
decurso de ano vira morrer-lhe a jovem esposa, deixando-lhe dois filhos”.51 Isso 
pode ser confirmado pela passagem do próprio Jornal do Commercio, de 3 de 
outubro de 1942:
O Dr. Primitivo Moacyr que nasceu na cidade de Salvador em 1868, era casado com uma 
sobrinha do Marquês de São Vicente, falecido há longos anos. Tem o Dr. Primitivo Moacyr 
dois filhos, dos quais um lhe sobrevive, o Dr. Primitivo Bueno Moacyr, engenheiro civil, ca-
sado com a Exma. D. Carmen Hamann Moacyr. Deixa ainda dois netos.52
Sua esposa era Maria Pimenta Bueno, filha do Comendador Pimenta 
Bueno, de influente família de Campos dos Goytacazes, com quem contraiu 
matrimônio em 26 de fevereiro de 1898, na mesma cidade. No dia 19 de 
47. Cf. O concurso… (1906, 
p. 1).
48. Cf. Debates na Camara... 
(1903, p. 1).
49. Cf. O concurso… (1906, 
p. 3).
50. Cf. O concurso…, op. cit.
51. Taunay, op. cit., p. 2.
52. Registro (1942, p. 5).
17ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
agosto de 1900, segundo o periódico A imprensa,53 faleceu vítima de infecção 
tifóide, com 26 anos de idade, filha da “extremosa Exma. Sra. D. Marianna 
Seabra Pimenta Bueno”, segundo o Monitor Campista, novamente na primeira 
página.54 Caracterizado como “estimado e distincto advogado e redactor de 
debates da camara dos deputados”, Moacyr teria acompanhado todo o cortejo 
fúnebre até o sepultamento às 16 horas daquele dia, “sahindo o feretro da casa 
n.58 da rua Conde de Baependy”.55 Os jornais noticiaram o convite da missa 
de sétimo dia na Igreja da Glória e a presença de pessoas como Nilo Peçanha 
(ex-professor da FLDRJ e, naquele momento, ocupando o cargo de deputado), o 
senador Arthur Rios, demais autoridades e pessoas do povo naquele momento 
espiritual reforçam os laços de solidariedade.
Anteriormente, no ato de sepultamento de Augusto Rios, filho de Arthur Rios, 
estavam presentes Primitivo Moacyr, Eugenio Pinto e Fonseca Hermes, redatores da 
Câmara dos Deputados, presidido pelo pai em luto e outras inúmeras pessoas, em 
27 de novembro de 1896, conforme informou A Notícia.56
Ainda sobre a família de Moacyr, Afonso Taunay informa outra perda que 
atuaria fortemente sobre a vida do intelectual:
Algum tempo mais tarde outra grande provação o esperava-o (sic), a perda de um filho 
já moço.
Duramente atingido confinou-se por largo tempo no isolamento entregue ao convivio dos 
bons livros amigos e da musica dos grandes mestres. A sua casa de Petropolis soubera 
adornar com uma biblioteca e uma discoteca selecionadas do maior bom gosto.
Voltou depois ao convívio de amizades seguras e mitigadoras do isolamento cujas conse-
quências receiava pela sua saúde mental.57
O filho em questão era Carlos Bueno Moacyr, falecido em novembro de 
1925. O isolamento social teria sido contemporizado pelo “convívio dos bons 
livros amigos e da música dos grandes mestres”. Mais uma vez, a escrita de Taunay 
é marcada pela representação de Moacyr para além dos sentimentos paternais, 
como um bom leitor, apreciador da música clássica, portanto, um sujeito culto.
Com Primitivo Bueno Moacyr, o filho mais novo, há indícios de um 
relacionamento estremecido. Taunay indica que os dois não tiveram boa convivência 
ao longo dos anos.
53. Cf. Fallecimento (1900a).
54. Fallecimento (1900b, 
p. 1).
55. Falecimento (1900c, 
p. 2).
56. A Notícia (1896).
57. Taunay, op. cit., p. 2.
18 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
58. Ibid. p. 2.
59. Melo (2018).
60. Ibid., p. 45.
61. Encontramos notícias de 
viagens deles em 1909, via 
Hamburgo, na Alemanha, 
como noticiado pelo Jornal 
Correio da Manhã no dia 
16 de janeiro de 1909, no 
Paquete all Captain Roca da 
Community Hannecker, 
que,entre os passageiros, 
estavam Carlos Moacyr Pri-
mitivo e dr. Primitivo Moa-
cyr. ALFANDEGA… (1909, 
p.  7). Estudavam naquela 
escola, os filhos de Primiti-
vo Moacyr e Agenor de 
Roure Filho, de Agenor de 
Roure. Em outubro de 1910, 
ocorreu a visita de Fonseca 
Hermes aos meninos, que 
estudavam no Colégio Cha-
teau de Lancy em Genebra, 
acompanhado por Francis-
co Valadares e a Madame 
Fonseca Hermes. (Fon-
-Fon!…, 1910, p. 28).
As vicissitudes da vida haviam-no mantido no afastado do único filho que lhe restava, filho 
de que muito se desvanecia e lhe trouxera uma filha a quem muito e muito queria. Pondera 
por ser interessante gozar de novo de tão grata companhia.
– Não é minha nora e sim minha sogra costumava repetir a gracejar. Minha sogra sim, pelo 
muito que se interessa pela minha vida e pelo meu bem estar é um cérebro de minha saude!
Com a mesma gratidão sempre se referia a uma sua empregada de dezenas de anos, Mar-
garida, governante de sua casa desde que se casara. Ajudara-o imenso a criar-lhes os filhos.58
“As vicissitudes da vida” às quais se refere Taunay foram interpretadas como 
um ressentimento entre pai e filho, por Guaraci de Melo,59 e que, talvez, tenha 
ficado para trás no fim da vida, quando puderam novamente conviver próximos. 
Segundo a autora, Gustavo Hamann Moacyr, neto de Primitivo, durante uma 
entrevista, afirmou que havia mágoas antigas entre os “Primitivos” da família:
[…] seu pai guardava certo ressentimento pelo velho Primitivo porque este parecia ter 
predileção pelo filho Carlos, o que o levou, inclusive, a, em seu leito de morte, chamar 
Primitivo Bueno para pedir desculpas. Teria sido o ressentimento o motivo pelo qual o pai, 
após matricular seus dois meninos no Colégio Chateau de Lancy, em Genebra, ter resol-
vido trazer Carlos para o Brasil, transferindo Primitivo Bueno, então com 13 anos, para 
estudar na Alemanha, sozinho.60
Além desta questão entre os “Primitivos”, outro ponto importante suscitado 
pelo texto de Taunay sobre a trajetória de Moacyr nos instigou: as presenças 
femininas, ou seja, a nora e a empregada. Estes fatos da vida íntima são importantes 
para entendermos como o sujeito vivenciava as relações interpessoais em seu tempo 
e pudera organizar as demandas domésticas para atender às exigências 
profissionais e intelectuais.
Viúvo com dois filhos pequenos, enviou-os para estudarem na Suíça, no 
Colégio Chateau de Lancy, em Genebra, por um período entre as décadas de 
1900 e 1910.61 Porém, a presença da governanta Margarida na casa de Moacyr, 
desde o momento de seu casamento, explicitada por Taunay, era desconhecida, e 
isso tem impacto na leitura das fontes que o apontam em viagens nacionais e 
internacionais, festas, jantares e eventos intelectuais, muitos noturnos. Ademais, a 
figura desta governanta aponta para o silenciamento de certos tipos sociais e 
profissionais pela imprensa nacional. O texto de Taunay carrega uma riqueza 
importante ao expor estes apontamentos da vida privada.
Outro detalhe da vida particular e de suas qualidades enquanto intelectual é 
posto na passagem a seguir, que atua sobre dois campos distintos da vida de Moacyr: 
19ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
62. Taunay, op. cit., p. 2.
63. José (1916, p. 2).
o apreço pela educação e pela natureza. Afonso Taunay e Moacyr realizaram duas 
viagens juntos pelo interior de São Paulo. Na primeira viagem, para Itu, Moacyr
[…] teve ótima impressão da sua vasta e bela matriz. Com grande interesse visitou o 
Museu da Convenção, mas o prazer de suas impressões culminou com a demorada visita 
que então fizemos ao grande estabelecimento de instrução feminina que a Congregação 
de São José ali mantém, o colégio afamadissimo em todo o Estado de S. Paulo de Nossa 
Senhora do Patrocinio.
[…]
A Primitivo Moacyr causou a mais funda impressão o exame atento da documentação do 
ensino que ali se ministra. Repetidas vezes exprimiu-me a elevada surpresa que causara 
a intimidade da vida colegial do tão prestigioso Instituto Ituano.62
Entre os vários locais que visitaram, o Instituto Ituano ganhou relevo na 
escrita. Sendo Primitivo Moacyr conhecido pelos seus artigos e livros sobre os temas 
da instrução pública, entendemos que a retórica aqui é posta a valorizar tal visita 
em detrimento de outras possíveis a serem evidenciadas. Os demais pontos de 
turismo evocados remetem ao valor da religiosidade para os dois, ou para o leitor 
do texto, bem como o conhecimento na figura da própria arquitetura da igreja 
ituana e do passeio pelo museu indicado, sendo Taunay um dos principais nomes 
da história do Museu Paulista. A intelectualidade e os valores pessoais são marcas 
da personalidade de Moacyr referenciadas por Taunay bem como a presença sutil 
do autor na produção da memória.
Ao retornarem a São Paulo, Taunay indica ter percebido como Moacyr 
“embeveceu a série das lindas paizagens desenroladas ao longo do Tietê”, 
revelando para ele outro lado do intelectual “de entusiástico da Natureza”. Isto 
pode ser também encontrado em uma ocorrência na imprensa nacional no dia 14 
de julho de 1916, na coluna “Pall-Mall-Rio” do jornal O Paiz: o autor José Antonio 
José, pseudônimo de Paulo Barreto, escrevendo em tom metafórico, diz ter recebido 
de Moacyr uma longa epístola acerca dos jardins do Rio de Janeiro.63 Esses 
contatos com diversos sujeitos e suas trocas intelectuais e sociais atuaram na 
produção de representações de uma figura erudita e intelectual de Moacyr.
Taunay afirma que, ao constatar tal admiração à beleza da paisagem da 
estrada de trem paulista, resolveu “levá-lo a descer a Serra do Mar, pela linha recente 
e grandiosa da Sorocabana, no ramal de Mayrink a Santos”, sendo essa a segunda 
viagem que fizeram. A única informação que consta deste passeio nos instigou sobre 
um fato relevante acerca da figura de Moacyr, que a tempos vive silenciada.
20 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
Para tanto fomos a Sorocaba onde lhe proporcionei o ensejo de conhecer uma instalação 
única talvez em seu gênero, a chamada igreja de João de Camargo, velho preto, hierofan-
te, analfabeto que, segundo me consta, acaba de falecer, octagenário avançado.
Era belo tipo de negro super equatorial, de traços finos, vestido pobremente. Sentava-se 
numa cadeira alta, sobre estrado, com os pés nus apoiados a uma grelha abaixo da qual 
havia um braseiro.
Pedimos licença para visitar a sua casa e ele nô-la concedeu com a maior polidez. Vasta 
construção que obedece a mais estrambólica das plantas, consta de uma série de naves 
maiores e menores principais e secundárias, de cotovelos e esgalhos.64
Ao descrever João de Camargo como negro com todas as qualidades de sua 
presença, notamos que isso não fora feito a Primitivo Moacyr. Em nenhum momento 
do texto Taunay se preocupou em descrever seu tom de pele ou detalhes de sua 
aparência física para além de uma menção à “boa presença”. O estudioso Nei Lopes, 
em sua Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana,65 incluiu Moacyr entre os negros 
notáveis, a partir do livro Estudos sobre o negro de A. da Silva Mello,66 dizendo ser 
Primitivo um dos ilustres “homens de cor” do Brasil. Apesar disso, na certidão de óbito, 
declarada por seu filho Primitivo Bueno Moacyr, consta cor branca. A foto dedicada 
ao amigo Afrânio Peixoto também indicia traços afrodescendentes (Figura 1).
64. Taunay, op. cit., p. 2.
65. Lopes (2004).
66. Ibid.
Figura 1 – Fotografia de Primitivo Moa-
cyr oferecida ao amigo Afrânio Peixo-
to. Fonte: Casa de Cultura e Memorial 
Afrânio Peixoto.
21ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
Primitivo Moacyr não era branco. O silenciamento de Afonso Taunay e de 
outros autores para tal situação nos informa sobre as questões de coloração ao qual 
cada sujeito vivenciava naquele contexto da sociedade brasileira. Ao não tratar do 
tema, fica em aberto a questão do olhar sobre o outro, no entanto, ao definir seu pai 
como branco, o filho assume uma visão social racista sobre o pai e sobre si. Sua 
negritudefora suprimida pelo lugar social ocupado, sintoma de uma sociedade que 
não resolveu seu passado escravocrata e muito menos suas atitudes excludentes dos 
indivíduos de origem afro-brasileira. Esta marca seria interessante sobre seu lugar 
social de origem – no interior da Bahia e muito pobre – e sua profissão inicial 
enquanto professor dos anos iniciais, que foram amplamente evidenciados por Taunay 
após a supressão das barreiras impostas ao sucesso. De tal maneira, fica posto aquilo 
que é revivido na memória do autor e da sociedade sobre Primitivo Moacyr.
Esta marca na origem e na vida profissional parece ter tido cara participação 
na escolha do tema a ser estudado em sua trajetória intelectual. Taunay, sem saber 
ao certo quando começara a empreitada dos estudos sobre a instrução pública 
brasileira, afirma que
[…] com afinco desde 1900 talvez dedicou-se aos fastos67 do ensino público nacional. 
Quando, a mesa da Câmara resolveu publicar documentos sobre as questões mais salien-
tes debatidas no recinto de sua casa valeu-se de quem se achava perfeitamente aparelhado 
a tal cometimento.
Foi pois incumbido de colaborar neste tentame à que deu cabal execução.
Os Documentos Parlamentares constituem séries realizadas com o mais elevado critério de 
seleção. Certo dia exprimí ao seu coordenador quanto me valera do seu trabalho para 
acompanhar os debates sobre a valorização do café e a Caixa de Conversão.
– Se lhe poupei trabalho, respondeu-me com o bondoso sorriso habitual, dou-me os para-
béns, é quanto lhe posso exprimir. Mas naquella época não sabia que o senhor, algum dia, 
iria ocupar-se com a história do café senão teria melhorado o trabalho.68
A percepção de Afonso Taunay de que, desde o início do século, Moacyr 
se preocupava com as questões do ensino público nacional está incutida naquilo 
que ele sabe de Moacyr no presente. No Congresso Nacional, trabalhou nas 
décadas de 1910 e 1929 na produção da coleção dos Documentos 
Parlamentares e do Código Civil. Confirmando essa passagem, temos o texto de 
Andrade Bezerra intitulado “Pelos Estudos das Humanidades”, de 2 de outubro 
de 1919, na segunda página do Correio da Manhã, quando disserta sobre as 
fontes para estudos sobre o assunto:
67. Anais, registros de fatos 
públicos.
68. Taunay, op. cit., p. 2.
22 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
Na utilissima systematisação dos trabalhos parlamentares, que a erudita paciência de Primi-
tivo Moacyr reúne nos Documentos Parlamentares, a organização do ensino publico (mais 
exacto seria dizer a desorganização do ensino) comporta já quatro alentados volumes em 
typo seis, composição corrida, na qual vastamente se derrama a boa vontade inoperante 
de nossos reformadores.69
Os volumes sobre a instrução pública foram impressos pela tipografia do 
Jornal do Commercio em três períodos: em 1918, primeiro, segundo e terceiro 
volumes; em 1919, do quarto ao décimo volume; e, em 1929, os três restantes. 
Entretanto, diferente disso é posto no texto por Taunay:
Incumbido de acompanhar a impressão, na Europa, de Documentos Parlamentares, perma-
neceu Moacyr em Bruxellas, longamente, economizando muito dos seus vencimentos, pois 
ao findar o trabalho queria satisfazer grande aspiração da vida toda. Empreendeu larga 
viagem visitando os países do norte, centro e do ocidente europeu. Completou a larga jor-
nada percorrendo os Estados Unidos. Quanta coisa interessante relatava dessas excursões!70
A passagem descrita por Taunay carece de comprovação. O que se sabe 
é que a impressão dos Documentos Parlamentares foi feita na tipografia do Jornal 
do Commercio.71 Outros temas foram reunidos nesta coletânea, como os debates 
sobre a valorização do café e a Caixa de Conversão, citados por Taunay e 
indicando Moacyr como coordenador da publicação.
Os Documentos Parlamentares constituem séries realizadas com o mais elevado critério de 
seleção. Certo dia exprimí ao seu coordenador quanto me valera seu trabalho para acom-
panhar os debates sobre a valorização do café e a Caixa de Conversão.72
Para Taunay, a instrução pública era o objeto de estudos da vida de 
Moacyr. Sua erudição, formação intelectual e atuação profissional criaram as 
condições para que tal tema se tornasse objeto de empreitada.
Desejara, desde muito, escrever uma história da instrução pública no Brasil, completo 
quanto possível.
Dedicou-se de corpo e alma a esse cometimento que durante longos anos o empolgaria. 
Levou-o a cabo com extraordinário amor à exatidão, decorrente da sinceridade do seu fei-
tio. Compulsou verdadeiras montanhas documentos, impressos e manuscritos.
69. Bezerra (1919, p. 2).
70. Taunay, op. cit., p. 2.
71. Cf. BRASIL. Congresso. 
Câmara dos Deputados. 
Instrução Pública. Docu-
mentos Parlamentares, v. 2. 
Rio de Janeiro: Jornal do 
Comércio, 1918.
72. Taunay, op. cit., p. 2.
23ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
Era desses pesquisadores a quem apavora a possibilidade da surpresa das revelações 
acaso provindas de alguma fonte desdenhada.
Imenso leu, muito meditou e muito escolheu antes de publicar.
A’s nossas letras históricas, relevantíssimos serviços prestou com a divulgação de estudos tão 
valiosos quanto honestos.
Verdadeiras monografias magistrais deixou-nos na Brasiliana a preciosa série da Compa-
nhia Editora Nacional: A Instrução pública no Império, a Instrução e as Províncias, seis to-
mos alentados, repertório opulento de informes minudentes, observações e comentários re-
fertos73 de critério e lucidez.74
Tomando-o como pesquisador, Taunay descreve seu processo de estudo, 
enquanto erudito, conhecedor das fontes e documentos diversos, produzindo uma 
história da instrução no Brasil. Ele aponta ainda que seus trabalhos ultrapassavam a 
mera compilação de fatos e dados sobre os temas elencados com a presença de 
informes minudentes, observações e comentários criteriosos e lúcidos. Tal informação 
orienta o leitor para a existência de uma forma no trabalho historiográfico de Primitivo 
Moacyr, não referendado até então na história da educação brasileira. Toma os 
trabalhos do intelectual apresentando as obras publicadas por importantes editoras 
nacionais, dando lugar de relevo a elas. Taunay prossegue em outra passagem 
sacramentando a existência de um cuidado metodológico na produção moacyrniana.
Pude perceber-lhe a intimidade dos métodos do trabalho e composição ao vê-lo, durante 
mezes, pesquisar no Arquivo do Estado de S. Paulo. Verdadeira admiração deixou seu 
labor ao pessoal da repartição. Verdadeiro respeito impuzeram os processos da elabora-
ção de sua obra.
Muito grande saudade deixaram aos funcionários do Departamento a lhaneza e bom hu-
mor, o feitio grato do tão educado monografista.
Não me surpreendera tal afan. Desde muito me habituara, de tempos a tempos, a vê-lo na 
Biblioteca Nacional, infatigável, a percorrer relatórios, velhos jornais, anais parlamentares, 
a tomar notas e mais notas, no vultoso material que o serviçalismo e a cordialidade de Ro-
dolfo Garcia proporciona aos seus consulentes.
Novos volumes originam-se de tão indefeso labor como os da Instrução e a República. […]
Ainda ultimamente, esquecendo de que era setuagenário, entregou-se com a vivacidade 
de um rapaz, a intensa busca no Arquivo de Minas Gerais. Prontos para a impressão 
deixou alguns volumes de Análise de diversas grandes reformas, de história do Ensino 
Profissional, e Universitário. E em colaboração adiantada livros sobre o nosso ensino, 
militar, naval e artístico.75
73. Repleto, cheio, pleno.
74. Taunay, op. cit., p. 2.
75. Ibid., p. 2.
24 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
Devemos lembrar o leitor de que Afonso Taunay dirigiu o Museu Paulista por 
muitos anos76 e que isso atua sobre a forma como ele via o trabalho de Moacyr. 
Ao relatar a presença deste nos arquivos e bibliotecas – em São Paulo, Minas 
Gerais e Rio de Janeiro –, Taunay referencia o trabalho de pesquisa e escrita de 
Moacyr como objeto de produções históricas aos moldes das maneiras produzidaspelos sujeitos que a produziam naquele contexto e/ou que detinham o domínio 
sobre a compreensão de tal ofício. A erudição era algo importante nesse contexto 
e fazia parte da própria maneira de entender a História e sua escrita.77
Além da presença do próprio Taunay como observador do trabalho de 
Moacyr, contamos também com Rodolfo Garcia, diretor da Biblioteca Nacional, 
e os funcionários dos arquivos, indicando que os trabalhos de Primitivo Moacyr 
foram para além daquilo que existia nos Documentos Parlamentares. O mesmo 
pode ser verificado na escrita dos 199 artigos encontrados no Jornal do Commercio, 
visto que serviram de base para a produção de seus livros entre 1936 e 1944.
Do Jornal do Commercio, segundo Taunay, Primitivo Moacyr guardava “os 
mais veementes atestados. Seu colaborador de tantos anos era-lhe o amigo 
gratissimo, como ninguém mais poderia sê-lo”. Foi nesta folha que seus primeiros 
escritos, que chamou de crônicas, foram publicadas em formato de série,78 
somando 15 publicações em dias distintos. Um ano depois, estas crônicas foram 
reunidas no formato do livro O Ensino Público no Congresso Nacional: Breve 
Notícia, impresso pela tipografia do mesmo jornal. A obra de Moacyr fez parte 
das páginas do jornal carioca por quase três décadas, apesar disso, ele não 
esperava que o público alcançado por seus trabalhos fosse vasto, pelo menos no 
caso dos livros. Taunay indica que ele
Não apreciava que lhe encarecesse o trabalho. Isto lhe arrepiava a modéstia. Seus livros, 
dizia, só podiam interessar a muito especialisado publico.
– Mas este é que esta tomando ares de população, observei-lhe certa vez. O sr. Octales 
Marcondes contou-me que vai reimprimir os seus primeiros volumes.
– Que quer o sr.? Há gosto para tudo! Em todo caso isto sempre serve de estímulo a 
quem trabalha.79
O discurso produzido em torno do público leitor pode ser entendido de duas 
maneiras: a primeira considerando que Moacyr escrevia para um auditório seleto 
que poderia e teria condições de ler sua obra volumosa; a segunda reside sobre 
a própria dinâmica da produção livreira no Brasil neste recorte da Era Vargas.
76. Cf. Brönstrup (2015), 
que nos indica a leitura de 
Brefe (2005).
77. Cf. Albuquerque Júnior 
(2005).
78. A primeira série tratou 
da “intervenção nos Esta-
dos” do Poder Executivo 
federal e contou com qua-
tro crônicas publicadas em 
janeiro de 1915 nas páginas 
do mesmo jornal.
79. Taunay, op. cit., p. 2.
25ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
Octalles Marcondes era editor e sócio de Monteiro Lobato na Cia. Editora 
Nacional que, em 1929, passou para o controle do irmão Themistocles Marcondes 
Ferreira. Até então, a parte administrativa da empresa era realizada por Octalles 
sendo Lobato apenas autor e tradutor.80 Em 1932, Octalles adquiriu a Civilização 
Brasileira e, dois anos mais tarde, iniciou a publicação da Coleção Brasiliana pela 
Nacional, idealizada como a quinta série de uma coleção ampla intitulada Biblioteca 
Pedagógica Brasileira, dirigida por Fernando de Azevedo desde a criação do 
Ministério da Educação. Tais relações editoriais e publicistas inserem a obra de 
Moacyr no rol dos volumes importantes da primeira metade do século XX. Apesar 
da informação de Taunay, não ocorreu uma reimpressão dos trabalhos de Moacyr.
Segundo Francisco Venâncio Filho, a publicação pela Imprensa Nacional 
respondia à compreensão de Moacyr de que seus livros não representavam 
interesse econômico.
Escrupuloso, Primitivo Moacyr não quis continuar aí [Companhia Editora Nacional] sua 
obra, por certo de reduzido interesse econômico. Encontra na clarividência de educador 
do professor Lourenço Filho o oferecimento oficial do Instituto Nacional de Estudos Pedagó-
gicos, que logo inicia a publicação do período republicano.81
Primitivo Moacyr não fizera parte de nenhuma associação ou instituto 
intelectual, como a ABL, o IHGB e a ABE, porém, Taunay informa sobre sua 
presença nas reuniões da chamada Academia Garciana82 na Biblioteca Nacional.
“Era a sua academia” como costumava repetir. Como apreciava o convívio daqueles 
habitués das pesquisas que findo o trabalho pela Biblioteca se reúnem a conversar sobre 
assuntos brasileiros!
Com a maior mágua recordamos agora, os seus amigos e colegas dessa Academia da 
espontânea agremiação, filha das afinidades eletivas, a irreparável ausência do amigo, 
do cavalheiro, do erudito…
Além da “sua Academia” mantinha Moacyr assídua freqüentação de várias casas amigas 
onde a sua memoria perdurará envolta pela saudade e o pesar da cessação de tão gra-
tas relações.
Assim entre o encanto do trabalho e o da pratica da amizade ia vencendo os anos, gra-
ças à robusta saúde e a moderação da vida regrada.83
A chamada Academia Garciana foi o nome dado às reuniões promovidas 
por Rodolfo Garcia (1873-1949) em seu gabinete de diretor da Biblioteca 
80. Cf. Hallewell (2005, 
p. 319).
81. Venâncio Filho (1943, 
p. 96).
82. Academia Garciana foi o 
nome dado às reuniões pro-
movidas por Rodolfo Garcia 
(1873-1949) em seu gabine-
te de diretor da Biblioteca 
Nacional. Cf. Brönstrup 
(2015) e Viana (1966).
83. Taunay, op. cit., p. 2.
26 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
Nacional. Garcia, membro do IHGB e da ABL, se reunia às tardes com alguns 
historiadores, sendo os mais frequentes Afrânio Peixoto, amigo de Moacyr desde 
a primeira década de 1900, Levi Carneiro, Elmano Cardim, Alceu Amoroso Lima 
e o próprio Primitivo. Alceu Amoroso Lima afirmava que os leitores de obras e 
documentos históricos que habitavam a Biblioteca iam para aquelas reuniões 
“folhear o Garcia”. Elmano Cardim, membro da ABL, era nesse momento o redator-
chefe do Jornal do Commercio e o organizador do Mensario. Afonso D’Escragnolle 
Taunay, também amigo de Rodolfo Garcia,84 era outro dos habitués.
Possivelmente fora ali, nestas reuniões, que Moacyr e Taunay se tornaram 
próximos. Em seu estudo sobre Rodolfo Garcia e a escrita da História, Gabriela 
Brönstrup85 aponta que Rodolfo e Afonso Taunay trocaram várias cartas debatendo 
questões relacionadas ao ofício de historiador. Ao considerar Primitivo Moacyr 
como parte das letras dedicadas à História, Afonso Taunay o inscreve entre os 
sujeitos que, mesmo não inseridos na lógica de agremiação dos institutos e 
academias formais, estavam produzindo de acordo com os trâmites destes e, 
portanto, deveriam ter sua produção legitimada e valorizada.
Ao final da redação, Taunay se despede de Moacyr e do leitor, trazendo 
a indicação da leitura do texto, também póstumo, do ministro da Educação, 
Gustavo Capanema, sobre seu amigo falecido, no qual chancela retoricamente a 
importância deste para a História e a educação brasileira.
As nobres palavras que, a seu respeito, proferiu, em irradiação nacional, o Sr. Ministro 
Gustavo Capanema foram as mais exatas na apreciação dos méritos do trabalhador valo-
roso, do brasileiro apaixonado das coisas brasileiras, do entusiasta da Cultura, do devoto 
da penumbra e do recolhimento…
Pessoalmente cabe-me exprimir ao encerrar estas muitas singelas páginas de saudade e 
justiça o que com a maior efusão mais de uma vez declarei a Primitivo Moacyr.
– Dele conservaria sempre mágoa muito grande: a de o ter conhecido, tão tarde, somente 
a partir de 1933.86
A referência a Gustavo Capanema está presente na página 07 do Jornal 
do Commercio de 4 de outubro de 1942 (n°04), onde uma nota apresenta o 
pronunciamento feito na Hora do Brasil, em que o ministro disse algumas palavras 
sobre a figura de Primitivo Moacyr que, até então, colaborava com o INEP e tinha 
sete volumes de A Instrução e a República publicados pela Imprensa Nacional. 
Assim é iniciada a fala o então Ministro da Educação:
84. Cf. Viana, op. cit.
85. Brönstrup, op. cit.
86. Taunay, op. cit., p. 2.
27ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
A vida, que agora vemos findar, consumiu-se no trabalho e a sua maior consagração foi 
dada ao admirável empreendimento de escrever a história da educação nacional.
Os livrosdeixados por Primitivo Moacyr são repositórios preciosos de uma documentação 
que só poderia ser reunida e sistematizada por um espírito de sua lucidez e paciência.
[…]
Primitivo Moacyr não poude ter a verntura de ver concluída a publicação de sua obra. 
(ilegível). Esforços não serão poupados (ilegível) Moacyr, se conclua a publicação do último 
volume, que ele deixou escrito, da sua história da educação na Primeira República.
Primitivo Moacyr serviu à cultura nacional na modéstia e na penumbra. E este é mais um 
motivo que torna a sua memória digna de nosso respeito.87
As palavras de justiça que Afonso Taunay proferiu em vida dirigidas a 
Primitivo Moacyr e no texto post mortem se devem ao fato de que sua obra e sua 
trajetória não terem sido elevadas à condição de imortal e de membro do IHGB. 
Certo é que, postumamente, sua obra fora vista como fundamental para a 
construção dos subsídios da história da educação brasileira. Ainda em vida, o 
amigo Afrânio Peixoto em prefácio no primeiro volume de A instrução e o Império 
(1823-1853), vindo a público em 1936, destaca uma virtude em Moacyr, 
referenciada também por Francisco Venâncio no artigo “Primitivo Moacyr e a 
história da educação”,88 este já póstumo. Afirma Peixoto que o autor, 
“modestamente”, pensa que os seus livros contribuirão para “a futura história da 
educação brasileira”, no que retruca o prefaciador dizendo: “Ela já está aqui, neste 
livro, novo, original, prestante, e, às vezes, melancólico, sobre iniciativas, a 
sequência de nossas ideias, a descontinuidade de nossas ações… O Brasil é 
principalmente Brasil, em educação…”.89 Sobre a operação historiográfica, Afrânio 
afirma que “no Brasil não se pesquisa. […] A história nessas condições é repetição, 
é comentado, é fantasia interpretativa”.90 Diferentemente o fez Moacyr que,
[…] sobre educação nacional, investigou, nos arquivos, nas bibliotecas, nos livros, nos re-
latórios de governo e, de tudo, fez um livro objetivo, sem comentários, nem conclusões. 
Portanto, obra rara que vai produzir gerações de historiadores, que não o citarão… Que 
lhe importará? Que lhe importará mesmo o maldigam, depois de copiá-lo?91
Palavras de justiça àquele que, como quer representar Capanema e Taunay, 
com “erudição e sempre na penumbra”, produziu uma monumental obra. 
Representações produzidas que referendaram a figura de Moacyr bem como sua 
própria obra. Algumas atestadas pelas fontes, outras nem tanto.
87. Registro…, op. cit., p. 7.
88. Venâncio (1943).
89. Peixoto (1936, p. 8).
90. Ibid., p. 7.
91. Ibid., p. 7.
28 ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021. 
92. Enterros (1942, p. 4).
93. Cf. Academia Brasileira 
(1942, p. 06).
94. Registro…, op. cit., p. 6.
O falecido foi digno de homenagens no Jornal do Commercio, tanto pela 
redação da folha quanto pela via da pena de Taunay, bem como de outros 
presentes na imprensa brasileira e de amigos, como Afrânio Peixoto, e sua esposa, 
que, no dia 8 de outubro de 1942, pediram por rezar missas em sua alma na 
Igreja da Candelária.92 Na seção “Gazetilha” do Jornal do Commercio de 11 de 
outubro de 1942,93 encontramos os membros da Academia Brasileira de Letras, 
em sua coluna na folha, prestando homenagens na seção semanal do mesmo dia 
do pedido de missa de Afrânio Peixoto, na figura de seu presidente José Carlos de 
Macedo Soares, vice-presidente Múcio Leão e dos vários presentes, incluindo 
Afonso D’Escragnolle Taunay, Levi Carneiro, Ataulfo Paiva e Rodolfo Garcia. Nessa 
seção, Pedro Calmon requisitou um voto de pesar pelo falecimento de Moacyr, 
referindo-se “[à] vida operosa do ilustre cronista da educação nacional”, 
enumerando suas obras – com exceção do livro de 1916 – e finalizando com a 
afirmação de que Moacyr “construiu um monumento perene. Demasiadamente 
modesto para aspirar outro prêmio, este lhe outorgamos: a justiça ao seu glorioso 
e paciente estudo!”. Palavras reiteradas por Levi Carneiro, Ataulfo de Paiva, Aloysio 
de Castro e Claudio de Sousa se referindo com saudade à memória de Primitivo 
Moacyr retoricamente apresentado em seus discursos como “modesto, de 
aprimorada educação e integridade de caráter”.94
QUANDO A MORTE NÃO É O FIM
O texto de Afonso D’Escragnolle Taunay, fúnebre, prestou homenagem ao 
amigo Primitivo Moacyr, falecido poucos dias antes de sua publicação. Para além 
da escrita de um artigo de colaboração em que pesava a atuação de Afonso Taunay 
no Jornal do Commercio, vemos a produção de uma narrativa cuja intenção era 
estabelecer condições para a eternização da memória de um sujeito que não obteve 
os louros em vida que seu grupo social, representado pelo autor do texto, acreditava 
que merecera. A vida e a obra de Moacyr foram expostas em tom de elevação, 
mesmo no único momento em que poderia existir alguma crítica à trajetória de vida 
do intelectual baiano quando as relações com o filho foram citadas na narrativa.
Pode-se ler o texto de Taunay por várias vias. Preferimos inseri-lo em sua 
dinâmica do local em que fora posto a ser lido. Na imprensa brasileira, em especial 
no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, Taunay escreveu durante longos anos. 
Lá, também atuou o falecido. Escritores que fizeram parte de um grupo social que 
compartilhavam maneiras de vivenciar e ver o mundo. Produziram modus operandi 
29ANNALS OF MUSEU PAULISTA – vol. 29, 2021.
de leitura, escrita e operações historiográficas, representações em torno de si e dos 
outros que podem ser notadas na leitura desse texto memorial de Taunay quando 
colocadas em contraposição às demais fontes históricas que partilham o mesmo 
objeto. Aproximações, distanciamentos, novidades e silenciamentos foram percebidos 
em nossa operação crítica estabelecendo sobre o texto e suas informações a 
condição de documento histórico, bem como objeto da memória de um indivíduo 
produzida por meio de suas lembranças e da coletividade na qual estava inserido.
A operação historiográfica pressupõe a crítica, a confrontação de fontes, 
sem desmerecer ou desqualificar a produção da memória, as representações. 
Justamente o cruzamento das fontes é que nos permite afirmar sobre as 
representações. Não sendo este o objetivo neste artigo, apresentamos, a seguir, 
apenas alguns exemplos no qual podemos apreciar uma visão distinta da de 
Taunay sobre Moacyr, sem perder de vista que Taunay conheceu Moacyr quando 
este já tinha mais de 65 anos. Sem dúvida, não era o mesmo Moacyr descrito 
nesse exemplo que apresentamos, com pouco mais de 40 anos.
Na Revista D. Quixote de 11 de setembro de 1918, na seção “Antonymias 
Bizarras”, assinada por Curió, um texto bastante curioso e irônico sobre as 
personalidades da sociedade discorre sobre os fatos e atores sociais classificando-
os por suas qualidades e particularidades. Primitivo Moacyr é tomado de “homme 
du monde raffiné”.95 Na mesma revista, na seção “Elegampcias”, no dia 5 de 
fevereiro de 1919, em texto assinado por Marquez de Verniz, pode-se ler este 
autor tratando do assunto da volta à moda dos recitais ao piano, de forma irônica, 
em que ridiculariza determinados membros da sociedade carioca como 
Mademoiselle Lilah, que recita dezesseis mil versos “com muita graça e rapidez, 
em menos de oito horas seguidas” e que, “sobrepuja o illustre dr. Primitivo Moacyr, 
que levou sete horas para recitar, ha dias, em um salão, os dez cantos dos 
Lusíadas”.96 Quanta erudição! Por fim, em 26 de fevereiro de 1919, na seção 
“Elegampcias”, no texto assinado pelo mesmo autor, tratando das festividades do 
carnaval no Brasil e de que isso já se tornara uma prática típica de nossa cultura, 
ao referir-se aos bailes do passado, fazendo alusão aos valores de entrada com 
a descoberta do Brasil e os valores dos anos de 1919, atentou para o caso de 
sujeitos que não perdiam um baile, entre eles, Primitivo Moacyr: “um Baile de 
1.500, por melhor que seja, não se póde comparar a um baile de vinte mil réis”. 
Ironicamente, chama de velhos e mesquinhos os personagens que ainda perduravam 
na sociedade dos antigos carnavais,

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