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A IMPORTÂNCIA DA VARIEDADE LINGUÍSTICA NA ESCOLA

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A IMPORTÂNCIA DA VARIEDADE LINGUÍSTICA NA ESCOLA 
 Bruna Ferreira Barros, Luana Tamara da Silva, Millena Sobral de Moraes, Rodrigo da Fonseca Jahnecke¹
Nathan Santos de Oliveira²
1. INTRODUÇÃO
	 A abordagem da variação linguística nos livros didáticos tem se tornado cada vez mais importante para a educação linguística de estudantes de diversas regiões e contextos socioculturais. A variação linguística diz respeito às variações existentes na língua, como as diferenças entre o português falado no Brasil e em Portugal, ou as diferenças entre as variantes linguísticas dentro do próprio país, como as diferenças entre o português falado no nordeste e no sul do Brasil. É essencial que os livros didáticos abordem essa questão, a fim de que os estudantes compreendam que a língua é um fenômeno vivo e dinâmico, e que as variações são uma manifestação natural e rica da diversidade cultural e linguística de um povo. Além disso a abordagem da variação linguística nos livros didáticos ajuda a combater o preconceito linguístico, que muitas vezes é associado a falantes de determinadas variantes linguísticas. 
 Esse objeto de estudo nos livros didáticos é de extrema importância, uma vez que permite que os estudantes tenham uma visão ampla e crítica da língua e da sociedade em que estão inseridos. Autores renomados na área de linguística destacam a relevância dessa 
abordagem. 
 Segundo Bagno (2011), a variação linguística é um fenômeno natural e esperado de qualquer língua, pois ela se adapta às necessidades e características dos seus falantes. Por isso, é importante que os livros didáticos abordem essa questão para que os estudantes não sejam levados a acreditar que existe apenas uma forma “certa” de falar e escrever. 
 Para Bechara (2009), a variação linguística deve ser considerada como uma forma de enriquecimento cultural, pois cada variante linguística possui sua própria história, tradições e valores. Portanto, os livros didáticos devem incluir informações sobre as diferentes variantes da língua, a fim de promover o respeito e a valorização da diversidade linguística e cultural. 
 Já para Faraco(2003), a abordagem da variação linguística nos livros didáticos ajuda a combater o preconceito linguístico, que muitas vezes é associado a falantes de determinadas variantes linguísticas. Por isso, é importante que os estudantes aprendam a compreender e respeitar as diferentes formas de uso da língua, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
 Dentro desse contexto, é intenção deste trabalho oferecer aos alunos uma breve reflexão sobre a variação linguística, sobretudo dentro da sala de aula, tendo em vista a presença de inúmeras classes sociais e diferentes culturas. Desse modo, o aluno cidadão deve ser capaz de conceituar as diversas formas de expressão da língua, assim como combater o preconceito sobre esse assunto. 
 Em suma, os objetivos dessa pesquisa foram: • analisar a presença da variação linguística nos livros didáticos do 7°,8°,9°ano intitulado como Português, conexão e uso, de Dileta Delmato e Laiz B. De Carvalho;
• observar como a diversidade da língua é abordada nos textos dos livros citados;
• Identificar a presença de variação estilística ou estrangeirismo na obra , assim como suas pluralidades. 
 Em síntese, combater a diversidade linguística é crucial para a formação de uma consciência linguística crítica e para a valorização da diversidade cultural e linguística de um povo. 
2. Teoria 
	A língua portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades dialetais. Identificam-se geográfica e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum se considerarem as variedades linguísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas( p.26, grifos nossos).
Um dos fenômenos que emerge dessas problemáticas e muito preocupa os sociolinguistas é o chamado preconceito linguístico, manifestado pelo menos a princípio, através de comentários jacosos sobre a fala ou escrita do próximo, ou até mesmo sobre nossa própria fala ou escrita ( Bagno, 2009). 
A esse respeito frisamos que uma das recomendações do PCN (Brasil, 1998) é de que “o problema do preconceito linguístico disseminado na escola, em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença”(Brasil, 1998, p.26). Neste sentido, o trabalho com a variação linguística em sala de aula torna-se tarefa imprescindível. 
Assim é notória a preocupação dos PCN ( Brasil, 1998) de língua portuguesa com a heterogeneidade linguística, afirmando que o trabalho com a variação deve fazer parte do quadro de atividades desenvolvidas em sala de aula. Acreditamos que esse espaço, em função da heterogeneidade do público que vem recebendo, pode ser tido como privilegiado para tentar combater o chamado fenômeno do preconceito linguístico. Diante disso os documentos oficiais propõem que a variação linguística deve ser contemplada em seus eixos diatópicos, diastráticos e diafásico.
Segundo Alckmin (2012) o termo variação diatópica ou geográfica compreende o conjunto de variedades identificável na fala do sujeito pertencentes a diferentes regiões geográficas. Assim é possível encontrar um plano lexical, fonético-morfológico, morfossintático, etc, diferenças quanto ao uso da língua. 
Em consonância com as indicações fornecidas pelos PCN (Brasil,1998) , o PNLD( Brasil, 2014) destaca que nos livros didáticos de língua portuguesa é preciso “considerar e respeitar as variedades regionais e sociais da língua, promovendo o estudo das normas urbanas de prestígio nesse contexto Sociolinguístico”( p.19 , destaques nossos).
Mesmo em face desse paradoxo, o PNLD(Brasil, 2014) , juntamente com os PCN (Brasil,1998), prossegue indicando a necessidade de reconhecer e acolher as realidades Sociolinguística com as quais o alunado se insere no contexto de educação formal na escola, são plenos e atendem perfeitamente as demandas de sua participação em “seus convívios sociais prévios”(Brasil,2014,p.19). Seria portanto, tarefa da escola não tentar substituir os conhecimentos linguístico dos alunos, mas sim, trabalhar no sentido de ampliá-lo, contribuindo mais plenamente para o desenvolvimento de sua educação Sociolinguística e, consequentemente, para a formação da cidadania dos estudantes.
Considerando os diferentes níveis de conhecimento prévio, cabe à escola, promover a sua ampliação de forma que, progressivamente, durante os oito anos de ensino fundamental, cada aluno torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas situações (Brasil, 1998,p. 21, grifos nossos).
“Com essas e outras propostas é esperado que, ao término desse período, nossos estudantes sejam capazes de “conhecer e respeitar as diferentes variedades linguísticas do português falado”(Brasil,1998, p.33).
Em consonância com tais propostas, o guia fornecido pelo PNLD(BRASIL, 2024) recomenda que, durante a escolha dos livros didáticos que norteiam os trabalhos dos professores em sala de aula, deve-se observar se tais materiais, no que tange ao conjunto de textos fornecidos são: representativos da heterogeneidade própria da cultura e da escrita. 
3. METODOLOGIA
 
O movimento comum e natural de uma língua nos apresenta as variações linguísticas do português de várias formas podendo ser diacrônicas, diatópicas, diastrásticas e diafásicas. Também percebemos suas diversas variações em um mesmo país principalmente em um tão grande quanto o Brasil. A variação linguística tem sido constante, e é tida como um fenômeno vivo e dinâmico, sendo manifestada naturalmente atráves de seus povos e suas culturas trazendo junto o combate ao preconceito linguístico, que acaba qualificando os falantes que não usam o português tradicional, culto.
Dentro desse contexto, a intençãodesta pesquisa exploratória é oferecer aos alunos uma breve reflexão sobre a variação linguística, sobre tudo dentro da sala de aula, tendo em vista em vista a presença de inúmeras classes sociais e diferentes culturas.
Desse modo, o aluno cidadão deve ser capaz de conceituar as diversas formas de expressão da língua, assim como combater o preconceito sobre esse assunto. A pesquisa desenvolvida pelo grupo apresenta seus resultados de forma qualitativa, pois nela contém dados que foram coletados para a pesquisa. Os dados foram coletados dos livros do 7°, 8° e 9° ano das autoras Dileta Delmato e Laiz B. de Carvalho, intitulado “ Português, Conexão e Uso” e publicado pela Editora saraiva. O livro do 7° ano apresenta a variação linguística em alguns textos, nesses textos iremos encontrar a pluralidade de línguas no Brasil, fenômenos gramaticais, o léxico e o sotaque. O livro não trata as variações como certa ou errada, mas sim como parte integrante da língua.
O livro do 8° ano aborda a variação linguística, onde ocorre a utilização de falas típicas de determinada região, que caracterizamos como variação diatópica ou regional. E também encontramos textos com léxico e sotaque, a variação estilistíca e o estrangeirismo incorporado ao léxico da língua, e texto com jargões e expressões.
O livro do 9° ano aborda a variação linguística em diversos momentos, nele encontramos textos com estrangeirismo, variações diastrásticas, variação estilística, e pluralidade da língua.
 Os dados coletados serão apresentados em um gráfico onde teremos os assuntos abordados nos livros didáticos. Ao longo dessa pesquisa utilizamos a exploração das coleções do PNLD intitulados como “Português, Conexão e Uso” do ano de 2020 a 2023, onde verificamos no corpus acima, indícios da variação linguística ao longo da abordagem dos três livros, onde destacamos que neles há textos com variações linguísticas.
Chegamos a conclusão que os livros utilizados nos mostram que as autoras em questão, deram bons passos no caminho certo, proporcionando o desenvolvimento do início de uma consciência linguística para melhor compreensão da diversidade linguística do português falado no Brasil.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
	Os livros analisados nesse trabalho correspondem aos volumes 7, 8 e 9 da coletânea português conexão e uso (DELMANTO; CARVALHO, 2018). Essa coletânea foi avaliada e aprovada pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para uso durante os anos de 2020 até 2023. Além dos volumes que foram analisados, a coletânea possui também o volume para o 6º ano. 
Conforme exposto anteriormente, as aulas de língua portuguesa precisam ser uteis para que o aluno seja formado integralmente para atuar na sociedade através da linguagem. Conforme a autora Bortoni-Ricardo afirma: 
Do ponto de vista da sociolinguística educacional, para operar de uma maneira aceitável, um membro de uma comunidade de fala tem de aprender o que dizer e como dizê-lo apropriadamente, a qualquer interlocutor e em quaisquer circunstâncias. Essa capacidade pessoal, que inclui tanto o conhecimento tácito de um código comum, como a habilidade de usá-lo, foi denominada competência comunicativa (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 62).
Essa competência comunicativa é de suma importância para o aluno, pois através dela que ele irá atuar no mundo e, para isso, é necessário que ele conheça as diversas variações linguísticas presentes na sociedade para que possa escolher qual variedade irá utilizar em cada interação social.
É importante para os alunos que ele conheça novas formas linguísticas, tanto de fala quanto da escrita e que ele entenda que essa diversidade é legítima e um grande exemplo do que são as nossas possibilidades como seres humanos (POLLI DA SILVA, 2009, p. 188).
	Pensamos que é muito importante que os livros didáticos que estão nas salas de aula de todo o país abordem o tema com seriedade, visto que a língua é formada por um agrupamento de variedades que mantêm relações com os aspectos socioculturais dos falantes, e mais, com as comunidades onde os falantes estão inseridos. 
Os livros didáticos aprovados pelo PNLD “são ferramentas ou instrumentos que a maioria dos professores das escolas públicas brasileiras utiliza em sala de aula” ( MORAIS. 2015, p.191), nesse sentido é preciso analisar como são organizados e se atendem as demandas atuais, uma delas é o estudo e a reflexão sobre as variedades linguísticas presentes no português falado no Brasil. É necessário que esse material seja atualizado constantemente até para se adequar aos documentos oficiais que regem o ensino no país, como é o caso Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) para os quais: 
A língua portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades dialetais. Identificam-se geográfica e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum se considerarem as variedades linguísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas (p. 26, grifos nossos).
	Pensando nisso, analisamos três livros didáticos dos anos finais do ensino fundamental. A análise foi feita em cima das questões propostas por Marcos Bagno no livro “Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística” e os resultados serão apresentados a seguir. 
O primeiro livro que analisamos foi o livro do 7º ano. Nele as autoras mencionam a pluralidade de línguas do Brasil, porém, nos enunciados de questões e nas explicações a linguagem referencial é utilizada e nesse caso as autoras estão aplicando a norma padrão como se fosse uma variedade real da língua. Menciona em apenas um momento o conceito da norma-padrão. Também apresenta partes dedicadas ao estudo sobre as variações linguísticas e expõe diversos textos com variações linguísticas mostrando como são parte inerente da língua. 
Texto “dois caboclos na enfermaria”
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 23)
O primeiro texto está na página 23 e nos entrega mudanças na fala, na escrita e na oralidade. No fragmento analisado há presença de variações tanto no sotaque quanto na grafia. Podemos ver duas pessoas com intimidade conversando. É possível perceber as mudanças gramaticais como em “cumpadi”, “num sei”e “dotô. Percebemos também que esse é um texto dramático para ser teatralizado, portanto, espera-se que existam mudanças na oralidade, no sotaque e no léxico também, para ficar de acordo com as falas regionais e sociais dos caboclos do Brasil. O livro não trata as variações como erradas, mas sim, como partes integrantes da língua. Isso é visto na análise dos exercícios, que são apenas de interpretação e não pedem para “corrigir” as falas de acordo com a norma padrão. A variação linguística contida no texto é uma variação diatópica ou regional. É muito importante que ocorram esse tipo de apresentação para os alunos, a fim de que tenham contato com as variedades linguísticas e saibam evitar o preconceito linguístico. Com essa variedade de texto é possível permitir que o professor converse com os alunos sobre os contextos sócio históricos dos personagens, pois são esses contextos que aparecem no jeito de falar dos habitantes do país. Existem diversos fatores que poderão ser abordados pelo professor para mostrar aos alunos como a mudança ocorre, tais como o gênero, a exposição aos meios de comunicação, a distribuição geográfica do falante, o grau de instrução e diversos outros fatores podem contribuir para moldar a forma como o falante vai se comportar no momento da interação social pela linguagem. 
Texto sobre produção oral 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 114 e 115)
Nas páginas 114 e 115 encontramos informações sobre como expor uma produção oral. No item 8, as autoras colocam "utilize linguagem adequada a uma atividade em sala de aula". Podemos refletir um pouco sobre esse item e chegaram à conclusãoque as autoras indicam que o aluno opte para uma variação sem gírias ou jargões, mais parecida com a norma-padrão, portanto, a sugestão para atividade é em cima de variações diastráticas ou sociais, que é quando os falantes/escreventes alteram seus modos de falar ou escrever de acordo com o ambiente em que se encontra. 
Texto sobre oralidade
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 142)
Na página 142 encontramos um texto de Patativa do Assaré. O texto traz uma "conversa" entre dois interlocutores. Essa conversa está recheada com palavras típicas da região nordeste do país. Há um glossário para explicar o significado de cada expressão apresentada. Esse tipo de variação linguística chamamos de diatópica ou regional. Na página seguinte, algumas atividades sobre o cordel apresentado são propostas. Destacamos o item 5, onde as autoras dizem, entre outras palavras, que "essa maneira de escrever nem sempre segue as regras do norma-padrão". Logo em seguida há a única apresentação presente no livro sobre o que é a norma-padrão. As autoras salientam que é uma forma de uso que está fora da realidade prática do uso. 
Texto sobre reflexão sobre as variedades linguísticas 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 144)
Na página 144 encontramos uma parte dedicada ao estudo e reflexão sobre as variedades linguísticas. Não há um aprofundamento sobre o conceito, há atividades para perceber as variedades existentes na sala de aula entre os alunos. 
Texto sobre reflexão sobre a língua 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 149)
Já na página 149 há o conceito sobre o que são as variedades linguísticas e há um destaque para norma-padrão e as variedades urbanas de prestígio. É interessante olharmos a citação exposta de Marcos Bagno onde diz que as outras variedades não são erradas. Na página seguinte o assunto segue e nos deparamos com o conceito de preconceito linguístico e há uma nota que diz "não existe certo ou errado na língua apenas variedades diferentes que são adequadas ou inadequadas ao contexto em que são usadas". As atividades propostas não são muito agradáveis, pois não possuem muita conexão com o assunto. 
Texto sobre reflexão sobre a língua 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 159)
A página 159 aborda a variação linguística no tempo e no espaço, nos apresentando a variação histórica e a variação regional. Os textos são bem apresentados contendo os diversos exemplos. 
Campanha publicitária 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 302)
Na página 302 encontramos o último momento em que as variações linguísticas aparecem no livro. É um slogan de uma campanha publicitária com o jargão típico dos grupos sociais jovens. Há uma atividade de reflexão sobre o uso do jargão.
O segundo livro analisado foi o volume para o 8° ano. Ele aborda o assunto sobre variação linguística. Foram analisados seis textos presentes ao longo do livro para confirmar esta declaração. Os textos estão presentes nas seguintes páginas texto 1- 49, 50, 51 e 52, texto 2- 59, texto 3 - 79, texto 4 - 158, texto 5 - 200 e texto 6 - 200. 
trecho do livro “morte e vida Severina”
 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 49, 50, 51 e 52)
O texto 1 é um poema dramático escrito em versos por João Cabral de Melo Neto que conta a história de Severino. O poema faz parte do livro "Morte e Vida Severina" e a linguagem utilizada é uma linguagem simples, seguindo em muitas partes a linguagem que caracteriza a norma padrão, porém, se formos analisar a parte semântica do poema veremos que são falas típicas de uma região do nosso país, logo, podemos caracterizá-la como variação linguística diatópica ou regional. O texto aborda variação no léxico e no sotaque, com marcas de oralidade. 
Trecho da canção Asa Branca
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 59)
No texto 2 encontramos um trecho da canção "Asa Branca" de Luiz Gonzaga. O trecho também pode ser caracterizado como texto com variações linguísticas diatópicas e além de abordar as variações no léxico e no sotaque, nos apresenta ainda mudanças linguísticas gramaticais, como por exemplo a grafia da palavra "olhei" se torna "oiei", a expressão "com a" se torna "quá". Mas apesar da mudança na grafia, as palavras não mudam de significado, não altera o sentido para o leitor que é esperado. Porém se fosse uma pessoa de outro local que não conhecesse aquele tipo de variação poderia dizer que é agramatical ou inaceitável. 
Imagem sobre o texto “maravilhas em reflexo” 
Fonte: Delmanto, Carvalho (2018, p. 79)
Já no texto 3 a linguagem que predomina é a linguagem urbana de prestígio. O texto trata de um anúncio de um local de turismo e reconhecemos que, nesses momentos, alteramos a estética de nossos textos e é provável que o autor também tenha feito isso. A linguagem referencial denotativa é utilizada. Por isso podemos dizer que há uma variação estilística e nesse texto também há estrangeirismos incorporados ao léxico da língua. 
Poema Mário de Andrade 
Fonte: Delmanto, Carvalho (2018, p. 158)
O texto 4 trata-se de um poema de Mário de Andrade. A linguagem poética, com atenção ao texto é utilizada. Podemos analisá-lo como poema contendo uma variação linguística de prestígio urbana. Ainda mais, é possível perceber que o autor é escolarizado, pois escolhe cuidadosamente suas palavras para compor a crítica social presente na obra analisada. 
Tirinha Calvin e texto sobre previsão do tempo
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 200)
O texto 5 trata-se de uma tira de Calvin do escritor Bill Walterson. Nela Calvin e sua mãe conversam de maneira despretensiosa com uma linguagem própria para o ambiente social que se encontram e, apesar de Calvin usar uma expressão mais "jovem", uma gíria, continua sendo variações urbanas de prestígio, mas podemos também classificar como variação social. 
E no último texto há uma presença de variação social ou diastráticas, pois o texto sobre a previsão do tempo possui diversos jargões, gírias e expressões que podem não ser compreendidos por leigos no assunto. 
Todos esses textos possuem variações linguísticas e, apesar de não falar explicitamente sobre a pluralidade de línguas existentes no país, as autoras colocam essa pluralidade de línguas diretamente em contato com os alunos leitores/falantes/escreventes. O tratamento das variações não se limita as variedades rurais e regionais. Há esse tipo de variação no livro, porém, não se limitam a isso. Também são apresentadas variações sociais e estilísticas. Apresentam também variantes características dos falantes urbanos que são considerados variantes prestigiadas. Nos enunciados o livro ainda traz a norma padrão como se fosse uma variedade real, porém, em momento algum foi dito que as variações são "erradas". O livro propõe analisar e discutir a variação linguística e assim o faz. Os textos mostram tanto mudanças no léxico e no sotaque quanto mudanças gramaticais. Não comentam sobre a fala e a oralidade, apenas percebe-se presente nos textos. O livro não possui capítulos dedicados a variação linguística. Abordam em alguns pontos o fenômeno da mudança linguística e não caracterizam a norma padrão como a única correta. 
O último livro que analisamos foi o volume 9, para 9º ano. O livro aborda a variação linguística em diversos momentos. 
Trabalho sobre oralidade
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 22 e 23)
O primeiro texto analisado está em duas páginas (22 e 23) trata-se de uma atividade envolvendo a produção oral de um debate. Na página 22, em uma linguagem com variedade Urbana de prestígio é apresentado o tema do debate e na página 23 está a forma como debate deve ocorrer. Nesta última página encontramos dicas e instruções do como deve transcorrer o debate com os argumentos e defesa dos alunos. Essas dicas e instruções estão todas de acordo com a gramática normativa trazendo para a atividade uma linguagem concisa e formal de acordo com a variante urbana de prestígio.
Texto sobre estrangeirismo
Fonte:extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 24 e 25)
Outros dois textos analisados estão nas páginas 24 e 24 e 25 o texto 2 trata-se de uma tirinha onde há um exemplo de mudança linguística, o estrangeirismo.
No terceiro texto das páginas 24 e 25 temos uma crônica onde o autor defende essa mudança linguística (estrangeirismo). Ambos os textos procuram divertir e proporcionar reflexão aos leitores para isso utiliza uma linguagem mais informal próxima do dia a dia podemos caracterizar como uma linguagem urbana de prestígio de pessoas escolarizadas e moradoras das áreas urbanas. Há também na página 25 uma notícia comentando sobre o uso de estrangeirismos na língua.
 
Texto sobre oralidade
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 38)
O texto 4 está na página 38 e é uma transcrição da fala presente em um vídeo da escritora Conceição Evaristo. A fala contém gírias e vícios de linguagem e o livro não corrige isso, pelo contrário, orienta os alunos para que gravem um vídeo, assim como fez a escritora, e falem de forma descontraída e espontaneamente para, segundo o livro, ajudar a cativar o público. Podemos categorizar este tipo de variante como uma variante social ou diastrática, pois por causa das gírias e dos jargões podemos dizer que pertencem a um grupo de pessoas. 
Entrevista 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 64 e 65)
O texto 5 está na página 64 e 65 e é uma entrevista feita pela BBC Brasil com Mário Sérgio Cortella em agosto de 2016. A entrevista colheu informações e opiniões do entrevistado e teve uma linguagem mais formal. Chamamos de variações estilísticas, que se alteram de acordo com a interação social. Percebe-se que o entrevistado é uma pessoa escolarizada que fala de acordo com as variantes urbanas do prestígio. 
Relato de experiência científica 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 82)
O texto 6 está na página 82 e trata-se de um relato de uma experiência científica. Podemos classificar essa variação linguística como estilística, pois ela se adequa ao ambiente. No caso da experiência científica também podemos categorizar a variação como social ou diastrática, pois o texto apresenta termos próprios da área científica. 
Samba-enredo
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 120 e 121)
	Nas páginas 120 e 121 encontramos o sétimo texto analisado que é a composição de um samba-enredo feito por Martinho da Vila, Rodolpho de Souza e Tião Braúna que possui uma linguagem informal com variação social próxima do dia a dia e acessível à população geral. 
Canção de rap
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 134 e 135)
O oitavo texto está nas páginas 134 e 135 é uma canção de rap de Flora Matos. A música busca fazer crítica social afirmar a identidade de um grupo e entreter. Para isso, utiliza-se de temas do cotidiano assim como o emprego de gírias de vocabulário representativo de uma comunidade. Dizemos que nesse caso há também uma variação social. 
Trecho de música de rap 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 138)
Na página 138 encontramos uma reflexão sobre a língua. Há um trecho do rap "us Guerreiro" interpretado por Rappin'Hood e também uma reflexão sobre a linguagem e a maneira de expressar o rap. Há uma atividade de estudo sobre a música e nesse caso também existe uma variação social, e, mais ainda, há mudanças gramaticais presentes no texto. As autoras não consideram como erros gramaticais e os exercícios sobre o texto são apenas de interpretação. 
Atividade sobre oralidade
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 144)
Na página 144 há uma atividade que envolve a oralidade. A proposta é para que os alunos apresentam uma letra de rap preparada anteriormente. As autoras do livro indicam como os alunos devem falar, por exemplo: falar em vez do cantar, declamar os versos em ritmo de diálogo etc. Temos aqui mais um momento dedicado a fala e a oralidade e também um exemplo de variação linguística de um determinado grupo social que chamamos de variações diastráticas. O rap preparado deve ser adequado à intenção e o público visado. 
 
Texto sobre apresentação oral 
Fonte: extraído de Delmanto e Carvalho (2018, p. 222)
Já na página 222 temos o último texto analisado há outras dicas de como se expressar oralmente, porém, nessa ocasião, as orientações estão atreladas com a norma padrão como se essa fosse uma variante real da língua. Nesse caso, onde os alunos devem modificar sua fala, chamamos de variação estilística. 
O livro apresenta variações linguísticas; menciona a pluralidade de línguas que existem no Brasil apresentando diretamente aos leitores através dos textos; o livro não apresentou variedades rurais ou regionais, mas, sim variedades sociais estilísticas; apresentam variantes características das variedades do prestígio e nesse livro o tratamento abordado foi tanto sobre o léxico quanto sobre a oralidade e os fenômenos gramaticais; não há capítulos no livro dedicados a variações linguísticas, entretanto, assim como os outros livros da coleção, as autoras apresentam ao longo do livro diversos exemplos que permitem que os alunos possam refletir sobre esse assunto. Não categorizam as variações como erradas; o livro apresenta momentos dedicados a fala e a oralidade e orienta os alunos sobre como devem falar; ele não apresenta fala como o lugar de erro aborda mudança linguística ao tratar sobre o estrangeirismo e, por fim, nos enunciados e nas questões o que predomina é a norma padrão, porém, nos textos temos muitos exemplos de textos com variações linguísticas que são classificados como os válidos pelas autoras do livro didático. 
A partir da observação desse gráfico podemos perceber que: 
1. Os livros não apresentaram capítulos destinados ao estudo das variações linguísticas. Apenas o livro do 7º ano apresentou conceitos sobre norma-padrão e variedades linguísticas, portanto, é possível dizer que esse tema seja abordado apenas nesse ano;
1. É possível afirmar que as autoras possuem uma visão sociolinguística da língua, pois aceitam as variedades como partes integrantes dela e não caracterizam como erro. Os livros exibiram alguns textos com variedades linguística, porém, os textos foram escassos, como é possível observar no gráfico, em um livro havia, ao longo dele, apenas três textos e nos outros dois havia seis textos com variedades; 
1. Apenas o livro do 7º ano mostrou exercícios de reflexão sobre as variedades, indo de acordo com a primeira observação de que o assunto é abordado apenas nesse ano do ensino fundamental;
1. A exploração da oralidade foi abordada em todo os livros, porém, de maneira insuficiente, pois não houve aprofundamento na questão; 
1. As obras trataram o tema de variação linguística, mas de forma isolada, apenas apresentando através de textos e os exercícios eram escassos sobre a análise linguística dessas variedades. A norma-padrão foi utilizada em todas as questões, mesmo com o texto contendo variantes linguísticas, as questões foram feitas em cima da norma-padrão; 
1. Mudanças linguísticas gramaticais foram encontradas nos três livros, porém em apenas quatro passagens, não contendo as inúmeras mudanças que existem no nosso cotidiano que deveriam ser trabalhadas em sala de aula. 
Existe uma lacuna grande quando vamos tratar de variação linguística nos livros didáticos. Mas é interessante analisarmos que, as autoras em questão, deram bons passos no caminho certo, proporcionando aos estudantes o desenvolvimento do início de uma consciência linguística para melhor compreensão da diversidade linguística do português falado no Brasil. Apesar de serem poucas abordagens, foram bem organizadas, com textos atualizados e interessantes para o público destinado. Devemos sempre lembrar que é necessário ampliar o debate sobre esse assunto
REFERÊNCIAS
	Alckmin, T.M. Sociolinguística ( parte1). In: Mussalim, F; Bentes A.C(org). Introdução à linguística: domínios e fronteiras, 9.ed. São Paulo: Cortez, 2012.
Bagno, M. Nada nalíngua é por acaso:por uma Pedagogia da variação linguística 3.ed São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
Bagno, M. Norma linguística. 2° ed. Rio de Janeiro; Edições Loyola, 2011. 296 p.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2001.
Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa .37° ed.Rio de janeiro: Lucerna, 2009.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desenvolvimento; Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília-DF: MEC/
SEF, 1998.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
Faraco, Carlos Alberto; Tezza, Cristóvão. Oficina de texto. Petrópolis: Vozes, 2003.
MORAIS, C. G. O tratamento da diversidade e variação linguística em livros didáticos de português. Letras e Letras, Uberlândia, v. 31, n. 2, p. 188-210, 2015.
SILVA, Rita do Carmo Polli da. A sociolinguística e a língua materna. Curitiba: Ibpex, 2009.
	Assuntos abordados nos livros didáticos analisados 
livro 1 (7º ano)	apresentação de 	conceitos 	textos com variedades	exercícios de reflexão sobre as variedades 	exploração da oralidade 	uso da norma-padrão	mudanças liguísticas gramaticais 	2	3	2	3	6	2	livro 2 (8º ano) 	apresentação de conceitos 	textos com variedades	exercícios de reflexão sobre as variedades 	exploração da oralidade 	uso da norma-padrão	mudanças liguísticas gramaticais 	0	6	0	1	6	1	livro 3 (9º ano)	apresentação de conceitos 	textos com variedades	exercícios de reflexão sobre as variedades 	exploração da oralidade 	uso da norma-padrão	mudanças liguísticas gramaticais 	0	6	0	4	10	1	
1 Nome dos acadêmicos
2 Nome do Professor tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (FLC19692LED) – Prática do Módulo IV - dd/mm/aa
	
	
	
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