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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU - UNINASSAU CARUARU
DIREITO
JÉSSICA JOSEFA DA SILVA
CARLOS ANDRÉ BEZERRA DO NASCIMENTO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
O MÍNIMO EXISTENCIAL DA PESSOA JURÍDICA
Caruaru
2023
JÉSSICA JOSEFA DA SILVA
CARLOS ANDRÉ BEZERRA DO NASCIMENTO
O MÍNIMO EXISTENCIAL DA PESSOA JURÍDICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial para conclusão do curso de DIREITO da
CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU -
UNINASSAU CARUARU
Caruaru
2023
Ficha catalográfica gerada pelo Sistema de Bibliotecas do REPOSITORIVM do Grupo SER EDUCACIONAL
N244m
Nascimento, Carlos André Bezerra do. 
 O Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica / Carlos André
Bezerra do Nascimento, Jéssica Josefa da Silva. -
UNINASSAU: Caruaru - 2023
 28 f.
 TCC (Curso de Direito) - Centro Universitário Maurício de
Nassau - Uninassau Caruaru - Orientador(es): M.sc. Tony
Fernando Macedo Galvão da Cruz
 1. Capacidade Contributiva. 2. Efeito Confiscatório. 3.
Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica. 4. Simples Nacional.
5. Tributação. 6. Confiscatory Effect. 7. Contributory
Capacity. 8. Existential Minimum Of The Legal Entity. 9.
Simple National. 10. Taxation. 
I.Título 
II.M.sc. Tony Fernando Macedo Galvão da Cruz
UNINASSAU - CAR CDU - 34
 
 
CARLOS ANDRÉ BEZERRA DO NASCIMENTO 
JÉSSICA JOSEFA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
O MÍNIMO EXISTENCIAL DA PESSOA JURÍDICA 
A Proteção do Patrimônio Mínimo 
 
 
 
Artigo apresentado como requisito para 
conclusão de curso de Bacharelado em 
Direito do Centro Universitário Maurício de 
Nassau – Uninassau. 
 
Orientador (a): Prof. Tony Fernando 
Macêdo Galvão da Cruz 
 
 
 
Caruaru – PE, 26 de dezembro de 2023. 
 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
 
 
 
__________________________________________ 
Prof. Tony Fernando Macêdo Galvão da Cruz 
 
 
 
__________________________________________ 
Prof. Samira Maria Santana Silva 
 
 
 
__________________________________________ 
Prof. André Martins de Oliveira
 
 
O Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica 
A Proteção do Patrimônio Mínimo 
 
 
CARLOS ANDRÉ BEZERRA DO NASCIMENTO 
JÉSSICA JOSEFA DA SILVA 
TONY FERNANDO MACÊDO GALVÃO DA CRUZ 
 
 
RESUMO: O artigo discute a extensão do Mínimo Existencial às pessoas jurídicas no Brasil, 
assegurando que a carga tributária, direito legítimo do Estado, não inviabilize sua atuação no mercado. 
O presente estudo inicia-se com uma explanação dos conceitos de personalidade jurídica, direitos 
fundamentais da pessoa jurídica, empresário, empresa e os tipos de sociedades empresárias. Com 
ênfase nos limites ao poder de tributar do Estado. Assim, os princípios da capacidade contributiva, da 
isonomia e da proibição do confisco servem de parâmetro para proteger, portanto, à atuação 
empresarial, sobretudo, a Microempresa e Empresa de Pequeno Porte do Simples Nacional, a fim de 
garantir o patrimônio mínimo. Portanto, tal artigo ressalta a devida proteção da existência digna da 
pessoa jurídica, colaborando com a livre concorrência e iniciativa na contemporaneidade. 
 
PALAVRAS- CHAVE: Tributação. Capacidade contributiva. Efeito Confiscatório. Mínimo existencial da 
pessoa jurídica. Simples Nacional 
 
 
The Legal Entity’s Existential Minimum 
Protection of Minimum Assets 
 
 
ABSTRACT: The article deals with the extension of the Existential Minimum to legal entities in Brazil, 
ensuring that the tax burden, a legitimate right of the State, does not make their operation in the market 
unfeasible. This study begins with an explanation of the concepts of legal personality, fundamental rights 
of legal entities, entrepreneurs, companies and the types of business companies. With emphasis on the 
limits to the State’s taxing power. Thus, the principles of contributory capacity, equality and prohibition 
of confiscation serve as a parameter to protect business activities, especially Micro-enterprises and 
Small Businesses of Simples Nacional, in order to guarantee minimum assets. Therefore, this article 
highlights the due protection of the dignified existence of legal entities, collaborating with free 
competition and initiative in contemporary times. 
 
KEYWORDS: Taxation. Contributory capacity. Confiscatory Effect. Existential minimum of the legal 
entity. Simple national 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho discute a extensão do Mínimo Existencial às Pessoas 
Jurídicas, um ideal de justiça tributária à luz dos direitos e garantias fundamentais, 
que tem por objetivo a proteção da renda, do patrimônio e das atividades econômicas 
das pessoas jurídicas, com vistas as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. 
 
O Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica aponta para um limite inferior de renda 
ou patrimônio que deveria ser excluído da tributação, representando uma limitação 
aos poderes da administração tributária. O conceito refere-se a um conjunto de bens 
e recursos necessários para a manutenção da atividade empresarial e da própria 
existência da empresa. 
 
A doutrina e a jurisprudência entendem que as pessoas jurídicas são titulares 
de direitos fundamentais, e assim como as pessoas físicas, na condição de 
contribuintes, podem ser afetadas pelo abuso de poder da administração tributária. 
Seguindo essa toada, o Estado deve levar em consideração a isonomia tributária e 
capacidade contributiva, não utilizando a tributação com efeito confiscatório. 
 
Como disse Machado (2009), pagar tributo é um dever fundamental do cidadão, 
porém quando o Estado no uso do poder de tributar causa prejuízo ao contribuinte, 
deixa de ser uma relação jurídica e torna-se uma relação simplesmente de poder 
 
Cavalcante e Muller (2018), o Estado deve respeitar o mínimo existencial da 
pessoa jurídica, tal como ocorre com as pessoas físicas, levando em consideração a 
personalidade jurídica, uma vez que a legislação brasileira confere a pessoa jurídica 
a condição de sujeito de direitos. 
 
O Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica se desenvolve numa pesquisa 
qualiquantitativa, que analisando a Carga Tributária Brasileira (CTB), e comparando 
com países desenvolvidos, avalia o impacto da carga tributária nas empresas 
inseridas na Lei 123/2006 (Simples Nacional). Com base no princípio de preservação 
da empresa, buscou-se na Constituição Federal, no art. 145, §1º (capacidade 
contributiva) e no art. 150, IV (princípio do não confisco), o sentido e o alcance para 
efetivação prática do Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica. 
 
É nesse contexto do Direito Tributário e do princípio do não confisco, tendo em 
vista a personalidade jurídica e a função social da empresa, que a proteção ao Mínimo 
Existencial da Pessoa Jurídica apresenta-se como medida útil para Proteção do 
Patrimônio Mínimo, ante a sanha estatal por arrecadação de tributos. 
 
2 A PERSONALIDADE JURÍDICA 
 
A Personalidade Jurídica é a capacidade de adquirir direitos e contrair 
obrigações, referindo-se tanto à pessoa física quanto à pessoa jurídica. O Código Civil 
de 2002, no art. 2º, determina que, a personalidade da pessoa civil começa do 
nascimento com vida. Do mesmo modo, os artigos 45 e 985 do referido diploma legal, 
4 
 
expressam que a sociedade empresária adquire a personalidade jurídica com o 
registro dos atos constitutivos no órgão competente. 
 
De acordo com o Professor, Advogado e Economista João Grandiano Rodas 
(2016), a forma corpórea do conceito da Personalidade Jurídica iniciou-se a partir da 
época imperial. Antes disso, propriamente no Direito Romano, as formas associativas 
não se revestiam da personalidade Jurídica. Os bens das chamadas sodalicia e 
collegia, as associações que se dedicavam a cultuar os deuses, pertenciam ao 
Estado, sendo meramente utilizados pelos cidadãos. As cidades, sob a esfera do 
Império Romano - municipia -, sem existência política, mantinham a capacidade 
privada. Assim, passaram a surgir os entes autônomos patrimonialmente - arcam 
communem hebere -, e que não se confundemcom os seus membros, tal conceito, 
denominado de corporação foi descrito mais tarde por Ulpiano. 
 
A capacidade jurídica derivava da existência de patrimônio próprio (arcam 
habere) e de representação judicial (actorem vel sydicum). Alguns entes coletivos 
passaram a se organizar corporativamente, entre eles o fisco. A capacidade jurídica 
era intrínseca, não sendo o reconhecimento estatal concessivo de personalidade. 
 
2.1 O Conceito de “Pessoa” 
 
A definição de "Pessoa" consiste em um ente físico ou coletivo suscetível de 
direitos e obrigações, sendo sinônimo de sujeito de direito. Já "sujeito de direito" é 
aquele que é sujeito de direitos e deveres jurídicos, de uma pretensão ou titularidade 
jurídica, que é o poder de fazer valer, através de uma ação, o não cumprimento do 
dever jurídico, ou melhor, o poder de intervir na produção da decisão judicial. Além 
das pessoas físicas ou naturais, passou-se a reconhecer, como sujeito de direito, 
entidades abstratas, criadas pelo homem, às quais se atribui personalidade. 
 
A personalidade jurídica é uma criação do direito, enquanto que a pessoa física 
é apenas um termo usado para se referir aos seres humanos no contexto jurídico. O 
Código Civil Brasileiro de 2002, por sua vez, não enuncia o conceito de pessoa 
jurídica, mas acompanha a conceituação de Clóvis Bevilácqua (1929), qual seja: 
 
“todos os agrupamentos de homens que, reunidos para um fim, cuja realização 
procuram, mostram ter vida própria, distinta da dos indivíduos que os compõem, e 
necessitando, para a segurança dessa vida, de uma proteção particular do direito”. 
(BEVILACQUA, 1929, pag. 58). 
 
5 
 
Partindo-se do “fato associativo”, noções oriundas da sociologia podem, num 
primeiro momento, definir pessoa jurídica como um grupo humano, criado na forma 
da lei, com personalidade jurídica própria, para a realização de determinados fins. 
Empresário individual, na técnica do direito, é pessoa física; o patrimônio dele 
responde pelos débitos. Pessoa jurídica, portanto, é um grupo humano personificado. 
A doutrina resistiu muito a aceitar a pessoa jurídica como sujeito de direitos. 
 
3 AS EMPRESAS 
 
O conceito de empresa decorre da definição dada à figura do empresário, a que 
se refere o art. 966 do Código Civil de 2002, que diz: “Considera-se empresário quem 
exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a 
circulação de bens ou de serviços”. 
 
Assim, levando em consideração a figura do empresário, tem-se o conceito de 
empresa no art.3° da LEI 123/2006, definido como microempresa (ME) ou empresas 
de pequeno porte (EPP) a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa 
individual de responsabilidade limitada e o empresário. 
 
O empresário é, portanto, empresário individual, uma sociedade “unipessoal”, 
ou seja, para haver uma “sociedade empresária” se faz necessário mais de uma 
pessoa, surgindo assim, a Sociedade Empresária Limitada Unipessoal, constituída por 
1 (uma) só pessoa, sócio único. Essa novidade foi trazida pela LEI 13.874/2019 (LEI 
DA LIBERDADE ECONOMICA) que acrescentou os parágrafos §1º e §2º no Art. 1.052 
CC/2002, muito embora, antes deste advento, existia a sociedade empresária EIRELI, 
que falaremos dela mais adiante. 
 
4 AS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 
 
A Sociedade Empresária é uma organização constituída de pessoas, físicas ou 
jurídicas, que por força de vontade das partes, formam uma sociedade empresária 
formalizando assim, com o registro do contrato social (Estatuto) na Junta Comercial 
(art.967), e atendidos os demais protocolos legais e, mediante a implementação de 
capital financeiro, tecnologia e contratação de mão de obra especializada, passam a 
exercer atividade econômica organizada para produção ou a circulação de bens ou 
de serviços. Essa sociedade de pessoas, usufrui, na proporção das respectivas cotas, 
dos resultados financeiros auferidos a partir do exercício dessa atividade. (art.981, 
CC/02). 
 
6 
 
Portanto, a sociedade empresária pode ser constituída por uma única pessoa 
física ou por um grupo de indivíduos, onde o capital social da empresa é divido por 
cotas, de acordo com o que foi expresso no contrato social, que pode ser, capital 
subscrito ou integralizado, constituído na abertura da empresa ou no futuro, podendo 
a integralização ocorrer de forma parcelada. 
 
4.1 Alguns tipos de Sociedades Empresárias no Ordenamento Jurídico 
Brasileiro 
 
A Constituição Federal, quando dispõe sobre as atividades econômicas, atribui 
a iniciativa privada, aos particulares, a produção e circulação de bens e serviços 
necessários à vida das pessoas em sociedade, reservando ao Estado apenas a 
função supletiva, nos termos do art. 170 da Constituição Federal de 1988. 
 
A exploração direta de atividade econômica pelo Estado só é permitida, quando 
necessária à segurança nacional. O tipo de sociedade empresária no ordenamento 
jurídico brasileiro pode variar, de acordo com a exploração de seu objeto. 
 
4.2 Empresário Individual 
 
O empresário individual pode ser uma pessoa física, não possuindo 
personalidade jurídica, não havendo uma segregação dos bens da pessoa física com 
os bens da pessoa jurídica, diante disto, ações impetradas decorrentes de dívidas 
trabalhistas e demais credores, o patrimônio da pessoa física é atingido para liquidar 
as execuções jurídicas. 
 
Possuí as mesmas obrigações em relação a sociedade empresária, bem como 
registro na Junta Comercial, Receita Federal e Secretaria da Fazenda Estadual, 
Contador e Certificado Digital, além de contratar colaboradores sem limite de 
quantidade, conforme a atividade e modelo de negócio. 
 
4.3 Microempreendedor Individual (MEI) 
 
Como o nome já descreve, trata-se de uma empresa de sociedade individual, 
foi criado com o intuito de formalizar o trabalho autônomo no Brasil, um programa de 
inclusão social que visa tornar empresário o profissional que atuava na informalidade 
como ambulante, sacoleiro, vendedor de porta a porta e demais profissionais liberais. 
 
As especificações desse modelo de empresa constam no art.18-A da LEI 
123/2006. Receita bruta anual de até 81 mil reais; tributação pelo Simples Nacional, e 
7 
 
seu funcionamento dispensa assessoramento contábil, alvará de funcionamento, e 
direito a contratar 1 (um) funcionário. 
 
4.4 A Sociedade Empresária Limitada (LTDA) 
 
A sociedade empresária LTDA tem essa nomenclatura por ser a 
responsabilidade dos sócios “limitada”, tipo societário personificado, havendo uma 
separação do patrimônio, dos deveres e obrigações da sociedade em relação ao 
patrimônio, dos deveres e obrigações dos sócios. 
 
A separação do capital societário do patrimônio dos sócios se faz necessário, 
para que diante das execuções de dívidas e cobranças judiciais, em caso de falência, 
em regra, apenas o patrimônio integralizado possa ser responsabilizado diante do 
insucesso do negócio. Se o capital integralizado não for suficiente para arcar com 
todos os credores, os sócios terão seu patrimônio comprometido diante das ações 
executórias impetradas. 
 
4.5 A Sociedade Empresária de Responsabilidade Individual (EIRELI) 
 
A sociedade empresária EIRELI é uma empresa de sociedade empresarial 
limitada com apenas um sócio, em conformidade com o art.980-A CC/2002 “A 
empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única 
pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será 
inferior a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no país.” Título – I-A 
acrescentado pela LEI 11.441/2011. 
 
A EIRELI é uma pessoa jurídica, uma sociedade limitada unipessoal, e seu 
sócio único não se confunde com a pessoa jurídica, sendo esses sujeitos de direitos 
distintos. O sócio único possui responsabilidade “limitada”, diante do insucesso do 
negócio, não tem seu patrimônio comprometido, apenas o capitalintegralizado, o 
patrimônio da EIRELI pode ser atingido diante das ações executórias impetradas por 
seus credores. Ressalvado os casos de fraudes de acordo com o art. 50, §1º e §2º 
CC/2002, redação dada pela LEI 13.874/2019 (LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA). 
 
5 A FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA 
 
A função social da empresa se caracteriza pelo trabalho voluntário em ações 
sociais promovidas tanto para os empregados como para a sociedade e a comunidade 
em que ela está inserida. 
 
8 
 
Embora seja uma ação voluntária, há previsão legal quanto à função social da 
empresa, uma delas está na Lei 6.404/1976 Sociedades Anônimas, em seu Art.154, 
§ 4º estabelece a responsabilidade do conselho de administração ou da diretoria das 
S/A, que podem estabelecer a prática de “...atos gratuitos razoáveis em benefícios 
dos empregados ou da comunidade que participe a empresa, tendo em vista sua 
reponsabilidade social.” 
 
 A atividade econômica plenamente desenvolvida precisa estar vinculada ao 
princípio de justiça social, conforme expressa o art. 170 da Constituição Federal de 
1988, Da Ordem Econômica, cujo principal pilar é a valorização do trabalho humano, 
atuando pela soberania nacional, promovendo a função social da propriedade, a livre 
concorrência, a defesa do consumidor, a defesa do meio ambiente, a redução das 
desigualdades regionais e sociais, a busca pelo pleno emprego, e, o tratamento 
favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e 
que tenham sua sede e administração no país. 
 
Esse conjunto de princípios gerais da atividade econômica, expressos na 
Constituição Federal de 1988, justifica a importância da preservação da empresa 
como uma instituição fundamental na sociedade. A atividade econômica empresária, 
nada mais é do que, uma cadeia de pessoas, dependentes daquela atividade 
empresarial. 
 
5.1 A Preservação da empresa em razão de sua função social 
 
Assim como “a existência da pessoa natural termina com a morte...” (art. 6º, do 
CC/2002), a existência da empresa termina com a dissolução total da sociedade, que 
pode ser estabelecida com o encerramento voluntário das atividades ou com a 
falência. A pretensão da dissolução pode ser parcial, isso por atender o Princípio da 
Função Social da Empresa e o Princípio da Preservação da Empresa. 
 
O princípio da Preservação da Empresa está consagrado na Lei 11.101/2005 – 
Lei de Falências -, que em seu Art. 47 dispõe: 
 
A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de 
crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da 
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos 
credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social 
e o estímulo à atividade econômica. 
 
O princípio da preservação da empresa visa recuperar a atividade empresarial 
de sua crise econômica financeira ou patrimonial, afim de possibilitar a continuidade 
9 
 
da atividade do negócio, bem como a preservação dos empregos e o interesse dos 
credores. 
 
Assim, a preservação da empresa não está condicionada apenas aos 
interesses financeiros dos acionistas, credores e outros grupos economicamente 
envolvidos, mas ao interesse social, pois a empresa, os pequenos e grandes 
negócios, todos que fazem parte da ordem econômica, nos mais diversos setores da 
economia brasileira, servem a sociedade. Por isso a empresa é uma instituição 
fundamental na sociedade como fonte produtora de bens e serviços e geradora de 
emprego e renda. 
 
Por isso, em alguns países, com o objetivo de preservar a empresa como uma 
instituição fundamental na sociedade, têm mecanismos legais para transferir a 
titularidade de uma determinada empresa ao Estado ou a outros empresários, em 
casos de fraudes praticadas por seus sócios. Alguns exemplos incluem: 
 
a) Estados Unidos: No sistema legal dos EUA, a Securities and Exchange 
Commission (SEC) pode mover ações civis para remover os 
administradores de uma empresa e nomear um administrador temporário 
para proteger os interesses dos acionistas e credores da empresa. 
b) Reino Unido: A Insolvency Act de 1986 prevê a possibilidade de um 
liquidador judicial ser nomeado para administrar uma empresa insolvente e 
proteger os interesses dos credores. O liquidador pode vender a empresa a 
terceiros ou transferir sua titularidade ao Estado. 
c) Alemanha: A Lei de Falências e Insolvência (Insolvenzordnung) permite 
que um administrador judicial seja nomeado para administrar uma empresa 
insolvente. O administrador pode vender a empresa a terceiros ou transferir 
sua titularidade ao Estado. 
d) França: O Código de Comércio prevê a possibilidade de um administrador 
judicial ser nomeado para administrar uma empresa insolvente. O 
administrador pode vender a empresa a terceiros ou transferir sua 
titularidade ao Estado. 
 
As leis e os procedimentos específicos podem variar em cada país e 
dependerão do sistema legal e das práticas de cada jurisdição. Além disso, a 
transferência da titularidade da empresa ao Estado ou a outros empresários 
geralmente ocorre como último recurso, quando não há outras opções viáveis para 
preservar a empresa. 
 
10 
 
Na obra O Estatuto do Patrimônio Mínimo, Edson Fachin (2006) cita o Princípio 
de Preservação da Empresa. 
 
O princípio da preservação da empresa interessa ao Direito e à Economia, 
pela proteção que oferece à continuidade dos negócios sociais. Tal 
preservação da empresa tem uma notável importância. O princípio da 
preservação é gênero no qual a continuidade das atividades compõe espécie, 
e nele se encontra similitude com a guarida ao patrimônio mínimo, na 
hipótese inerente à manutenção do empreendimento. (FACHIN, 2006, p. 
187). 
 
Toda exposição até aqui, coaduna-se com o princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana, expresso da Constituição Federal de 1988, em seu art. 1º, inc. III. Quando 
se invoca o princípio do Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica, o objetivo é proteger 
as micro e pequenas empresas que não possuem capacidade contributiva, evitando 
o colapso financeiro e patrimonial da atividade econômica. Não é puramente um fim 
econômico, mas a proteção à vida e à dignidade da pessoa humana. 
 
No desafio de manter uma atividade econômica organizada, surge os pequenos 
empresários que enfrentam dificuldades financeiras, concorrência desleal, falta de 
recursos e pressão para manter seus negócios funcionando. Trabalhando longas 
horas e lidando com o estresse de gerenciar um negócio sem margem de lucro e, 
sendo obrigado a pagar tributos sem qualquer capacidade contributiva. O pequeno 
empresário é muitas vezes tão ou mais sacrificado que o trabalhador assalariado. 
 
6 O MÍNIMO EXISTENCIAL 
 
O Mínimo Existencial é um direito fundamental implícito no art. 25 da 
Declaração de Direitos Humanos da ONU (Organizações das Nações Unidas) de 1948 
e no parágrafo Único, do art. 6º, da Constituição Federal de 1988. Conceituado pela 
doutrina como um conjunto básico de direitos fundamentais, capaz de assegurar à 
pessoa humana uma existência digna. 
 
Conforme Bastos e Martins (1989), tradicionalmente, o Mínimo Existencial é 
vinculado às pessoas físicas, muito embora, as pessoas jurídicas também sejam 
titulares de direitos fundamentais, sempre que tais direitos e garantias forem 
compatíveis com sua natureza: 
 
Mais uma vez, aqui, quer-nos parecer que o Texto disse menos do que 
pretendia. A tomá-lo na sua literalidade seria forçoso convir que ele só 
beneficiaria às pessoas físicas. Mas, novamente, estaríamos diante de uma 
interpretação absurda. Em muitas hipóteses a proteção última ao indivíduo 
11 
 
só se dá por meio da proteção que se confere às próprias pessoas jurídicas. 
O direito de propriedade é um exemplo disto. Se expropriável uma pessoa 
jurídica, ela há de o ser mediante as mesmas garantias por que o são aspessoas físicas. (BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. 
Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1989) 
 
 Os direitos fundamentais constitucionais são característicos do Estado 
Democrático de Direito, fruto da luta e do sofrimento dos povos ante ao autoritarismo 
dos governantes. Assim, bem destacou Rudolf Von Ihering (1872), “...o nascimento 
do direito, assim como o nascimento do homem, é sempre acompanhado das 
violentas dores do parto”. (IHERING,2004, pag. 35). Os Direitos Fundamentais 
positivados constituem um sistema de limitações do poder Estatal, um legítimo direito 
de defesa do cidadão. 
 
De acordo com Eduardo Sabbag (2016, pág. 196), os primeiros registros 
históricos do “mínimo existencial” datam de 25 de maio de 1873. O Estado alemão 
fixou em 1000 thelers (moeda alemã) o limite de isenção para o contribuinte, sendo 
este o mínimo para a sua subsistência, chamado naquela ocasião de “mínimo vital”. 
 
No Brasil não há uma legislação especifica sobre o mínimo existencial, mas 
pode-se entender, a partir do texto constitucional, que o legislador é incentivado a 
estabelecer parâmetros que delimitem os itens que possam suprir as necessidades 
básicas das famílias mediante uma interpretação teleológica, no sentido e no alcance 
dos arts. 5º e 6° c/c IV do 7º (salário mínimo) da Constituição Federal. 
 
O Mínimo Existencial é o princípio fundamental dos programas do Bolsa Família 
e do Minha Casa Minha Vida do Governo Federal, intrinsicamente ligado ao princípio 
de dignidade da pessoa humana. Estes programas visam promover a inclusão social 
e a melhorar a qualidade de vida das famílias brasileiras em situação de 
vulnerabilidade. Enquanto, o Bolsa Família é um programa de transferência de renda 
para combater a pobreza e a desigualdade social, o Minha Casa Minha Vida busca 
facilitar o acesso à moradia digna para as famílias de baixa renda. 
 
Assim, conforme a expressão latina a maiori, ad minus, o que é válido para o 
mais, deve necessariamente prevalecer para o menos, ou seja, quem pode mais, pode 
menos. O Estado que tem o poder de tributar, é o mesmo que tem o poder de reduzir 
a carga tributária para proteger a renda e o patrimônio de quem não tem capacidade 
contributiva. 
 
7 O MÍNIMO EXISTENCIAL DA PESSOA JURÍDICA 
 
12 
 
Os direitos fundamentais foram conquistados com muitas lutas históricas, 
visando a garantia dos direitos básicos para uma existência digna, a qual estar 
pautada na soberania nacional do seu povo. Dessa maneira, a incorporação formal 
desses direitos na Carta Magna assegura as pessoas uma existência livre dos abusos 
e arbitrariedades do Estado, além de promover o respeito às mais diversas espécies 
de liberdade. 
 
No Estado Democrático de Direito as pessoas físicas são titulares de direitos e 
garantias fundamentais, porém muitos desses direitos elencados no rol do art. 5º da 
Constituição Federal, estendem-se as pessoas jurídicas. Assim, bem destacou 
Cavalcante e Muller (2018), invocando a doutrina do jurista José Afonso da Silva 
(2017, p.171) que diz: 
 
o princípio da isonomia, o princípio da legalidade, o direito de resposta, o 
direito de propriedade, o sigilo da correspondência e das comunicações em 
geral, a inviolabilidade do domicílio, a garantia do direito adquirido, ao ato 
jurídico perfeito e à coisa julgada, assim como a proteção jurisdicional e o 
direito de impetrar mandado de segurança [...] (SILVA, 2017 citado por 
CAVALCANTE; MULLER, 2018) 
 
 Gilmar Mendes e Paulo Branco em seu diálogo sobre Direitos Fundamentais e 
Pessoa Jurídica, lecionou: 
 
“Não há, em princípio, impedimento insuperável a que pessoas jurídicas 
venham, também, a ser consideradas titulares de direitos fundamentais, não 
obstante estes, originalmente, terem por referência a pessoa física. Acha-se 
superada a doutrina de que os direitos fundamentais se dirigem apenas às 
pessoas humanas. Os direitos fundamentais suscetíveis, por sua natureza, 
de serem exercidos por pessoas jurídicas podem tê-las por titular. Assim, não 
haveria por que recusar às pessoas jurídicas as consequências do princípio 
da igualdade, nem o direito de resposta, o direito de propriedade.” (MENDES; 
BRANCO, 2008, pag.305) 
 
A pessoa jurídica é dotada de direitos fundamentais, haja vista a devida 
proteção legal perante os diversos eventos de fraudes contra tal companhia. A Pessoa 
Jurídica é uma criação do mundo jurídico, cujo objetivo seria sua efetiva salvaguarda, 
assegurando-lhe, de pronto, os direitos e garantias relacionados à personalidade. 
 
A pessoa jurídica é um sujeito de direito personalizado, assim como as pessoas 
físicas, em contraposição aos sujeitos de direito despersonalizados, como o nascituro, 
a massa falida, entre outros. Desse modo, a pessoa jurídica tem a autorização 
genérica para a prática de atos jurídicos bem como de qualquer ato, exceto se for 
proibido por dispositivo legal. 
 
13 
 
Com a constituição do Estado social, nasceu uma necessidade latente de 
captação de recursos visando atingir, por completo, funções inexistentes nesse 
período histórico, possibilitando para a criação do Ente estatal interventor. Diante 
disso, surge a iminente realidade imposta pelo Estado social implicando 
intrinsecamente no aumento excessivo de tributos para manter robusto este Ser 
estatal e, por vezes, deixando de lado as liberdades individuais. 
 
Assim, com a gritante insatisfação popular, perante a intervenção estatal em 
suas propriedades, foi inaugurado o Estado Democrático de Direitos, com 
conceitos de limitações ao poder de tributar estatal, cujo objetivo foi evitar o 
caráter abusivo de tributos. (TORRES, 2005, p. 3). 
 
Portanto, na nova organização do Estado, é imperativo a obrigação tributária a 
todos os cidadãos como meio para que este possa arcar com os seus deveres e 
atribuições previstas, além de atender às demandas da população, em um Estado 
Democrático, além do respeito aos limites de tributação, promovendo uma existência 
humana pautada nos valores de liberdade, para evitar os abusos decorrentes das 
arbitrariedades estatais. 
 
Essa discussão inicia-se com o Liberalismo econômico, corrente de 
pensamento do século XIX, o qual difundia a ideia de um Estado Mínimo, já que 
impedia a intervenção estatal na propriedade e na economia, sendo que os tributos 
arrecadados seriam usados para fins de justiça, segurança e defesa externa. 
(SCHOUERI, 2011, pag. 22). 
 
A Constituição Federal de 1988, detalha, expressamente, os princípios gerais 
desde o artigo 145, pois existem muitos princípios que ratifica a atuação tributária em 
todo Texto constitucional, havendo, inclusive, princípios implícitos que podem surgir 
conforme a interpretação de outros artigos. Além disso, o poder de tributar inicia-se 
no artigo 150 e seguintes, sendo importante esclarecer que tal rol não é exaustivo, já 
que os princípios constitucionais podem surgir com a interpretação de todo o Texto 
Constitucional. (ÁVILA, 2006, pag. 53). 
 
É importante ressaltar que dessa extensão dos direitos fundamentais às 
pessoas jurídicas, o Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica não está estatuído 
expressamente na Constituição Federal de 1988, diferentemente, a Alemanha o 
contempla na sua Lei Fundamental da República Federal da Alemanha de 1949, em 
seu art. 19 e inciso III, [tradução livre]: “Os direitos fundamentais também são válidos 
para as pessoas jurídicas sediadas no país, conquanto, pela sua essência, sejam 
aplicáveis às mesmas”. 
 
Nessa toada, compreendemos, desde logo, que a maioria dos direitos 
fundamentais se aplica também as pessoas jurídicas. Dito isso, vamos analisar sobre 
o mínimo existencial e tratar sobre o devido respeito do seu patrimônio frente a 
atuação estatal. 
 
Não obstante, o mínimo existencial estar diretamente substanciado ao Princípio 
da Isonomia e, em decorrência deste, com o Princípio da Capacidade Contributivado 
14 
 
contribuinte, além da abordagem do Princípio da Proibição do Confisco. O objetivo é 
adentrar o direito de proteção ao mínimo existencial, que tem a base no 
desdobramento de tais princípios, quando se trata de direito de tributar. 
 
O Princípio da Isonomia está intimamente correlacionado aos parâmetros que 
o Estado deve seguir para arrecadação adequada dos impostos, como, por exemplo, 
a regra que veda à União, Estados, Distrito Federal e Municípios instituírem 
tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, 
conforme artigo 150, II, da Magna Carta. 
 
É oportuno também ressaltar que a igualdade, vista na Isonomia, está 
umbilicalmente ligada à capacidade contributiva das pessoas, pois somente a 
segunda pode operacionalizar a aplicação de tributos, exigindo a submissão a um 
maior ou menor ônus tributário, de acordo com a força econômica do contribuinte de 
suportar os encargos. 
 
Nesse diapasão, a Súmula 481 do TST diz: “Faz jus ao benefício da justiça gratuita 
a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar 
com os encargos processuais.” (Súmula 481, TST, 2012). 
 
Observa-se, portanto, o direcionamento da jurisprudência brasileira no sentido 
de aplicar os direitos fundamentais também às pessoas jurídicas, como forma de 
concretização legítima dessa premissa constitucional, ou seja, o reconhecimento 
formal e material desses direitos, buscando o respeito aos limites da tributação de 
cada contribuinte, seja pessoa física, seja jurídica. 
 
No Estado Democrático de Direito os cidadãos são titulares de direitos 
fundamentais, e para o exercício desses direitos, é necessário um ambiente de 
segurança jurídica, de forma que permita aos cidadãos questionar ao Estado o 
descumprimento dos direitos fundamentais conferidos na Constituição Federal. Esses 
direitos decorrem da necessidade de proteção ao cidadão em face do poder Estatal, 
sendo este um direito de defesa (ALEXY, 2008, pag. 456), pois nessa relação jurídica 
tributária, a parte mais frágil diante do poder do Estado é o contribuinte. 
 
 Como disse Machado (2009), o Direito é um sistema de limitações, fruto e 
instrumento da racionalidade humana, logo a segurança jurídica e a justiça são 
valores fundamentais da humanidade, cabendo ao direito preserva-los. 
 
7.1 A Capacidade Contributiva 
 
O Princípio da Capacidade Contributiva aparece no Brasil na Constituição de 
1824, no art. 179, XV, o qual dizia o seu conteúdo: “ninguém será exemplo de 
contribuir para as despesas do Estado na proporção de seus haveres” 
 
Na Constituição de 1946, o princípio constava expressamente no art. 202: 
15 
 
“Os tributos terão caráter pessoal, sempre que isso for possível, e serão 
graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte.” 
 
A Capacidade Contributiva foi acolhida, ainda que implicitamente, na 
Constituição de 1965, porém, é na Constituição de 1988 que este princípio se reveste 
com toda a sua força normativa no art. 145: 
 
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão 
instituir os seguintes tributos: 
[...] 
§ 1o. Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão 
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à 
administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses 
objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o 
patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. 
 
O legislador constituinte, levou em consideração a classificação dos impostos 
como reais ou pessoais. São reais os impostos cuja incidência não leva em 
consideração aspectos pessoais, ou seja, incidem de forma objetiva sobre a base 
econômica. Como exemplo, têm-se: IPTU, o IPVA, o IPI, o ICMS, dentre outros. Um 
produto comprado por um trabalhador assalariado, cuja incidência de ICMS é de 18% 
embutido no preço, também é cobrado o mesmo valor de ICMS do contribuinte 
abastado financeiramente, adquirente do mesmo produto. Já os impostos que 
possuem caráter pessoal, que incidem de forma subjetiva, considerando os aspectos 
pessoais do contribuinte, sob esse ponto de vista, é o imposto de renda, o IRPF, que 
leva em consideração a quantidade de dependentes, os gastos com saúde, educação, 
previdência social e etc. 
 
Assim, de acordo com Cavalcante e Muller (2018), o significado do princípio da 
capacidade contributiva é constatado mediante as respostas às seguintes perguntas: 
Quem pode pagar tributos? Quanto efetivamente poderá ser pago? Qual o montante 
suportado pelo contribuinte? Como atingir o limite da tributação sem representar 
confisco? 
 
É fundamental a observância do princípio de isonomia, por ser uma tarefa difícil 
de identificar a capacidade contributiva de cada cidadão, uma vez que o Estado 
necessita que cada um contribuía com parcela de seu patrimônio para bancar as suas 
despesas com segurança, educação, saúde e demais necessidades estatais. Sob 
esse aspecto, o Estado deve respeitar o princípio do mínimo existencial de cada 
cidadão, não tributando o contribuinte de forma excessiva, colocando em risco a sua 
existência digna ou de modo a inviabilizar a atividade econômica empresarial. 
 
A técnica fiscal é a responsável pela identificação da aptidão econômica de 
cada sujeito passivo, extraindo assim, a capacidade contributiva. Por meio próprios, a 
16 
 
administração tributária, deve localizar o patrimônio, os rendimentos e as atividades 
econômicas de cada contribuinte, e a partir daí, criar uma tributação mais justa, de 
acordo com essas características pessoais. 
 
Nesse diapasão, ao falar de equidade tributária, destaca-se o a LEI DO 
SIMPLES NACIONAL, o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de 
Pequeno Porte, a Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006. Conhecida 
como a lei do Simples Nacional, ela trouxe privilégios e benefícios para as empresas 
brasileiras com o regime tributário simplificado, cujos impostos incidem sobre o 
faturamento mensal declarado, levando em consideração a tabela progressiva, de 
acordo com a faixa de faturamento anual. 
 
7.2 A Capacidade Contributiva e a Lei 123/2006, Lei do SIMPLES NACIONAL 
 
Cumpre destacar que a lei do SIMPLES NACIONAL obedece ao princípio de 
capacidade contributiva, estabelecida nos seguintes termos: quem tem a maior 
capacidade econômico-financeira, paga mais, e quem tem a menor capacidade 
econômico-financeira, paga menos. 
 
No portal do Simples Nacional, em janeiro de 2023, o número de empresas com 
esse enquadramento era de 19,5 milhões, sendo que, esse número pode mudar de 
acordo com o desenquadramento e enquadramento das empresas ao regime 
tributário simplificado. 
 
Entretanto, mesmo possuindo imposto simplificado, com todos os tributos 
arrecadados numa única guia para pagamento, a PGDAS, e alíquota progressiva, 
conforme tabelas do SIMPLES; forma mais facilitada para administração, são as 
empresas que mais fecham no Brasil. 
 
O Site a Folha de São Paulo (2021), divulgou a pesquisa realizada pelo Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, (2019), que diz que, o percentual de 
empresas que sobrevivem após os 5 anos de abertura é de aproximadamente 37,5%. 
A pesquisa aponta que a maior causa de fechamento de empresas, cerca de 80% 
delas, é o sufocamento financeiro, onde os seus gestores alegam concorrência 
desleal, dificuldade no acesso ao crédito, entre outros motivos. 
 
A falta de conhecimento técnico dos administradores também é um fator 
preocupante, que pode ser responsável direito pelo sufocamento financeiro dos 
negócios no Brasil, e consequentemente, amplia ainda mais a problemática fiscal das 
micro e pequenas empresas. Há a necessidade de aperfeiçoamento técnico em 
17 
 
gestão financeira e fiscal. Assim, diante desse problema, destaca-se a ação do 
Sistema “S”, com o trabalhode desenvolvimento e qualificação profissional dos 
pequenos empreendedores, por meio de cursos, palestras e acompanhamento 
através do SEBRAE, SESC, SENAC, SEST SENAT e SESI. 
 
Por outro lado, o Estado com a sua técnica fiscal e ciência das finanças, é 
incapaz de determinar a capacidade contributiva das empresas inseridas na LEI 
123/2006, visto que é um problema muito grave, pois as empresas por não 
conseguirem pagar seus tributos, ficam inadimplentes perante o fisco, acumulando 
juros e multas, acabam se endividando, comprometendo toda a sua cadeia de 
produção. 
 
Há de se observar também, que não se pode exigir do legislador ou intérprete, 
que ele cumpra cabalmente a expressão “se possível” do §1º do art. 145 da 
Constituição Federal, pois como disse MACHADO SEGUNDO (2017), a Observância 
“Sempre que possível”, expressada, não significa que o atendimento aos princípios 
de pessoalidade e capacidade contributiva dependa da vontade do legislador ou do 
interprete, ou ainda, de determinadas circunstâncias econômicas, mas trata-se, na 
verdade, de metas e diretrizes, que devem ser consideradas com o máximo de 
efetividade possível, conforme o ordenamento jurídico. 
 
Os limites à sua aplicação são fornecidos pelo próprio direito, e não pela boa 
vontade do legislador ou do aplicador da lei. Nesse sentido, pode-se mesmo 
dizer que a expressão é desnecessária, pois toda e qualquer determinação 
contida em uma norma jurídica somente poderá ser exigida se seu 
cumprimento for possível. (MACHADO SEGUNDO, 2017, pag. 14). 
 
Nessa mesma toada, o Site da Exame.com (2022), apresenta também dados 
de uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC) e também da Comissão 
de Valores Mobiliários – CVM (2019), que diz, que o lucro líquido das empresas no 
Brasil não passa de 8%. Os dados dão conta que o lucro líquido médio das empresas 
listadas na Bolsa de Valores Brasileira – B3 (2019), alcançou um percentual de 7,2%. 
Esses dados podem variar, de acordo com cada setor e porte das companhias. 
 
Entretanto, é importante destacar que o lucro líquido médio das empresas 
optantes pelo Simples Nacional não é oficialmente aferido. Isso ocorre porque, no 
regime tributário simplificado, os dados econômicos não são divulgados publicamente. 
 
As empresas que estão listadas na B3 possuem capital aberto, geralmente as 
S.A, elas são obrigadas a divulgar seus balanços financeiros, elas possuem uma 
18 
 
condição econômica superior às microempresas e empresas de pequeno porte, uma 
realidade muito distante. 
 
Uma característica das empresas optantes pelo Simples Nacional, é a margem 
de lucro baixa gerada pela falta de conhecimento técnico, planejamento e gestão. 
Muitas, mesmo faturando, possuem dificuldade para pagar tributos. Assim, conforme 
a faixa de faturamento muda, a tabela do Simples Nacional muda progressivamente, 
as empresas passam a pagar mais tributos na proporção em que aumentam de 
faturamento. A princípio, a regra da progressividade do Simples Nacional não seria o 
principal problema, mas a sua interpretação automática, de forma simplista, baseada 
apenas no aumento de faturamento, ou seja, quem fatura mais paga mais, e quem 
fatura menos paga menos, mas a realidade é, nem sempre uma empresa que está 
aumentando seu faturamento tem capacidade contributiva. 
 
O problema da tributação dos pequenos negócios sem capacidade contributiva 
consiste na intepretação dessa capacidade, pois se o tributo fosse cobrado levando 
em consideração a verdadeira capacidade do contribuinte, este não entraria em 
colapso financeiro, não se endividaria fiscalmente, assim, se evitaria o fechamento 
dos pequenos negócios no Brasil. É uma questão de equidade, de justiça fiscal, a 
igualdade tributária não é o bastante. 
 
O SIMPLES NACIONAL é insuficiente para atender ao princípio da capacidade 
contributiva, no entanto, represente um avanço no sistema tributário, por sua proposta 
inicial de equidade, necessitando de atualização para acompanhar as novas 
realidades das atividades econômicas no Brasil, devendo criar novos mecanismos de 
interpretação da capacidade contributiva dos pequenos negócios, a fim de tributar de 
forma mais justa. 
 
7.3 O Efeito Confiscatório 
 
Uma vez compreendido que o direito à propriedade privada é um direito 
fundamental individual, conforme expressa Inc. XXII do art. 5º e o Inc. II do art. 170 da 
Constituição Federal de 1988, o qual, não só a pessoa física goza desse direito, mas 
também a pessoa jurídica. Assim, o Estado deve proteger esse direito, se abstendo 
de usar tributo com efeito confiscatório, não intervindo na propriedade privada, criando 
e majorando tributos de forma excessiva ou de forma punitiva, ao ponto de prejudicar 
a dignidade da pessoa humana ou inviabilizar a atuação das atividades econômicas 
no Brasil. 
 A Constituição Federal, com base no princípio da Capacidade Contributiva, diz 
ao Estado como deve tributar, nos termos do art. 145, §1º, ao passo que, a 
19 
 
Constituição Federal diz também para o Estado se abster do imposto com efeito 
confiscatório, em obediência ao Princípio do Não Confisco, Das Limitações ao Poder 
de Tributar, no art. 150, e Inc. IV: 
 
“Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à 
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:” 
 
IV - Utilizar tributo com efeito de confisco; 
 
É neste mesmo diapasão, que o professor Ricardo Alexandre (2016, pag. 138) 
ensina: 
 
Em termos menos congestionados, tributo confiscatório seria um tributo que 
servisse como punição; já tributo com efeito confiscatório seria o tributo com 
incidência exagerada de forma que, absorvendo parcela considerável do 
patrimônio ou da renda produzida pelo particular, gerasse neste e na 
sociedade em geral uma sensação de verdadeira punição. As duas situações 
estão proibidas, a primeira (confisco) pela definição de tributo (CTN, art. 3.º); 
a segunda (efeito de confisco) pelo art. 150, IV, da CF/1988. 
 
Um único tributo pode não representar um confisco, mas a carga tributária 
dentro de um único mês corrente, numa pequena empresa sem capacidade 
contributiva, pode trazer um efeito confiscatório da renda e do patrimônio daquela 
atividade econômica. Assim, bem asseverou Gandra Martins: 
 
Na minha especial maneira de ver o confisco, não posso examiná-lo a partir 
de cada tributo, mas da universalidade de toda a carga tributária incidente 
sobre um único contribuinte. Se a soma dos diversos tributos incidentes 
representa carga que impeça o pagador de tributos de viver e se desenvolver, 
estar-se-á perante carga geral confiscatória, razão pela qual todo o sistema 
terá que ser revisto, mas principalmente aquele tributo que, quando criado, 
ultrapasse o limite da capacidade contributiva do cidadão. (MARTINS, 2001, 
pag. 178). 
 
De acordo com ALEXANDRE (2016), o princípio de vedação do efeito 
confiscatório poderia ser denominado de razoabilidade ou proporcionalidade da carga 
tributária, que conforme a Constituição, o legislador partindo dessa ideia, no uso do 
poder de tributar, deve fazê-lo de forma razoável e moderada, sem o efeito de impedir 
as atividades licitas do cidadão contribuinte, com o fim de não comprometer a sua 
dignidade ou necessidades vitais. 
 
7.4 A Configuração do Efeito Confiscatório 
 
20 
 
A configuração do efeito de confisco ocorre quando o Estado institui carga 
tributária superior a capacidade contributiva do cidadão, absorvendo parte do 
patrimônio do contribuinte, causando-lhe a constrição patrimonial. 
 
De acordo com ALEXANDRE (2016, pag.138), o efeito de confisco é 
indeterminado, podendo variar, a depender das “...concepções político-filosóficas do 
intérprete...”, não significa que seja impossível de identificar, casos perceptíveis de 
ausência de razoabilidade, numa cobrança pelo fisco, o judiciário venha a reconhecer 
a existênciade abuso do poder de tributar, tendo em vista a absorção de parcela 
considerável do patrimônio ou renda do contribuinte. 
 
ALEXANDRE (2016) enxerga que a cláusula do art. 150, e Inc. IV, é de conceito 
aberto ou indeterminado, ficando a cargo do interprete, avaliar caso a caso, porém 
alguns parâmetros podem ser definidos a partir da jurisprudência do STF, no exemplo, 
o Julgamento da ADI, 551/RJ. 14.02.2003. (Grifou-se): 
 
Fixação de valores mínimos para multas pelo não recolhimento e sonegação 
de tributos estaduais. Violação ao inciso IV do art. 150 da Carta da República. 
A desproporção entre o desrespeito à norma tributária e sua consequência 
jurídica, a multa, evidencia o caráter confiscatório desta, atentando contra o 
patrimônio do contribuinte, em contrariedade ao mencionado dispositivo do 
texto Constitucional Federal. (STF, Tribunal Pleno, ADI 551/RJ, Rel. Min. 
Ilmar Galvão, j. 24.10.2002, DJ 14.02.2003, p. 58). 
 
Um outro exemplo, foi o voto do Min. Celso de Mello na ADC 8-MC apud 
ALEXANDRE (2016), (grifou-se): 
 
A identificação do efeito confiscatório deve ser feita em função da totalidade 
da carga tributária, mediante verificação da capacidade de que dispõe o 
contribuinte considerado o montante de sua riqueza (renda e capital) – para 
suportar e sofrer a incidência de todos os tributos que ele deverá pagar, 
dentro de determinado período, à mesma pessoa política que os houver 
instituído (a União Federal, no caso), condicionando-se, ainda, a aferição do 
grau de insuportabilidade econômico-financeira, à observância, pelo 
legislador, de padrões de razoabilidade destinados a neutralizar excessos de 
ordem fiscal eventualmente praticados pelo Poder Público. Resulta 
configurado o caráter confiscatório de determinado tributo, sempre que o 
efeito cumulativo – resultante das múltiplas incidências tributárias 
estabelecidas pela mesma entidade estatal – afetar, substancialmente, de 
maneira irrazoável, o patrimônio e/ou os rendimentos do contribuinte (STF, 
Tribunal Pleno, ADC-MC 8/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 13.10.1999, DJ 
04.04.2003, p. 38). 
 
21 
 
 Seguindo, nesta mesma toada, a Enciclopédia Jurídica da PUCSP (2019), trouxe o 
mesmo argumento, dizendo: 
 
A capacidade contributiva é estremada por dois limites que também 
configuram princípios constitucionais tributários da mais alta importância. 
Brevemente, de um lado a capacidade contributiva termina onde começam 
os efeitos confiscatórios expressamente vedados pela Constituição. De outro, 
a capacidade contributiva é ferida quando a tributação atinge o mínimo 
existencial. Compreendido em relação aos seus limites, verifica-se que o 
princípio equivale a um preceito de razoabilidade na tributação que não deve 
ser débil, o que ocasionaria uma má repartição da carga tributária, tampouco 
deve ser intensa a ponto de comprometer o direito à vida ou à propriedade. 
(Enciclopédia Jurídica da PUCSP. 2019, Capacidade Contributiva, Tomo 5, 
pag. 10). 
 
Dessa forma, segundo o que se observa na jurisprudência do STF, não é 
possível avaliar o efeito de confisco levando em consideração apenas a incidência de 
um único tributo, mas de toda a carga tributária. 
 
8 A CARGA TRIBUTÁRIA 
 
A Carga Tributária é a relação entre a soma da arrecadação Federal, Estadual 
e Municipal e o Produto Interno Bruto (PIB), buscando analisar o fluxo de recursos 
financeiros direcionados da sociedade para o Estado, incluindo todas as formas de 
tributação direita e indireta em todos os níveis do governo. 
 
A Carga Tributária refere-se aos recursos que o Estado consegue arrecadar 
em conjunto com a população e as empresas, a fim de financiar suas atividades, 
dentro da estrutura social e econômica. 
 
Como disse o professor Hugo de Brito Machado (2009), “...pagar tributo é um 
dever fundamental do cidadão...” Assim, o dinheiro pago pelo contribuinte paga todas 
as despesas do governo, incluindo os repasses aos estados que não são 
autossuficientes nas finanças. 
 
8.1 A Carga Tributária do Brasil 
 
Conforme o Site Observatório de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de 
Economia da Fundação Getúlio Vargas, divulgado em 05/07/2023, informou que: no 
ano de 2022 a Carga Tributária bateu recorde, alcançando o percentual de 33,71% e 
do PIB (Produto Interno Bruto), sendo arrecadados em impostos o valor de 2,218 
trilhões de reais. Sendo este o maior patamar desde o ano de 1990. 
22 
 
 
 
 Carga tributária decomposta por destinação (%PIB) 
 
 2021 2022 VARIAÇÃO 
TOTAL 33,06% 33,71% 0,65% 
Federal 20,12% 20,93% 0,81% 
Para-Fiscal 1,80% 1,85% 0,05% 
Estados 8,93% 8,59% -0,34% 
Municípios 2,21% 2,34% 0,13% 
 
O estudo apontou que no ano de 2022 a receita do governo obteve superávit 
de 0,81%, enquanto que os Estados sofreram uma perda de 0,34% de suas receitas, 
isso se deve ao fato do governo ter criado em 2022 políticas de preço para os 
combustíveis, afetando diretamente a arrecadação do principal tributo dos Estados, o 
ICMS. 
 
8.2 A Carga Tributária do Brasil em Comparação com Países da OCDE. 
 
A Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa 
Aplicada (Dimac/Ipea), disponibilizou a nota de conjuntura nº 60 em seu site, após 
realizar estudos para avaliar os impactos da reforma tributária na economia brasileira. 
Assim, o instituto avaliou a Carga Tributária Brasileira (CTB) em comparação com 
outros países desenvolvidos da OCDE. 
 A Carga Tributária do Brasil em 2021 foi de aproximadamente 33,9%, 
enquanto que a média dos países da Organização para Cooperação e o 
Desenvolvimento Econômico (OCDE) ficou em 34,1%, ou seja, a Carga Tributária 
Brasileira (CTB) está próximo da média da OCDE. Mas quando se analisa o contexto 
23 
 
da América Latina e Caribe, o Brasil tem a maior carga tributária como proporção do 
PIB em 2021, onde a carga média para esse grupo de países foi de 21% do PIB, 
conforme a OCDE. 
 
Incidência Brasil Média 
OCDE 
Maior 
OCDE 
Quem? Menor 
OCDE 
Quem? 
Carga Tributária Total 33,81 34,1 67,2 Dinamarca 16,7 México 
Renda, Lucros e 
Ganhos de Capital 
8,2 11,6 30,7 Dinamarca 7,3 México 
Salários e Seguridade 8,9 9,8 16,4 República Checa 0,1 Dinamarca 
Propriedade 1,7 1,9 4,5 Coreia 0,2 República Checa 
Consumo de Bens e 
Serviços 
15,01 10,8 15,6 Hungria 4,4 Estados Unidos 
 
 A Estrutura brasileira é dependente da tributação sobre o consumo, onde o 
nível de incidência sobre o Consumo de Bens e Serviços é de 15,1%, ou seja, próximo 
do país mais taxa o consumo, a Hungria, que tributa o consumo em 15,6% do PIB. 
 
A Carga Tributária Manteve-se instável de 2010 a 2021, registrando a maior 
carga tributária de 33,9%, muito provavelmente em virtude da Pandemia de Covid-19, 
que trouxe impactos consideráveis na economia, onde a média da CTB ficou em 
32,5%. 
 
Quando se avalia a CTB por competência dos níveis federativos, mostra que 
66, 3%, é de competência Federal, os Estados ficam com 26,8% e os Municípios com 
apenas 6,9%. 
 
NÍVEL 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 %MÉDIA %MÉDIA 
ANO 2021 
Estadual 8,2 8,1 8,1 8,2 8,0 8,1 8,1 8,3 8,4 8,5 8,5 9,1 8,3 26,8 
Municipal 1,7 1,8 1,8 1,9 1,9 2 2 2 2,1 2,3 2,3 2,3 2,0 6,9 
Federal 22,4 23,2 22,8 22,5 21,8 22 22 22 22,1 21,9 21 22,5 22,2 66,3 
Total 32,3 33,1 32,7 32,6 31,7 32,1 32,1 32,3 32,6 32,7 31,8 33,9 32,5 100,00 
 
A carga tributária pode variar de acordo com o sistema político-econômico 
adotado em cada país. Alguns países, de economia liberal, não possuem sistema de 
saúda gratuito, destacando-se os Estados Unidos, Austrália, Holanda, Alemanha e 
Índia. Pode-se dizer, que a carga tributária brasileira é compatível com a quantidade 
de serviços que são oferecidos pelo governo a população. Tendo como exemplo, aqui 
no Brasil, a nível mundial, o Sistema Único de Saúde (SUS). 
24 
 
8.3 O sentido e o Alcance do Mínimo Existencial da Pessoa JurídicaO Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica mostra-se eficaz para proteger a 
renda, o patrimônio e as atividades econômicas, assim como ocorre com as pessoas 
físicas, os entes coletivos podem ter patrimônio sem capacidade contributiva, e 
mesmo assim, serem obrigados a pagar tributos. O Mínimo Existencial da Pessoa 
Jurídica aponta para um limite inferior de renda ou patrimônio que deveria ser excluído 
da tributação, representando uma limitação aos poderes da administração tributária. 
 
O alcance do mínimo existencial da pessoa jurídica foi destaque de (DANIEL 
apud CAVALCANTE, MULLER, 2018, pag. 44): 
 
Como exigência constitucional à aplicação da justiça fiscal, o mínimo isento 
não se aplica apenas às pessoas físicas. Ele deve ser considerado sempre 
que houver manifestação de riqueza tributável, independentemente de quem 
seja o titular dessa riqueza. Nenhum sujeito de direito que tenha ingressos 
que se prestem apenas à sua manutenção básica pode ser constrangida a 
contribuir com os gastos públicos. (2006, p. 47). 
 
A norma e jurisprudência tem alcançado esse fim, tal como as pessoas físicas 
e jurídicas no exercício do direito de ação, quando no uso da justiça gratuita (art. 98 
do CPC), bastando a pessoa física a simples declaração de hipossuficiência, e no 
caso da pessoa jurídica, a demonstração de insuficiência de lucros, conforme Súmula 
463, TST. 
 
Como já demonstrado anteriormente, no princípio da função social da empresa, 
grande é a importância dessa instituição na sociedade, e assim, portanto, o Estado 
deve preserva-la. Assim, bem asseverou Cavalcante e Muller (2018), dizendo: 
 
Assim, o caráter dual da função social da empresa garante que o empresário 
se obrigue a cumprir certas exigências em nome da comunidade ou do 
próprio Estado que se beneficia de sua atuação. Ao mesmo tempo, a função 
social também tem o condão de obrigar o Estado a respeitar os direitos 
fundamentais da pessoa jurídica, estando, entre tais direitos, 
indubitavelmente, o da tributação justa. (CAVALCANTE; MULLER, 2018, 
pag. 45) 
 
No Direito Tributário, o princípio do “mínimo existencial” coaduna com o 
princípio da capacidade contributiva, assim o Estado através da técnica fiscal e da 
ciência econômica tem a responsabilidade de interpretar o limite máximo que um 
contribuinte suporta pagar em tributos. 
25 
 
 A fim de determinar a isenção do patrimônio mínimo da empresa, Cavalcante 
e Muller (2018), disse: 
 
Como modo de auferir qual seria o mínimo isento a ser respeitado, deve-se 
considerar se existe renda além da necessária para manter a atividade 
empresarial de acordo com a realidade e os recursos da organização 
específica, já que análises fixas impedem o ente tributante de perceber 
peculiaridades. (CAVALCANTE; MULLER, 2018, pag. 45) 
 
Assim, conclui-se que o modelo mais próximo do ideal é o Lucro Real, onde a 
empresa precisa demonstrar lucro para ser tributada. A forma de apuração dos 
impostos no Simples Nacional ocorre com base no faturamento, e como uma aula 
básica de contabilidade, o faturamento não representa lucro. 
 
Na busca por um sistema tributário mais justo, surge a REFORMA 
TRIBUTÁRIA, fruto da PEC45/2019 que traz consigo muitos avanços no Sistema 
Tributário Brasileiro, porém ela não abarca o Simples Nacional, assim, ela não resolve 
o problema da capacidade contributiva das Microempresas e Empresas de Pequeno 
Porte, deixando de fora. 
 
Quando se fala em impenhorabilidade do patrimônio mínimo da pessoa jurídica, 
invoca-se a doutrina de Edson Fachin (2001), que em sua obra intitulada; O Estatuto 
do Patrimônio Mínimo (2001), a sua teoria, diz que a pessoa física tem direito a 
proteção de um patrimônio mínimo impenhorável, capaz de promover a manutenção 
da sua dignidade. Com base nesse princípio, também as pessoas jurídicas sem 
capacidade contributiva fazem jus a esse direito. 
 
Nesse diapasão, tem-se a Súmula 364 do STJ: 
 
O imóvel residencial do próprio casal ou da entidade familiar, é impenhorável 
e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, 
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais 
ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses 
previstas nesta Lei. (Súmula 364, STJ, 2006). 
 
O respeito ao Mínimo Existencial da pessoa jurídica representa a proteção de 
um conjunto de bens e recursos necessários para a manutenção da atividade 
empresarial e da própria existência da empresa, estabelecendo um limite inferior de 
renda ou patrimônio que deve ser excluído da tributação por um período de tempo, 
limitando os poderes da administração tributária, enquanto o contribuinte não 
apresentar renda ou patrimônio compatível para ser alcançado pela tributação. 
 
26 
 
Assim, conclui-se que o Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica é um conjunto 
de bens e recursos livres da intervenção estatal, o mínimo que uma empresa precisa 
ter, suficiente para cumprir com suas obrigações e continuar operando, sem que haja 
o comprometimento de sua capacidade produtiva, financeira, tributária e social. 
 
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O Mínimo Existencial da Pessoa Jurídica, mesmo não estando expressamente 
na Constituição Federal, a jurisprudência e a doutrina reconhecem que a pessoa 
jurídica é titular de direitos fundamentais assim como as pessoas físicas. 
 
Como acontece com as pessoas físicas, cabe ao Estado proteger o patrimônio, 
a renda e as atividades econômicas da pessoa jurídica, limitando o poder de tributar, 
respeitando o direito individual da propriedade privada, excluindo da tributação o 
patrimônio mínimo da pessoa jurídica sem capacidade contributiva. 
 
O presente estudo buscou analisar o caso das empresas do Simples Nacional, 
por considerar a atuação das Microempresas e Empresas de Pequeno essencial para 
o desenvolvimento econômico no Brasil. 
 
A maior dificuldade encontrada no trabalho foi estabelecer, o que se chama de 
mínimo isento, um limite de patrimônio que poderá ficar de fora da tributação, quando 
demonstrado a insuficiência de lucro ou patrimônio compatível. Todavia, cabe a 
administração tributária essa competência detecção da capacidade contributiva dos 
pequenos negócios. Uma vez, a capacidade contributiva das empresas do Simples 
Nacional, é feita de forma automática, minimalista e com base no faturamento, 
levando em consideração apenas aspectos reais, possuindo em alguns casos, uma 
carga tributária incompatível com a capacidade contributiva. 
 
 Como visto anteriormente, a realidade das empresas no Brasil, principalmente 
das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte é muito complexa, necessitando 
de uma análise profunda por parte da administração tributária, a fim de tributar as 
atividades econômicas com equidade. 
 
O que se busca é uma tributação baseada no princípio de justiça fiscal, com 
equidade. Com base na Constituição no art. 145 e §1º, que diz, que os impostos 
sempre que possível terão caráter pessoal, graduados segundo a capacidade 
econômica do contribuinte, ou seja, de acordo com aspectos subjetivos, observando 
muito mais o interior de uma empresa, do que artificialmente por fora, com base no 
27 
 
faturamento. Falta um olhar humano, assim como ocorre com a pessoa física no 
Imposto de Renda. 
 
No Brasil há uma cultura que diz, se você tem um CNPJ é porque você tem 
dinheiro. A realidade é bem diferente para as pequenas empresas. Empresários são 
cidadãos, muitas vezes, assim como trabalhadores assalariados, que atrasam contas, 
que negociam dívidas com os fornecedores todos os dias para não fechar as portas. 
 
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