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Sociologia 
jurídica
Universidade do Sul de Santa Catarina
Sociologia jurídica
Este livro apresenta as relações existentes entre 
sociedade e Direito, tendo como pressuposto o fato 
de que o Direito situa-se dentro da sociedade, e não 
acima dela. Nesta perspectiva, os temas tratados 
em cada capítulo pretendem reconectar Direito e 
sociedade, reproduzindo o percurso histórico da 
construção epistemológica da Ciência Jurídica.
Universidade do Sul de Santa Catarina
UnisulVirtual
Palhoça, 2013
Sociologia 
Jurídica
Livro didático
Designer instrucional
Luiz Henrique Queriquelli
Maria Terezinha da Silva do Sacramento
UnisulVirtual
Palhoça, 2013
Sociologia 
Jurídica
Livro Didático
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
Copyright © 
UnisulVirtual 2013
Professora conteudista
Maria Terezinha da Silva do Sacramento
Designer instrucional
Luiz Henrique Queriquelli
ISBN
978-85-7817-607-5
Projeto gráfico e capa
Equipe UnisulVirtual
Diagramador(a)
Daiana Ferreira Cassanego
Revisor(a)
Amaline Boulos Issa Mussi
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por 
qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
340.2
S12 Sacramento, Maria Terezinha da Silva do
Sociologia jurídica : livro didático / Maria Terezinha da Silva 
do Sacramento ; design instrucional Luiz Henrique Queriquelli. – 
Palhoça : UnisulVirtual, 2013.
112 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-607-5
1. Sociologia jurídica. I. Queriquelli, Luiz Henrique. II. Título.
Sumário
Introdução | 7
Capítulo 1
Abordagem sociológica do sistema jurídico | 9
Capítulo 2
Definições sociológicas do Direito | 23
Capítulo 3
Estado, poder e controle social e segurança | 57
Capítulo 4
Criminologia e antropologia | 85
Considerações Finais | 103
Referências | 105
Sobre a Professora Conteudista | 111
7
Introdução
Este livro pretende levá‑lo/a a refletir sobre a sociedade e sobre o Direito. 
O pressuposto é que o Direito situa‑se dentro da sociedade, e não acima dela. 
Nesta perspectiva, os temas tratados em cada capítulo pretendem reconectar 
Direito e sociedade, reproduzindo o percurso histórico da construção 
epistemológica da Ciência Jurídica.
A abordagem sociológica do Direito representa a oportunidade de revelar os 
muitos atalhos que marcaram o surgimento do Direito. Há, porém, dois pontos 
que unem sociedade e Direito: a busca incansável da ordem e a certeza de ser o 
homem um ser gregário por natureza. Em qualquer civilização ou realidade social, 
o operador do Direito é um agente da sua cultura. Seria, então, correto pensar o 
Direito como uma singularidade da razão científica?
A resposta a esta questão é assegurada pela presente abordagem sociológica 
do sistema jurídico, a identificação dos pontos de conexão entre Sociologia 
Jurídica e Ciência Jurídica, e, consequentemente, a diferenciação do monismo 
e pluralismo jurídico.
Boa leitura!
Prof.ª Maria Terezinha da Silva do Sacramento
9
Seções de estudo
Habilidades
Capítulo 1
Abordagem sociológica 
do sistema jurídico
Identificar e relacionar a origem da Sociologia 
Jurídica como processo interpretativo do Direito e 
extrair dos movimentos e das Escolas do Direito 
e da Sociologia, conclusões e fundamentos para 
julgar o melhor método de aplicação do Direito.
Seção 1: A origem histórica do Direito
Seção 2: As principais escolas do Direito
10
Capítulo 1 
Seção 1
A origem histórica do Direito 
Quando se tenta reproduzir a história do Direito a partir da modernidade até 
os dias atuais, há um risco iminente de se reter a lógica do Direito na política. 
Esse risco decorre de uma relação com o poder, dentro da qual o efeito 
coercitivo da norma acaba diluindo a função e o efeito da razão humana na 
busca incessante da ordem. A abordagem sociológica não se satisfaz com a 
explicação positivista e evolucionista do Direito. (FREUND, 1987, p. 78). Esta é 
uma afirmação de Max Weber, considerado um dos mais importantes clássicos, 
juntamente com Hans Kelsen, na discussão da temática jurídica moderna. 
Weber sustenta sua crítica ao positivismo e às doutrinas evolucionistas, 
combatendo as pretensões generalistas de extrair leis de processos de 
interação mecânica para explicar o progresso; e, por conta desse progresso, 
a personalidade coletiva. Esta suposição colocaria à margem da razão aquelas 
instituições ou tipos de sociedades que divergem da forma paradigmática do 
progresso na cultura ocidental. 
Até onde nos é permitido conhecer, os estudos arqueológicos indicam que o 
controle social e as leis estiveram diretamente associados à evolução do homem. 
(HOEBEL; FROST, 1976, p. 302‑318). As fontes místicas, como a adivinhação e 
a maldição condicional, foram as formas mais comuns praticadas pelos povos 
primitivos. A frase “Se o que eu digo não for verdade, então possa o sobrenatural 
me destruir”, segundo Hoebel e Frost (1976), sempre aparece num processo de 
julgamento. O juízo de Deus foi uma prática no Ocidente até a Idade Média, e, 
com algumas variações, em toda a Ásia, Indonésia e África. Aí, o juízo de Deus, 
incluindo o envenenamento do réu, não constitui prática rara. Entre outros povos, 
o réu podia beber uma bebida envenenada durante o julgamento. O vômito, 
ou não, era decisivo para levar o réu à morte. 
Na história do Direito escrito, foi na região situada entre os rios Tigres e Eufrates 
que se encontraram os primeiros documentos em escritas cuneiformes. Nestes 
documentos, o Direito estava também ligado à noção de sagrado: o Código de 
Ur‑Nammu, as Leis de Eshnunna, as leis Lipti‑Ishtar e o Código de Hamurábi. 
(PALMA, 2011, p. 31‑35).
Nossa primeira tarefa é desvendar, a trajetória do Direito no pensamento 
jurídico, tentando identificar, de um lado, como as escolas apresentam a sua 
compreensão da origem do Direito, e, ainda, como o conhecimento jurídico, 
em sua evolução histórica, contribui para o aperfeiçoamento da justiça. 
Sociologia Jurídica 
11
Seção 2
As principais escolas do Direito
Se examinarmos, no percurso das ideias, a discussão em torno do Direito, 
é possível perceber que o pensamento jurídico traduz o modelo de racionalidade 
em cada época, assim como as condições sociais existentes. Quanto mais nos 
aproximamos da modernidade, mais centrais as preocupações com as fontes 
da ordem. Impõe‑se, neste tópico, desviar dos paradigmas dogmáticos para 
alcançar uma linguagem metajurídica que permanece subjacente ao esquema 
dialógico das escolas.
2.1 Escola jusnaturalista
Conhecido também como Direito natural, o jusnaturalismo chegou a nós pela 
teoria do contrato social. Mas a teoria do Direito natural, para muitos dos 
estudiosos, começa pelo pensamento político grego, com Heráclito, Sócrates 
Platão entre outros, cabendo o lugar de destaque a Aristóteles. (NAY, 2007, 
p. 49‑50). Sua reflexão sobre a natureza humana apresenta uma teoria organicista 
da sociedade, inspirada numa concepção de ordem espontânea, por analogia ao 
organismo vivo. O homem, na sua concepção, é um animal político zoon politikon. 
A pólis seria uma extensão da natureza, por um desejo natural do homem de viver 
em comunidade. Segundo esta concepção, a evolução consiste na constituição 
e adequação de novos agrupamentos ordenados por necessidades que variam 
com o tempo e a capacidade destes de prover ao homem as condições morais e 
materiais de subsistência.
Platão afirmou que a justiça ideal seria reservada aos deuses e que os homens 
deveriam imitá‑los incessantemente. Já, no livro As Leis, ao deslocar seu eixo 
temático para a cidade, a ordem nas relações políticas ganha outra preocupação, 
agora com o equilíbrio, ou seja, a justa medida. Contudo, tanto Platãoquanto 
Aristóteles não veem oposição entre os dois conceitos, e sim complementaridade. 
Tanto é que, imbuídos dessa convicção, orientam a filosofia a buscar um código 
moral ditado pela natureza. (MORRAL, 2000, p. 30).
As preocupações de Platão com a justiça colocam a vida moral acima do poder. 
O ideal da vida é a realização de um bem espiritual. Assim, o sentido da educação 
só se materializa na sabedoria. Educar o corpo é frear os impulsos e moderar os 
apetites irracionais. É possível verificar que o pensamento grego toma a natureza 
como ente ordenado. Na cosmologia grega, a ordem é tão natural como o é o 
homem. Neste contexto, os valores humanos devem ser estáveis, porque é deles 
que a razão se alimenta. 
12
Capítulo 1 
Quando se consulta qualquer obra do pensamento político antigo, pode‑se 
verificar que toda forma de organização social se sustenta na trilogia: Deus, 
Natureza e Lei. 
Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino segue 
preconizando a ordem como originária de Deus, 
em sua Summa Theologiae (Suma Teológica). 
Seguindo o mesmo paradigma evolutivo, definiu 
a lei eterna, à qual tudo estaria subordinado. 
A lei natural diz respeito a todos os seres que, 
ao abrigo da natureza, realizam sua função vital: 
proteger‑se e reproduzir‑se. Nesta inclui‑se 
o homem, para quem não basta o instinto 
da sobrevivência e da procriação. Na lei da 
natureza, inscrevem‑se padrões de conduta racionalmente desejáveis para todos 
os seres humanos. Por exemplo, fazer o bem e recusar o mal.
A lei humana ou lei positiva segue o imperativo da razão prática, mas sem 
modificar os imperativos da lei natural. A lei positiva faz a adaptação do homem 
ao seu tempo histórico ou circunstâncias, mas não pode desobedecer às 
premissas da lei natural, caso contrário estas seriam consideradas injustas.
Em resumo, as leis naturais não são aquelas que encontramos nos códigos, mas, 
os valores determinantes dos princípios e das obrigações, os quais criam a ordem 
social e estabelecem padrões de conduta em sociedade. 
2.2 Escola contratualista ou racionalista
A escola racionalista, também conhecida como escola positivista, contra a qual 
combateu a escola histórica do Direito, é algumas vezes confundida com o 
positivismo sociológico de Augusto Comte. Este último, na primeira metade do 
século XIX, publicou diversas obras, pelas quais desenvolveu, numa sequência 
lógica, a lei dos três estados e a classificação das ciências como um processo 
evolutivo que marca a passagem da idade teológica para a idade metafísica 
e, desta, para a idade positiva. A ordem social, segundo o pensador, segue um 
processo evolutivo que se revela pela inteligência humana. 
Entretanto um olhar atento ao movimento racionalista na história verificará que 
a Escola Positivista se identifica com o monismo que predominou na teoria 
contratualista do século XVII e XVIII, iniciada por Thomas Hobbes na Inglaterra. 
Em O cidadão (HOBBES, 2002 [1651]) e, depois, em O Leviatã (HOBBES, 
2003 [1651]), o pensador inglês dá início a uma exposição sistemática sobre 
o estado de natureza, onde imperaria o reino da irracionalidade, “a guerra de 
todos contra todos”, para chegar à conclusão que o homem seria incapaz de 
Figura 1.1 – Trilogia do pensamento 
político antigo
Deus
Natureza Lei
Fonte: Elaboração do autor (2013).
Sociologia Jurídica 
13
se auto‑organizar. Nessa exposição, o mundo de Hobbes é desprovido de 
ordem, dominado pelo caos e pelo conflito, até a fundação do Estado. Do ponto 
de vista político, Hobbes inaugura, no dizer de Duso (2006, p. 111), uma nova 
ciência, a qual seria tão somente uma estratégia política racionalista para o 
estabelecimento da paz. O cenário desta construção racionalista da ordem 
política e jurídica seria o contrato social.
Identificada como um movimento de oposição ao Direito natural, Hobbes funda 
uma concepção de representação política, amparada na força legítima do pacto 
social. Na interpretação de Weber, Hobbes precisaria de um corpo de indivíduos 
que formasse uma coletividade para servir de base de constituição da autoridade. 
É esta autoridade que, uma vez incorporada na pessoa pública, se impõe de cima 
a todos os que estão submetidos à lei. Na interpretação de Weber, a dogmática 
jurídica faz parte da composição desse tipo complexo de dominação que envolve o 
aparato político, administrativo e legal, denominada pelo autor como racional legal.
Hans Kelsen, de acordo com Norberto Bobbio 
(2004, p. 340), é um dos maiores teóricos do 
Estado moderno e, no meio jurídico internacional, 
é considerado o principal representante do 
positivismo ou dogmatismo jurídico.
Filho de pais judeus, Hans Kelsen nasceu na 
cidade de Praga (Boêmia austríaca), integrante 
do Império Austro‑húngaro, em 11 de outubro de 
1881. Ingressou na Universidade de Viena e, sob a 
influência de Otto Weininger, iniciou seus estudos 
em ciência jurídica. 
Em 1905, por força do antissemitismo que se 
expandia até a Universidade de Viena, converteu‑se 
ao catolicismo e, no ano seguinte, completava o seu 
doutorado, obtendo o título de doutor.
Em 1908, conseguiu uma bolsa de estudos, seguindo, então, para Heidelberg, 
onde se dedicou ao livro intitulado Principais Problemas da Teoria Geral do Estado. 
Por problemas financeiros, teve que retornar a Viena, deixando sua obra incompleta. 
As primeiras tentativas de profissionalização não foram tão fáceis. Prestou 
concurso para uma vaga de professor na Universidade de Viena, mais tarde 
passou a trabalhar em um escritório de advocacia, mas logo o abandonou, 
para se dedicar às funções junto ao secretariado do Kaiser‑Jubilaums‑Ausstellung.
Talvez esta fosse a maior oportunidade de alçar voo rumo ao reconhecimento e 
à consagração internacional. Em 1912, tornou‑se editor da Revista Austríaca de 
Figura 1.2 ‑ Hans Kelsen 
(1881‑1973)
Fonte: LABORATORIO HANS 
KELSEN (2013).
14
Capítulo 1 
Direito Público. Embora tivesse que interromper suas atividades durante a Primeira 
Guerra Mundial, prestou serviços militares. Para alguns dos seus intérpretes, 
isso teria contribuído para ampliar os conhecimentos e experiência que viriam 
consolidar a sua concepção do Direito e a convergência deste com o Estado. 
Em 1918, foi efetivado no cargo de professor da Faculdade de Direito da 
Universidade de Viena. Daí em diante, seu nome e experiência acadêmica 
consagraram a sua biografia como pai do dogmatismo jurídico. Trabalhou 
na elaboração da Constituição da República, a qual criou a primeira Corte 
Constitucional da história do Direito. No ano seguinte, publicou um trabalho 
onde comentava a Constituição da República Austro‑alemã e, no mesmo ano, 
tornava‑se catedrático da Universidade de Viena.
Em 1º de outubro de 1920, entrava em vigor a Constituição Austro‑alemã e, 
com ela, a consagração internacional de Hans Kelsen. Em 1930, atuou como 
professor na Universidade de Colônia, e, em 1940, mudou‑se para os Estados 
Unidos, onde, na Universidade de Harvard, atuou como conferencista. De 1942 a 
1945, foi professor de Ciência Política na Universidade da Califórnia. Publicou sua 
segunda obra de consagrado valor em 1944: trata‑se da Teoria Pura do Direito.
O controle concentrado de constitucionalidade é o mais importante legado do 
autor. Para Kelsen, o que tem valor é apenas o conteúdo normativo. A sanção é 
consequência normativa da violação de um preceito primário. O Direito é a única 
fonte da ordem social. Com isso, ele nega qualquer possibilidade de a Sociologia 
do Direito se constituir como uma ciência fora do universo do fenômeno jurídico. 
Contrariando qualquer outra fonte de ordenamento não jurídico, Kelsen não 
admite qualquer tipo de ordenamento que não seja coativo.
O Direito como sistema normativo se realiza, segundo a concepção racionalista 
de Kelsen, mediante o exercício máximo do poder: oEstado. Na interpretação de 
Norberto Bobbio, para Kelsen o Estado não existe fora do ordenamento jurídico, 
na medida em que concebe o poder a partir do Direito.
Dessa interpretação, é possível concluir que o caráter imutável do Direito decorre 
da convergência com o homem artificial de Hobbes (1971 [1666], p. 55 apud 
BRANCO, 2009, p. 52) “It is not Wisdom, but authority that makes the Law” (não é 
a sabedoria, mas a autoridade, que faz a lei). Equivale dizer que, ao conceber a 
monopolização estatal da norma, Kelsen está se referindo à razão expressa na 
força e na lei de onde derivaria o poder. A lógica desta submissão é a mesma que 
faz resultar a sociedade como um corpo civil (artificial body, artificial man) que não 
admite outra subordinação a não ser ao Estado. (PONCCININI, 2005, p. 123‑124).
Numa interpretação das teorias positivistas, Sabadell (2002. p. 37) comenta que, 
no pensamento jurídico, as teorias do Direito positivo estão centradas na sua 
aplicação. Equivale dizer que a interpretação do Direito fica restrita aos tribunais.
Sociologia Jurídica 
15
2.3 Escola histórica do Direito 
A Escola Histórica do Direito foi fundada na Alemanha, no século XIX, como 
um movimento de oposição ao racionalismo iluminista dos séculos XVII e XVIII. 
Para alguns dos seus intérpretes, essa reação incluiu uma forte rejeição à 
Revolução Francesa e à ocupação napoleônica. (LOWY, 2000, p. 66).
É consenso que a Escola Histórica do Direito foi fortemente influenciada pelo 
romantismo alemão, tendo a sua frente Gustav Hugo (1764‑1844), mas coube 
ao jurista alemão Friedrich Carl von Savigny (1779‑1861) o título de fundador da 
Escola Histórica do Direito. 
Savigny veio de uma família cuja tradição estava 
ligada ao nome do castelo Savigny, localizado 
nas proximidades de Charmes, no vale do rio 
Mosela. Entrou para a Universidade de Marburg 
em 1795, onde se formou em Direito, e, na mesma 
universidade, foi admitido como Privatdozent, 
ensinando Direito Penal e Direito Romano.
Em 1803, publicou seu primeiro trabalho, o qual 
se tornaria um famoso tratado: Das Recht des 
Besitzes (Tratado da Posse). Seu livro teve uma 
enorme aceitação na Europa. Seu empenho na 
pesquisa das fontes sobre o Direito Romano 
ganhava publicidade e o reconhecimento viria, 
de imediato, do governo bávaro, com a nomeação 
para o cargo de professor de Direito Civil romano em Landshut. Em 1810, já 
ocupava o cargo de professor de Direito Romano na nova Universidade de Berlim. 
Ali recebeu a incumbência de criar um tribunal extraordinário, competente para 
emitir opiniões aos casos encaminhados a ele por outros tribunais ordinários. 
O que tornou Savigny uma figura notável no meio jurídico alemão e em toda a 
Europa foi o seu projeto, considerado um empreendimento filosófico‑jurídico. 
Opôs‑se ao racionalismo iluminista e se destacou no combate: 
a. à ideia do contrato social, recusando‑se a aceitar o Direito como 
fruto da vontade dos homens. 
b. ao positivismo e, nesse combate, valorizou outras fontes do Direito 
contra o centralismo constitucionalista do positivismo.
c. ao esquecimento do Direito Romano, resgatando a identidade 
cultural das cidades e das doutrinas eclesiásticas. 
d. à desvalorização dos costumes locais e a tradição. Recuperou 
o sentimento e a sensibilidade no tratamento do Direito como a 
identidade de cada povo.
Figura 1.3 ‑ Friedrich Carl von 
Savigny (1779‑1861)
Fonte: GAEDDAL (2006).
16
Capítulo 1 
Para alguns intérpretes (HERKENHOFF, 1977, p. 41; ALBUQUERQUE, 2008, p. 19), 
a Escola Histórica engloba duas linhas: a dogmática e a evolutiva. A primeira, 
filiada a Savigny e seus seguidores Eichhorn e Henry Maine, defende a não 
vinculação exclusiva do intérprete à letra da lei, mas a inclusão na sistemática 
jurídica, da interpretação da lei em acordo com todo o ordenamento jurídico. 
A linhagem evolutiva, seguindo os teóricos Saleilles e Köhler, preconiza uma 
interpretação a posteriori do sentido da lei, e acrescenta uma função criadora 
do Direito. A partir daí, o intérprete deve compreender não apenas a intenção do 
legislador (a mens legis) mas transpor aquela intenção para o momento ou época 
da aplicação da lei. 
Cavalieri Filho (2010, p. 22) lembra que, pela primeira vez, ao combater a 
concepção prevalecente da existência de um Direito natural, permanente e 
imutável, o movimento antirracionalista, impulsionado pela Escola Histórica 
do Direito, desloca o eixo da preocupação do que deveria ser o Direito, para 
a preocupação de saber como o Direito se forma na sociedade. 
Por sua vez, o evolucionismo se volta para a sociedade ao negar que o Direito 
seja produto exclusivo da história, de Deus ou da razão. Mais adiante, veremos 
que, à semelhança do que Durkheim havia proferido em seu livro As Regras do 
Método Sociológico, a norma moral assim como o Direito formam a consciência 
coletiva dos povos (Volks geist).
Na concepção evolucionista, essa consciência nada mais é do que a construção 
gradual e paulatina do Direito pelas tradições e costumes. Ao contrário de um 
Direito imutável, permanente, nos postulados da Escola Histórica do Direito ele se 
configuraria entre o conjunto dos elementos da cultura – à medida que as relações 
sociais se tornam mais complexas, o Direito vai‑se readequando por força das 
necessidades e usos e costumes dos povos. (CAVALIERI FILHO, 2010, p. 22).
As posições favoráveis a essa escola são muitas, mas o ponto favorável mais 
destacado é o mérito do movimento antirracionalista de recuperar o caráter social 
dos fenômenos jurídicos. Em vez de ser na letra da lei, é na vida social que o 
operador do Direito vai buscar os fundamentos do Direito.
2.4 Escola da livre pesquisa científica
Considerada uma das matrizes histórico‑teórica da Sociologia do Direito de 
Eugen Ehrlich, a Escola da Livre Pesquisa Científica contribuiu para ampliar o 
movimento para além da influência da filosofia alemã.
François Gény estudou Direito em Nancy, França, de 1878 a 1887. Logo que concluiu 
seus estudos, tornou‑se professor de Direito Romano em Algier, de 1888‑1889. 
Ensinou Direito Civil e Direito Internacional na Universidade de Dijon (1890‑1900). 
Sociologia Jurídica 
17
Introduziu a noção de livre pesquisa científica para a interpretação da lei positiva. 
Para Gény, a lei é uma importante fonte do Direito, mas não a única. Não sendo 
suficiente, ante as lacunas da lei o jurista deve 
apoiar‑se em outras fontes, como os costumes, 
as jurisprudência e as doutrinas. 
Uma das mais fortes influências sobre a Escola 
do Direito Livre é a proposição de caráter 
metodológico possivelmente inspirada no 
movimento positivista da França, em que Gény 
atribui ao operador do Direito a competência de 
criar normas para solucionar os conflitos. Essa 
competência seria adquirida pela livre investigação 
científica do Direito, pautada na realidade social. 
Para alguns intérpretes (ALBUQUERQUE, 2008), 
esse método ou técnica, como denominam 
alguns dos seus intérpretes, permite uma conciliação entre o dispositivo da lei e o 
trabalho científico do operador do Direito. Em que consiste essa técnica? Extrair da 
realidade social os elementos que definiriam a convivência humana, com base na 
tradição do povo, nos fatores econômicos e nas condições históricas de cada povo. 
Para muitos dos intérpretes, o Direito foi desdobrado em duas fontes: dados e 
construído. O Direito dado corresponde às fontes originárias da convivência entre os 
homens. Essas fontes guardam semelhanças com as da Escola Histórica do Direito. 
São as tradições, os valores de um povo e os fatores econômicos que representam 
as condições históricas de cada sociedade. Já o Direito construído corresponderia 
às normas construídas pelo jurista na sua concepção metodológica. Portanto a Livre 
Pesquisa Científica é o âmbito do Direitoconstruído. Nele, o operador do Direito 
deve buscar o material real, ou seja, aquela dimensão da vida social que independe 
da vontade do legislador, mas que, na lide do jurista, se interpõe entre a lei e as 
motivações e conduta das pessoas na sua convivência em sociedade.
O que se pode notar nesta leitura do Direito proposta por Géni é que, embora 
não negando o Direito positivo, ele interpõe à concepção racionalista do Direito, 
uma outra concepção de racionalidade com base na realidade concreta da 
convivência humana. Assim, a realidade – e não o dever ser somente – ganha 
um status normativo de Direito, independente da vontade do legislador. Muito 
próximo das preocupações de Montesquieu, Saint Simon e de Comte, Gény toma 
a moral e os fatores econômicos como elementos das regras do Direito, o que 
denota uma identidade com o raciocínio positivista, na tradição francesa.
Coelho (1979, p. 249) destaca quatro categorias componentes dessas regras 
do Direito:
Figura 1.4 ‑ François Gény 
(1861‑1959)
Fonte: Freysselinard (2009).
18
Capítulo 1 
1. Dados reais ou naturais: Fazem parte da realidade física e psicológica 
que estão relacionadas com o clima e as tradições religiosas.
2. Dados históricos: Traduzem os fatos físicos e psicológicos 
manifestos nos hábitos e na indumentária de um povo.
3. Dados racionais: São os valores de um povo, de onde se extraem 
os fundamentos da justiça como o caráter sagrado da vida humana.
4. Dados ideais: Constituem os princípios jurídicos dedutíveis da 
realidade social como contextualização histórica e material da 
moral numa dada sociedade e em dada época.
Da análise de Coelho, deduz‑se que Gény dá um passo qualitativo em relação 
aos seus predecessores, com destino a uma Sociologia – enquanto física 
social – identificada com os postulados de uma ciência da sociedade que 
pretendia o mesmo status da ciência, cujo objeto de estudo é a física, a química 
e a fisiologia. Adotar‑se‑ia o mesmo sistema intelectual que havia inspirado a 
economia política da época de Jean Baptiste Say, Saint‑Simon e Comte, cuja 
pressuposição seria estabelecer leis invariáveis entre sociedade e natureza. 
Equivale dizer que a ciência da sociedade participaria do mesmo sistema das 
ciências naturais. (LÖWI, 2009, p. 27). Géni, seguindo o raciocínio positivista da 
época, vai definir uma hierarquia que ele chama de dados em três níveis:
1. Dados absolutamente gerais: Diz respeito a um valor intrínseco e 
indiscutível, porque, além de abstrato, não permite a discussão 
pelo grupo. Por exemplo, o bem está acima do mal e, por isso, 
deve ser realizado.
2. Dados relativamente gerais: Diz respeito a fatos concretos, podendo ser 
passíveis de contestação. Por exemplo, a vida humana pode ser um 
valor axiológico por outro discutível. Um dos exemplos é a eutanásia e 
o aborto. Um grupo de pessoas pode ser a favor, e, outro, contra.
3. Dados mais precisos: São aqueles que, por sua concretude no 
plano da existência humana, são contingentes como a própria 
vida, podendo, por isso, ser debatidos. Nos dias atuais, o aborto é 
aceitável em muitas sociedades.
Esses dados são originários, imutáveis, gerais e independentes da vontade do 
legislador. O conjunto de normas construídas pelo jurista a partir desses dados é 
que constitui a tarefa da Livre Pesquisa Científica. Trata‑se do âmbito do Direito 
construído. É no construído, segundo a interpretação de Albuquerque, que 
François Géni articula a função sociológica como uma técnica jurídica sobreposta 
a outras técnicas como a legislativa, doutrinária e gramatical.
Sociologia Jurídica 
19
2.5 Escola sociológica do Direito
Embora a Sociologia do Direito apareça muitas vezes associada a Herbert Spencer 
e sua obra, Principles of Sociology, ao positivismo de Augusto Comte e à Émile 
Durkheim (ROSA,2009), é no desdobramento epistemológico da Ciência do Direito 
que encontramos a origem da Escola Sociológica do Direito.
A razão disso é que, como se pode notar, o Direito surge como uma ciência 
autônoma mas incapaz de se desvencilhar do seu objeto de estudo: o homem 
e sua vida em sociedade. Até mesmo Hans Kelsen, em Teoria Pura do Direito 
(KELSEN, 2009, p. 68), para quem o fenômeno jurídico é um sistema de normas 
válidas, reconheceu que as “normas morais prescrevem uma conduta do homem 
em face de si mesmo” e que “o Direito e a moral constituem diferentes espécies 
de sistema de normas”. Esta questão ocupa grande parte do livro Economia e 
Sociedade, de Weber. (WEBER, 1999, p. 3‑85).
Parece inequívoca a conclusão de que os movimentos nascidos do diálogo entre 
as diversas escolas e o positivismo jurídico contribuíram para a fundação da 
Sociologia Jurídica. É consenso na literatura ter sido Eugen Ehrlich o fundador 
da Sociologia do Direito. Contudo este mérito deve ser compartilhado entre 
outros juristas: Friedrich Carl von Savigny, François Géni e Hermann Kantorowicz. 
Certamente o Movimento do Direito Vivo e o Movimento do Direito Livre vão 
encontrar um ambiente intelectual propício ao embate das vertentes positivistas. 
A receptividade do meio jurídico é o outro fator que não pode ser isolado da 
evolução e da revolta antiformalista.
2.5.1 Movimento do direito vivo
Considerado o fundador da Sociologia do Direito, Eugen Ehrlich tornou‑se 
uma referência obrigatória na literatura, por ser o primeiro crítico do positivismo 
jurídico a escrever um livro intitulado Grundiegung der Soziologie des Rechts 
(Fundamentos da Sociologia do Direito). (EHRLICH, 1986). O Direito Vivo 
representa a maior expressão dos movimentos que concorreram contra o 
positivismo jurídico.
Nascido na cidade de Czernowtz, capital da província de Bukovina, na Áustria, 
Ehrlich estudou Direito em Viena, tendo ocupado em 1897 a cadeira de professor 
de Direito Romano na universidade de sua cidade natal. Faleceu em 1922.
Os princípios sociojurídicos de Eugen Ehrlich serviram de pilares de sustentação 
do Movimento do Direito Livre. O método da sua Sociologia Jurídica se baseia no 
predomínio da decisão judicial sobre as normas. 
Uma das contribuições de Ehrlich no conjunto dos movimentos que marcaram o 
percurso da Ciência do Direito foi, para Claudio Souto, o combate ao tecnicismo, que 
privilegiou as doutrinas em detrimento da realidade social. (SOUTO; SOUTO, 1997). 
20
Capítulo 1 
É importante perceber que a Sociologia do Direito de Eugen Ehrlich nasce 
num contexto em que a crítica ao positivismo jurídico tornava‑se mais acirrada. 
O jurista estudou, em Bukovina, diversos grupos étnicos, analisando seus 
costumes e seus estilos de vida próprios. Observou que, apesar de todos os 
grupos étnicos respeitarem as normas gerais do país hospedeiro, dentro dos seus 
grupos étnicos praticavam seus costumes, seguiam e respeitavam suas leis na 
convivência interna dos grupos. 
Esse estudo serviu de laboratório antropológico para a sua observação. A partir 
daí, extraiu os principais postulados do método do Direito Vivo. Pôde deduzir 
da maneira como funcionava a interação entre as normas jurídicas e as regras 
internas dos grupos étnicos, que os princípios técnicos só valem para uma 
sociedade homogênea onde a norma somente é válida para aqueles que se 
identificam com ela. 
Contra o positivismo jurídico, defendeu os Fundamentos da Sociologia do 
Direito com a publicação em 1912, afirmando que a lei é um fenômeno social e, 
em consequência desse fato, a Ciência do Direito seria uma ciência social. 
Sua crítica ao positivismo jurídico incidia sobre a jurisprudência. Um saber 
que, segundo Ehrlich, se esgota na teoria prática do Direito, um conjunto de 
conhecimentos, cuja prerrogativa de ciência propriamente dita do Direito está 
limitada a, apenas, o que está disposto na lei. Para Ehrlich, a realidade é mais 
complexa do que a letra morta da lei. Daí insurgir‑se contra o dogmatismo jurídicode Hans Kelsen com o Direito Vivo, conforme denominou o objeto de estudo da 
sua Sociologia do Direito.
A ideia do Direito Vivo é, para o autor, o que alimenta a sociedade. São fontes do 
Direito que motivam e definem a vida em sociedade. Portanto, de acordo com o 
que postula a Sociologia de Eugen Ehrlich, o Direito não se funda nas proposições 
jurídicas, mas na lógica da vida social. Esta lógica aparece nos códigos de conduta, 
nos costumes, no comércio, nos contratos de casamento, nos contratos de crédito, 
nos testamentos, nos direitos sucessórios, nos estatutos de associações, e não 
apenas no parágrafo do código. A norma consuetudinária constitui para o autor a 
fonte originária do Direito como regra do agir humano.
Ehrlich situa com destaque o sistema de regras na sociedade, reivindicando 
o trabalho investigativo, por acreditar que essa realidade vai muito além do 
conhecimento na jurisprudência e na doutrina. 
Anteriormente, quando afirmamos que o Movimento do Direito Livre sucedeu 
outros movimentos no percurso da História do Direito, fez‑se referência ao 
ambiente intelectual propício do século XIX contra o racionalismo iluminista. 
A discussão em torno do modelo de cientificidade que nasce da ideologia 
liberal‑individualista e tecnoformal já demonstrava sinais de esgotamento.
Sociologia Jurídica 
21
Embora reunindo diversas correntes doutrinárias, estes movimentos têm em 
comum a crítica ao formalismo tecnicista do Direito.
2.5.2 Movimento do direito livre
O Movimento do Direito Livre surge em 1906, na Alemanha, com Hermann 
Kantorowicz, ano em que publica A luta pela Ciência do Direito. Eugen Ehrlich 
esteve ao lado de Hermann Kantorowicz na fundação deste Movimento.
Jurista, natural da Posnânia, na antiga Polônia alemã, 
Kantorowicz é referenciado como um dos mais 
notáveis líderes do movimento do Direito Livre.
Em 1906, com o pseudônimo de Gnaeus Flavius, 
editou um manifesto intitulado Der Kamp um die 
Rechtswissenschaft (A luta pela Ciência do Direito). 
Se François Gény, por meio do movimento da Livre 
Pesquisa Científica, abalou a certeza da dogmática 
jurídica, o Movimento do Direito Livre vai dar um 
passo decisivo na emancipação da ciência do Direto 
identificada, agora e radicalmente, com a sociedade.
Ao partir da crença de que, na lei, há tantas lacunas 
quanto palavras, Kantorowicz está reiterando o que 
Gény e Ehrlich vinham afirmando, ao admitir que o juiz deva ou possa prescindir 
da lei quando a solução por ela não levar em conta o que é, ou não, justo; 
ou quando não houver compatibilidade entre o que estabelece a lei e a resolução 
do conflito. A interpretação de Albuquerque leva a concluir que, segundo os 
postulados do Movimento do Direito Livre (ALBUQUERQUE, 2008, p. 24‑25), 
caberia ao magistrado decidir segundo sua convicção sobre o dispositivo da lei 
quando aplicável ao fato concreto. Caso o magistrado venha a se sentir incapaz 
de formular a sua convicção, a alternativa é inspirar‑se no Direito Livre. Há duas 
linhas de pensamento filiadas a esse movimento: uma, moderada, identificada 
por alguns analistas ao pensamento de Ehrlich – que defende a criação de norma 
pelo magistrado quando ocorrer lacuna no ordenamento jurídico; e a segunda, 
considerada mais radical, identificada com a postura de Kantorowicz, – que 
vai propugnar a autonomia e competência do magistrado na criação da norma 
quando considerá‑la injusta. 
O que se pode concluir da abordagem de Löwi (2009, p. 30) sobre o contexto 
histórico alemão é que os movimentos aqui analisados não representam uma 
atividade exclusiva do Direito. Os economistas foram “os primeiros a proclamar 
que as leis sociais são tão necessárias como as leis físicas”. Com isso, também 
propugnaram a autonomia das leis do mercado, identificada com a lógica e 
Figura 1.5 ‑ Hermann 
Kantorowicz (1877‑1940)
Fonte: Meyer‑Pritzl (2013).
22
Capítulo 1 
dinâmica da sociedade. Da mesma forma, o Movimento do Direito Livre reivindicava 
a autonomia do saber jurídico, refutando a exclusividade do Legislativo na 
produção de leis. (ALBUQUERQUE, 2008, p. 26). 
Ehrlich e Kantorowicz não estiveram imunes a críticas. Na discussão que Weber 
trava em Economia e Sociedade em torno da Sociologia Jurídica, seu ponto de 
divergência – que abrangeu outras áreas do conhecimento além do Direito, está 
na refutação de que o conhecimento possa ser uma reprodução, ou então, uma 
cópia fiel da realidade. Aqui se trava uma disputa entre conhecimento e método.
23
Seções de estudo
Habilidades
Capítulo 2
Definições sociológicas 
do Direito 
Detectar e contextualizar as contradições nos 
argumentos que motivaram as divergências 
internas na história epistemológica da ciência 
jurídica. Utilizar o raciocínio jurídico com 
argumento sociológico, aproximando o Direito 
da realidade social.
Seção 1: O contexto histórico do surgimento 
da Sociologia
Seção 2: Os fundadores da Sociologia
24
Capítulo 2 
Seção 1
O contexto histórico do surgimento da Sociologia 
O surgimento da Sociologia como ciência da sociedade está associado à 
conjunção de diversos fatores: o declínio da estrutura feudal, o surgimento da 
classe burguesa, a mudança do modo de produção feudal para o modo de 
produção capitalista. Tudo isso relacionado às Revoluções Industrial e Científica 
do Século XVII. Dentro desse contexto, nasce o Estado moderno, amparado 
sobre duas forças: política e jurídica.
Não foram apenas as mudanças que trouxeram a desestabilização da política 
e da economia feudal. As novas tecnologias se refletiram em todas as esferas 
da vida social, provocando mudanças profundas nas instituições, nas relações 
sociais, na cultura e na vida política de toda a Europa, com impacto em grande 
parte do mundo. 
As transformações na economia se fizeram sentir de maneira mais problemática 
na urbanização das cidades europeias, pela saída das famílias das zonas 
rurais para as cidades. É preciso lembrar que, até a segunda metade do 
século XVIII, o mundo era, em grande parte, rural. De acordo com Hobsbawm 
(2004, p. 23‑189), na Rússia e na Escandinávia, a população era quase, na sua 
totalidade (90 a 97%), rural. Observa que, mesmo naqueles países onde as 
cidades se desenvolveram a partir de forte atividade comercial, como nas cidades 
italianas, por exemplo, predominava a atividade e o estilo de vida do campo. 
Mesmo na Inglaterra, a população urbana ultrapassou a rural somente em 1851 
(2004, p. 41‑43).
Além do aumento populacional, a mobilidade foi um fator que afetou profundamente 
o modo de exercer a sociabilidade. Os meios de transporte, pelo tamanho dos 
povoados, permitiam o fácil deslocamento a pé para as igrejas e praças. Já, com 
a migração para as cidades, sucumbiu o desejo de celebração dos cultos e das 
conversas entre vizinhos ante o sacrifício do deslocamento a grandes distâncias.
Para se ter a dimensão dos conflitos: as garantias da propriedade privada na 
Inglaterra reconheceram o Direito de cercamento das terras abertas (enclosures) 
pelos proprietários, intensificando não apenas o êxodo rural como a oferta de 
mão de obra e, por consequência, a proletarização do trabalho. As condições 
degradantes de moradia e de trabalho agravavam as condições de saúde da 
população, multiplicando, assim, os problemas sociais em quase todas as 
cidades. Além disso, o preconceito das classes urbanizadas contra a população 
rural se refletia no desprezo dos eruditos pelos “analfabetos e ignorantes” 
do campo. Conta‑se que as comédias alemãs ridicularizavam as pequenas 
populações rurais, como “caipiras da roça”. 
Sociologia Jurídica 
25
A demarcação entre a população rural e o modo de vida burguês, identificado 
com a erudição, se fazia sentir não apenas no erguimento das muralhas, mas 
na aparência. Entretanto era a população do campo quem produzia oalimento 
que ia para as mesas dos burgueses. A classe média era constituída, na maior 
parte, de negociantes de trigo, gado e o beneficiamento dos insumos agrícolas. 
Outro estrato social, componente da classe burguesa, era constituído de 
profissionais como advogados e tabeliães. Este estrato crescia pelas demandas na 
intermediação dos interesses e litígios entre o patrimônio dos nobres, a propriedade 
da terra e as atividades de crédito, pelo crescimento dos empréstimos aos 
empresários mercantis que exploravam outras atividades, como a dos tecelões, 
mais tarde o comércio de produtos têxteis.
Com a evolução das relações capitalistas de produção, não demorou muito para 
que os problemas sociais se avolumassem: prostituição, homicídios, suicídios, 
alcoolismo entre tantos outros problemas que culminariam com as revoltas da 
população e os protestos dos trabalhadores nas fábricas. Em tese, os ideais de 
uma sociedade livre eram identificados com o racionalismo progressista de uma 
ordem social fortemente amarrada aos interesses econômicos da burguesia.
Contudo o desenvolvimento industrial foi, sem dúvida, o propulsor da interação 
da pesquisa científica com a tecnologia. As demandas de novas tecnologias e da 
produção em maior escala estenderam‑se para outros campos do conhecimento, 
intensificando as realizações experimentais. E é nesse processo que a Sociologia 
se desenvolve, associadamente à necessidade de construir a sua identidade com 
os postulados científicos, e será apenas no século XIX que ela se volta para as 
explicações dos fenômenos sociais. 
Se analisarmos as premissas metodológicas do positivismo sociológico, ver‑se‑á 
que, dentro do debate epistemológico, a priorização do conhecimento científico 
deu‑se em decorrência do esgotamento do conhecimento abstrato e dos valores 
tradicionais. Nesse contexto, ganharam mais importância as premissas da 
neutralidade valorativa, o que vai orientar, segundo a interpretação de alguns 
sociólogos (LÖWY, 2009, p. 20), o paradigma evolucionista. Não é sem razão 
que a teoria crítica marca o surgimento da análise de uma sociedade que era 
comprometida com o conhecimento científico, mas desvinculada, num primeiro 
momento, da realidade histórico‑social das classes sociais. 
No decorrer do século XIX, as contracorrentes vão formular hipóteses sobre a 
dinâmica da sociedade em sua relação com a economia, a política, o Direito, entre 
outras esferas da vida social, de maneira empiricamente controlável e verificável 
em sua variação temporal e local. 
26
Capítulo 2 
1.1 Os precursores da Sociologia
Quando examinamos a história do pensamento político, percebe‑se que o interesse 
pela explicação da realidade social surge ainda na Grécia, numa época em que 
a Sociologia não havia se constituído como uma ciência formal. Não são poucos 
os estudos que remontam aos filósofos gregos Sócrates, Platão e Aristóteles, 
passando de São Tomás de Aquino aos pensadores iluministas, na tentativa 
de buscar explicações para os fenômenos sociológicos. Entretanto como bem 
observa Machado Neto (2007, p. 72), é no Século XIX, com Augusto Comte e, 
marcadamente, com as preocupações metodológicas de Émile Durkheim e de 
Weber, que a Sociologia se constitui como Ciência da Sociedade. 
A questão aqui me parece convergir para a análise de Raymond Aron (1982, p. 21‑34) 
quando introduz a obra de Montesquieu, L’Esprit des Lois (O Espírito das leis), como 
a primeira etapa do pensamento sociológico. O autor contra‑argumenta os que 
classificam a obra de Montesquieu como política quando afirma que a relação entre 
regime político e sociedade é estabelecida, em primeiro lugar e de modo explícito, 
na tomada de consciência da dimensão da sociedade. Segundo Montesquieu, cada 
um dos três tipos de governo corresponde a certa dimensão da sociedade.
A análise de Aron permite compreender o duplo sentido da classificação da 
obra de Montesquieu no pensamento político: de um lado, ele chama a atenção 
para a sociedade que constituiria o centro do Espírito das Leis, como a base 
teórica principal de onde Montesquieu traçaria os critérios para a elaboração das 
formas de governo. Do outro, Aron fornece, por consequência, um quadro mais 
abrangente do objeto sociológico, quanto às preocupações de Montesquieu de 
resolver a relação entre liberdade e poder, um problema obstinado da sociedade 
da sua época, para o qual ele procura explicações no fenômeno das leis. Como 
observa LÖWY (2004, p. 21‑22), a ideia de leis naturais sugere uma digressão dos 
fatos que haviam marcado a vida social, sobretudo das instituições, tornando‑se 
uma forma recorrente de combate à ordem social feudal.
Saint‑Simon, por exemplo, reconhecido por Durkheim como antecessor de Comte, 
defendeu a concepção de leis como forças na sociedade, atuando como novos 
vetores da coesão social. Os intérpretes de Saint‑Simon, como François Perroux, 
afirmavam a seus seguidores que “nos tempos modernos era necessário buscar 
explicações para a nova realidade social”. (LUKE, 1977, p. 29‑37).
O conjunto de mudanças que aconteceram no século XIX sem dúvida propiciou, 
como se pode deduzir, a receptividade da Sociologia como uma área especializada 
do conhecimento. Nossa intenção, daqui para frente, é fazer uma incursão pelas 
escolas sociológicas, tentando mostrar quais são as implicações metodológicas da 
teoria sociológica e como ela completa a técnica jurídica.
Sociologia Jurídica 
27
Seção 2
Os fundadores da Sociologia
2.1 Augusto Comte
Considerado, por consenso, o fundador da Sociologia, Augusto Comte nasceu 
em 1798, em Montpellier, França. Desde muito jovem, já demonstrava uma grande 
capacidade literária e matemática. Aos dezesseis anos, 
ingressou na Escola Politécnica de Paris, no curso de 
Medicina. Logo se envolveu com um movimento de 
protesto estudantil e, em consequência disso, a Escola 
Politécnica foi fechada, e Comte, expulso. Retorna em 
uma breve temporada a Montpellier, sua terra natal, 
mas retoma, em pouco tempo, seus estudos agora 
voltados para a atividade política. 
Torna‑se conhecido no meio intelectual francês 
e logo é atraído para o circulo de Saint‑Simon, 
vindo, mais tarde, a ser convidado para ser seu 
secretário. No decorrer do período em que atuou 
com Saint‑Simon, Comte escreveu seu trabalho 
Plano das Operações Científicas Necessárias para 
a Reorganização da Sociedade. Para Lukes (1977, p. 38), foi esta obra que deu 
consistência ao pensamento de Saint‑Simon.
Comte conduz seus estudos para a sociedade, buscando um modelo teórico que 
ele definiu como uma nova consciência da realidade social. Essa consciência seria 
a científica. Comte queria tornar a realidade inteligível, anulando a subjetividade 
na explicação dos fatos. Ele desenvolveu um método explicativo da realidade 
social, rigoroso, que exigia a produção do conhecimento somente nas condições 
em que os fenômenos podem ser observáveis, postulando que o método 
positivista da Sociologia deveria ser amparado na observação, na comparação e 
na experimentação. A intenção de Comte era fornecer um método que viesse a ter 
aplicação nos diversos estudos do comportamento humano e da sociedade. A Lei 
dos Três Estágios tornou‑se a obra de referência da Sociologia. Nesta obra, Comte 
mostra que, para responder aos impulsos mais elementares de compreender os 
fenômenos da natureza e do seu papel no mundo, a humanidade teria passado 
por três estágios: o teológico, o metafísico e o positivo. No primeiro estágio, 
o teológico, a humanidade explicava os fenômenos como ato e vontade dos seres 
espirituais. Deus estava no centro do mundo e tudo a ele era atribuído. No segundo 
Figura 2.1 ‑ Auguste Comte 
(1798‑1857)
Fonte: Maelstrom (2005).
28
Capítulo 2 
estágio, o metafísico, a sociedade passa a ser vista como algo natural e já não 
confia plenamente nas explicaçõesde que a sociedade teria resultado de causas 
sobrenaturais. No estágio positivo, Comte associa as descobertas e as conquistas 
que o homem europeu havia alcançado no século XVIII com os avanços da Física e 
da Química, que ele denominou de as primeiras ciências positivas, tentando incluir 
a Sociologia, que ele denominou, num primeiro momento, de Física Social. Comte 
seguiu explicando o progresso da humanidade a partir das leis invariáveis dos 
três estágios.
2.1.1 O Direito e o Positivismo de Comte
Tem sido frequente a associação entre o positivismo jurídico de Hans Kelsen com 
o positivismo de Augusto Comte. No entanto essa associação tem sido negada e 
seu equívoco advertido. De qualquer modo, é inegável a contribuição de Comte 
ao apresentar o estudo das leis do desenvolvimento histórico, introduzindo dois 
elementos na concepção da sociedade: a estática e a dinâmica. 
Comparando a sociedade a um organismo, Comte vai tomar como ponto de 
partida que não se pode compreender o funcionamento de um órgão sem 
identificar a sua função no conjunto: no corpo. Por analogia, toma o Estado e a 
política como órgãos; e o corpo, a sociedade. Nessa conjunção dinâmica dos 
órgãos em relação ao funcionamento do todo, Comte vai alcançar a compreensão 
dos laços de solidariedade recíprocos, o que equivale pensar a função de cada 
instituição por analogia com a relação do órgão e o corpo, e, nesta relação, 
a interdependência como um processo cuja dinâmica baseia‑se essencialmente 
na reciprocidade. É aqui que Comte extrai o fundamento da ordem. 
Na interpretação de Aron (1982, p. 71‑104), a estática social de Comte traz à luz a 
ordem social de toda a sociedade humana; e, a dinâmica, o processo que retraça 
as mudanças ou variações que se alternam ao longo do tempo.
A religião seria, em resumo, a primeira fonte de unidade social, por exigir o 
reconhecimento de todos os indivíduos, para que possa realizar a unidade. 
A fonte da unidade, ao mesmo tempo em que se recria, se desloca como uma 
necessidade determinante da ordem social. É nesse processo que Comte explica 
o Direito positivo, em sua relação entre estática e dinâmica, como princípios que 
justificam a coexistência e a sucessão; e, necessariamente, o progresso como o 
desenvolvimento da ordem.
Sociologia Jurídica 
29
2.2 Émile Durkheim
Na linha de sucessão de Comte, Émile Durkheim é considerado o mais notável 
estudioso da sociedade. Não é raro ser considerado o pai da Sociologia, por ter 
consolidado, através da investigação científica, os fenômenos sociais. 
Émile Durkheim nasceu em Epinal, região de Lorraine, 
na França, em 1858, numa família de ascendência 
judaica. Estudou filosofia na Escola Normal Superior 
de Paris. Passou boa parte da sua vida em meio a 
um turbulento período da história da França. Prestou 
concurso para ensinar filosofia, sendo nomeado, 
em 1882, como docente em Sens e Saint‑Quentin. 
Em 1885, licencia‑se naquelas instituições para estudar 
ciências sociais em Paris e, depois, na Alemanha, 
com Wundt, onde permanece até 1886. Em 1887, 
é nomeado professor da Universidade de Bordeaux, 
na Sorbonne, para ministrar o primeiro curso de 
Sociologia nas universidades francesas. O tema 
principal de suas aulas era os laços sociais que ligavam 
o homem à sua sociedade. Em 1896, funda L’Année Sociologique, um jornal que 
orientava o pensamento e a pesquisa sociológica na França.
Para muitos dos seus intérpretes, o ambiente político da França na III República 
teve influência na seleção dos temas que ele elegeu para seus estudos. 
Esse tempo foi marcado por vários acontecimentos: além das disputas 
franco‑alemãs e da derrota francesa, como foi o caso de Lorraine, sua cidade 
natal, outros temas tornaram‑se preocupações mais imediatas: o endividamento 
do país pela guerra e as medidas deliberadas pelo poder público, uma delas, a lei 
Naquet, que instituiu o divórcio na França em meio a um acirrado debate entre 
parlamentares que perdurou de 1882 até 84, e a instituição da educação laica 
pelo Ministro da Instrução Pública, Jules Ferry, em 1882. 
A nova decisão tornava a escola obrigatória e gratuita dos 6 aos 13 anos e proibia o 
ensino de religião nas escolas. No lugar da religião, era ensinado o dever patriótico. 
Este fato, segundo comentário de José Albertino Rodrigues (1984, p. 8‑9), levaria 
à declaração de Alfred Fouilé, escritor francês, em uma publicação de 1900: uma 
das grandes preocupações de Durkheim é “a dissolução das crenças morais”. 
O próprio Durkheim diagnosticou na vida social da época uma crise ou vazio moral 
da III República.
Uma das suas maiores preocupações era o enfraquecimento das instituições 
tradicionais de educação: ele defendeu, obstinadamente, que a educação seria 
uma função essencialmente social. Sua preocupação com o método sociológico, 
Figura 2.2 ‑ Émile Durkheim 
(1858‑1917)
Fonte: Burton (2011).
30
Capítulo 2 
portanto, não esteve alheio a essa questão. Numa de suas obras mais antigas, 
Da Divisão Social do Trabalho, Durkheim diverge da base contratualista do 
utilitarismo inglês, argumentando que a vida em sociedade – tomando a ordem 
como inerente a ela – não poderia ser explicada em termos de interesses 
individuais. As fontes da ordem seriam externas à vontade dos indivíduos, e sua 
função seria criar e manter a solidariedade. 
A explicação para a solidariedade, Durkheim vai buscá‑la nas formas mais 
primitivas de organização social. Ali ele descobre que o sentimento do grupo seria 
propriamente as crenças religiosas e a solidariedade, um fenômeno explicável 
pelo respeito à hierarquia e pela divisão social do trabalho. Com isso ele mostra 
que as ideias ou categorias do pensamento têm uma origem social. 
Como ele explica as mudanças sociais da sua época? 
Pela mudança de um estágio mecânico, caracterizado por uma solidariedade 
com baixa diferenciação funcional, para uma solidariedade com mais complexa 
diferenciação funcional. Esta ele chamou de solidariedade orgânica, onde a 
solidariedade estaria expressa nos códigos legais e nas formas de ordenamento 
jurídico hoje conhecidos.
É possível perceber que o seu compromisso com o positivismo de Comte vai 
além dos postulados deterministas das leis dos três estágios. Em sua aula 
inaugural do curso de Ciências Sociais em Bordeaux, no ano de 1887, evocou 
a necessidade de se aplicar o método sociológico para se ter a compreensão 
do objeto de estudo da Sociologia: o fato social. E denominou como método, 
a observação e a experimentação indireta ou método comparativo, afirmando 
que, a partir disso, pode‑se rejeitar ou confirmar as teorias.
Na sua preocupação de delimitar o objeto sociológico, distinguiu os elementos 
especificamente sociais dos psicológicos e biológicos. Definiu quatro critérios 
que, segundo sua concepção, constituem tarefas obrigatórias do sociólogo 
estudar. Em grandes lindas, são os que seguem. (CASTRO; DIAS, 1992, p. 28‑96). 
Em toda sociedade, existem ideias e sentimentos comuns, compartilhados pelos 
membros da sociedade e transmitidos de geração para geração, garantindo 
a unidade da vida coletiva. É o caso das lendas populares, das tradições 
religiosas, das crenças políticas, da linguagem etc., que não são de ordem 
psicológica individual. 
Em toda sociedade, as práticas compartilhadas pela universalidade dos cidadãos 
ultrapassam a vontade do indivíduo, visam à prática e têm o caráter de ser 
obrigatórias. Têm um caráter de anterioridade, o que obriga os cidadãos a se 
conformarem a elas.
Sociologia Jurídica 
31
Algumas dessas máximas têm uma força de tal modo obrigatória que a sociedade 
impede, por meio de medidas precisas, que elas sejam infringidas. Não deixa por 
conta da opinião pública a responsabilidade de zelar pelo respeito a elas, mas 
atribui essa responsabilidade aos representantes especialmente autorizados,mediante a aplicação de fórmulas jurídicas.
Os fenômenos econômicos são fenômenos sociais e, para a sua compreensão, 
é preciso que renuncie a pretensão de uma ciência autônoma.
No seu livro As Regras do Método Sociológico, Durkheim separa o positivismo 
da filosofia e constrói uma ciência empírica voltada para a compreensão 
da realidade social. Isso implicou a concepção do fato social como coisa 
(DURKHEIM, 1977, p. XX‑XXI), algo que exerce uma coerção sobre o indivíduo. 
Durkheim chamou‑o de representações mentais, que nada mais são do que 
imagens da realidade empírica. 
O que é o fato social?
A obra As Regras do Método Sociológico, publicada em 1895, é considerada a 
primeira de caráter metodológico. Nela Durkheim estabelece os critérios para uma 
investigação científica e explicação sociológica. Embora, cronologicamente, tenha 
sido Division du Travail Social (Divisão do Trabalho Social) um trabalho de pesquisa 
anterior a esse, Durkheim testou os princípios metodológicos e, a partir dele, 
diversos outros trabalhos de investigação foram realizados.
Em a definição dos fatos sociais, Durkheim apresenta os primeiros delineamentos 
do método sociológico: “Antes de indagar qual é o método que convém ao estudo 
dos fatos sociais, é necessário saber que fatos podem ser assim chamados.” 
(DURKHEIM, 1977, p. XX).
Na verdade, há em toda sociedade um grupo determinado de fenômenos com 
caracteres nítidos, que se distingue daqueles estudados pelas outras ciências 
da natureza.
Quando desempenho meus deveres de irmão, de esposo 
ou de cidadão, quando me desincumbo de encargos 
que contraí, pratico deveres que estão definidos fora de 
mim e de meus atos, no Direito e nos costumes. Mesmo 
estando de acordo com sentimentos que me são próprios, 
sentindo‑lhes interiormente a realidade, esta não deixa de 
ser objetiva; pois não fui eu quem os criou, mas recebi‑os 
através da educação. (DURKHEIM, 1977, p. XX‑XXI).
32
Capítulo 2 
Durkheim está referindo‑se à maneira característica de toda sociedade exprimir‑se 
simbolicamente em seus costumes e suas instituições. São formas simbólicas, 
segundo ele, porque devem ser entendidas como construção do coletivo. Equivale 
dizer que esses deveres se impõem a cada um de nós, porque não dependem da 
vontade individual de exercê‑los, ou não. 
Começa‑se a perceber que Durkheim está tratando o comportamento do indivíduo 
a partir da obrigação de cumprir normas. Quando se trata da conduta do indivíduo, 
definido por ele como resultado de fontes coercitivas de normas, o fato social tem a 
função de garantir a ordem.
Portanto as obrigações, as leis, os costumes têm, na concepção de Durkheim, 
existência externa e, por isso, muitas vezes o indivíduo é constrangido pelos 
costumes e pelos códigos legalmente estabelecidos.
Além do estabelecimento das premissas de uma teoria sociológica do 
conhecimento, Durkheim dedicou seus estudos a diversos fenômenos sociais 
que, até então, eram diagnosticados como doença ou transtornos psicológicos. 
Em estudos sobre o suicídio e o homicídio, concluiu que, na passagem da forma 
mecânica para a orgânica, haveria uma quebra da ordem social. Associando os 
recursos do método quantitativo, ele mostra, em O Suicídio, dois aspectos dessa 
conclusão: o primeiro é que o método estatístico pode revelar outra realidade 
e desestabilizar certas convicções, como a que explicava o suicídio como 
causas individuais ou psicológicas. O segundo aspecto é que, na passagem da 
forma mecânica para a orgânica, a divisão social do trabalho não produziria os 
elementos necessários para a solidariedade, havendo uma ruptura da ordem 
social que chamou de anomia. 
Nesse processo de transformações, as formas de relacionamento sofreriam 
mutações para um modelo de relações sociais individualizadas, dificultando 
a integração social. O apego demasiado ao ego resultaria no fortalecimento 
do individualismo, tornando as relações sociais instáveis e frágeis, e mais 
frequentemente surgiriam os conflitos sociais e toda uma gama de distúrbios 
como suicídio, criminalidade, etc. 
Concluiu, das pesquisas que realizou, haver tendência para o suicídio altruístico 
nas sociedades organizadas pelo tipo de solidariedade mecânica e, nas 
sociedades onde o tipo de solidariedade é orgânico, o suicídio tenderia a ser 
egoístico. Durkheim aplicou o mesmo método estatístico, como pode ser 
conferido em a Divisão Social do Trabalho (DURKHEIM, 1999, p. 127‑150), 
a diversos outros fenômenos sociais, como o divórcio, a delinquência e 
Sociologia Jurídica 
33
problemas econômicos. Na pesquisa comparativa, constatou que os índices 
ocorrentes nos tipos mecânicos e orgânicos apresentavam uma variação das 
taxas, na mesma proporção que havia verificado no suicídio.
A influência de Durkheim na pesquisa sociológica perdura até os dias atuais. 
Após sua morte em 1917, o sociólogo Marcel Mauss, seu sobrinho, levou 
adiante sua obra, agregando outros elementos que deram mais sustentação 
teórico‑metodológica ao fato social de Durkheim. Entre as contribuições está 
a noção de fato social total. Com essa noção, a abordagem sociológica dos 
fenômenos sociais permite ampliar a compreensão das diferenças, que se pode 
resumir no seguinte trecho da Introdução à obra de Marcel Mauss (1974, p. 15): 
“estudo do concreto que, por isso, é do completo”, afirmando a necessidade de 
perceber sobre os comportamentos dos seres humanos “não é a oração ou o 
Direito, mas o melanésio de tal ou qual ilha, Roma, Atenas”.
2.2.1 A sociologia jurídica na teoria e método de Émile Durkheim
Nos livros A Divisão Social do Trabalho e As Regras do Método Sociológico, 
quando classifica as formas de solidariedade e define o fato social, Durkheim faz 
a seguinte afirmação sobre o princípio da solidariedade, independente de ser do 
tipo mecânica ou orgânica: “a norma, as obrigações, os contratos, as leis e os 
costumes são fatos sociais, porque estabelecem, de maneira coercitiva, padrões 
de conduta cuja função é a solidariedade do grupo e o respeito recíproco dos 
membros.” (DURKHEIM, 1999, p. 149). Para Durkheim, a solidariedade, expressão 
da vida em sociedade, é totalmente moral, e, com o mesmo sentido que Kant 
(2008, p. 37‑45) empregou para distinguir a norma moral da norma positiva, 
usando a expressão internalidade e externalidade, Durkheim deduz que o “fato 
interno nos escapa”, mas o fato externo é o que simboliza o interno. Esse símbolo 
é o Direito. 
Conclui, ainda, (1999, p. 34) que, “onde existir a solidariedade social”, ela orienta 
“fortemente” a conduta do homem para viver em permanente contato uns com os 
outros: “coloca‑os frequentemente em contato, multiplica as ocasiões de se relacionar”.
É importante lembrar que, ao analisar a passagem da forma mecânica para a 
orgânica, Durkheim previu que nem sempre a divisão social do trabalho produziria 
os elementos necessários para a solidariedade, podendo ocorrer uma ruptura 
da ordem social, que ele denominou de anomia. Nesta situação, ele demonstrou 
que as normas entrariam em colapso e a sociedade perderia o controle sobre as 
ações individuais dos seus membros – em condições de normalidade, elas seriam 
compartilhadas pelos membros do grupo. Isso levaria a mutações na conduta dos 
indivíduos, dificultando a integração social, provocando distúrbios como suicídio, 
criminalidade, etc., que ele demonstrou empiricamente na décima lição Deveres 
Gerais do Livro Lições de Sociologia, quando analisa o Homicídio.
34
Capítulo 2 
Os deveres que os homens têm uns para com os outros porque 
pertencem a um grupo social determinado, porque fazem 
parte de uma mesma família, de uma mesma corporação, 
de um mesmo Estado. Mas há outros que são independentes 
de qualquer agrupamento particular. Devo respeitar a vida, 
a propriedade, a honra de meus semelhantes mesmo que não 
sejam meus parentes nemmeus compatriotas. (DURKHEIM, 
2002, p. 153).
Durkheim prossegue argumentando em todas as suas obras, que a relação entre a 
ordem social com os deveres que todos os indivíduos têm uns para com os outros 
é que garante a organização da sociedade. Isso constitui regra geral da sociedade, 
a ponto de já estar impresso na consciência de cada um. Neste sentido, Durkheim 
considerou a tarefa da educação essencial. A sua reação contra a instituição 
da educação laica na França, em 1882 – que substituiu a religião pelo dever 
patriótico – ficou demonstrada no que ele classificou como crise ou vazio moral da 
sociedade da III República. É preciso ter em mente que Durkheim enfatizou estar no 
íntimo a obrigatoriedade do compromisso de uns com os outros. A educação seria 
para Durkheim o meio através do qual toda sociedade prepararia “o íntimo dos 
seus membros” para sua existência como sociedade.
Mas essa função da educação que ele considerou desejável, nos países 
desenvolvidos tendeu a se diversificar e a se especializar. Durkheim alertou para a 
necessidade de a Sociologia atentar para as tendências sociais. Essa preocupação 
ele demonstra empiricamente quando compara o significado dos crimes nas 
sociedades arcaicas e modernas. Mostra que há variações na forma de cada grupo 
étnico, ou sociedade, atribuir significados a determinadas práticas, o que, para ele, 
demonstra o maior ou menor valor do qual dependeria a gravidade da pena. Mostra 
que, na Grécia antiga, o homicídio somente era punido mediante solicitação da 
família, e esta punição podia se limitar a uma indenização pecuniária. Já, em Roma, 
na Judeia, o homicídio era considerado um crime público, o que não acontecia para 
casos em que a vítima não chegasse a óbito. Da mesma forma, o roubo. Mesmo 
assim, cabia às vítimas buscar a reparação, se quisessem, podendo permitir que o 
culpado se redimisse mediante uma indenização.
Mostra Durkheim que esses atos somente eram responsabilizados civilmente, 
quando envolvia perdas e danos. Mas não constituíam atos tão graves para 
justificar a repressão pelo Estado. Ao contrário, Durkheim nos mostra que
Os verdadeiros crimes são então aqueles dirigidos contra 
a ordem familiar, religiosa, política. Tudo o que ameaça a 
organização política da sociedade, toda falta para com as 
divindades públicas, que não são mais que expressões 
simbólicas do Estado, toda violação dos deveres domésticos 
são punidos [...]. (DURKHEIM, 2002, p. 155).
Sociologia Jurídica 
35
Que conclusões se pode extrair do estudo de Durkheim?
A resposta não é difícil. Devemos lembrar que, em Da Divisão Social do Trabalho, 
o que é vital para a ordem social é a solidariedade. A ênfase de Durkheim na 
educação justifica isso. 
Em Lições de Sociologia, permanece sua preocupação de mostrar o que ameaça 
a organização da sociedade. Argumenta que, nas sociedades mais antigas, 
onde o tipo de solidariedade é mecânico, os sentimentos coletivos são mais 
fortes, porque são as que menos toleram as infrações às regras. Nestes casos, 
a intolerância, explica ele, se deve a que a razão de ser da norma é a existência e 
manutenção do grupo, seja ele familiar, político ou religioso.
Se, na Grécia antiga, a vítima somente era punida se a família solicitasse, ficando 
muitas vezes sujeita a reparação parcial pela indenização pecuniária, era porque 
o dever de punir era da família. Tanto quanto o grupo religioso, a família é 
um emblema da vida coletiva. Não é o indivíduo o objeto do respeito, mas a 
instituição família. Neste caso, diz Durkheim, na solidariedade mecânica “a dor 
do indivíduo comove pouco”. Já, nas sociedades orgânicas, “o grupo já não nos 
parece ter valor por si mesmo e para si.” (DURKHEIM, 2002, p. 156).
Nas sociedades contemporâneas, o Direito do indivíduo é o primeiro a ser 
reconhecido, o que torna o homicídio uma prática proibida, sob forte ameaça 
de punição. O valor que, num tipo de solidariedade mecânica, era dirigido à 
família, aos deuses ou às coisas como a terra, os mananciais de água, etc., 
é deslocado para o indivíduo, nas sociedades modernas. Esse deslocamento, 
no entanto, que caracterizou a passagem do Direito natural para o Direito positivo, 
se contribuiu, de um lado, para a redução do homicídio, por outro não coibiu novas 
configurações: os roubos, corrupção, abusos contra a criança, espancamentos e 
diversas formas de fraudes. 
A principal contribuição de Durkheim para o Direito, considerando a convergência 
das Escolas Históricas do Direito, a Escola da Livre Pesquisa Científica e a Escola 
Livre do Direito, é a reconexão da norma com a noção de solidariedade, em cujo 
fundamento a Sociologia Jurídica encontra a explicação para o caráter coercitivo 
do Direito na sua proporcionalidade entre delito e sanção.
Quando Durkheim se refere à importância do Método no conhecimento sociológico, 
ele situa o cruzamento da sincronia e da diacronia entre duas ordens, a mecânica 
e a orgânica, e demonstra que o que dá sentido à ordem social nos dois tipos 
de organização é a solidariedade. E, nos dois tipos, ele também demonstrou que 
o Direito Penal é vital, porque, ao proibir, ele qualifica o agente que se opõe à 
sociedade – o que ele chamou de o órgão da consciência coletiva. Ora, neste caso, 
a autoridade do Direito fica evidenciada pela proteção contra o enfraquecimento da 
36
Capítulo 2 
solidariedade. Mas não se pode esquecer que Durkheim observou que nas áreas 
onde uma ordem findava nem sempre surgia outra imediatamente. Foi neste vácuo 
que ele identificou o suicídio anômico. 
Estudos mais recentes mostram a atualidade do método durkheimiano na 
Sociologia do Direito Internacional. Por volta de 1990 aproximadamente, 
pesquisas sobre as relações litigiosas envolvendo culturas diferentes mostraram 
a anomia nas divergências entre as partes pelo conflito de significado. Isto ocorre 
quando, havendo indivíduos disputando judicialmente Direitos, uma das partes 
procede de cultura diferente. 
Na África, por exemplo, Comaroff e Comaroff (1999, p. 279‑303) detectaram 
no tráfico de órgãos a apropriação, por parte do mercado internacional de 
órgãos, das práticas rituais em algumas tribos onde isto não constituía crime. 
Distorceu‑se, deste modo, o significado ritual para o tráfico de órgãos, uma 
prática criminosa que teve ampla repercussão no mundo.
Geertz (1978, p. 225‑228), na pesquisa que fez sobre o Estado em Bali, chamou 
atenção para o risco de se considerarem os agentes e as práticas fora do 
contexto histórico e cultural. Criticando a unilateralidade do conhecimento em 
culturas diferentes, desmistificou o racionalismo pela interpretação unilateral, 
classificando‑a como ato de desprezo às crenças e à história local. Esclareceu, 
ainda, que as interpretações leigas não conseguiam alcançar a alta complexidade 
simbólica da disputa do poder naquele país, o que não poderia ser reduzido à 
questão religiosa do islamismo.
A referência a Geertz ajuda a entender as preocupações que mobilizaram 
Friedrich Carl von Savigny, François Géni e Hermann Kantorowicz e Eugen Ehrlich, 
contra o racionalismo jurídico. Neste ponto, já se pode estabelecer conexão entre 
a teoria do conhecimento sociológico com o que Durkheim chamou de anomia. 
Dentro da própria Sociologia, a teoria da comunicação intercultural fez importantes 
progressos no estudo das interações sociais em anos mais recentes. A esse 
respeito, a Sociologia do Direito Internacional trouxe à luz diversos problemas e 
irregularidades que ocorriam nas fronteiras entre países, por não haver normas 
internacionais legais para a resolução dos conflitos individuais privados. Gessner 
e Schade (1994, p. 267‑285) observam que, nos casos de alta restrição cultural, 
o nível do limiar do conflito tende a ser fraco ou “inferior” na medida em que a 
parte mais fraca (em termos da identidade cultural) acaba optando por estratégiasde persuasão e de prevenção. Isso não significa que o conflito de interesses não 
exista ou persista. Além disso, os autores chamam atenção para a precariedade 
do Direito Internacional, ao afirmarem: “Mesmo nos casos em que se aplica o 
Direito unificado, este não realizou a menor unificação na prática judicial, nos 
países signatários”. Os juízes domésticos, por exemplo, observam os autores, 
são considerados incompetentes em assuntos internacionais.
Sociologia Jurídica 
37
A hipótese formulada pelos autores é que o problema da precariedade do Direito 
unificado não se deve tanto à falta de normas, mas à orientação dos agentes, 
os quais acabariam remetendo‑se às leis do seu próprio país, o que colocaria a 
posição dos agentes em situação anômica. 
Na Inglaterra, por exemplo, comenta Laraia (2012, p. 55‑65), os advogados 
criminalistas ingleses se defrontam com casos de agressões e até de 
assassinatos praticados por pais hindus contra suas filhas, pelo fato de elas não 
aceitarem a interferência dos pais na escolha dos cônjuges. Observa o autor que 
esses pais não são ingleses; emigraram da Índia, onde, em grande parte das 
etnias locais, são os pais os responsáveis pela união conjugal dos seus filhos. 
A escolha é uma decisão tomada em geral muito cedo, quando a menina nem 
sempre chegou a alcançar a puberdade. A recusa das filhas é considerada uma 
ofensa grave, que pode ser punida com medidas extremas. Embora os pais 
estejam sob o ordenamento e os costumes ingleses, o advogado deve conhecer 
a cultura do réu. 
Nesses casos, a Escola da Sociologia Interacionista vem reinterpretando a anomia 
como um sintoma; e a causa, como estrutura de ação. Neste caso, a norma não 
perderia a sua vigência, mas ela não teria controle suficiente sobre a conduta de 
seus membros. 
Essa hipótese não vai muito além do que Durkheim já havia demonstrado quando 
comparou o homicídio nas sociedades mecânicas com as sociedades modernas. 
No caso do pai hindu na Inglaterra, a anomia está no vácuo entre a cultura 
hindu – onde o valor da solidariedade está na família, e é esta que autoriza a 
decisão do pai na escolha do cônjuge para a filha, mantendo a obediência da filha 
sob forte ameaça de punição; e a cultura Inglesa, que é o ambiente onde a filha 
está sendo educada e socializada, e onde o tipo de solidariedade não está mais 
na família, mas no Direito do indivíduo, que é o primeiro a ser reconhecido. Neste 
caso, a intensidade da força se desloca da família para a imposição das normas. 
No Brasil, diversos estudos têm mostrado os conflitos sociais como anomia, 
fornecendo dados que confirmam as hipóteses de Gessner e Schade. Estudos 
recentes sobre as práticas de violência conjugal (RIFIOTIS, 2012, p. 300‑306) 
revelam que as políticas públicas de combate à impunidade, nos casos de violência 
contra a mulher, resultaram no amplo acesso à Justiça, porém um dado mais 
revelador do trabalho de Rifiotis é que as medidas de curto prazo reapropriadas 
pelas próprias mulheres que procuram as delegacias para apresentarem suas 
queixas, no curto prazo alteraram a figura do agressor como réu, quando se 
aproximaram mais dos procedimentos típicos dos mecanismos informais de 
resolução de conflitos. Disso deduz o autor que a interpretação “criminalizadora” 
representava uma série de obstáculos à compreensão dos conflitos interpessoais 
e às possibilidades de neles intervir. E conclui: a judicialização, neste caso, como 
38
Capítulo 2 
um processo, não se limitou à violência conjugal, mas, ao ampliar o acesso à 
Justiça, acabaria desvalorizando outras formas de resolução de conflitos. Há nesta 
análise de Rifiotis convergência com a análise de Gessner e Schade quando 
estes concluem que não é a falta de norma, mas que, ao se limitar ao texto da 
lei, o agente do Direito cria a anomia quando não interpreta adequadamente o 
comportamento dos litigantes e a natureza do conflito incorrendo em problemas 
de comunicação. Aqui está se referindo a duas lógicas: a lógica social do 
comportamento grupal e a lógica técnica do Direito.
Diversos estudos e pesquisas sociológicas no Brasil, quando apontam o abandono 
de crianças e adolescentes nos centros urbanos das grandes cidades brasileiras, 
como a causa da violência e da criminalidade, demonstram convergência com 
os estudos da sociologia internacional com relação à anomia. Nestes casos, 
a reinterpretação da anomia pela Escola da Sociologia Interacionista pode ser 
sugestiva para se avaliar a eficácia do artigo 227 da Constituição Brasileira e o 
Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil. Isso vale para a compreensão do 
comportamento humano frente a outras normas.
2.3 Max Weber
Max Weber nasceu em Erfurt, Turíngia na Alemanha, em 1864. Seu pai era jurista 
e influente político de uma família de comerciantes de linho e proprietária de 
indústrias têxteis na Alemanha Ocidental. Aos 13 anos, Max Weber já escrevia 
ensaios históricos e, ainda jovem, criticou Cícero 
como um “diletante das frases”, classificando‑o 
como mau político e orador irresponsável. 
Aos 17 anos, segue para Heidelberg e se matricula no 
curso de Direito. Estudou, simultaneamente, História, 
Economia e Filosofia com celebridades da época.
Aos 19 anos, teve que prestar um ano de serviço 
militar, experienciando os problemas das fronteiras 
germano‑eslavas que já se haviam revelado como 
uma fronteira cultural. 
Weber concluiu o curso de Direito e começou a 
trabalhar nos tribunais de Berlim. Dedicou‑se a 
uma área específica onde as histórias econômica e 
jurídica se confundiam. Escreveu sua tese de doutorado em 1889, sobre a história 
das companhias de comércio da Idade Média. Em 1889, prestava seu segundo 
exame de Direito, habilitando‑se para o Direito Comercial alemão e romano. 
Escreveu, em 1891, um tratado que intitulou Instituições Agrárias. Neste trabalho, 
seus intérpretes teriam identificado, no modesto título, uma brilhante análise 
sociológica, econômica e cultural da sociedade antiga, tema ao qual ele 
repetidamente retomava. 
Figura 2.3 ‑ Max Weber 
(1864‑1920)
Fonte: Löser (2005).
Sociologia Jurídica 
39
Em 1895, Weber proferiu sua aula inaugural na Universidade com o tema o Estado 
Nacional e a Política Econômica. Em 1896, sucedeu seus mestres nas cadeiras 
que haviam ocupado, tornando‑se respeitado pelo brilhante desempenho do 
trabalho intelectual. 
Em 1917, foi professor visitante na Universidade de Viena e, em 1919, foi 
convidado a ocupar a mesma cadeira em Munique. Escreveu diversas obras e 
realizou inúmeras pesquisas. Em 1918, por problemas de saúde, se afasta da 
atividade docente, mas continua escrevendo para diversos jornais alemães e 
colaborando com eles até sua morte em 1920.
Durante o período em que esteve licenciado, dedicou‑se ao estudo do método 
na pesquisa comparativa. Estudou as civilizações chinesa, hindu e judaica. Nutria 
tão forte interesse pela política, que, na República de Weimar, serviu no comitê de 
peritos que redigiram a Constituição. Embora tenha reconhecidamente assimilado 
de Marx a crítica ao capitalismo e à democracia burguesa, defendeu o governo 
constitucional democrático, como um governo do povo e para o povo. Acreditava 
que a democracia constitucional seria a única solução para os problemas internos 
e externos do seu país.
Max Weber é considerado, ao lado de Comte e Durkheim, o fundador da 
Sociologia. Publicou diversas obras, dentre as quais Economia e Sociedade, 
a qual destinou boa parte ao estudo da Sociologia Jurídica. 
Suas obras resultaram de pesquisas e, sempre com espírito crítico e analítico, 
avaliou os contrastes. Comentam seus intérpretes que, em viagens a Nova York, 
observou a falta de leis e a violência, ao mesmo tempo em que comparava 
os palácios com as choupanas, a mistura de povos e divisões de classes. 
Impressionou‑se com as condições precárias

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