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Sistema Digestório e Suas Aplicações Farmacológicas

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1 Sistema Digestório e Suas Aplicações Farmacológicas Gabriella Almeida XXIV 
Sistema Digestórios e suas Aplicações 
Farmacológicas (Referências: Fisiologia Médica – Boron; 
Princípios de Anatomia e Fisiologia – Tortora) 
Objetivos: 
• Compreender o funcionamento do sistema 
digestório; 
• Identificar e descrever os principais mecanismos 
na produção das secreções digestivas; 
• Analisar o processo de absorção dos nutrientes e 
relacioná-los com a absorção dos medicamentos; 
• Compreender os mecanismos envolvidos no 
processo e digestão dos alimentos. 
 
 A via oral é uma via importante para a 
administração dos medicamentos. 
 Dentre as várias possibilidades, a via oral é a 
principal pela facilidade, menor custo e demais 
benefícios. 
 
Farmacologia: 
 O sistema digestório desempenha importante 
papel na funcionalidade de um fármaco. 
 Um medicamento, ao ser ingerido pela via oral 
será liberado dentro do trato gastrointestinal 
(TGI) e lá será absorvido. 
 
Papel do Sistema Digestório no Organismo: 
 
 
 Processo de digestão: 
o Digestão Mecânica: trituração do alimento 
através da mastigação; mistura do alimento 
através das ondas mecânicas. 
o Digestão Química: 
▪ Digestão enzimática 
▪ Digestão ácida 
Ingestão de alimentos inicia múltiplas respostas: 
 Endócrina 
 Neural 
 Parácrina 
Através de: 
• Quimiorreceptores (estímulos químicos); 
• Mecanorreceptores (detectam, por exemplo, o 
estiramento do estômago com a chegada do 
alimento); 
• Osmorreceptores (receptores osmóticos, que 
percebem as osmolaridade dos componentes 
presentes nas atividades). 
 
 
REGULAÇÃO DA FUNÇÃO GASTROINTESTINAL – SN 
ENTÉRICO – Um segundo cérebro 
 
Sistema Nervoso Entérico apresenta: 
 Neurônios Sensoriais 
 Interneurônios 
 Neurônios Motores 
 
 É considerado uma 3ª divisão do SNA. 
 Sofre influências do SNC. 
 
 
O Sistema Nervoso Entérico apresenta duas 
subdivisões, sendo elas: 
• Plexo mioentérico: 
o Controla principalmente a motilidade do 
canal alimentar. 
• Plexo submucoso: 
o Controla principalmente as secreções do 
canal alimentar. 
O controle do funcionamento desses plexos se dá, 
principalmente, através de biotransmissores que são 
liberados pelos componentes do SNE, além dos 
peptídeos e aminas bioativas. 
A Ach, peptídeos e aminas bioativas são 
neurotransmissores do SNE que regulam a função 
motora e epitelial do TGI. 
 
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 Acetilcolina – principal neurotransmissor pré e 
pós-ganglionar que regula tanto a função 
secretória como a atividade do músculo liso no 
TGI. 
 Peptídeos como o peptídeo vasoativo intestinal 
(VIP) tem papel na inibição da musculatura lisa 
intestinal e na estimulação da secreção de fluidos 
e eletrólitos intestinais. 
 Outros peptídeos apresentam importante papel 
na regulação. 
 Aminas bioativas como a serotonina também 
participam da regulação de função motora e 
epitelial do TGI. 
 
Produtos da digestão dos alimentos: 
 Carboidratos na forma de monossacarídeos; 
 Lipídios na forma de ácidos graxos livre, 
colesterol e fosfolipídios; 
 Aminoácidos, provenientes da quebra das 
proteínas; 
 Vitaminas, solubilizadas à medida que vão sendo 
digeridas; 
 Sais Minerais; 
 Água. 
 
 
SISTEMA DIGESTÓRIO 
 É constituído basicamente por um tubo 
especializado ao longo do seu comprimento para 
o processamento sequencial do alimento, 
consistindo em uma série de segmentos ocos que 
se estendem da boca ao ânus e pela língua e 
dentes além de várias glândulas acessórias 
(glândulas anexas) e órgãos que adicionam 
secreções a eles. 
 
Túnicas do tubo digestório: 
 Mucosa: tem sua área de superfície amplificada 
por vários mecanismos. 
 Submucosa: consiste em tecido conjuntivo com 
vasos sanguíneos e, às vezes, glândulas. 
 Muscular: duas camadas de músculo liso e 
neurônios entéricos. 
 Serosa: camada envolvente de tecido conjuntivo 
que é coberto com células epiteliais escamosas. 
 
Assimilação dos nutrientes requer digestão e absorção 
dos nutrientes: 
• Um adulto sedentário necessita de 30kcal/Kg de 
peso para satisfazer suas necessidades 
energéticas. 
• O processo de digestão envolve várias partes do 
sistema digestório. 
• A absorção acontece principalmente no intestino 
delgado, mas desde a boca já ocorre absorção de 
nutrientes. 
 
 
 
Boca: 
 A boca e orofaringe são responsáveis por triturar 
o alimento, lubrificar e iniciar a digestão de 
carboidratos e gorduras e impulsionar o alimento 
ao estômago. 
 Nesse processo, os dentes são fundamentais para 
a trituração do alimento. 
 
Glândulas salivares: 
 As principais são a parótida, a sublingual e 
submandibular. 
 
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 A salivação é controlada pelo SNA, consistindo 
em 1000 a 1500mL ao dia. 
 A sensação e o sabor dos alimentos são 
estimuladores da salivação. 
 
 
 
A saliva é composta 95% de água, além de outros 
solutos como sódio, potássio, cloreto, bicarbonato e 
fosfato, alguns gases, ureia, ácido úrico, muco, lisozima 
e a amilase salivar, lipase e imunoglobulina A (IgA). 
 
Língua e suas papilas: 
 Constituída por um conjunto de músculos que 
promovem o movimento, alteram sua forma e 
posição, e auxiliam na mastigação, na fala e 
deglutição. 
 Apresenta ainda sensores (botões gustativos) 
que estão relacionados ao paladar, a informação 
que algo está sendo ingerido ou que estamos 
bebendo água, minimizando assim a sensação de 
sede. 
 
 
 
BOCA 
• É ainda importante local de absorção de 
fármacos pela via sublingual. Evitando o efeito de 
primeira passagem que acontece quando 
utilizamos via oral. 
 
Deglutição: 
• É o movimento que move o alimento da boca 
para o esôfago é facilitado pela secreção de saliva 
e muco, envolvendo a boca a faringe e esôfago. 
• Fase voluntária – passagem do alimento para a 
parte oral da faringe; 
• Fase faríngea – passagem involuntária do bolo 
alimentar da faringe para o esôfago; 
• Fase esofágica – passagem involuntária do bolo 
alimentar do esôfago até o estômago. 
 
 
ESÔFAGO 
 Atua como um canal condutor para o estômago. 
 Produz uma secreção mucosa que ajuda a 
lubrificar o órgão facilitando a passagem do bolo 
alimentar. 
 Quase não participa do processo de absorção de 
nutrientes e fármacos, devido seu epitélio 
estratificado. 
 
 
ESTÔMAGO 
 Armazena temporariamente o alimento e 
participa do processo de digestão através da 
mistura do bolo alimentar com os ácidos e 
enzimas presentes no suco gástrico, além de 
triturá-lo e transferir o quimo para o duodeno. 
 Importante para a absorção de nutrientes e 
fármacos que já estejam, nesse ambiente ácido, 
 
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em uma forma possível de atravessar as 
membranas celulares. 
 
 
Suco gástrico: 
 Corpo – secreta ácido, pepsinogênio e fator 
intrínseco, principalmente pelas células parietais 
(ácido e fator intrínseco) além de células mucosas 
que produzem muco. 
 Antro – região pilórica – Nessa região não 
encontramos células parietais, portanto nessa 
região não é secretado nem o ácido nem o fator 
intrínseco. Contém células principais e 
endócrinas incluindo as células G e D que 
produzem gastrina e somatostatina. 
 As células epiteliais de revestimento (superficial) 
que recobrem as criptas gástricas bem como a 
superfície que secretam HCO3
-. 
 
Bombas de prótons 
• As bombas de prótons, alimentadas pelo ATP, 
secretam H+. 
• O Cl- difunde para o lúmen do estômago através 
dos canais de Cl-. 
 
 
 
Substâncias que estimulam direta e indiretamente a 
secreção de ácido: 
• Histamina: produzida por uma célula cromafim 
que fica próxima da célula parietal, e de forma 
endócrina regula a estimulaçãoda produção do 
ácido do estômago. 
• Acetilcolina: Um neurônio colinérgico libera Ach 
e a ligação da Ach com o receptor provoca a 
estimulação da célula. 
• Gastrina: Hormônio secretado por células 
enteroendócrinas do próprio estômago que 
fazem uma regulação parácrina da célula, mas 
também uma regulação endócrina. 
 
 
 
 
Prostaglandina PGE2 e somastostatina na inibição da 
secreção de ácido: 
• PGE2 e somatostatina atuam ativando a proteína 
Ga, que inibe a adenilato ciclase impedindo assim 
a formação de AMPc que ativaria a fosfoquinase 
(PKA). 
 
 
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Hormônios entéricos que inibem a secreção de H+ 
 
 
Efeito da alimentação sobre a secreção de ácido: 
 
 
A refeição desencadeia 3 fases da secreção de ácido: 
 
 
Importância da acidez do suco gástrico: 
• O líquido fortemente ácido do estômago mata 
muitos microrganismos dos alimentos. 
• O HCl desnatura parcialmente as proteínas dos 
alimentos e estimula a secreção de hormônios 
que promovem o fluxo da bile e do suco 
pancreático. 
 
Secreção de pepsinogênio: 
• As células principais secretam o pepsinogênio 
que é a forma inativa da pepsina. 
• Essa enzima se torna ativa após hidrólise ácida já 
na luz do estômago. 
• Degrada parcialmente as proteínas. 
• A secreção é realizada pela secreção Ach por 
estímulo vagal. 
• O ácido gástrico provoca um reflexo colinérgico 
no local produzindo Ach. 
 
Digestão enzimática de proteínas no estômago: 
• A digestão enzimática das proteínas também 
começa no estômago. A pepsina secretada pela 
célula principal, rompe certas ligações peptídicas 
entre os a.a., fragmentando uma cadeia proteica 
de muitos aminoácidos em fragmentos 
peptídicos menores. A pepsina é mais efetiva no 
ambiente ácido do estômago (pH 2); torna-se 
inativa em um pH mais alto. 
 
O que impede que a pepsina digira as proteínas das 
células do estômago junto com os alimentos? 
• Em primeiro lugar, a pepsina é secretada em uma 
forma inativa chamada pepsinogênio; nesta 
forma, ela não é capaz de digerir proteínas nas 
células principais gástricas que a produzem. O 
pepsinogênio não é convertido em pepsina ativa 
até que tenha entrado em contato com o ácido 
clorídrico secretado pelas células parietais ou 
moléculas de pepsina ativa. 
• Em segundo lugar, as células epiteliais do 
estômago são protegidas do suco gástrico por 
uma camada de 1 a 3mm de espessura de muco 
alcalino secretado pelas células mucosas da 
superfície e células mucosas do colo. 
 
Importância do muco na proteção da mucosa do 
estômago 
• A camada de muco produzido pelas células 
mucosas do estômago cria um ambiente que 
dificulta o ácido, presente no suco gástrico, de 
chegar na mucosa por diferenças de afinidade do 
muco com a água onde os prótons estão 
dissolvidos. Isso dificulta a entrada de H+ no 
muco. 
• A secreção de HCO3-, pelas células mucosas 
neutraliza o H+ do suco gástrico de modo que, 
enquanto os íons bicarbonato vão em direção ao 
lúmen do estômago, vão encontrando e 
neutralizando os prótons que vem em direção 
contrária. 
• As prostaglandinas PGE2 e PGI2 estimulam essa 
secreção de bicarbonato e são inibidas por anti-
inflamatórios, diminuindo a proteção da mucosa, 
podendo levar a úlceras. 
 
Digestão mecânica no estômago: 
 As ondas peristálticas que ocorrem 
principalmente no corpo empurram o alimento 
em direção ao antro pilórico em um processo 
denominado propulsão. Como o óstio pilórico 
 
6 Sistema Digestório e Suas Aplicações Farmacológicas Gabriella Almeida XXIV 
encontra-se muito estreito e a partículas 
alimentares ainda são grandes, elas são forçadas 
para trás num movimento denominado 
retropulsão. Isso se repete até que o processo de 
digestão estomacal termine. 
 O esvaziamento gástrico vai se processando à 
medida que as partículas ficam pequenas o 
suficiente para passar pelo óstio pilórico em 
direção ao duodeno. 
 Parte dos alimentos podem permanecer por 
cerca de 1h no fungo gástrico sem se misturar 
com o suco gástrico, enquanto isso a amilase 
continua sua atividade. 
 
PÂNCREAS 
• São produzidas 1200 a 1500mL dia de suco 
pancreático, contendo diversas enzimas: 
o Digestão de proteínas: Tripsina, 
quimiotripsina, carboxipeptidase, elastase 
o Digestão de lipídeos: lipase 
o Digestão de amido: amilase 
o Digestão de ácidos nucleicos: ribonuclease e 
desoxiribonuclease 
 
Além das enzimas contêm bicarbonato (eleva o pH do 
suco pancreático para 7,1 até 8,2), tamponando o suco 
gástrico interrompendo a ação da pepsina e criando 
um pH adequado para ação das enzimas pancreáticas. 
 
FÍGADO E VESÍCULA BILIAR: 
• Os hepatócitos secretam de 800 a 1000mL/dia de 
bile, com pH de 7,6 e 8,6, contendo água, sais 
biliares, colesterol, lecitina, pigmentos biliares e 
íons. 
 
Funções do Fígado: 
• O fígado diretamente recebe, processa e 
armazena materiais absorvidos do aparelho 
digestivo, como aminoácidos, glicídios, ácidos 
graxos, colesterol e vitaminas, sendo capaz de 
liberar metabólitos desses compostos, quando há 
a necessidade. 
• O fígado sintetiza muitas proteínas plasmáticas, 
incluindo albumina, globulinas α e β, fatores de 
coagulação e proteínas de transporte. 
• Contribui para o sistema imunitário do organismo 
através de sua resposta imunitária hepática e 
pela depuração de complexos imunológicos da 
circulação. 
• O fígado é também o principal órgão de 
biotransformação, sendo local da transformação 
de compostos tanto endógenos como exógenos 
para torná-los inativos e ou excretáveis. 
 
Funções hepáticas: 
• Uma outra função importante do fígado é 
sintetizar ácidos biliares a partir do colesterol e 
secretar esses compostos para o intestino, 
gerando assim fluxo biliar e facilitando a 
emulsificação e absorção de lipídios alimentares. 
• Devido ao fato de o fígado ser o principal local do 
catabolismo dos hormônios tireoidianos, 
esteroides e outros, participa da regulação dos 
níveis plasmáticos deles. 
• O fígado responde a estímulos múltiplos neurais 
e hormonais para regular a glicose plasmática. 
 
INTESTINO DELGADO: 
• Sulco intestinal constituído por diversas enzimas 
digestivas: 
o Peptidases, 
o Nucleosidases, 
o Fosfatases, 
o Lipase, 
o α-Destrinase, 
o Sacarase, 
o Maltase, 
o Lactase. 
• É ainda o principal local de absorção de 
nutrientes e fármacos entre todos os outros. 
• Absorção de monossacarídeos – são absorvidos 
por difusão facilitada ou transporte ativo. 
• Absorção de aminoácidos, dipeptídeos e 
tripeptídeos – são absorvidos por processo ativo. 
• Absorção de lipídios – são absorvidos por difusão 
simples. 
 
7 Sistema Digestório e Suas Aplicações Farmacológicas Gabriella Almeida XXIV 
• Absorção de eletrólitos – absorvidos por difusão 
a transporte ativo. 
• Absorção de vitaminas – quase todas por difusão 
simples, Vit B12 combina-se ao fator intrínseco e 
é absorvida por transporte ativo. 
 
 
INTESTINO GROSSO: 
• Importante para a absorção de água e eletrólitos, 
e para produção de determinadas vitaminas, 
formar e expulsar as fezes do corpo. 
• A digestão final ocorre no colo por ação de 
bactérias, pequenas proteínas, aminoácidos, 
bilirrubina. 
• Algumas vitaminas B e a vitamina K são 
absorvidas. 
• Um bom local para a administração de fármacos. 
• Acontece a concentração do bolo fecal através da 
absorção da água por osmose. 
• O reflexo da defecação acontece pela distensão 
da parede do reto, que estimula receptores de 
estiramento que resulta na defecação. 
• A parte voluntária da defecação envolve o 
músculo esfíncter externo do ânus, que se for 
contraído pode adiar a defecação.

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