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4 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil

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22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 1/46
O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil
Prof. Rodrigo Perez
Descrição
Compreender o propósito da construção de um discurso de identidade
nacional durante os primeiros anos da República.
Propósito
Estudar o regime historiográfico ensaísta no Brasil.
Objetivos
Módulo 1
Uma breve teoria do ensaio
Examinar os conceitos norteadores que envolvem o ensaio como
forma de expressão do pensamento historiográfico.
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Módulo 2
O regime historiográ�co ensaísta
no Brasil
Analisar o regime ensaísta na historiografia brasileira entre fins do
século XIX e a década de 1950.
Módulo 3
Os autores ensaístas e suas obras
Examinar os autores reconhecidos como as três principais fontes do
ensaísmo brasileiro: Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio
Buarque de Holanda.
Introdução
O final do século XIX foi marcado por transformações profundas
na sociedade brasileira. A monarquia dava sinais de cansaço e as
elites políticas tradicionais não mais conseguiam sustentar o
regime. A fundação do Partido Republicano, em 1870, mostrou
que a monarquia não era mais um consenso entre as classes
dirigentes.
Reforma do sistema educacional, abolição da escravidão,
federalismo administrativo e a própria República eram demandas
por mudanças na estrutura política, social e administrativa do
país. As transformações se deram também na esfera intelectual.
Uma nova geração de pensadores passou a questionar o
establishment intelectual que havia fundado o Estado nacional
brasileiro. Jovens como Silvio Romero, Joaquim Nabuco, Assis
Brasil e outros tantos se notabilizaram por formarem aquilo que

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na época ficou conhecido como “geração de 1870”. O historiador
cearense Capistrano de Abreu foi um dos representantes dessa
atmosfera de renovação intelectual, especificamente no que se
refere às suas críticas à historiografia oficial produzida pelo
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o IHGB.
Em 1878, na ocasião da morte de Francisco Adolfo de Varnhagen,
Capistrano de Abreu publicou no Jornal do Comércio um
obituário. Tratava-se de um dos maiores veículos da imprensa da
época e o texto pode ser considerado a estreia do então jovem
historiador na cena intelectual da Corte.
No texto, que era para ser uma homenagem a Varnhagen, na
época reconhecido como o grande “historiador da pátria”,
Capistrano de Abreu fez uma crítica teórica e política ao IHGB e
ao próprio Visconde de Porto Seguro. Essa historiografia oficial
seria politicamente conservadora e hostil ao povo. Não estaria
alinhada às novidades da sociologia moderna e ainda teria um
estilo enfadonho, não sendo capaz de produzir uma síntese
explicativa da história nacional que pudesse colaborar para a
modernização do Brasil.
Na prática, Capistrano de Abreu estava propondo uma agenda
historiográfica que seria colocada em prática ao longo da
primeira metade do século XX, e que podemos chamar de
“ensaísmo de interpretação do Brasil”. É este o tema que
estudaremos aqui.
Establishment
A elite estabelecida intelectual.
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1 - Uma breve teoria do ensaio
Ao �nal deste módulo, você será capaz de examinar os conceitos
norteadores que envolvem o ensaio como forma de expressão do
pensamento historiográ�co.
O ensaio como forma na
teoria de Theodor Adorno
Dizer que, entre o final do século XIX e meados do século XX, a
historiografia brasileira foi caracterizada por um “regime ensaísta”
pressupõe uma definição baseada na forma. Segundo essa definição, o
ensaio foi a forma de expressão dominante entre os letrados que, no
período, se dedicaram ao estudo da história nacional. Mas o que
significa escrever um ensaio? Em que medida o ensaio se diferencia de
outros estilos de escrita?
Resposta
É necessário definir ensaio neste contexto, esclarecendo suas principais
características. É esse o nosso esforço nesse momento. Dialogaremos,
a seguir, diretamente com as teorias do ensaio desenvolvidas por
Theodor Adorno e Georg Lukács.
Segundo Adorno, a forma ensaística precisa ser historicamente situada
na modernidade, mais especificamente no século XVIII, quando surge
como resposta ao cientificismo cartesiano. Segundo o autor, a
revolução científica que aconteceu na Europa entre os séculos XVI e
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XVIII resultou no paradigma teorizado por René Descartes (1596-1650)
no seu Discurso sobre o Método, publicado na década de 1680.
Segundo esse paradigma, que viria a estruturar a ciência moderna, a
linguagem tem dimensão de apenas apresentação, e sua função
limitada a comunicar a operacionalidade do método. A autoridade do
conhecimento pertenceria ao método, entendido como o procedimento
executado pelo cientista, imune a qualquer subjetividade. O cientista
cartesiano, portanto, é pretensamente universal, sem gênero, sem raça e
sem nacionalidade.
Tratado como operador do método, o conhecimento
que produz e comunica por uma linguagem,
pretensamente neutra, é também pretensamente,
objetivo. Como podemos perceber, a ciência moderna é
marcada pela pretensão. Pretensão à universalidade, à
objetividade e à neutralidade.
Para Adorno, o ensaio surge como questionamento a essas pretensões,
como um ato de resistência da subjetividade sufocada pela
cientificidade cartesiana. Enquanto a austeridade linguística cartesiana
apresentava a promessa do conhecimento perfeito, possível de ser
construído pelo império do método, o ensaio introduz a dúvida e a ironia.
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Os Ensaios de Montaigne (1533-1592), publicados no século XVIII,
teriam sido a primeira manifestação desse gênero de comunicação que
desafiou a linguagem científica. Enquanto o cientista se contenta em
comunicar aquilo que é demonstrável pelo método, o ensaísta não se
constrange em dar livre curso às suas sensações, intuições e
interpretações, que nem sempre podem ser verificadas, ou são para
serem verificadas. Por isso, é muito comum que o ensaísta proceda por
“superinterpretações”, para utilizarmos as palavras do próprio Adorno.
“Superinterpretar” significa arriscar leituras da
realidade que provocam discordâncias, cuja veracidade
não se sustenta em um procedimento metodológico
passível de ser repetido para fins de demonstração.
Como estudamos aqui, os ensaístas brasileiros tomaram a história do
Brasil como meta ser explicada, em um exercício de grandes
explicações e interpretações, cujo objetivo era desvelar o sentido do
processo histórico nacional.
O ensaio, nesse sentido, seria um desafio ao tipo de cientificidade que
se fez hegemônico no ocidente moderno. Haveria, então, certa
dimensão política disruptiva na elaboração ensaística. Novamente,
retornamos à reflexão de Adorno:
O ensaio, em contrapartida, incorpora seu
impulso antissistemático em seu próprio
modo de proceder, introduzindo sem
cerimônia e imediatamente os conceitos, tal
como eles se apresentam. Estes só se
tornam mais precisos por meio das relações
que engendram entre si. Pois é mera
superstição da ciência propedêutica pensar
os conceitos como intrinsecamente
indeterminados, como algo que precisa de
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definição para ser determinado. A ciência
necessita da concepção do conceito como
uma tábula rasa para consolidar sua
pretensão de autoridade, para mostrar-se
como o único capaz de sentar-se à mesa. Na
verdade, todos os conceitos já estão
implicitamente concretizados pela linguagem
em que se encontram. O ensaio parte das
significações e, por ser ele próprio essência
da linguagem, leva-as adiante; ele gostaria de
auxiliar o relacionamento da linguagem com
os conceitos, acolhendo-os na reflexão, tal
como já se encontram inconscientemente
denominados na linguagem.
(ADORNO, 2015, p. 28)
O ensaio se diferenciaria da monografia científica cartesiana pela sua
aparente falta de compromisso com a sistematização conceitual mais
rígida. Como parte do princípio de que os conceitos possuem vida
própria, o ensaísta pressupõe que o leitor já conhece o significado dos
termos mobilizados e, por isso, não se preocupa em elaborar maiores
divagações conceituais.
Essa dimensão ensaística, muitas vezes, é considerada como sinal de
fragilidade científica, o que faz com que, não raro, o ensaio seja
considerado gênero epistemicamente superior. É mais interessante,
porém, analisar o ensaio no lugar que lhe é próprio: como uma reação à
ortodoxia cartesiana, que não se mede pelos mesmos valores desse
tipo de cientificidade. Também Georg Lukács nos ajuda a entender
melhor as especificidades conceituais do ensaio.
O ensaio como revelador das
pulsões anímicas que
produzem a arte
Diferente de Adorno, Georg Lukács (1885-1971) trata o ensaio como
gênero específico da crítica estética. Ocupando um meio lugar entre o
cientista e o artista, o ensaísta seria aquele que se debruça sobre as
manifestações artísticas. O ensaio seria, então, uma espécie de “ciência
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da arte”, na medida em que teria como propósito tomar a arte como
objeto e analisá-la com critério racional e metodológico.
Diferentemente do cientista cartesiano, que toma os fenômenos
naturais como objeto, e diferente também do artista, que tem o único
objetivo de dar livre curso às suas sensações, o ensaísta reúne os dois
ofícios, sem se confundir com nenhum deles.
Age de modo semelhante ao cientista quando descreve e explica o
fenômeno artístico. Age de modo semelhante ao artista quando se
dedica a expressar os sentimentos fundamentais manifestados na
atividade artística. Apesar de vincular o ensaio à crítica da arte, Lukács
afirma que o objeto do ensaísta envolve também outras atividades
humanas, sempre interessado em revelar as pulsões anímicas que
possibilitam a existência humana.
O ensaio sempre fala de algo já condensado
em forma ou, no melhor dos casos, de algo
que já existiu; faz parte de sua essência não
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extrair coisas novas do nada, mas
simplesmente ordenar coisas que, em algum
momento, foram vivas. E como só ordena,
como não cria formas novas a partir do
informe, o ensaio também está vinculado às
coisas, tendo sempre de expressar a ‘verdade’
sobre elas, de encontrar expressão para sua
essência. [...] É mais ou menos assim que
imagino a ‘verdade’ do ensaio. Também aqui
há uma luta pela verdade, pela corporificação
da vida que se capturou de um homem, ou de
uma época, de uma forma: no entanto,
depende apenas da intensidade e da visão
que o escrito não passe uma sugestão dessa
vida única.
(LUKÁCS, 2015, p. 43)
O ensaio teria como objeto as verdades humanas que se corporificam
nas formas. Não é a verdade cartesiana, dura, passível de ser extraída
pelo devido método. É a verdade existencial que o humano imprime em
tudo que faz, em toda forma que produz.
O ensaísmo brasileiro
segundo as teorias de Adorno
e Lukács
A discussão a respeito do estatuto do ensaio na operação
historiográfica envolve, antes de qualquer coisa, as virtudes e os vícios
epistêmicos tais como foram definidos pela cientificidade cartesiana.
Cartesianamente falando, a linguagem é apenas o suporte de
comunicação do procedimento científico.
A ciência cartesiana
definiu a monografia
científica como seu
discurso
apresentacional,
O ensaio questiona
essa hierarquia que
sobrepõe o método à
linguagem, como
argumentam, cada um a
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esperando um texto
sóbrio, objetivo e
austero, em que o autor
é um comunicador de
método.
seu modo, Adorno e
Lukács.
Diz Adorno que o ensaio opera com superinterpretações, sendo meio de
expressão de uma imaginação criativa sufocada pela disciplinarização
das ciências operada no âmbito da universidade moderna.
O ensaio seria, então,
para Adorno, a
sobrevivência insistente
de um procedimento
retórico (fundado na
premissa de que a
linguagem cria
realidades) que a
cientificidade
cartesiana tentou, de
todas as formas,
extirpar.
Já Lukács está
preocupado com o lugar
do ensaio na crítica da
arte, seja na literatura
ou na poesia. O
ensaísta seria, então, o
crítico da arte, analista
das manifestações
estéticas. Seu objetivo,
segundo Lukács, é
captar a manifestação
da alma (a pulsão
anímica) manifestada
na arte.
Não se trata da mera descrição do procedimento artístico, mas sim de
um gesto analítico que não se confunde com a investigação cartesiana.
Tampouco é equivalente à arte. É uma forma de crítica que visa
apreender o sentido da arte e comunicá-lo, adotando para isso também
a forma adequada.
Em suas superintepretações da realidade histórica
nacional, os ensaístas se dedicaram a compreender
aquilo que seria intrínseco ao processo histórico
brasileiro, as “pulsões anímicas” da vida nacional, para
usarmos a formulação de Lukács.
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Ensaismo e as ciências sociais
Neste vídeo, vamos falar sobre a relação entre ensaísmo e ciências
sociais.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Segundo Theodor Adorno, o ensaio se manifesta em oposição a um
tipo de cultura científica bastante consolidada no ocidente
moderno. É correto afirmarmos que
Parabéns! A alternativa E está correta.
Na teorização proposta por Adorno, o ensaio é tratado como uma
reação à hegemonia da cientificidade cartesiana, que reduziu a
A o ensaio é um material sem valor.
B o ensaio é uma peça do poder hegemônico.
C o ensaio é um sinônimo de artigo científico.
D o ensaio é uma ferramenta de linguagem.
E o ensaio é uma reação à razão hegemônica.
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linguagem à função apresentacional do procedimento
metodológico .
Questão 2
As teorias do ensaio elaboradas por Theodor Adorno e Georg
Lukács colaboram para a compreensão do regime historiográfico
ensaísta brasileiro. Por quê?
Parabéns! A alternativa E está correta.
A ideia de “superinterpretação ensaística” formulada por Adorno
ajuda a entender os compromissos dos ensaístas brasileiros em
interpretar a totalidade do processo histórico nacional. Já ao falar
em “pulsões anímicas” que impulsionam a vivência humana, Lukács
colabora para entender o interesse dos ensaístas em compreender
as pulsões fundamentais da existência histórica brasileira.
A A noção de umateorização mais livre.
B Dinâmica à investigação arqueológica.
C Mergulhar nas medidas econômicas.
D
Permitir atuação de qualquer pessoa não
acadêmica.
E
Relacionar teorias e sínteses sem amarras
tradicionais.
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2 - O regime historiográ�co ensaísta no Brasil
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o regime ensaísta na
historiogra�a brasileira entre �ns do século XIX e a década de 1950.
A caracterização do ensaísmo
brasileiro
Como já sabemos, o ensaio foi o estilo dominante de expressão
historiográfica no Brasil entre final do século XIX e meados do século
XX. Antes de aprofundarmos nossa reflexão, é importante deixar claro
que o “ensaísmo” jamais se articulou como movimento unificado.
Diferentemente dos movimentos culturais, como o movimento
modernista, o ensaísmo não expressa a organização e a atuação de um
grupo de indivíduos/autores com interesses coletivos comuns
programáticos e deliberados, a despeito de seus conflitos e disputas
internas. Inclusive, sua unidade é invenção posterior feita por aqueles
que analisaram a história intelectual brasileira.
Segundo André Botelho:
Noutras palavras, pensar os ensaios de
interpretação do Brasil como um conjunto
unitário é um problema que se colocou a
posteriori, e em especial pelas ciências
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sociais, cujo bem-sucedido processo de
institucionalização se processou no período
imediatamente posterior ao seu surgimento,
e simultaneamente ao seu desenvolvimento
(cf. MICELI, 2001). Processo que, sob o
influxo de vertentes sociológicas europeias e
norte-americanas, sobretudo estas,
consolidou a adoção de um novo padrão
cognitivo definido prioritariamente no sentido
da pesquisa empírica, que, ao lado da sua
forma narrativa correspondente, a monografia
científica, acabou por redefinir o lugar e o
sentido do ensaio na cultura brasileira.
(BOTELHO, 2013, p. 47)
Mesmo que não existisse uma unidade programática que tornasse
possível tratar o ensaísmo como um movimento intelectual
sistematizado, existiam algumas características em comum entre um
conjunto de autores relativamente contemporâneos que nos permitem
tratar o ensaio como um regime historiográfico predominante na cena
brasileira entre fins do XIX e meados do século XX.
Edição de 1936 do livro Raízes do Brasil.
Na década de 1940, o livro Raízes do Brasil”, publicado em 1936, abria a
coleção “Documentos brasileiros”, que a editora José Olympio colocava
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à disposição do público leitor brasileiro, sob a coordenação de Gilberto
Freyre. Tendo por intenção, como salientou seu diretor na apresentação
da edição, disponibilizar ao leitor um conjunto de material inédito, a
coleção ocupou um lugar central no mundo livresco e na cena editorial
do Brasil na primeira metade do século XX. Entre os gêneros assumidos
por tal material, Freyre destacava o inventário e a biografia, o documento
“em estado quase bruto” e a “interpretação sociológica em forma de
ensaio”.
Sérgio Buarque oferecia ao público, segundo Freyre, um trabalho de
análise, interpretação e esclarecimento da realidade histórica brasileira,
escrito na forma do ensaio.
Segundo Fernando Nicolazzi:
O ensaio histórico pode ser caracterizado
pelo jogo entre síntese e erudição. De um
lado, percebe-se sua dimensão sintética, por
meio da qual o esforço de descrição da
totalidade dos fatos dignos de memória cede
espaço ao trabalho da síntese interpretativa.
Em outras palavras, à narração dos fatos
históricos das histórias gerais se sobrepõe a
interpretação de um sentido formador; daí a
ênfase constante na ideia de ‘formação’ que
definiu alguns traços da produção
historiográfica brasileira na primeira metade
do século XX. Talvez o ‘sentido da
colonização’ oferecido por Caio Prado Júnior.
em 1942 seja o exemplo mais evidente disso.
De outro lado, correlato ao predomínio da
síntese, nos ensaios é perceptível o
deslocamento da erudição crítica justamente
em proveito da interpretação sintetizadora.
(NICOLAZZI, 2016, p.91)
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Formas do ensaísmo
brasileiro
Os ensaístas estavam interessados em compreender a atuação das
forças que vinham formando o Brasil desde a colonização. Tendo sido
convertidos em cânones daquilo que costumamos chamar de
“pensamento social brasileiro”, esses autores seriam expressivos de
uma teoria e/ou da velha ciência política brasileira, praticada por
juristas, sociólogos e economistas antes da especialização universitária
(LYNCH, 2016, p. 75).
Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior,
Oliveira Vianna, Raimundo Faoro, Florestan Fernandes
e Sérgio Buarque de Holanda estão entre os
“intérpretes do Brasil”
Assim, de Euclides da Cunha a Florestan Fernandes, diversos autores
tomaram o Brasil como objeto a ser explicado cientificamente,
pretendendo compreender a ação das forças que bloqueavam o
progresso nacional. Via de regra, esses autores utilizaram o ensaio
como gênero discursivo prioritário, seguindo quase todos um mesmo
padrão narrativo, começando por um grande balanço da história do
Brasil e terminando com um projeto político sobre como superar os
problemas do país (LAMOUNIER, 2007).
Publicado em 1920, Populações meridionais do Brasil, de Francisco José
Oliveira Vianna, abre a produção do período, seguido, na mesma década,
por Retrato do Brasil, de Paulo Prado, que, como Macunaíma, de Mário
de Andrade, apareceu em 1928. Em 1933, foram publicados Casa-
Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, e Evolução política do Brasil, de
Caio Prado Júnior; três anos depois, Sobrados e mucambos, também de
Freyre, e Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda.
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Francisco José Oliveira Vianna
Na década seguinte, voltaram aos prelos Caio Prado e Oliveira Vianna, o
primeiro com Formação do Brasil contemporâneo, em 1942, o segundo
com Instituições políticas brasileiras, em 1949 – para citar apenas
alguns dos mais emblemáticos ensaios do período. As interpretações
do Brasil existem e são relidas no presente, não como supostas
sobrevivências do passado, mas orientando as escolhas de pessoas e
imprimindo sentido às suas experiências coletivas.
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Caio Prado Júnior.
Elas constituem um espaço social de comunicação entre diferentes
momentos da sociedade, entre seu passado e futuro, e é por isso que
sua pesquisa pode nos dar uma visão mais integrada e consistente da
dimensão de processo que o nosso presente ainda oculta. E porque
representam um “repertório interpretativo” a que podemos recorrer,
manifesta ou tacitamente, para buscar motivação, perspectiva e
argumentos em nossas contendas, bem como na mobilização de
identidades coletivas e de culturas políticas.
É preciso, então, começar por reconhecer que nem o “ensaísmo” nem as
“interpretações do Brasil” neles esboçadas constituem realidades
ontológicas estáveis. São antes objetos de disputas cognitivas e
políticas e, nesse sentido, recursos abertos e contingentes, ainda que
não aleatórios, no presente.
Ensaísmo sociológico
Geralmente, o ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil é
associado ao regime historiográfico da Primeira República, anomes
como Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Caio
Prado Júnior. A ordem cronológica, no entanto, é frágil, pois elementos
do ensaísmo podem ser encontrados também no século XIX, como
demonstra Fernando Nicolazzi para o caso de Gonçalves Magalhães, e,
na segunda metade do século XX, em autores como Raimundo Faoro e
Florestan Fernandes.
Atenção!
A definição precisa do gênero “ensaísmo sociológico de intepretação do
Brasil” é caracterizada pelo gesto analítico da síntese e pelo
comprometimento em desvelar as causas do atraso nacional e
colaborar para a modernização do país. O ensaio, como forma, garante
que a intuição, a interpretação e a generalização sejam consideradas
virtudes epistêmicas.
A criação das categorias “ensaísmo” e “intérpretes do Brasil”, como
demonstra André Botelho, é posterior e foi forjada pelos estudos sociais
universitários em seus esforços de estudar a história intelectual
brasileira.
Com a institucionalização dos estudos sociais nas universidades,
temos a reinvenção das hierarquias epistêmicas. A generalização, a
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imaginação e a intuição passam a ser consideradas vícios epistêmicos,
enquanto o estudo especializado, a erudição empírica e a monografia
científica se tornam virtudes. Daí podemos entender a interdição do
ensaísmo na cultura científica universitária.
Os “intérpretes do Brasil” passaram a ser lidos como representantes de
um momento pré-científico da história da inteligência brasileira.
Estudos sociais nas universidades
Processo que tem início na década de 1930 e se aprofunda na década de
1970.
Formas de ensaísmo no Brasil
Neste vídeo, vamos falar sobre as formas de ensaísmo brasileiras.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A unidade do ensaísmo brasileiro é uma invenção posterior. Por que
essa afirmação está correta?
A Os intelectuais são estrangeiros.
B Foi organizado pelo IHGB.
C Foi organizado pela CIA.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
O ensaísmo não foi um movimento intelectual sistematizado, com
agenda programática, mas sim um conjunto de autores
relativamente contemporâneos que tinham algumas características
em comum. A unidade do ensaísmo foi produzida posteriormente,
na década de 1970, quando as ciências sociais institucionalizadas
se debruçaram sobre a história intelectual brasileira.
Questão 2
Modo de expressão historiográfica dominante no Brasil ao longo da
primeira metade do século XX:
Parabéns! A alternativa A está correta.
O ensaísmo no Brasil se manifestou como superinterpretações da
história brasileira no sentido de compreender as forças que movem
a história nacional.
D Cada ensaio fazia pouco sucesso e não era lido.
E
As ações foram contemporâneas, mas sem
constituir movimento.
A Ensaísmo
B Academicismo
C Ilustracinismo
D Monetismo
E Marxismo
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3 - Os autores ensaístas e suas obras
Ao �nal deste módulo, você será capaz de examinar os autores
reconhecidos como as três principais fontes do ensaísmo brasileiro:
Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda.
O luso-tropicalismo de
Gilberto Freyre
A trajetória intelectual de Gilberto Freyre ficou marcada pelo livro Casa
Grande & Senzala, considerado um cânone ensaísta consolidado na
história intelectual brasileira.
A obra do autor é muito mais vasta, compreendendo, por exemplo, os
livros Sobrados e Mocambos e Ordem e Progresso, publicados,
respectivamente, em 1936 e 1959. Ainda podemos destacar o Guia
prático histórico e sentimental da história de Recife, de 1934, Uma cultura
ameaçada: a luso-brasileira, de 1940, e O mundo que o Português criou,
também de 1940. Assim, é possível perceber que o tema prioritário da
obra de Freyre é a cultura luso-brasileira, o encontro de repertórios entre
Brasil e Portugal.
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Gilberto Freyre.
Essa relação algo elogiosa com o passado colonial é uma das
características marcantes da interpretação do Brasil desenvolvida por
Gilberto Freyre, o que o diferencia de outros ensaístas, como veremos a
seguir. Na época da publicação de Casa Grande & Senzala, o debate
político e intelectual brasileiro estava marcado pelo tema da
mestiçagem. Mas a mestiçagem, isto é, o contato sexual entre grupos
étnicos distintos, costumava ser apresentada como um problema: ora
implicava em esterilidade – biológica e cultural, inviabilizando assim o
desenvolvimento nacional -, ora retardava o completo domínio da raça
branca, dificultando o acesso do Brasil aos valores da civilização
ocidental.
O enorme impacto produzido pelo surgimento de Casa-Grande &
Senzala, aprofundando a contribuição pioneira de alguns outros autores
como Manuel Quirino, Lima Barreto e Manoel Bomfim, concorreu para
alterar esta avaliação, enfatizando não só o valor específico das
influências indígenas e africanas, bem como a dignidade da híbrida e
instável articulação de tradições que teria caracterizado a colonização
portuguesa.
Segundo Ricardo Benzaquen Araújo:
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[...] essa redescoberta, aliás, começa pelo
fato de que o primeiro grupo designado como
mestiço em ‘Casa Grande & Senzala’ é
composto precisamente pelos próprios
portugueses. Sublinhando o caráter de
fronteira da península Ibérica, rota de
passagem entre a África e a Europa, e cenário
de intercâmbios étnicos e sobretudo
culturais, Gilberto vai convertê-los em um
personagem híbrido, fruto de um amálgama
que envolveu, entre outros, árabes, romanos e
judeus, e que se iniciou muito antes do seu
desembarque no continente americano.
(ARAÚJO, 1999, p. 2000)
Um dos grandes elementos de novidade trazidos por Gilberto Freyre foi
a definição do colonizador português como um tipo social distinto.
O Mestiço, de Candido Portinari (1934).
Nesse sentido, o colonizador pintado por Freyre não é o europeu branco,
puro, mas sim o europeu já miscigenado com a África e isso explicaria o
sucesso, segundo o autor, do empreendimento colonial português nos
trópicos. Essa concepção torna possível a Freyre definir o português – e,
mais adiante, o brasileiro – como um luxo de antagonismos que,
embora equilibrados e aproximados, recusam-se terminantemente a se
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fundir em uma nova identidade, separada, indivisível e original. E será
justamente esta recusa que fará com que a sociedade colonial brasileira
venha a ser observada sob o prisma do hibridismo.
Assim, essa ênfase no que Freyre chama de “antagonismos em
equilíbrio” – antagonismos dramatizados, é claro, pelas divisões e pelo
despotismo típicos da escravidão colonial – chega a tal ponto que se
converte em um argumento central para o correto entendimento do
período colonial, espalhando-se por todas as direções e inspirando até a
modalidade do português que veio a ser falado no Brasil.
Nas palavras do próprio Freyre:
Outra circunstância ou condição favoreceu o
português tanto quanto a miscibilidade e a
mobilidade, na conquistade terras e no
domínio de povos tropicais: a
aclimatabilidade. Estava assim o português
predisposto pela sua mesma mesologia ao
contato vitorioso com os trópicos. Ao
contrário da aparente incapacidade dos
nórdicos, é que os portugueses têm revelado
tão notável aptidão para se aclimatarem em
regiões tropicais. É certo que por meio de
muito maior miscibilidade que os outros
europeus: as sociedades coloniais de
formação portuguesa têm sido todas
híbridas. É certo que os portugueses
triunfaram onde outros europeus falharam:
da formação portuguesa é a primeira
sociedade moderna constituída nos trópicos
com características nacionais e qualidades
permanentes.
(FREYRE, 2003, p. 11-12)
Como destaca Fernando Nicolazzi, Freyre se insere em uma tradição
intelectual brasileira, dos românticos aos modernistas, que principiou a
perceber o Brasil de fora, com o olhar inquieto da distância.
Pode-se pensar nos românticos do século XIX, que fundaram seu
movimento no exterior, em Paris, com a criação da revista Nitheroy; a
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obra considerada precursora de Gonçalves de Magalhães que traz seus
suspiros poéticos, mas também suas saudades; o “pai da história” do
Brasil, Francisco Adolfo de Varnhagen, constante ausente de seu país, “o
grande patriota que não está quase nunca na sua pátria”, mas que
sucedeu no esforço em escrever a única (pelo menos mais bem
acabada) História Geral do Brasil no século XIX; Euclides da Cunha,
viajando para “dentro” do país e se deparando com uma alteridade
quase absoluta, ao mesmo tempo em que encontraria ali a “rocha viva
da nacionalidade”.
Pensa-se ainda, já no século XX, no Modernismo de Oswald de Andrade
que, segundo opinião de Paulo Prado escrita em 1925, e que
provavelmente Freyre conhecia:
Pensa-se ainda, já no século XX, no Modernismo de Oswald de Andrade
que, segundo opinião de Paulo Prado escrita em 1925, e que
provavelmente Freyre conhecia, “numa viagem a Paris, do alto de um
atelier da Place de Clichy – umbigo do mundo – descobriu, deslumbrado,
a sua própria terra”. Embora sua formação ocorresse quase totalmente
em oculto lugar, o “estranho produto” de Freyre deveria, enfim, encontrar
seu lugar no espaço tropical. Essa inserção, no entanto, só seria feita à
custa de certos distanciamentos teóricos.
Oswald de Andrade.
O primeiro e fundamental se refere à distância assumida com relação ao
pensamento racial do final do século XIX, destacando que ambas
perspectivas ressaltam o caráter inferior do elemento mestiço no
conjunto amplo da população.
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Perspectiva negativa a
respeito da mistura de
raças, e seu enfoque
predominantemente
centrado nos aspectos
eugênicos da
mestiçagem.
Enfoque na
miscigenação como
mecanismo propício
para tornar viável a
nação por meio do
branqueamento da sua
população
É nesse ponto que Freyre situa sua filiação na antropologia orientada
por Franz Boas, caráter considerado inovador de valor do negro e do
mulato, além de estabelecer uma diferenciação essencial para seu
esforço interpretativo, opondo os termos “raça” e “cultura” como dois
conceitos que remetem a explicações sociológicas díspares: uma
recorrendo aos traços genéticos das raças, outra articulando efeitos de
ambiente com a experiência cultural (NICOLAZZI, 2011).
Gilberto Freyre ocupa um lugar especial na história do pensamento
social brasileiro:

 Ao mesmo tempo em que se situa na tradição que
remonta ao século XIX e que trouxe a miscigenação
para centro de sua interpretação do Brasil, Freyre
inovou ao dialogar com o que havia de mais recente
em termos de teoria antropológica, o autor seguiu a
trilha aberta por Euclides da Cunha e pintou uma
imagem positiva do mestiço brasileiro, e do próprio
Brasil.
 Enquanto toda uma geração de intelectuais estava
preocupada em inventariar os motivos do atraso
brasileiro e localizavam no período colonial as
matrizes desse atraso, Freyre positivou a
colonização portuguesa, transformando seu legado
em potência para a história independente do Brasil.
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O primeiro movimento interpretativo de Freyre consiste em destituir o
português do papel de “branco puro”. O próprio colonizador já seria
mestiço e, devido ao convívio com os mouros, já teria a vocação à
mestiçagem, o que explicaria seu “sucesso” na empresa colonial.
Dotado, então, de capacidade de “justapor opostos”, o português criou
uma nação plástica e capaz de dirimir pacificamente suas tensões. O
mestiço freyreano não é o tipo social embranquecido, dentro de quem
os sangues negro e indígena estão sendo diluídos pelo sangue branco.
O mestiço freyreano combina harmonicamente todos as heranças
disponíveis, por mais que sejam opostas.
A mestiçagem, portanto, não tem o objetivo de
embranquecer o Brasil. Primeiro porque, em Gilberto
Freyre, o colonizador não é um “branco puro”. Depois,
porque a mestiçagem não é o caminho a ser percorrido
rumo ao desenvolvimento nacional. É a própria
característica constitutiva da nação.
Fernando Nicolazzi argumenta que a interpretação do Brasil
desenvolvida por Gilberto Freyre está situada no contexto semântico da
recepção do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, publicado em 1901.
Ainda que Freyre tenha criticado vários aspectos da obra de Euclides, há
muito em comum entre os autores:
 Como demonstra Ricardo Benzaquen de Araújo, a
ideia de “equilíbrio de opostos” é central na
interpretação do Brasil desenvolvida por Freyre, e a
partir dela podemos entender seu elogio à
miscigenação e ao mestiço brasileiro.
O lirismo da prosa.
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A crítica ao lusitanismo em
Sérgio Buarque de Holanda
A trajetória intelectual de Sérgio Buarque de Holanda foi marcada pelo
livro Raízes do Brasil, publicado em 1936. Tal como Gilberto Freyre,
Sérgio Buarque de Holanda também é autor de vasta obra, que reúne
outros textos sobre a história do Brasil, como Caminhos e Fronteiras
(1957), Visões do Paraíso (1959), a coletânea História Geral da
Civilização Brasileira (1972), e Do Império à República (1972).
Uso da memória e do
testemunho como recursos
heurísticos.
Recusa da cronotopia europeia,
que induzia a grande maioria dos
intelectuais brasileiros da época
a tratar o sertão como o lócus do
atraso.
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Sérgio Buarque de Holanda.
O autor produziu, ainda, um texto sobre a teoria do conhecimento
histórico: O atual e o inatual na obra de Leopold Ranke, publicado em
1974. Segundo Robert Wegner, Raízes do Brasil, publicado em 1936, é
um livro sobre os dilemas da modernização brasileira. O autor faz uma
interpretação histórica do país, partindo de uma análise do nosso
legado ibérico até a definição da cultura brasileira como marcada pela
cordialidade. O “homem cordial” age a partir dos sentimentos que
brotam diretamente do coração, sem um filtro de racionalidade.
Nesse sentido, por exemplo, não trata com isenção amigos e inimigos,
favorecendo em qualquer circunstância os primeiros em detrimento dos
outros. Por isso, para o autor, a cordialidade é inadequada ao
funcionamento da democracia e da burocracia, que exigem normas e
leis abstratas que sejam aplicadas a todos da mesma forma.
Concomitantemente, Sérgio Buarque também
diagnostica um lento mas contínuo processo
de mudanças na sociedade brasileira,iniciado com a transferência da corte para o
Brasil em 1808. Esse processo passa pelo
fim do tráfico de escravos em 1850,
ganhando força com a abolição da
escravidão em 1888 e, posteriormente, com o
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próprio governo Vargas. As mudanças se dão
na direção da urbanização, imigração de
europeus e industrialização, e significam a
corrosão gradual do predomínio rural, que, na
verdade, seria a fonte alimentadora da
cordialidade.
(WEGNER, 1999, p. 217)
O livro Monções, publicado em 1945, é o primeiro do autor sobre a
história da expansão do país para o oeste. Esse livro, que discorre sobre
a rota de comércio fluvial entre o planalto paulista e Cuiabá,
diferentemente de Raízes do Brasil”, não trabalha com generalizações,
tais como cordialidade e civilidade.
Holanda manifesta um otimismo com a história que se desenrola no
planalto paulista, como que se descolando da história do litoral e dos
governos exercidos a partir da capital litorânea. A noção de
“cordialidade” é a mais importante de toda a obra de Sérgio Buarque de
Holanda e traduz a interpretação do autor sobre a realidade histórica
brasileira. Verifique o desenvolvimento dessas ideias do autor em sua
obra:
“Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira
para a civilização será de cordialidade — daremos ao mundo o
‘homem cordial’. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a
generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos
visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter
O homem cordial 
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brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e
fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano,
informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que
essas virtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade. São
antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo
extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer
coisa de coercitivo — ela pode exprimir-se em mandamentos e em
sentenças" (HOLANDA, 1995, p. 146-147).
"Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida
do que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social é, no
fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na
aparência — e isso se explica pelo fato de a atitude polida
consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de
manifestações que são espontâneas no ‘homem cordial’: é a
forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso, a
polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a
sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo,
podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de
resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual
preservar intacta sua sensibilidade e suas emoções” (HOLANDA,
1995, p. 146-147).
A trajetória de Sérgio Buarque de Holanda é bem sintomática da tensão
entre virtudes e vícios epistêmicos que marcou o processo de
institucionalização universitária dos estudos sociais no Brasil. Em sua
vasta obra, Sérgio Buarque de Holanda se mostrou um autor versátil,
capaz de transitar tanto no ensaísmo de síntese Raízes do Brasil (1936)
quanto nos estudos especializados regrados metodologicamente em
“Caminhos e Fronteiras” (1957), chegando até os estudos
epistemológicos de O atual e o inatual na obra de Leopold Ranke (1974).
Em seus primeiros
textos, o autor esteve
próximo às
inquietações do
modernismo e
preocupado em pensar,
e diagnosticar, os
Em escritos posteriores
aderiu aos protocolos
teórico-metodológicos
que marcavam a
vanguarda
historiográfica
internacional na
O convívio social do brasileiro 

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impasses da
modernização
brasileira.
segunda metade do
século XX.
De alguma forma, a relação entre renovação e tradição, mudança e
continuidade, pautou a obra de Sérgio Buarque de Holanda. Dos
primeiros ensaios aos estudos monográficos, o autor teve o interesse de
desvelar a formação do Brasil, bem como seu ingresso na modernidade
ocidental, na “civilização”.
Sendo bastante influenciado pela sociologia alemã de
Simmel e Weber, Buarque de Holanda tratou a
burocratização racional e abstrata como signo de
desenvolvimento, e a afetividade subjetiva como signo
de atraso, o que colocou sua interpretação em rota de
colisão com a interpretação desenvolvida por Gilberto
Freyre. Se Freyre via o patriarcado rural e a herança
ibérica como matrizes da plasticidade nacional,
Buarque de Holanda considerava indícios de uma
modernização incompleta.
A crítica ao sentido da
colonização na obra de Caio
Prado Júnior
O texto mais emblemático da vasta obra de Caio Prado Júnior é o
capítulo O sentido da colonização, que pode ser encontrado no livro
Formação do Brasil contemporâneo, publicado em 1942. O autor ainda
publicou os livros A evolução política do Brasil (1933), a História
econômica do Brasil (1935), a Revolução Brasileira (1966), a Questão
agrária (1979), e A cidade de São Paulo (1983). O autor é o mais notório
representante do pensamento marxista brasileiro.
Segundo Bernardo Ricupero, diferentemente do marxismo dominante no
Brasil e na América Latina, próximo aos nossos partidos comunistas
(PCS), Caio Prado Júnior não viu o materialismo histórico como um
conjunto de fórmulas com pretenso valor universal. Isto é, não aceitou
automaticamente a aplicação ao Brasil das teses da Internacional
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Comunista (IC) sobre os chamados “países coloniais, semicoloniais e
dependentes”. Todos os países que se encontrassem nessa condição
genérica deveriam, como teria ocorrido na Europa, realizar revoluções
burguesas que dessem fim a supostos resíduos feudais.
Edição de 1942 do livro Formação do Brasil contemporâneo.
Dessa maneira, acreditava-se que se promoveria o desenvolvimento do
capitalismo e se prepararia o terreno para a adoção do socialismo.
Caio Prado Júnior também não trilhou outro caminho bastante comum
na utilização do marxismo no Brasil e na América Latina, identificado,
grosso modo, com o que ficou conhecido como populismo. Os autores
próximos a essa perspectiva defendiam que a teoria, no caso o
marxismo, deveria se adaptar à realidade.
Nessa operação, porém, a teoria corre o risco de se tornar irreconhecível
e desnecessária. Até porque, se o marxismo fosse capaz de absorver
qualquer forma referente às mais variadas sociedades, não mais seria
marxismo, nem teoria, mas apenas uma expressão quase não
mediatizada da realidade. Assim, a maneira particular de abordagem,
aquilo que o torna marxismo, se diluiria no seu objeto.
A tradução do marxismo às condições
brasileiras, realizada pela obra de Caio Prado
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Júnior, se dá mediante a atenção a uma
questão central: a relação entre colônia e
nação. Esse é seu grande tema, a constante
atenção à relação entre colônia e nação,
fazendo com que a obra do historiador
paulista tenha uma indiscutível unidade. A
preocupação com esse problema sugere,
além do mais, um dos eixos principais da
reflexão do autor: a transição entre a situação
colonial e a situação nacional.
(RICUPERO, 1999, p. 230)
Caio Prado vê a experiência brasileira como uma totalidade histórica,
sujeita à transformação. Isto é, a partir de um eixo central, dado pelo
sentido da colonização, o Brasil se modificaria, preparando o terreno
paraa constituição de uma nação integrada. Em outras palavras, o
caminho que se inicia pela formação do Brasil contemporâneo deveria
levar à Revolução Brasileira.
Tendo começado como colônia, que tinha sua razão de
ser na produção de bens demandados pelo mercado
externo, a Nação deveria se voltar para atender às
necessidades internas da população. De maneira
concomitante, a totalidade brasileira se revelaria e se
realizaria no momento de superação da situação
colonial. No entanto, no Brasil, a nação encontra
grande dificuldade para ir além da colônia.
Na verdade, a história do Brasil, pelo menos desde o século XIX, quando
o setor inorgânico ganha importância diante do setor orgânico, é a
história da dificuldade de se superar o sentido da colonização. Uma
história como a brasileira possibilitaria até que o pesquisador recorresse
a um método bastante original.
Como não ocorrem rupturas significativas com o passado, o tempo
como que se projetaria no espaço, tornando muitas vezes mais
proveitosas uma viagem pelo país do que a pesquisa em arquivos.
Entende-se, assim, a observação que nosso autor certa vez ouviu de um
professor estrangeiro, que invejava os historiadores brasileiros que
podiam assistir pessoalmente às cenas mais vivas do seu passado. Nas
palavras do próprio autor:
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Nada mais que isto. É com tal objetivo,
objetivo exterior, voltado para fora do país e
sem atenção a considerações que não
fossem o interesse daquele comércio, que se
organizarão a sociedade e a economia
brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido:
a estrutura, bem como as atividades do país.
Virá o branco europeu para especular, realizar
um negócio; inverterá seus cabedais e
recrutará a mão-de-obra que precisa:
indígenas ou negros importados. Com tais
elementos, articulados numa organização
puramente produtora, industrial, se
constituirá a colônia brasileira. Este início,
cujo caráter se manterá dominante por meio
dos três séculos que vão até o momento em
que ora abordamos a história brasileira, se
gravará profunda e totalmente nas feições e
na vida do país. Haverá resultantes
secundárias que tendem para algo de mais
elevado; mas elas ainda mal se fazem notar.
O ‘sentido’ da evolução brasileira que é o que
estamos aqui indagando, ainda se afirma por
aquele caráter inicial da colonização.
(PRADO JÚNIOR, 1986, p. 26)
Na análise de Luiz Bernardo Pericás e Maria Wider, fica evidente como
Caio Prado Júnior denunciou a distância entre a necessidade efetiva da
maior parte da população por mudanças estruturais e o
encaminhamento político dado pelas elites locais. As divergências de
interesses entre a Coroa e a colônia se agudizariam no século XVIII, com
as descobertas de ouro, o que resultaria em maior exigência de controle
por parte da Metrópole, que iria tolher a autonomia ou qualquer margem
político-econômica dos senhores locais.
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Quadro Operários, de Tarsila do Amaral de 1933.
As contradições entre os interesses endógenos e dos portugueses daí
em diante tenderiam a se intensificar e desembocariam, em última
instância, na emancipação. Se, de um lado, os proprietários territoriais
propugnavam um afastamento do jugo metropolitano, por outro
defendiam a manutenção do sistema escravista e seu domínio
econômico interno.
Além disso, é possível perceber a herança institucional colonial e a
permanência da escravidão como forças históricas e culturais
unificadoras dentro do território brasileiro. (PERICÁS; WIDER, 2014, p.
196).
Na trajetória de Caio Prado Júnior, é impossível separar formulação
intelectual e militância política. O autor é um dos nomes mais
destacados da história intelectual brasileira, e também da história da
esquerda em nosso país, dada sua atuação nos quadros do Partido
Comunista Brasileiro, o PCB. Quase sempre as teses de Caio Prado
Júnior foram marginais dentro do PCB. Por outro lado, encontraram
grande acolhida no debate público e no ensino escolar de História,
constituindo, assim, parte do repertório coletivo que acionamos com
frequência em nossos esforços de interpretação da realidade.
Em um diálogo autoral e criativo com o marxismo, Caio Prado Júnior
contestou a interpretação que a URSS elaborou para a América Latina, e
que se tornou hegemônica dentro do PCB. Segundo essa interpretação,
os países latino-americanos ainda viviam em situação feudal, o que
impossibilitava o salto direto rumo ao socialismo.
Era necessário, antes, viabilizar a revolução burguesa, o que demandava
a aliança tática com aquilo que, na época, se chamava de “burguesia
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nacional”. No pensamento social brasileiro, essa tese encontrou
acolhida, sobretudo, nos escritos de Nelson Werneck Sodré.
A tese do feudalismo brasileiro foi contestada por Caio
Prado Júnior, para quem a colonização já faz parte da
história do capitalismo. Portanto, o Brasil já seria
capitalista desde os tempos coloniais, o que fazia com
que o país já estivesse pronto para efetivar sua
revolução socialista, sem a necessidade de aliança
com a burguesia nacional.
Após o golpe militar de 1964, viabilizado pela aliança entre as forças
armadas e frações da tal “burguesia nacional”, Caio Prado Júnior
publicou o livro Sobre a Revolução Brasileira (1966), no qual reforça seus
argumentos e acusa aquele que, na sua opinião, havia sido um erro
histórico cometido pelo PCB.
Resumindo
Na interpretação de Caio Prado, a colonização legou um sentido para a
história do Brasil, segundo o qual o país está subordinado ao mercado
internacional capitalista, e só a revolução socialista seria capaz de
superar o atraso e promover seu verdadeiro desenvolvimento.
O ensaísmo e a História
Neste vídeo vamos falar sobre as relações entre o ensaísmo e a
História.
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22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil
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Atividade discursiva
A partir da noção de cordialidade, Sérgio Buarque de Holanda
desenvolveu uma interpretação do passado colonial brasileiro. Já para
Caio Prado Júnior, o sentido da história brasileira foi instituído pela
colonização portuguesa. Escreva sobre isso.
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
Sérgio Buarque de Holanda pintou uma visão crítica do legado
colonial português, que se manifestaria na forma do
patrimonialismo, que dificulta o funcionamento racional do Estado.
Já na interpretação de Caio Prado Júnior, a colonização do Brasil
se deu dentro da lógica do capitalismo comercial europeu, o que
teria condicionado a história do país, determinando sua posição
como periferia do capitalismo mundial.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A interpretação do Brasil desenvolvida por Gilberto Freyre é
diferente daquelas desenvolvidas por outros ensaístas, como Sérgio
Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. Por quê?
A O foco na tradição portuguesa de Gilberto Freyre.
B A crítica à tradição portuguesa por Gilberto Freyre.
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Parabéns! A alternativa A está correta.
A relação de Freyre com o passado colonial é elogiosa, devido à
deferência que o autor demonstrava em relação a Portugal. Já os
outros ensaístas, como Sérgio Buarque de Holanda e CaioPrado
Júnior, tinham relação antagônica com o passado colonial,
considerando a herança lusitana a matriz do atraso nacional.
Questão 2
Um dos principais elementos da intepretação de Gilberto Freyre é a
forma como o autor desenhou o colonizador português. Como
ponto central de sua abordagem, existe valorização do
Parabéns! A alternativa E está correta.
C A fragilidade teórica de Freyre.
D O otimismo e a democracia de Freyre.
E O papel dos índios na história do Brasil.
A Brasil como o espelho equivocado.
B Brasil como um projeto que deu errado.
C Brasil como resultado da influência latina.
D Brasil como centro de poder.
E
Brasil como resultado das escolhas e do cuidado do
português.
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Freyre projeta o estatuto do miscigenado para o próprio português,
que seria diferente dos outros povos da Europa, e isso explicaria o
sucesso do empreendimento colonial português nos trópicos.
Considerações �nais
Aqui nos dedicamos a compreender um importante capítulo da
historiografia brasileira: o regime ensaísta que marcou a produção
nacional ao longo da primeira metade do século XX. Vimos como a
historiografia universitária que se afirmaria a partir da década de 1970
elaborou uma unidade programática para o ensaísmo, transformando-o
em parte da história intelectual brasileira.
Naquilo que se refere aos textos, os ensaístas tomaram a história do
Brasil como macro objeto de investigação com o objetivo de
compreender as pulsões anímicas que moviam a história nacional. As
teorias do ensaio elaboradas por Theodor Adorno e Georg Lukács nos
ajudam a compreender o funcionamento epistêmico do ensaísmo, bem
como os casos concretos de Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda
e Caio Prado Júnior, os mais notórios ensaístas brasileiros.
Podcast
Escute agora uma breve reflexão sobre o ensaísmo sociológico de
interpretação do Brasil.
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Explore +
Assista ao vídeo do professor Basilio, Historiando, no YouTube;
Assista ao documentário Raízes do Brasil, de 2003, dirigido por Nelson
Pereira dos Santos;
Pesquise o Projetos de Entrevistas Memória das Ciências Sociais no
Brasil, do CPDOC.
Referências
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226.
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