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22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 1/46 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil Prof. Rodrigo Perez Descrição Compreender o propósito da construção de um discurso de identidade nacional durante os primeiros anos da República. Propósito Estudar o regime historiográfico ensaísta no Brasil. Objetivos Módulo 1 Uma breve teoria do ensaio Examinar os conceitos norteadores que envolvem o ensaio como forma de expressão do pensamento historiográfico. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 2/46 Módulo 2 O regime historiográ�co ensaísta no Brasil Analisar o regime ensaísta na historiografia brasileira entre fins do século XIX e a década de 1950. Módulo 3 Os autores ensaístas e suas obras Examinar os autores reconhecidos como as três principais fontes do ensaísmo brasileiro: Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda. Introdução O final do século XIX foi marcado por transformações profundas na sociedade brasileira. A monarquia dava sinais de cansaço e as elites políticas tradicionais não mais conseguiam sustentar o regime. A fundação do Partido Republicano, em 1870, mostrou que a monarquia não era mais um consenso entre as classes dirigentes. Reforma do sistema educacional, abolição da escravidão, federalismo administrativo e a própria República eram demandas por mudanças na estrutura política, social e administrativa do país. As transformações se deram também na esfera intelectual. Uma nova geração de pensadores passou a questionar o establishment intelectual que havia fundado o Estado nacional brasileiro. Jovens como Silvio Romero, Joaquim Nabuco, Assis Brasil e outros tantos se notabilizaram por formarem aquilo que 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 3/46 na época ficou conhecido como “geração de 1870”. O historiador cearense Capistrano de Abreu foi um dos representantes dessa atmosfera de renovação intelectual, especificamente no que se refere às suas críticas à historiografia oficial produzida pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o IHGB. Em 1878, na ocasião da morte de Francisco Adolfo de Varnhagen, Capistrano de Abreu publicou no Jornal do Comércio um obituário. Tratava-se de um dos maiores veículos da imprensa da época e o texto pode ser considerado a estreia do então jovem historiador na cena intelectual da Corte. No texto, que era para ser uma homenagem a Varnhagen, na época reconhecido como o grande “historiador da pátria”, Capistrano de Abreu fez uma crítica teórica e política ao IHGB e ao próprio Visconde de Porto Seguro. Essa historiografia oficial seria politicamente conservadora e hostil ao povo. Não estaria alinhada às novidades da sociologia moderna e ainda teria um estilo enfadonho, não sendo capaz de produzir uma síntese explicativa da história nacional que pudesse colaborar para a modernização do Brasil. Na prática, Capistrano de Abreu estava propondo uma agenda historiográfica que seria colocada em prática ao longo da primeira metade do século XX, e que podemos chamar de “ensaísmo de interpretação do Brasil”. É este o tema que estudaremos aqui. Establishment A elite estabelecida intelectual. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 4/46 1 - Uma breve teoria do ensaio Ao �nal deste módulo, você será capaz de examinar os conceitos norteadores que envolvem o ensaio como forma de expressão do pensamento historiográ�co. O ensaio como forma na teoria de Theodor Adorno Dizer que, entre o final do século XIX e meados do século XX, a historiografia brasileira foi caracterizada por um “regime ensaísta” pressupõe uma definição baseada na forma. Segundo essa definição, o ensaio foi a forma de expressão dominante entre os letrados que, no período, se dedicaram ao estudo da história nacional. Mas o que significa escrever um ensaio? Em que medida o ensaio se diferencia de outros estilos de escrita? Resposta É necessário definir ensaio neste contexto, esclarecendo suas principais características. É esse o nosso esforço nesse momento. Dialogaremos, a seguir, diretamente com as teorias do ensaio desenvolvidas por Theodor Adorno e Georg Lukács. Segundo Adorno, a forma ensaística precisa ser historicamente situada na modernidade, mais especificamente no século XVIII, quando surge como resposta ao cientificismo cartesiano. Segundo o autor, a revolução científica que aconteceu na Europa entre os séculos XVI e 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 5/46 XVIII resultou no paradigma teorizado por René Descartes (1596-1650) no seu Discurso sobre o Método, publicado na década de 1680. Segundo esse paradigma, que viria a estruturar a ciência moderna, a linguagem tem dimensão de apenas apresentação, e sua função limitada a comunicar a operacionalidade do método. A autoridade do conhecimento pertenceria ao método, entendido como o procedimento executado pelo cientista, imune a qualquer subjetividade. O cientista cartesiano, portanto, é pretensamente universal, sem gênero, sem raça e sem nacionalidade. Tratado como operador do método, o conhecimento que produz e comunica por uma linguagem, pretensamente neutra, é também pretensamente, objetivo. Como podemos perceber, a ciência moderna é marcada pela pretensão. Pretensão à universalidade, à objetividade e à neutralidade. Para Adorno, o ensaio surge como questionamento a essas pretensões, como um ato de resistência da subjetividade sufocada pela cientificidade cartesiana. Enquanto a austeridade linguística cartesiana apresentava a promessa do conhecimento perfeito, possível de ser construído pelo império do método, o ensaio introduz a dúvida e a ironia. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 6/46 Os Ensaios de Montaigne (1533-1592), publicados no século XVIII, teriam sido a primeira manifestação desse gênero de comunicação que desafiou a linguagem científica. Enquanto o cientista se contenta em comunicar aquilo que é demonstrável pelo método, o ensaísta não se constrange em dar livre curso às suas sensações, intuições e interpretações, que nem sempre podem ser verificadas, ou são para serem verificadas. Por isso, é muito comum que o ensaísta proceda por “superinterpretações”, para utilizarmos as palavras do próprio Adorno. “Superinterpretar” significa arriscar leituras da realidade que provocam discordâncias, cuja veracidade não se sustenta em um procedimento metodológico passível de ser repetido para fins de demonstração. Como estudamos aqui, os ensaístas brasileiros tomaram a história do Brasil como meta ser explicada, em um exercício de grandes explicações e interpretações, cujo objetivo era desvelar o sentido do processo histórico nacional. O ensaio, nesse sentido, seria um desafio ao tipo de cientificidade que se fez hegemônico no ocidente moderno. Haveria, então, certa dimensão política disruptiva na elaboração ensaística. Novamente, retornamos à reflexão de Adorno: O ensaio, em contrapartida, incorpora seu impulso antissistemático em seu próprio modo de proceder, introduzindo sem cerimônia e imediatamente os conceitos, tal como eles se apresentam. Estes só se tornam mais precisos por meio das relações que engendram entre si. Pois é mera superstição da ciência propedêutica pensar os conceitos como intrinsecamente indeterminados, como algo que precisa de 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação doBrasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 7/46 definição para ser determinado. A ciência necessita da concepção do conceito como uma tábula rasa para consolidar sua pretensão de autoridade, para mostrar-se como o único capaz de sentar-se à mesa. Na verdade, todos os conceitos já estão implicitamente concretizados pela linguagem em que se encontram. O ensaio parte das significações e, por ser ele próprio essência da linguagem, leva-as adiante; ele gostaria de auxiliar o relacionamento da linguagem com os conceitos, acolhendo-os na reflexão, tal como já se encontram inconscientemente denominados na linguagem. (ADORNO, 2015, p. 28) O ensaio se diferenciaria da monografia científica cartesiana pela sua aparente falta de compromisso com a sistematização conceitual mais rígida. Como parte do princípio de que os conceitos possuem vida própria, o ensaísta pressupõe que o leitor já conhece o significado dos termos mobilizados e, por isso, não se preocupa em elaborar maiores divagações conceituais. Essa dimensão ensaística, muitas vezes, é considerada como sinal de fragilidade científica, o que faz com que, não raro, o ensaio seja considerado gênero epistemicamente superior. É mais interessante, porém, analisar o ensaio no lugar que lhe é próprio: como uma reação à ortodoxia cartesiana, que não se mede pelos mesmos valores desse tipo de cientificidade. Também Georg Lukács nos ajuda a entender melhor as especificidades conceituais do ensaio. O ensaio como revelador das pulsões anímicas que produzem a arte Diferente de Adorno, Georg Lukács (1885-1971) trata o ensaio como gênero específico da crítica estética. Ocupando um meio lugar entre o cientista e o artista, o ensaísta seria aquele que se debruça sobre as manifestações artísticas. O ensaio seria, então, uma espécie de “ciência 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 8/46 da arte”, na medida em que teria como propósito tomar a arte como objeto e analisá-la com critério racional e metodológico. Diferentemente do cientista cartesiano, que toma os fenômenos naturais como objeto, e diferente também do artista, que tem o único objetivo de dar livre curso às suas sensações, o ensaísta reúne os dois ofícios, sem se confundir com nenhum deles. Age de modo semelhante ao cientista quando descreve e explica o fenômeno artístico. Age de modo semelhante ao artista quando se dedica a expressar os sentimentos fundamentais manifestados na atividade artística. Apesar de vincular o ensaio à crítica da arte, Lukács afirma que o objeto do ensaísta envolve também outras atividades humanas, sempre interessado em revelar as pulsões anímicas que possibilitam a existência humana. O ensaio sempre fala de algo já condensado em forma ou, no melhor dos casos, de algo que já existiu; faz parte de sua essência não 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 9/46 extrair coisas novas do nada, mas simplesmente ordenar coisas que, em algum momento, foram vivas. E como só ordena, como não cria formas novas a partir do informe, o ensaio também está vinculado às coisas, tendo sempre de expressar a ‘verdade’ sobre elas, de encontrar expressão para sua essência. [...] É mais ou menos assim que imagino a ‘verdade’ do ensaio. Também aqui há uma luta pela verdade, pela corporificação da vida que se capturou de um homem, ou de uma época, de uma forma: no entanto, depende apenas da intensidade e da visão que o escrito não passe uma sugestão dessa vida única. (LUKÁCS, 2015, p. 43) O ensaio teria como objeto as verdades humanas que se corporificam nas formas. Não é a verdade cartesiana, dura, passível de ser extraída pelo devido método. É a verdade existencial que o humano imprime em tudo que faz, em toda forma que produz. O ensaísmo brasileiro segundo as teorias de Adorno e Lukács A discussão a respeito do estatuto do ensaio na operação historiográfica envolve, antes de qualquer coisa, as virtudes e os vícios epistêmicos tais como foram definidos pela cientificidade cartesiana. Cartesianamente falando, a linguagem é apenas o suporte de comunicação do procedimento científico. A ciência cartesiana definiu a monografia científica como seu discurso apresentacional, O ensaio questiona essa hierarquia que sobrepõe o método à linguagem, como argumentam, cada um a 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 10/46 esperando um texto sóbrio, objetivo e austero, em que o autor é um comunicador de método. seu modo, Adorno e Lukács. Diz Adorno que o ensaio opera com superinterpretações, sendo meio de expressão de uma imaginação criativa sufocada pela disciplinarização das ciências operada no âmbito da universidade moderna. O ensaio seria, então, para Adorno, a sobrevivência insistente de um procedimento retórico (fundado na premissa de que a linguagem cria realidades) que a cientificidade cartesiana tentou, de todas as formas, extirpar. Já Lukács está preocupado com o lugar do ensaio na crítica da arte, seja na literatura ou na poesia. O ensaísta seria, então, o crítico da arte, analista das manifestações estéticas. Seu objetivo, segundo Lukács, é captar a manifestação da alma (a pulsão anímica) manifestada na arte. Não se trata da mera descrição do procedimento artístico, mas sim de um gesto analítico que não se confunde com a investigação cartesiana. Tampouco é equivalente à arte. É uma forma de crítica que visa apreender o sentido da arte e comunicá-lo, adotando para isso também a forma adequada. Em suas superintepretações da realidade histórica nacional, os ensaístas se dedicaram a compreender aquilo que seria intrínseco ao processo histórico brasileiro, as “pulsões anímicas” da vida nacional, para usarmos a formulação de Lukács. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 11/46 Ensaismo e as ciências sociais Neste vídeo, vamos falar sobre a relação entre ensaísmo e ciências sociais. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 12/46 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Segundo Theodor Adorno, o ensaio se manifesta em oposição a um tipo de cultura científica bastante consolidada no ocidente moderno. É correto afirmarmos que Parabéns! A alternativa E está correta. Na teorização proposta por Adorno, o ensaio é tratado como uma reação à hegemonia da cientificidade cartesiana, que reduziu a A o ensaio é um material sem valor. B o ensaio é uma peça do poder hegemônico. C o ensaio é um sinônimo de artigo científico. D o ensaio é uma ferramenta de linguagem. E o ensaio é uma reação à razão hegemônica. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 13/46 linguagem à função apresentacional do procedimento metodológico . Questão 2 As teorias do ensaio elaboradas por Theodor Adorno e Georg Lukács colaboram para a compreensão do regime historiográfico ensaísta brasileiro. Por quê? Parabéns! A alternativa E está correta. A ideia de “superinterpretação ensaística” formulada por Adorno ajuda a entender os compromissos dos ensaístas brasileiros em interpretar a totalidade do processo histórico nacional. Já ao falar em “pulsões anímicas” que impulsionam a vivência humana, Lukács colabora para entender o interesse dos ensaístas em compreender as pulsões fundamentais da existência histórica brasileira. A A noção de umateorização mais livre. B Dinâmica à investigação arqueológica. C Mergulhar nas medidas econômicas. D Permitir atuação de qualquer pessoa não acadêmica. E Relacionar teorias e sínteses sem amarras tradicionais. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 14/46 2 - O regime historiográ�co ensaísta no Brasil Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o regime ensaísta na historiogra�a brasileira entre �ns do século XIX e a década de 1950. A caracterização do ensaísmo brasileiro Como já sabemos, o ensaio foi o estilo dominante de expressão historiográfica no Brasil entre final do século XIX e meados do século XX. Antes de aprofundarmos nossa reflexão, é importante deixar claro que o “ensaísmo” jamais se articulou como movimento unificado. Diferentemente dos movimentos culturais, como o movimento modernista, o ensaísmo não expressa a organização e a atuação de um grupo de indivíduos/autores com interesses coletivos comuns programáticos e deliberados, a despeito de seus conflitos e disputas internas. Inclusive, sua unidade é invenção posterior feita por aqueles que analisaram a história intelectual brasileira. Segundo André Botelho: Noutras palavras, pensar os ensaios de interpretação do Brasil como um conjunto unitário é um problema que se colocou a posteriori, e em especial pelas ciências 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 15/46 sociais, cujo bem-sucedido processo de institucionalização se processou no período imediatamente posterior ao seu surgimento, e simultaneamente ao seu desenvolvimento (cf. MICELI, 2001). Processo que, sob o influxo de vertentes sociológicas europeias e norte-americanas, sobretudo estas, consolidou a adoção de um novo padrão cognitivo definido prioritariamente no sentido da pesquisa empírica, que, ao lado da sua forma narrativa correspondente, a monografia científica, acabou por redefinir o lugar e o sentido do ensaio na cultura brasileira. (BOTELHO, 2013, p. 47) Mesmo que não existisse uma unidade programática que tornasse possível tratar o ensaísmo como um movimento intelectual sistematizado, existiam algumas características em comum entre um conjunto de autores relativamente contemporâneos que nos permitem tratar o ensaio como um regime historiográfico predominante na cena brasileira entre fins do XIX e meados do século XX. Edição de 1936 do livro Raízes do Brasil. Na década de 1940, o livro Raízes do Brasil”, publicado em 1936, abria a coleção “Documentos brasileiros”, que a editora José Olympio colocava 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 16/46 à disposição do público leitor brasileiro, sob a coordenação de Gilberto Freyre. Tendo por intenção, como salientou seu diretor na apresentação da edição, disponibilizar ao leitor um conjunto de material inédito, a coleção ocupou um lugar central no mundo livresco e na cena editorial do Brasil na primeira metade do século XX. Entre os gêneros assumidos por tal material, Freyre destacava o inventário e a biografia, o documento “em estado quase bruto” e a “interpretação sociológica em forma de ensaio”. Sérgio Buarque oferecia ao público, segundo Freyre, um trabalho de análise, interpretação e esclarecimento da realidade histórica brasileira, escrito na forma do ensaio. Segundo Fernando Nicolazzi: O ensaio histórico pode ser caracterizado pelo jogo entre síntese e erudição. De um lado, percebe-se sua dimensão sintética, por meio da qual o esforço de descrição da totalidade dos fatos dignos de memória cede espaço ao trabalho da síntese interpretativa. Em outras palavras, à narração dos fatos históricos das histórias gerais se sobrepõe a interpretação de um sentido formador; daí a ênfase constante na ideia de ‘formação’ que definiu alguns traços da produção historiográfica brasileira na primeira metade do século XX. Talvez o ‘sentido da colonização’ oferecido por Caio Prado Júnior. em 1942 seja o exemplo mais evidente disso. De outro lado, correlato ao predomínio da síntese, nos ensaios é perceptível o deslocamento da erudição crítica justamente em proveito da interpretação sintetizadora. (NICOLAZZI, 2016, p.91) 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 17/46 Formas do ensaísmo brasileiro Os ensaístas estavam interessados em compreender a atuação das forças que vinham formando o Brasil desde a colonização. Tendo sido convertidos em cânones daquilo que costumamos chamar de “pensamento social brasileiro”, esses autores seriam expressivos de uma teoria e/ou da velha ciência política brasileira, praticada por juristas, sociólogos e economistas antes da especialização universitária (LYNCH, 2016, p. 75). Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Oliveira Vianna, Raimundo Faoro, Florestan Fernandes e Sérgio Buarque de Holanda estão entre os “intérpretes do Brasil” Assim, de Euclides da Cunha a Florestan Fernandes, diversos autores tomaram o Brasil como objeto a ser explicado cientificamente, pretendendo compreender a ação das forças que bloqueavam o progresso nacional. Via de regra, esses autores utilizaram o ensaio como gênero discursivo prioritário, seguindo quase todos um mesmo padrão narrativo, começando por um grande balanço da história do Brasil e terminando com um projeto político sobre como superar os problemas do país (LAMOUNIER, 2007). Publicado em 1920, Populações meridionais do Brasil, de Francisco José Oliveira Vianna, abre a produção do período, seguido, na mesma década, por Retrato do Brasil, de Paulo Prado, que, como Macunaíma, de Mário de Andrade, apareceu em 1928. Em 1933, foram publicados Casa- Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, e Evolução política do Brasil, de Caio Prado Júnior; três anos depois, Sobrados e mucambos, também de Freyre, e Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 18/46 Francisco José Oliveira Vianna Na década seguinte, voltaram aos prelos Caio Prado e Oliveira Vianna, o primeiro com Formação do Brasil contemporâneo, em 1942, o segundo com Instituições políticas brasileiras, em 1949 – para citar apenas alguns dos mais emblemáticos ensaios do período. As interpretações do Brasil existem e são relidas no presente, não como supostas sobrevivências do passado, mas orientando as escolhas de pessoas e imprimindo sentido às suas experiências coletivas. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 19/46 Caio Prado Júnior. Elas constituem um espaço social de comunicação entre diferentes momentos da sociedade, entre seu passado e futuro, e é por isso que sua pesquisa pode nos dar uma visão mais integrada e consistente da dimensão de processo que o nosso presente ainda oculta. E porque representam um “repertório interpretativo” a que podemos recorrer, manifesta ou tacitamente, para buscar motivação, perspectiva e argumentos em nossas contendas, bem como na mobilização de identidades coletivas e de culturas políticas. É preciso, então, começar por reconhecer que nem o “ensaísmo” nem as “interpretações do Brasil” neles esboçadas constituem realidades ontológicas estáveis. São antes objetos de disputas cognitivas e políticas e, nesse sentido, recursos abertos e contingentes, ainda que não aleatórios, no presente. Ensaísmo sociológico Geralmente, o ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil é associado ao regime historiográfico da Primeira República, anomes como Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. A ordem cronológica, no entanto, é frágil, pois elementos do ensaísmo podem ser encontrados também no século XIX, como demonstra Fernando Nicolazzi para o caso de Gonçalves Magalhães, e, na segunda metade do século XX, em autores como Raimundo Faoro e Florestan Fernandes. Atenção! A definição precisa do gênero “ensaísmo sociológico de intepretação do Brasil” é caracterizada pelo gesto analítico da síntese e pelo comprometimento em desvelar as causas do atraso nacional e colaborar para a modernização do país. O ensaio, como forma, garante que a intuição, a interpretação e a generalização sejam consideradas virtudes epistêmicas. A criação das categorias “ensaísmo” e “intérpretes do Brasil”, como demonstra André Botelho, é posterior e foi forjada pelos estudos sociais universitários em seus esforços de estudar a história intelectual brasileira. Com a institucionalização dos estudos sociais nas universidades, temos a reinvenção das hierarquias epistêmicas. A generalização, a 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 20/46 imaginação e a intuição passam a ser consideradas vícios epistêmicos, enquanto o estudo especializado, a erudição empírica e a monografia científica se tornam virtudes. Daí podemos entender a interdição do ensaísmo na cultura científica universitária. Os “intérpretes do Brasil” passaram a ser lidos como representantes de um momento pré-científico da história da inteligência brasileira. Estudos sociais nas universidades Processo que tem início na década de 1930 e se aprofunda na década de 1970. Formas de ensaísmo no Brasil Neste vídeo, vamos falar sobre as formas de ensaísmo brasileiras. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 21/46 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A unidade do ensaísmo brasileiro é uma invenção posterior. Por que essa afirmação está correta? A Os intelectuais são estrangeiros. B Foi organizado pelo IHGB. C Foi organizado pela CIA. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 22/46 Parabéns! A alternativa E está correta. O ensaísmo não foi um movimento intelectual sistematizado, com agenda programática, mas sim um conjunto de autores relativamente contemporâneos que tinham algumas características em comum. A unidade do ensaísmo foi produzida posteriormente, na década de 1970, quando as ciências sociais institucionalizadas se debruçaram sobre a história intelectual brasileira. Questão 2 Modo de expressão historiográfica dominante no Brasil ao longo da primeira metade do século XX: Parabéns! A alternativa A está correta. O ensaísmo no Brasil se manifestou como superinterpretações da história brasileira no sentido de compreender as forças que movem a história nacional. D Cada ensaio fazia pouco sucesso e não era lido. E As ações foram contemporâneas, mas sem constituir movimento. A Ensaísmo B Academicismo C Ilustracinismo D Monetismo E Marxismo 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 23/46 3 - Os autores ensaístas e suas obras Ao �nal deste módulo, você será capaz de examinar os autores reconhecidos como as três principais fontes do ensaísmo brasileiro: Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda. O luso-tropicalismo de Gilberto Freyre A trajetória intelectual de Gilberto Freyre ficou marcada pelo livro Casa Grande & Senzala, considerado um cânone ensaísta consolidado na história intelectual brasileira. A obra do autor é muito mais vasta, compreendendo, por exemplo, os livros Sobrados e Mocambos e Ordem e Progresso, publicados, respectivamente, em 1936 e 1959. Ainda podemos destacar o Guia prático histórico e sentimental da história de Recife, de 1934, Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira, de 1940, e O mundo que o Português criou, também de 1940. Assim, é possível perceber que o tema prioritário da obra de Freyre é a cultura luso-brasileira, o encontro de repertórios entre Brasil e Portugal. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 24/46 Gilberto Freyre. Essa relação algo elogiosa com o passado colonial é uma das características marcantes da interpretação do Brasil desenvolvida por Gilberto Freyre, o que o diferencia de outros ensaístas, como veremos a seguir. Na época da publicação de Casa Grande & Senzala, o debate político e intelectual brasileiro estava marcado pelo tema da mestiçagem. Mas a mestiçagem, isto é, o contato sexual entre grupos étnicos distintos, costumava ser apresentada como um problema: ora implicava em esterilidade – biológica e cultural, inviabilizando assim o desenvolvimento nacional -, ora retardava o completo domínio da raça branca, dificultando o acesso do Brasil aos valores da civilização ocidental. O enorme impacto produzido pelo surgimento de Casa-Grande & Senzala, aprofundando a contribuição pioneira de alguns outros autores como Manuel Quirino, Lima Barreto e Manoel Bomfim, concorreu para alterar esta avaliação, enfatizando não só o valor específico das influências indígenas e africanas, bem como a dignidade da híbrida e instável articulação de tradições que teria caracterizado a colonização portuguesa. Segundo Ricardo Benzaquen Araújo: 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 25/46 [...] essa redescoberta, aliás, começa pelo fato de que o primeiro grupo designado como mestiço em ‘Casa Grande & Senzala’ é composto precisamente pelos próprios portugueses. Sublinhando o caráter de fronteira da península Ibérica, rota de passagem entre a África e a Europa, e cenário de intercâmbios étnicos e sobretudo culturais, Gilberto vai convertê-los em um personagem híbrido, fruto de um amálgama que envolveu, entre outros, árabes, romanos e judeus, e que se iniciou muito antes do seu desembarque no continente americano. (ARAÚJO, 1999, p. 2000) Um dos grandes elementos de novidade trazidos por Gilberto Freyre foi a definição do colonizador português como um tipo social distinto. O Mestiço, de Candido Portinari (1934). Nesse sentido, o colonizador pintado por Freyre não é o europeu branco, puro, mas sim o europeu já miscigenado com a África e isso explicaria o sucesso, segundo o autor, do empreendimento colonial português nos trópicos. Essa concepção torna possível a Freyre definir o português – e, mais adiante, o brasileiro – como um luxo de antagonismos que, embora equilibrados e aproximados, recusam-se terminantemente a se 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 26/46 fundir em uma nova identidade, separada, indivisível e original. E será justamente esta recusa que fará com que a sociedade colonial brasileira venha a ser observada sob o prisma do hibridismo. Assim, essa ênfase no que Freyre chama de “antagonismos em equilíbrio” – antagonismos dramatizados, é claro, pelas divisões e pelo despotismo típicos da escravidão colonial – chega a tal ponto que se converte em um argumento central para o correto entendimento do período colonial, espalhando-se por todas as direções e inspirando até a modalidade do português que veio a ser falado no Brasil. Nas palavras do próprio Freyre: Outra circunstância ou condição favoreceu o português tanto quanto a miscibilidade e a mobilidade, na conquistade terras e no domínio de povos tropicais: a aclimatabilidade. Estava assim o português predisposto pela sua mesma mesologia ao contato vitorioso com os trópicos. Ao contrário da aparente incapacidade dos nórdicos, é que os portugueses têm revelado tão notável aptidão para se aclimatarem em regiões tropicais. É certo que por meio de muito maior miscibilidade que os outros europeus: as sociedades coloniais de formação portuguesa têm sido todas híbridas. É certo que os portugueses triunfaram onde outros europeus falharam: da formação portuguesa é a primeira sociedade moderna constituída nos trópicos com características nacionais e qualidades permanentes. (FREYRE, 2003, p. 11-12) Como destaca Fernando Nicolazzi, Freyre se insere em uma tradição intelectual brasileira, dos românticos aos modernistas, que principiou a perceber o Brasil de fora, com o olhar inquieto da distância. Pode-se pensar nos românticos do século XIX, que fundaram seu movimento no exterior, em Paris, com a criação da revista Nitheroy; a 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 27/46 obra considerada precursora de Gonçalves de Magalhães que traz seus suspiros poéticos, mas também suas saudades; o “pai da história” do Brasil, Francisco Adolfo de Varnhagen, constante ausente de seu país, “o grande patriota que não está quase nunca na sua pátria”, mas que sucedeu no esforço em escrever a única (pelo menos mais bem acabada) História Geral do Brasil no século XIX; Euclides da Cunha, viajando para “dentro” do país e se deparando com uma alteridade quase absoluta, ao mesmo tempo em que encontraria ali a “rocha viva da nacionalidade”. Pensa-se ainda, já no século XX, no Modernismo de Oswald de Andrade que, segundo opinião de Paulo Prado escrita em 1925, e que provavelmente Freyre conhecia: Pensa-se ainda, já no século XX, no Modernismo de Oswald de Andrade que, segundo opinião de Paulo Prado escrita em 1925, e que provavelmente Freyre conhecia, “numa viagem a Paris, do alto de um atelier da Place de Clichy – umbigo do mundo – descobriu, deslumbrado, a sua própria terra”. Embora sua formação ocorresse quase totalmente em oculto lugar, o “estranho produto” de Freyre deveria, enfim, encontrar seu lugar no espaço tropical. Essa inserção, no entanto, só seria feita à custa de certos distanciamentos teóricos. Oswald de Andrade. O primeiro e fundamental se refere à distância assumida com relação ao pensamento racial do final do século XIX, destacando que ambas perspectivas ressaltam o caráter inferior do elemento mestiço no conjunto amplo da população. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 28/46 Perspectiva negativa a respeito da mistura de raças, e seu enfoque predominantemente centrado nos aspectos eugênicos da mestiçagem. Enfoque na miscigenação como mecanismo propício para tornar viável a nação por meio do branqueamento da sua população É nesse ponto que Freyre situa sua filiação na antropologia orientada por Franz Boas, caráter considerado inovador de valor do negro e do mulato, além de estabelecer uma diferenciação essencial para seu esforço interpretativo, opondo os termos “raça” e “cultura” como dois conceitos que remetem a explicações sociológicas díspares: uma recorrendo aos traços genéticos das raças, outra articulando efeitos de ambiente com a experiência cultural (NICOLAZZI, 2011). Gilberto Freyre ocupa um lugar especial na história do pensamento social brasileiro: Ao mesmo tempo em que se situa na tradição que remonta ao século XIX e que trouxe a miscigenação para centro de sua interpretação do Brasil, Freyre inovou ao dialogar com o que havia de mais recente em termos de teoria antropológica, o autor seguiu a trilha aberta por Euclides da Cunha e pintou uma imagem positiva do mestiço brasileiro, e do próprio Brasil. Enquanto toda uma geração de intelectuais estava preocupada em inventariar os motivos do atraso brasileiro e localizavam no período colonial as matrizes desse atraso, Freyre positivou a colonização portuguesa, transformando seu legado em potência para a história independente do Brasil. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 29/46 O primeiro movimento interpretativo de Freyre consiste em destituir o português do papel de “branco puro”. O próprio colonizador já seria mestiço e, devido ao convívio com os mouros, já teria a vocação à mestiçagem, o que explicaria seu “sucesso” na empresa colonial. Dotado, então, de capacidade de “justapor opostos”, o português criou uma nação plástica e capaz de dirimir pacificamente suas tensões. O mestiço freyreano não é o tipo social embranquecido, dentro de quem os sangues negro e indígena estão sendo diluídos pelo sangue branco. O mestiço freyreano combina harmonicamente todos as heranças disponíveis, por mais que sejam opostas. A mestiçagem, portanto, não tem o objetivo de embranquecer o Brasil. Primeiro porque, em Gilberto Freyre, o colonizador não é um “branco puro”. Depois, porque a mestiçagem não é o caminho a ser percorrido rumo ao desenvolvimento nacional. É a própria característica constitutiva da nação. Fernando Nicolazzi argumenta que a interpretação do Brasil desenvolvida por Gilberto Freyre está situada no contexto semântico da recepção do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, publicado em 1901. Ainda que Freyre tenha criticado vários aspectos da obra de Euclides, há muito em comum entre os autores: Como demonstra Ricardo Benzaquen de Araújo, a ideia de “equilíbrio de opostos” é central na interpretação do Brasil desenvolvida por Freyre, e a partir dela podemos entender seu elogio à miscigenação e ao mestiço brasileiro. O lirismo da prosa. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 30/46 A crítica ao lusitanismo em Sérgio Buarque de Holanda A trajetória intelectual de Sérgio Buarque de Holanda foi marcada pelo livro Raízes do Brasil, publicado em 1936. Tal como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda também é autor de vasta obra, que reúne outros textos sobre a história do Brasil, como Caminhos e Fronteiras (1957), Visões do Paraíso (1959), a coletânea História Geral da Civilização Brasileira (1972), e Do Império à República (1972). Uso da memória e do testemunho como recursos heurísticos. Recusa da cronotopia europeia, que induzia a grande maioria dos intelectuais brasileiros da época a tratar o sertão como o lócus do atraso. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 31/46 Sérgio Buarque de Holanda. O autor produziu, ainda, um texto sobre a teoria do conhecimento histórico: O atual e o inatual na obra de Leopold Ranke, publicado em 1974. Segundo Robert Wegner, Raízes do Brasil, publicado em 1936, é um livro sobre os dilemas da modernização brasileira. O autor faz uma interpretação histórica do país, partindo de uma análise do nosso legado ibérico até a definição da cultura brasileira como marcada pela cordialidade. O “homem cordial” age a partir dos sentimentos que brotam diretamente do coração, sem um filtro de racionalidade. Nesse sentido, por exemplo, não trata com isenção amigos e inimigos, favorecendo em qualquer circunstância os primeiros em detrimento dos outros. Por isso, para o autor, a cordialidade é inadequada ao funcionamento da democracia e da burocracia, que exigem normas e leis abstratas que sejam aplicadas a todos da mesma forma. Concomitantemente, Sérgio Buarque também diagnostica um lento mas contínuo processo de mudanças na sociedade brasileira,iniciado com a transferência da corte para o Brasil em 1808. Esse processo passa pelo fim do tráfico de escravos em 1850, ganhando força com a abolição da escravidão em 1888 e, posteriormente, com o 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 32/46 próprio governo Vargas. As mudanças se dão na direção da urbanização, imigração de europeus e industrialização, e significam a corrosão gradual do predomínio rural, que, na verdade, seria a fonte alimentadora da cordialidade. (WEGNER, 1999, p. 217) O livro Monções, publicado em 1945, é o primeiro do autor sobre a história da expansão do país para o oeste. Esse livro, que discorre sobre a rota de comércio fluvial entre o planalto paulista e Cuiabá, diferentemente de Raízes do Brasil”, não trabalha com generalizações, tais como cordialidade e civilidade. Holanda manifesta um otimismo com a história que se desenrola no planalto paulista, como que se descolando da história do litoral e dos governos exercidos a partir da capital litorânea. A noção de “cordialidade” é a mais importante de toda a obra de Sérgio Buarque de Holanda e traduz a interpretação do autor sobre a realidade histórica brasileira. Verifique o desenvolvimento dessas ideias do autor em sua obra: “Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade — daremos ao mundo o ‘homem cordial’. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter O homem cordial 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 33/46 brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo — ela pode exprimir-se em mandamentos e em sentenças" (HOLANDA, 1995, p. 146-147). "Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência — e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no ‘homem cordial’: é a forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual preservar intacta sua sensibilidade e suas emoções” (HOLANDA, 1995, p. 146-147). A trajetória de Sérgio Buarque de Holanda é bem sintomática da tensão entre virtudes e vícios epistêmicos que marcou o processo de institucionalização universitária dos estudos sociais no Brasil. Em sua vasta obra, Sérgio Buarque de Holanda se mostrou um autor versátil, capaz de transitar tanto no ensaísmo de síntese Raízes do Brasil (1936) quanto nos estudos especializados regrados metodologicamente em “Caminhos e Fronteiras” (1957), chegando até os estudos epistemológicos de O atual e o inatual na obra de Leopold Ranke (1974). Em seus primeiros textos, o autor esteve próximo às inquietações do modernismo e preocupado em pensar, e diagnosticar, os Em escritos posteriores aderiu aos protocolos teórico-metodológicos que marcavam a vanguarda historiográfica internacional na O convívio social do brasileiro 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 34/46 impasses da modernização brasileira. segunda metade do século XX. De alguma forma, a relação entre renovação e tradição, mudança e continuidade, pautou a obra de Sérgio Buarque de Holanda. Dos primeiros ensaios aos estudos monográficos, o autor teve o interesse de desvelar a formação do Brasil, bem como seu ingresso na modernidade ocidental, na “civilização”. Sendo bastante influenciado pela sociologia alemã de Simmel e Weber, Buarque de Holanda tratou a burocratização racional e abstrata como signo de desenvolvimento, e a afetividade subjetiva como signo de atraso, o que colocou sua interpretação em rota de colisão com a interpretação desenvolvida por Gilberto Freyre. Se Freyre via o patriarcado rural e a herança ibérica como matrizes da plasticidade nacional, Buarque de Holanda considerava indícios de uma modernização incompleta. A crítica ao sentido da colonização na obra de Caio Prado Júnior O texto mais emblemático da vasta obra de Caio Prado Júnior é o capítulo O sentido da colonização, que pode ser encontrado no livro Formação do Brasil contemporâneo, publicado em 1942. O autor ainda publicou os livros A evolução política do Brasil (1933), a História econômica do Brasil (1935), a Revolução Brasileira (1966), a Questão agrária (1979), e A cidade de São Paulo (1983). O autor é o mais notório representante do pensamento marxista brasileiro. Segundo Bernardo Ricupero, diferentemente do marxismo dominante no Brasil e na América Latina, próximo aos nossos partidos comunistas (PCS), Caio Prado Júnior não viu o materialismo histórico como um conjunto de fórmulas com pretenso valor universal. Isto é, não aceitou automaticamente a aplicação ao Brasil das teses da Internacional 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 35/46 Comunista (IC) sobre os chamados “países coloniais, semicoloniais e dependentes”. Todos os países que se encontrassem nessa condição genérica deveriam, como teria ocorrido na Europa, realizar revoluções burguesas que dessem fim a supostos resíduos feudais. Edição de 1942 do livro Formação do Brasil contemporâneo. Dessa maneira, acreditava-se que se promoveria o desenvolvimento do capitalismo e se prepararia o terreno para a adoção do socialismo. Caio Prado Júnior também não trilhou outro caminho bastante comum na utilização do marxismo no Brasil e na América Latina, identificado, grosso modo, com o que ficou conhecido como populismo. Os autores próximos a essa perspectiva defendiam que a teoria, no caso o marxismo, deveria se adaptar à realidade. Nessa operação, porém, a teoria corre o risco de se tornar irreconhecível e desnecessária. Até porque, se o marxismo fosse capaz de absorver qualquer forma referente às mais variadas sociedades, não mais seria marxismo, nem teoria, mas apenas uma expressão quase não mediatizada da realidade. Assim, a maneira particular de abordagem, aquilo que o torna marxismo, se diluiria no seu objeto. A tradução do marxismo às condições brasileiras, realizada pela obra de Caio Prado 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 36/46 Júnior, se dá mediante a atenção a uma questão central: a relação entre colônia e nação. Esse é seu grande tema, a constante atenção à relação entre colônia e nação, fazendo com que a obra do historiador paulista tenha uma indiscutível unidade. A preocupação com esse problema sugere, além do mais, um dos eixos principais da reflexão do autor: a transição entre a situação colonial e a situação nacional. (RICUPERO, 1999, p. 230) Caio Prado vê a experiência brasileira como uma totalidade histórica, sujeita à transformação. Isto é, a partir de um eixo central, dado pelo sentido da colonização, o Brasil se modificaria, preparando o terreno paraa constituição de uma nação integrada. Em outras palavras, o caminho que se inicia pela formação do Brasil contemporâneo deveria levar à Revolução Brasileira. Tendo começado como colônia, que tinha sua razão de ser na produção de bens demandados pelo mercado externo, a Nação deveria se voltar para atender às necessidades internas da população. De maneira concomitante, a totalidade brasileira se revelaria e se realizaria no momento de superação da situação colonial. No entanto, no Brasil, a nação encontra grande dificuldade para ir além da colônia. Na verdade, a história do Brasil, pelo menos desde o século XIX, quando o setor inorgânico ganha importância diante do setor orgânico, é a história da dificuldade de se superar o sentido da colonização. Uma história como a brasileira possibilitaria até que o pesquisador recorresse a um método bastante original. Como não ocorrem rupturas significativas com o passado, o tempo como que se projetaria no espaço, tornando muitas vezes mais proveitosas uma viagem pelo país do que a pesquisa em arquivos. Entende-se, assim, a observação que nosso autor certa vez ouviu de um professor estrangeiro, que invejava os historiadores brasileiros que podiam assistir pessoalmente às cenas mais vivas do seu passado. Nas palavras do próprio autor: 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 37/46 Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem como as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um negócio; inverterá seus cabedais e recrutará a mão-de-obra que precisa: indígenas ou negros importados. Com tais elementos, articulados numa organização puramente produtora, industrial, se constituirá a colônia brasileira. Este início, cujo caráter se manterá dominante por meio dos três séculos que vão até o momento em que ora abordamos a história brasileira, se gravará profunda e totalmente nas feições e na vida do país. Haverá resultantes secundárias que tendem para algo de mais elevado; mas elas ainda mal se fazem notar. O ‘sentido’ da evolução brasileira que é o que estamos aqui indagando, ainda se afirma por aquele caráter inicial da colonização. (PRADO JÚNIOR, 1986, p. 26) Na análise de Luiz Bernardo Pericás e Maria Wider, fica evidente como Caio Prado Júnior denunciou a distância entre a necessidade efetiva da maior parte da população por mudanças estruturais e o encaminhamento político dado pelas elites locais. As divergências de interesses entre a Coroa e a colônia se agudizariam no século XVIII, com as descobertas de ouro, o que resultaria em maior exigência de controle por parte da Metrópole, que iria tolher a autonomia ou qualquer margem político-econômica dos senhores locais. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 38/46 Quadro Operários, de Tarsila do Amaral de 1933. As contradições entre os interesses endógenos e dos portugueses daí em diante tenderiam a se intensificar e desembocariam, em última instância, na emancipação. Se, de um lado, os proprietários territoriais propugnavam um afastamento do jugo metropolitano, por outro defendiam a manutenção do sistema escravista e seu domínio econômico interno. Além disso, é possível perceber a herança institucional colonial e a permanência da escravidão como forças históricas e culturais unificadoras dentro do território brasileiro. (PERICÁS; WIDER, 2014, p. 196). Na trajetória de Caio Prado Júnior, é impossível separar formulação intelectual e militância política. O autor é um dos nomes mais destacados da história intelectual brasileira, e também da história da esquerda em nosso país, dada sua atuação nos quadros do Partido Comunista Brasileiro, o PCB. Quase sempre as teses de Caio Prado Júnior foram marginais dentro do PCB. Por outro lado, encontraram grande acolhida no debate público e no ensino escolar de História, constituindo, assim, parte do repertório coletivo que acionamos com frequência em nossos esforços de interpretação da realidade. Em um diálogo autoral e criativo com o marxismo, Caio Prado Júnior contestou a interpretação que a URSS elaborou para a América Latina, e que se tornou hegemônica dentro do PCB. Segundo essa interpretação, os países latino-americanos ainda viviam em situação feudal, o que impossibilitava o salto direto rumo ao socialismo. Era necessário, antes, viabilizar a revolução burguesa, o que demandava a aliança tática com aquilo que, na época, se chamava de “burguesia 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 39/46 nacional”. No pensamento social brasileiro, essa tese encontrou acolhida, sobretudo, nos escritos de Nelson Werneck Sodré. A tese do feudalismo brasileiro foi contestada por Caio Prado Júnior, para quem a colonização já faz parte da história do capitalismo. Portanto, o Brasil já seria capitalista desde os tempos coloniais, o que fazia com que o país já estivesse pronto para efetivar sua revolução socialista, sem a necessidade de aliança com a burguesia nacional. Após o golpe militar de 1964, viabilizado pela aliança entre as forças armadas e frações da tal “burguesia nacional”, Caio Prado Júnior publicou o livro Sobre a Revolução Brasileira (1966), no qual reforça seus argumentos e acusa aquele que, na sua opinião, havia sido um erro histórico cometido pelo PCB. Resumindo Na interpretação de Caio Prado, a colonização legou um sentido para a história do Brasil, segundo o qual o país está subordinado ao mercado internacional capitalista, e só a revolução socialista seria capaz de superar o atraso e promover seu verdadeiro desenvolvimento. O ensaísmo e a História Neste vídeo vamos falar sobre as relações entre o ensaísmo e a História. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 40/46 Atividade discursiva A partir da noção de cordialidade, Sérgio Buarque de Holanda desenvolveu uma interpretação do passado colonial brasileiro. Já para Caio Prado Júnior, o sentido da história brasileira foi instituído pela colonização portuguesa. Escreva sobre isso. Digite sua resposta aqui Chave de resposta Sérgio Buarque de Holanda pintou uma visão crítica do legado colonial português, que se manifestaria na forma do patrimonialismo, que dificulta o funcionamento racional do Estado. Já na interpretação de Caio Prado Júnior, a colonização do Brasil se deu dentro da lógica do capitalismo comercial europeu, o que teria condicionado a história do país, determinando sua posição como periferia do capitalismo mundial. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 41/46 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A interpretação do Brasil desenvolvida por Gilberto Freyre é diferente daquelas desenvolvidas por outros ensaístas, como Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. Por quê? A O foco na tradição portuguesa de Gilberto Freyre. B A crítica à tradição portuguesa por Gilberto Freyre. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 42/46 Parabéns! A alternativa A está correta. A relação de Freyre com o passado colonial é elogiosa, devido à deferência que o autor demonstrava em relação a Portugal. Já os outros ensaístas, como Sérgio Buarque de Holanda e CaioPrado Júnior, tinham relação antagônica com o passado colonial, considerando a herança lusitana a matriz do atraso nacional. Questão 2 Um dos principais elementos da intepretação de Gilberto Freyre é a forma como o autor desenhou o colonizador português. Como ponto central de sua abordagem, existe valorização do Parabéns! A alternativa E está correta. C A fragilidade teórica de Freyre. D O otimismo e a democracia de Freyre. E O papel dos índios na história do Brasil. A Brasil como o espelho equivocado. B Brasil como um projeto que deu errado. C Brasil como resultado da influência latina. D Brasil como centro de poder. E Brasil como resultado das escolhas e do cuidado do português. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 43/46 Freyre projeta o estatuto do miscigenado para o próprio português, que seria diferente dos outros povos da Europa, e isso explicaria o sucesso do empreendimento colonial português nos trópicos. Considerações �nais Aqui nos dedicamos a compreender um importante capítulo da historiografia brasileira: o regime ensaísta que marcou a produção nacional ao longo da primeira metade do século XX. Vimos como a historiografia universitária que se afirmaria a partir da década de 1970 elaborou uma unidade programática para o ensaísmo, transformando-o em parte da história intelectual brasileira. Naquilo que se refere aos textos, os ensaístas tomaram a história do Brasil como macro objeto de investigação com o objetivo de compreender as pulsões anímicas que moviam a história nacional. As teorias do ensaio elaboradas por Theodor Adorno e Georg Lukács nos ajudam a compreender o funcionamento epistêmico do ensaísmo, bem como os casos concretos de Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior, os mais notórios ensaístas brasileiros. Podcast Escute agora uma breve reflexão sobre o ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil. 22/04/2024, 14:50 O ensaísmo sociológico de interpretação do Brasil https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04409/index.html?brand=estacio# 44/46 Explore + Assista ao vídeo do professor Basilio, Historiando, no YouTube; Assista ao documentário Raízes do Brasil, de 2003, dirigido por Nelson Pereira dos Santos; Pesquise o Projetos de Entrevistas Memória das Ciências Sociais no Brasil, do CPDOC. Referências ADORNO, T. 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