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e-Tec Brasil131 Aula 16 – Políticas públicas Bem, vamos prosseguir com o curso e iniciar a nossa décima sexta aula, na qual estudaremos as políticas públicas, primeiramente faremos uma análise do conceito de políticas públicas, depois conheceremos o histórico das leis fiscais de incentivo a cultura, estudaremos a Lei Rouanet e o Programa Na- cional de Apoio à Cultura. Com isso, você poderá entender que existe uma intenção por parte dos nossos legisladores pátrios em organizar uma legis- lação própria e que sirva de estímulo no âmbito da captação de recursos fi- nanceiros para a execução e organização de eventos culturais no nosso país. 16.1 O que são políticas públicas? Políticas públicas são as ações pontuais adotadas pelo Estado visando o bem coletivo. Tais políticas são ações adotadas pelos governos federal, estadual e municipal, e pelas instituições públicas estatais, com ou sem participação da sociedade, para resguardar os direitos sociais e coletivos previstos em lei. Assim, não se pode falar em políticas públicas que não estejam contidas na relação entre Estado e sociedade. Cabe ao Estado propor ações preventivas diante de situações de risco à sociedade por meio de políticas públicas, que podem ser desenvolvidas em parceria com organizações não governamen- tais e com a iniciativa privada. Nesse contexto, as políticas públicas podem e devem oportunizar a melhoria da qualidade de vida da população através da implementação de medidas que garantam o bem-estar comum (redistribuição de renda, desenvolvimen- to de regiões carentes, atendimento médico, dentre outros). O surgimento das políticas de incentivos fiscais no Brasil se dá na década de 60, em função das grandes mudanças ocorridas no País à época. Com o processo de industrialização brasileira e criação dos parques indus- triais nas grandes cidades, houve uma desenfreada migração de trabalhado- res rurais para os centros urbanos. A desproporcional grandeza da massa de migrantes, bem como a relativa in- capacidade das indústrias da época – ainda em desenvolvimento – para absor- vê-los como mão-de-obra resultou no imediato inchaço das periferias urbanas, com a incontornável marginalização dessa população pobre e desempregada. É nessa nova perspectiva histórica que foram criados os incentivos fiscais, como política pública que pretende, desde sempre, promover o aporte de recursos financeiros em segmentos sociais carentes, através da redução da carga tributária dos interessados neste tipo de mecanismo. 16.2 Histórico das leis fiscais de incentivo a cultura Vejamos alguns exemplos, em ordem cronológica: 1966 – criação do Instituto Nacional do Cinema (INC), extinto em 1975. 1969 – criação da EMBRAFILME, empresa estatal produtora e distribuidora de filmes cinematográficos, criada através do Decreto-Lei nº 862, de 12 de setembro de 1969. Foi extinta em 1990, pelo Programa Nacional de Deses- tatização do governo de Fernando Collor. 1986 – A lei nº. 7.505, de 2 de julho de 1986, conhecida como “Lei Sarney” (porque de autoria de José Sarney) foi precursora das leis de incentivos fiscais, como a primeira a estabelecer relações entre Estado e iniciativa privada me- diante a renúncia fiscal para investimentos culturais. Em 1990, esta e todas as outras leis de incentivos fiscais vigentes foram revogadas pelo governo Collor. 1987 – criação do Fundo do Cinema Brasileiro (FCB), extinto em 1990. 1990 – Lei Mendonça na Cidade de São Paulo. 1991 – Lei Rouanet, a lei federal de Incentivo à Cultura. 1992 – Lei do ICMS no Estado Rio de Janeiro. Legislação Aplicada à Eventose-Tec Brasil 132 1993 – A Lei do Audiovisual (Lei 8.685, de 20 de julho de 1993), principal instrumento de captação de recursos pelo mercado audiovisual brasileiro, foi a responsável pela recuperação do setor, desarticulado com a extinção da EMBRAFILME pelo governo Collor. 1995 – Secretaria de Apoio à Cultura. 2000 – criação da ANCINE. Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2011/07/07/projetos-culturais-via-renuncia-fiscal/ Com a edição da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, a Lei de Incen- tivo à Cultura – mais conhecida como Lei Rouanet – fica estabelecido maior rigor no controle dos incentivos fiscais, o que não ocorria anteriormente. Neste aspecto, a lei passa a exigir a aprovação prévia dos projetos, a divul- gação de aprovação no Diário Oficial da União, a prestação de contas, bem como a realização de auditorias por empresas independentes. 16.3 Lei Rouanet Figura 16.1: Lei de In- centivo a cultura Fonte: festimalha.com.br Com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor cultural brasileiro, a Lei de Incentivo à Cultura – Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, também conhecida como Lei Rouanet – instituiu o PRONAC – Programa Nacional de Apoio à Cultura. De acordo com o Ministério da Cultura, “O mecanismo de incentivos fiscais da Lei nº 8.313/1991 (Lei Rouanet) é uma forma de estimular o apoio da iniciativa privada ao setor cultural.” Disponível no endereço eletrônico http://www.cultura.gov.br/site/2011/07/07/pro- jetos-culturais-via-renuncia-fiscal/ Em resumo, o proponente apresenta uma proposta cultural ao Ministério da Cultura (MinC) e, caso aprovada, é ele autorizado a captar recursos, junto a pessoas físicas pagadoras de Imposto de Renda (IR) ou empresas tributadas com base no lucro real, visando à execução do seu projeto. Assim, aquelas pessoas físicas ou as empresas tributadas que apoiarem o projeto cultural poderão ter parte ou o total do valor desembolsado deduzido do seu imposto de renda – observada a limitação estipulada pela lei tributária: para e-Tec BrasilAula 16 – Políticas públicas 133 empresas, até 4% (quatro por cento) do imposto devido; e para pessoas físicas, até 6% (seis por cento) do imposto devido. Conforme o artigo 1º da Lei, que define a sua finalidade e os seus objetivos: Art. 1° Fica instituído o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor de modo a: I - contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais; II - promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais; III - apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos criadores; IV - proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional; V - salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira; VI - preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e histó- rico brasileiro; VII - desenvolver a consciência internacional e o respeito aos valores cultu- rais de outros povos ou nações; VIII - estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal, formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória; IX - priorizar o produto cultural originário do País. 16.4 PRONAC Conforme vimos no título anterior, o Programa Nacional de Apoio à Cultu- ra – PRONAC foi instituído pela Lei Rouanet para estimular a captação de recursos destinados ao setor cultural brasileiro. Legislação Aplicada à Eventose-Tec Brasil 134 O art. 3º da Lei Rouanet enumera quais serão os projetos culturais favoreci- dos pela captação de recursos do Pronac. Dentre eles podemos citar: – a concessão de bolsas de estudo a autores, artistas e técnicos; – a concessão de prêmios artísticos em concursos e festivais realizados no Brasil; – a instalação de cursos destinados à formação cultural; – a produção de discos, vídeos, obras cinematográficas e filmes documentais; – a realização de exposições, festivais de arte, espetáculos de artes cê- nicas, de música e de folclore; – a conservação e restauração de obras de arte; – a conservaçãoe restauração de prédios e monumentos tombados pelos Poderes Públicos; – a proteção do folclore, do artesanato e das tradições populares nacionais; – a distribuição gratuita e pública de ingressos para espetáculos cultu- rais e artísticos; – a realização de missões culturais no país e no exterior, inclusive atra- vés do fornecimento de passagens. Pontos a destacar: A importância dos incentivos fiscais e os seus aspectos sociais. Curiosidade Sérgio Paulo Rouanet (Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1934) Figura 16.2: Sérgio Paulo Rouanet Fonte: http://www.acade- mia.org.br É um diplomata, filósofo, antropólogo, tradutor e ensa- ísta brasileiro. É membro da Academia Brasileira de Le- tras desde 1992. É graduado em ciências jurídicas e so- ciais e realizou seu mestrado em economia, ciência política e filosofia na USP, onde também doutorou-se em ciência política. Enquanto exerceu o cargo de secretário de cultura do presidente Fernando Collor de Melo, foi responsável pela criação da lei brasileira de incentivos fiscais à cultura, a chamada Lei Rouanet. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Paulo_Rouanet Saiba mais sobre: 1. Ministério da Cultura: http://www.cultura.gov.br/ site/2011/07/07/projetos- culturais-via-renuncia-fiscal/ 2. Senado: http://www.senado. gov.br/senado/presidencia/ memoria/07.asp 3. Lei Rouanet: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L8313cons.htm e-Tec BrasilAula 16 – Políticas públicas 135 Resumo Nesta aula estudamos as políticas públicas, que são as políticas pontuais adotadas pelo Estado visando o bem coletivo. Também estudamos as leis de incentivos fiscais, mecanismo utilizado para o aporte de recursos financeiros em segmentos carentes, mediante redução da carga tributária. Conhecemos a Lei Rouanet, a lei de incentivo à cultura vigente no Brasil, e o PRONAC, criado pela lei Rouanet para estimular a captação de recursos destinados ao setor cultural brasileiro. Atividades de aprendizagem • O que são políticas públicas? Cite três exemplos recentes de políticas públicas adotadas pelo Governo Federal brasileiro, e explique. Anotações Legislação Aplicada à Eventose-Tec Brasil 136